Carmilita
Das noites de lua, Amâncio escolhe uma delas
E arma uma fogueira no terreiro
Bem em frente a sua venda
Pra modi juntá a caboclada
Tuma umas pinga boa
Deita conversa à toa
Conta causos verdadeiros
Mas cum jeito de inventados
Mas tudo afiançado
Cum beijos nos dedos em cruz
E eles vão se chegando
Aos poucos se acomodando
O cumprimento é um pé pra prosa
Uns vão tumando pinga
Outros vão fumando uma paia
E assim o tempo vai passando
Gaudêncio, violeiro dos bão
Chego, puxando uma moda
Entre uma cantoria e outra
Os causos vão se sucedendo
E cada um côa sua especialidade
Pros causos de assombração
Ninguém mio qui Zé Pedro
Zéca Miúdo, que tem uns braços cumpridos
Ë bão nas histórias de pescaria
Mas pros causos inusitados
Daqueles apimentados
Com Tonho di Ciça, ninguém podia
Sentado num tamburete
Cuns braços cruzados nus peito
Tonho di Ciça foi tumando jeito
Di qui já, já cumeçava
_ Meus amigos... !
E uma pausa que sempre fazia
Pra modi te garantia
Que tudo mundo escuitava
... O causo qui vou lhes contá
foi lá pras banda da Bahia
de verdade acunticido
pela luz qui mi alumia
um sujeito chamado Cilinho
cabra bem apessoado
caiu di amo por Das Dô
mulata das mais vistosa
tudo nela era perfeito
Principalmente os peito
Qui cuns decote qui ela usava
Era o qui Cilinho mais gostava
O casório foi uma belezura
Uma festança nu arraia
Cumida di fartura
Cachaça, rapadura
E dança inté cansa
Pouco dispois di casados
Já istavão separados
Acertado o valor da pensão
Das Dô foi pra istação
E partiu nu primeiro trem
Pra nunca mais vortá
Dois dias dispois na venda
Cilinho sortero di novo
Arresorveu cunta pro povo
Us mutivo di si separá
Logo dispois da lua di mé
Ela qui era tão fiminina
Si virô numa filina
Côa unha a mi mostrá
Recramava sempre di tudo
Do banho qui só tumei ontonti
Da bosta nas minhas botas
E ainda nas minhas costas
Deu di cum a Carmilita impricá
Um dia cuns sistema nervoso
Nos cascus di mau humô
Me aponta o dedo nas ventas
-Eu ô ela? Berrô Das Dô
Fiquei oiando Carmilita
Tão Carminha nu jardim
Cumenu umas frô nu cantero
Um ôio nas pranta, outro ni mim
Respondi sem pestaneja
-É cum Carmilita qui vô ficá
-O dispois, ôces sabe o ocorrido
Deu uma talagada na “marvada”
E cum ar satisfeito arrematô
-Ta certo qui Das Dô tinha uns peitão
mas só sirvia pra da bêjo
Os da Carmilita, da balde de leite
E cum coalho inda faço quêjo
Num recrama du meu chêro
E no cuchilo di todo dia
Vem cum geitinho brejero
Modi faze cumpania
E dando a prosa por encerrada
Pagô as pinga tumada
Pisco pra caboclada
I foi encontra Carmilita
Tonho di Ciça já ia dando
O causo por encerrado
Quando Quinca si rindo pergunta
-E esses dois acaba casado?
Tonho fez um ar sério
Maneia a cabeça cum pesar
Dando di novo uma pausa
Pro final valorizar
-O fim foi uma tragédia
ôces nem podi imaginá
Cilinho pego Carmilita
Cum bode a prevarica
Discarregô a garrucha
Matando os dois na capoeira
O bode cumeu assado
Pra ela interro di primêra
Disiludido co sucedido
Garro na pinga mardita
Mas tumo uma decisão
Quando ninguém mais acredita
-Foi busca Das Dô! arriscou Quincas
-Foi nada! Encerrou Tonho di Ciça
_ Cumpro foi é outra cabrita
Ricco Paes
11/2004
Download

Carmilita Das noites de lua, Amâncio escolhe uma delas E arma