OPINIÃO CULTURAL Uma Obra de Arte Sobrevive à Vida Rev DERC. 2013;19(4):126 Dr. Ricardo Vivacqua Cardoso Costa -RJ [email protected] A arte encontra espaços sempre mais precários e problemáticos no mundo contemporâneo; mas que, no entanto, ela continua sendo uma atividade essencial para o sistema de valores sobre os quais nossa cultura se baseia. É consensual que o sentido de uma obra de arte – a partir do Renascimento e retroativamente, graças aos instrumentos forjados no Renascimento, até a pré-história – é inesgotável. É uma qualidade que antes só era atribuída aos textos sagrados. Podemos incluir (e foi incluído) na lista das obras de arte qualquer objeto que não tenha inicialmente essa finalidade (uma máscara, um vaso, um utensílio), desde que consideremos que seu significado ainda está em aberto, ainda influência diretamente o significado que atribuímos a todas as outras coisas. Uma pedra lascada indica que existiu um povo de caçadores. É um documento, nos diz algo que já foi. Mas, no caso das pinturas das grutas de Lascaux, o que conta é o que elas ainda são. Desde que foram descobertas em 1940, inauguraram um campo de experiências que não existia na cultura e na arte moderna, e muito menos quando foram pintadas, 17.000 anos antes de Cristo. Seu significado pertence ao dia de hoje, mas como algo que provém de um passado antiquíssimo; e, por outro lado, só poderia produzir-se hoje, e não naquele tempo. Talvez seja próprio da obra de arte não pertencer a nenhum tempo específico – ou talvez a todos, mas sempre como se proviesse de outro tempo, passado ou futuro. Uma obra de arte é um objeto que sobrevive à vida e à intenção que a gerou, e a todos os discursos produzidos sobre ela. Nesse sentido, “o que resta” é, simplesmente, sinônimo de “arte”. Fontes: Mammi, Lorenzo - O que resta: arte e crítica de arte / Lorenzo Mammi. - 1ª ed. São Paulo: Compania das Letras, 2012. Maringer, Johanes y Hans - Bandi, Georg – Arte Prehistorico – Ediciones Holbein-Basileia, 1952. 126 DERC