Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste ISSN: 1517-3852 [email protected] Universidade Federal do Ceará Brasil Ramos Vieira Santos, Isabel Cristina; dos Santos Nunes, Émilli Natália; Amorim Melo, Caroline; Gomes Farias, Débora Amputações por pé diabético e fatores sociais: implicações para cuidados preventivos de enfermagem Revista da Rede de Enfermagem do Nordeste, vol. 12, núm. 4, octubre-diciembre, 2011, pp. 684-691 Universidade Federal do Ceará Fortaleza, Brasil Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=324027977004 Como citar este artigo Número completo Mais artigos Home da revista no Redalyc Sistema de Informação Científica Rede de Revistas Científicas da América Latina, Caribe , Espanha e Portugal Projeto acadêmico sem fins lucrativos desenvolvido no âmbito da iniciativa Acesso Aberto Artigo Original AMPUTAt;:OES POR PÉ DIABÉTICO E FATORES SOCIAIS: IMPLICAt;:OES PARA CUIDADOS PREVENTIVOS DE ENFERMAGEM AMPUTATIONS FOR DIABETIC FOOT AND SOCIAL FACTORS: IMPLI['ATlONS FOR NURSING PREVENTIVE ['ARE AMPUTACIONES POR PIE DIABÉTICO Y FACTORESSOCIALES: IMPLI['AClONES PARA ATENCIÓN PREVENTIVA DE LA ENFERMERÍA [saber Cristina Ramos Vieira Santos 1, Émillí Natália dos Santos Nunes-, Carcline Amorim Mel0 2, Débcra Gomes Fartas" Multes escudos tém apontadc fatcres de risco asscciados a occrréncia de amputacáo por pé diabético, no entantc, a análise dos fatcres sociais tem sido poucc estudado. O objetivo deste escudo foí o de verificar a occrréncia de amputacdes em portadores de pé diabético segundo fatores socíaís e suas respectivas ímplicacóes para os cuidados preventivos de enfermagem. Estudo epidemiológico retrospectivo, do tipo caso-controle. A amostra foi compcsta por 64 portadores de pé diabético internados na clínica vascular de um hospital público do Recite. Para cada paciente submetídc a amputacñc ccube o cxamc de um controle. Os resultados mcstraram a extsténcta de associacáo entre amputacáo e anos de estudo inferior a cinco anos, renda familiar de até um salário mínimo e número de 3 a mais pessoas resfdíndc no domícílío. O conhecímentc destas assocíacóes requer de gestores públicos e dos prcfissícnais da atencác básica o planejamentc de estrategias diferenciadas de abordagem e acompanhamentc da populacác em risco. Descrltores. Pé Diabético; Aten¡;:ao Prímárta aSaúde: Amputacáo: Cuidados de Enfermagem. Many studíes have híghlíghted risk factcrs associated with the occurrence of amputatícn for díabetíc foot; however; the analysls of social factors has not been studíed mucho This study assessed the incidence of amputatíons in patients with diabetic foot acccrding to social tactors and their ímplícations for nursing preventíve careo Th¡s is a Retrospectíve epídemíologícal study, of the case-control type. The sample ccnsisted of 64 inpatients wtth diabetic foot prcblems in the vascular cliníc cf a public hospital in Recife, PE, UR. Fcr each patíent undergoing amputatícn there was a control. The results shcwed an associatícn between amputatíon and ycars of study: Iess than 5 years. family income: below the poverty level ami number of 3 to more people living at horne. Knowledge of these assoclatíons requires publíc managers and prímary care prcfesstonats to plan different strategies to address and monitor the populatíon at rísk. Descrlpters: Diabetic Foot; Prímary Health Caro: Amputatícn: Nursing Careo Muchos estudios apuntan factores de riesgo asociados a la amputación por pie diabético, sin embargo, el análisis de los factores sociales ha sido poco estudiado. El objetivo fue evaluar la ocurrencia de amputaciones en personas con pie diabético según factores sociales y sus implicaciones para la atención preventiva de la enfermería. Estudio epidemiológico retrospectivo, tipo caso-control. La muestra fue de 64 personas con pie diabético de una clínica vascular de un hospital público de Recife/Pli/Bk. Para cada paciente sometido a [a amputación, fue realizado el examen de uno control. Los resultados señalaron asociación entre amputación y años de escolaridad inferior a cinco años, renta familiares de hasta un sueldo mínimo y número de tres a más personas en el domicilio. El conocimiento de estas asociaciones requiere de gestores públicos y profesionales de la atención primaria el planeamíentc de diferentes estrategias de abordaje y seguimiento de la población en riesgo. Descriptores: Pie Diabético; Atención Primaria de Salud; Amputación; Atención de Enfermería. 1 2 Enfermeíra. Doutora em Ciencias pelo Centro de Pesquisas Aggeu Magalháes (Fiocruz). Professora Adjunto da Faculdade de Enfermagem Nossa Senhora das Gracas (FENSG), Uníversídade de Pernambuco (UPE). Recife, PE, Brasil. E-mail: [email protected] Académicas do Curso de Enfermagem da FENSGjUPE. Recife, PE, Brasil. E-mails:[email protected];[email protected]; debystorm@ hotmail.com Autor correspondente: Emilli Natalía dos Santos Nunes Rua Mussa Hazrn, 122, apt 301, lputínga, CEp··S0800-030. Recife, PE, Brasil. E-mail: [email protected] 684 Rev Rene, Fortaleza, 2011 outjdez; 12 (4) :684-91. Santos lCRV, Nunes f:NS) Mela CA) Partas DG INTRODU~ÁO torar os pés diariamente e o cuidado adequado dos pés incluindo a pele e as unhas, além da seles:ao apropriada o pé diabético é urna das príncípaís cornplicacóes dos calcados, Urn baixo grau de escolar idade e baixa ren- do diabetes mellítus (DM), caracterizado pela presenca da podem comprometer o entendimcnto e a prática de de lesóes nos pés dccorrcntes de ncuropatías periféricas acóes preciosas para a salute dos mesmos. (90% dos casos), doenca vascular periférica e deformida- Para diminuir o número de amputacóes os pro- des, representando urna parcela significativa de interna- fissionais da atencáo básica e específicamente os enfer- eñes hospitalares prolongadas, morbidade e mortalida- metros precísam cornpreender a estratífícacáo do aten- de. Essas cornplícacóes, de caráter crónico, ocorrem cm dirnento média dez anos após o aparecimento da doenca e, asso- acordo com a dístribuicáo sócio-demográfica da po pula- ciadas a ínfeccües, podem evo luir para arnputacóes náo cáo alvo(5J,conseguindo desta forma, prestar um cuidado traumáticas de mcmbros inferiores. As amputacóes sao mais eficiente. Argumento que justifica este estudo, que mais prevalentes cm individuos portadores de DM, que tem por objetivo: verificar a ocorréncia de amputacóes a saúde, adequando as medidas educativas de apresentam um fisco 1S a 46 vezes maíor de ocorréncia em portadores de pé diabético segundo Iatores sociais e quando comparados aqueles com glicemias normaisí-J. suas respectivas implícacóes para os cuidados preventi- De todas as internacóes relacionadas com o diabe- vos de enfermagem. tes 1,7% podem ser atribuidas a necessidade de amputas:ao,e aproximadamente 10% dos custos com os cuidados MÉTODO de saúde dos pacientes diabéticos estáo assocíados a esse procedimento. Para cumprir as metas de reducáo do número de amputacócs, Estudo epidemiológico, do tipo caso-controle. Re- importante conhecer detalhada- alizado em um hospital público da cidade do Recife, esco- mente as necessidades de saúde dos pacientes e a forma lhido devido a sua localizacáo estratégica e ao número de como estáo sendo cuidados, para definir o que e quanto leitos destinados a círurgta vascular, Atende a populacáo é precisa ser realizado para melhorar sua evolucáo'<'. proveniente da regíáo metropolitana e de munícipíos do A Organizacáo mundial de saúde e a Federacáo In- interior do estado de Pernambuco, com urna média anual ternacional de Diabetes chamam a atcncáo para este pro- de ínternamcntos na clínica vascular da ordem de 561,7 blema e declaram que mais da rnetade de todas as ampu- pacientes. tacoes poderíam ser prevenidas com adequada deteccáo A populacáo deste estudo foi composta por 83 por- e cuidado(3J. Pequenos investímentos em prevencáo e tadores de pé diabético [isquémíco, isquémico-infeccioso educacáo podem significar menos amputacóes, aumen- e neuropático-mfeccioso] internados na clínica vascular to da qualidade de vida e urna ccnsiderável reducáo nos do referido hospital no período de marco a setembro de custos com o sistema de saúde(3J. 2010 de onde forarn selecionados para o grupo "caso" to- No Brasil, um estudo sobre amputacócs de ex- dos os que foram submetidos a amputacáo de membro tremidades inferiores por diabetes mellítusl''J observou inferior (AMI], totalizando 32 pacientes e como grupo que o comparecimento as consultas de enfermagem "controle" foram selecíoriados 32 pacientes [razáoe l rl}, foi um importante Iator associado amputacóes, o cuidado a prevencáo dessas preventivo de enfermagem ao porta- internados no mesmo setor, nao submetidos a AMI, ernparelhados por faixa etária (superior a 60 anos] e ternpo de diagnóstico de diabetes mellitus (superior a Sanos)o dor de pé diabético envolve muitos níveis, mas corneca Para avaliacño dos Iatores socíaís, em ambos os pela identiñcacáo do paciente cm risco, através de exame grupos foi realizada entrevista utilizando um instru- clínico dctalhado, contemplando: avaliacáo estrutural, mento construido no estudo: Condutas preventivas na ínvestigacáo de neuroparía e afericáo dos pulsos distais, Urna vez identificado como paciente de risco, o mesmo atencao básica e amputacáo de membros Inferiores em portadores de pé diabético(6J após devida autorízacáo deve ser orientado ern rclacáo aos fatores de risco e apro- dos autores. As variáveis vasculopatia e neuropatía foram priado manejo. investigadas através dos respectivos prontuarios. O paciente de risco deve entender as implicas:5es A variável dependente foi ocorrencia ou nao de da perda da sensas:ao protetora, a importancia de moni- amputas:ao de membros inferiores e as variáveis explo- Rev Rene) Fortaleza, 2011 outjdez; 12(4):684-91. 685 Santos ICRV; Nunes f:NS, Melo CA, Partas DG No grupo "caso" dos 32 pacientes, 18 (56,3%) ratórias foram: procedencia, anos de estudo, número de pessoas que residern no domicilio e renda familiar; Após aplicacáo dos quesuonáríos, as informacoes coletadas foram arquívadas em um banco de dados e ana- forarn do sexo masculino e 14 (43,8%) do feminino, enquanto no "controle" 11 (34,4%) forarn do sexo masculi- no e 21 (65,6%) do femínino. hsadas através do programa estatístíco SPSS versáo 17.0. Corn relacáo ao tempo de diagnóstico de DM, entre Os dados foram analisados utilizando-se o qui-quadrado os casos, 18 (62,1 %) tinham sido diagnosticados entre 5 com correcáo de Yates. A decisáo estatística foi Ieita com e 10 anos. Nesta categoría. tambérn se encontra a maior base no valor descritivo do teste (valor de p). Na análise freqüéncia do grupo controle, com 19 pacientes (67,9%), bivariada utilizou-se o Odds ratio (OR) e seus intervalos de confianca de 95°¡(J como medida de assocíacáo A vasculopatia esteve presente em 15 pacientes do grupo caso, correspondendo a 46,9% do grupo e, no Este estudo foi conduzido de acordo com os pre- grupo controle esteve presente em 20 pacientes (62,5%). ceitos determinados pela resolucáo 196/96 do Conselho No grupo caso, a neuropatia esteve presente em Nacional de Saúde do Mínistério da Saúde, além de sub- 18 pacientes (56,3%) e no grupo controle, em 12, corres- metido e aprovado pelo Cormté de Ética em Pesquisa do pondendo a 37,5% dest.e grupo. referido hospital (eAAE - 0078,0,102,000-10). A Tabela 2 mostra a distribuicao dos pacientes da amostra conforme procedencia (municípios e mesorregi- RESULTADOS óes do estado de Pernambuco). Pode-se verificar a maíor frequéncia de pacientes oriundos da cidade do Recife A Tabela 1 mostra, em ambos os grupos, a distri- (26/64) o que corresponde a 40,6%" Sornado aos outros buicáo dos pacientes entre as diferentes faixas etárias, municipios que constítuem a rcgíáo metropolitana da Observa-se que no "caso" houve prevalencia da faixa etá- cidade representa 75% no grupo dos casos. No total da na entre 60 e 70 anos, representando 62,5% deste grupo, amostra a freqüéncia de pacientes procedentes dos mu- cornportamento que tambérn se observa no "controle" nicípios do interior Ioi de 32,8% (21/64). Observa-se ain- em que a prescnca de pacientes dessa faixa etária, repre- da a frequéncia de pacientes oriundos da regíao da mata, senta 48,7% do grupo. Nos casos e controles analisadcs, correspondente a 15,6% no grupo dos casos (05/32) e a foi observada urna média de idade igual a 70,3 anos (me- 21,9% sobre o total da amostra (14/64), diana: 68 anos e desvío padráo: 8,7 anos). Tahela 1 - Caracterizacáo de: faixa etária, sexo, presenca de vasculopatia, presenca de neurcpatia e tempo de diagnóstico de DM dos pacientes segundo grupos de estudo, Recife, PE, Brasil, 2010 Casos Variáveis de caracterlzacño N Controle % Total N % Faixa etáría (anos) 60-70 20 51,3 19 48,7 39 71-80 12 66,7 06 33,3 18 07 100,0 07 81-90 Sexo Masculino 18 62,1 11 37,9 29 Feminino 14 40,0 21 60,0 35 5-10 18 48,6 19 51,4 37 > 10 11 55,0 09 45,0 20 Sim 15 42,9 20 57,1 35 Nao 17 58,6 12 41,4 29 Sim 18 60,0 12 40,0 30 Nao 14 41,2 20 58,8 34 Diagnóstico DM (anos) Vasculopatía Neuropatta 686 Rev Rene, Fortaleza, 2011 outjdez; 12 (4) :684-91. Santos lCRV, Nunes f:NS) Mela CA) Partas DG Tabela 2 - Distribuícáo da procedencia dos pacientes segunda grupos de estudo, Recífe, PE, Brasil, 2010 MesorregHio RMR* Município Caso Abreu e Lima 01 Controle % 01 03,1 02 06,3 02 06,3 14 43,8 Carpína 01 03,1 Cortés 01 03,1 Igarassu 03 [aboatáo dos Guararapes 02 alinda 05 % 03,1 09,4 06,3 15,6 Paultsta Recife 12 37,5 Sao Lourenco da Mata 01 03,1 Goiana Itambé Mata Agreste Sertáo 01 03,1 01 03,1 Nazaré da Mata 01 03,1 Palmares Ríbeíráo 01 03,1 02 06,3 03 09,4 Sirinhaém 01 03,1 01 03,1 Vicéncia 01 03,1 Agrestína [oáo Alfredo 01 03,1 01 03,1 Sao [oaquím do Monte 01 03,1 Surubim 01 03,1 01 03,1 Afogados da Ingazeíra 02 06,3 Sao Francisco *RMR;;;;; Regíñc metropolitana do Recife A Tabela :-3 ilustra a aplicacáo da análise bivariada ern relacao aos fatores sociais, Verifica-se que a quantí- dade de anos de estudo mostrou sigruficáncia estatística para os deis grupos foi de R$655,9 (mediana=R$465,00; desvío padrao=595, 1). Pode se verificar também que o número de pes- a (p=0,04), desta Iorrna, aquejes que tém de O a 4 anos de soas residentes no domicilio mostrou-se associada estudo apresentam um risco de amputacao de 1,9 vezes (OR=1,92; p=0,(4). A média de anos de estudo encontra- ocorréncia de amputacáo, com sigruficáncia estatístíca da foi de 4,09 anos (mediana=4,00; desvío padráoe-l.Z]. Na amostra estudada, o exame da associacáo da no domicilio, mostra urna chance de quase 2 vezes para a ocorréncia de arnputacáo (OR=l, 78; IC95% 1,12-2,85). renda familiar, implicou em um risco 2 vezes maíor en- Por autro lado, a procedencia (p=0,43) nao rcsul- tre os casos (OR=2,00; IC95% 1,21-3,30). A renda média (p=0,04'), entre os casos, a presenca de :-3 a mais pessoas tou ser estatisticamente significativa na análise. Tabela 3 -Análise bivariada dos grupos de estudo em relacáo aos fatores sociais. Recife, PE, Brasil, 2010 Fatores sociais Caso (N) Controle (N) DR IC(95%) p Procedencia RMR 23 19 Interior 09 13 0-4 24 15 >4 08 17 Até 1 SM 19 08 >lSM 13 24 1-2 07 16 3a+ 25 16 0,43 Anos de estudo 1,92 1,03-3,58 0,04 2,00 1,21-3,30 0,01 1,78 1,12-2,85 0,04 Renda familiar N° pessoas no domicilio Rev Rene) Fortaleza, 2011 outjdez; 12(4):684-91. 687 Santos ICRV; Nunes f:NS, Melo CA, Partas DG nrscnssao gundo estudo realizado no Peru, aproximadamente 15% dos diabéticos apresentam alguma enferrnidade vascular Diferentes estudos epidemiológicos térn sido realizados sobre o pé diabético. No entanto até hoje nao se periférica dentro dos prirneiros 10 anos de diagnóstico e 45% dentro dos 20 anos(7J, díspoe, no país de estudo corn dimcnsáo nacional, assim A presenca de vasculopatia foi observada em nao há estimatíva atual sobre a real dimensáo deste agra- 42,9% do grupo dos casos, Estudo realizado cm Madri vo. Tambérn nao observou que 100% das arnputacóes de nível maior [aci- é conhecido algum estudo que seja vol- tado específicameute para ínvestigacáo de fato res scciaís ma do nível do tarso) estáo assccíadas com a presenca de no Brasil. Varíáveís como ídade e tempo de diagnóstico sao doenca vascular periférica C14J. Neste estudo, observen-se presenca de ncuropa- considerados corno fator de risco em vários estudosC2,79J. tía em 60% dos pacientes do grupo caso em relacáo ao A idade reportada varia de 63,5(7J a 72,3 anosl''! Neste grupo controle. Estudo de mesma natureza metodológica estudo, mesmo estabelecendo como critério de inclusño encontrou assocíacáo entre neuroparía e vasculopatía e e de emparelhamento a faixa etária superior a 60 anos, ocorréncia de amputacáo de mernbro inferiorl'U. Estes observou-se maior freqüéncia para ambos os grupos achados ressaltam a importancia da atencáo básica na daqueles com 60 a 70 anos ern relacáo as faixas mais identificacáo precoce do diabetes e acornpanhameuto avancadas, periódico para prevencáo do pé diabético e seu desen- De acordo com alguns estudos, a incidencia de amputacócs aumenta corn a idade e, entre diabéticos é 8 vezes maior do que entre nao diabétlcos(10-11J. As prevaléncias encontradas neste e nos estudos apresentados anteriormente, chamam a atencáo para lace. Os enfermeiros deste nível de atencáo tém urna importancia fundamental, devido a sua proximídade da cornunídade atendida, quanto a realizacáo de exames físicos minuciosos, com avaliacáo dos pulsos periféricos e da sensíbilídade periférica. este grupo etárío e o coloca como urna das prioridades A pesquisa da procedencia, embora neste estudo na agenda de vigilancia em saúde, quando se considera o nao tenha mostrado assccíacáo com amputacáo de me m- envelhecirnento da populacáo previsto para os próximos anos, alinhado as condicóes sócío-cconómícas e nutricio- bro inferior, permitíu. a luz de suas Iimitacóes metodológicas mostrar a distribuicáo dos pacientes atendidos no nais desíavoráveís por que passa a maíoria da populacáo, hospital estudado segundo regifles e municipios do Esta- no que pese os importantes díferencíais entre as áreas do. O conhecimento sobre a procedencia dos pacientes espacíais, Sabendo da relacáo entre idade e ocorréncia em relacáo ao agravo pé diabético e amputacáo, propicia de pé diabético, o enfermeiro do Programa de saúde da urna maior reflexáo sobre as condicóes socíaís da popu- familia deve considerar esta parcela da populacáo como lacáo em risco, auxiliando a gestáo pública quando do alvo de medidas preventivas. planejamento para as acóes de saúde, Este é o primeiro Com relacáo a varíável sexo, utilizada ncstc estudo trabalho brasílcíro que relata tal distrtbuícáo, para caracterizacáo da amostra, observa-se maior íre- Verificou-se que das cinco mesorregióes, as maio- quéncia do sexo masculino entre os pacientes do grupo res frequéncias de pacientes submetidos a amputacáo de "caso" e do sexo feminino entre aqueles do grupo "con- membro inferior eram oriundas da regiác metropolitana trole". De fato, esta varíável apresenta comportamento diferente nos diversos estudosC1,8J, devido provavelmen- do Recife a exernplo de outro estudo realizado no mesmo Estado U5] e zona da mata pernambucana, contribuindo te a diferenca de método utilizado. A freqúéncia aquí en- com 75 e 15,6% respectivamente, contrada consistente com os resultados de estudo realizado no Canadá(12). pital possui maís 13 municipios. possuia 3.787.667 ha- Tanto no grupo de casos quanto no de controles, se bitantes no ano de 2009, sendo a 6ª cidade mais popu- verificou maior freqüencia de pacientes diagnosticados losa do país, com urna densidade demográfica de 1.207 para diabetes entre 5 e 10 anos. Complica¡;:oes diabéti- habjkm 2(16J. Representa cerca de 3% da área do terri- cas crónicas tais como doem;a aterosderótica, altera¡;:oes tório pernambucano onde se insere, porém concentra imunológicas e neuropatla periférica aumentam em incidencia e severidade ao longo do curso da doen¡;:aC13J. Se- 42% da popula<;iio e mais da metade do PIS es¡¡¡dual, é 688 Rev Rene, Fortaleza, 2011 olltjdez; 12 (4] :684-91. A Rcgíáo Metropolitana do Rccífe, que alérn da ca- apresentando os melhores indicadores sociais e nível Santos lCRV, Nunes f:NS) Mela CA) Partas DG de escolaridade, bem como as maíores potencialidades densidade demográfica de 144 hab /km ' apresenta um e condicóes efetivas de crescímento do Estado de Per- quadro sócio-ambiental que evidencia a pobreza e a falta nambuco'V! Apesar dísso, os indicadores de déficit e de oportunidades que afetam a vida das pessoas, asso- de ínadcquacáo de habítacóes da RMR dcstacam a re- ciadas a um ambiente natural degradado. Nos municipios giáo entre aquelas em que a problemática habitacional pernambucanos situados nesta mesorregiño, os índices se apresenta bastante aguda, por registrar, ao lado das de desenvolvimento humano varíam do mais baíxo que é dernais metrópoles do Nordeste e do Norte do país, as de 0,296 ao mais alto que é de 0,479(16], apresenta urna maiores medias dos indicadores de carencias habitacio- pcpulacáo economícamente ativa da ordem de 417.889 naís, no contexto das variacóes regionais brasileiras, que habitantes, correspondendo a 12,89% de sua populacño. A rcgíáo de exploracáo de cana-de-acúcar possuí sao bastante significativas. A expansáo populacional dos municipios metro- urn alto grau de pobreza e exclusáo social, como é o caso politanos do Recife reafirma a tendencia centro-periferia que caracteriza as metrópoles brasíleíras, O crescímento do analfabetismo. O índice médio brasileiro é de 16,67% de analfabetos, em Pernambuco, a medía é de 27 fl!iJ sal- populacional interage diretamente com o meio. alterando tando para 45% na zona da mata(18). as condicóes naturaís, trazendo para o ambiente construí- A implicacáo dísso para saúde e, específicamen- do - seja nas áreas de planície, seja nas áreas de morros te para o problema aquí estudado, reflete-se nas asso- - a expressáo da desigualdade social. Em um processo de ciacócs aquí encontradas quanto períferízacño característico da expansáo das grandes cí- maior número de pessoas convivendo no domicilio e dades brasileiras, a populacáo pobre, também, se desloea baixa escolaridade, aprcsentando urna probabilidade de a baixa renda familiar, na busca de condícóes de acesso a terra e amoradia: avan- 2, 1,8 e 1,9 vezes respectivamente, para ocorréncía de ca para as bordas da malha urbana e densifica o núcleo amputacóes. metropolitano. Nas áreas ende se assentam as familias A baixa renda, assccíada a um número de 3 a mais mais pobres, registram-se possibilidade de acidentes, em habitantes no domicilio tern implícacáo direta sobre o a alimentacáo e aos decorréncía da ocupacao de áreas impróprias ou merece- controle da doenca, no que se refere doras de cuidados especiais - os alagados, as margens cuidados básicos de higiene e de calcados, urna vez que dos mangues, as encostas dos morros. Ao contrario disso, urna renda familiar de até um salário mínimo (R$ 510,00 nas áreas assentadas pelas familias de padráo sócio eco- em 2010), dividida por 3 ou mais habitantes, independenternente da idade e sítuacáo de saúde, equivale ao nómico médío e alto, a cidade se verticaliza(l7). A populacáo econornícamente atíva da regíáo, segundo o último censo demográfico é de 1.441.353, cor- conceíro, dado pelo Banco Mundial, de pobreza moderada ou seja, viver com entre 1 e 2 dólares por dia(19J. respondendo a 43,19% da populacáof-''! A estrutura Sob esta perspectiva e, a luz dos resultados encon- sócio-ocupacíoual da pcpulacáo ocupada da RMR é mar- trados neste estudo, pode-se inferir que por melhor que cada pela predomináncia de um grande grupo popular, seja a qualidade da atcncáo básica, no que diz rcspeíto no ámbito do qual sao majoritários os ocupados nos ser- ao equipamento, material e pessoal capacitado para de- vices e cornércíos e relativamente sao poucas sigruficatí- tectar a doenca e prevenir suas complicacoes, pesa sobre vas as concentracóes industriais. suas acoes o contexto social desfavorável de ende proce- A identificacáo de áreas de "risco social', ou seja, aquelas onde predominam baíxos indicadores sccíaís é de sua clientela. Em adícáo a ísso, a baixa escolaridade do diabéti- urna medida útil corn implicacáo tanto ao provimento de co, irnpóe aos profissionais da atencáo básica e, sobretu- a neccssida- do ao enfermeírc, um desafio que requer o planejamen- novas unidades de saúde da familia, quanto de de estratégias por parte dos médicos e enfermeiros to de estratéglas diferenciadas e intensivas quando das das unidades existentes no sentido de identificar preco- orienta<;óes para o autocuidado, de modo a alcan<;ar efe- cemente o DM e iniciar medidas preventivas para o pé tívamente a popula<;ao alvo. diabético além de buscar ativamente os casos já existentes na comunidade. A Zona da Mata de Pernalnbuco, por sua vez, com uma popula<;ao estimada de 8.404,5 habitantes e uma Cabe aos enfermeiros juntamente com seus técnlCOS a elabora<;ao de medidas educattvas (cartilhas, encontros, visitas donliciliares) voltadas ao entendimento desta clientela, implicando na melhoria da aten<;ao. Rev Rene) Fortaleza, 2011 outjdez; 12(4):684-91. 689 Santos ICRV; Nunes f:NS, Melo CA, Partas DG 3, CONCLUSJ\.O World Health Organízatíon, World diabetes day: too many people are losing lower límbs unnecessarily to ríes estudos, tais como: idade, tempo de diagnóstico do diabetes, Ioint News Release WHO/IDF [periódico na Internet], 2005 [citado 2010 mar 15], Disponível diabetes, presenca de vasculopatia e neuropatia, fatores em: http://v,,w,,,,whojnt/mediacentre/news/relea- Alérn de Iatores de risco já apresentados em vá- sociais como: renda familiar abaixo de 1 salário mínimo, número de pessoas no domicilio maíor que deis e baixa 4, LAC. Amputacoes de extremidades inferiores por diabetes melhtus: estudo caso-controle. Rev Saúde escolaridade de até 4 anos de estudo mostraram um alto risco para amputacáo. Pública, 2004; 38(3):399-404, Estes fatores socíaís importam ou irnplicam em novos desafíos a gestores públicos e, mais diretamente S, nicas dos diabéticos tipo 2 atendidos nas Unidades de Saúde da Familia, Recife, Pernambuco, Brasil, Rev a enfermagem que por sua vez necessítam envidar esforcos para novas estratégias relacionadas ao contexto soagravantes para o desencadeamento de complicacoes Bras Saúde Matern Infant, 2008; 8(4):427-33, 6, bros Inferiores em portadores de pé diabético. Rev so as iníormacoes. devido ao possível comprometimento Rene, 2008; 9(4):40-8. 7, vidades de educacáo para o autocuidado preventivo. co en Hospitales de la costa norte peruana 1990 2000: características clínico-epídemiológicas. Rev necessidade de acóes diagnósticas intcnsívas e precoces, sobretudo em relacáo á idade da populacáo atendida, Peru Med Exp Salud Publica, 2003; 20(3):138-44, 8, quahficada e acima de tudo pelo uso criatívo de estratégias educativas voltadas arterial periférica e diabetes melito no município do Río de [aneíro. J Vasc Bras, 2004; 3(2):111-22, sao das acóes de autocuidado. Embora, como todas as pesquisas de tipo caso-conviés de selecáo, interpretacáo e mernória, estes Ioram mi- nimizados uma vez que casos e controles foram sclccíona- Spichler O, Miranda Ir F, Spichler ES, Franco LJ, Am- putacoes maiores de membros inferiores por doenca a populacáo carente e superví- trole, este estudo tenha como Iimitacóes a ocorréncia de Gutiérrez OE, Garda 1.1., Sánchez JG, Gutiérrez GE. Amputación del miembro inferior por pie diabéti- As implicacóes para enfermagem refletem-se na ídcntificacáo de pacientes de risco pela prática clínica Santos ICRV, Silva ACFB, Silva Al; Mela LCr Condutas preventivas na atencáo básica e amputacao de me m- crónicas tais como o pé diabético, pela Iimitacáo do acesdas habilidades de Ieitura, escrita e cornpreensáo das atí- Vieira Santos ICR, Carvalho Er, Souza WV, Medeiros MCWC, Nóbrega MGL, Lima PMS, Complícacoes eró- aos profissionais da atencáo básica, dos quais se destaca cial que os cerca, já que esses fatores ccnstítuem-se como ses/2 OO5/ pr61 / en/prínt.html. Gamba MA, Gotliebb SLO, Bergamaschib Op, Vianna 9, Brasileiro JL, Oliveira W'Tp, Monteiro LB, Clien J, Pinlio [r EL, Molkenthin S, et al. Pé diabética: aspectos clínicos, J Vasc Bras, 2005; 4(1):11-21. dos a partir da mesma populacáo, a coleta de informacóes io. Muller IS, Grauw WJCOE,Van Gerwen WHEM, Bartelink ML, Van den Hoogen HJM, Rutten GEHM, Foot ul- foi realizada sob as mesmas condícües e tendo em vista a ceratíon and Iower hrnb amputatiori in type 2 diabe- repercussáo de urna amputacáo na vida do doente, tíc patíenrs in dutch prirnary healt.h careo Diab Careo Ült.OS relacionados a ela sao provavelmente bern lembrados, 2002; 25(3):570-4, 11. [ohannesson A, Larsson GU, Ramstrand N, Turkiewi- REFERENCIAS cz A, Wirehn AB, Atroshi 1. Incidence of lower-Iirnb 1. Cosson ICO, Ney-Oliveira F, Adan LE Evalution of the amputation in the diabetic and nondiabetic general populaticn, Diab Care. 2009; 32(2):275-80, knowledge of preventive measures for the diabetic 12, Haverstock BO, Senior PA, Bowker SL, McMurtry MS, foot in patients of Rio Branco, Acre. Arq Bras Endo- Bowering CK, Tsuyuki RT. Diabetes, foot disease and crínol Metab, 2005; 49(4):548-56, Nunes MAr Resende KF, Castro AA, Pitta GBB, Figueí- lower limb amputations in Albert».. 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