MODELAGEM DE PROCESSOS DIFUSIVOS ANÔMALOS ATRAVÉS DE FRACTAIS Vilson Fabricio Juliatto (ICV-UNICENTRO), Eduardo Vicentini (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual do Centro-Oeste, Setor de Ciências Exatas e Tecnológicas, Departamento de Física, Guarapuava, Paraná. Palavras-chave: sistemas complexos, conjunto de Cantor, expoente de difusão. Resumo Neste trabalho, elaborou-se um modelo de uma caminhada aleatória unidimensional com um conjunto de espalhadores distribuídos de acordo com o conjunto de Cantor. As propriedades do processo difusivo resultante foram obtidas computacionalmente. Observou-se uma dependência do expoente de difusão com a geração do conjunto de Cantor subjacente, implicando numa transição entre difusão anômala e normal. Introdução Caminhadas aleatórias são um modelo recorrente na Física Estatística. Desde o trabalho pioneiro de Einstein sobre o movimento browniano [1], elas tem sido usadas para modelar uma grande variedade de sistema físicos. É bem sabido que uma caminhada aleatória simples, no sentido de uma isotrópica e markoviana (isto é, sem efeitos de memória), leva, na passagem ao limite contínuo, à difusão normal. Mas, mesmo em casos apresentando interações mais complexas, que originam a difusão anômala, caminhadas aleatórias ainda podem ser efetivamente usadas como modelos, com boa concordância com tanto simulações computacionais e experimentos reais. Nos últimos anos, tem sido mostrado que a difusão anômala aparece em diversos fenômenos interessantes, como: transporte em fluidos turbulentos ou meios porosos [2,3], reações limitadas por difusão ou coalescência [4,5], difusão em plasmas [6] e muitos outros. Infelizmente, esses sistemas são difíceis de sujeitar à experimentação em condições bem controladas. Isso torna evidente a necessidade de sistemas especificamente projetados para tornar possível tal controle no laboratório e, portanto, de modelos teóricos para descrevê-los, fornecendo-nos uma melhor compreensão dos processos de transporte anômalos. Um exemplo de tal sistema é o vidro de Lévy [7]. Ele consiste de um grupo de esferas de vidro, com raios seguindo uma distribuição tipo lei de potência, com o meio entre elas sendo preenchido com nanopartículas fortemente espalhadoras de luz. Quando um feixe de luz é focado no sistema, esse arranjo faz os fótons realizarem um voo de Lévy, que sabe-se Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX gerar difusão anômala. Em [8] é apresentado um interessante modelo teórico para caminhadas de Lévy correlacionadas, investigando especificamente difusão em conjuntos de Cantor. Embora estes sejam fractais determinísticos, o tamanho de suas lacunas segue uma distribuição tipo lei de potência, o que o torna um bom modelo para tais tipos de caminhadas aleatórias. Neste trabalho é proposto um estudo computacional de caminhadas aleatórias tendo uma versão discretizada do conjunto de Cantor ternário, obtido iterando-se sua rotina de construção um número finito de vezes, como uma rede de espalhadores. O número de vezes que essa rotina foi iterada foi chamado de geração. A influência da geração nas propriedades difusivas do sistema, particularmente o expoente de difusão, foi investigada e uma transição do comportamento subdifusivo para o normal foi encontrada. Metodologia Uma caminhada aleatória tendo um conjunto de Cantor ternário discretizado como espalhadores. Mais especificamente, foi considerada uma rede unidimensional e a rotina de construção do conjunto de Cantor foi implementada um número de vezes igual à geração considerada. Os pontos nas interfaces entre os subconjuntos pertencentes ao fractal e os “vazios” foram tomados como espalhadores. Quando a partícula está adjacente a um deles, ela pode dar seu próximo passo tanto para a esquerda como para a direita, com probabilidades iguais. Mas, nas demais posições, ela mantém seu movimento, balisticamente, até encontrar um dos espalhadores ou uma das extremidades da rede. O processo difere, portanto, da caminhada aleatória usual, onde as probabilidades de transição para ambos os lados são sempre iguais, irrespectivamente da posição da partícula. A posição inicial foi tomada como refletora e a outra como absorvedora. Um programa de computador na linguagem C++ foi escrito, simulando esta caminhada para 5000 partículas. O procedimento foi repetido para gerações variando da primeira à décima. O deslocamento quadrático médio dos caminhantes foi plotado num gráfico dilog e a parte assintótica dos dados foi ajustada a uma lei de potência, fornecendo assim o expoente de difusão. A caminhada foi também analisada pelo método das cadeias de Markov. Definindo-se o estado do sistema, tanto a posição do caminhante como o sentido de sua velocidade, o processo estocástico resultante é markoviano e, devido a possuir um número finito de estados, é de fato uma cadeia de Markov. Portanto, a multiplicação do seu vetor distribuição de probabilidade inicial pelas potências sucessivas da matriz de transição do processo leva à distribuição de probabilidade para cada instante de tempo. A partir dessas distribuições o deslocamento quadrático médio pode ser facilmente calculado. Uma rotina, também em C++, foi escrita para executarse numericamente esse cálculo. Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX Resultados e Discussão O gráfico 1 mostra os resultados da simulação para a quinta geração (os gráficos obtidos para todas as gerações, por ambos os métodos testados são similares): Figura 1 - Variação temporal do deslocamento quadrático médio do caminhante para a quinta geração, obtidos através da simulação. Podemos observar claramente o comportamento balístico até aproximadamente t=200 quando os caminhantes encontram o primeiro espalhador. A presença destes atrasa consideravelmente a caminhada, levando a subdifusão para as gerações iniciais. Os valores obtidos para os expoentes de difusão foram: Tabela 1 – Expoentes de difusão para cada geração Geração Expoente de difusão (simulação) Expoente de difusão (cadeia de Markov) 1 0,50 0,52 2 0,58 0,55 3 0,54 0,61 4 0,65 0,69 5 0,85 0,83 6 1,11 0,99 7 1,01 1,02 8 1,24 1,13 9 1,26 1,08 10 1,11 1,05 Nota-se que a medida que as gerações (e, consequentemente, a Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX densidade de espalhadores) aumentam os expoentes de difusão aumentam concomitantemente. Isto é consistente com a teoria, pois no caso limite em que todos os sítios são espalhadores recupera-se a caminhada aleatória usual, que leva a difusão normal. Os expoentes maiores que um obtidos para as maiores gerações, entretanto, são difíceis de entender a luz dos resultados já conhecidos. Na falta de uma análise mais cuidadosa de questões de estabilidade numérica dos algoritmos empregados, ainda a ser realizada, não se pode afirmar com certeza que realmente há comportamento superdifusivo. Conclusões Realizou-se um estudo de uma caminhada aleatória unidimensional envolvendo o conjunto de Cantor e as propriedades do processo difusivo associado. Os expoentes de difusão foram calculados tanto através de simulações explícitas da caminhada aleatória quanto de cálculos numéricos da cadeia de Markov associada, obtendo boa concordância, a menos de pequenas flutuações numéricas, entre si e sendo qualitativamente consistentes com o comportamento esperado teoricamente. Referências 1. Einstein, A. Ann. d. Physik. 1905, 17, 549. 2. Richardson, L. F. Proc. Roy. Soc. 1926, 110, 709. 3. Klammler, F.; Kimmich, R. Croat. Chem. Acta. 1992, 65, 455. 4. Galfi, L.; Racz, Z. Phys. Rev. A. 1988, 38, 3151. 5. Braunstein, L.; Martin, O. H.; Grynberg, M. D.;Roman, H. E. Phys. A. 1992, 25, 255. 6. Berryman, J. G. J. Math. Phys. 1977, 18, 2108. 7. Barthelemy, P.; Bertolotti, J.; Wiersma, D. S.; Nature. 2008, 453, 495. 8. Burioni, R. et alii. Phys. Rev E. 2010, 81, 11127. Anais da XVII Semana de Iniciação Científica da UNICENTRO 11 a 13 de setembro de 2012 - ISSN – XXXX-XXXX