OGLOBO DIVULGAÇÃO Em casa Dúvidas dos leitores SEGUNDA CAPA PÁG. 3 ESPAÇOS GENEROSOS NO APÊ DA DESIGNER COMO RATEAR UMA OBRA DE FACHADA? Arte é item básico para Paola Ribeiro Depende do que diz a convenção FOTOS DE DIVULGAÇÃO Morar Bem DOMINGO 2.2.2014 oglobo.com.br/morarbem Casa elevador. Com parte central de tijolo e concreto, casa construída em Bangladesh tem dois módulos laterais de bambu, que flutuam sobre a água em caso de enchente Jogando verde Casa anfíbia, feita de bambu, flutua durante a chuva À prova de enchente KARINE TAVARES em Toronto, no Canadá. Mas em seu mestrado quis pesquisar soluções para habitações de comunidades pobres de ma casa anfíbia. Fincada no seu país. E como a intenção era criar chão, mas capaz de flutuar em um projeto sustentável, a arquiteta opdias de enchente, inibindo tou por usar materiais baratos e que esinundações. Não só é possível, como já tivessem disponíveis em quantidade existe. Em Bangladesh. A primeira uni- no local da construção. Caso tanto do bambu, material versádade da Lift House (ou casa elevador) foi construída na cidade de Dhaka, nu- til, leve e de baixo custo, quanto das ma comunidade que costuma sofrer pets, disponíveis aos milhares em qualcom chuvas fortes e enchentes, e vem quer canto do mundo e que, quando não recicladas, acabam enchendo os lisendo testada há quatro anos. O mecanismo é simples. A casa é xões. Na casa de Bangladesh, por exemcomposta de três partes. A central, está- plo, foram usadas oito mil pets. Logo, uma escolha que, além de ecotica, é feita de tijolos e concreto e funciona como a espinha dorsal da edifica- lógica, facilita a exportação do projeto e ção, responsável por mantê-la em pé. a construção da casa em outros países. No momento, Prithula Presa a ela, há dois móvem trabalhando em dulos laterais de bambu parceria com a orgaconstruídos sobre dois nização Architecture tanques, que têm estrufor Humanity, para tura de cimento e funciconstruir cem lift houonam como fundação ses na Colômbia. Esda casa. Dentro dos tantão na fase de captaques, ficam colchões de ção de recursos. O garrafas pet usadas. custo de cada módulo Quando chove forte e o é de cerca de R$ 11 rio localizado logo atrás mil. Ou seja, uma cada casa enche, a água sa, como a de Banglainvade os tanques e sua desh, custa R$ 22 mil e força levanta os colpode ser erguida em chões de pets e as duas três meses. E será que laterais da casa. Assim, o projeto poderia cheo imóvel flutua na água, gar também ao Brasil? ao invés de ser invadido — É claro. Embora a por ela. Quando o nível primeira Lift House da água baixa, a casa Prithula Prosun construída levasse em volta a seu lugar. Para Arquiteta consideração as conevitar infiltrações, o pidições e necessidades de uma família so recebeu tratamento especial. — Com soluções econômicas efica- de Bangladesh, os conceitos básicos do zes e simples, a arquitetura da Lift Hou- design anfíbio podem ser aplicados em se se adapta ao ambiente natural dan- qualquer área que sofra com enchentes do, a comunidades carentes urbanas, a — diz a arquiteta, que continua com chance de viver em casas seguras, de sua pesquisa para desenvolver outros baixo custo e que não necessitam de re- tipos de habitações anfíbias. Mas, segundo Prithula, não há restriparos a cada enchente. As inundações, uma das forças mais destrutivas em co- ções de tamanho ou peso para cada munidades pobres de grandes cidades, módulo móvel. Para construir uma casão uma realidade na vida de muita sa maior, basta fazer um tanque, ou gente ao redor do mundo. Esta é uma fundação, também maior. O design é forma de conviver com elas — diz Pri- totalmente adaptável até mesmo às thula Prosun, arquiteta que desenvol- condições climáticas. Só é preciso fazer adaptações que seriam estudadas de veu o projeto em tese de mestrado. Natural de Bangladesh, onde viveu acordo com cada lugar. Presidente da Associação Brasileira até os 9 anos, Prithula vive desde então de Escritórios de Arquitetura (AsBEA Rio), o arquiteto Vicente Giffoni acredita, no entanto, que no Brasil a técnica só poderia ser aplicada em áreas afastadas dos centros urbanos, como as regiões ribeirinhas da Região Norte. — O conceito é bom, mas não sabemos se poderia ser aplicado com eficácia no Rio de Janeiro. O uso de materiais sustentáveis e o estilo de construção são relevantes, mas, por outro lado, não se sabe se, na prática, isso seria suficiente, para se evitar o estrago causado por uma enchente — avalia Giffoni. [email protected] U “A arquitetura se adapta ao ambiente dando a chance de viver em casas seguras, de baixo custo” COMO FUNCIONA 1 O módulo de bambu se apoia sobre o tanque onde está o colchão de garrafas pet Módulo de bambu Colchão Água Tanque 2 Quando o nível da água no tanque sobe, todo o módulo se eleva e flutua Módulo de bambu Colchão Água Tanque O mecanismo. No alto, foto mostra o módulo flutuando. Acima, esquema explica o funcionamento do elevador de pets CASA É AUTOSSUFICIENTE E a casa asiática ainda tem outras características sustentáveis. Em sua parte central, foram construídos os banheiros e abaixo deles há uma grande composteira. Assim, é possível produzir adubo a ser usado em hortas ou no jardim que cerca a edificação, por exemplo. Além disso, o imóvel foi projetado para ser autossuficiante e não tem conexões com os sistemas de abastecimento da cidade, muito precário no caso daquela comunidade. Por isso, conta com dois painéis num sistema de captação de energia solar, suficientes para abastecimento da casa. A posição da casa no terreno levou em consideração a incidência tanto do sol como dos ventos, para diminuir a temperatura. Os janelões localizados nas fachadas frontal e lateral dos módulos de bambu também permitem uma ventilação cruzada que ajuda a resfriar o interior do imóvel. Há ainda duas grandes cisternas, enterradas no solo. Uma para captação de água da chuva e outra para armazenamento da água já usada nos banheiros, que passa por tratamento e pode ser novamente utilizada em descargas e na irrigação da área verde. — Espero poder erguer futuros modelos da casa Lift em diferentes partes do mundo. Acredito que a ideia tem um potencial imenso e estou ansiosa por explorar como o design do imóvel pode ser aplicado em diferentes paisagens e culturas — destaca Prithula, acrescentando que está pesquisando o que será preciso fazer para usar essa mesma arquitetura na construção de centros comunitários e também em escolas. l