Adriana VIANA
(Universidade de Brasilia)
ABSTRACI': This paper is an attempt to stablish the syntatic structures the Karaja
adjectives can occur. In accordance with Lobato (1994), we propose, in this paper,
that, the strictly denotative adjetives occur in a head adjunction structure, and the
predicative adjectives occur in a complementation structure.
KEY WORDS: karaj~, atributes, denotative adjectives, predicative adjectives, syntatic
structures.
o nosso objetivo, neste trabalho de pesquisa, ~ estudar 0 comportamento dos
modificadores da lingua Karaj~ com base na proposta de Lobato (1994, InCdito) sobre
os adjetivos. Mais especificamente, neste artigo, estaremos tratando das estruturas
sin~ticas dos modificadores do Karaj~.
o Karaja ~ uma lingua indigena brasileira, pertencente a familia do mesmo nome
e ao tronco Macro-je, falada por aproximadamente 1.700 indios que vivem Asmargens
do rio Araguaia (cf.: Rodrigues, 1986).
E uma Ifngua SOV, ou seja, os complementos colocam-se a esquerda de seus
nUcleos,conforme pode ser observado em (1):
(1)
Tii
orea rebunyra
1
ele jacare matou
'Ele matou 0 jacare'
Com rel~o a adposi~o, 0 Karaja apresenta p6sposi~s,
observado em (2),0 que e consistente com 0 padrlo OV da lingua.
(2) DiarJ
Kurehete-o
riy
como pode ser
rewehinyra
eu
Kurehete-para rede
dei
'Eu dei uma rede para Kurehete'
Com rel~ao a manifes~o de atributo, Dixon (sid) ja observou que nem todas
as linguas possuem a classe lexical dos adjetivos. As lfnguas, segundo ele, podem
manifestar 0 atributo por meio de adjetivos, por meio de verbos intransitivos e por
meio de afixos, por exemplo.
o Karaja pode expressar a ideia de atributo (i) por meio de urn modificador e (ii)
por meio de urn predicado, conforme pode ser observado em (3):
(3)a.NOwirasa ruxera
b. Nowirasa i-ruxera-r-e
flor 3-bonita-suj-gen2
'A flor e bonita'
flor
bonita
'A Flor e bonita'
Comparando (3)a e b, concluimos que os modificadores, em Karaja, silo, na
verdade temas de verbos descritivos, 0 que nos leva a pensar que existe uma Unica
categoria gramatical que co-participa de propriedades verbais, enquanto predicado e
co-participa de propriedades nominais, enquanto modificador. A proposta de
h
j
k
s
t
w
x
tx
r
fricativa glOla1 surda
africada palatal sooora
oclusiva velar surda
fricativa alveolar p6s-dentaI surda
implosiva alveolar sooora
semivogal posterior fechada
fricativa 'Iveo-palatal SUIda
africada palatal surda
flap alvolar surdo
2 Gcn significa "tempo geMrico".
810
d
il
t
e
0
{)
Y
y
ccntral~
ccntraI baixa (no infcio de palavras nio leva
tiI)
anterior m6dia fecbada
anterior m6dia aberta
posterior m6dia fecbada
posterior m6dia aherta
ceDtral alia nlo-arredoDdada
ceDtral baixa nasalizada (0 sfmbolo, III
verdade ~ urn y com tiI, mas, por questOes
tipogrificas, utilizarcmos 0 sfmbolo y.
Nascimento (1993, In6dito). contudo. nos fornece uma indic~o para a expli~o
desse fato. Segundo esse lingOista, 0 lexico e composto apenas de tra~ fono16gicose
seminticos. Os tr~
formais. definidores da categoria gramatical, seriam dados
configuracionalmente. durante 0 processo da computaeio das expressOesda lingua, ou
descri~oes estrUturais de acordo com 0 programa minimalista de Chomsky (1992).
Estaremos adotando a proposta de Nascimento (1993) como ponto de partida,
considerando que a categoria gramatical dos atributos em Karaja e dada pela
configur~o sintatica em que se encontram. Chamaremos os atributos com ~o
de
predicado de ~
descritiyos e os atributos com ~o
de modificador. de
acijetivos. Estaremos preocupados. neste artigo, com os atributos em ~o
modificadora, ou seja, com os adjetivos do Karaja.
Lobato (1994, Inedito)propoe algumas dis~s
previas blisicas para a sua
proposta. Uma delas e a que distingue adjetivos estritamente denotativos [+OJ de
adjetivos predicativos [ + PJ. De acordo com essa lingUista,adjetivos [+ OJ 580 aqueles
que nlo predicam, sintaticamente. mas acrescentam uma nova propriedade as
propriedades denotativas do substantivo. A sequencia resultante denota entlo uma
classe de entidades cuja extensio e urn sUbconjuntoda extensio de entidades denotadas
pelo substantivo sozinho (em portugues, engenheiro civil). Por outro lado. adjetivos
[+PJ do aqueles que exercem a fun~ de predicar sintaticamente.
Em Karaja, tanto os adjetivos [+OJ quanto os adjetivos [+PJ ocorrem pOsnominalmente, conforme pode ser observado em (4) e (5):
(4) llyri
luahi-dyjdu
paje rem6dio-que faz
'Paje curandeiro'
(6)Nawi bisamodobO
passaro amarelo
'PUsaro amrelo'
(5) Hyri rubo-dyjdu
paje morte..que faz
'Paje feiticeiro'
(7) Ixjju aJarahu
fndio kaiap6
'indio Kaiap6'
(8) HiIbu
de6
homemmagro
'Homem magro'
(9) Harem nihikJ
surubim grande
'Surubim grande'
(10) HdwYj
ruxera
mulher bonita
'Mulher bonita'
De acordo com a proposta de Lobato, os adjetivos [+ D) ocorrem em estrutura
de a.Qiun~0a~,
independentemente da posi~o que ocupam dentro da expressio
nominal, e os adjetivos [+ P] ocorrem (i) em estruturas de adj11DQio a sinta&ma
quando DiD OCl1pam a PQSic1a ~ ~
da expressio nominal e (ii) em eStrutura de
complementaQa nio-tem4tica quando oeupam a ~
~ ~.
J4 que os complementos em Karaj4 sempre ocorrem a esquerda de seus n11cleos,
podemos concluir que os adjetivos ocupam a posi~o de ~
da expressao nomina! ,
uma vez que se colocam a direita dos nomes, seus complementos. Sendo assim,
propomos que os adjetivos [+ D) do Karaja ocorrem numa estrutura de ac1j11DQio a
~,
e os adjetivos [+ P] ocorrem numa estrutura de comp1emeutilcloDiD tematica,
como ocorre no inglas, que ~ uma lingua Vo. Nessa lingua, os adjetivos predicadores
de propriedade ocorrem sempre pre-nominalmente, numa posi~o de n11cleo da
expressio nominal. Em portugu!s, pelo contrario, os adjetivos Dio ocupam a posi~
de mlcleo, 0 que faz com que a estrutura, para esse tipo de constru~o seja a de
ad~o
a sintagma.
(12) NP
(11) NP
I
(13) NP
I
I
N'
N'
N'
I
I
I
NO
NO
NO
/ \
/ \
/ \
NO AO
AO NO
NO AO
I
I
hyri luahidffdu
paj~ curandeiro
I
I
civil engineer
engenheiro civil
I
I
engenheiro civil
Essa estrutura capta a interpretaeio semantica dessas cons~s,
ou seja, 0
modificador nio ~ interpretado como urn predicado sintatico de propriedade
exatamente porque compae a fo~o
de urn n11cleonominal. Alem disso, explica a
impossibilidade da expansao oracional
nas tres l1nguas.
(14)AP
(ole
(15)
I
I
I
N' bisamadooo
I amarelo
I
nawi
passaro
I \
A'
I \
NP AO
NO
(16) NP
AP
A'
I
um engenheiro muito civil, em portugues)
NP AP
I
I \
AO NP
I
N'
I
yellow N'
amarelo I
NO
I
A'
I
NO
I
I
O
A
I
passaro amarelo
I
bird
passaro
De acordo com Lobato, as estruturas de complemen~o nio tematica em (14) e
(15) compartilham algumas propriedades das proje~
flexionais do V(erbal)
P(hrase). Segundo eIa, em ambos os casos, tem-se proje¢es estendidas: os AP's sio
proje¢es estendidas de NP's, do mesmo modo que 0 I(nfletxional) P(hrase) ~ uma
proj~o estendida do VP. Al~m disso, os NP's em (14) e (15) do complementos niotematicosde A 0, do mesmo modo que 0 VP e urn complemento nio-tematico do 10•
Outra argumen~o apontada por Lobato em favor dessa estruturas e 0 fato de
elas explicarem por que em ingles - que apresenta as mesmas caracteristicas
estruturais do Karaja - e em portugues, os adjetivos p6s-oominais podem, eos prenominais nio podem, ter um complemento tematico, conforme exemplificado abaixo:
(17) a..•• a [pround of his children] father
b. a father [pround of his children]
(18) a..•• urn orgulhoso [de seua filhos] pai
b. urn pai [orgulhoso de seus filhos] .
(Lobato, 1994)
Aceitando-se que os adjetivos que ocupam a posi~io de nlicleo de expessOes
nominais tem uma estrutura de complemen~o nio-tematica, (17)a e (18)a do
. agramaticais porque 0 complemento tematico e nio tematico estio disputando a
mesma posi~o estrutural. Os adjetivos pround e orgulhoso tomam his children e sew
filhos como seus complementos, respectivamente, e nao haveria mais uma posi~o
dispoDivelpara 0 complemento nao-tematico. sa em (17)b e (18)b, os adjetivos, p6snominais, ocorrem numa estrutura de adj~o
a sintagma, como em (19):
(19)
NP
/ \
NP AP
I
N'
I
A'
1/\
NO AO PP
I
I
/\
father pround of his children
pai orgulhoso de seus filhos
Infelizmente, nlo foi possivel encontrarmos dados do Karaja com essa
configur~o (com complemento tematico). Contudo, esperamos que 0 mesmo que
ocorre em portu~s
e, principalmente com 0 ingles, que compartilha tantas
propriedes do Karaja, ocarra com essa lingua, ja que a proposta de Lobato diz respeito
a principios universais da faculdade de linguagem.
RESUMO: 0 nosso objetivo, neste trabalho, e tentar estabelecer em que estruturas
sintdticas oco"em os odjetivos dtJ lingua Karaja. Com base na proposta de Lobato
(1994, lnidito), propomos que os odjetivos estritamente denotativos dessa ltngua
oco"em nwna estrutura de adjun¢o a nUcleo, e os adjetivos predicativos oco"em
nwna estrutura de complementaftlo nao temdtica.
PALAVRAS-eHA VB: Karaja, atributos, adjetivos denotativos, adjetivos predicativos,
estruturas sintaticas.
CHOMSKY, N. (1992) A minimalist program for linguistic theory. MIT Occasional Papers in Linguistics,
n. I, Cambridge, MIT.
DIXON, R. M. W. (sid) Where have all the adjectives gone? Syntax: An International Handbook oj
Contemporary Research, Walter Gruyter, Berlim.
LOBATO, L. M. P. (1994) A concordiDcia IIOminal em portugues l luz da Teoria de Princfpios e
Parlmetros e da Sociolingiiistica Variacionista, Wdito.
__
. (l99S) The OJemistry ojLangU4ges, Em prepera~o.
MAlA, M. (1986) Aspectos tipo/6gicos dIllfngU4 laval. Disse~
de Mestrado, UFRJ, Rio de Janeiro,
Dl8DlSCrito.
NASCIMENTO, M. do (1993) The lexicon and the form of minimalist grammar: evidence from braziliam
portuguese, 1nMito.
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ABSTRACI`: This paper is an attempt to stablish the syntatic