FREQÜÊNCIA DE DIAS CLAROS COM BASE NOS VALORES DO ÍNDICE DE LIMPIDEZ ARIANE FRASSONI DOS SANTOS Universidade Federal de Pelotas Siqueira Campos , 190, Simões Lopes, CEP 96025/340 e-mail: [email protected] JOÃO GERD ZELL DE MATTOS Universidade Federal de Pelotas Siqueira Campos , 190, Simões Lopes, CEP 96025/340 e-mail: [email protected] SIMONE VIEIRA DE ASSIS Universidade Federal de Pelotas Depto. de Meteorologia/Fac. Met - Pelotas e-mail: [email protected] ABSTRACT In this paper is presented annual variation of the clearness index and solar global radiation in a polyetylene greenhouse in the north-south and east-west orientations. The solar global radiation was measured during 13 months inside and outside of the greenhouse: from 12/7/95 to 12/20/96. The piranometer used for the measure inside was prototype and the EPPLEY piranometer was used for measure the solar radiation outside. The clearness index is a relation between solar global and extraterrestrial radiation. The annual variation of the extraterrestrial radiation presented minimum value in june: 22.39 MJ.m-2 maximum value in december, 42.31 MJ.m-2 and the clearness index outside was between 0.45-0.61, 0.30-0.44 east-west greenhouse and 0.27-0.38 north-south greenhouse. INTRODUÇÃO A principal fonte de energia que atinge a superfície terrestre, em grandes quantidades, provém do Sol e as informações obtidas sobre sua quantidade e qualidade tem amplas aplicações em diferentes atividades como por exemplo: agricultura, arquitetura, hidrologia, meteorologia, biologia, entre outras. Ao atravessar a atmosfera a radiação solar é parcialmente absorvida e transformada em calor pela própria atmosfera; ela é parcialmente espalhada pelas moléculas dos gases constitutintes e por outras partículas de tamanhos variados em suspensão e é absorvida e refletida pelas nuvens (Iqbal, 1983). Como resultado destes processos físicos a radiação solar é atenuada durante a sua trajetória. Estudos mostram que esta atenuação não é a mesma para toda a região do espectro solar. Por este motivo é que ao se comparar a radiação solar recebida pela superfície terrestre com a que chega no topo da atmosfera, observa-se um percentual de redução de acordo com os motivos explicados anteriormente. Por outro lado, as nuvens tendem a alterar seu valor contribuindo para elevar ou diminuir a relação entre incidência direta e difusão da radiação global. Na presença de nebulosidade, o fluxo radiante pode aumentar ou diminuir. Se a nebulosidade é parcial e o sol não é totalmente encoberto, o fluxo da radiação global é menor do que aquele de um dia de céu claro. No caso de nebulosidade total, o fluxo da radiação global é sempre menor do que aquele de um dia de céu sem nuvens (Duffie et al, 1980). A redução torna-se maior quando a radiação solar é medida sob cobertura plástica, devido ao efeito redutor que o plástico exerce na sua transmissividade (Assis, 1998). Quantificar a radiação solar global que é transmitida pela cobertura plástica é uma tarefa que exige aparelhagem adequada, e isto nem sempre é possível devido ao alto custo dos instrumentos, além de exigir manutenção e cuidados rotineiros, necessários ao bom desempenho dos mesmos. Isto reforça a necessidade da medida radiométrica da radiação solar dentro e fora de ambientes protegidos como contribuição ao estudo do microclima local. Kudish & Ianetz (1992) calcularam o índice de limpidez com o objetivo de caracterizar a região em função da frequência de dias claros. Por esse motivo, os objetivos desse trabalho são comparar a 54 radiação solar global medida nos dois ambientes com a radiação extraterrestre para avaliar a redução na transmissão; calcular o índice de claridade ou de limpidez; observar a frequência de dias claros com base nos valores do índice de limpidez. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi realizado no Departamento de Física e Biofísica/IB da UNESP de Botucatu campus Rubião Junior, cujas coordenadas geográficas são: Latitude 220 54’ Sul e Longitude 480 27’ Oeste, durante, aproximadamente 13 meses. As estufas foram construídas nas duas orientações Norte-Sul (NS) e Leste-Oeste (LO). A cobertura era do tipo túnel com estrutura metálica que se apoiava sobre mourões com 2,0 metros de altura e com espaçamento horizontal de 2,5 metros. O material usado para cobertura foi o filme plástico de polietileno de baixa densidade, com 100 micra de espessura, aditivado anti-ultra violeta, o qual permite um tempo de vida maior. A radiação solar global interna foi medida por piranômetros protótipos e externamente usou-se piranômetro Eppley, instalado próximo às estufas a 1,5 metro de altura e longe da influência das mesmas e de prédios. As informações sobre radiação solar eram armazenadas num sistema de aquisição de dados (Datalogger - modelo 21X da CAMPBELL) 2.1 Radiação extraterreste. A radiação extraterrestre diária foi calculada usando-se a seguinte equação: Rextra = onde, 24 x3600CS 360 DJ 2πws 1 + 0,033 cos cos φ cos δ sen ws + sen φ sen δ 1 π 365 360 CS - constante solar, em W.m-2; DJ - dia juliano; φ - latitude, em graus; δ - declinação solar, em graus; ws - ângulo horário do pôr do Sol, em graus; O ângulo horário do pôr do Sol foi calculado usando-se a equação cos ws = -tg φ tg δ 2 e a declinação solar foi obtida mediante a equação 284 + DJ δ = 23,45 sen x360 365 3 2.2 Índice de de limpidez. O índice de limpidez (KT) fornece informações com relação a ocorrência de dias claros. Este índice foi calculado diariamente usando-se a equação: KT = Rglobal 4 Rextraterrestre RESULTADOS E DISCUSSÃO As três curvas representativas da variação anual do índice de limpidez comprova, mais uma vez, o que foi afirmado anteriormente, ou seja, atenuação da radiação ao passar pela atmosfera. No interior das estufas, essa atenuação torna-se mais evidente em função do poder difusor do agrofilme, Figura 1. Nos meses correspondentes ao inverno, o índice de limpidez externo assumiu valores mais altos. Isto foi devido ao menor valor da radiação solar global, ocorrendo o contrário, à medida que a radiação global tornou-se maior (Tabela 1). 55 No interior das estufas no início do ano, as curvas aproximaram-se porque os valores da radiação global nos dois locais foram próximos. Já nos meses intermediários ocorreu um distanciamento até o mês de setembro, devido a superioridade dos valores de radiação da estufa leste-oeste sobre a norte-sul, entre 4 % e 15 %. Em setembro, a radiação solar global, nas duas estufas foram praticamente iguais, o que justifica a igualdade do índice de limpidez. Figura 1. Variação anual do índice de limpidez mensal externo e interno Índice de limpidez ext. Índice de limpidez L-O Índice de limpidez N-S 1,0 ÍNDICE DE LIMPIDEZ 0,9 0,8 0,7 0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 Dez/5 Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez/6 Tabela 1 . Variação anual do índice de limpidez externo e interno Meses Índice de Índice de Índice limpidez limpidez limpidez externo leste-oeste norte-sul Dezembro (95) Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro (96) MÉDIA 0,48 0,46 0,47 0,50 0,57 0,55 0,59 0,61 0,61 0,49 0,52 0,50 0,45 0,52 0,38 0,35 0,36 0,37 0,43 0,42 0,44 0,45 0,45 0,38 0,37 0,34 0,30 0,39 de 0,36 0,34 0,33 0,29 0,34 0,36 0,37 0,37 0,34 0,38 0,36 0,29 0,27 0,34 A Figura 2 mostra a variação do índice de limpidez ao longo de todo o período de estudo, de dezembro de 95 a dezembro de 96. É possível observar o comportamento regular da radiação extraterrestre, com valor mínimo em junho e máximos nos extremos, já a radiação global, devido a atenuação sofrida pela presença de nuvens e outros, a curva é irregular, embora seu contorno seja semelhante ao da radiação extraterrestre. 56 2 Rads. solares global ext. e extraterrestre (MJ/m ) Radiação solar global Radiação extraterrestre 45 40 35 30 25 20 15 10 5 0 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 Dia Juliano Figura 2. Variação anual do índice de limpidez ao longo do período de estudo A distribuição de freqüências, Figura 3, evidencia a maior ocorrência de valores do índice de limpidez entre 0,65 e 0,70, ou seja, 68 dias. De acordo com Kudish & Ianetz, índice de limpidez (IL) acima de 0,60 pode ser representativo de dias claros. Isto significa que, para a cidade estudada – Botucatu, 154 dias apresentaram valores de IL acima de 0,60, que corresponde a 41 % dos dias estudados. Dias completamente nublados, algumas vezes com chuvas, são caracterizados por índice de limpidez pequeno, entre 0,01 e 0,30, com frequência variando entre 2 e 18 ocorrências. Para valores intermediários, entre 0,31 e 0,60, a frequência variou no intervalo 19 a 40 ocorrências, cujos dias podem ser classificados como parcialmente nublados. 100 90 80 FREQÜÊNCIA 70 60 50 40 30 20 10 0 0,0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 ÍNDICE DE LIMPIDEZ Figura 3. Histograma de frequência do índice de limpidez CONCLUSÃO § § § § Com base nos objetivos propostos na definição deste trabalho, concluiu-se que: A radiação extraterrestre variou no intervalo 22,39 MJ.m-2 (em junho) a 42,31 MJ.m-2 (em dezembro/95). O índice de limpidez externo assumiu valores entre 0,45 e 0,61, na estufa leste-oeste, entre 0,30 e 0,44, na estufa norte-sul, entre 0,27 e 0,38. De acordo com a distribuição de freqüência, a cidade estudada apresentou 218 dias com céu parcialmente nublado a nublado, com índice de limpidez entre 0,06 e 0,60. Os outros 154 dias foram com céu claro e índice de limpidez acima de 0,60, significando que 60 % da radiação extraterrestre alcançou a superfície terrestre. 57 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ASSIS, S.V. Radiação solar em estufas de polietileno, nas orientações norte-sul e leste-oeste. Botucatu, 1998. 134p. Tese (Doutorado/Energia na Agricultura) – faculdade de Ciências Agronômicas, Universidade Estadual Paulista. DUFFIE, J.A., BECKMAN, W.A. Solar engineering of thermal processes. New York: John Wiley & Sons, 1980. 652p. IQBAL, M. An introduction to solar radiation. New York: Academic Press, 1983. 386p. KUDISH, A.I., IANETZ, A. Analysis of the solar radiation data for Beer Sheva, Israel, and its environs. Solar Energy, v.48, n.2, p.97-106, 1992. 58