ANÁLISE COMPARATIVA DA ATUAÇÃO DO FENÔMENO “EL NIÑO”/OSCILAÇÃO SUL
ENTRE AS CIDADES DE RIO GRANDE E PELOTAS-RS PARA O PERÍODO DE 1990-1998.
Martins, Janaina Senna (1); Lanau, Lúcia; Saraiva
(1) Fundação Universidade do Rio Grande-FURG
Acadêmica do Curso de Geogragia-Licen.Plena da FURG
Jaci Maria Bilhalva
Professora Dra. do departamento de Geociências da FURG
e-mail: [email protected]
ABSTRACT
This work is to study the climate variability associated with El Niño/ENSO phenomenum in Rio
Grande and Pelotas cities. Temperature and precipitation monthly data were used for to analyse this
variability ocurred between 1997 and 1998.
1 - INTRODUÇÃO:
O fenômeno ENOS, exerce um papel importante na ocorrência de anomalias climáticas em
várias regiões do globo. Segundo Silva e Dias (1992), o ENOS é um fenômeno altamente persistente,
com duração típica de 2-7 anos, e responsável principalmente pela variação dos regimes pluvimétricos
sobre o continente, pois durante os anos de El Niño, ocorre um aquecimento anômalo das águas do
Oceano Pacífico o que aumenta a evaporação e acentua a convecção nesta região, tendo como
conseqüência a diminuição da precipitação em algumas regiões tropicais, favorecendo o aumento de
precipitação acima da normal nas regiões subtropicais.
Existem diferentes tipos de eventos El Niño, em que ocorrem anomalias de precipitação
positiva ou negativa para uma mesma região (Grimm,1996). Assim sendo, o estudo de sua influência
na variação do sistema climático, regional ou global, é de grande interesse para atividade agrícola
como também para atividades ligadas aos setores industriais e da construção civil .
Objetiva-se com este trabalho analisar a variabilidade no último ano através de cálculos
estatísticos, aplicados às variáveis meteorológicas observadas nas cidades de Rio Grande e Pelotas –
RS, procurando correlacionar as possíveis anomalias com o evento de El Nino no período de 1997 e
verão de 1998. Para tal foi utilizado a comparação entre as médias por estação de nove anos de dados
(1990 – 1997) com as médias sazonais do ano de 1997 e a estação de verão de 1998, período de um
forte evento do fenômeno ENOS.
2 – METODOLOGIA
Neste trabalho, foram utilizados os valores médios por estação do ano para as seguintes
variáveis meteorológicas: temperatura mínima, temperatura máxima, temperatura do ar e totais de
precipitação referentes ao período de 1990 a 1997 e foram comparados com os dados destas mesmas
variáveis para as estações do ano de 1997 e a estação de verão do ano de 1998. Os dados encontramse, de forma digital, na estação Meteorológica da Fundação Universidade de Rio Grande (FURG) e na
estação Agroclimatológica da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), localizadas no estado do Rio
Grande do Sul.
Classificou-se como estação de verão, os meses de dezembro a fevereiro, para o outono, de
março a maio, para o inverno, de junho a agosto e, para a primavera, os meses de setembro a
novembro. Esta análise comparativa entre a média de nove anos (90-97) por estação e as médias
sazonais do ano de 1997 e verão de 1998 foram feitas para as cidades de Rio Grande e Pelotas. A
cidade de Rio Grande localiza-se na planície costeira do Estado do Rio Grande do Sul, enquanto que a
cidade de Pelotas situa-se à 60 km em direção ao interior do continente.
3 – RESULTADOS
3.1 – RESULTADOS OBTIDOS PARA A CIDADE DE PELOTAS
Os resultados obtidos do comportamento das médias da temperatura do ar (Fig.2), temperatura
mínima (Fig.3), e temperatura máxima (Fig.4) mostram valores acima da média dos nove anos na
estação de verão e na estação de inverno de 1997. Já no outono e primavera de 1997 e no verão de
1998, ocorreu um decréscimo nas médias de temperatura do ar, mínima e máxima, isto pode ser
explicado pelo aumento da entrada dos sistemas frontais, na região de estudo, neste período segundo
dados do climanálise Vol. 12 números 9, 10 e 12. O aumento dos sistemas frontais trazem consigo uma
grande variação de temperatura devido a inserção de ar frio na sua retaguarda, podendo causar um
decréscimo nas temperaturas extremas (máxima e mínima).
As taxas de precipitação (Fig.1), calculadas para as estações do ano de 1997 só ficaram abaixo
da média sazonal calculada para o período de 90-97, na estação do outono, quando a precipitação do
período de 90-97 foi de 316,0 mm e o total pluviométrico no período correspondente do ano de 1997
foi de apenas 198,9 mm. Acredita-se que este fato deva-se à fraca atividade das frentes frias que
atingiram a região no período (Climanálise, Vol. 10,11 e 12/1997). As estações correspondentes ao
verão, inverno e primavera de 1997 tiveram taxas de precipitação acima da média calculada para o
mesmo período para a série temporal de 90-97. O total de precipitação do verão de 1997 foi de 496,7
mm, não apresentando muita diferença para verão correspondente ao período de 90-97, que foi de
472,4 mm. Na estação de inverno do ano de 1997, o total de precipitação foi de 484,0 mm, ficando
acima da média para a mesma estação no período de 90-97 que foi de 336,3 mm. Porem a estação da
primavera de 1997 foi o período em que o total de precipitação mais se distanciou da média dos nove
anos (90-97), com o total de precipitação de 506,1 mm e a média da primavera para o período de 9097, foi de 353,8 mm.
A maior anomalia de precipitação observada(Fig.1), ocorreu durante o verão de 1998, com um
total pluviométrico de 817,0 mm, atingindo aproximadamente 73% acima da média no período
correspondente a 90-98 que é de 472,4 mm, uma das possíveis causas pode ser o número elevado de
sistemas frontais que atingiram a região, alem dos sistemas de mesoescala como a brisa marítima que
são bastante freqüentes no verão (Braga e Krusche, 1997).
3.2 – RESULTADOS OBTIDOS PARA A CIDADE DE RIO GRANDE
A análise das variáveis em questão para o município de Rio Grande - RS demonstrou que o
período compreendido entre o ano de 1997 e o verão de 1998 apresentou um comportamento atípico.
Estes resultados possivelmente estão relacionados ao fenômeno ENOS que tende a intensificar os
sistemas produtores de precipitação em nossa região.
Pode-se observar através dos gráficos que as médias de temperatura do ar (Fig.6), temperatura
mínima (Fig.7) e temperatura máxima (Fig.8), mostram um aumento na estação referente ao inverno
de 1997 acima da média calculada para o período de 90-97, pois apesar de algumas frentes frias terem
atingido a região, as massas de ar frio que acompanharam estas frentes, não deslocaram-se o suficiente
para causar quedas na temperatura (Climanálise Vol. 12, nº6,7,8/97). Já na primavera de 1997 e no
verão de 1998, houve um decréscimo nas médias de temperatura do ar, mínima e máxima.
As taxas de precipitação (Fig.5), calculadas para as estações de 1997, mostram que, no verão
de 1997 ocorreu um total de precipitação pluviométrica de 325,1 mm ficando abaixo da média sazonal
calculada para o período de 90-97que foi de 338,4mm. O mesmo ocorreu com a estação de outono,
com um total pluviométrico de 137,8, ficando abaixo da média sazonal calculada para a série temporal
90-97, que teve a média de 283,1mm.
As estações correspondentes ao inverno, primavera de 1997 e o verão de 1998, tiveram suas
taxas de precipitação acima da média calculada para a série temporal 90-97. O total de precipitação no
inverno foi de 397,6mm, enquanto o inverno correspondente ao período de 90-97, foi de 319,8 mm,
não apresentando uma diferença significativa. Já a estação da primavera de 1997, foi o período em que
o total de precipitação, que foi de 502,6mm, mais se distanciou da média dos noves anos (90-97) que
foi de 338,8 mm. O verão de 1998 apresentou um total pluviométrico de 499,0 mm, ficando acima da
média para o mesmo período da série temporal de 90-97, que foi de 357,3. Este fato ocorreu devido
às frentes frias (estacionarias) que atingiram a região (Climanálise vol.12, n.º 9,10 e vol. 13 nº 1 e 2).
4 – CONCLUSÃO
Com base nos resultados apresentados, chegou-se às seguintes conclusões:
- Os valores pluviométricos acima da média sazonal calculada para o período de 90-97,
ocorreram nas estações de verão e primavera do ano de 1997. Sendo que o verão de 1998 na cidade de
Pelotas apresentou um total de precipitação pluviométrica de 817,0 mm, ficando muito acima da média
da série temporal 90-98. Quando comparada as taxas de precipitação para o verão de 1998, para as
duas cidades, nota-se que o total coletado em Pelotas (817,0 mm) é quase o dobro da precipitação
coletada para a cidade de Rio Grande (499,0 mm) no mesmo período. Uma possível explicação para o
fato seria a diferença nos sistemas de escala local devido a localização geográfica das duas cidade. A
cidade de Rio Grande localiza-se no litoral com uma altitude média de 2 metros acima do nível do
mar, ficando a cidade de Pelotas à 60 km em direção ao continente com uma topografia crescente que
tem em seu ponto mais alto uma altitude de 200 m, o que favorece o processo de levantamento do ar
úmido que invade o continente, principalmente nos meses de verão, devido ao sistema de brisa
marítima.
- A ação combinada dos sistemas de brisa marítima e de vale provavelmente seja a responsável
pela abrupta diferença de precipitação entre as duas cidades no período do verão de 1998, sendo que as
altas taxas encontradas em ambas cidades, deve-se, provavelmente ao fenômeno El Nino, que segundo
Silva (1992) tende a intensificar os sistemas causadores de precipitação na região subtropical da
América do Sul.
5 - BIBLIOGRAFIA
Climanálise. Boletim de Monitoramento e Análise do tempo. Cachoeira Paulista, SP, Brasil,
INPE/CPTEC, 1997. Vol. 10,11, e Vol. 12, No. 9, 10, 12.
Climanálise. Boletim de Monitoramento e Análise do tempo. Cachoeira Paulista, SP, Brasil,
INPE/CPTEC, 1998. Vol. 13 No. 1 e 2.
Grimm,M. Alice, Identificação de Anomalias de Temperatura da Superfície do Mar relacionadas com
Anomalias de Precipitação na Região Sul do Brasil. IX Congresso Brasileiro de Meteorologia ,
Campos Jordão, SP,novembro de 1996.
Silva, P. R., Azevedo, P. V., Ceballos, R. C. Incidência de El Nino-Oscialção Sul sobre a precipitação
no Nordeste do Brasil. VII Congresso Brasileiro de Meteorologia, outubro de 1992. São Paulo–
SP.
Braga, S. F. Maria, Krusche, Nisia, Análise da Variabilidade do Vento em Rio Grande-RS, no Período
de 1992 à 1995. Rio Grande, RS, 1997.
PRECIPITAÇÃO EM mm
A N Á LIS E S A Z O N A L C O M P A R A T IV A N A C ID A D E P E LO T A S E N T R E A P R E C IP IT A Ç Ã O
E A S É R IE T E M P O R A L 9 0-97
90 0
80 0
70 0
60 0
50 0
40 0
30 0
20 0
10 0
0
VERÁO
OUTONO
IN V E R N O
90 -97
P R IM A V E R A
ve rão/98
97
TEMPERATURA EM ºC.
Figura-1
ANÁLISE SAZONAL COMPARATIVA NA CIDADE DE PELOTAS ENTRE A
TEMPERATURA DO AR DE 97 E A SÉRIE TEMPORAL 90-97
30
25
20
15
10
5
0
VERÁO
OUTONO
INVERNO
90-97
PRIMAVERA
verão/98
97
Figura-2
ANÁLISE SAZONAL COMPARATIVA NA CIDADE DE PELOTAS ENTRE A
TEMPERATURA MÍNIMA DE 97 E A SÉRIE TEMPORAL 90-97
Temperatura em ºc.
30
25
20
15
10
5
0
VERÁO
OUTONO
INVERNO
90-97
PRIMAVERA
VERÃO/98
97
Figura-3
TEMPERATURA EM ºC
ANÁLISE SAZONAL COMPARATIVA NA CIDADE DE PELOTA ENTRE A
TEMPERATURA MÁXIMA DE 97 E A SÉRIE TEMPORAL 90-97.
30
25
20
15
10
5
0
VERÁO
OUTONO
INVERNO
90-97
Figura-4
PRIMAVERA
97
VERÃO/98
ANÁLISE SAZONAL COMPARATIVA NA CIDADE DE RIO GRANDE ENTRE
A PRECIPITAÇÃO DO ANO DE 97 E A SÉRIA TEMPORAL DE 90-97
PRECIPITAÇÃO EM
mm
600
500
400
300
200
100
0
verão
outono
inverno
90-97
prim avera
verão/98
97
Figura-5
TEMPERATURA EM ºC
A N Á LIS E S A Z O N A L C O M P A R A T IV A N A C ID A D E D E R IO G R A N D E E N T R E
A T E M P E R A T U R A D O A R D O A N O D E 9 7 E A S É R IE T E M P O R A L 90-97
25
20
15
10
5
0
verão
outono
inverno
prim avera
90-97
verão/98
97
Figura-6
TEMPERATURA EM ºC
A N Á L IS E S A Z O N A L C O M P A R A T IV A N A C ID A D E D E R IO G R A N D E E N T R E
A T E M P E R A T U R A M ÍN IM A E A S É R IA T E M P O R A L 90 -97
25
20
15
10
5
0
ve rã o
ou to no
inv erno
prim a ve ra
90-97
ve rã o/9 8
97
Figura-7
A NÁ LIS E COM P A RA TIV A E M TRE A TE M P E RA TURA M Á XIM A DO A NO DE 97
E A S É RIE TE M P ORA L 90-97
TEMPERATURA EM ºC
30
25
20
15
10
5
0
verão
outono
inverno
90-97
Figura-8
primavera
97
verão/98
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