O IMPACTO AMBIENTAL E O MANEJO DO LIXO AMBULATORIAL E DOMÉSTICO RELACINADO À ODONTOLOGIA NO MUNICÍPIO DE GETÚLIO VARGAS, RS: Descarte dos Resíduos Líquidos Resultantes dos Procedimentos Odontológicos ÁVILA, Sigrid Guilherme Bechi de¹ OLIVEIRA, Lesiandra Ferraz de¹ RAHMEIER, Letícia Gauer¹ SKOVRONSKI, Gracieli Angélica¹ BORGHETTI, Vanessa Isabela² CASTELAN, Gleice² SANTOS, Tiago Lange dos² MAHL, Deise Luiza² PIEROZAN, Morgana Karin² ZAIONS, Ana Paula D. R. E.² e-mail: [email protected] Resumo: É importante que os profissionais de saúde conheçam os processos de descarte dos resíduos líquidos dos tratamentos odontológicos. O descarte incorreto gera danos ao meio ambiente, além de causarem riscos à saúde humana. Com o intuito de saber qual o destino dado aos resíduos líquidos dos procedimentos odontológicos e o impacto no meio ambiente, foi realizada uma pesquisa no município de Getúlio Vargas, RS, foram entrevistados 16 profissionais Cirurgiões Dentistas, dos quais 14 aceitaram participar. A pesquisa buscou saber qual o destino dado aos líquidos do revelador e fixador radiográfico, da água e óleo do compressor e dos líquidos dos tratamentos endodônticos. Os resultados mostraram que a maioria não utiliza esses líquidos, dentre os que utilizam a maioria faz o descarte de forma inapropriada, despejando, muitas vezes, no esgoto ou lixo comum sem o tratamento prévio necessário. Independente dos estudos realizados a respeito do descarte dos resíduos líquidos, ainda há muito que fazer a respeito do estudo sobre a identificação, análise e gerenciamento destes resíduos. Palavras-chave: resíduos líquidos, componentes químicos, legislação. Abstract: It is important that health professionals know the disposal processes of liquid waste of the dental treatment. The improper disposal creates environmental damage, in addition to causing risks to human health. In order to know the destination of the liquid waste from dental procedures and the impact on the environment, it was performed a research in the Getúlio Vargas city - RS, were interviewed 16 professionals Dental Surgeons, of whose 14 agreed to participate. The research sought to know the destination of the liquid developer and radiographic fixative, water and compressor oil and liquids of endodontic treatments. The results showed that the majority does not use these liquids, among those using most do dispose inappropriately, dumping, often the common sewer or waste without the required prior treatment. Regardless of studies concerning the disposal of liquid waste, there is still much to do about the study on the identification, analysis and management of these wastes. Keywords: waste, chemicals, legislation. ¹-Discentes do Nível ll do Curso de Odontologia da Faculdade IDEAU. ²-Docentes do Curso de Odontologia da Faculdade IDEAU. 2 1 INTRODUÇÃO Para a realização deste trabalho foram coletados dados na cidade de Getúlio Vargas, RS, durante um período de quatro semanas. A cidade possui uma população de 16.154 habitantes pelo censo do IBGE 2010. Através de um cálculo estatístico, foram entrevistados 365 indivíduos e 16 profissionais de Odontologia, sendo que 14 profissionais participaram. A pesquisa constou da formulação de questionários, com as seguintes perguntas para a população: 1)Qual a frequência de troca de escova dental em média na família?; 2)Qual é o hábito de escovação dos dentes da família?; 3)Utilizam creme dental durante as escovações?; 4)Utilizam o fio dental?; 5)Utilizam o palito de dentes?; 6)Qual a frequência da utilização do fio dental na família?; 7)Aonde são descartadas as escovas dentais após o uso?; 8)Após terminar o creme dental, aonde descarta o recipiente (tubo de creme)?; 9)Após utilizar o fio dental, aonde o descarta?; 10)Após terminar o colutório, aonde descarta o recipiente (frasco)?. Para os profissionais de Odontologia foram feitas as seguintes perguntas: 1)Qual é o destino dados aos materiais perfuro-cortantes?; 2)Qual é o destino dados aos tecidos duros e moles?; 3)Qual é destino dos resíduos sólidos, resultantes dos procedimentos odontológicos?; 4)Qual é o destino dos resíduos líquidos resultantes dos procedimentos odontológicos?; 5)Qual é o destino dado ao instrumental inutilizado?. Esta pesquisa objetivou demonstrar como é feito o descarte dos resíduos provenientes de consultórios odontológicos pelos profissionais bem como o uso e descarte de materiais de higiene bucal pela população. Ficou a cargo deste trabalho falar sobre o descarte dos resíduos líquidos resultantes dos procedimentos odontológicos. A OMS (Organização Mundial da Saúde) define os resíduos de serviço de saúde como: “Resíduo de serviço de saúde, é todo aquele gerado por prestadores de assistência médica, odontológica, laboratorial, farmacêutica, instituições de ensino e pesquisa médica, relacionadas à população humana, bem como veterinário, possuindo potencial risco, em função da presença de materiais biológicos capazes de causar infecção, produtos químicos perigosos, objetos perfuro-cortantes efetiva ou potencialmente contaminado e mesmo rejeitos radioativos, necessitando de cuidados específicos de acondicionamento, transporte, armazenamento, coleta e tratamento” (ANDRADE, 1995). É de responsabilidade do Cirurgião-Dentista o cumprimento das normas de qualidade e segurança quanto ao radiodiagnóstico e descarte de resíduos gerados pelo atendimento. Devido ao aumento do conhecimento dos riscos e do potencial de causar danos à saúde e ao meio ambiente pelo lixo gerado em estabelecimentos de saúde é que, a legislação que 3 rege o descarte, a coleta e o destino final de resíduos biológicos e/ou quimicamente contaminados vem sendo aperfeiçoada. Há um conjunto de leis, normas e portarias regulamentando o manejo destes resíduos. Esta legislação determina que todo estabelecimento de serviço de saúde elabore e execute seu PGRSS (Plano de Gerenciamento de Resíduos de Serviço de Saúde) como uma ferramenta para tornar mínimos os impactos ambientais e riscos gerados por eles. Porém, a grande maioria dos profissionais descarta esses resíduos na rede de esgoto sem tratamento anterior, muitas vezes por não saberem da toxicidade destes resíduos e nem do descarte correto. Os profissionais conhecem pouco sobre a legislação vigente sobre o assunto, sobre as tecnologias para o tratamento, além do pouco interesse sobre o assunto. A orientação deve ocorrer ainda no meio acadêmico (SANTANA e FERREIRA, 2008). O descarte inadequado de resíduos tem produzido passivos ambientais capazes de colocar em risco e comprometer os recursos naturais e a qualidade de vida dos atuais e futuras gerações. E os RSS (Resíduos de Serviço de Saúde) se inserem dentro dessa problemática e veem assumindo grande importância nos últimos anos (BRASIL, 2006). Esses resíduos causam risco aquático e terrestre. Contaminam o solo e as águas subterrâneas e superficiais. A Resolução CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente), classifica os resíduos dos serviços de saúde em grupos A, B, C, D, E. II-Grupo B: Resíduos contendo substâncias químicas que podem apresentar risco à saúde pública ou ao meio ambiente, dependendo de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade e toxicidade. Produtos hormonais e produtos antimicrobianos; citostáticos; antineoplásicos; imunossupressores; digitálicos; imunomodulares; anti-retrovirais, quando descartados por serviços de saúde, farmácias, drogarias e distribuidores de medicamentos ou apreendidos e os resíduos e insumos farmacêuticos dos medicamentos controlados pela Portaria MS 344/98 e suas atualizações; resíduos de saneamentos, desinfetantes, desinfestantes; resíduos contendo metais pesados; reagentes para laboratórios, inclusive os recipientes contaminados por estes; efluentes de processadores de imagem - reveladores e fixadores; efluentes dos equipamentos automatizados utilizados em análises clínicas; demais produtos considerados perigosos, conforme classificação da NBR-10.004 da ABNT - tóxicos, corrosivos, inflamáveis e reativos (BRASIL, 2005). 2 DESENVOLVIMENTO 4 Durante a atuação odontológica, são necessários produtos químicos, os quais geram grande quantidade de resíduos. Esses produtos são usados para radiografias odontológicas, tratamentos endodônticos, bem como diversos outros procedimentos. Por serem tóxicos, esses resíduos necessitam de manejo e descartes adequados. 2.1 Revelador e Fixador Filmes radiográficos são importantes na odontologia, pois eles auxiliam na obtenção do diagnóstico e realização de tratamentos. Para o processamento desses filmes são utilizados produtos chamados revelador e fixador, esses efluentes líquidos contêm metais pesados que são altamente tóxicos. Revelador e fixador radiográfico não são biodegradáveis e são constituídos de metais pesados tais com metol, hidroquinona, carbonato de sódio, brometo de potássio, brometo de prata, sulfito de sódio, hipossulfito de sódio, alúmen de potássio, ácido acético, dentre outros (FERNANDES, 2009; OLIVEIRA, 2006). A água utilizada para lavar essas radiografias também apresenta resquícios das soluções. Por serem resíduos de tratamento de estabelecimento de saúde necessitam de cuidado especial. A maioria dos usuários lança nos corpos hídricos sem tratamento, tanto pela falta de conhecimento quanto pela falta de fiscalização dos órgãos competentes (OLIVEIRA, 2006). O metol é um composto orgânico pouco conhecido. Age junto com a substância hidroquinona, são agentes redutores. É um composto tóxico por ingestão e se inalado ou absorvido através da pele, perigo de sequelas sérias por exposição prolongada sub-aguda; possível agente de sensibilização. Muito tóxico para organismos aquáticos (UNESP, 2001). A hidroquinona é o principal componente na maioria dos reveladores fotográficos onde, com o componente metol, reduz haletos de prata a prata elementar. É uma substância tóxica que, se ingerida, afeta o sistema nervoso. Também pode irritar o nariz, a garganta, os olhos e a pele. É um componente que causa mutações, podendo originar câncer (GRIGOLETTO, 2010). Fonte de íons de sódio na produção de fosfato de sódio, silicato de sódio, produtos químicos de cromo e produtos químicos para fotografia, o carbonato de sódio é um componente equivalente à soda cáustica, alcalinizante ou acelerador dos reveladores radiográficos. Pode causar irritação, ferimentos e ressecamento da pele, se ingerido além de irritação pode causar dor abdominal, náusea, vômito e diarreia. Não é um produto agressivo ou venenoso ao meio ambiente, mas por ser de fácil dissolução, deve-se evitar sua entrada em curso de água, pois aumenta o pH da água. Embalagens contendo seus resíduos devem ser 5 dispostas e manuseadas com os mesmos cuidados de qualquer outro lixo industrial (SCSQUIMICO, 2014). O sulfito de sódio é um redutor e agente de branqueamento altamente eficaz, utilizado na indústria fotográfica para prevenir o desenvolvimento de soluções de oxidação, tratamento anti-corrosão em água ou anti-cloro na indústria têxtil. É nocivo se ingerido, pode causar reação alérgica e dificuldade respiratória; causa irritação na pele e olhos. Em grande quantidade pode causar distúrbios circulatórios, diarreia e depressão do sistema nervoso central. Para descarte o produto deve ser encaminhado para aterro classe I (OSWALDO CRUZ, 2003). O brometo de potássio contribui para regular a atividade da revelação e evita o velamento dos cristais de brometo de prata não expostos. É um produto tóxico, que em contato provoca irritação na pele, irritação grave nos olhos e irritação respiratória. Este produto não deve ser despejado no sistema de esgoto, é tóxico ao meio ambiente. O brometo de prata é amplamente utilizado no campo fotográfico devido à sensibilidade à luz. Em contato esse componente irrita olhos e garganta, pode afetar gravemente a pele e inflamar o sistema respiratório. Produto tóxico que causa poluição de aquíferos e do solo (UNIFESP, 2008). O hipossulfito de sódio é utilizado na indústria fotográfica na formulação de banhos fixadores, também é conhecido como tiossulfato de sódio. Esse componente é a base das soluções fixadoras, reage com os cristais de prata formando complexos solúveis em água, provocando desta forma a dissolução dos haletos de prata não expostos e a preservação da imagem. É um produto tóxico, que deve ser descartado em local adequado, também é danoso em caso de inalado ou ingerido. Pode causar diarreia, irritação na pele e olhos, além de diminuição da frequência respiratória (CASQUIMICA, 2008). O alúmen de potássio é um sulfeto duplo de alumínio e potássio. Tem aplicação em fotografia como endurecedor da gelatina e emulsões, ação fixadora. Pode causar irritação quando em contato com os olhos e a pele, bem como pode irritar os pulmões. É uma substância corrosiva, prejudicial se ingerida, a exposição prolongada pode causar câncer ou danos irreversíveis, além de provocar queimaduras. É extremante destrutivo a todos tecidos do corpo. Em caso de derramamento no solo, provoca contaminação dos cursos e mortalidade aos peixes (CASQUIMICA, 2011). Usado no banho de parada, o ácido acético neutraliza o agente revelador residual na emulsão e interrompe sua ação. É um componente ativador do fixador. É corrosivo, no meio 6 ambiente aquático, pode causar mortalidade de espécies, apesar da baixa toxicidade. No solo pode causar contaminação do solo, subsolo, aquífero subterrâneo e águas superficiais. É proibido o descarte de revelador e fixador radiográficos na rede de esgoto. Apesar do investimento para o aperfeiçoamento dos profissionais, dos processos e dos equipamentos, pouco é feito para controlar o impacto ambiental causado por esses resíduos (UNIFESP, 2008). A legislação vigente é clara quanto às consequências da infração. Os efluentes e os resíduos gerados pelo serviço radiográfico seguem diferentes descartes, como por exemplo, alguns profissionais lançam esses resíduos direto na rede de esgoto sem o menor tratamento, há aqueles que vendem a solução de fixador, para terceiros, para a recuperação da prata, e os resíduos do revelador e da água de lavagem são lançados na rede de esgoto também sem tratamento. 2.2 Líquidos para Tratamento Endodôntico O hipoclorito de sódio é um derivado do cloro, conhecido pelo seu uso doméstico como “água sanitária”. Tem ação antibacteriana. Além de sua utilização para desinfecção do ambiente do consultório, o hipoclorito de sódio é utilizado em odontologia como desinfetante para a irrigação de canais radiculares, na endodontia. Este produto, na forma de líquido, tem efeitos potenciais irritantes sobre a saúde. Este material é classificado como perigoso segundo o GHS (Sistema Globalmente Harmonizado de Classificação e Rotulagem de Produtos Químicos). Muito tóxico para a vida aquática (PERES e ROCKENBACH, 2014). Os recipientes do edta podem oferecer riscos mesmo quando vazios, pois podem reter resíduos. Grandes quantidades ingeridas podem oferecer riscos. Irritante para os olhos. Nocivo para os organismos aquáticos, podendo causar efeitos nefastos em longo prazo no ambiente aquático (UNESP, 2014). O ácido paracético é irritante para a pele e para os olhos, prejudicial se ingerido. Causa irritação de nariz e garganta, dificuldade para respirar, risco de pneumonite e edema pulmonar; em contato com a pele causa irritação dolorosa, avermelhamento e inchação da pele. Risco de queimaduras severas. Pode ser fatal ao ser ingerido. Ele é completamente biodegradável, já que pode se decompor em oxigênio, água e ácido acético. Esta última substância é facilmente metabolizada pela maior parte dos organismos vivos. Utilizar o produto segundo as corretas práticas de trabalho evitando sua dispersão em seu estado puro no meio ambiente. Os efeitos da toxicidade se relacionam com suas propriedades altamente 7 corrosivas. Favorece a combustão com outras substâncias, pois é um produto oxidante (MENDES e CITRÃO, 2004). A clorexidina é um dos agentes microbianos mais potentes, é altamente eficaz e em geral é utilizado em forma de diglutunato de clorexidina por ter maior solubilidade em água e em pH fisiológico dissocia-se liberando o componente catiônico. O fator de bioconcentração deste antibiótico na biota aquática não revela haver risco de seu bioacúmulo em meio aquático. Possivelmente se acumula em solos e um perigo maior se refere não propriamente a clorexidina, mas sim a um composto químico formado pela sua decomposição a pcloroanilina. A p-cloroanilina apresenta riscos à saúde humana e ao meio ambiente, no que se refere à saúde humana é citada como possivelmente genotóxica, suspeita de causar disfunção endócrina e provável carcinógeno (LUCIETTO, 2014). Deve-se ter cuidado para evitar contato com os olhos e outros tecidos sensíveis, adjacentes à boca. Os dentistas usam a clorexidina para várias aplicações (usando concentrações de 0,03 a 2%) principalmente durante a cirurgia dentária para criar um ambiente quase livre de germes, como também no tratamento periodontal - gengivite ou periodontite - halitose e boca seca (LUCIETTO, 2014). O óxido de zinco presenta características essenciais a um cimento endodôntico, possuindo uma boa tolerância aos tecidos apicais, radiopacidade e impermeabilidade. Sua composição basicamente é a mesma do cimento tipo Grossman: pó e líquido. Recomenda-se sempre, que seja descartado em lixo contaminado as embalagens e restos do produto. Quando ocorre descarte indevido poderá haver uma contaminação do solo e lençóis freáticos (DENTSPLY, 2014). O líquido à base de cravo é mais usado em odontologia como anódico, em combinação com o óxido de zinco para a formação de um cimento utilizado como material forrador em cimentação temporária de restaurações, forramento cavitário em cavidades profundas e material de obturação temporária com a finalidade de proteger o complexo dentina-polpa. As pastas de óxido de zinco e líquido à base de cravo têm boa compatibilidade biológica, o que pode influenciar a reparação tanto do órgão pulpar como das feridas cirúrgicas (BRASIL, 2004). Para o homem, o fenol é considerado um grande veneno trófico, causando efeito de cauterização no local em que ele entra em contato através da ingestão. A ação do fenol pode ser local e geral: sendo que a local é cáustica (CESCONETO, 2002; BRITO, 1988). 8 Devido a sua alta volatilidade e solubilidade em água, os fenóis conferem problemas de gosto e odor em águas potáveis, mesmo em concentrações de uma parte por bilhão. Recomenda-se que o descarte do produto e de todos os materiais descartáveis sejam feitos em lixo contaminado (SILVA et al, 2001). 2.3 Óleo e Água do Compressor A infra-estrutura física e dimensões de um consultório ou clínica odontológica devem atender ao disposto na RDC/Anvisa nº 50, de 2002, e legislação vigente em cada Estado e/ou Município. O conflito mais comum quanto à infra-estrutura física relaciona-se com o compressor de ar. Frequentemente é encontrado no banheiro dos consultórios, um local totalmente inconveniente para a sua instalação, já que o compressor trabalha com o ar ambiente. Assim, deve estar instalado em lugar arejado, de preferência fora do consultório e deve ser providenciada a aprovação do projeto junto à Vigilância Sanitária local (ANVISA, 2002). Os compressores podem ser com Pistão com óleo e o lubrificado; recomenda-se evitar o uso do primeiro em favor do segundo tipo. O ar comprimido dentro do compressor pode estar contaminado e normalmente tem como causas poeira e microrganismos do ar ambiente. Vapores de água e de hidrocarbonetos, dióxido e monóxido de carbono, óxido nitroso e dióxido de enxofre são poluentes mais comuns no ar. Há também a contaminação com o próprio óleo lubrificante do compressor e partículas sólidas decorrente do desgaste natural devido o atrito entre peças ou superfícies. Pode haver presença de outros gases e contaminantes dependendo do local de instalação do compressor, como em sanitários e depósitos. Manter o filtro de ar sempre limpo e em boas condições impede a entrada de poeira e contaminantes no compressor. A drenagem é o passo mais importante para proporcionar o descarte correto deste tipo de resíduo. A frequência depende das condições ambientais, tempo de operação e modelo do compressor. É recomendado que seja feita diariamente, de forma à esgotar totalmente a água acumulada e o ar do interior do reservatório. Conectar uma mangueira ao registro de drenagem, inserindo a outra extremidade dentro de um recipiente para descarte da água condensada, até que toda a água acumulada no interior do reservatório seja drenada é um dos métodos corretos da coleta deste tipo de resíduo (GNATUS, 2014). O separador de água e óleo tem como finalidade separar o óleo contido na água condensada proveniente do ar comprimido utilizado em compressores cilíndricos, máquinas 9 pneumáticas, entre outros. São usados para receber efluentes e águas contaminadas com óleos e graxas de áreas de manutenção, lavagem de veículos e máquinas, além de oficinas mecânicas. Após a separação do óleo, a água limpa é enviada para posterior e mais completo tratamento. A água pode ainda ser enviada para o esgoto enquanto que o óleo retido no tanque terá destinação apropriada, como empresas especializadas na coleta de óleo de compressor. Descartado na natureza, o óleo impermeabiliza o solo (NATURALTEC, 2014). 2.4 Legislação Há uma série de normas, resoluções e leis vigentes sobre o descarte de resíduos de serviços de saúde. Todo estabelecimento gerador de RSS deve elaborar um PGRSS. Este plano pode ser representado por um ‘Manual’ documentado, que descreve todas as intenções e procedimentos da organização, inclusive prevendo programas de treinamento e melhoria continua, por meio de medições, indicadores e monitoramentos (RIO, 2006). Na Resolução 283/2001, o PGRSS é um documento integrante do processo de licenciamento ambiental, baseado nos princípios da não geração de resíduos, na minimização da geração de resíduos, que aponta e descreve as ações relativas ao seu manejo, contemplando os aspectos referentes à geração, segregação, acondicionamento, transporte, tratamento e disposição final, bem como a proteção à saúde pública. CONAMA/1993, artigo 4º determina: é de responsabilidade dos estabelecimentos prestadores de serviço de saúde “... o gerenciamento de seus resíduos sólidos, desde a geração até a disposição final, de forma a atender aos requisitos ambientais e de saúde pública”. Para os resíduos do processamento radiográfico: a ANVISA/2004 dispõe o regulamento técnico para o gerenciamento de resíduos de serviço de saúde, incluindo os efluentes líquidos provenientes do processo de revelação de filmes usados em raio-X. Os reveladores utilizados em radiologia podem ser submetidos a processo de neutralização para alcançarem pH entre 7 e 9, sendo posteriormente lançados na rede coletora de esgoto ou em corpo receptor, desde que atendam as diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gestores de recursos hídricos e de saneantes competentes. Os fixadores usados em radiologia podem ser submetidos a processo de recuperação da prata ou os demais resíduos sólidos contendo metais pesados podem ser encaminhados a Aterro de Resíduos Perigosos – Classe I ou serem submetidos a tratamento de acordo com as orientações do órgão local de meio ambiente, em instalações licenciadas para este fim. Os resíduos líquidos deste grupo devem seguir orientações específicas dos órgãos ambientais (ANVISA, 2004). 10 O CONSEMA (Conselho Estadual do Meio Ambiente) no uso das atribuições que lhe confere a Lei Estadual nº 10.330 de 27/12/1994, considerando a Resolução CONAMA 357/2005, a qual dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelecer as condições e padrões de lançamento de efluentes, e dá outras providências (CONSEMA, 1994). Considerando também a LEI ESTADUAL Nº 11.520, de 03 de agosto de 2000, que institui o CÓDIGO ESTADUAL DO MEIO AMBIENTE, e considerando a necessidade de reavaliação da Norma Técnica SSMA nº 01/89, aprovado pela Portaria nº 05/89/SSMA, que dispõe sobre critérios e padrões de efluentes líquidos a serem observados pelas fontes poluidoras. Resolve: Art. 1º Fixar novos critérios e padrões de emissão de efluentes líquidos para as fontes geradoras que lancem seus efluentes em águas superficiais no Estado do Rio Grande do Sul. Art. 2º Os empreendimentos e demais atividades poluidoras que na data da publicação desta Resolução tiveram Licença de Instalação ou de Operação, expedida e não impugnada, tem prazo de até três anos, contados a partir de sua vigência, para se adequarem às condições e padrões mais rigorosos e/ou não previstos na Resolução CONAMA 357/2005. Bem como demais atribuições (BRASIL, 2005). 2.4.1 Leis de Crimes Ambientais As leis de Crimes Ambientais nº 9.605 proibe o descarte de água contendo grandes quantidades de hidrocarbonetos. Leis de Crimes Ambientais n° 9.605, de 12 de Fevereiro de 1998. Capítulo V - Dos Crimes contra o Meio Ambiente Seção I - Dos Crimes contra a Fauna Art. 33. Provocar, pela emissão de efluentes ou carregamento de materiais, o perecimento de espécimes da fauna aquática existentes em rios, lagos, açudes, lagoas, baías ou águas jurisdicionais brasileiras: Pena - detenção, de um a três anos, ou multa, ou ambas cumulativamente (BRASIL, 1998). 2.5 Atuação das Empresas de Gerenciamento dos Resíduos Segundo licença de operação da FEPAM (Fundação Estadual de Proteção Ambiental) LO 2954/2014-DL concedida à empresa ABORGAMA DO BRASIL LTDA, a promover a operação relativa à atividade de central de resíduos de saúde (grupo A, risco biológico e grupo E, perfuro-cortantes), a planta de tratamento de resíduos de serviços de saúde deve ser composta pelas seguintes áreas de atividades: pavilhão contendo área administrativa; 11 descarregador de carros; sala de autoclaves (unidade de esterilização); sala de controle; descarga de bombonas - usadas para armazenar óleo diesel, graxa - depósito de bombonas cheias, lavagem de bombonas, expedição de bombonas e carregamento de bombonas; estação de tratamento de efluentes; torre de água e tanque autônomo de gás GLP (Gás Liquefeito de Petróleo). A área do empreendimento deverá ser mantida cercada, com controle de acesso e devida identificação de risco biológico conforme ABNT NBR 7500. O sistema de drenagem pluvial devera comtemplar todo o limite da unidade de esterilização e os componentes da estação de tratamento de efluentes e as águas pluviais devem ser direcionadas para o açude. Deverão ser mantidos procedimentos de inspeção e manutenção periódicos aos equipamentos e instalações implantados, bem como condições operacionais adequadas, de forma a garantir o bom funcionamento do sistema. A empresa deverá dar ciência aos estabelecimentos geradores de resíduos de serviço de saúde quanto ao conhecimento das normatizações técnicas e legislação vigente para o manuseio, coleta e transporte de resíduos de saúde. Visando à adequada operação do empreendimento, o mesmo deverá manter profissional habilitado, bem como dispor de maquinário e operadores capacitados, necessários à realização dos serviços. A mesma deverá garantir que o empreendimento seja operado de forma a minimizar impactos ambientais gerados por resíduos, ruído e tráfego e presença de insetos, vetores de poeira (FEPAM, 2014). 2.5.1 Gerenciamento dos Efluentes Líquidos O sistema de tratamento de efluentes receberá os efluentes oriundos das descargas das autoclaves, da lavagem e desinfecção das bombonas e limpeza de toda a unidade de esterilização. Nenhum efluente líquido oriundo da operação do empreendimento poderá ser lançado em qualquer corpo hídrico. Os líquidos excedentes nos leitos de secagem deverão retornar ao sistema de tratamento de efluentes. O lodo gerado no processo de tratamento deverá ser encaminhado à empresa licenciada para receber este tipo de resíduo. O efluente tratado no sistema de tratamento de efluentes poderá ser utilizado para irrigação das acácias e cortina vegetal existentes no local, mediante autorização da FEPAM. Em qualquer caso de derramamento, vazamento, deposição acidental de resíduos ou outro tipo de acidente, a FEPAM deverá ser comunicada imediatamente após o ocorrido, devendo ser apresentadas as medidas saneadoras, explicitando as já adotadas. Deverão ser adotados os controles necessários para minimizar a emissão de odores que possam ser percebidos fora dos limites do empreendimento. 12 Deverá ser mantida a Cortina Vegetal, na forma de cortina arbórea no perímetro do empreendimento, visando amenizar visualmente o local e criar condições para sua proteção isolamento. Vedado o descarte de produtos químicos, resíduos líquidos oleosos e/ou águas de lavagem, fora dos padrões estabelecidos (FEPAM, 2014). 2.6 Análise de Dados Após avaliar todas as informações e exigências, bem como as respostas e interpretações do questionário aplicado aos profissionais de Odontologia na cidade de Getúlio Vargas, RS pode-se identificar o destino dado aos descartes odontológicos, conforme Figura I, que se refere ao número de profissionais entrevistados e local de descarte dos resíduos. De acordo com o gráfico, pode-se observar que dos líquidos analisados, a maioria dos profissionais não utiliza ou não opinou sobre o assunto. Dentre os que utilizam, 4 cirurgiões dentistas (CDs) descartam por empresa especializada, 1 no lixo comum, bem como 1 no esgoto e 1 na coleta seletiva. O óleo do compressor é descartado por 2 CDs na coleta por empresa especializada, 1 no lixo comum e 1 na coleta seletiva; a água do compressor é descartada por 2 CDs na coleta por empresa especializada, 1 no lixo comum e 4 no esgoto. O líquido para tratamento endodôntico é descartado por 4 CDs no esgoto. Descarte dos Resíduos Líquidos Coleta por empresa especializada Lixo comum Coleta seletiva Esgoto Não utilizam/ não opinaram 10 10 7 7 4 4 2 1 1 1 2 1 1 1 0 Fixador e revelador 4 Óleo do compressor Figura I: Descarte dos Resíduos Líquidos. Fonte: Própria. 0 Água do compressor 0 0 0 Líquido pra tratamento endodôntico 13 3 CONCLUSÃO Os resíduos químicos sem características de periculosidades não necessitam de tratamento prévio. Quando no estado líquido, podem ser lançados em corpo receptor ou na rede pública de esgoto, desde que atendam respectivamente as diretrizes estabelecidas pelos órgãos ambientais, gestores de recursos hídricos e de saneamento competentes (COSTA e FELLI, 2012). Porém, os resíduos químicos com características de periculosidade, vistos ao longo deste trabalho, devem seguir as normas e leis para dar um melhor destino a esses resíduos sem agredir o meio ambiente. Mas o que se percebe, e de certo modo é comprovado pela pesquisa feita com os profissionais de Odontologia da cidade de Getúlio Vargas, RS, é que boa parte destes resíduos são descartados em locais inapropriados e sem o tratamento prévio, algumas vezes por desconhecimento das leis que regem o descarte destes resíduos. Contudo, independente dos estudos e ações já realizadas a respeito, ainda há muito para se fazer e estudar sobre o assunto que envolve a identificação, análise e gerenciamento dos resíduos de serviço de saúde, nos seus mais diversos grupos profissionais. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ANDRADE, J. B. L.. 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