16 JUlHO 2015 jornal sporting | 3 Rui Nunes era, e é, engenheiro civil. Mas vai deixar a sua profissão por um ano para ir de férias, passadas pelos cinco continentes. Leva consigo o cachecol e a camisola ‘leonina’ As voltas que o Mundo dá Queria ir a países onde nunca tinha ido e como gosto de história e sou português, quis passar pelos cinco continentes. Foi só juntar uma coisa com a outra”. Também irá viajar de comboio e carro, deixando de parte os cavalos e as bicicletas. “Nas Jornadas ouvi histórias fantásticas. Desde um galego que viajou pelo Mundo de cavalo entre 2005 e 2010 a um outro espanhol que já fez 140 mil quilómetros de bicicleta”, diz Rui Nunes, ‘Travassos’, ou ‘Ninja’, precisamente o nome do blogue onde irá publicar tudo sobre as suas aventuras: ninjaviajando.eu. Tinha possibilidades económicas para o fazer, queria ir de férias e não estava comprometido, o que certamente o impediria de seguir em frente na iniciativa pelas incompatibilidades que iriam surgir, segundo diz. Assim, depois de sete anos na Catalunha, regressou a Portugal, tratou dos vistos e das vacinas, marcou as viagens e partiu. Levou duas malas. Uma grande, de 12 quilos, e outra pequena para “voltas mais curtas que queira fazer”. Lá dentro, “muita vontade de conhecer gente nova”, roupa, necessidades higiénicas, um tablet, dois telemóveis, três cartões bancários e uma camisola e um cachecol do Sporting. Não só pela paixão que tem ao Clube, mas também porque, por coincidência, vai estar na Cidade do Cabo na mesma altura da equipa de futebol ‘verde e branca’; “vou lá estar a ver os jogos”, garante. As passagens de avião estão todas compradas, não vá a mente exigir-lhe o regresso à Península Ibérica. O resto, como as dormidas, só Deus deverá saber. “Nas primeiras três etapas – São Tomé e Príncipe, África do Sul e São Paulo – já tenho a estadia confirmada. A partir daí, vou planeando à medida que vou avançando. Não me parece importante fazer muitos planos logo de início, primeiro porque tenho amigos em 60 por cento dos sítios onde vou estar e depois porque as coisas nunca vão correr de acordo com o planeado. Mais vale deixarmos rolar Portugal (Lisboa) - São Tomé e Príncipe - África do Sul (Joanesburgo | Cidade do Cabo) - Brasil (São Paulo) - Argentina (Buenos Aires) - Chile (Santiago) - Bolívia - Peru - Colômbia - México - EUA (Califórnia | Hawai) - Nova Zelândia (Auckland) - Austrália (Melbourne | Alice Springs) - Tailândia Malásia - Laos - Vietname - Cambodja - Tailândia - Índia (Nova Deli) - Turquia (Istambul) - Portugal (Lisboa) e ver o que acontece”, refere. Alguns dos sítios têm um significado especial. São Tomé e Príncipe e África do Sul marcarão um regresso ao continente onde viu os primeiros raios de luz (nasceu no Zimbabué). Na Nova Zelândia há a curiosidade de ver as florestas onde foi filmado o Senhor dos Anéis e na Malásia motivam-lhe as ruas com nomes portugueses, junto ao antigo porto luso de Malaca. Tudo isto parece complexo mas, para Rui Nunes, não é. “Em Espanha costuma dizer-se que ‘está chupado’, ou seja, é algo já feito. Só temos de marcar as viagens e planificar sítios onde ficar. No tempo dos descobrimentos, sim, era um desafio porque andavam em terras nunca antes visitadas. Para viajar hoje em dia basta entrar no tema e vê-se logo que não é complicado fazer o que vou fazer”, explica. O regresso a Lisboa está previsto para 23 de Janeiro de 2016. Pretende regressar para junto dos seus e rever a família portuguesa na Catalunha. Os cerca de nove a dez colegas – na grande maioria Sportinguistas – com quem foi cons- FOTOs josé cruz A esta hora, o nosso viajante já está em terras africanas. A esta hora, há um ano, estava por terras catalãs. A trabalhar 12 a 14 horas por dia, com poucas folgas e muito que fazer. Foi talvez por isso que no dia anterior à sua partida recebeu uma mensagem de uma amiga dizendo que um dos engenheiros com quem trabalhava teve um enfarte, aos 34 anos. Ciente dos perigos do trabalho excessivo, sabia que, assim que terminasse o seu projecto relacionado com a indústria de cimento numa empresa de Barcelona, onde está desde 2007, iria parar e vingar as férias que não teve em 2014. Falou com o patrão, que o entendeu e lhe deixou as portas abertas para um futuro regresso. No início deste ano pôs um ponto final – parágrafo, assim espera – à engenharia. Rui Nunes, o homem de que falamos, tinha em mente fazer algo que o marcasse. “Então pensei: o que é que gosto de fazer? Viajar. Então vou viajar”, completa. Quando se mudou para a Catalunha e deixou a capital portuguesa, já tinha feito uma longa pausa no trabalho para uma viagem de carro pelo Sul de Espanha até Barcelona, pegando o avião até à Sicília, de “mochila às costas”. Foi aí que aprendeu uma nova concepção do que significa viajar: “É bem mais que apanhar um avião e ficar sete dias num hotel”. A partir de Janeiro começou a frequentar as Jornadas das Grandes Viagens em Madrid e Barcelona para obter mais conhecimento na área, a que, juntando uma sugestão dos amigos, deu o resultado que pode ver na imagem em baixo. “Algumas pessoas falaram-me que havia passes anuais de avião para viajar pelo Mundo. truindo algo mais que uma amizade, pelas circunstâncias que a vida lhe impôs. “Fui para Barcelona em 2007 sem conhecer um único português. Curiosamente foi o futebol que nos começou a juntar. Alguns espaços começaram a passar o Campeonato português então fomos criando laços cada vez maiores e com mais portugueses. Já somos cerca de 15 mil em Barcelona, é natural que a comunidade e as nossas refeições e hábitos de vida se comecem a fazer sentir lá. Por exemplo, hoje em dia já podemos comer um bacalhau, um pastel de nata ou beber uma cerveja Super Bock”, diz o homem que é conhecido na capital da Catalunha por trabalhar para o governo luso, dada a publicidade que faz do nosso País. “Sou um amante de Lisboa”, confessa. Terminamos com a final da Taça de Portugal, que todos viram no terraço catalão de Rui Nunes, onde, após o sofrimento natural, deu lugar a festa da vitória. E ficamos por aqui, não vá o Rui ler-nos em São Tomé e Príncipe e voltar para trás. Afinal, melhor que ninguém, ele sabe as voltas que o Mundo dá.