Português
Fascículo 12
Carlos Alberto C. Minchillo
Izeti Fragata Torralvo
Marcia Maísa Pelachin
Índice
Gramática
Resumo Teórico ..................................................................................................................................1
Exercícios............................................................................................................................................2
Gabarito.............................................................................................................................................4
Literatura
Exercícios............................................................................................................................................6
Gabarito...........................................................................................................................................12
Gramática
Resumo Teórico
Verbo: Correlação de Tempos e Modos
Objetivo: Treinar o emprego de tempos e modos em textos, estabelecendo correlação de tempos e
modos.
Conteúdo do resumo teórico
I. Emprego do indicativo e do subjuntivo
II. Coordenação
III. Construções hipotéticas
Emprego do indicativo e do subjuntivo
Como se indicou anteriormente1, o indicativo expressa ação real (no passado, no presente
ou no futuro), enquanto o subjuntivo expressa incerteza, dúvida, possibilidade ou hipótese.
Além dessa regra geral, deve-se lembrar que, em períodos subordinados, o subjuntivo é
característico das orações subordinativas (não da oração principal).
Nas subordinadas, o subjuntivo:
• É obrigatório, na oração final e na concessiva.
Ex.: Gritei para que pudesse me ouvir.
Embora esteja faminto, não aceita carne vermelha.
• Ocorre na oração causal que se inicia com a conjunção “como”.
Ex.: Como quisesse saber a verdade, tornou a perguntar.
• Ocorre na oração condicional (ver Construções hipotéticas, a seguir)
Ex.: Se tivesse tempo, escreveria.
• Ocorre na oração temporal que remete ao futuro.
Ex.: Quando tiver saudades, voltará.
Coordenação
Princípio geral
Orações coordenadas, em princípio, devem manter o mesmo tempo e modo verbais,
principalmente se essas orações, coordenadas entre si, são subordinadas a uma outra.
Ex.: Estude e aprenda.
Embora esteja atento e faça anotações, não acompanha o raciocínio do expositor.
1. Ver aula 11
Observações especiais
• Logicamente, se entre as orações coordenadas estiver implícita uma seqüência de ações, os tempos
verbais deverão revelá-la. Ex.: “Ficou doente, mas virá à aula” (A doença aconteceu em um momento
anterior à vinda para a aula).
• Em período composto com oração coordenada sindética explicativa, é comum que o verbo da
oração coordenada assindética se encontre no imperativo. Ex.: Fique quieto, que quero explicar-me.
Construções hipotéticas
Em geral, as hipóteses estão expressas em períodos com oração subordinada adverbial
condicional. Como as hipóteses podem fazer referência a realidades distintas, existe mais de uma
possibilidade de construção.
Hipótese
Verbo da oração
Verbo da oração
subordinada
principal
adverbial condicional
Exemplo
provável
Futuro do subjuntivo
futuro do presente
Se tiver tempo, irei a sua
festa
Imperfeito do
subjuntivo
Futuro do pretérito
Se tivesse tempo, iria a sua
festa.
Hipótese no passado Mais-que-perfeito do
subjuntivo (tempo
composto)
Futuro do pretérito
composto
Se tivesse tido tempo, teria
ido a sua festa.
Hábito
Presente do indicativo
Se tenho tempo, vou a
festas.
(futuro)
não provável
(futuro)
Presente do indicativo
Exercícios
01. Leia o texto com atenção.
“Fabiano meteu-se na vereda que ia desembocar na lagoa seca, torrada (...)
Espiava o chão como de costume, decifrando restos. Conheceu os da égua ruça, com
certeza. Deixara pêlos brancos num tronco de angico. Urinara na areia e o mijo desmanchara as
pegadas, o que não aconteceria se se tratasse de um cavalo.”
Graciliano Ramos – Vidas secas
Assinale a alternativa que propõe uma adequada substituição para os verbos destacados.
a. urinasse – desmancharia
b. urinaria – desmanchará
c. urinou – desmancharia
d. urinará – desmancha
e. urina – desmanchou
02. Leia com atenção o fragmento de Memórias póstumas de Brás Cubas para responder.
“(...) se eu disse que a vida humana nutre de si mesma outras vidas, mais ou menos
efêmeras, como o corpo alimenta os seus parasitas, creio não dizer uma cousa inteiramente absurda.
Mas, para não arriscar essa figura menos nítida e adequada, prefiro uma imagem astronômica: o
homem executa à roda do grande mistério um movimento duplo de rotação e translação; tem os seus
dias, desiguais como os de Júpiter, e deles compõe o seu ano mais ou menos longo.
No momento em que eu terminava o meu movimento de rotação, concluía Lobo Neves
o seu movimento de translação. Morria com o pé na escada ministerial. (...).”
Machado de Assis
Assinale a alternativa em que se mantém a correta correlação de tempos e modos entre os dois verbos
destacados no texto.
a. terminasse – concluiria
b. tivesse terminado – terá concluído
c. terminaria – concluiria
d. terminei – concluíra
e. terminar – concluiria
03. Assinale a alternativa que apresenta uma correta correlação de tempos e modos para os verbos
destacados no texto.
“Como o semanário apareceu regularmente durante três domingos, e publicou
realmente estudos recheados de grifos e citações sobre as Capelas da Batalha, a Tomada de Ormuz, a
Embaixada de Tristão da Cunha, começou logo a ser considerado uma aurora, ainda pálida, mas
segura, de Renascimento Nacional.”
Eça de Queirós
a. aparecesse – publicasse – começou
b. aparecera – tivesse publicado – começara
c. apareceria – publicará – começará
d. aparecia – publicava – começava
e. aparecesse – publicou – começou
04. Assinale a alternativa que propõe uma correta substituição para os verbos da frase que segue.
“O Congresso reúne-se de terças a quintas, depois volta para as suas bases, onde fica de
sextas a segundas.”
Luis Fernando Veríssimo – “Pioneirismo”. In O Estado de S. Paulo. 21/01/2000
a. se reunirá – voltará – ficou
b. reunir-se-á – voltará – ficara
c. reunir-se-ia – voltaria – ficará
d. reunir-se-á – voltará – ficará
e. se reuniria – voltaria – ficaria
05. Assinale a alternativa que mantém a correta correlação dos tempos verbais do texto que segue.
“Quem não tem – ou já teve – um amigo que adora mostrar a toalhinha ‘adquirida’
num cruzeiro marítimo ou o copo de cerveja com o logotipo de um bar badalado?”
Veja
a. teria – teria tido – adoraria
b. teve – tivera – adorara
c. tenha – tivesse – adorasse
d. tenha – tivesse tido – tenha adorado
e. terá – tem – adora
Gabarito
01. Alternativa a.
A seqüência de ações faz pressupor a ação de desmanchar como posterior à de urinar.
Assim, as alternativas d e e não são aceitáveis.
Se a reelaboração do fragmento tem como opção a certeza quanto à realização das duas
ações, as alternativas b e c são inadequadas, uma vez que misturam certeza com possibilidade (futuro
do pretérito).
Na alternativa a, opta-se pelo hipotético, o que determina a correlação entre imperfeito
do subjuntivo e o futuro do pretérito do indicativo.
02. Alternativa a.
As duas ações são concomitantes. Portanto são inadequadas as alternativas b e d.
Como primeiro verbo pertence a uma oração subordinada, somente nele se poderia
empregar o verbo no subjuntivo. Além disso, não se pode desrespeitar a correlação (entre subordinada
e principal): imperfeito do subjuntivo na oração subordinada, futuro do pretérito na oração principal.
03. Alternativa a.
Os dois primeiros verbos devem ser empregados na mesma forma, uma vez que
pertencem a orações coordenadas; além disso, por estarem em orações subordinadas causais com a
conjunção “como”, é aceitável o emprego do subjuntivo.
O 3.o verbo pertence à oração principal e faz referência a um fato passado, concluído e
cuja ação é concomitante às dos dois primeiros verbos. Portanto a opção só pode incidir sobre o
pretérito perfeito do indicativo.
04. Alternativa d.
As três ações caracterizam um hábito, o que determina o emprego do mesmo tempo
verbal, como só acontece nas alternativas d e e. No entanto, a alternativa e apresenta um erro de
colocação pronominal, uma vez que o futuro do pretérito exigiria a mesóclise (reunir-se-ia).
05. Alternativa e.
A pergunta determina à frase um caráter de dúvida, tornando aceitável o emprego do
futuro do presente. Como o verbo colocado entre travessões vem colocado em um tempo anterior ao
do primeiro, empregou-se o presente do indicativo. Por outro lado, a característica do amigo (que está
expressa no texto por meio do verbo adorar) é constante, o que determina o emprego do presente do
indicativo.
Obs.: Em nenhuma das três formas verbais é admissível o emprego do subjuntivo, o que elimina a
possibilidade de escolha das alternativas c e d devem.
Literatura
Exercícios
Teste seus conhecimentos sobre as dez obras da lista da Fuvest 2000
01. Leia os textos que seguem.
Texto I
Mar português
Ó mar salgado, quanto do teu sal
São lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena? Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Quem quer passar além do Bojador
Tem que passar além da dor.
Deus ao mar o perigo e o abismo deu,
Mas nele é que espelhou o céu.
Fernando Pessoa
Texto II
“Em tão longo caminho e duvidoso
Por perdidos as gentes nos julgavam,
As mulheres co’um choro piedoso,
Os homens com suspiros que arrancavam.
Mães, esposas, irmãs, que o temeroso
Amor mais desconfia, acrescentavam
A desesperação e frio medo
De já nos não tornar a ver tão cedo."
Camões
A partir dos trechos e de seus conhecimentos de Os lusíadas, assinale a alternativa incorreta.
a. O texto II pertence ao episódio “O velho do Restelo”, de Os lusíadas, em que Camões indica uma
crítica às pretensões expansionistas de Portugal, nos séculos XV e XVI.
b. Apesar das diferenças de estilo, tanto o texto de Camões quanto o de Fernando Pessoa indicam
uma mesma idéia: a de que o caráter heróico das descobertas marítimas exige e justifica riscos e
sofrimentos.
c. O fato de Camões, em Os lusíadas, lançar dúvidas sobre a adequação das conquistas ultramarinas –
o assunto principal do poema – contrapõe-se ao modelo clássico da epopéia.
d. Ainda que abordem uma mesma circunstância histórica e ressaltem as mesmas reações humanas, o
texto de Fernando Pessoa e o episódio “O velho do Restelo” chegam a conclusões diferentes sobre a
validade das navegações portuguesas.
e. Os dois textos referem-se aos sofrimentos que a expansão marítima portuguesa provocou.
02. Leia o trecho do poema da 2.a parte de Lira dos vinte anos.
“Meu pobre leito! eu amo-te contudo!
Aqui levei sonhando noites belas;
as longas horas olvidei1libando2
Ardentes gotas do licor doirado,
Esqueci-as no fumo, na leitura
Das páginas lascivas3do romance...
Meu leito juvenil, da minha vida
És a página d’oiro. Em teu asilo
Eu sonho – me poeta, e sou ditoso,
E a minha mente errante devaneia em mundos
Que esmalta a fantasia! (...)
Ó meus sonhos de amor e mocidade,
Por que ser tão formosos, se devíeis
Me abandonar tão cedo... e eu acordava
Arquejando a beijar meu travesseiro?"
“Idéias íntimas”
Sobre o texto de Álvares de Azevedo, é correto afirmar que:
a. a voluptuosidade em poemas da 2.a parte de Lira dos vinte anos é abordada de um ponto de vista
mais realista, o que se observa no trecho transcrito, em que o eu lírico confessa seus mais ardentes
desejos.
b. a dualidade entre sonho e realidade está dramatizada no ambiente da cama, já que lá se opera
tanto o distanciamento da realidade (“em teu asilo”), quanto a consciência dos limites da fantasia
romântica (“e eu acordava / Arquejando a beijar meu travesseiro”).
c. a juventude aparece no poema como um tempo em que sonhos fantasiosos não podiam compensar
a decepção com a realidade e eram apenas causa de sofrimento e decepção.
d. faz parte dos devaneios do jovem romântico imaginar-se imerso na fruição e na produção literária,
que o fariam esquecer as frustrações amorosas por que passava na realidade.
e. a referência aos objetos da casa – como o leito referido no trecho transcrito – prova que já no
Romantismo a poesia buscou no cotidiano temas mais prosaicos.
03. Os dois trechos que seguem são de O guarani, de José de Alencar. Leia-os e indique a alternativa
correta.
“Na vida selvagem, tão próxima da natureza, onde a conveniência e os costumes não
reprimem os movimentos do coração, o sentimento é uma flor que nasce como a flor do campo e
cresce em algumas horas com uma gota de orvalho e um raio de sol.”
“(...) o fidalgo com a sua lealdade e cavalheirismo apreciava o caráter de Peri, e via nele,
embora selvagem, um homem de sentimentos nobres e de alma grande.”
a. Os fragmentos permitem afirmar que o intuito de consagrar a paisagem nacional e de exaltar o
povo brasileiro obrigou que em O guarani a civilização e a cultura européias fossem desvalorizadas.
b. Por ser uma obra cujo objetivo é o de resgatar a origem mítica da nação brasileira, O guarani não
enfatiza no enredo as questões emocionais e amorosas.
c. O herói Peri constitui um símbolo nacional porque, com paciência, dedicação e astúcia, resiste à
dominação branca e preserva, ao final da narrativa, sua superioridade “selvagem”, seja no plano
físico, seja no plano cultural, conforme indicam os dois fragmentos.
1. olvidar: esquecer.
2. libar: beber.
3. lascivo: luxurioso, sensual, devasso.
d. A indicação da vida selvagem como sendo superior é completamente desmentida em outros
momentos da obra, em que a vida selvagem é recriminada e o próprio Peri prefere se transformar
em um civilizado.
e. Sob a inspiração das teses do “bom selvagem” de Russeau, O guarani pretende louvar as virtudes
do primitivo, mas não poderia apresentar como proposta a substituição da cultura branca, nem
indicar a vida “tão próxima à natureza” como modelo de futuro para a jovem nação brasileira.
04. Sobre A Ilustre casa de Ramires, de Eça de Queirós, é incorreto afirmar que:
a. Na novela “A torre de D. Ramires”, escrita por Gonçalo Ramires, ocorre paráfrase do estilo
romântico medievalista, o que se observa especialmente pelo vocabulário referente à guerra e à
arquitetura.
b. O ato de plagiar a novela do tio Duarte, a hipérbole na caracterização dos personagens e da ação
acabam relativizando o valor da obra escrita por Gonçalo e suscitam a crítica de que os
antepassado heróicos do fidalgo – assim como o próprio passado glorioso de Portugal – talvez não
passassem de fantasia, exagero.
c. Representando o imobilismo e a fragilidade de Portugal no final do século XIX, Gonçalo parece
indicar, por meio de sua história pessoal, o caminho para o país retomar seu desenvolvimento:
precisa livrar-se dos fantasmas do passado, crendo na possibilidade de sucesso. Por representar a
nação portuguesa, o personagem pode ser considerado alegórico.
d. Como apresenta um protagonista condenável por sua covardia e insegurança, por suas mentiras e
vaidade, o narrador de A ilustre casa de Ramires freqüentemente emite juízos de valor, comentando
de modo crítico o comportamento de Gonçalo e condenando explicitamente seu caráter e suas
atitudes.
e. Além da degradação financeira, e pior que essa, o romance registra a degeneração moral de
Gonçalo, o que se comprova com o fato de o fidalgo ter arriscado o bem-estar de sua irmã em
nome de suas pretensões políticas.
05. Leia o trecho do capítulo “O almocreve”, de Memórias póstumas de Brás Cubas, em que o
personagem narrador, depois de ter passado por uma situação de perigo, gratifica o socorro prestado
pelo almocreve.
“Fui aos alforjes, tirei um colete velho, em cujo bolso trazia as cinco moedas de ouro, e
durante esse tempo cogitei se não era excessiva a gratificação, se não bastavam duas moedas. Talvez
uma. Com efeito, uma moeda era bastante para lhe dar estremeções de alegria. Examinei-lhe a roupa;
era um pobre-diabo, que nunca jamais vira uma moeda de ouro. Portanto, uma moeda. Tirei-a, via-a
reluzir à luz do sol; não a viu o almocreve, porque eu tinha-lhe voltado as costas; mas suspeitou-o
talvez, entrou a falar ao jumento de um modo significativo; dava-lhe conselhos, dizia-lhe que tomasse
juízo, que o “senhor doutor” podia castigá-lo; um monólogo paternal. Valha-me Deus! até ouvi estalar
um beijo: era o almocreve que lhe beijava a testa.
— Olé! exclamei.
graça...
— Queira vosmecê perdoar, mas o diabo do bicho está a olhar para a gente com tanta
Ri-me, hesitei, meti-lhe na mão um cruzado em prata, cavalguei o jumento, e segui a
trote largo, um pouco vexado, melhor direi um pouco incerto do efeito da pratinha. Mas a algumas
braças de distância, olhei para trás, o almocreve fazia-me grandes cortesias, com evidentes mostras de
contentamento. Adverti que devia ser assim mesmo; eu pagara-lhe bem, pagara-lhe talvez demais.
Meti os dedos no bolso do colete que trazia no corpo e senti umas moedas de cobre; eram os vinténs
que eu devera ter dado ao almocreve, em lugar do cruzado de prata."
Assinale a alternativa correta sobre o trecho.
a. A reação bajuladora do almocreve ao perceber que seria recompensado fez com que Brás Cubas
diminuísse o valor da gratificação.
b. O contentamento do almocreve com a pratinha que ganhara era evidentemente falso e revela o
pessimismo machadiano que denuncia a hipocrisia humana.
c. O trecho critica a vaidade e presunção de Brás Cubas, que queria impressionar o almocreve com
uma moeda de ouro.
d. Como autor realista, Machado de Assis insiste nas desigualdades sociais e por isso o trecho indica
que um “pobre diabo” como o almocreve depende de esmolas, qualquer que seja o valor delas.
e. Brás Cubas mede a quantia da gratificação de modo a salvar as aparências e ao mesmo tempo
gastar o menos possível.
06. Leia os textos de Alguma poesia e em seguida assinale a alternativa incorreta.
Texto I
Sinal de apito
Um silvo breve: Atenção, siga.
Dois silvos breves: Pare.
Um silvo breve à noite: Acenda a lanterna.
Um silvo longo: Diminua a marcha.
Um silvo longo e breve: Motoristas a postos.
( A esse sinal todos os motoristas
tomam lugar nos seus veículos para
movimentá-los imediatamente.)
Texto II
“Impossível compor um poema a essa altura da evolução da humanidade.
Impossível escrever um poema – uma linha que seja de verdadeira poesia.
O último trovador morreu em 1914.
Tinha um nome de que ninguém se lembra mais.
Há máquinas terrivelmente complicadas para as necessidades mais simples.
Se quer fumar um charuto aperte um botão.
Paletós abotoam-se por eletricidade.
Amor se faz pelo sem-fio.
Não precisa estômago para digestão.
Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito
para atingirmos um nível razoável de cultura. Mas
até lá, felizmente, estarei morto."
“O sobrevivente”
a. “Sinal de apito” constitui exemplo de poema-piada, em que a realidade é deturpada com finalidade
humorística; sendo assim, o texto não pretende emitir crítica, mas apenas divertir.
b. Nos dois textos é possível observar a desilusão do poeta em relação à modernidade, por meio da
sátira à mecanização da vida.
c. Em “O sobrevivente”, além da ironia, transparece um amargor mais profundo, já que a
modernização equivale ao fim da poesia, impossível em tempo de brutalidade como a da guerra,
indicada por meio da data “1914".
d. No texto II, há uma diferenciação entre dois conceitos: modernidade e cultura. Sendo assim, o
poema pode sugerir que as máquinas, a vida urbana e a guerra são manifestações de brutalidade,
de barbárie, de irracionalidade, ou seja, não representam a cultura.
e. O automatismo que se verifica no texto I não se distingue radicalmente da monotonia previsível na
“vida besta” da cidade do interior, descrita pelo próprio Drummond em “Cidadezinha qualquer”.
07. Leia a estrofe de Morte e vida severina que apresenta uma das vizinhas que visita o recém-nascido,
filho do mestre carpina. Em seguida, assinale a alternativa correta sobre esse episódio.
“Minha pobreza tal é
que coisa não posso ofertar:
somente o leite que tenho
para meu filho amamentar;
aqui são todos irmãos,
de leite, de lama, de ar."
a. O nascimento do filho do mestre carpina altera abruptamente a realidade social apresentada na
obra e por isso lembra o messianismo de Jesus Cristo.
b. O nascimento do filho de mestre José provoca tanta alegria, que até mesmo Severino, desiludido
com sua chegada a Recife, desiste do suicídio.
c. A idéia de que “aqui são todos irmãos, de leite, de lama, de ar” repete a mensagem da primeira
cena da obra, em que Severino tem dificuldade de se diferenciar dos demais sertanejos, e indica
que o nascimento da criança não representa automática e profunda mudança da situação de
pobreza.
d. A bondade das vizinhas no episódio do nascimento da criança indica a principal mensagem da
obra: os pobres, por manterem a fé e a religiosidade cristã, são mais humanos que os ricos.
e. Metaforicamente associado à cena do presépio natalino, o episódio do nascimento da criança
desmente a promessa cristã de salvação por meio do nascimento de Cristo: indica-se que a situação
social continuará a mesma e que uma criança franzina nada representa.
08. Analise as afirmações sobre Vidas secas, de Graciliano Ramos.
I. A estrutura da obra é circular, porque cada capítulo traz uma mesma realidade: a pobreza de
meios e o sentimento de inferioridade dos sertanejos pobres.
II. O narrador aproxima-se da perspectiva dos personagens por meio do discurso indireto livre, que
lhe permite manifestar pensamentos de seres cuja capacidade de expressão oral é bastante
reduzida.
III. À inferioridade de ordem econômica, acrescenta-se na obra a submissão e a auto-desvalorização
de natureza psicológica, uma vez que o sertanejo, além de pobre, sente-se tolhido em seu direito
de exigir respeito e condições dignas de existência.
Estão corretas:
a. todas as afirmações;
b. somente as afirmações I e II;
c. somente as afirmações II e III;
d. somente as afirmações I e III;
e. somente a afirmação III.
09. Lei o trecho de Macunaíma e as afirmações que se fazem. Em seguida, assinale a alternativa
verdadeira.
“Jiguê teve raiva porque peixe andava rareando e caça inda mais. Foi na praia do rio pra
ver si pescava alguma coisa e topou com o feiticeiro Tzaló que tem uma perna só. O catimbozeiro
possuía uma cabaça encantada feita com a metade duma casca de jerimum. Mergulhou a cabaça no
rio, encheu de água até o meio e despejou na praia. Caiu um despropósito de peixe. Jiguê reparou
bem como que o feiticeiro fazia. Tzaló largou da cabaça por aí e principiou matando peixe com um
porrete. Então Jiguê roubou a cabaça do feiticeiro Tzaló que tem uma perna só.
Mais pra adiante fez que-nem tinha reparado e veio muito peixe, veio pirandira veio pacu
veio cascudo veio bagre veio jundiá tucunaré, todos esses peixes e Jiguê voltou carregado pra tapera
depois de esconder a cabaça na raiz do cipó. Todos ficaram sarapantados com aquele mundo de peixe
e comeram bem. Macunaíma desconfiou.
No outro dia esperou com o olho esquerdo dormindo que Jiguê fosse pescar, saiu atrás.
Descobriu tudo. Quando o mano foi-se embora Macunaíma largou da gaiola de legornes no chão
pegou na cabaça escondida e fez que-nem o mano. Isso vieram muitos peixes, veio acará veio
piracanjuba veio aviú guarijuba, piramutaba mandi surubim, todos esses peixes. Macunaíma atirou a
cabaça por aí, na pressa de matar todos os peixes, cabaça caiu numa lapa e juque! mergulhou no rio."
I.
A perspectiva primitiva, que aceita a intervenção de forças ocultas e a manifestação de poderes
mágicos, é apresentada no trecho e na obra como algo inverossímil e o narrador põe em dúvida a
veracidade dos acontecimentos, ao exagerá-los.
II. A traição e a astúcia não é uma característica exclusiva de Macunaíma, mas o trecho revela que o
herói sem nenhum caráter é ao mesmo tempo engenhoso, esperto e inconseqüente, irresponsável.
III. As enumerações que o trecho apresenta são um recurso freqüentemente empregado na obra e
tem sempre a finalidade de apresentar a fartura da cultura e da natureza brasileiras.
IV. As histórias formadas por episódios que se repetem de modo muito parecido, os nomes de peixes
e divindades, a apresentação repetida do epíteto em forma de rima (“Tzaló que tem uma perna
só”) são resultado das pesquisas folclóricas do autor, que compôs uma obra em que se cruzam
referências à cultura popular, à linguagem regional, às formas de falar e de narrar de extratos mais
incultos da população.
a. Todas as afirmações estão corretas.
b. Somente as afirmações I, II e III são corretas.
c. Somente as afirmações II e IV são corretas.
d. Somente as afirmações II, III e IV são corretas.
e. Somente as afirmações I e IV são corretas.
10. Leia o trecho do conto de Guimarães Rosa e assinale a alternativa correta sobre o papel do narrador.
“Lá fora, a noite fechada; tinha chovido um pouco. Raro, um falava mais forte, e súbito
se moderava, e compungia-se, acordando de seu descuido. (...)
Aquilo podia-se entender? Eles, os Dagobés sobrevivos, faziam as devidas honras,
serenos, e, até, sem folia mas com alguma alegria.
(...)
Se assim, qual nada: a ninguém enganavam. Sabiam o até-que-ponto, o que ainda não
estavam fazendo. Aquilo era quando as onças. (...) Depois do cemitério, sim, pegavam o Liojorge, com
ele terminavam."
Os irmãos Dagobé
a. Para aumentar a tensão da narrativa, o narrador adota o ponto de vista de Liojorge, vítima da
situação.
b. O narrador indica que sabe tanto quanto o leitor sobre o desfecho dos fatos e por isso a narrativa
não resolve de imediato as dúvidas sobre a reação dos Dagobé.
c. Onisciente, o narrador capta tanto as dúvidas da população que acompanha o velório quanto as
reações emocionais dos Dagobé, como se comprova em “mas com alguma alegria”.
d. O narrador do conto conduz a narrativa numa perspectiva que se aproxima das pessoas presentes
ao velório, expressando pretensa ignorância a respeito do desenlace do episódio, para gerar
expectativa no leitor.
e. O narrador reproduz o ponto de vista da população, que sabia prever, apesar das aparências, o
desfecho do caso do assassinato praticado por Liojorge.
Gabarito
01. Alternativa b.
Em “Mar português”, Fernando Pessoa defende que a grandiosidade das conquistas
ultramarinas exigiu e justificou sofrimentos humanos. Essa idéia se contrapõe às acusações do velho
do Restelo, que procura mostrar que a pretensão portuguesa, movida pelo desejo de glória e poder,
seria um risco para a pátria (deixaria o reino desprotegido contra os árabes) e representaria um custo
elevadíssimo para os seres humanos, que se arriscariam a morrer, desestruturando famílias e
provocando profundo e descabido sofrimento. Sendo assim, Camões agrega em sua obra uma crítica
às navegações que pretende louvar e com isso contraria o modelo da epopéia clássica, que não
questionava jamais a validade dos atos praticados pelos heróis.
02. Alternativa b.
Na segunda parte de Lira dos vinte anos, manifesta-se a consciência da realidade
frustrante, que se contrapõe ao sonho e à idealização da primeira parte, e mostra que é impossível ou
inadequado viver o mundo pela ótica da fantasia. Resulta disso o tédio, o isolamento, o tom sarcástico
do poeta desiludido. Em “Idéias íntimas” esse desinteresse por um mundo prosaico reflete-se em um
longo momento de reflexão, em que o eu lírico, sozinho em seu quarto, dialoga com os objetos à sua
volta e analisa sua vida. No trecho em questão, o leito serve de palco para as duas tendências
românticas: o escapismo pelo sonho, pelo devaneio e a tomada de consciência de que as fantasias
juvenis acabam em frustração, em desolada sensação de vazio.
Na alternativa a, reparar que os desejos do poeta no trecho são manifestados por meio
de sonhos da juventude, não de uma maneira “realista”; na alternativa c não se pode afirmar que os
sonhos só gerassem decepção: o poeta se lembra dos sonhos juvenis como fonte de prazer, como
forma de “asilo” da realidade insatisfatória; na alternativa d, as frustrações amorosas do poeta não
estão no plano da realidade, não há referências no trecho a casos de amor “reais”; na alternativa e, a
banalidade não se encontra como tema, mas como cenário: o tema são os sonhos da juventude.
03. Alternativa e.
O Romantismo pretendeu cumprir uma dupla função: exaltar as qualidades do Novo
Mundo, ressaltar a “cor local”, o exotismo americano e, ao mesmo tempo, prever para a jovem nação
– recém independente – um futuro glorioso, que elevasse a ex-colônia “selvagem” ao patamar da
civilização burguesa européia. Por isso, Peri e a cultura indígena em O guarani são tanto mais louvados
quanto mais se ajustam aos padrões de comportamento dos brancos. Isso explica que haja
freqüentemente no romance elogios ambíguos ao herói, como no fragmento II, em que se apresenta a
idéia de que, apesar de selvagem, Peri tinha bons sentimentos, o que contradiz a idéia do primeiro
fragmento, de que os sentimentos mais francos nascem da vida natural, selvagem (o que equivale à
tese de Russeau de que o primitivo era, por natureza, bom e a sociedade o corrompia).
04. Alternativa d.
O narrador de A ilustre casa de Ramires é de 3.a pessoa e mantém-se bastante neutro em
relação às ações e comportamentos de Gonçalo. O julgamento nunca se dá de modo expresso, mas
por certas ironias, pelo ridículo – facilmente perceptível pelo leitor – de certas cenas.
05. Alternativa e.
Brás Cubas, logo depois do susto do acidente de que fora vítima, sente um ímpeto de
agradecer ao almocreve que o salvara. Com o desenrolar da cena e com o perigo já controlado, Brás
começa a refletir sobre a quantia da recompensa. Analisa fisicamente o almocreve, percebe sua
pobreza e decide que uma moeda de ouro seria excessivo. Depois de ter dado a moeda de prata,
volta-se para verificar a reação do almocreve, constata a franca felicidade do moço e conclui que não
precisava ter gastado tanto: ou seja, Brás Cubas não gratificou o almocreve por aquilo que julgava
adequado, mas somente na medida que sua ação causasse algum efeito, resultasse em manifestação
pública de gratidão pelo almocreve. Assim, balanceou “perdas” e “ganhos”, isto é, os gastos e a
gratidão do almocreve. Na alternativa a, é verdade que o almocreve tenta bajular Brás Cubas,
chamando-o de doutor e dando um beijo no cavalo, mas não foi essa a razão de Brás ter diminuído o
valor da recompensa. Na alternativa c, não se pode afirmar que o almocreve dependia de esmolas.
06. Alternativa a.
Ainda que a forma sintética, a apresentação bruta e simples de uma cena aproxime “Sinal
de apito” do poema-piada, não se pode afirmar que esse gênero de composição poética não possa ser
veículo de crítica, por meio do humor, da sátira, da paródia. No caso, a mecanização da vida moderna
é satirizada por meio do exagero, o que não significa que a realidade esteja deturpada: continua
sendo possível reconhecer no poema uma das características da realidade moderna.
07. Alternativa c.
Na primeira cena de Morte e vida severina, o protagonista insiste na idéia de que é igual
a todos os demais “severinos”, ou seja, retirantes pobres. O menino que nasce tampouco se diferencia
dos demais “irmãos de leite, de lama, de ar” e não pode representar uma alteração automática e
radical das injustas estruturas sócio-econômicas. Por isso o menino não é um messias, que
magicamente pode mudar o curso da História (observar a alternativa a); por outro lado, tampouco
deixa de representar algo importante: a persistência da vida, a força humana que se perpetua a cada
nascimento e que mantém viva a esperança de uma vida social diferente, mais justa (alternativa e).
Lembre-se de que não se sabe o que acontece com Severino depois do nascimento do filho de mestre
José, já que o protagonista não volta a se manifestar (alternativa b).
08. Alternativa c.
É verdade que a estrutura de Vidas secas pode ser considerada circular, já que o primeiro
e o último capítulos flagram a família de Fabiano em uma mesma situação: a fuga da seca. A
afirmação apresenta, portanto, uma justificativa equivocada para o fato de a estrutura da narrativa
ser circular.
09. Alternativa c.
A afirmação I é incorreta porque o narrador apresenta os acontecimentos mais
surpreendentes como se fossem aceitáveis e jamais põe em dúvida a possibilidade de ações mágicas,
sobrenaturais.
A afirmação III é incorreta porque a enumeração (“veio muito peixe, veio pirandira veio
pacu veio cascudo veio bagre veio jundiá tucunaré”) é de fato um recurso freqüentemente empregado
em Macunaíma, mas o efeito de sentido não é sempre (nem predominantemente) o de indicar a
fartura, a exuberância da natureza brasileira. Lembre-se de que, mesmo no trecho em questão,
Macunaíma e seus irmãos enfrentam um período de miséria, o que contradiz a idéia de riqueza
natural.
10. Alternativa d.
O narrador do conto, onisciente, evidentemente conhece o desfecho do episódio, mas
não o revela antecipadamente; antes, adota a perspectiva da população que compareceu ao velório,
fingindo não compreender a reação pacífica dos irmãos de Damastor Dagobé. Comprova também a
adoção dessa perspectiva expressões como “Lá fora” e “Eles, os Dagobé”.
Download

Português