Galpão do DX Sábado, 28 de Abril de 2012 - 17:33 160 Metros: Uma loucura sadia! Autor: Alencar Aldo Fossá - PY3CEJ Conhecida no mundo do DX (longa distância) como “Top Band”, por ser a faixa mais alta do radioamadorismo. É uma faixa simples de operar, tendo em vista exigir daqueles que a operam uma prática somente durante a noite, pois está classificada como ondas médias – 1.800 kHz até 1.850 kHz e sua propagação é somente à noite e, em dias de boa propagação, alguns minutos após o amanhecer e antes do anoitecer (principalmente em dias frios). Para estabelecermos contatos bilaterais (TWO WAY) entre estações que estão ambas na escuridão, devemos esperar o anoitecer, ao pôr-do-sol e vai até ao amanhecer, ou seja, nascente do sol. Nesta faixa dos 160 metros, fazer rádio local é sem dúvida, de certa forma fácil, porém tentar DX é realmente fantástico, nada difícil, porém muito trabalhoso e devemos ter muita paciência e persistência. Devemos fazer um roteiro a seguir. Fazer todo o tipo de anotações que ouvir: uma letra ou número (quando DX em CW), palavras como ALFA, ZULU devem também ser anotadas, juntamente com o horário e frequência, pois se você não conseguir escutar o indicativo (Call) completo, em outra noite poderá ter a sorte de escutar a mesma estação e ficar sabendo que era ela que estava na frequência. Como em todo o Mundo não é noite ao mesmo tempo, devemos observar que a cada hora, uma zona do mundo fica noite e a outra amanhece. Da mesma forma a propagação acompanha este fenômeno. A propagação está mudando sempre na direção de LESTE para OESTE (vindo do Continente Africano) e do SUL para NORTE, mas, por trás do Globo Terrestre, subindo até ao Ártico e descendo até o Alasca. Nos anos 80, como tínhamos pouco material auxiliar para DX, criei uma Tabela de Fusos Horários que se chamava FUSO-MATIC que consistia de um “disco móvel” que se colocava o fuso horário do seu QTH, ou meridiano, com a hora correspondente, e rapidamente encontrava-se as zonas do mundo que era noite e a possibilidade de fazer DX, e com os seus respectivos prefixos do mundo. Foi uma maravilha. Hoje temos os computadores,... etc. Mas apresento este trabalho que fiz para o pessoal conhecer um pouco de minha dedicação para esta faixa dos 160 metros. É muito importante aos radioamadores e radio escutas que se dedicam a explorar faixas baixas que deem uma atenção aos fusos horários. Você vai encontrar e descobrir maravilhas. Pôr-do-sol, Nascer-do-sol, primavera, verão... é muito gratificante. Sintonize uma estação de rádio de AM de média distância e acompanhe esta emissora o ano todo, no mesmo horário; estações do ano diferente; fases da lua diferentes e você irá descobrir que determinada noite a estação de rádio é melhor ouvida, sem estática; outras noites com muitas estáticas! Confira que fase da lua estava. Você não acreditará e com o tempo, saberá qual noite é “boa para o DX”. Como esta faixa dos 160 metros desperta um interesse tão grande e o pessoal começa a gostar da banda, fazer teste, etc, eu em 14/06/1997 prevendo um futuro congestionamento de estações, fiz um ofício ao Ministério das Comunicações, solicitando um estudo para a possibilidade de aumento da referida faixa como em outros países do mundo, ou seja, de 1.850 Khz até 2.000 Khz, ficando então nosso segmento de 1.800 Khz até 2.000 Khz. Infelizmente, até hoje aguardo resposta! Fiz minha parte. Esperança nenhuma! Para aqueles que pretendem iniciar suas “caçadas” de DX em 160 metros, corujar (escutar) é a melhor opção. Esta faixa se caracteriza somente para DX e não se costuma bater-papo, e é considerado mais experiente aquele que fala pouco. Quando em contato DX, se costuma passar os sinais “RS” e o indicativo de chamada, dispensando às vezes, o nome do operador. A melhor época do ano para a Top Band é o inverno. A partir do início da Primavera nota-se o ruído de estática aumentar e vai melhorar após o Verão. Eu, com vários anos de prática todos os dias, descobri para mim que a melhor época para fazer DX é o nosso Verão. Por quê? Por que no outro hemisfério é o Inverno e a atividade está muito ativa. Para isto, você terá que fazer várias antenas (vertical, horizontal, oblíqua, long wire, etc) porque numa delas, você terá menos estática e a possibilidade de ouvir a estação DX! Não se esqueça de colocar “esponja” dentro dos fones de ouvidos para ajudar a “filtrar” os sons de estática, etc., sem contar com o treinamento para acostumar o ouvido a “não ouvir estática” e sim, se concentrar somente no “som” do DX. É difícil, mas eu consegui. Trabalhar na Top é uma arte, deve-se ter um pouco de talento; e experiência de um radio escuta veterano. Na Europa existem estações que só fazem 160 metros, onde seu progresso técnico é grande; também nos Estados Unidos existem clubes para esta faixa, trocando ideias e experiências adquiridas com outros clubes. Esta faixa atrai os radioamadores porque é uma faixa “desafiadora”, desde a instalação da antena à sua operação, porque cada país que se recebe com a confirmação (cartão QSL) é uma alegria e satisfação à parte! Abaixo, enumero alguns itens que dificultam sua operação e instalação: − a antena exige um espaço físico muito grande, mais ou menos 80 metros de fio (dipolo); − faixa bastante ruidosa, recebe-se o pior sinal, uma propagação variável, necessita-se além de bom ouvido, muita sensibilidade, exigindo o máximo do operador. Quem já fez muito DX em ondas médias (530 kHz a 1.600 kHz) terá aprendido muito, pois 160 metros é Onda Média e as características são as mesmas (Fanding, Fases da Lua, etc.); − exige potência na transmissão e poucas perdas; − alguns países não são permitidos a operar nesta faixa; − as frequências de operação, não são iguais para todos os países; − operação cansativa, mas gratificante quando de sua confirmação; − da relação de prefixos existentes no mundo (335), talvez 90% trabalham em 160 metros, os outros 10% só em eventos especiais. Optar para a frequência da Top Band (160 metros) é de certo modo uma “opção inteligente”, uma vez que o silêncio da noite e principalmente das madrugadas, você já deu atenção ao seu trabalho diário, atenção ao QTH (casa) familiar, tudo isso durante o dia, podendo se dedicar exclusivamente a Top. Devemos observar certos princípios que esta faixa exige: − curta chamada geral, repetindo mais seu indicativo de chamada; − curto QSO (conversa), poucas palavras quando em telegrafia, usando o código “Q”; − pelo pequeno espaço de frequência, não se deve ficar de papo, para não prejudicar àqueles que estão a procura de DX. − fazer planos, horários, tabelas para praticar o DX, prever zonas noturnas no instante que se está no rádio. Nesta faixa, existem 3 camadas que permitem ou impedem o contato bilateral (two way) à noite, que são: 1) aquela em que você ouve e é escutado pela estação; 2) aquela em que só você escuta, porém não é escutado; 3) aquela em que só você é escutado, porém não escuta. Isto acontece muito nesta faixa e o melhor horário para a prática do DX é entre 20 horas PY às 02 horas PY e das 05 horas às 06 horas da manhã. Mas às vezes poderemos observar a posição da lua. Quando a mesma está posicionada a mais ou menos 180º da antena (quase no horizonte), costuma-se fazer bons contatos à longa distância. O DX em CW concentra-se entre 1.818 kHz até 1.833 kHz. Em fonia de 1.838 kHz até 1.850 kHz, sendo 1.843 kHz até 1.850 Khz as janelas para DX. ZONA 29 Como é sabido, esta Zona 29 do WAZ é a mais difícil de se estabelecer contato em faixas baixas, para nós brasileiros. Ela praticamente tem somente dois meses de possibilidades para o TWO WAY: final do mês de maio até os primeiros dias do mês de julho. Tem que se ficar muito atento. Eu, com o estudo dos fusos horários, consegui trabalhar 3 estações, sendo que uma delas fiz a proeza de trabalhar em SSB (fonia) ao anoitecer e outra vez ao amanhecer. São relíquias da propagação. Apresento cópia dos cartões QSL: O contato com a estação VK6HD foi de extrema habilidade e de um final feliz. Pelos meus cálculos, o horário ideal e máxima propagação seriam às 20 horas PY. Não deu outra. Exatamente às 20 horas PY (23 h UTC) estabeleci contato com VK6HD em CW, no dia 24/06/2001. Tempos depois, alertado por um radioamador de Porto Alegre, este me disse que no site do OH4MFA estava a gravação do QSO feito entre eu, PY3CEJ e VK6HD. Depois de ouvir pela Internet, entrei em contato com OH4MFA, solicitei uma cópia do contato, e pedi a ele que me descrevesse o seu sistema de antenas para recepção. Quando recebi a gravação, veio a surpresa de seu sistema de antenas. Como ele está na Finlândia, tinha uma antena Beverage a 60º para escutar a América do Sul e outra a 240º para escutar Austrália. Foi uma triangulação perfeita, onde o maior mérito foi para OH4MFA, pois escutou as duas estações ao mesmo tempo, onde eu e o VK6HD só tínhamos que escutar um ao outro!