________________________________________________________________________________ APROFUNDAMENTO DO TEMA DO CAPÍTULO GERAL1 FÉ AUDAZ E PROFÉTICA A fé profética tem como fundamento a Aliança entre Deus e o seu povo, que consiste no amor a Deus e na prática do direito e da Justiça. Profeta é aquele que ouve a palavra de Deus e é o seu porta-voz, seu mensageiro. Profeta também é aquele que sabe discernir a realidade, anunciando a vontade de Deus, denunciando a realidade de injustiça e consolando o povo no momento de dificuldade (Is 40; e com relação à fé, caridade e justiça confira Deus Caritas est 28). FAÇAMOS A TODOS «A CARIDADE DA VERDADE» A tríade – fé, esperança e caridade - é uma característica própria do Apóstolo Paulo (Gl 5,5-6; 1Ts 1,3). Caridade. A caridade em Paulo nasce da fé e da esperança, pois é o fundamento da ética cristã. Ela nasce da fé, pois é expressão da experiência do amor salvífico de Deus (Rm 5,5) manifestado em Jesus Cristo que se entregou por nós (Rm 5,8; Gl 2,20; Deus Caritas est 12-15); é dom do Espírito; e é a resposta alegre à graça de Deus. A fé e a caridade representam a preocupação teológica e ética (Fl 2,1-11). Há em Paulo uma correlação necessária entre a fé em Cristo e o amor pelos outros (Gl 5,13; Rm 12,10.14-21; 13,8-10; Deus Caritas est 16-18). Outro texto que poderia ser aprofundado seria 1Cor 12,31 - 13,13. Verdade. A “verdade”, para Paulo, tem vários significados podendo ser: 1) A verdade de Deus; 2) A verdade e o Evangelho e 3) A verdade no modo de vida cristã. A verdade de Deus é a autorrevelação divina na obra criadora (Rm 1,25), e a revelação de Deus que se manifesta na pessoa de Jesus Cristo (Evangelho – Gl 2,5). A palavra “verdade” como um modo de vida cristã, pode significar a fidelidade à vontade de Deus e está intimamente relacionada com a “justiça” (Rm 1,18; 1Cor 13,6; Caritas in Veritate 6-9). A expressão: «a caridade da verdade», pode ser entendida como a qualidade da ação do cristão, como a qualidade no seu comunicar (cf. Caritas in Veritate 4). Também, podemos entendê-la como o comunicar o amor da verdade que é Cristo, ou a manifestação do amor do Pai no Filho. É importante também considerar que a verdade não é um conjunto de ideias ou de doutrina, mas é o próprio Jesus Cristo (Jo 14,6) e fazer a “caridade da verdade” (ou seja, fazer a todos o “Amor de Cristo”) é uma característica da vida nova em Cristo. Podemos atualizar essa expressão com as frases de Alberione e da Evangelii nuntiandi2. 1 2 Estes textos poderão servir como fonte de pesquisa. Contributo das Irmãs do Brasil. Exhortación apostólica do Papa Paulo VI, 8 de dezembro do ano de 1975. 1 FRASES DEL PADRE ALBERIONE Façamos a todos. “As fontes” páginas 52 e 53 referentes ao artigo 18 das Constituições. Caridade da verdade, relacionado com a docência: Haec meditare I (FSP41, p. 136): Deus poderia ter destinado vocês a outros apostolados. Penso, porém, que, destinando-as ao apostolado das edições, não teria podido confiar-lhes uma tarefa melhor. Este as aproxima muito do ministério do ensino que é próprio do sacerdote como também da missão mesma de Jesus. EVANGELII NUNTIANDI (78-79) Servidores da verdade O Evangelho de que nos foi confiado o encargo é também palavra da verdade. Uma verdade que torna livres (Jo 8,32) e que é a única coisa que dá a paz do coração, é aquilo que as pessoas vêm procurar quando nós lhes anunciamos a Boa-Nova. Verdade sobre Deus, verdade sobre o homem e sobre o seu misterioso destino e verdade sobre o mundo. Difícil verdade que nós procuramos na Palavra de Deus e da qual nós somos, insistimos ainda, não os árbitros nem os proprietários, mas os depositários, os arautos e os servidores. Espera-se de todo o evangelizador que ele tenha o culto da verdade, tanto mais que a verdade que ele aprofunda e comunica, outra coisa não é senão a verdade revelada, e, por isso mesmo, mais do que qualquer outra, parcela daquela verdade primária que é o próprio Deus. O pregador do Evangelho terá de ser, portanto, alguém que, mesmo à custa da renúncia pessoal e do sofrimento, procura sempre a verdade que há de transmitir aos outros. Ele jamais poderá trair ou dissimular a verdade, nem com a preocupação de agradar aos homens, de arrebatar ou de chocar, nem por originalidade ou desejo de dar nas vistas. Ele não há de evitar a verdade e não há de deixar que ela se obscureça pela preguiça de a procurar, por comodidade ou por medo; não negligenciará nunca o estudo da verdade. Mas há de servi-la generosamente, sem a escravizar (EN 78). Animados pelo amor A obra da evangelização pressupõe no evangelizador um amor fraterno, sempre crescente, para com aqueles a quem ele evangeliza. Aquele modelo de evangelizador que é o apóstolo Paulo, escrevia aos tessalonicenses estas palavras que são para todos nós um programa: «Tanto bem vos queríamos que desejávamos dar-vos não somente o evangelho de Deus, mas até a própria vida, de tanto amor que vos tínhamos» (1Ts 2,8; cf. Fl 1,8). E de que gênero é essa afeição? Muito maior do que aquela que pode ter um pedagogo, é a afeição de um pai e, mais ainda, a de uma mãe ( 1Ts 2,7.11; 1Cor 4,15;Gl 4,19). É uma afeição assim que o Senhor espera de cada pregador do Evangelho e de cada edificador da Igreja. Será um sinal de amor a preocupação de comunicar a verdade e de introduzir na unidade. Será igualmente um sinal de amor devotar-se sem reservas e sem subterfúgios ao anúncio de Jesus Cristo. E acrescentamos ainda mais alguns outros sinais deste amor. O primeiro é o respeito pela situação religiosa e espiritual das pessoas a quem se evangeliza: respeito pelo seu ritmo que não se tem o direito de forçar para além da justa medida; e respeito pela sua consciência e pelas suas convicções. Elas hão de ser tratadas sem dureza. Um outro sinal deste amor é a preocupação por não ferir outrem, sobretudo se esse outrem é débil na sua fé, (1Cor 8,9-13; Rm 14,15) com afirmações que podem ser claras para os iniciados, mas para os simples fiéis podem tornar-se fonte de perturbação e de escândalo, como se fosse uma ferida na alma. Será também um sinal de amor o esforço para transmitir aos cristãos, não dúvidas ou incertezas nascidas de uma erudição mal assimilada, mas certezas sólidas, porque ancoradas na Palavra de Deus. Sim, os fiéis precisam dessas certezas para a sua vida cristã, eles têm mesmo direito a elas, na medida em que são filhos de Deus, que se abandonam inteiramente nos seus braços, às exigências do amor (EN 79). Lembremos, também, que o Evangelii nuntiandi afirma que o grande drama da sociedade contemporânea é a ruptura do diálogo entre fé e cultura. 2