Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders
O cotidiano do enfermeiro professor em um curso técnico em
enfermagem: dificuldades da prática pedagógica
Eixo temático 1: Fundamentos e práticas educacionais
Yara Othon Teixeira Ordine1
Marlene Fagundes Carvalho Gonçalves2
Este trabalho teve como objetivo analisar as dificuldades didáticas no cotidiano
da prática pedagógica do enfermeiro professor em um curso Técnico em Enfermagem
de uma escola técnica estadual paulista. Trata-se de uma pesquisa qualitativa, com
abordagem dialética que, segundo Minayo (2007), responde a questões muito
particulares, como aspirações, crenças, valores e atitudes, com um nível de realidade
que não pode ser avaliada, o que é coerente também com a abordagem histórico cultural
de Vigotski (1998), que busca tratar as questões sociais não como algo isolado, mas
sim, na sua totalidade. No ensino técnico observa-se que os professores geralmente
trabalham também em atividades profissionais da área técnica, seja ela da própria
formação técnica ou da formação superior, aspecto importante para sua atividade como
docente, porque incorpora saberes técnico-profissionais inseridos nas atividades de
trabalho.
A relação
trabalho/educação
estreita-se, ao mesmo
tempo
ganha
complexidade, o contexto de sua ação muda e as relações sociais passam a ser um
aspecto mobilizador em sua qualificação profissional (ABREU, 2009).
1
Mestranda do Programa de Enfermagem Psiquiátrica da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo. [email protected]
2
Professora Doutora da Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo,
Departamento de Enfermagem Psiquiátrica e Ciências Humanas. [email protected]
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No entanto, segundo Maissiat e Carrero (2010), os enfermeiros estão
concluindo sua formação e atuando em escolas profissionalizantes, ministrando as aulas
sem conhecimento específico e aprofundado das práticas educativas.
Nesse sentido, é importante reconhecer as dificuldades pedagógicas que os
professores-enfermeiros encontram na sua prática diária, buscando o melhor caminho
que possibilite aos alunos a compreensão das competências a serem adquiridas,
necessárias para enfrentar o mundo do trabalho, mesmo porque não há como ignorar
essa expressiva força de trabalho. De acordo com Conselho Regional de Enfermagem
(COREN-SP, 2013) em março de 2013 no estado de São Paulo existiam 91.380
enfermeiros com inscrições ativas, 123.246 técnicos de enfermagem, 195.454 auxiliares
de enfermagem e 97 obstetrizes. Percentualmente, a somatória de técnicos e auxiliares
ultrapassa a 77%, o que mostra o grande contingente de profissionais nesse nível e a
necessidade da atenção a ser dada a estes profissionais. Além do que se tem dito sobre
os vários erros durante a execução dos procedimentos nos hospitais e casas de saúde,
erros de medicação, a falta de segurança dos pacientes, a falta de humanização de
alguns profissionais, procedimentos assombrosos que temos acompanhando na mídia.
Portanto, faz-se importante o desenvolvimento de estudos para maior aproximação e
compreensão do que ocorre.
Dentre os trabalhos que abordam o ensino médio em enfermagem, são mais
escassos ainda os estudos que tratam essencialmente do enfermeiro em atividade
docente do ensino profissionalizante.
Estas considerações levaram às seguintes questões: Como o ensino tem sido
realizado nos cursos de formação técnica em Enfermagem? Como os professores têm
desempenhado sua prática educativa no ensino técnico? Que recursos eles tem para lidar
com suas dificuldades?
Assim, o objetivo desse trabalho foi de identificar as dificuldades da prática
pedagógica no cotidiano do enfermeiro professor em um curso técnico em enfermagem.
Foi realizado a partir de três encontros com dois grupos focais, formados por docentes
dessa área, de uma instituição pública de uma cidade do interior paulista.
Aprendizagem sem fronteiras Learning without borders
Os resultados possibilitaram a organização dos temas em duas categorias. A
primeira mostra o despreparo do enfermeiro enquanto professor:

"Formação Pedagógica", como se observa na fala abaixo:
(...) usando uma fala sua que assim que eu me formei eu
também já entrei no hospital, na área assistencial e já prestei o
concurso aqui pra ETE, então já iniciei na área de docência
e...é..... apesar de hoje ter 13, 14 anos de experiência, mas eu
sinto ainda dificuldades em relação a isso até porque eu
acredito que a nossa...na faculdade, eles não preparam você pra
isso, pra você ministra aula, né, pelo menos não na minha época
eu não sei se hoje houve alguma mudança, mas que isso, é
inicialmente deu muito medo em você enfrenta a classe, qual
vai ser a sua posição, mesmo em se falando em curso Técnico
em enfermagem, entendo lógico que se tem um conhecimento
maior que, mas você tem que ter uma preparação psicológica,
uma preparação de docência mesmo pra se posicionar diante
deles (Rosa, grupo 1, primeiro encontro)
A segunda categoria destacada a alegação dos professores sobre a dificuldade
de lecionar para uma classe heterogênea, com alunos de diferentes idades:

“Perfil do Aluno”:
(...) o meu maior problema e eu acho que é frustração que eu
sinto, é vê hoje a falta de interesse dos alunos perante a nossa
profissão eu não posso generalizar, mas assim, a maioria, falta
de interesse e cada vez você chega mais e a gente tem que lidar
com eles dentro da sala de aula, uma é a falta de interesse e a
outra é uma sala de aula muito diversificada, a questão de idade,
né, nós temos o aluno de pelos menos os de 17 anos até aluno
de 50, nós já tivemos alunos de 54, 55 anos, então pra mim é
uma dificuldade né, porque você tem que ser assim um
professor super dinâmico, porque que uma pessoa de 53 anos
tem aquela dificuldade, o de 17 tem a dele também, mas e aí
como faze, então eu acho que isso pra mim é uma dificuldade,
dificuldade assim um desafio, dificuldade e desafio ao mesmo
tempo. (Lírio, grupo 2, primeiro encontro).
Colocadas essas questões, os professores e coordenadores dos cursos Técnicos em
Enfermagem podem fazer uma reflexão sobre sua trajetória, suas competências,
habilidades e, se necessário, fazer uma ressignificação para melhoraras suas ações, a fim
de que o ensino Técnico em Enfermagem melhore a qualidade, ponto de apoio
importante no processo da assistência à saúde da população, dentro dos princípios
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propostos pelo Sistema Único de Saúde de atendimento integral e formação de recursos
humanos na área da saúde. Que sejam minimizados problemas relacionados ao campo
de estágio, avaliação e outras. Portanto consideramos de suma importância o estudo das
dificuldades vivenciadas pelos professores, suas ações concretas e cotidianas para
resolvê-las, bem como as possíveis soluções que poderiam vir ajudar a resolver tais
dificuldades.
Referências
ABREU, G. R. Por uma Ressignificação da Prática Pedagógica na Construção da
Identidade do Professor do EnsinoTécnico-Profissional. Democratizar , v. III , n . 1,
jan ./ ab r . 2009.
COREN-SP. Quantidade de Inscrições Ativas. Data Referência 27/03/2013, Informação
obtida por correspondência eletrônica. 2013
MAISSIAT, G. S.; CARRERO, I. Enfermeiros docentes do ensino técnico em
enfermagem: uma revisão integrativa. Rev Destaques acadêmicos, ANO 2, N.3, 2010
– CCBS/UNIVATES.
MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. São
Paulo: Hucitec, 2007.
VIGOTSKI, L. S. A Formação Social da Mente: o desenvolvimento dos processos
psicológicos superiores. Tradução José Cipolla Neto et al. 6. ed. São Paulo: Martins
Fontes, 1998, 191 p.
Palavras-chave: Prática Pedagógica; Curso Técnico em Enfermagem; Enfermeiro
Professor.
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