NO DIA INTERNACIONAL DA MULHER, COMEMORADO EM 8
DE MARÇO, UMA CIDADÃ DO MUNDO APOSTA EM UM NOVO
MILÊNIO, COM MULHERES E HOMENS COMPROMETIDOS COM
O PODER QUE ACOLHE E PROTEGE. POR MARIÂNGELA CASTRO
Rainhazinha
Ela é rei, é rainha,
ora homem , ora mulher,
uma canibal cristã, portuguesa e africana
balançando no sim, e no não.
Nzinga, Nzinga (*)
é tradição, é libertação.
O poema é de Lena Santos e traduz a diversidade e singularidade
que ela assumiu viver, plenamente, enquanto mulher, negra, mãe,
esposa, filha, poetisa, dançarina afro, capoeirista e cidadã do mundo.
Lena explica essas tantas diversidades:
“Somos feminino, somos masculino, somos um só povo. Somos
a força da mulher, a força do homem; somos complementos, parceiros de jornada. Mas a sociedade machista e capitalista ainda não amadureceu e resiste em assumir o poder feminino da forma que ele é de
fato, o poder da mãe, que traz em seu bojo a proteção, o cuidado, a
flexibilidade, a amorosidade, o acolhimento.”
Ela também se mostra nas roupas que usa, reafirmando sua identidade de múltiplas cores. A capoeirista se diz adepta da estética étnica e isso fica evidente no vestuário que cobre seu corpo. São tecidos
amarrados na cintura, nos braços e pernas, no pescoço, na cabeça.
Quem a vê pode interpretá-la como afro-brasileira, muçulmana, baiana, palestina ou quem quer que queira ser.
Lena acredita que a crise social de materialismo ao extremo, de
egoísmo, de um capitalismo que individualiza para impedir que a
consciência coletiva conquiste o socialismo, pode não ser de todo
ruim. “Acho que podemos tirar lições de qualquer crise; uma crise é
uma oportunidade para a gente buscar a mudança. A crise atual já
impõe uma mudança que está chegando com a mulher, estamos caminhando para o milênio do feminino”, destaca.
Segundo ela, flexibilidade é a palavra chave para que mulheres e
homens transitem do poder masculino para o feminino. Juntos na
jornada da vida, diz, o novo poder virá com a força do acolhimento,
do resgate da família, da solidariedade e fraternidade.
A capoeirista diz que Dilma na Presidência simboliza um avanço
para a sociedade brasileira, mas que é apenas um começo que precisa
ir além. “Como mulher, a presidente pode e deve exercer o poder
feminino que humaniza, acolhe e cuida”, observa.
(*) NZINGA MBANDI NGOLA KILUANJI, legendária “Rainha Jinga”, da Angola, figura histórica da tradição afro-brasileira, nasceu em 1582. No Brasil, é a rainha da capoeira angolana.
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SELEÇÃO INTERNA DA CEMIG
Gerente
ditador
Na Regional Mantiqueira tem gerente da
Cemig que acha que pode
decidir quando, como e
com qual diretor do
Sindieletro os eletricitários
podem conversar durante
as reuniões setoriais.
Usando a “velha” arma
de ameaçar descontar as
horas do pessoal que participa das reuniões setoriais, o
tal gerente tenta intimidar
representantes do Sindicato.
Segundo informações, o
gerente não quer que
diretor do Sindieletro de
outra Regional participe de
setorial com os trabalhadores da Mantiqueira.
A categoria é uma só e o
Sindieletro a representa em
toda Minas Gerais. Por isso,
não importam a base, a
cidade ou a Regional, a
entidade sempre vai estar
em todos os locais de
trabalho da Cemig, com a
sua direção colegiada. O
Sindicato acredita no
debate, na troca de ideias e
na luta pela melhoria das
condições de vida e trabalho
dos eletricitários.
Enfim, o Sindieletro
não diferencia os eletricitários, sejam eles do quadro
próprio, sejam os do
quadro de terceirizados, se
atuam na sua base territorial ou na base de outro
sindicato. A direção do
Sindieletro participará,
onde for preciso, do debate
e da luta em defesa da
categoria, na Mantiqueira,
no Norte, Leste, Oeste,
Vale do Aço, Metalúrgica e
Triângulo, ou seja, em
qualquer canto de Minas.
Portas fechadas
para valorização
profissional
ESTIMATIVA: EM ALGUMAS ÁREAS DA EMPRESA, 80% DOS TRABALHADORES
ESTÂO APTOS A PARTICIPAREM DA SELEÇÃO INTERNA.
Apesar da forte expectativa da categoria de que, antes
do concurso público, a empresa anunciaria a seleção interna, o RH/RS informou que
este ano só será realizado concurso externo.
A recusa da empresa em
atender uma forte reivindicação dos eletricitários, sem qualquer justificativa administrativa ou financeira, caiu como
uma bomba sobre as esperanças de reconhecimento e valorização da categoria.
Um grupo de trabalhadores
do Plano Técnico Administrativo-Operacional, que permanecem estacionados na carreira há vários anos, têm se mobilizado para debater o assunto.
Os trabalhadores já haviam encaminhado documento coletivo ao diretor de Gestão Empresarial (DGE), Frederico Pacheco de Medeiros, reivindicando
a abertura do processo antes da
realização do concurso público.
No documento, os trabalhadores ressaltam que, ao descartar a seleção interna, a Cemig
comprova sua visão atrasada de
RH. Cada vez mais, profissionais buscam fazer parte de organizações capazes de proporcionar crescimento profissional
e de reconhecer o desempenho
de seus trabalhadores. Mas,
para os eletricitários, a Cemig
não se preocupa com a moti-
vação e nem com o crescimento profissional.
Os eletricitários lembram que
a seleção interna favorece a retenção de bons profissionais que
hoje estão no PTAO, o que também beneficia o trabalho futuro
no PNU, pois eles têm a seu favor a formação e experiência
com as atividades de campo.
Além da visão retrógrada do
RH, os trabalhadores destacam
a incoerência da Cemig que nos
últimos anos investiu na formação superior dos trabalhadores,
através do auxílio educação,
mas não criou mecanismos de
promoção profissional. “O retorno desse investimento empresarial na educação se dará
com a realização da seleção interna antes do concurso público”, argumenta um eletricitário do PTAO.
DESMOTIVAÇÃO
Em alguns setores, cresce a desconfiança de que o próprio RH estaria empenhado em dificultar o processo de
seleção interna. Para o Sindieletro, a insensibilidade da empresa pode fazer com que a Cemig perca, também, a chance de eliminar distorções geradas pelos desvios de função
e de demonstrar que é uma empresa de oportunidades e
não de apadrinhamento.
Muitos eletricitários que entraram para a empresa em
2006 e não puderam participar do último processo de seleção interna realizado pela Cemig em 2008, estão em desvio de função. Na época, as regras excluíram eletricitários
que ainda não tinham cinco anos de atividades na empresa.
Agora, se os PTAO tiverem que fazer concurso externo
para ter acesso ao PNU, além de enfrentar a concorrência
absurda, perderão direitos como Maria Rosa.
Diante da recusa da Cemig em fazer a seleção interna, o clima tem se tornado insustentável. Tem trabalhador que perdeu todas as esperanças de valorização e
já avisou ao gerente que a saída da empresa é apenas
uma questão de tempo.
O Sindieletro está intensificando as reuniões setoriais
para definir mobilizações contra o desrespeito da direção
da Cemig com a reivindicação da categoria.
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REVOLTA
GERAL NA
CATEGORIA
Demissões na Cemig S,
acidentes e IP 8.3
A temperatura esta fervendo na Cemig e o
ponto de ebulição é a Instrução de Pessoal 8.3,
mais conhecida como IP das punições, que entrou em vigor no dia 1º de março, além da insatisfação geral com os altos índices de acidentes e
as demissões arbitrárias na Cemig S. As reuniões
setoriais que o Sindieletro está realizando em
Belo Horizonte e interior têm demonstrado toda
a insatisfação dos eletricitários.
Eles se mostram mobilizados e indignados com as ações da Cemig. Na Regional
Mantiqueira o clima é de desconfiança, ninguém acredita que os gerentes e superintendentes serão punidos. Em Montes Claros os
trabalhadores não agüentam mais tantos acidentes. “Se acontecer outro acidente na Cemig, temos que partir para ações mais contundentes, chega de mortes e mutilações na
Cemig”, afirma um trabalhador.
O coordenador geral do Sindieletro, Jairo Nogueira Filho, avalia que a política de
Saúde e Segurança está equivocada. “A IP 8.3
é simplesmente para demitir trabalhadores,
ela tem caráter punitivo, mas o que resolve
são ações educativas”, afirma.
Nas setoriais, a categoria está avaliando formas de mobilização contra as demissões na
Cemig S, os altos índices de acidentes e a
implantação da IP que, segundo a Cemig
contribuirá para alcançar a meta de programa Acidente zero. Mas é um discurso que se
mostra falso e perverso diante dos números
de acidentes graves e fatais envolvendo a empresa. Desde que o programa Acidente Zero
foi lançado, em 2004, 71 trabalhadores morreram na Cemig, desses, 64 eram eletricitários terceirizados. Acabar com os acidentes é o
objetivo perseguido há anos pelos trabalhadores. Para o Sindieletro, o fim da terceirização é fundamental para a Cemig alcançar a
meta de acidente zero.
Falta de diálogo
Ignorando a insatisfação dos trabalhadores e as reivindicações do Sindieletro para
suspender a IP e desenvolver uma campanha
conjunta de saúde e segurança, os gestores
da Cemig preferiram o caminho do autorita-
rismo, da falta de diálogo, pressão por produtividade, ameaças e demissões.
Para o diretor do Sindieletro, Arcângelo
Queiroz, o ano de 2012 começou trágico
com duas mortes de trabalhadores e outro
mutilado. Em Muzambinho, no Sul de
Minas, um fio partido causou a morte de
uma mulher e provocou seqüelas graves no
marido e na filha. Na Cemig S, três trabalhadores que participaram da campanha salarial dos eletricitários foram demitidos. “Os
trabalhadores estão mobilizados, não descartamos a necessidade de fazer uma paralisação contra a IP e as demissões na Cemig
S. Também temos que dar um basta nos acidentes de trabalho”, disse.
Mobilização política e jurídica
O Sindieletro está buscando apoio
com deputados do bloco de oposição na
Assembleia Legislativa para tentar reverter os números trágicos de acidentes, o
autoritarismo da gestão da empresa e as
demissões na Cemig S. “A nossa indignação tem que ganhar as ruas, incomodar o
governo do Estado, vamos fazer uma campanha para fora, a sociedade precisa saber
o que se passa na empresa”, diz Jairo No-
gueira. No caso da Cemig S, medidas
políticas e jurídicas estão também sendo
tomadas para evitar o desrespeito. Para o
Sindieletro, não dá para aceitar tantas arbitrariedades. A Cemig, maquiavelicamente, demitiu eletricitários à véspera do carnaval. Além disso, foi em fevereiro que a
categoria iniciou a campanha salarial dos
eletricitários da Cemig S. Eles são grandes lideranças na categoria.
Errata: Diferentemente da informação publicada no box da matéria sobre irregularidades na Cemig S, na edição 698 do Chave Geral, o
exemplo do prejuízo dos eletricitários com o atraso do vale transporte não é de R$ 660 por mês. Não há, atualmente, trabalhadores da Cemig S
fazendo o trajeto Divinópolis/Bom Despacho, o que implicaria, como disse a matéria, em despesa diária de R$ 30 com transporte. O deslocamento
é de Oliveira para Divinópolis ou de Divinópolis para Itaúna e vice-versa. Todas as outras denúncias e informações da matéria estão corretas.
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Do que é feita uma musa
profundezas do que de mais
Brasil se fez o brasileiro na
hora de combater os “milicos” [ou qualquer outra for-
um defeito”
tinha
“Nilson Azevedo”
conheci
linda que
divinamente
“toda mulher
*Anos de chumbo, não: é ditadura militar! De uma conversa de mais de uma hora, ficaram essa e outras frases de Nilson Azevedo, militante da esquerda como poucos e voz –
pelos traços do cartum – tanto
dos eletricitários quanto da sociedade. O tema inicial – já no
clima do Dia Internacional da
Mulher – não era fácil: a musa
de hoje, ou outrora, para o nosso cartunista. Ele falou, e muito, sobre mulheres, musas, Brasil, ditadura, música, cinema. E
por que falar de tanta coisa distinta? Porque com Nilson tudo
é uma coisa só.
“Toda mulher divinamente linda que eu conheci tinha
um defeito. Ainda bem!” A
partir dessa frase, nosso ilustre cartunista começa a dar os
traços da imagem que faz de
uma musa. E nomeou várias.
Isso mesmo, várias. Para ele,
musas de verdade, mulheres
de verdade. Musas contra a
di-ta-du-ra militar, não dos
anos de chumbo. Porque, para
Nilson, “anos de chumbo” é
oração sem sujeito. Ditadura,
não. Ditadura tem sujeito, e
muito bem definido. E é desse período que tomam parte
as musas do nosso cartunista.
Anônimas ou não, lutaram e,
ainda hoje, continuam lutando contra um sistema neoliberal perverso.
E para vislumbrar a imagem pura de cada uma delas,
Nilson faz uma viagem pelas
Ilustração: Fotolia.com
Por Vinícius Avelar
ma de opressão]. Arte.
Cantarolando Caetano,
“...que mistérios tem Clarice...” lembrou-se de um amor
de infância. E, assim, fez-se
para rever, ali sentado, tantas
outras. Mana, Dione, Betes,
Sonias, Inês, Jane, Caiafa,
Helenas. Marluce, Marias,
Anas, mulheres. Musas.
E as musas de Nilson não
são comuns. Não haveriam de
ser. São madonas com alma
própria,intrínseca às mulheres,
e que nós homens ainda não
conseguimos explicar. Nilson
se arriscou a fazê-lo. Ao se lembrar de cada uma delas, aos
poucos, entre versos de Chico,
Gil, Ferreira Gullar, Rogério
Duarte, Carlos Capinan, nosso cartunista deu uma pista do
que vislumbra em suas musas.
“Todas essas mulheres tinham uma coisa diferente. Não
era só a beleza física. É um instinto de gostar de gente, do valor humano, uma generosidade que quase não existe hoje em
dia”, disse em tom de quase declamo. Na contramão dos “padrões de beleza” que Nilson repudia veementemente, existe
na mulher, nas nossas musas,
sempre, uma beleza única.
Musas de verdade, ‘madonas’
talhadas não em mármore de
Carrara, mas em pele, carne e
osso. Esculpidas num Brasil por
vezes perverso, mas ainda assim
maravilho. Loiras, negras, morenas; ricas do intenso instinto
de gostar de gente, do valor
humano, de generosidade.
Musas, mulheres, estejam
onde estiverem, às quais fica
dedicado esse texto, uma homenagem sincera no Dia Internacional da Mulher.
Endereço: Rua Mucuri, 271 - Bairro Floresta
Belo Horizonte/MG - CEP: 30.150-190 - Fax: (31) 3238.5049
Diretor responsável: Arcângelo Queiroz Edição: Mariângela Castro.
Redação: Benedito Maia, Mariângela Castro, Rosana Zica e Vinícius Avelar
Diagramação: Vinícius Avelar Fotos: Benedito Maia e Vinícius Avelar
Cartunista: Nilson Azevedo Central de Informações: Nízio Fernandes
Impressão: Bigráfica/9.000 exemplares
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Telefone (31) 3238.5000
Site: www.sindieletromg.org.br
E-mail: [email protected]
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