XXX ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUÇÃO Maturidade e desafios da Engenharia de Produção: competitividade das empresas, condições de trabalho, meio ambiente. São Carlos, SP, Brasil, 12 a15 de outubro de 2010. A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA NO SEMIÁRIDO BRASILEIRO: O CASO DA FRUTICULTURA IRRIGADA DO VALE DO SÃO FRANCISCO Ângelo Antônio Macedo Leite (UFSCar) [email protected] paula lima alves (UNIVASF) [email protected] A fruticultura irrigada no Vale do São Francisco se destaca como uma das atividades mais importantes da região Nordeste do Brasil. Ela teve inicio expressivo na década de 60, influenciada pelos projetos de irrigação desenvolvidos pelo goverrno federal e estadual para impulsionar a viabilidade econômica na região semi-árida que se encontrava constituída por culturas tradicionais de pouca lucratividade e muito dependente da presença de chuvas. As culturas anuais com baixo valor agregado como: tomate, cebola, arroz, foram aos poucos sendo substituídas pela fruticultura, trazendo maior retorno financeiro para os atuais empresários do campo. Houve uma mudança no modo de produção agrícola nesta região. Devido à importância das inovações para este setor nesta região, este artigo tem como objetivo analisar o processo de criação, desenvolvimento e difusão das inovações tecnológicas deste setor nesta região. Para isto foi feito uma revisão teórica do assunto e depois uma análise particular desta teoria nesta região. Palavras-chaves: Inovação, Agricultura, Vale do São Francisco 1. Introdução A fruticultura irrigada no Vale do São Francisco se destaca como uma das atividades mais importantes da região Nordeste do Brasil. Ela teve inicio expressivo na década de 60, influenciada pelos projetos de irrigação implementados pelo governo federal e estadual para impulsionar a viabilidade econômica na região semi-árida que se encontrava constituída por culturas tradicionais de pouca lucratividade e muito dependente da presença de chuvas. As culturas anuais com baixo valor agregado como: tomate, cebola, arroz, foram aos poucos sendo substituídas pela fruticultura, trazendo maior retorno financeiro para os atuais empresários do campo. As culturas desenvolvidas hoje tanto impulsionam a economia do país como modificaram as relações de trabalho no campo. O clima seco, os altos índices de insolação durante grande parte do ano associados às técnicas de irrigação permitem a obtenção de ciclos sucessivos de produção, colheitas em qualquer época do ano e produtividade acima da média nacional. Com a implantação da fruticultura irrigada a região do vale do São Francisco vem obtendo cada vez mais crescimento expressivo da economia com destaque para as cidades de Juazeiro – BA e Petrolina – PE que se tornaram pólos agroindustriais e maiores produtores de frutas do Brasil, levando o país a se tornar um dos maiores produtores de frutas do mundo. A maior parte das exportações de manga e uva brasileiras é do Vale do São Francisco, como se pode observar na tabela 01. Vale do São Francisco (toneladas) Uva Manga Brasil (toneladas) Uva Manga 1997 3.700 21.500 3.705 1998 4.300 34.000 1999 10.250 2000 Ano Participação no total (%) Uva Manga 23.370 100% 92% 4.405 39.185 98% 87% 44.000 11.083 53.756 92% 82% 13.300 52.700 14.000 67.000 95% 85% 2001 19.627 81.155 20.660 94.291 95% 86% 2002 25.087 93.559 26.357 103.598 95% 90% 2003 36.848 124.620 37.600 133.330 98% 93% 2004 25.927 102.286 26.456 111.181 96% 92% Fonte: (Bustamante, 2009) Tabela 01: Exportação de Uva e Manga no Vale do São Francisco (1997 a 2004) Percebe-se que ao longo dos anos analisados as exportações de uva aumentaram em 600% e a manga em 400% isso mostra a importância e a vantagem na produção dessas frutas para a economia tanto da região como para o país. Deste modo, a produção o vale do São Francisco assume papel central nas importações de uva e manga do Brasil. Um dos motivos para o crescimento da fruticultura perene é proporcionadas pela intervenção do governo, baixos salários e as inovações tecnológicas. Devido à importância das inovações 2 para este setor nesta região, este artigo tem como objetivo analisar o processo de criação, desenvolvimento e difusão das inovações tecnológicas deste setor nesta região. Para isto será feito uma revisão teórica do assunto e depois uma análise particular desta teoria nesta região. 2. A influência da inovação para a melhoria da produção As exigências de novos mercados e a modernização vêm atribuindo á agricultura do país uma nova dimensão, influenciando o surgimento das inovações tecnológicas nessa área e transformando os fatores competitivos até então existentes. Uma vez que quem não dispor de técnicas aprimoradas na produção e comercialização de seus produtos ficará para trás nas disputas mercadológicas. Foi com a Revolução Industrial em meados do século XVIII que houve uma grande evolução na área tecnológica e que acabou modificando na época a economia, a produção e a sociedade. Segundo Stal et alli (2006), Schumpeter dividiu a mudança tecnológica em três estágios: a invenção, que é a idéia ainda não explorada comercialmente; a inovação, concretizada pela primeira transação comercial da invenção; e a difusão, caracterizada pela propagação da inovação nos mercados potenciais. As fontes para a obtenção de tecnologia são variáveis. De acordo com Stal et alli (2006), as fontes de inovação podem ser oriundas de dentro da própria empresa nos setores de P&D, Engenharia e Marketing; podem ser externas, no caso de oriundas de fornecedores, clientes e da aquisição de equipamentos. Já para Mello (2008) a interação entre universidade (instituição de apoio) e empresa é fundamental para a criação de inovações em determinados setores. 3. A importância do conhecimento e da interação no processo de inovação Nas últimas décadas vem reconhecendo se cada vez mais a importância do conhecimento como condutor no processo de crescimento e desenvolvimento econômico. Como foco, há uma nova maneira de ver o papel desempenhado pela informação na performance tecnológica e econômica do aprendizado. Apesar das várias interpretações sobre a realidade do contexto atual, alguns autores são unânimes em afirmar que a atual economia está centrada no uso intensivo do conhecimento e que este é elemento fundamental para as mudanças (Lastres et al. 1999, Johnson e Lundvall 2000, Freeman 2000). Atualmente, o crescimento da codificação do conhecimento, e da sua transmissão através dos diferentes meios possíveis tem-nos conduzido ao que muitos denominam “sociedade da informação”. Os termos “economia baseada no conhecimento” (OECD 1996) e “economia do aprendizado” (Lundvall e Johnson, 2000) advêm do reconhecimento desempenhado pelo conhecimento e pela habilidade para aprender no sucesso de indivíduos, empresas, regiões e nações. Se por um lado o contexto atual é caracterizado pelo fácil acesso à informação, percebe-se por outro lado uma dificuldade cada vez maior no processo de transmissão do conhecimento. Elementos que estão enraizados na prática e no desenvolvimento da produção são de difícil transferência, já que são de propriedade de quem as executam e somente com uma interação entre os indivíduos e entre organizações tais barreiras tendem a ser derrubadas (Lundvall e Johnson, 2000). Dependendo do setor e do lugar em estudo, certos tipos de conhecimento são mais difíceis de serem codificados e, conseqüentemente, de serem transmitidos. Deste modo, a aprendizagem interativa (learning by interacting) entre os atores é uma das principais 3 ferramentas para a geração do conhecimento e, por conseguinte para a geração das bases fundamentais para que as empresas se mantenham em um caráter mais competitivo. Entretanto, a aprendizagem por interação depende da presença da alguns elementos que se faz importante aqui descrever. Em Lundvall (1988), este tipo de aprendizagem pode ser resumido à presença de cinco elementos. Em primeiro lugar, a interação só é possível pela presença de um código de confiança que possibilite a diminuição dos riscos e as desconfianças entre os agentes. Em segundo, é necessária a existência de um fluxo de informação entre os agentes, que em contrapartida só é possível pela existência de canais de informações – pelos quais as informações possam ser repassadas – e pela existência de algum código de informação capaz de transmitir as mensagens desejadas. Terceiro, a interação só é aprofundada pela presença de incentivos que busquem a manutenção destas ligações assim como algum tipo de apoio para as possíveis novas interações. Quarto, o desenvolvimento destes relacionamentos requer a presença de um tempo mínimo para se consolidar. E quinto, é necessária a presença de um espaço geográfico onde os agentes localizados próximos uns dos outros possam através da cooperação trocar informações. Nesta atual economia, o conhecimento pode ser caracterizado pela presença de três elementos centrais (Carter, 1994). Importância de transações econômicas em torno do conhecimento; Rápidas mudanças na qualidade dos produtos e serviços; Necessidade de criação e de mudanças constantes como um objetivo dos agentes econômicos. Os elementos citados acima, juntamente com a dinâmica dos conhecimentos tácitos e codificados, a valorização da aprendizagem e a formação das redes de conhecimentos, têm como alicerce o uso da tecnologia da informação na tomada de decisões das mais diversas organizações (Freeman e Soete, 1993). Dentro desta nova economia, o processo de aprendizado pode ocorrer de várias maneiras: learning by doing, learning by using, learning by advances in science and technology, learning from inter-industry spillovers, learning by interacting e learning by searching (Malerba 1992). A presença ou ausência destes tipos de aprendizagem dependerá do grau tecnológico que se encontra na empresa ou instituição, assim como do grau de interação e cooperação exercidos pelos agentes. Neste novo paradigma da informação, as inovações incrementais têm sido guiadas pela interação entre os diversos atores e pelas mudanças e aprimoramento do conhecimento, ou seja, “a solução de muitos problemas tecnológicos (por exemplo, projeto de uma máquina com certa característica, desenvolvimento de um novo composto químico com certas qualidades, melhoramento da eficiência de um input de produção etc) implicam o uso de vários tipos de conhecimento”. (Dosi 1988, pp. 223-224). Segundo este mesmo autor, tais conhecimentos podem ser universais (amplamente difundido) ou específicos (relacionados a uma maneira particular de fazer as coisas), outros bem articulados (escritos e detalhados em livros ou manuais) ou tácitos (aprendidos principalmente através da prática), e há ainda os que são abertos ao público ou privado (protegido por patentes ou sigilos). No vale são encontradas concentrações de empresas produtoras de frutas, detentoras de 4 tecnologia e infra-estrutura com capacidade de atender aos mercados mais exigentes, além dos sistemas modernos de irrigação, possuem packing houses com capacidade de armazenamento e conservação melhor dos frutos. Como se sabe o Brasil está entre os maiores produtores de frutas do mundo e para se manter nesse parâmetro é imprescindível investimentos em inovações para aumentar a produtividade e a qualidade dos produtos vendidos. Uma vez que o valor desse produto depende de cuidados como: irrigação, adubação, controle de pragas e etc. Assim o desenvolvimento tecnológico ligado á biotecnologia, aos aspectos fitossanitários e a conservação dos produtos acaba sendo o diferencial competitivo de uma região ou país. Na região do Vale do São Francisco os principais avanços tecnológicos nos processos produtivos agrícolas estão na irrigação como a microaspersão e fertirrigação (adubo já dissolvido na irrigação), cuidados também na pós colheita onde há uma preocupação na assepsia e seleção dos frutos (a classificação dos frutos é feito pelo computador), além de embalagens adequadas e estruturas de armazenamento e resfriamento eficientes. Umas das principais inovações com relação às frutas estão nas variedades de uvas sem sementes. A preferida dos mercados importadores da fruta. 4. Agricultura tradicional e a agricultura moderna Entende-se por agricultura tradicional, aquela onde as técnicas agrícolas são desenvolvidas de forma primitiva, não existindo mecanização para o desenvolvimento das atividades, estas são feitas de forma manual e muitas vezes se faz uso de animais. É predominante a policultura, onde são cultivados vários produtos, para atender as necessidades de subsistência do grupo que a desenvolve já que devido à baixa produtividade gerada pela ausência de técnicas aprimoradas, os produtos produzidos não têm condições de serem exportados, ou distribuídos para os mercados e quando o são se dá em quantidades reduzidas. Já a agricultura moderna, que surgiu influenciada pela Revolução Industrial tem como principal objetivo, a máxima produção possível visando abastecer os circuitos comerciais. Ela é dotada de tecnologias que permitem o melhoramento e qualidade dos produtos cultivados, faz o uso de técnicas extremamente sofisticadas como uso de fertilizantes, sistemas de irrigação adequados às culturas, seleção de espécies que melhor se adaptem aos solos atribuindo-lhes produtos químicos para adaptar as suas características, uso de estufas e seleção de sementes. A agricultura moderna em alguns casos extrapola os limites físicos da propriedade, cada vez depende mais de insumos adquiridos fora da fazenda e sua decisão do que produzir e como produzir está fortemente ligado ao mercado consumidor. Caracterizando assim o que chamamos de agronegócio que é o conjunto de negócios relacionados á agricultura dentro do ponto de vista econômico. É uma cadeia que engloba todos os serviços de apoio, desde a pesquisa, processamento, transporte comercialização, crédito, exportações, serviços portuários, industrialização, até o consumidor final. Até meados da década de 60 a agricultura no Brasil é tida para alguns como uma agricultura atrasada e que comprometia o desenvolvimento econômico do país. O governo resolveu então investir em conhecimento cientifico como estratégia de modernizar as técnicas agrícolas, assim no ano de 1972 foi criada a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA). Essa empresa é responsável por grandes inovações tecnológicas referentes à produção agropecuária. 5 Um dos pólos de desenvolvimento do agronegócio brasileiro que merece destaque é justamente o de fruticultura tropical na região do vale do São Francisco. No entanto, vale aqui ressaltar que nesta região ao lado dos avanços tecnológicos existentes na agricultura da região semi árida nordestina encontram-se pequenos agricultores que utilizam as tecnologias tradicionais em seus sistemas de exploração, cujos cultivos são voltados para o mercado interno. Estes pequenos agricultores têm nessa atividade sua principal fonte de renda, a produtividade é relativamente baixa e vulnerável as condições climáticas, isso faz com que os produtores não consigam atender as exigências do mercado externo. Já as áreas cultivadas por empresa, contam com tecnologias de ponta o que facilita o aumento da qualidade dos produtos e da produção. Após a ampliação na produção de frutas na região do semiárido nordestino propiciada pelos grandes projetos de irrigação houve um salto nas exportações brasileiras de frutas in natura, no entanto apesar do Brasil ser o terceiro produtor mundial de frutas e tendo aumentado suas vendas nas últimas décadas, ainda não consegue satisfazer as exigências do mercado global, sendo a maior parte de sua produção voltada para o mercado interno. Isso se deve as exigências dos principais importadores das frutas brasileiras em especial a União Européia, que são rigorosos quanto à questão do padrão de qualidade e sanidade dos produtos. Logo para muitos empresários locais é de fundamental importância para se manter competitivo investir em programas de qualidade em toda a cadeia de produção. Existem inúmeros selos de certificação exigidos para a entrada de produtos, principalmente in natura pelo mercado internacional, destacando-se entre os maiores Importadores de frutas frescas brasileiras o EUREPGAP, pela União Européia e, o APHIS, pelos Estados Unidos. As barreiras técnicas de importação são diversas, porém, os mencionados acima são considerados relevantes para a colocação do produto brasileiro no exterior. Diante disso o Ministério da Agricultura desenvolveu o sistema de Produção Integrada de Frutas, esse sistema possibilita o rastreamento da produção conferindo, ao agricultor, um selo de certificação, e ao exportador, a qualidade da fruta. A adesão ao sistema é livre por parte de produtores e empresas, no entanto, ao se associarem comprometem a manejar seus sistemas de produção de acordo com as normas técnicas. No Vale do São Francisco a Produção Integrada vem sendo regulamentada desde 1999 e tendo como principal instituição de apoio a Embrapa. Deste modo, é possível perceber o desenvolvimento da agricultura na região do Vale do São Francisco principalmente a área da fruticultura, e uma das razões que justificam é a exportação de quase 100% das uvas produzidas na região. 5. As fases da agricultura no vale do São Francisco A agricultura no Vale do São Francisco pode ser melhor entendida se analisarmos alguns acontecimentos que marcaram o modo de produção local. De uma forma geral o processo de desenvolvimento local pode ser classificado em três fases: Fase rudimentar: até 1940 Fase técnica – 1940 - 1960 Fase técnico-científico-informacional – 1970 aos nossos dias. Fase Rudimentar Baseada na agricultura tradicional e nas técnicas dos antigos egípcios que utilizavam as margens do rio após as cheias para realizarem o seu plantio. É uma fase com pouca inovação 6 e dependente dos fatores externos (por exemplo – chuva) para o sucesso do cultivo. Este período é marcado com a chegada dos primeiros equipamentos usados na irrigação. Fase Técnica O sistema rudimentar de irrigação em ilhas fluviais e várzeas do rio começa a mudar após os anos de 1940 com a mecanização dos modos de irrigação e a modernização das práticas agrícolas. Aparecem os primeiros motores movidos a óleo diesel. Até o final da década de 1960 predominava o cultivo comercial de uma única cultura – a cebola. Fase Técnico-Científico-Informacional É a fase de implantação dos primeiros perímetros irrigados no vale. A situação da seca e os fatores políticos influenciaram a criação da SUDENE e da CODEVASF na década de 1960. A parceria entre a SUDENE e CODEVASF permitiu a efetivação da prática de irrigação em grandes extensões do semiárido. “O subperíodo entre os anos de 1970 e 1980 caracteriza-se pelos primeiros sinais da intervenção modernizante do estado na região Nordeste. A construção de infra-estruturas – rodovias, linhas de transmissão de energia, dutos e canais para irrigação – ajudou a viabilizar a implantação dos perímetros públicos irrigados. Assim, houve condições para a constituição de um sistema técnico agrícola na região envolvendo um novo sistema de objetos e de ações, ou dito de outro modo, centrado no binômio técnica de irrigação – políticas públicas” (RAMOS, 2002 p. 52). 6. A importância das instituições de apoio no vale do São Francisco: o caso da Embrapa A Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária foi criada em 1972 atua em todo o país por meio de 37 centros de pesquisas, 03 centros de serviço e 15 escritórios de negócios tecnológicos nas mais diferentes condições ambientais. A EMBRAPA semi-árido localiza-se na cidade de Petrolina-PE, próximo da cidade de Juazeiro – BA. Municípios que sediam um dos mais importantes pólos de irrigação da região Nordeste, são 100 mil hectares irrigados e mais de 30 espécies de hortaliças e frutas cultivadas. As tecnologias agropecuárias transferidas pela Embrapa são relativamente importante para economia da região e do país. As formas de transmissão de conhecimento e tecnologias se dão de várias formas, tais como: palestras, dias de campo, folders produzidos, organização de eventos, matérias jornalísticas, unidades de observação, demonstração de vídeos, entre outros. A EMBRAPA semi-árido possui uma política de comunicação estabelecida em normas e modelos próprios, estruturada em duas grandes áreas de comunicação: comunicação empresarial e comunicação em eventos específicos, buscando atender a demanda das grandes instituições de empresa de agronegócio brasileiro e do exterior, instaladas na região. É também possível formalizar convênios de cooperação técnica e financeira com instituições com capacitação acadêmica para a captação de recursos financeiros, em prol de projetos de pesquisa, a exemplo desses convênios temos: a Associação dos produtores Hortifrutigranjeiros do Vale do São Francisco – VALEXPORT, instituto tecnológico de Pernambuco- ITEP e Secretarias Estaduais de Agricultura – SEAGRIs. Há disponíveis no centro de pesquisa da Embrapa várias tecnologias capazes de tornar mais rentável e sustentável os sistemas de produção agrícola no semi-árido, são conhecimentos e tecnologias que podem fazer as produtividades darem grandes saltos. Os cursos organizados pela Embrapa Semi-Árido têm uma programação de palestras e demonstrações de campo que sem deixar de demonstrar o conjunto de tecnologias apropriadas 7 para a convivência com as áreas secas do sertão baiano, discute novas formas de assistência técnica baseadas na mobilização social, na valorização dos recursos naturais locais e na agroecologia. Discutem também metodologias científicas nas áreas de socioeconomia, manejo de solo e água, preservação da vegetação nativa, dentre outras, que estabelecem formas práticas de se chegar a boas produtividades agrícolas sem afetar o meio ambiente. A Embrapa Semi-Árido mantém o mais abrangente programa de pesquisa e desenvolvimento para as áreas dependentes de chuva na região Nordeste. Os conhecimentos e tecnologias gerados em 35 anos de criação contribuíram para apoiar o desenvolvimento agrícola no âmbito de propriedade, de município e de região. A Embrapa possui um Centro Eco- Regional, o CPATSA - Centro de Pesquisa Agropecuária do Trópico Semiárido - que tem participado de uma série de pesquisa ligada a fruticultura irrigada, ele se estrutura em cinco áreas prioritárias de pesquisa, com laboratórios específicos: analise de solos e folhas, proteção das culturas pós colheita, fisiologia do florescimento e geoprocessamento. 7. A importância da irrigação para o desenvolvimento do vale do Sao Francisco A irrigação é uma técnica aplicada à agricultura que consiste no uso artificial de água, através de métodos que adaptam ao tipo de planta, solo e clima. O objetivo principal é proporcionar umidade suficiente para o desenvolvimento da cultura em períodos onde é escassa a presença de chuvas. No contexto do planejamento e controle da produção a irrigação tem um papel de destaque, uma vez que ele possibilita um melhor monitoramento e uma previsão que possam ocorrer. Ela constitui uma das mais importantes ferramentas para o aumento da produtividade agrícola. As vantagens da irrigação para o semiárido são muitas, entre elas podemos destacar: Garante a produção agrícola, independentemente da quantidade e da distribuição das chuvas. Aumenta consideravelmente a produtividade das colheitas (a produtividade em área irrigada é, em média, 2,5 a 3 vezes maior que em área não irrigada). Aumenta o valor da propriedade e o lucro da agricultura (o valor bruto da produção em área irrigada é, em média, cinco vezes maior que em área não irrigada). Permite duas ou mais colheitas por ano, em uma mesma área, de diversas culturas. Permite a obtenção de colheitas fora da época normal. Facilita e barateia, sobremaneira, a aplicação ao solo de corretivos e fertilizantes hidrossolúveis (fertirrigação). Possibilita o controle de ervas daninhas (nas culturas do arroz e da cana-de-açúcar por inundação da área infestada). Constitui uma medida eficiente de controle das geadas. Pode ser usada com bons resultados na dessalinização de solos. (CODEVASF, 2009) 8. As inovações no vale do São Francisco: as uvas sem sementes Na fruticultura irrigada do Vale do São Francisco como se sabe a cultura da uva é a que mais cresce e se destaca, é uma das frutas mais consumidas no mundo, tanto in natura como na forma de suco, a produção brasileira está voltada basicamente para dois mercados: vinhos e sucos; e uva de mesa. É uma das frutas mais exploradas na região, sendo a quinta em área cultivada e a segunda nas 8 pautas de exportações. As principais variedades de uvas de mesa cultivadas no Vale são: Itália, Benytaka, Patrícia e Reg Globe essas alcançam em média 25 toneladas por safra, o cultivo também é voltado para variedades destinadas à produção de vinhos e sucos as principais são: Cabernet Sauvingnon, Merlot, Moscato e Petit Sirah. Na região encontram se Pequenos Produtores em vias de profissionalização, Agricultores e Empresas Profissionais com uma produção anual de 20 a 40 toneladas de uvas finas. Quase toda a produção é exportada principalmente para o mercado Europeu. Os pólos produtores de uvas com maior destaque no Brasil são: Vale do Submédio São Francisco (Bahia e Pernambuco), Sudeste (Minas Gerais, São Paulo), Sul (Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul). A região Sul destina sua produção para a fabricação de sucos, néctares e vinhos, São Paulo a produção é mais voltada para o mercado interno e no Vale do São Francisco é basicamente para a exportação. Em termos de competitividade tanto interna quanto externa, o Vale do São Francisco acaba se sobressaindo em relação às outras regiões produtoras de uva do país, pois além de ter como aliado às condições climáticas favoráveis para bom nível na produção durante todo ano a região detém técnicas aprimoradas para ao melhoramento da qualidade do produto tanto na produção como na pós colheita tendo com isso a oportunidade de negociar com os grandes mercados do mundo. Os principais importadores das uvas brasileiras são: Países Baixos, Argentina, Emirados Árabes, Reino Unido, Estados Unidos, Espanha, Portugal, Uruguai, Alemanha e Canadá. Vale ressaltar que apesar da região ser uma grande exportadora da fruta ainda é muito pequena a participação do Brasil no comercio internacional da uva, pois é exportado apenas 4% da produção nacional enquanto Chile, maior exportador da fruta, exporta 40% do que produz. O período de oferta de uvas finas para mesa, no Brasil, abrange os doze meses do ano com oscilações de períodos de maior ou menor oferta, enquanto algumas regiões há uma concentração dessa oferta em alguns meses do ano no Vale do São Francisco a oferta se dá em todos os meses do ano. Ver tabela 02. REGIÕES MESES Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez RS/SC PR SP – Leste SP – Jales Norte de Minas V. do São Francisco Fonte: Mello, 2005. Tabela 02: Período de oferta de uvas de mesa finas por região produtora Os períodos em que o Brasil entra em vantagem para a comercialização internacional da uva 9 são nos meses de Abril a Junho e Outubro a Novembro, pois é justamente nessa época que o mercado europeu, principal exportador da fruta, encontra-se desabastecido. As variedades de uvas sem sementes vêm despertando cada vez mais o interesse dos viticultores, pelo fato dessas atenderem as exigências dos consumidores do mercado externo juntamente com o preço do mercado internacional, enquanto a caixa com quatro quilos da uva itália é comercializada a US$7, a de maior valor agregado atinge US$20. E o custo de produção das duas variedades é equivalente, chegando a R$ 20 mil por ano. Os maiores consumidores de uvas sem sementes no Brasil são as regiões sul e sudeste seguidos pelo centro- oeste, nordeste e norte. As pesquisas com uvas sem sementes na região foram iniciadas em 1995 com a instalação de experimentos com cerca de 20 cultivares. Algumas delas, de importância comercial nos principais mercados compradores e de consumo a exemplo dos Estados Unidos e Europa. Na Embrapa Semi-Árido encontramos informações a respeito das principais variedades de uvas sem sementes cultivadas na região do Vale do São Francisco assim como informações sobre outras variedades que continuam sendo introduzidas e analisadas a fim de ver sua viabilidade de cultivo na região. Esse tipo de informação acaba sendo importante para os agricultores que desejem diversificar as variedades na região. Os programas de melhoramento genético ajudam na busca de novas alternativas e descoberta das variedades de uvas sem sementes, para obter o sucesso na comercialização da variedade escolhida o produtor deve estar atento se esta vai se adaptar as condições ambientais da região bem como se adequar à comercialização. Atualmente 60% de área cultivada com uva no Sub médio São Francisco são de variedades sem sementes. As principais variedades de uvas sem sementes produzidas no Vale são: Thompson Seedles: destaca-se como uma das mais antigas e importante uva de mesa consumida no mundo, muito utilizada em cruzamento para a obtenção de novas variedades. Catalunha: possui cachos semelhantes ao da Thompson Seedless, por isso é considerada um clone dessa variedade. Crimson Seedless: é a segunda maior variedades de uva sem sementes cultivadas no Vale do São Francisco. Superior Seedless (Festival): apresenta excelentes características comerciais, é a mais plantada com um ciclo de aproximadamente 100 dias e com uma produtividade média anual de aproximadamente 30/t/ha/ano. Possuem características favoráveis ao mercado: sabor agradável, polpa crocante, tamanho de baga e boa conservação pós-colheita. Uma das características marcantes nas variedades de uvas sem sementes é sua alternância produtiva entre as safras, o que acaba comprometendo a produção das variedades com características favoráveis para o mercado. Na região do Vale, enquanto a uva tradicional (com semente) chega a atingir 50t/ha/ano, na Superior ou Festival o maior volume de colheita alcançado dificilmente ultrapassa 20 t/ha/ano. É normal que as variedades de uvas sem sementes registrem produções menores que aquelas com sementes. Contudo, as quantidades colhidas na região ainda são muito pequenas e têm possibilidades de serem maiores é pensando nisso que a Embrapa Semiárido desenvolve pesquisas para adequar o sistema de produção de cultivares sem sementes da região e 10 aumentar cada vez mais a qualidade do fruto, já existem resultados satisfatórios quanto ao manejo diferenciado da poda concentrando a produção em apenas uma safra por ano. Os produtores do Vale concentram a sua produção em uma colheita no segundo semestre, justamente para aproveitar o período de entressafra do mercado externo e melhor atender sua demanda, pois diferente de qualquer outra região produtora de uva no mundo, nessa região as variedades de uvas sem sementes podem ser cultivadas em qualquer época do ano. 9. Conclusão Observa-se então a evolução na agricultura do país alcançada através da busca por novas tecnologias e inovações que possam estar contribuindo para o aumento da produtividade, bem como a melhoria da qualidade dos produtos. Caracteriza-se a agricultura desta região com uma agricultura influenciada pelo agronegócio onde os proprietários rurais não mais visam a produção para a sua alto subsistência e sim a direcionam para atender o mercado consumidor. A Embrapa é um grande ator nesta região. Ela é responsável pelos avanços obtidos na fruticultura, através da pesquisa científica, transmitindo conhecimento e inovações tanto para pequenos quanto para os grandes produtores. A região do vale do São Francisco como foi visto é uma região-modelo no campo da fruticultura irrigada, isto principalmente pela implantação de uma infraestrutura de irrigação, clima favorável e as inovações que vem sendo lançadas pela Embrapa. A exemplo da variedade de uvas sem sementes, através de estudos foi identificada as espécies que melhor se adaptariam as condições climáticas da região e observou que a variedade Festival apresentou resultados satisfatório. Muito embora o Brasil não esteja entre os maiores exportadores de frutas do mundo, pode-se ver o potencial do Vale do São Francisco, pois como foi dito quase 100% de sua produção é exportada. A uva da região apresenta as condições exigidas pelos mercados importadores da fruta, esta já apresenta selo de qualidade reconhecido mundialmente o que faz com que novas portas se abram para esse mercado. Como se pode observar a região dispõe de uma série de variáveis que podem ser usadas como vantagens frente ao mercado internacional. Mas, verifica-se uma grande dependência da região de ações do governo brasileiro. Deste modo, faltam ainda projetos que valorizem o desenvolvimento auto sustentado que valorize a cultura local e a independência de recursos externos. Investimentos focados na realidade local são necessários para gerar um melhor desenvolvimento do setor. Referências BUSTAMANTE, P. M. A. C. A Fruticultura no Brasil e no Vale do São Francisco: Vantagens e Desafios. Revista Econômica do Nordeste. Vol. 40, nº 01, jan. - mar. 2009. DOSI, G. The nature of the innovative process. In DOSI et al. (eds.), Technical Change and Economic Theory. 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