Clipping Nacional de Educação Segunda-feira, 09 de Setembro de 2013 Capitare Assessoria de Imprensa SHN, Quadra 2 Bloco F Edifício Executive Tower - Brasília Telefones: (61) 3547-3060 (61) 3522-6090 www.capitare.com.br Valor Econômico 09/09/13 EMPRESAS 2047 Grupos privados dominam cursos técnicos Por Beth Koike | De São Paulo As empresas de educação estão apostando em cursos técnicos, motivadas pelo programa do governo que está concedendo bolsas de estudo. Cerca de 80 grupos privados de ensino superior já se cadastraram no Ministério da Educação e Cultura (MEC) para participar da iniciativa batizada de Pronatec. Das 240 mil vagas de cursos técnicos, 82% estão sendo ofertadas pelas instituições particulares. Kroton, Cruzeiro do Sul, Anima e Ser Educacional já estão matriculando alunos e outros grupos como Anhanguera, Laureate e FMU têm planos de entrar nesse nicho a partir de 2014. A Abril Educação também criou um sistema de ensino voltado para cursos técnicos que já foi comprado por 90 instituições particulares e públicas. Segundo dados do MEC, em apenas uma semana, 388 mil alunos que fizeram o exame do Enem se inscreveram no Pronatec. Como nem todos os interessados efetivam a matrícula, as vagas remanescentes estão sendo ofertadas até o próximo dia 17 aos interessados que não fizeram o Enem. "No ano passado, havia 1,4 milhão de alunos em cursos técnicos. Metade estuda no ensino privado e a outra parte, no público. Com o Pronatec esse número pode dobrar em cerca de dois anos", disse Mark Essle, sócio da consultoria Performa Partners. Essle também é fundador da etb (escolas técnicas do brasil), empresa de sistema de ensino de cursos técnicos vendida para a Abril Educação em 2011. Segundo Essle, há um públicoalvo para essa modalidade de curso de 7,6 milhões de jovens, com idade entre 18 e 24 anos, que concluíram o ensino médio, mas não prosseguiram os estudos. Ainda de acordo com dados da consultoria Performa, o segmento de cursos técnicos movimentou R$ 1,3 bilhão no ano passado. Pelas regras do Pronatec, as faculdades particulares só podem oferecer cursos técnicos nas mesmas áreas curriculares em que atuam no ensino superior. Além disso, são exclusivos para quem já tem o diploma do ensino médio. Algumas instituições como as Etecs permitem que alunos do ensino médio estudem concomitantemente o curso técnico, que tem duração de um a dois anos. O Ser Educacional, que protocolou na semana passada pedido de oferta inicial de ações, tem disponível 42,8 mil vagas de cursos técnicos e preencheu na primeira etapa de inscrições cerca de 15 mil. "A oferta dos cursos técnicos poderá ter um impacto significativo no crescimento da nossa empresa através do Pronatec", informa prospecto do Ser Educacional. O Anima, que também vai fazer um IPO, abriu 200 vagas no Una, de Belo Horizonte. "Nossas aulas começam em setembro com a totalidade das vagas preenchidas", disse Ana Carolina Miranda Sarmento, diretora do Una. Essa é uma etapa piloto e a meta é abrir cursos nas outras duas instituições do grupo, Unimonte e Uni-BH. A Kroton abriu 19 mil vagas para 10 tipos de cursos técnicos. Os três mais procurados até o momento são informática, segurança do trabalho e redes de computador. "Tivemos uma procura excelente e nos surpreendeu porque cerca de 90% das vagas são para os períodos matutino e vespertino. No horário da noite, oferecemos menos vagas por causa do ensino superior que já tem forte demanda", disse Paulo de Tarso, diretor geral de pós-graduação e cursos técnicos da Kroton, sem revelar o número exato de matrículas. "Com Copa e Olimpíadas, haverá uma demanda para mão de obra de nível técnico. Nossa expectativa é atingir 10 mil matrículas em dois anos", disse Arthur Sperandeo, vicereitor acadêmico da FMU, que começa a oferecer essa modalidade de ensino em 2014. A Laureate entrou nesse Continua Continuação 09/09/13 segmento no início do ano, antes de o governo liberar o Pronatec para os grupos privados. A Universidade Potiguar, do grupo americano, criou em janeiro 10 cursos técnicos pagos e atraiu 1,5 mil alunos. Porém, com o Pronatec não está definido se o curso técnico particular será mantido, uma vez oferecerá cursos com as bolsas do governo a partir de 2014. Mas não são todos que colheram frutos na largada do Pronatec. O Grupo Cruzeiro do Sul registrou apenas 1,4 mil inscrições. "O número de matriculados foi bem abaixo de nossas expectativas. Nós acreditamos que houve falta de publicidade sobre o programa. Acreditamos que no próximo período de ingresso, em 2014, o processo será mais eficiente", disse Janice Valia Santos, coordenadora geral do Pronatec e pró-reitora de extensão da Universidade Cruzeiro do Sul. Segundo Janice, o prazo para cadastramento das instituições, escolha dos cursos a serem oferecidos e inscrições para os candidatos foi muito curto. Valor Econômico 09/09/13 2048 EMPRESAS Evasão no ensino a distância vai a 42% Por De São Paulo Capelato, do Semesp: "É um alerta para os grupos de ensino sobre a metodologia aplicada nesse tipo de curso" A evasão nos cursos de ensino superior a distância no país em 2011 atingiu 42%, o que representa um crescimento de 8,1 pontos percentuais em relação ao ano anterior. Os dados são da pesquisa "Mapa do Ensino Superior" elaborado pelo Semesp, sindicato das instituições de ensino superior privado de São Paulo. Esse percentual pode ser ainda maior se forem desconsiderados os alunos de pedagogia, que representam 30% dos estudantes de ensino a distância e cuja taxa de desistência é bem baixa. A maior parte deles é professor da rede pública e precisa do diploma para atender a uma exigência do governo. "Os alunos alegam que o principal motivo da desistência é a falta de disciplina para estudar. Muitos iniciam um curso de EAD [ensino a distância] achando que é fácil, mas não conseguem se adaptar", disse Rodrigo Capelato, diretor-executivo do Semesp. Também chama atenção o fato de que em 2010 o índice de evasão nos cursos a distância era de 33,9%, semelhante ao do presencial, que foi de 33,2%. Porém, essa semelhança não se manteve em 2011. Nos cursos em que os alunos frequentam diariamente as salas de aulas, a taxa de desistência foi de 35,9% e na modalidade em que o curso é ministrado pela internet o percentual saltou para 42%. "É um alerta para os grupos de ensino sobre a metodologia aplicada nesse tipo de curso", disse o diretor do Semesp. Na maior parte desses cursos, as aulas são todas ministradas pela web. Há um modelo em que os alunos vão aos polos uma ou duas vezes por semana. Segundo Capelato, a taxa de evasão neste segundo formato é menor. O modelo ideal a ser adotado no ensino a distância é um dos maiores debates no setor. A carioca Estácio já adota cursos a distância 100% online. A Anhanguera criou neste segundo semestre um curso neste mesmo formato, que é oferecido em paralelo àqueles em que há aulas uma vez por semana nos polos. Já na Kroton, o maior grupo do setor, há aulas presenciais duas vezes por semana. O diretor do Semesp defende o modelo pedagógico adotado nos Estados Unidos. Lá os cursos são oferecidos tanto no formato presencial quanto a distância. O aluno pode, por exemplo, assistir a algumas aulas a distância e a outras na sala de aula. (BK) 09/09/13 2049 EDITORIAL Filtro eficiente Apesar das melhoras dos últimos anos, a qualidade do ensino nas universidades brasileiras ainda é medida, em grande parte dos cursos, por avanços pontuais. De um modo geral, o desempenho acadêmico tem atendido mais a malabarismos estatísticos do que a demandas do mundo real. A timidez dos progressos acadêmicos do país, em comparação com outras nações, está expressa em números. Num ranking divulgado em fevereiro pelo Conselho Superior de Investigações Científicas, da Espanha — o Webometrics Ranking of World Universities, uma listagem dos mais importantes centros de ensino superior do planeta — a instituição brasileira mais bem colocada, a USP, aparece em 19® lugar. Segunda colocada, a UFRGS, fica em 129^ lugar num quadro em que o Brasil tem apenâs 12 universidades entre as 500 mais bem credenciadas do mundo. A pesquisa, avalizada pela União Europeia, cobre mais de 21 mil universidades e institutos de ensino superior. Resultados como estes ajudam a expor a ainda tíbia reação do país ao desafio de melhorar o seu perfil acadêmico, mas, meramente estatísticos, pouco apontam quais os caminhos para incrementar mais qualidade no ensino nas universidades. É preciso buscar as razões em fatores como as crônicas deficiências do ensino fundamental, currículos nem sempre à altura dos desafios, tibieza nos critérios de aferição dos alunos etc. Iniciativa importante nesse sentido ocorre na área do Direito, com a obrigatoriedade da prestação das provas de aferição de saber organizadas pela Ordem dos Advogados do Brasil A aprovação nesses exames é pressuposto para o bacharel exercer a prática advocatícia. As enormes taxas de reprovação nessas medições são um eficiente termômetro: elas indicam que o ensino jurídico na maioria das faculdades brasileiras destoa das demandas do mercado. De novo, os números ajudam a compor um quadro de crise. Há no país 1.200 cursos de Direito, com 800 mil alunos matriculados — seis vezes mais do que há vinte anos. Há, ain da, problemas como a exploração do ensino jurídico como mero negócio lucrativo, prática nociva acobertada por interesses corporati-vistas ou mesmo eleitoreiros. De tal forma é a situação que o MEC anunciou recentemente que pretende adotar medidas para com bater a ineficiência de cursos de Direito em funcionamento. Não é de estranhar que, em algumas edições dos exames, o percentual de reprovação tenha alcançado mais de 90% dos candidatos. Se os exames são ou não rígidos demais, é uma questão a ser debatida no âmbito de uma eventual discrepância entre o que se ensina nas faculdades e o conteúdo que a Ordem julga fundamental para manter a qualidade da atividade advocatícia. Mas não se discute a importância desse termômetro, um filtro que contribui para preservar a profissão e o mercado das deficiências acadêmicas do setor. 09/09/13 2050 OPINIÃO Um equívoco Carmen Fontenelle No último dia 11 de agosto comemoraram-se os 186 anos do advento dos cursos jurídicos no Brasil Nestes quase dois séculos de história, milhões de jovens puderam escolher a carreira de advogado sem qualquer barreira a não ser concluir o curso universitário. Nessas condições, a advocacia brasileira gerou ilustres profissionais, diversos dos quais alcançaram inclusive a Presidência da República. Até o início dos anos 60, os bacharéis jamais foram obrigados a prestar qualquer prova para ingressar na profissão, sendo sua "banca examinadora" apenas o próprio exercício da advocacia, que separa o joio do trigo. Depois disso a Faculdade de Direito "virou moda" já que nela havia supostamente um curso rápido, fácil — e, quiçá, barato. Tal situação provocou uma avalanche de profissionais do Direito de baixíssima qualidade. Guardiã da categoria, a Ordem dos Advogados do Brasil, em 1963, instituiu uma avaliação dos diplomados, concebida apenas para o estudante que optasse por não se submeter a um estágio de prática forense, quando de sua inscrição nos quadros da entidade, requisito legal para ã prática de profissão. Em 1994, o Exame de Ordem foi então regulamentado e definido como via exclusiva do bacharel em Direito para ingressar em sua profissão. Prova mais polêmica do Brasil, o Exame da Ordem ganhou notoriedade menos por seus méritos do que por seus altíssimos e assustadores índices de reprovação. Com isso ficou violado o fundamental direito ao livre exercício da profissão, previsto no art. 5% inciso XIII de nossa Constituição, porque o Exame criou uma barreira para os bacharéis. O diploma válido em mãos é, por excelência, o comprovante de habilitação para a advocacia. Qual a razão de ter-se que revalidá-lo para poder trabalhar? Contra a própria essência da profissão, tolhese a escolha de uma carreira liberal, impondo-lhe uma espécie de concurso público. Em vez de criar um critério discricionário de seleção, com perfil de reserva de mercado, já que efetivamente limita o número de profissionais de forma até arbitrária, a Ordem dos Advogados poderia exercer suas atribuições e atuar de maneira preventiva ou manifestar-se quanto aos pedidos de criação, reco-nhecimento e credenciamento de cursos jurídicos. Poderia também atuar na defesa da qualificação do ensino jurídico e combater as "fábricas de diplomas" Ou seja, cortar pela raiz a má qualidade do ensino jurídico. Hoje, o jovem que deseja seguir a carreira de advogado no Brasil, antes mesmo de entrar na faculdade, não pensa mais em seus ideais, mas sim no apavorante Exame da Ordem, agora mais notório que a própria OAB. Exame tão difícil e nada qualificativo que certamente seria um desafio até para advogados militantes, mesmo os mais renomados e caros. O Exame da Ordem é um paliativo equivocado contra advogados mal formados. Carmen Fontenelle é advogada 09/09/13 2051 O PAÍS ENTREVISTA Viviane Mosé ‘Nossa educação hoje é castradora e elimina líderes’ Continua Continuação 09/09/13 09/09/13 2052 RIO 09/09/13 2053 SUL E SUDESTE TÊM 19 DAS 25 MELHORES UNIVERSIDADES CAPA 09/09/13 ESPECIAL 2054 Sul-Sudeste tem 19 das 25 melhores universidades Ranking incorpora novidades como a avaliação da qualidade de ensino nas 30 carreiras com maior número de matriculados FÁBIO TAKAHASHI SABINE RIGHETTI A s regiões Sul-Sudeste concentram 19 das 25 melhores universidades do país. São Paulo aparece à frente, com cinco instituições, seguido por Rio de Janeiro (quatro), Minas Gerais, Paraná e Rio Grande do Sul (três cada) e Santa Catarina (uma). O Nordeste tem quatro (Bahia, Ceará, Paraíba e Pernambuco) e o CentroOeste, duas (Goiás e Distrito Federal). USP, UFRJ e UFMG encabeçam o ranking. A região Norte não aparece no grupo principal. A título de comparação, a nota média do grupo de elite do RUF (86,79) é 27% superior à média das 25 instituições que vêm a seguir no ranking de universidades (68,40). Essa radiografia regionalizada do ensino superior brasileiro emerge da edição 2013 do RUF, cujo ranking geral, publicado integralmente nesse suplemento, classifica as 192 instituições reconhecidas como universidades pelo Ministério da Educação. Em sua segunda edição, o RUF manteve a filosofia e aperfeiçoou a metodologia para contemplar duas grandes áreas de interesse: a produção científica -aferida com base em indicadores de pesquisa, inserção internacional e inovação- e a graduação, calcada na avaliação da qualidade de ensino e na ressonância da instituição no mercado de trabalho. No total, são avaliados 5 indicadores, subdivididos em 16 subindicadores, que geram rankings independentes e podem ser consultados separadamente (veja a metodologia na pág. ao lado). É na área de graduação que está a maior novidade deste ano: o ranking de ensino, uma análise extensiva inédita dos indicadores dos cursos ministrados em 2.358 instituições. A avaliação contempla as 30 carreiras com maior número de estudantes matriculados em 2011 (último dado disponível no instituto de pesquisa do MEC, o Inep). Conduzido pelo Datafolha, o levantamento usa basicamente os mesmos critérios de ensino e mercado do ranking geral de universidades, mas com adaptações metodológicas para atender às diferenças de propósitos das instituições -que nesse caso incluem também os centros universitários e faculdades (veja quadro na pág. 19). Dada a extensão do universo pesquisado, o ranking de cursos é publicado em versão limitada aos dez primeiros colocados. As tabelas completas podem ser consultadas no site do RUF. RESULTADOS A USP aparece com destaque nesse levantamento pormenorizado, com o maior número de cursos no top 10 das 30 carreiras analisadas. A maior universidade estadual paulista só não pontua em serviço social porque não tem essa graduação. A ampliação da avaliação do ensino por curso permitiu ainda identificar destaques entre instituições que não são classificadas como universidades. As faculdades Insper e a FGV-SP, por exemplo, ficaram entre as dez melhores nas duas carreiras de seus portfólios analisadas pelo RUF. Outra novidades do RUF 2013 é a criação do ranking de internacionalização, liderado na estreia pela Universidade Federal do ABC. Criada em 2005 e com um modelo inovador de ensino, a instituição tem 100% de docentes com doutorado e desponta no 21º lugar do ranking de pesquisa científica do RUF. Colaboraram BRUNO FÁVERO e BRUNO LEE, colaboração para a Folha 09/09/13 2055 ESPECIAL Análise Fazer ranking implica estar aberto à ideia de retoques constantes Mudança nos indicadores permitiu avaliar não só as instituições, mas cursos oferecidos por universidades, faculdades e centros universitários HÉLIO SCHWARTSMAN Rankings universitários, principalmente em suas primeiras edições, são uma obra em construção. Se a própria ideia de traduzir num único indicador numérico a enorme teia de complexidades que caracterizam as atividades universitárias já é problemática, definir quais indicadores utilizar e qual peso atribuir-lhes apenas amplia o leque de dúvidas e questionamentos. A única certeza que desponta do exercício de elaborar um ranking é a de que haveria outros caminhos igualmente válidos, o que na prática implica aceitar a ideia de que esse tipo de empreitada deve estar aberta a constantes aperfeiçoamentos. Essa, aliás, é a regra nos rankings internacionais. Um dos mais reputados, o THE (Times Higher Education), criado em 2004, promoveu mudanças em todas as versões exceto a de 2012. À primeira edição do RUF, em 2012, seguiu-se a esperada chuva de críticas, que foram debatidas em âmbito externo e interno. Muitas delas foram incorporadas pela equipe, outras, descartadas e houve ainda problemas que foram considerados momentaneamente insolúveis. Tudo isso resultou numa série de mudanças que aparecem agora no RUF 2013. A mais notável delas é a reformulação do indicador de ensino. No RUF 2012, para tentar capturar essa dimensão, o Datafolha havia entrevistado 597 pesquisadores cadastrados no CNPq que opinaram sobre quais eram as melhores graduações. Havia, contudo, um problema e ele estava no fato de a base ser composta por pesquisadores que não necessariamente estavam familiarizados com questões de ensino. Na versão 2013, após entendimentos com o Inep, o Datafolha passou a utilizar como base os professores universitários que fazem a avaliação de graduações para o MEC. De um total de 4.354 especialistas, 464 foram entrevistados e deram sua opinião sobre os melhores cursos do país, em suas áreas. Também se agregou ao módulo de ensino três indicadores objetivos: o percentual de professores com doutorado, com dedicação integral e a nota dos cursos de graduação no Enade. Este último recebeu, entretanto, uma pontuação baixa (2% do total da nota de cada universidade, contra 4% para os anteriores). A ideia aqui é que esse é um exame promissor, mas que ainda apresenta problemas, notadamente os boicotes organizados por alunos e as retenções de formandos, de que algumas escolas se utilizam para melhorar suas notas. Tão logo as dificuldades sejam resolvidas, espera-se aumentar o peso do Enade no RUF. A mudança da base de entrevistados e a inclusão de indicadores objetivos permitiram ao RUF 2013 avaliar não apenas universidades, como em 2012, mas também cursos individuais oferecidos não só por universidades mas também por centros universitários e faculdades. Foram ranqueadas 2.358 escolas que disponibilizam graduação nos 30 cursos com mais matrículas. Essa é a grande novidade do RUF 2013. Outro módulo que mereceu críticas em 2012 foi o do mercado de trabalho. Para definir quais eram as melhores instituições aos olhos do mercado, o Datafolha entrevistou responsáveis pela área de recursos humanos de empresas. Um dos problemas aqui é que os resultados carregam muito do tamanho das instituições. Uma universidade grande, que forme muita gente, tende Continua Continuação 09/09/13 a receber mais menções do que uma escola menor, mesmo que esta seja de melhor qualidade. Infelizmente, não foi encontrada uma fórmula para eliminar ou ao menos reduzir esse efeito (se alguém tiver uma sugestão, procure o blog do RUF). Decidiu-se, entretanto, por manter a avaliação, com um peso um pouco menor (18% contra 20% em 2012), já que o mesmo viés provavelmente aparece também nas contratações, fazendo assim parte do mundo real. Diferentemente de 2012, quando foi avaliada a inserção de egressos dos 20 cursos que mais formam, neste ano foram considerados os 30 cursos com mais matrículas no ano de 2011. Os blocos que praticamente não sofreram alterações foram o de inovação e de pesquisa, visto que são áreas nas quais existem indicadores objetivos à profusão e que já foram bastante discutidas na literatura internacional. As mudanças aqui se limitaram a pequenas alterações no peso dos subindicadores de pesquisa. Vale ainda mencionar a internacionalização, que aparecia de forma embrionária no bloco de pesquisa em 2012 e se tornou um módulo independente com mais subindicadores em 2013. A justificativa é que o grau de inserção internacional de uma universidade é um item que vem recebendo cada vez mais atenção em todo o mundo. Uma descrição mais detalhada da metodologia empregada no RUF 2013, bem como as diferenças em relação à edição de 2012, pode ser encontrada no site do ranking. Embora seja possível conferir a evolução de uma universidade de um ano para o outro, vale lembrar que as mudanças metodológicas não recomendam que se dê muita atenção a essa comparação. 09/09/13 2056 ESPECIAL Pesquisa São Paulo tem 5 das 10 líderes em produção científica Estabilidade no financiamento e recursos garantidos fazem estado predominar no indicador; união tenta desconcentrar a produção REINALDO JOSÉ LOPES COLABORAÇÃO PARA A FOLHA O RUF 2013 confirma: apesar dos esforços do governo federal para disseminar a produção científica por outras regiões do país, a maior parte da pesquisa nacional de qualidade continua concentrada no Estado de São Paulo. Das dez primeiras colocadas nesse indicador, cinco são paulistas -todas as universidades estaduais (USP, Unicamp e Unesp) e duas federais em São Paulo (Unifesp e UFSCar). Pesquisadores de outros Estados não vacilam ao apontar o fator que anaboliza esse desempenho: a estabilidade na política de financiamento. Desde a década de 1960, São Paulo tem sua agência de fomento específica, a Fundação de Amparo à Pesquisa. Mantida com dinheiro do governo estadual, ela financia trabalhos de qualquer faculdade paulista, incluindo as privadas. "Todos gostariam de ser uma Fapesp", afirma Sergio Gargioni, presidente da contraparte catarinense, a Fapesc, e do Confap (Conselho Nacional das Fundações de Amparo à Pesquisa). A agência paulista recebe, por lei, 1% da arrecadação estadual, livre de contingenciamentos do Executivo. É algo em torno de R$ 1 bilhão, equivalente a todo o orçamento da Federal da Bahia. As estaduais paulistas ainda dividem 9,57% do ICMS, livres de contenção. Só a USP deve receber neste ano R$ 4,3 bilhões, valor equivalente à soma dos recursos das federais do Rio (UFRJ), Minas (UFMG) e Bahia (UFBa). Com verba garantida, a USP consegue manter um programa próprio de financiamento de pesquisas, que contou com R$ 200 milhões entre 2010 e 2012. Há, ainda, dinheiro de empresas. Para o diretor-científico da Fapesp, Carlos Henrique de Brito Cruz, a intensa atividade de pesquisa no setor produtivo paulista também influencia os resultados acadêmicos de São Paulo. "O percentual de recursos para pesquisa que vem de empresas para as estaduais paulistas supera a média dos EUA", diz. DESCONCENTRAÇÃO A concentração já foi pior. "Em 1993, 70% dos grupos de pesquisa cadastrados no CNPq eram paulistas. O número de grupos aumentou [hoje são quase 28 mil], mas a concentração diminuiu. São Paulo tem agora 46%", afirma Glaucius Oliva, presidente do CNPq, principal agência de fomento do governo federal. Colaborou para a mudança, diz Oliva, uma lei de 2001 que destina 30% dos recursos dos fundos setoriais para pesquisa no Norte, Nordeste e Centro-Oeste. "Fazíamos um esforço para receber pedidos de financiamento de pesquisa nessas regiões. Hoje há propostas competitivas." Segundo Oliva, já há polos de pesquisa em Natal (neurociência) e Campina Grande (tecnologia). Colaboraram TAKAHASHI e RIGHETTI FÁBIO SABINE 09/09/13 2057 ESPECIAL Maioria das instituições não deveria receber título de universidade ROGÉRIO MENEGHINI ESTÊVÃO GAMBA A classificação de uma instituição de ensino superior como UP (Universidade de Pesquisa) foi introduzida nos EUA em 1970, pela Fundação Carnegie, para diferenciar as instituições extensivamente engajadas em atividades de pesquisa. A ideia é que as UPs fossem responsáveis pela produção de parte significativa da ciência de ponta americana. distribuição de verbas públicas para pesquisa é satisfatório em volume. São cerca de 0,6% do PIB (US$ 15 bilhões). A distribuição é razoavelmente criteriosa, com avaliação de qualidade. O dispêndio envolve as agências federais CNPq e Capes e as FAPs (Fundações Estaduais de Amparo a Pesquisa), que empregam recursos significativos, comparáveis aos aplicados em países como Inglaterra e Espanha. UPS NACIONAIS Entre as 7.300 instituições de ensino superior dos EUA, o total de UPs variou entre 50 e 100. Em 2005, novo modelo de classificação foi instituído, bem mais amplo, que destaca as áreas de ensino, mas o termo universidade de pesquisa ainda é utilizado. A importância delas no Brasil é maior do que em países avançados, pois aqui a pesquisa realizada pelo setor empresarial ainda é pouco numerosa. Nessa linha, é importante estimular a atuação das UPs na área de inovação, ainda incipiente. O sistema brasileiro de No RUF de 2013, é possível notar 36 universidades que captaram um mínimo de R$ 20 milhões para pesquisa, um montante significativo. São 26 federais, sete estaduais e três privadas. Elas são responsáveis por 70% de toda a produção científica brasileira em 2009-2010 e podem ser consideradas UPs, na medida em que grande parte de seus docentes está envolvida nesta atividade e na formação de doutores. No outro extremo estão cerca de dois terços das universidades brasileiras, com uma fração baixa de docentes envolvida em produção científica. Pelos critérios do MEC, são reconhecidas como universidades, mas seriam mais propriamente consideradas Instituições de Ensino Superior. Embora tenhamos universidades de alta qualidade, elas ainda não fazem parte do time de "world class" nos rankings internacionais. A USP, melhor universidade do Brasil de acordo com o RUF, está em 158º lugar na lista do THE (Times Higher Education), muito longe das líderes Caltech (EUA) e Oxford (Reino Unido). Faltam-lhe dois ingredientes importantes: a internacionalização mais pujante do corpo docente e um investimento maior voltado à atração do alunato internacional. Rogerio Meneghini é coordenador científico do Programa SciELO (base que reúne 323 periódicos científicos nacionais com acesso aberto), professor aposentado da USP e responsável pela medição científica do RUF. Estêvão Gamba é doutorando da Unifesp e corresponsável pela medição científica do RUF. 09/09/13 2058 ESPECIAL Internacionalização Inglês não tem chance nem entre as melhores Sem aulas em inglês, Brasil só consegue atrair professores e alunos estrangeiros da américa latina e de Portugal SABINE RIGHETTI As universidades de elite de todo o mundo têm pelo menos uma obsessão comum: a busca por estudantes e professores estrangeiros. Egressos de outros países trazem um repertório diversificado de ideias, problemas e soluções, o que enriquece o ambiente de ensino -e, no caso dos alunos importados, também o caixa das instituições. No Brasil, porém, o movimento de internacionalização está engatinhando. Além da falta de uma política de atração de estrangeiros, ensinar em português é um grande empecilho. inglês é o principal fator de internacionalização em universidades de países de língua não-inglesa", analisa Laura Ripoll, da Universidade de Girona, na Espanha, que criou metodologia para analisar a internacionalização de universidades de seu país. A ausência do inglês nas salas de aula é reflexo da pouca fluência nacional, como mostra o Ciência sem Fronteiras, programa federal que já enviou cerca de 50 mil alunos para o exterior e planeja chegar a 100 mil. As seis universidades que mais receberam bolsistas brasileiros quando o programa foi lançado eram portuguesas. A campeã foi a Universidade de Coimbra (709 alunos). Portugal acabou sendo retirado do programa. MOBILIDADE ENGESSADA Em países como Holanda, Alemanha e Dinamarca, a maioria das universidades dá aulas em inglês, para permitir a o intercâmbio de alunos e docentes. Recentemente, até a vetusta Universidade Sorbonne aderiu a aulas no idioma de Shakespeare. "A quantidade de disciplinas em Enquanto em Harvard, nos EUA, a média de alunos estrangeiros chega a 20%, nas estaduais paulistas é de 2%. A maioria vem de países vizinhos, como Argentina, Colômbia e Portugal. A universidade mais "internacional" do Brasil, UFABC, e a melhor do país, USP, ainda não têm planos de dar aulas em inglês. A Unicamp chegou a estudar a possibilidade, mas o assunto saiu da pauta do conselho universitário. A resistência vem da própria comunidade acadêmica, que alega que aulas em inglês afetariam a igualdade nas condições de acesso e permanência na escola. As estaduais paulistas já podem promover concursos para docentes em outros idiomas. "Nas universidades federais, no entanto, um estrangeiro teria de ser concursado em português para dar aula", diz Leandro Tessler, excoordenador de relações internacionais da Unicamp. Avalizado por especialistas, para quem a inserção internacional é uma necessidade imposta pela globalização cada mais acentuada de pesquisa e ensino, o RUF 2013 incorporou três subindicadores para aferir o grau de reconhecimento das universidades brasileiras no exterior. Entre os líderes da lista desse indicador, há quatro universidades públicas e uma privada. Nenhuma delas têm aulas em inglês. 09/09/13 2059 ESPECIAL Propriedade Industrial Universidades são as que mais inovam USP e UFMG estão lado a lado com Petrobras na lista de quem mais pede patente no Brasil SABINE RIGHETTI Enquanto ainda se discute se é papel das universidades fazer pesquisa para o mercado, no Brasil são justamente as universidades que mais inovam. De acordo com um levantamento do Inpi (Instituto Nacional da Propriedade Industrial), USP e Unicamp estão no topo da lista de grandes patenteadores do Brasil ao lado de empresas como a Petrobras e a Whirpool. Também conforme o Inpi, a taxa de aprovação dos pedidos de patente, que gira em torno de 10% a 20%, tende a ser maior nas universidades do que a das empresas. Isso porque as universidades estão mais preparadas para escrever esses pedidos. "As universidades estimularam o patenteamento recentemente com criação dos núcleos de inovação tecnológica internamente. Já as empresas não tiveram o mesmo estímulo adicional para patentear", explica o engenheiro Bruno Rondani, da consultoria de inovação Allagi. Esses núcleos têm profissionais que auxiliam os pesquisadores a escrever os pedidos de patentes, acompanham o trâmite (que leva em média seis anos) e, se o pedido for aprovado, buscam empresas para licenciá-lo. A participação das universidades no processo de inovação, dizem os especialistas, ainda tende a crescer nos próximos anos. "As universidades estão buscando consolidar seu papel como produtoras de conhecimento", explica Herica Righi, pesquisadora da Fundação Dom Cabral. Unicamp e a UFMG planejam até a construção de um parque tecnológico no campus nos moldes da UFRJ, com laboratórios de empresas como a Petrobras. "Já as empresas enfrentam barreiras para inovar, como riscos econômicos e elevados custos da inovação", afirma Righi. 09/09/13 2060 ESPECIAL Ensino Enade tira USP do topo da graduação Única escola do país que não participa do exame federal, a Universidade de São Paulo perde pontos e fica atrás das federais UFRGS e UFMG FÁBIO TAKAHASHI Primeira colocada no ranking geral do RUF e dona de alguns dos cursos mais cobiçados do país, a USP perdeu para as federais UFRGS e UFMG no indicador de ensino. A desvantagem da universidade estadual paulista pode ser explicada por uma decisão metodológica desta edição 2013: a inclusão do Enade, exame nacional do MEC, como critério para avaliar cursos de graduação. A USP é a única escola do país que até este ano se recusava a participar da prova, escorada no argumento das deficiências do exame, que não permite, por exemplo, identificar se uma nota baixa é reflexo de boicote do aluno. Parte da sociedade, porém, encarava a decisão como uma recusa da universidade a se submeter a avaliações comparativas. Sem o Enade, a USP perdeu de largada dois pontos. Como sua diferença em relação à líder de ensino, UFRGS, foi de 1,07 ponto, ela provavelmente assumiria a ponta também nesse indicador, caso tivesse feito a prova. Um dado reforça essa possibilidade. A estadual paulista ficou à frente das duas federais nos outros três subindicadores de ensino (opinião dos avaliadores do Inep-MEC, docentes com doutorado e com dedicação integral). A inclusão do Enade no RUF atende o objetivo de valorizar a participação das universidades numa avaliação nacional e padronizada dos estudantes. O entendimento é que a prova federal, criada em 2004 e feita anualmente por cerca de 500 mil formandos, pode dar informações pertinentes sobre a qualidade da formação nas instituições. No mês passado, a USP anunciou a adesão em caráter experimental, mas suas notas não serão divulgadas ao menos nos próximos três anos. Os alunos também poderão faltar ao teste, sem qualquer punição -nas federais e particulares obrigadas por lei a fazer o exame, os ausentes não conseguem tirar o diploma. A pró-reitoria de graduação diz que "reconhece o Enade como indicador de qualidade", mas aguarda aprimoramentos para aderir a ele integralmente. A entrada tardia no exame federal atrapalhou também a Unicamp, que começou a participar apenas em 2010 e não tem notas em todos os cursos. A escola de Campinas ficou em 7º no ensino. DISCREPÂNCIA A complexidade do RUF traz uma situação que pode parecer contraditória. A USP é 3ª colocada no indicador geral de ensino, mas é a universidade com o maior número de cursos em primeiro lugar (sete). Para o Datafolha, que tabulou dos dados, isso pode ocorrer porque a nota geral leva em conta todos os cursos das 192 universidades, e não apenas as 30 carreiras avaliadas individualmente no RUF. Assim, alguns dos outros 219 cursos oferecidos pela USP podem perder pontos para concorrentes, como as federais de Minas e do Rio Grande do Sul. AS LÍDERES Primeira colocada no ranking das graduações, a UFRGS afirma que a universidade foi impulsionada pela contratação, nos últimos cinco anos, de 750 professores, que se somaram aos então 2.000 docentes, como parte do programa de expansão das universidades federais, iniciado em 2007 -95% dos novos educadores têm titulação de doutor. "Ganhamos em vitalidade e em novas ideias. Os recém-contratados se aliaram a um corpo docente já consolidado", afirma o reitor Carlos Alexandre Netto. A UFMG diz que seu ponto forte é a integração de ensino e pesquisa. O reitor Clélio Campolina Diniz cita como exemplo um acordo recémfechado com a Fiat para desenvolvimento dos motores a álcool usados nos veículos da montadora. Os estudantes poderão participar do projeto. 09/09/13 2061 ESPECIAL Perfil dos professores influencia ranking de ensino Variáveis como docentes com doutorado e dedicação integral podem influir mais na qualidade do curso do que a infraestrutura FÁBIO TAKAHASHI A partir desta edição, o RUF passa a adotar dois subindicadores para avaliar a qualidade dos docentes na graduação: número de doutores e de professores que trabalham em regime de dedicação integral. A inclusão do primeiro se baseia na aceitação mundial do critério, adotado pelos principais rankings internacionais e consenso de qualidade entre especialistas. Já o segundo contempla uma peculiaridade do cenário nacional o predomínio de instituições com professores que apenas dão aulas, sem tempo remunerado para atender alunos e fazer pesquisas. Esses fatores podem ser mais efetivos do que a infraestrutura da escola, avalia o professor de economia da USP Reynaldo Fernandes, que estudou as variáveis que influenciam a qualidade do ensino quando era presidente do Inep, entre 2005 e 2009. "Testamos todos os dados disponíveis. Doutorado e dedicação integral apareceram como os mais significativos", diz. Em 2008, os dois quesitos passaram a integrar a lista oficial que o MEC adota na fiscalização dos cursos. O pesquisador pondera, porém, que esses subindicadores podem não ter tanto impacto em cursos que exigem uma ligação mais estreita com o mercado. A área de publicidade é um caso exemplar. Nela, a ESPM é considerada a melhor tanto pelos avaliadores do MEC quanto pelos executivos de RH. Mas, como a escola aparece na 116ª posição da lista de docentes com doutorado, cai para o terceiro no ranking de ensino. A ESPM tem 31% de doutores; a USP conta com 99%. "Buscamos professores que sejam atuantes no mercado de trabalho, e dificilmente eles têm doutorado", afirma o pró-reitor de graduação da ESPM, Marcelo D'Emídio. "Mas à medida que haja mais profissionais com titulação, vamos atrás deles. É o perfil que buscamos." Os dois subindicadores foram usados em conjunto apenas no ranking geral de universidades. Na análise dos 30 cursos que mais formam, o item dedicação integral deixou de ser adotado por falta de dados do Inep-MEC. 09/09/13 2062 ESPECIAL Emprego Particulares apostam em convênios Instituições privadas investem em estágio e em atualizações nos currículos para obter sucesso entre empresas FERNANDA MENA Flexibilidade para atualizar projetos pedagógicos de cursos, avaliação constante de aulas/professores e programas de estágios robustos, que aproximam alunos de empresas e instituições de ensino. São essas as três características comuns às universidades privadas que estão no ranking das dez instituições de ensino superior com maior aceitação no mercado de trabalho nas 30 carreiras analisadas pelo RUF. O Datafolha perguntou a 1.681 executivos da área de recursos humanos de empresas de todo o Brasil de quais universidades eram os formandos que suas organizações mais contratavam. A lista das mais citadas (veja ao lado), encabeçada pela USP, traz a Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM) na segunda posição, a Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) na quarta colocação, a PUC-Minas no sexto lugar e a Universidade Paulista (Unip) em nono lugar do ranking de mercado. "Essas instituições têm o benefício de colocar no mercado um grande número de alunos. Ainda assim, as três práticas citadas por elas são, de fato, importantes para que tenham preferência no mercado de trabalho", avalia Romário Davel, consultor educacional da Hoper. "Instituições antenadas que flexibilizam os programas de seus cursos podem torná-los mais atrativos a quem emprega. Um sistema de controle de qualidade do conteúdo ministrado em aula é, portanto, fundamental também. E um projeto de estágios aproxima os alunos de quem pode empregá-los." Nona colocada na classificação do mercado de trabalho, a Unip tem cerca de 170 mil alunos, dos quais mais de 70 mil frequentam cursos à distância. Para o reitor João Carlos Di Genio, no entanto, não foi o volume de formandos que colocou a instituição entre as dez mais citadas pelas áreas de recursos humanos das empresas. "Há outras instituições com tantos estudantes quanto nós em São Paulo e que não foram tão citadas", defende. "Sempre estivemos voltados para o mercado e o futuro das profissões, cujas mudanças são ditadas pela economia e pelas medidas do governo. Atualizamos nossos cursos em função dessas diretrizes." A vice-reitora, Marília Ancona Lopes, cita o caso do curso de pedagogia, que ganhou disciplinas lecionadas via internet para familiarizar os alunos a novas plataformas de ensino e de relacionamento com alunos. A UPM (Universidade Presbiteriana Mackenzie) credita sua classificação a uma combinação que tem como elemento-chave o programa de estágios. Foi por meio dele que, em 2012, mais de 16 mil contratos de estágio para os cerca de 40 mil alunos do Mackenzie foram assinados. "Fomos os primeiros a criar um programa oficial de estágios no Brasil, ainda nos anos 1920", conta o reitor Benedito Guimarães. Bolsas de auxílio-pesquisa, laboratórios, incubadora de empresas júnior e eventos de recrutamento também são citados como parte deste resultado. Para a reitora da PUC-SP, Ana Cintra, o sistema de avaliação do corpo docente da universidade, que passou a incluir pareceres dos alunos, ajuda a manter a instituição neste ranking. "A tradição e a história da PUC pesam bastante também", avalia. Para a vice-reitora da PUCMinas, Patrícia Bernardes, é preciso que universidade e mercado dialoguem mais, já que são as empresas que lidam com inovação e produtividade e que geram a renda do país. "Para aumentar produtividade e competitividade do Brasil é necessário que as universidades falem um pouco mais a linguagem do mercado", diz. "O desafio da universidade é fazer com que a aproximação dos alunos com o mercado se dê com a maior qualidade possível." 09/09/13 2063 ESPECIAL É essencial desenvolver informações melhores da universidade Ensinar e aprender são mais difíceis de quantificar. Faltam ferramentas para comparar a qualidade do ensino de diferentes disciplinas SIMON MARGINSON Há muito em jogo no ensino superior. Governos e público esperam, com razão, que as universidades elevem o nível nacional de capacitação, fomentando a modernização continuada e o avanço da prosperidade. Pesquisas produzidas em universidades enfrentam grandes problemas humanos, como saúde pública, projeto urbano, segurança de alimentos e água e mudança do clima. Ao mesmo tempo, a pesquisa tem papel cada vez mais central nas economias propelidas pelas inovações em produtos e marketing -e a ciência e o estudo se tornaram grandes instrumentos de desenvolvimento regional e de melhoria da vida urbana. O surgimento de ensino e pesquisa de classe mundial é um dos traços principais nas duas grandes zonas de desenvolvimento acelerado do século 21, a América Latina e o leste da Ásia. A crescente força das universidades do Brasil é tanto sintoma quanto causa da crescente força do Brasil no cenário mundial. A USP é uma instituição de primeira linha em termos de ciência e desempenho acadêmico. Outras universidades brasileiras também estão começando a ganhar importância internacional. As escolas de primeira linha são poderosas concentrações de talento, criatividade, percepção, ideias e desenvolvimento de produtos. É crucial que o Brasil desenvolva mais instituições como essas. Os países sem universidades de classe mundial se verão cada vez mais sujeitos a agendas determinadas fora de suas fronteiras. A fraqueza na educação e na ciência significa neocolonização e dependência. Mais e mais famílias desejam saber quais as melhores universidades para seus filhos. Público, governo e empresas querem saber quais devem ser foco de investimento e como as instituições brasileiras se comparam às universidades de outros países, e umas às outras. Tudo isso torna essencial o desenvolvimento de informações melhores sobre as universidades. Trata-se de instituições complexas, com muitos papéis e muitas formas de produção. Uma maneira de enquadrar as informações é classificá-las em comparação direta, com critérios determinados pelos diferentes elementos da atividade universitária: ensino e aprendizado, pesquisa, inclusão social, conexões internacionais e assim por diante. Com seu ranking de universidades brasileiras, a Folha fez exatamente isso. O ranking resume um problema complexo em termos claros e simples. Mas esse processo também tem seus limites e pontos fracos, e é importante tê-los em mente. Muitas vezes, os rankings combinam dados objetivos -fatos observáveis, tais como o número de alunos e de estudos publicados ou as verbas investidas- a fatores subjetivos, baseados em pesquisas. Pesquisas de opinião, quer entre leigos, quer entre especialistas, sempre se baseiam em informações parciais, distorcidas e imprecisas. Não podemos depender delas para oferecer comparações precisas entre instituições. Dados sólidos e observáveis são muito mais úteis. ENSINAR E APRENDER Os rankings medem algumas formas de produção universitária de maneira mais completa e precisa que outras. Os indicadores de pesquisa em termos de número de estudos publicados, e do impacto desses estudos com base no número médio de citações acadêmicas, são relevantes e têm base sólida. Mas esses indicadores não nos dizem tudo sobre a relevância social e econômica e o impacto das pesquisas. Continua Continuação 09/09/13 Ensinar e aprender são muito mais difíceis de quantificar. Faltam-nos ferramentas para comparar precisamente a qualidade do ensino de diferentes disciplinas universitárias, quanto mais para comparar uma universidade à outra, ou países inteiros. Podemos medir os recursos materiais investidos, mas não a qualidade das aulas e seus efeitos a longo prazo sobre o avanço na capacitação dos estudantes. Indicadores de internacionalização e de contribuições das universidades à inovação capturam apenas pequena porção das ricas atividades que essas rubricas abarcam. Isso não significa que sejam inválidos, mas que os rankings devem ser tratados como uma dentre diversas fontes possíveis de informação. Surgem outros problemas quando esses diferentes elementos são combinados em um índice e tabela de classificação únicos. Para combinar os diferentes elementos, é preciso desenvolver um sistema de ponderação. Ponderar é um processo estimativo, e o ranking combinado resultante tem pouco valor objetivo. Essa é uma área na qual o processo de ranking envolve simplificação excessiva. É melhor classificar universidades em termos de indicadores únicos do que de indicadores combinados. A despeito desses problemas, as comparações e rankings universitários são um setor em crescimento. O debate sobre a precisão e validade dos indicadores fomenta uma cultura de melhora na mensuração. No futuro, devemos ter novas formas de rankings universitários, bem como melhora continuada na qualidade das comparações. SIMON MARGINSON é professor de educação superior no Centro de Estudos do Ensino Superior da Universidade de Melbourne. Tradução de MIGLIACCI umo da PAULO 09/09/13 TEC 2064 Crescem sites de venda de aulas virtuais Udemy, baseado nos EUA e fundado por turcos, alcança a 1 milhão de estudantes; espanhol Floqq chega ao país Professores adaptam material usado em sala para vídeos curtos; alunos podem discutir entre si e fazer questões YURI GONZAGA DE SÃO PAULO Lançado em 2010, o site Udemy, uma plataforma para que professores vendam suas aulas em vídeo, vem ganhando popularidade e crescendo recentemente. Em junho, anunciou que havia chegado a 800 mil estudantes. No mês passado, a marca atingida foi de 1 milhão --incremento de 25% em dois meses. Um dos fatores que colaboraram para tal crescimento foi a adição de nove línguas, inclusive o português -agora, brasileiros compõem a segunda maior nacionalidade do site, atrás dos americanos. "A globalização é um fator muito importante", diz Eren Bali, 28, diretor e cofundador do Udemy. "Diferentemente do que ocorre em uma sala de aula, quanto mais alunos há em um curso virtual, melhor: há mais interação e eles fazem e respondem perguntas." Quem decide usar o site para aprender precisa fazer um rápido cadastro e escolher entre os 8 mil cursos disponíveis, que vão de malabarismo a programação na linguagem Ruby on Rails. Há exercícios e, em alguns, certificado. A maioria é paga e custa de US$ 10 a US$ 300, mas também há aulas grátis, como é o caso do curso em inglês "Brasil para iniciantes", lecionado por Marshall Eakin, 50, professor da Universidade Vanderbilt, de Nashville, Tennessee (EUA), que tem 2.847 inscritos. "Essencialmente, o que fiz foi adaptar um curso de 15 semanas que dou sobre história do Brasil para 15 vídeo-aulas de 20 minutos cada", diz. "Então é bastante denso." O curso de Eakin faz parte do Faculty Project, promovido pelo próprio Udemy, que tem outra dúzia de cursos gratuitos. "Os comentários vêm sendo avassaladoramente positivos", conta. Já o curitibano Alessio Alionço, 26, optou por cobrar US$ 49 por cada um de seus cursos de administração, que adaptou para a internet durante um período em que ficou sem trabalhar na empresa que dirige, a Acessozero, porque estava doente. Cerca de um ano e 700 alunos depois, Alionço elogia a praticidade do site. "É mais completo que os treinamentos presenciais que eu fazia, porque tem conteúdo interativo. O pessoal gosta muito." Segundo a empresa, os professores que criaram os dez cursos mais populares no site já faturaram US$ 5 milhões em conjunto. FLOQQ Com cerca de 50 mil usuários na Espanha, país de origem, o site Floqq, com uma ideia parecida à do Udemy, desembarcou no país recentemente e já tem 32 cursos em português, segundo o gerente de operação para o Brasil, Robson Rodrigues, 28. "Recomendamos [para os professores] que o preço não passe de R$ 50. Queremos democratizar a educação", diz. 09/09/13 2065 TEC Google terá serviço de ensino colaborativo DE SÃO PAULO A gigante de buscas está prestes a lançar uma plataforma que vai "conectar pessoas que precisam de ajuda com pessoas que podem fornecer ajuda, através de videochamadas ao vivo, a qualquer hora, em qualquer lugar", segundo descrição no site oficial da ferramenta. Com o serviço, usuários poderão oferecer aulas e tutoriais em tempo real sobre diversos temas, de culinária a física quântica. Cobrar pela sessão ou ministrála gratuitamente depende do criador do Helpout. Mas todas as transações devem ser realizadas por meio da Wallet, sistema de pagamento eletrônico do Google -- a empresa sempre ficará com 20% do valor estipulado. Além disso, para usar a plataforma, seja como "professor" ou espectador, é preciso uma conta na rede social Google+, que pode ser criada durante a inscrição no Helpouts. As exigências indicam um esforço do Google em arrebatar mais usuários para esses serviços, normalmente ignorados se comparados a alternativas mais populares. Não há previsão para o Helpouts ir ao ar. Mas a empresa diz estar convidando especialistas em diversos temas a fim de preparar o serviço para o lançamento. 09/09/13 2066 Projeto que ensina crianças a programar chega ao Brasil DE SÃO PAULO O projeto britânico Code Club, criado no ano passado para ensinar programação como atividade extracurricular a crianças de 9 a 11 anos, deve começar a engrenar no Brasil em breve. "Tenho tentado mobilizar ao máximo as coisas, e cada vez mais gente se mostra interessada", diz o responsável por trazer a iniciativa ao país, Everton Hermann, 31. As primeiras aulas estão sendo coordenadas por voluntários em duas instituições do Rio de Janeiro e via Skype por Hermann para uma escola de Braga (RS). "Muita gente só consome conteúdo na internet, em vez de também criar algo, enquanto a demanda por profissionais da área só aumenta." A ideia é que os grupos tenham uma hora de aula por semana, em grupos de 12 crianças. Todo o trabalho tem como base o voluntariado. Segundo Hermann, apesar de o material (traduzido do inglês) ter sido pensado para crianças, há bons resultados com estudantes do ensino médio e mesmo entre adultos. Quem quiser tocar um Code Club local pode saber mais em codeclubbrasil.org. (YG) TEC 09/09/13 2067 METRÓPOLE USP atrasa bolsas e prejudica acesso de pesquisadores Paulo Saldanha e Edilson Veiga A Universidade de São Paulo (USP) atrasou desde junho o pagamento de auxílios de pesquisa a 30 acadêmicos do Brasil e de outros países que fazem parte de um projeto da instituição, O Programa de Pesquisa nos Acervos da USP. Ao todo, a universidade deveria ter pago R$ 350 mil aos pesquisadores, mas até agora ninguém recebeu. O programa é de responsabilidade das pró-reitorias de Pesquisa, de Pós-Graduação e de Cultura e Extensão da USP e os auxílios serão pagos com orçamento da própria universidade. A proposta do edital, lançado em janeiro, é que os pesquisadores de nível de mestrado, doutorado e pósdoutorado pudessem realizar estudos nos cinco acervos da USP. As atividades deveriam começar em junho deste ano e poderiam variar de 3 a 5 meses, para serem finalizadas até 30 de novembro. Como há vários pesquisadores que ainda não começaram por causa da não liberação da verba, não será possível finalizar os projetos no prazo previsto no edital do programa. A historiadora brasileira Ana Claudia Fonseca Brefe, de 46 anos, foi uma das prejudicadas. Ela mora há 15 anos na França, ande é próreitora de pesquisa ia Universidade Paris 10, e foi uma das selecionadas no programa. "Adiantei do próprio bolso o valor da passagem e os custos de estadia, uma prática recorrente, queria cumprir prazos", diz. "O auxílio era para ter saído dia 1º de junho, mas nem explicam o motivo do atraso." Ana Claudia já realizou seus estudos com acervo do Museu Paulista (o do Ipiranga) e voltou na sexta-feira para Paris. "Parece que estamos esmolando alguma coisa, mas eu fui selecionada pela qualidade do meu projeto. O que nos deixa surpreendidos é que não tem absolutamente nenhuma resposta de ninguém da USP." Há outros pesquisadores renomados que já realizaram a pesquisa mesmo sem poder contar com os auxílios. Foi o caso de um professor de Literatura de Harvard, o mexicano Sérgio Delgado Moya. Bolsista no Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), Moya voltou aos Estados Unidos sem receber nada. Burocracia - Uma pesquisadora de São Paulo, doutora pela USP, diz que até agora não teve nenhuma notícia de quando vai receber, apesar de ter entrado em contato com yários departamentos. "Me disseram que estava havendo problemas burocráticos alheios à USP e que a universidade entraria em contato quando fosse resolvido", explica ela, que pediu para não ser identificada. Com o atraso, ela resolveu começar a pesquisa neste mês. "É a primeira vez que vejo alguém ser aprovado . no edital que a universidade criou, tem projeto, e não sabe o que fazer." Questionada pela reportagem na sexta-feira, a USP informou que os pagamentos foram autorizados naquele dia. "Após receber informações detalhadas dos programas das referidas pró-reitorias e constatado fluxo de caixa positivo, foram autorizados os pagamentos." Segundo nota da universidade, as pró-reitorias estabeleceram o programa baseando-se em seus orçamentos, mas "como o orçamento é uma previsão genérica, é necessário, para a feitura de pagamentos, a existência de fluxo de caixa". Segundo a USP informou, a maior integração entre as próreitorias e os órgãos centrais da USP, encarregados da administração e pagamentos, "eliminaria incômodos desse tipo". Continua Continuação 09/09/13 09/09/13 2068 METRÓPOLE 11/09/13 2 BRASIL 2069 CONFIDENCIAL por Paulo Moreira Leite * A Secretaria de Educação do Pará avalia projeto para incluir na grade do ensino médio noções de fiscalização das contas públicas. CORREIO BRAZILIENSE 08/09/13 2070 BRASIL O lento avanço do ensino médio Apesar das promessas, governo ainda não consegue atrair estudantes para as carreiras de professor ou de pesquisador GRASIELLE CASTRO A população brasileira nunca mais terá tantos jovens quanto agora. O alerta dado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no mês passado lembrou que o país deveria lançar mão dos jovens de hoje para construir a riqueza do Brasil de amanhã. O primeiro passo, a melhora da qualidade da educação, entretanto, está em marcha lenta. Há um ano, quando foi divulgado o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que revelou a estagnação do ensino médio, o governo federal anunciou uma reforma que, até agora, praticamente não saiu do papel. No bloco de propostas do Ministério da Educação (MEC) e do Conselho Nacional de Secretários de Educação (Cosned), estava incluída a renovação do currículo e a mudança dos conteúdos para tornálos mais atrativos aos adolescentes. Os órgãos dizem que trabalham em um novo desenho para o ensino médio e que há uma série de ações em curso. Especialistas pedem urgência nessa modernização e mais incentivos aos estudantes que queiram investir na carreira de professor. Autor de um artigo sobre a reforma feita na década de 1990, o professor da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) João dos Reis Silva Júnior destaca que a principal mudança tem que ser feita na formação dos docentes. Ele cita um estudo da Fundação Carlos Chagas (FCC) que aponta que os alunos valorizam a profissão, mas buscam outra carreira por causa do baixo prestígio e da remuneração pouco atraente. “Além de não querer ser professor, o estudante, quando chega no ensino superior, não consegue acompanhar o ritmo, por melhor que seja o curso de formação de docentes. E não consegue porque a formação escolar foi ruim. O índice de evasão na licenciatura é elevadíssimo”, avalia. E quem se forma, segundo ele, não vai dar aulas no ensino público. “Por isso, pode reformar o ensino médio o quanto quiser. Se não melhorar o ensino superior, não resolve”, diz o acadêmico, pessimista. Outra preocupação de Reis Silva é com o modelo educacional, cada vez mais alinhado com o mercado de trabalho. “A prioridade na pesquisa aplicada em detrimento da ciência humana e a demanda por profissionais do setor produtivo fazem com que as universidades não sejam boas”, avalia. Segundo o professor, um exemplo é o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec). “Em vez de investir no ensino público de qualidade, o governo dá bolsa para o aluno cursar em um instituto privado”, analisa. O professor, entretanto, destaca que o processo de renovação dessa fase do ensino é constante. “No governo Fernando Henrique, vivemos outro período de mudanças, que foi da educação infantil até a pós-graduação”, acrescenta. Segundo ele, mesmo com dificuldades, a necessidade de atualização continua recorrente. A diretora executiva do Movimento Todos pela Educação, Priscila Cruz, reforça os pedidos por mudanças já. “É evidente que precisamos mudar. Conseguimos ter algum avanço, mas muito lento. Não adianta muito termos bons indicadores nos anos iniciais para, no fim, os estudantes perderem o fôlego.” A educadora, entretanto, ressalta que mudanças sólidas como as que o ensino médio precisam não são feitas do dia para a noite. “Tem que ser estruturante porque o sistema tem um desenho que não tem respondido às políticas públicas. Essa é uma responsabilidade dos estados, que têm uma atuação muito limitada. Por isso, o governo federal é peçachave.” Novos programas O Ministério da Educação, por outro lado, assegura que tem feito uma série de ações com o objetivo de consolidar as políticas de Continua Continuação 08/09/13 reformulação do ensino médio. Destaca a ampliação de escolas em tempo integral, do Pronatec e do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Entre as propostas que devem sair em breve do papel estão os programas “Quero ser cientista” e “Quero ser professor”. De acordo com o MEC, a ideia é estimular o estudo das disciplinas do ensino médio e incentivar a prática da docência. A previsão inicial é ofertar 30 mil bolsas em 2014 para estudantes do ensino médio. A pasta acrescenta que tem debatido a questão com o Consed. Representante do conselho, a secretária de Educação do Ceará, Izola Cela, diz que os indicadores apontam para a necessidade de mudanças urgentes. Ela lembra que os alunos chegam ao 1º ano do ensino médio com uma base escolar absolutamente fragilizada. Frisa ainda que esses estudantes são jovens, “mais vulneráveis ainda aos contextos sociais problemáticos e com demandas de renda e de sobrevivência”. O MEC reconhece, porém, que o ensino médio ainda é um grande desafio. “Por isso, o ministério continuará trabalhando intensamente, em parceria com as redes de ensino, para superar gargalos históricos, como a adequação idade/série para jovens de 15 a 17 anos que ainda estão no ensino fundamental, bem como a busca ativa de mais de 900 mil jovens de 15 a 17 anos que ainda estão fora da escola”, promete a pasta, em nota. Continua Continuação 08/09/13 CORREIO BRAZILIENSE 08/09/13 2071 BRASIL Estados inovam recuperação têm a possibilidade de reforço no chamado contraturno. O novo sistema, entretanto, é alvo de severas críticas de especialistas, diretores de escolas e professores. O principal argumento é que a sociedade não foi convidada para debater as mudanças. Escola de ensino médio em Samambaia: Justiça suspendeu a aplicação do currículo novo a pedido do MP Sem diretrizes do governo federal e diante dos números alarmantes, alguns secretários de Educação promoveram reformas por conta própria no ensino médio, como no Rio Grande do Sul e no Distrito Federal. No DF, foi adotada a semestralidade no pacote de renovação de toda a educação básica batizado de Currículo em Movimento. Com a mudança, os estudantes passaram a dedicar metade do ano ao estudo de ciências exatas e a outra metade a disciplinas da área das ciências humanas. Apenas as aulas de português e matemática continuam sendo ministradas ao longo de todo o ano letivo. Os estudantes que ficam de O Ministério Público moveu uma ação e, em resposta, a Justiça suspendeu a aplicação do currículo novo. Ainda assim, escolas como o Centro de Ensino Médio 111 do Recanto das Emas e mais 41 instituições que aderiram às mudanças permanecem no sistema novo. A Secretaria de Educação recorreu da liminar. Em nota, a secretaria informou que o novo titular da pasta, Marcelo Aguiar, se reunirá com o MEC e com a Justiça para defender a continuidade da implantação do sistema de semestralidade na rede pública de ensino do DF: “A intenção é dar continuidade à ação, mas estendendo mais o diálogo com a comunidade escolar, com o Ministério Público e com a Justiça”. No Rio Grande do Sul, as disciplinas passaram a ser englobadas em um rol de áreas do conhecimento. Essa mudança foi sugerida pelo próprio ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O secretário de Educação do estado, José Clóvis de Azevedo, tem argumentado que a mudança combate a evasão e a repetência. Ele acredita que, dessa forma, o ensino se aproxima da realidade do aluno. Memória Reforma na promessa Em agosto do ano passado, dias após a divulgação do resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), o ministro Aloizio Mercadante anunciou que em dois meses apresentaria uma proposta de reforma para o ensino médio com o propósito de reformar a etapa mais delicada da educação básica. Na época, a principal proposta sugerida foi a de redesenho curricular, com adequação das disciplinas ao que é exigido no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). O projeto transforma as 13 disciplinas obrigatórias em quatro áreas do conhecimento. A novidade, entretanto, já era antiga. Na época, o Correio informou que a mudança já tinha sido publicada no Diário Oficial da União oito meses antes, em janeiro daquele ano. Uma das críticas ao sistema integrado de disciplinas é a dificuldade na formação do professor multidisicplinar. CORREIO BRAZILIENSE 08/09/13 2072 CIDADES Receitas de sucesso nas escolas resultados também foram notados após a redução de alunos por turma e na adequação dos projetos de ensino às necessidades de cada região. Guiado por um estudo da Universidade Católica de Brasília (UCB), o Correio visitou três instituições de ensino fundamental que desenvolveram modelos de sucesso. Diretoras e alunos da Escola Classe 314 Sul: incentivo à participação dos pais na rotina do colégio para alcançar resultados importantes no aprendizado Com criatividade e inovações no projeto pedagógico, alguns colégios da rede pública alcançam notas acima da média nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do Ministério da Educação. Pelo menos três instituições são vistas como exemplos às demais » MANOELA ALCÂNTARA É raro encontrar uma família que confie a educação dos filhos a um colégio público por escolha e não por necessidade. Com a degradação do ensino gratuito no cenário nacional, muitos acreditam que os estudantes terão uma formação deficiente, especialmente nos primeiros anos de vida escolar. Mas algumas das 402 instituições de ensino fundamental do DF provaram o contrário. Alcançaram notas acima da média nacional no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), medido pelo Ministério da Educação, sem terem privilégio sobre as demais. Nenhuma delas recebeu verba extra do governo ou funciona em palacetes. Trabalham contra todas as dificuldades. Ainda assim, encontraram a excelência por meio do comprometimento de gestores e professores, além de apostar em ações criativas. O segredo é simples. É uma soma entre o envolvimento ativo dos pais, as políticas pedagógicas regidas por metas e as avaliações de erros para a construção de acertos. Melhores Uma delas é a Escola Classe 03, do Paranoá. Mesmo instalada em uma cidade periférica e pobre, a instituição alcançou nota 6,7, similar ao índice médio do ensino privado no DF, de 6,8. Entre 783 alunos atendidos, ali, está Luana Cristina Damasceno, 10 anos. Em oito meses, ela leu nove publicações. “A cada livro, conheço um mundo diferente. Vim de uma escola sem esse tipo de incentivo. Aqui, aprendi mais palavras e melhorei a interpretação”, disse. A paixão de Luana pelo hábito nasceu no espaço construído a duras penas, no centro de ensino sediado há 20 anos num local que era para ser provisório. Só saiu do papel com o dinheiro de bazares e de festas organizadas pela instituição. O incentivo à leitura foi uma aposta da direção para fortalecer a formação dos estudantes. “Não somos uma escola de 1.001 projetos. Escolhemos um, no caso, a leitura, para ser o ponto forte. Os alunos devem saber interpretar uma diversidade de gêneros textuais, Continua Continuação desde a literatura até uma bula de remédio”, detalha o vice-diretor da instituição, Cássio de Azevedo Guedes. Luana, da Escola Classe 03, do Paranoá: nove livros em oito meses A Escola Classe 03 não conta com vários requisitos necessários para o bom desempenho. Metade dos computadores do laboratório de informática está quebrada, aguardando uma manutenção do MEC, que parece não chegar nunca. Em dias quentes, as telhas de amianto fazem a temperatura das salas de aula alcançar os 40 graus. Ainda assim, o colégio aparece entre os melhores do DF. A escola é acompanhada pelo Núcleo de Ensino, Aprendizagem e Formação de Professores da UCB. Coordenadora da pesquisa, a professora Lêda Gonçalves investiga o desenvolvimento humano em contextos socioeducativos diversos e quis ver de perto o porquê dos índices positivos. “Em uma das instituições que concluímos a pesquisa, observamos o desenvolvimento de um projeto pedagógico com metas, independentemente da gestão. O foco é o aprendizado por meio da provocação dos estudantes, 08/09/13 contribuindo para o desenvolvimento da autonomia deles. Não é somente um professor copiando a matéria no quadro”, detalhou. Em Taguatinga, em meio a tantas escolas com rendimentos acadêmicos fracos, a Escola Classe 39 é uma ilustre exceção. O Ideb da instituição é 6,8, enquanto a avaliação de outros centros de ensino da mesma cidade não passa de 4,0. Lá, um dos fatores de sucesso é o estabelecimento de metas educacionais. O projeto pedagógico é feito a longo prazo e, não, anualmente. O diagnóstico de determinados erros acontece periodicamente, impedindo a repetição deles no futuro. “Não há milagre na educação. Uma fórmula nova não é criada para mudar tudo como num passe de mágica. As experiências com questionários respondidos por professores, pedagogos, pais e alunos causam uma reflexão, que, posteriormente, é transformada em ação”, explicou a vice-diretora, Karine Silva Pereira. Luana, da Escola Classe 03, do Paranoá: nove livros em oito meses Um exemplo: há dois anos, uma das avaliações expôs a deficiência no aprendizado de matemática. A solução foi matricular os professores em um curso na Escola de Aperfeiçoamento dos Profissionais da Educação (Eape), da Secretaria de Educação. “Surtiu resultado, identificamos novos métodos de ensinar e incentivar os alunos”, completou Karine. Participação Na 4º e na 5º série, o primeiro lugar no ranking do Ideb no DF ficou com a Escola Classe 314 Sul. Os 7,1 pontos obtidos na Prova Brasil — base para formular o exame — são bem superiores aos 5,0 alcançados no país e à média de 5,7 do DF (veja ilustração). Um dos pilares do bom desempenho é a interação da equipe e a participação da família no ensino. Para se ter ideia da intensidade do envolvimento dos pais com o ambiente escolar, a frequência de participação deles em reuniões com os professores supera 80%, raridade até mesmo nas escolas particulares. “Eles complementam o trabalho realizado em sala de aula, participam de todas as etapas da vida do aluno na escola e sugerem melhorias. Isso aumenta em 60% o aprendizado das crianças”, exemplificou a diretora, Sandra Niel de Melo. Embora seja uma rede, as boas práticas, no entanto, não se repetem em todas os colégios. Entre as 336 pesquisadas pelo MEC, 253 apenas alcançaram a média do DF. A coordenadora do Ensino Fundamental da Secretaria de Educação, Kátia Franca, ressalta que a capacitação dos professores é feita, mas a direção e as ações pessoais fazem a diferença. “As escolas têm autonomia. Alguns Continua 08/09/13 Continuação fatores contribuem para isso: as iniciativas individuais, a formação dos gestores e a participação da comunidade no ambiente escolar”, enumerou. subordinado à Diretoria de Ensino e Instrução (DEI), pertencente ao Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (CBMDF) e não recebe verba do governo para fazer manutenção. Colaborou Ariadne Sakkis Destaque Ela está abaixo somente do Colégio Militar Dom Pedro II, que adquiriu a média 7,2. Mesmo assim, a Escola Classe 314 Sul pode ser considerada a primeira pública porque a outra tem caráter híbrido (pública e privada). O colégio é "As escolas têm autonomia. Alguns fatores contribuem para isso: as iniciativas individuais, a formação dos gestores e a participação da comunidade no ambiente escolar” Kátia Franca, coordenadora do Ensino Fundamental da Secretaria de Educação CORREIO BRAZILIENSE 08/09/13 TRABALHO 2073 Caminho para o emprego Baixa educação escolar básica compromete a competitividade do país. Estudantes saem do ensino médio sem preparação para o mundo do trabalho » MARIANA NIEDERAUER O cargo de operador de telemarketing não era o emprego dos sonhos de Lucian Rocha Medeiros, 22 anos. “Mas só com o ensino médio, foi o que deu para arranjar”, reconhece. Depois de um ano e meio na função ele decidiu aprimorar o currículo e alcançar uma vaga melhor. Logo surgiu a oportunidade de fazer o curso técnico de segurança do trabalho no Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) de Taguatinga e o jovem juntou as economias e se matriculou. “Vou sair daqui tendo uma profissão, e pretendo conseguir um emprego o mais rápido possível”, relata. Ele cursou toda a educação básica em escola pública e sentiu falta de conhecimentos que pudessem ser aplicados na prática. Esse é o mesmo sentimento de Gabriella Araújo de Freitas, 18 anos, estudante do curso de técnico em edificações. “O ensino superior tem muito teoria. Na parte prática, o técnico às vezes sabe até um pouco mais. Juntando os dois é melhor ainda”, diz ela, que pretende emendar o curso técnico com uma graduação em engenharia civil. Com o grande número de construções por toda a cidade, o Senai não para de receber ligações de empresários em busca de profissionais qualificados nesses dois cursos. Para reduzir a carência de mão de obra qualificada, a Confederação Nacional da Indústria (CNI) lançará, no próximo mês, o projeto Educação para o Mundo do Trabalho, um conjunto de ações para melhorar o desempenho dos jovens e dos trabalhadores em língua portuguesa e em matemática. O projeto é voltado para três grupos: pessoas de 18 e 24 anos que estão no ensino médio ou que não estudam nem trabalham, e trabalhadores da indústria que não possuem ensino médio (veja o quadro). Durante todo o mês de agosto, foram promovidas reuniões estaduais para mobilizar empresários, governos, organizações não governamentais, jovens e pais a aderirem à iniciativa. No DF, a expectativa é de que em outubro já haja uma definição de onde serão oferecidos cursos. “Nós queremos fazer com que quem trabalha com educação esteja voltado para quem busca esse profissional para o mercado de trabalho”, explica Walquíria Aires, diretora da Fibra e embaixadora do projeto Educação para o Mundo do Trabalho em Brasília. Meta distante O coordenador de Educação e Tecnologia da CNI Rafael Lucchesi acredita que um dos principais entraves é fato de a estrutura educacional brasileira ser muito diferente da de países desenvolvidos. Enquanto na Alemanha 52% da população teve acesso à educação profissional, no Brasil, essa taxa é de apenas 9%. Na opinião do especialista, é preciso que se estabeleçam pontes mais significativas entre o sistema educacional e o mundo do trabalho. “A maioria dos jovens não vai para a universidade, e eles não têm uma porta de saída instrumentalizada. No Brasil existe um domínio do sistema academicista, que prepara como se todos os alunos fossem para a universidade, mas nem todos vão.” No governo federal, a orientação é centralizar todas as ações relacionadas à educação para o mundo do trabalho no Programa de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), criado em 2011. A meta é ofertar 8 milhões de vagas em cursos de educação profissional e tecnológica até 2014. Até agosto deste ano, foram oferecidas cerca de 4,2 milhões. Continua 08/09/13 Continuação Mesmo o modelo alemão, considerado uma das referências em educação profissional no mundo, passa por um período de reestruturação. De acordo com a professora da Universidade Estadual do Ceará (UECE) Francisca Rejane Bezerra Andrade, que fez o pósdoutorado sobre o impacto da política de educação profissional para os jovens em situação de vulnerabilidade social no Brasil e na Alemanha, o sistema dual de educação profissional do país europeu — que integra a educação básica ao ensino profissional — está em decadência, pois a maioria dos jovens não se interessa em participar. O processo de repensar o sistema educacional deve ser constante, segunda a especialista. No caso do Brasil, ela explica que o esforço para se qualificar a população economicamente ativa começou na década de 1990 e agora é o momento de avaliar os resultados para ter uma proposta mais sólida no futuro. “Já temos bastante experiência para desenvolver uma política efetiva. O que falta é uma avaliação continuada, que inclua a análise do processo de formação, e não só do egresso”, ressalta. Francisca destaca, no entanto, que muitas pessoas saem dos cursos de qualificação de curta duração e não conseguem emprego, porque não adquiriram outras competências essenciais, como comunicação, autonomia e conhecimentos sobre a organização do trabalho. “O que o mercado está solicitando hoje é um trabalhador completo e, muitas vezes, os cursos não atendem essa demanda”, afirma. Um dos pontoschave para garantir que o trabalhador adquira essas competências é oferecer uma educação básica de qualidade, o que ainda é um dos gargalos do país. Os resultados da Prova ABC, divulgados em junho pelo movimento Todos pela Educação, mostraram que cerca de 70% dos alunos do 3º ano do ensino fundamental não dominam o português nem a matemática. Recomeço Para quem não terminou o ciclo básico de ensino, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma opção de continuar os estudos e ascender profissionalmente. A coordenadora da EJA na Secretaria de Educação do DF, Leila Maria de Jesus, explica que essa modalidade de ensino é pensada justamente para a classe trabalhadora. O papel da escola é resgatar o conhecimento que ele tem e dialogar com as disciplinas básicas, como matemática e português, dando um novo sentido ao saber do próprio indivíduo. “Nós estamos numa sociedade letrada e numerizada. No momento em que o estudante passa a decifrar o código e a interpretá-lo, ele se sente mais independente para pegar um ônibus, escrever uma carta, preencher formulários. Para o trabalhador, essa independência gera autoestima e segurança”, destaca. É o caso de Elizabeth Martins, 58 anos, dona de uma loja de materiais esportivos na Feira do Guará. Filha de comerciante, ela sempre foi uma boa vendedora, mas com a morte do marido precisou aprender a gerenciar o negócio. Matriculou-se no Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) da Escola Técnica de Ceilândia, que oferece EJA integrada à educação profissional em curso a distância. Esse semestre, ela receberá a certificação de conclusão do ensino médio e terá uma nova profissão: a de técnico em administração. “Antes, eu não entendia nada do negócio. Com o curso, eu mudei meu jeito de negociar e agora sei lidar com o banco e cuidar da parte financeira. Já até expandi o negócio”, conta. Colega de Elizabeth no Proeja em Ceilândia, no curso de técnico em informática, Aldenivea Rodrigues Sousa, 43 anos, decidiu aproveitar todas as chances que estão ao seu alcance. Depois que voltou a estudar, sentiu-se segura para fazer a prova do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) no ano passado e, além de já ter garantido a certificação de conclusão do ensino médio, conseguiu uma das 240 mil vagas oferecidas pelo Sistema de Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica (Sisutec) e vai estudar no curso de técnico em informática do Centro Universitário Iesb. “O estudo abre a nossa mente. Nunca é tarde para isso. Pretendo continuar estudando sempre”, relata. Continua 08/09/13 Continuação Capacite-se Pronatec » Engloba atualmente todas as ações do governo com relação a educação para o trabalho: Bolsaformação Estudante e Trabalhador, Brasil Profissionalizado, Proeja integrado ao ensino técnico e cursos gratuitos na Rede Federal de Educação Profisssional e Tecnológica, na rede e-TecBrasil — cursos técnicos e de formação inicial e continuada ou de qualificação profissional na modalidade a distância — e no Sistema S. » Vagas: até 16 de setembro estão abertas as inscrições para as vagas remanescentes do Sisutec. No DF, há oportunidades para os cursos técnicos de serviços de restaurante e bar, panificação, design de jóias, redes de computadores, cuidados de idosos, vestuário, informática, programação de jogos digitais, design de calçados, agente comunitário de saúde e informática para internet. No site do programa ainda há oportunidades para cursos técnicos concomitantes e de qualificação profissional. » Requisitos: ter cursado ensino médio em escola pública ou com bolsa integral na rede particular. Os inscritos têm o prazo de dois dias úteis para fazer a matrícula na instituição. » Inscrições: pronatec.mec.gov.br Oportunidades no DF Qualificopa e Projovem Trabalhador Os dois programas são de responsabilidade da Secretaria de Trabalho. O Qualificopa oferece cursos de qualificação com módulos de inglês e de espanhol. Para ambos, a previsão é de que o novo período de inscrições seja aberto no início de 2014. Informações pelo site www.trabalho.df.gov.br DF Profissionalizado Também está incluído no Pronatec e tem como objetivo fazer a articulação entre os entes ofertantes e demandantes do programa. Informções no site www.dfprofissionalizado.df.gov.br Instituto Federal Brasília (IFB) Programa Jovem Aprendiz Por meio do programa do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) o IFB oferece o curso de auxiliar de mecânico de auto, voltado para jovens de 18 a 23 anos e que tenham concluído o ensino médio. Inscrições até 12 de setembro pelo site processoseletivo.ifb.edu.br. Pronatec O IFB também está com 550 vagas abertas, por meio do Pronatec, para o cursos como inglês, espanhol, auxiliar administrativo, recepcionista, balconista de farmácia, organizador de eventos. Os interessados devem fazer uma pré-matrícula no site pronatec.mec.gov.br/inscricao e depois levar a documentação na unidade de ensino escolhida. Pronatec Copa Estão abertas 69 vagas nos cursos de espanhol e inglês aplicados a serviços turísticos e camareira do IFB por meio do programa. Os interessados podem fazer prématrícula no site do Pronatec ou se inscrever na Diretoria de Qualificação e Certificação da Secretaria de Turismo do DF, por meio dos telefones 3214-2797 ou 3214-2764. Na Setur, também é possível se candidatar para o cadastro reserva de turmas futuras do programa. É preciso ter 18 anos, ensino fundamental incompleto e residir no DF. Senai e Senac Além dos cursos gratuitos oferecidos pelo Pronatec, o Senai e o Senac oferecem cursos pagos de qualificação profissional. Informações pelos sites www.sistemafibra.org.br/senai e www.senacdf.com.br. CORREIO BRAZILIENSE 08/09/13 2074 TRABALHO Futuro incerto Falta de experiência e de qualificação dificulta a colocação de jovens no mercado, mas eles são a mão de obra de que o país precisa para garantir o desenvolvimento nas próximas décadas » MARIANA NIEDAERUER Renato faz um curso técnico e outro tecnológico para melhorar o currículo A taxa elevada de desemprego entre a população jovem surge como consequência da falta de qualificação. Enquanto o índice de desocupação total ficou em 5,8% no mês de junho, entre os jovens de 18 a 24 anos o número sobre para 14,1%, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O quadro não é muito diferente em outros países, inclusive nas nações desenvolvidas. A inexperiência dessa faixa da população compromete a empregabilidade no início da carreira, principalmente na hora de encontrar o primeiro emprego. Porém, diante da necessidade de se ter mão de obra qualificada para sustentar o crescimento brasileiro, esses jovens surgem como a principal esperança. Renato Gurgel, 21 anos, percebeu a dificuldade em entrar no mercado de trabalho assim que terminou o ensino médio. A busca por um emprego foi frustrada e ele só conseguiu a contratação depois de ter sido indicado para uma vaga na área de informática. Mesmo assim, ficou insatisfeito com as funções que podia exercer com a pouca qualificação que tinha. Hoje, Renato faz o curso de técnico em informática na Escola Técnica de Ceilândia e o de tecnólogo em redes em uma faculdade particular. “Comecei porque gostava de trabalhar na área, mas não ganhava bem, e decidi melhorar o currículo”, conta. Mudança “Nós temos no Brasil um contingente significativo de jovens que não estudam nem trabalham. Não estamos dando perspectiva para esses jovens”, comenta o diretor de Educação e Tecnologia da CNI, Rafael Lucchesi. “Precisamos ter um modelo educacional que dialogue melhor com a juventude e que corrija a nossa matriz educacional”, completa. Ele lembra que o país passa por uma veloz mudança demográfica. A taxa de natalidade tem caído rapidamente, o que gera o envelhecimento da população. Essa semana, o ministro-chefe interino da Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) e presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Marcelo Neri, também mostrou preocupação com a questão. Ele acredita que a população jovem brasileira, de 15 a 29 anos, que hoje soma 51 milhões, será a maior da história do país. Esse bônus demográfico, como é chamado, deve durar até 2022, quando o número de jovens começará a diminuir gradativamente. Por isso, especialistas destacam a importância de aproveitar a onda jovem e qualificar essa parcela da população para que ajude a aumentar a produtividade do país. “O Brasil não pode se dar ao luxo de perder sucessivas gerações porque o sistema educacional não prepara a população”, atesta Lucchesi, da CNI. Para Josbertini Virginio Clementino, diretor do Departamento de Políticas de Trabalho e Emprego para Juventude do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), é importante que a qualificação oferecida esteja em concordância com áreas estratégicas, para que a mão de obra não seja desperdiçada. Clementino lembra que o jovem que está fora da escola e do mundo trabalho tende a ir para a criminalidade. De acordo Continua Continuação 08/09/13 com o Ipea, o país perde R$ 79 bilhões ao ano por causa da morte de jovens. “Tem que se enxergar o jovem como um grande sócio do desenvolvimento que se busca para o país, porque, se você não investe na juventude, ela passa a ser um elemento impeditivo do crescimento.” A diretora de Juventude da ONG Ação Educativa, Maria Virgínia, destaca que a educação para o mundo trabalho é fundamental para que os jovens tenham uma inserção de maior qualidade no mercado. Porém, ela critica o fato de a oferta desse tipo de qualificação ter se concentrado em cursos profissionalizantes, de curta duração. “A educação para o trabalho deve permitir aos jovens uma compreensão mais ampla do trabalho em nossa sociedade: acerca de sua organização, dos processos em transformação, das desigualdades que o caracterizam e dos diversos tipos de formação profissional existentes, por exemplo”, explica. Ela critica ainda a posição de empresários, que não estariam dispostos a arcar com o custo de uma formação profissional, e defende que o peso de sustentar o crescimento do país não deve ficar apenas com os jovens. “Não creio que a saída esteja nas mãos dos jovens, pois não se trata de um problema individual. Esse é um problema social, que tem de ser enfrentado enquanto tal, com políticas adequadas.” JORNAL DE BRASÍLIA 08/09/13 2075 ECONOMIA JORNAL DE BRASÍLIA 08/09/13 2076 OLHO NO ECA JORNAL DE BRASÍLIA 08/09/13 2077 CIDADES 07/09/13 2078 MIRIAM LEITÃO A festa do livro A Bienal do Livro do Rio termina amanhã confirmando seu papel de principal evento literário do Brasil. É uma delícia passear nos seus corredores e entrar nos estandes, vendo as pessoas carregando suas sacolinhas; algumas chegam com mala de rodinha. Só no sábado passado passaram por lá 90 mil pessoas com uma enorme presença de crianças e jovens. Segundo Sônia Jardim, presidente da Comissão Organizadora do evento e do Sindicato Nacional dos Editores de Livros, o maior desafio nestes 30 anos da Bienal é sempre se renovar. O negócio do livro está em transformação com o livro digital para um futuro ainda desconhecido, mas quem vai a uma bienal sai com a impressão de que — qualquer que seja o formato — o livro não vai acabar. Estandes de livro físico predominam, mas os cantos virtuais ficam lotados de jovens experimentando as novas plataformas e fazendo a mesma busca que se vê nos pontos tradicionais. — A tendência é essa e o brasileiro gosta de tecnologia, mas hoje os digitais são apenas 0,01% dos livros vendidos no Brasil. Nos Estados Unidos, eles já representam 25% das vendas e no Reino Unido, 12% — diz Sônia. Na Bienal do Rio, a expectativa é de 600 mil pessoas ao todo nos onze dias, e venda de dois milhões e meio de exemplares com R$ 58 milhões de faturamento. Mas com tudo isso, o dono da rede Travessa, Rui Campos, não acha que as bienais, festivais, salões e eventos literários tirem público das livrarias. — As livrarias estão num bom momento porque se renovaram. No primeiro livro que eu comprei, meu pai me levou num lugar onde tinha um balcão e eu pedi ao vendedor que me entregasse o livro que queria. Hoje, a livraria é o lugar onde as pessoas vão para estar conectadas, ver as tendências, se encontrar, tem restaurante, um café. A pessoa vai para ter intimidade com o livro e assim se cria demanda. Outro dia, eu estava na loja e vi umas 20 pessoas sentadas lendo, como se fosse uma biblioteca, e duas estavam sem sapato, como se estivessem em casa. As livrarias viraram lugares lindos. Conversei com Sônia e Rui dentro da Bienal, pegando emprestado o espaço da Mulher e Ponto, para improvisar um estúdio. Depois andamos, a equipe da Globo-news, os entrevistados e eu, no meio dos corredores e encontramos todo o tipo de leitor. O absorto no livro de papel, o experimentador digital, o pesquisador, a criançada correndo atrás do ídolo. Uma festa. Nessa mudança de modelo de negócios, as empresas ainda estão tentando se encontrar e grandes companhias estão chegando ao mercado, mas segundo Rui Campos, a sua loja virtual, que comercializa o livro de papel, mas vendido online, já é a terceira maior em faturamento, e as lojas físicas não reduziram as vendas. Mas não e fácil. Muita gente pensa que não tem custo. Tem sim. O pessoal mais caro é o que tem o domínio da tecnologia para fazer funcionar um sistema que é complexo. Sônia Jardim acha que no Brasil é preciso resguardar os direitos autorais num mundo que tem a impressão de que tudo que há na internet é de graça. Ninguém sabe muito bem o que será o futuro do livro, mas Sônia disse que na última bienal, 49% dos visitantes tinham entre 14 e 29 anos. Rui afirma que as pessoas que amam o livro não sabem viver sem ele e lembrou Millôr: "um livro leva a outro" Continua Continuação 07/09/13 — Se ele acabasse, eu procuraria um traficante que me entregasse o mais novo exemplar porque eu quero ler a vida inteira. Vamos fazer o maior esforço para que o digital vingue, mas isso não é o fim do livro. Minha impressão também é esta. O livro — digital ou físico — vai existir sempre. Ele é mais do que a plataforma em que está. Com Valéria Maniero Os pontos chave 1 - Na Bienal, os estandes de livro físico predominam, mas há leitores de todas as tribos pelos corredores. 2 - Dois milhões e meio de exemplares devem ser vendidos, com R$ 58 milhões de faturamento. 3 - Ninguém sabe muito bem qual será o futuro do livro, mas digital ou físico, ele não morrerá. 07/09/13 2 0 7 9 NEGÓCIOS & CIA P&D A Statoil, de energia, fechou com o Ciência Sem Fronteiras, programa de MCTTe MEC. Na 1ª fase, financiará 62 bolsas de pósgraduações no exterior. É aporte de RS 15 milhões. 07/09/13 2080 O PAÍS Curso da UFRJ inova ao adotar cotas para mestrado e doutorado Pós-graduação em Antropologia Social terá duas vagas para negros e duas para indígenas Leonardo Vieira As cotas para pós-graduação já são realidade no curso de Antropologia Social do Museu Nacional, da UFRJ. Na próxima semana sairá a lista dos 29 aprovados no concurso para mestrado e doutorado do curso. Há uma vaga para negros e outra para indígenas no mestrado, e uma vaga para negros e outra para indígenas no doutorado. A iniciativa é pioneira na pósgraduação e saiu do papel em fevereiro deste ano, quando foi aberto o processo seletivo. As cadeiras reservadas aos cotistas foram adicionadas ao total de 25 já existentes (15 para mestrado e 10 para doutorado), não tendo sido necessário suprimir vagas dos candidatos que disputam o concurso sem estarem inscritos como cotistas. De acordo com João Pacheco, subcoordenador de ensino da pós do Museu Nacional, os cotistas trarão mais conhecimento e diversidade cultural aos cursos. Segundo ele, o departamento optou pelas cotas após debates entre professores e alunos, que acabaram chegando ao consenso. Pacheco garante que a política de cotas não reduzirá a qualidade do ensino na pós-graduação. — Chega a ser até um pouco de preconceito (esse pensamento). Na seleção, nós não avaliamos só o mérito, mas também sistemas de exclusão em toda a sociedade. O mecanismo de exclusão começa na escola primária, e na pós, onde trabalho, é o último momento — disse Pacheco. Mas as regras mudam para os cotistas. Quem se declarar negro passará pelo mesmo processo seletivo, mas terá nota corte de cinco pontos, dois a menos que os candidatos da ampla concorrência. Para os estudantes indígenas, basta levar um currículo e fazer uma entrevista com a banca examinadora do concurso. 07/09/13 2081 COTIDIANO Ao menos 44 estudantes passam mal após comer merenda escolar Segundo pais e alunos de escola estadual da zona sul, foi servido um suco de caixinha vencido Crianças foram levadas a hospitais, medicadas e a maioria foi liberada; secretaria afirma que vai investigar o caso DO "AGORA" Ao menos 44 alunos da Escola Estadual Condomínio Vargem Grande 2, em Parelheiros (zona sul), passaram mal ontem de manhã, após a distribuição da merenda. Segundo pais e estudantes, eles tomaram um suco que venceu no dia 27 de julho. Os alunos foram levados a unidades de saúde, medicados e liberados. Apenas três permaneciam em observação até a conclusão desta edição. Logo após o recreio, segundo relato dos alunos, algumas crianças que tinham tomado o suco de caixinha, sabor manga, distribuído com a merenda, começaram a reclamar de dores abdominais e de cabeça. Parte delas vomitou. Segundo a Secretaria Municipal da Saúde, 33 crianças foram encaminhadas pelo Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) a hospitais e 11 foram levadas pelos pais à AMA (Assistência Médica Ambulatorial). "Eu tomei o suco e dez minutos depois comecei a ter dores de barriga. Em seguida vomitei", contou Evelyn Oliveira de Lira, 11, da 6ª série, que tomou soro no hospital. Aluna da tarde, Marília Silva Queiróz, 15, afirma que tomou suco de manga anteontem e passou mal à noite. "Mesmo assim decidi vir para a escola. Quando cheguei, vomitei", conta ela, que estava com o pai, Francisco Gonçalves Queiróz, 63, ontem à tarde, na AMA Parelheiros. Às 15h, alunos e moradores exibiam na porta da escola ao menos três caixas de sucos de manga com vencimento de 27 de julho de 2013. Revoltados, alguns jogaram pedras e chutaram o portão da escola, que tem 1.600 alunos. A Polícia Militar foi chamada e controlou o protesto. As aulas foram suspensas ontem. OUTRO LADO A Secretaria de Estado da Educação afirmou, por meio de nota, que vai apurar a conduta dos funcionários da escola e da empresa responsável pela merenda. A pasta não divulgou o nome da empresa nem o valor do contrato da terceirizada com o governo do Estado. De acordo com a secretaria, a Vigilância Sanitária foi chamada para analisar a merenda e o suco -o laudo deve sair em 30 dias. Se forem constatadas irregularidades, diz a pasta, serão tomadas "todas as medidas cabíveis, entre elas a suspensão do contrato". A secretaria informou ainda que, logo após os alunos começarem a passar mal, a direção do colégio chamou o Samu, que levou os estudantes para hospitais da região "por precaução". Os alunos, de acordo com o órgão, foram acompanhados por representantes da escola até serem liberados pelos médicos. 07/09/13 2082 COTIDIANO SÃO PAULO Estado vai ampliar o número de escolas de período integral em 2014 DE SÃO PAULO - Cerca de 2.000 professores e gestores da rede estadual de São Paulo serão selecionados para trabalhar nas escolas de período integral a partir de 2014. Segundo a Secretaria de Educação, o número de unidades que seguem esse modelo vai aumentar dos atuais 69 para 178 no próximo ano. Os profissionais interessados deverão se cadastrar pela internet (www.educacao.sp.gov.br) entre os dias 11 de setembro e 4 de outubro. A pasta aponta que deve ampliar em 40% o número de alunos beneficiados pelos programas que estendem o período de permanência nas escolas. Apenas nas escolas com novo modelo de regime integral, o número de estudantes atendidos deverá chegar a 53 mil. Com outras ações, o total de alunos que passam média oito horas na escola será de 596 mil. 07/09/13 2083 NOTAS & INFORMAÇÕES Cotas na pós-graduação Depois de implantar o sistema de cotas para negros e índios em seus cursos de graduação, as universidades públicas começam a adotar o mesmo sistema no mestrado e doutorado. É esse o caso, por exemplo, do curso de antropologia social do Museu Nacional, da UFRJ. Em 2014, ele reservará duas vagas para indígenas. Para os candidatos negros serão reservados 20% das vagas e a nota de corte será menor do que a dos demais concorrentes. Não é só fazer justiça social. É uma experiência importante para a área de antropologia, que se propõe a estudar o outro", afirma o professor João Pacheco, subcoordena-dor do programa de pós-graduação do Museu Nacional. Na Universidade de Brasília, a reserva de 20% das vagas para alunos negros no mestrado e doutorado em sociologia foi aprovada em julho, mas ainda depende do aval do Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão. Na Universidade do Estado da Bahia, 40% das vagas dos cursos de pós-graduação são reservadas para negros e 5% para indígenas. Apesar de ser historicamente refratária ao sistema de cotas na graduação, a USP fixou um terço das vagas de seu programa de pós-graduação em Direitos Humanos para negros, indígenas e pobres. Embora o Ministério da Educação não imponha políticas de ação afirmativa na pós-graduação, dando às instituições de ensino superior liberdade para fazer o que julgarem mais conveniente em matéria de qualificação para pesquisa científica, as universidades públicas invocam estatísticas do IBGE para justificar a adoção de políticas afirmativas na pós-graduação. Segundo o órgão, apesar de negros e pardos representarem 51% da população, só 18,8% dos brasileiros com mestrado pertencem a esse grupo étnico. Entre os doutores, a proporção é de 14,6%. "É preciso abrir mais portas da pós-graduação para excluídos. Falta um pacto nacional para resolver o problema", afirma o coordenador da ONG Educa-fro, frei David Santos. Esse argumento, contudo, não procede. Como o sistema de pós-graduação stricto sensu foi adotado nas universidades com o objetivo de qualificar o corpo docente do ensino superior e expandir a pesquisa científica, para assegurar a inovação tecnológica no País, o acesso ao mestrado e doutorado está obrigatoriamente baseado no princípio da competência. Em outras palavras, se a ênfase no mérito for abrandada ou relativizada em nome da "justiça social", a pós-graduação perderá eficiência. Os mecanismos de avaliação dos mestrados e doutorados implantados nos últimos 16 anos perderão sentido. A qualidade da pesquisa científica estará em risco. E as consequências serão sofridas por toda a sociedade - inclusive pelos segmentos mais desfavorecidos. Como o País poderá adotar novas tecnologias, modernizar o parque produtivo e conquistar mais espaço no mercado internacional -medidas fundamentais para gerar novos postos de trabalho, incorporar as novas gerações na economia formal e assegurar inclusão social - sem as pesquisas científicas e os programas de qualificação acadêmica de uma pósgraduação baseados no princípio da competência? Depois da adoção das cotas nos mestrados e doutorados, quais seriam os próximos passos? Assegurar cotas de emprego em laboratórios e salas de aula para pósgraduados sem a devida qualificação? Com a decisão de adotar políticas de ação afirmativa na pós-graduação, as universidades públicas agitam bandeiras mais vistosas do que eficazes. Prometem fazer justiça social, "democratizando" o acesso aos mestrados e doutorados. Mas se esquecem de que os problemas de injustiça social têm origem na educação fundamental e média, e não no ensino superior. O funil do ensino não está na graduação ou na pós-graduação, mas na formação deficiente no ensino básico. Se o ensino básico proporcionasse educação de qualidade, os setores mais desfavorecidos teriam a formação técnica e o preparo intelectual necessários para ingressar por mérito próprio em qualquer curso de pós-graduação. 07/09/13 2084 METRÓPOLE 07/09/13 2085 METRÓPOLE 44 crianças passam mal em escola de Parelheiros Secretaria de Educação afirma que 'uma equipe foi designada para apurar o que pode ter ocorrido' Mônica Reolom - O Estado de S. Paulo SÃO PAULO - Quarenta e quatro crianças entre 10 e 16 anos tiveram dores abdominais e vômito na manhã desta sexta-feira, 6, na Escola Estadual Vargem Grande II, em Parelheiros, zona sul de São Paulo. A suspeita é de que os alunos tenham ingerido comida contaminada na escola. A Secretaria Estadual de Educação informou, por meio de nota, que as crianças passam bem e que "uma equipe foi designada para apurar o que pode ter ocorrido". Na quinta-feira, 5, em Sorocaba, pelo menos 14 alunos passaram mal depois de comer a merenda servida na Escola Estadual Antonio Miguel Pereira Júnior. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde, 33 crianças foram encaminhadas à AMA Parelheiros ou foram distribuídas por três hospitais no Jabaquara, no Grajaú e em Pedreiras. Até as 19h30 desta sexta-feira, 3 crianças continuavam internadas no Hospital Geral do Grajaú. "A Secretaria da Educação do Estado esclarece que a direção da Escola Estadual Vargem Grande II acionou o Samu por precaução após alguns alunos apresentarem mal-estar na manhã desta sextafeira. Os pais também foram chamados à unidade. As crianças foram atendidas e passam bem. Uma equipe foi designada para apurar o que pode ter ocorrido", diz a pasta em nota. 07/09/13 2 0 8 6 DIRETO DA FONTE Sonia Racy Sala de aula O governo federal quer que os professores do ensino técnico passem por aperfeiçoamento da formação pedagógica - e firmou parceria com o Centro Paula Souza. O órgão do governo de São Paulo será responsável pelo curso, que terá 600 vagas este ano. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/13 2087 BRASIL SÃO PAULO » Intoxicação leva dezenas de alunos para hospital Mais de 40 alunos de uma escola pública de São Paulo foram hospitalizados com sintomas de intoxicação alimentar. De acordo com as apurações iniciais, os estudantes — que vomitaram muito e reclamaram de fortes dores abdominais — podem ter passado mal após ingerir algum alimento contaminado no horário da merenda. Outra suspeita recai sobre o prazo de validade do suco de caixinha que foi oferecido. Os sintomas apareceram depois que as crianças, que têm entre 12 e 14 anos, fizeram um lanche na manhã de ontem na Escola Estadual Vargem Grande II, no bairro de Parelheiros, Zona Sul da capital paulista. A Secretaria de Educação do estado anunciou que vai apurar a conduta dos funcionários da escola e da empresa contratada para distribuir a merenda escolar. Em nota, a Secretaria de Educação estadual alerta que a vigilância sanitária foi acionada e que, caso sejam constatadas irregularidades, “todas as medidas cabíveis serão tomadas, entre elas, até a suspensão do contrato (da empresa que fornece a merenda)”. “A Secretaria da Educação do estado esclarece que a direção da Escola Estadual Vargem Grande II acionou o Samu por precaução, após alguns alunos apresentarem mal-estar na manhã desta sexta-feira. Os pais também foram chamados à unidade. As crianças foram atendidas e passam bem. Uma equipe foi designada para apurar o que pode ter ocorrido”, destaca a Secretaria em nota enviada à imprensa. Segundo informações da Polícia Militar, uma funcionária da escola pode ter dado aos estudantes, por engano, um lote vencido de suco industrializado. Esse foi o segundo episódio de intoxicação de crianças registrado esta semana, em São Paulo. Na quinta-feira, 14 estudantes da Escola Estadual Antônio Miguel Pereira Júnior também passaram mal depois de consumir a merenda. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/13 2088 ECONOMIA Taxa de inscrição rende R$ 400 milhões a bancas Empresas que organizam concursos públicos cobram caro, mas, na maioria das vezes, oferecem serviços de baixa qualidade » ANTONIO TEMÓTEO » LORENA PACHECO Do Correioweb Alexandre e Rafael dizem que o despreparo das empresas é um dos assuntos mais comentados entre os concurseiros Organizar concursos públicos no país se transformou em algo tão lucrativo quanto a exploração de minas de ouro. De 2011 até meados deste ano, cinco bancas faturaram 90% dos R$ 404,6 milhões arrecadados apenas com o pagamento de inscrições de candidatos que almejam uma vaga no serviço público federal (veja arte). Levantamento feito pelo Correio aponta que o Cespe, a Cesgranrio, a Fundação Carlos Chagas (FCC), a Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Escola de Administração Fazendária (Esaf) concentram o mercado desse tipo de seleção. Denominado como “empresa sem fins lucrativos”, o Cespe foi o campeão de faturamento entre as empresas que organizam certames. Recebeu R$ 118,3 milhões no período, 29,2% do total. Em segundo lugar, está a Cesgranrio, com uma arrecadação de R$ 101,2 milhões, mais de 25%. Somente as duas detêm mais de 50% da indústria dos concursos e são consideradas referências na elaboração de processos seletivos para cargos federais. Para chegar aos números apresentados, a reportagem multiplicou o valor médio das inscrições pelo número de candidatos que garantiram o direito de concorrer a uma vaga. Na avaliação da diretora executiva da Associação Nacional de Proteção e Apoio aos Concursos (Anpac), Maria Thereza Sombra, o custo elevado das inscrições e o faturamento das bancas não correspondem à qualidade dos exames. Para ela, as empresas não têm mão de obra qualificada e ainda oferecem aos candidatos acomodações desconfortáveis durante as provas. Maria Thereza não vê solução para o problema enquanto não houver normas que acabem com os custos elevados e com a desorganização dos concursos. “Existem no país mais de 100 bancas. Esse número é exorbitante. Faltam critérios até para se montar uma entidade com essa finalidade. Isso se reflete em provas com qualidade duvidosa e abre precedente para fraudes”, completa. Fiscalização O advogado e especialista em concursos públicos Alessandro Dantas Coutinho defende que os órgãos de controle, como o Ministério Público Federal (MPF) e o Tribunal de Contas da União (TCU), além das próprias instituições que contratam as organizadoras, fiscalizem a conduta delas. “Medidas enérgicas precisam ser tomadas. A primeira é proibir as bancas de elaborarem certames quando o histórico for de baixa qualidade”, diz. Enquanto nada é feito, a dentista Renata de Vasconcelos, 33 anos, decidiu abrir mão de concursos com preços abusivos. Ela ressalta que é cada vez mais difícil arcar com os custos para estudar e com os boletos que dão direito a disputar uma vaga. “Gostaria de fazer todas as provas, mas não é possível, porque é muito caro”, ressalta. Continua Continuação 07/09/13 Por meio de nota, a FGV afirma que concursos de caráter estadual ou nacional exigem forte infraestrutura logística e equipamentos de alta tecnologia para a segurança. A organizadora também ressalta que a ocorrência de problemas está bem abaixo dos parâmetros esperados para exames de tamanha abrangência. O Cespe afirmou que o montante arrecadado com as taxas de inscrição é usado para cobrir as despesas dos concursos públicos e para manter a estrutura do centro. A Cesgranrio informou apenas que não recebe repasse do governo federal para organizar certames e que os valores das inscrições estabelecidos nos editais são gastos na elaboração e na aplicação das provas. Procuradas, a Fundação Carlos Chagas e a Esaf não se pronunciaram até o fechamento desta edição. CORREIO BRAZILIENSE 07/09/13 CIDADES 2089 EDUCAÇÃO » MEC descredencia a Alvorada Decisão do ministério será publicada no Diário Oficial da União de segunda-feira. Com isso, a faculdade perde os direitos de funcionamento. A pasta convocará instituições de ensino para absorverem os cerca de 4 mil alunos » MANOELA ALCÂNTARA A Faculdade Alvorada chegou a anunciar, no site oficial, a retomada das atividades acadêmicas, o que não foi autorizado pelo MEC A Faculdade Alvorada foi descredenciada. Na segunda-feira, o Ministério da Educação publicará no Diário Oficial da União (DOU) dois despachos: um para expor a perda dos direitos de funcionamento e outro para facilitar a transferência dos cerca de 4 mil alunos que estudam no local. A decisão foi tomada devido às denúncias de problemas trabalhistas e administrativos, e por conta das reclamações dos estudantes. A ação de despejo do prédio da 516 Norte, em 26 de julho, em decorrência de uma dívida de R$ 30 milhões, também influenciou o MEC. A instituição de ensino superior precisava decidir novos locais onde as atividades letivas seriam retomadas, mas apresentou endereço sem comprovação, o que gerou mais um motivo para o entendimento de que a Alvorada não tem condições de voltar a ministrar aulas. 915 Sul, entre outros. Porém, nada disso está autorizado pelo MEC. No segundo despacho a ser publicado na segunda-feira, o órgão procura uma solução para todos os que iniciaram um curso na Alvorada, mas não sabem o que farão para aproveitar os créditos já terminados e concluir o nível superior. Todas as informações foram colhidas pelo MEC após abertura de um processo administrativo. Em nota, o órgão explicou a decisão. “É decorrente da qualidade acadêmica deficiente da instituição, do comprometimento da sua situação econômico-financeira, da ausência de condições adequadas de instalações físicas, da falta de um plano viável para continuar ofertando seus cursos e do descumprimento das normas de regulação da educação superior”, diz o documento. Além disso, foi apurado que aulas estavam ocorrendo em endereços que não eram os mesmos apresentados ao MEC. Um novo procedimento pode agilizar a vida dos que desconhecem o destino. A Política de Transferência Assistida (PTA) será uma das possibilidades abertas pelo MEC para que outras instituições credenciadas absorvam imediatamente os estudantes. Em até cinco dias úteis, a partir da publicação do despacho, será divulgado edital convocando as instituições de educação superior do DF. “Essa iniciativa tem o objetivo de garantir a continuidade dos estudos, o aproveitamento curricular, a permanência em programas federais, e as condições satisfatórias de qualidade de oferta da educação superior e economicamente compatíveis aos estudantes em situação de transferência acadêmica”, informa a nota do ministério. A decisão diverge do anunciado no site da Alvorada. Em letras garrafais, a instituição informa a retomada das atividades acadêmicas no mesmo dia em que o descredenciamento ocorrerá. O reinício dos trabalhos prevê aulas no Colégio Imaculada Conceição, na 606 Sul, no Edfício Parlamundi, na Dilema A situação atual dos que iniciaram um curso na faculdade é difícil. De acordo com o diretor de universidades da União Nacional dos Estudantes (UNE), Wanderson Continua Continuação Maia, o dilema está em conseguir a documentação para se matricularem em outras instituições. “A Justiça acompanha o caso e já solicitou a liberação de históricos, das declarações. Porém, o prédio onde funcionava a Alvorada está fechado, a área administrativa não funciona. Eles vivem um dilema”, informou. Maia lembra que a UNE auxilia os estudantes e formou grupos para ingressar com ações coletivas. Eles vão pedir, pelo menos, os danos morais pelos transtornos causados. O representante ressalta a necessidade de verificar a situação da próxima faculdade que essas pessoas escolherão para concluir o ensino superior. “Existem muitas com pendências. A Uneb, que ocupará o prédio na Asa Norte, é uma delas. Tem dívidas a serem pagas. Eles devem analisar para não sofrerem o 07/09/13 mesmo problema depois”, indicou. Procurado para comentar a situação, o advogado da Alvorada, Raul Fernandes, informou que estava em Vitória (ES) e não poderia responder pela faculdade. Histórico Em 19 de julho, o Despacho nº 134 da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior, do Ministério da Educação, já havia determinado medidas cautelares para a faculdade. Entre elas, estava a suspensão imediata da admissão de novos alunos, seja por meio de processo seletivo (vestibular), seja por transferência de outras instituições de ensino superior, bem como a suspensão de todos os processos regulatórios para abertura de novas vagas, unidades, cursos, entre outros. JORNAL DE BRASÍLIA 07/09/13 2090 DO ALTO DA TORRE JORNAL DE BRASÍLIA 07/09/13 2091 BRASIL JORNAL DE BRASÍLIA 07/09/13 2092 BRASIL JORNAL DE BRASÍLIA 07/09/13 2093 CIDADES LUTA OLÍMPICA Esporte pela cidadania Continua Continuação 07/09/13