Uma Caminhada Transversal em Busca da Justiça Social e o Desenvolvimento de Angola A ACORD foi fundada em 1976 e estabeleceu-se em Angola dez anos depois. Até 1998, o seu trabalho inspirava-se no modelo do desenvolvimento, cuja abordagem de mitigar a pobreza era baseada no acesso e transferência de recursos, habilidades e implementação de projectos para e com as comunidades. Uma abordagem centrada nas consequências da pobreza. O conflito armado daquela altura era tão violento que acabou por derrubar todo o trabalho feito na região norte do país, na província do Uíge, onde a ACORD trabalhou nos primeiros anos, apoiando as associações de camponeses a auto organizarem-se e a mobilizarem os seus factores de produção. Dezoito anos depois, as populações dessa província então apoiadas pela ACORD encontram-se numa situação económica e social semelhante ou pior do à daquela altura. Que reflexão nos sugere, então, este quadro? Entre outras, achamos que é fundamental lidar com os problemas da pobreza e o conflito, não somente a partir das consequências, mas sobretudo a partir das suas causas, que são locais, endógenas, globais, estruturais e exógenas. Nos anos subsequentes a 1992, houve mudanças profundas na sociedade angolana: multipartidarismo e eleições, mudança brusca para o novo modelo de desenvolvimento de economia de mercado inspirado no sistema neoliberal e o recomeço do conflito armado pós-eleitoral que regrediu sobremaneira o país. Todo o trabalho feito pela ACORD, entre 1991 e 1992, no município de Kalukembe na Huíla, apoiando de forma participativa as populações que tinham fugido da guerra a regressar para as suas antigas aldeias, foi mais uma vez por terra. A lição é a mesma! De 1993 até agora, o trabalho desenvolvido com as comunidades pobres e excluídas dos bairros suburbanos de Viana II, da Regedoria também em Viana, no Zangado e no Marçal no município do Rangel em Luanda e no bairro Sofrio e Caluva na cidade do Lubango, na província da Huíla, pela ACORD juntamente com a ADRA, resultou em benefícios de acesso aos serviços sociais básicos e gerou um capital social nas comunidades. Todavia, a maioria da população está na mesma ou pior, principalmente em termos da sua condição económica que baixou consideravelmente. É mais uma evidência da mesma lição acima referida! Comparando com os anos em que a ACORD iniciou o seu trabalho em Angola, o contexto mudou com a emergência de uma sociedade civil angolana, a abertura política e o surgimento de outras organizações internacionais de desenvolvimento com abordagens e métodos diferenciados, desde actuações paternalistas e asistencialistas até à promoção do desenvolvimento estruturado baseado nas capacidades humanas, como faz a ACORD. 1 Com base nestas lições, a ACORD mudou o seu paradigma e concepção de lidar com os problemas da pobreza e a questão do desenvolvimento A nova abordagem da ACORD combina a programação no terreno, a pesquisa e a advocacia em busca de justiça social. Responder às necessidades e direitos básicas da população e desenvolver um trabalho no domínio de influenciar políticas, práticas e atitudes, desde o nível local, provincial, regional, nacional e internacional. Isto envolve apoiar os próprios actores para se envolverem na busca dos seus direitos, cumprindo antes com os seus deveres. No plano global, a pobreza e o atraso da África são um contraste marcante face à prosperidade do mundo desenvolvido. A globalização oferece o potencial para um mundo socialmente justo apenas se os sistemas de relações globais estiverem ao alcance de todos. Devido ao ritmo da globalização, é necessário uma intervenção imediata de forma a reduzir a marginalidade e exclusão social em África, através de processos que tiram proveito das actuais oportunidades a todos os níveis. É necessário também confrontar as instituições que, quer a nível local, nacional e internacional, perpetuam e exacerbam uma injustiça estrutural que tem por resultado apenas a exclusão social dentro das sociedades africanas e entre África e o resto do mundo. Baseado na experiência ganha nos nossos programas e da nossa análise sobre as questões que África enfrenta, trabalhamos nas seguintes áreas temáticas: conflitos, superação de discriminações (de género e outras formas), melhoria das condições e meios de vida, HIV/SIDA e acção social. Trabalhamos junto das pessoas carentes demais para agir, através de: Pesquisa, acção e reflexão; Apoio a organizações locais; Mobilização de recursos; Alianças com outras organizações. Desde 1998, a ACORD Angola desenvolve uma nova abordagem de reforço e desenvolvimento organizacional e institucional através da formação – não formal, da capacitação e do acompanhamento estruturado das organizações locais de desenvolvimento e administração local do estado em projectos desenvolvimento sustentável a longo prazo. A ACORD trabalha em 5 províncias, (Bié, Huíla, Cunene, Namibe e Luanda), em 11 municípios dos 168 existentes; apoiou directamente 40 instituições, organizações e grupos nacionais de desenvolvimento; participa activamente em 10 redes sobre Terra, Micro Finanças, Género, HIV/ SIDA, Inovação Institucional, Poder local e descentralização, Combate à Pobreza, reforço institucional das Organizações da Sociedade Civil; e HIV/SIDA ao nível do CONGA (Rede de ONGs Internacionais em Angola), rede de organizações que trabalham a temática de género e desenvolvimento e que envolve mais de 200.000 beneficiários indirectos e directos. A ACORD também influencia pessoas nas organizações em termos conhecimentos, atitudes e práticas, influencia o interior das organizações no que tange as habilidades, capacidades, credibilidade, liderança, missão e visão, assim como a sociedade, no que diz respeito a questões de HIV/SIDA, metodologia de desenvolvimento, questões fundiárias, exclusão social, 2 legislação e política fundiária, metodologia de educação não formal, os processos sociais, etc. A ACORD implementa neste momento os seguintes projectos: - Apoio a 12 organizações locais de desenvolvimento em Luanda nos municípios de Viana e Rangel; - Reforço institucional através da formação, capacitação, assistência técnica, planificação participativa, facilitação e mobilização de recursos para as administrações municipais e comunais de Catabola e Camacupa na província do Bié; - Apoio às organizações da sociedade civil que trabalham no domínio da luta contra a pobreza no Sul de Angola, nas províncias de Huíla, Namibe e Cunene; - Apoio à reintegração social dos ex-militares no município de Chipindo, na província da Huíla; - Apoio à reintegração social dos ex-militares no município de Catabola e Camacupa, na província do Bié. Todos projectos acima mencionados incorporam uma abordagem sobre reforço do capital social, uma componente transversal sobre cidadania e direitos humanos; uma metodologia de consciencialização sobre HIV/SIDA e relações humanas e de género na Huíla, Namibe e Cunene; bem como a acção participativa dos cidadãos na conquista de seus direitos básicos sem recurso à violência, na Huíla (Chipindo e Quilengues) e Cunene (Kwanhama). A ACORD desenvolve presentemente as seguintes pesquisas: - Pesquisa sobre CAPC (Conhecimentos, Atitudes, Práticas e Comportamentos) face ao HIV SIDA, nas localidades de Munhino (Kapangombe), no Namibe, Lubango e Matala, na Huíla e Santa Clara, no Cunene, cuja finalidade é de conhecer a situação actual para ajudar a elaborar estratégias e métodos de trabalho com as comunidades e dar a conhecer os resultados aos centros de decisão política; - Pesquisa CAPC no domínio do HIV SIDA em Luanda, nos bairros de Marçal no município de Rangel; - Pesquisa sobre CAPC na perspectiva de género para se conhecer melhor os problemas existentes no domínio da violência doméstica contra mulheres que foi levantado durante a identificação do projecto em Camacupa no Bié. - Pesquisa sobre como ajudar as pessoas a conquistarem os seus direitos sem recursos à violência, que está ser implementado no município de Chipindo, e Quilengues na província da Huíla, e no Kwanhama (Kunene) com recursos ao método de testemunhas orais. Os objectivos são: a) Disseminar a “realidade” do género aos que tomam decisões e outros membros da comunidade; b) Apresentar a análise de género e temas sobre a mulher aos que tomam decisões e representantes de organizações da sociedade civil no município de Camacupa; 3 c) Incentivar a mudança de comportamento em relação aos temas de género; d) Fomentar o diálogo constante e respeito dos temas de género/mulher junto da sociedade civil; f) Reforçar, através de debates e formação, a existência de grupos de mulheres da sociedade civil. A ACORD Angola é dirigida por um Director do Programa de Área no País. A Estrutura de Implementação está dividida geograficamente em três Unidades - Sul, Centro e Norte -, províncias, municípios e projectos. Em termos institucionais, a unidade de trabalho é o município. A estrutura de implementação é composta por uma Direcção da ACORD em Angola de 3 pessoas, o Director, o Contabilista do País e Administradora e Pessoal, os Coordenadores dos Projectos, os técnicos de desenvolvimento comunitário ou facilitadores de formação, pessoal administrativo e de apoio. No total o pessoal técnico é composto por 17 pessoas sendo 6 mulheres. Todo o pessoal da ACORD é angolano. Guilherme Santos Fevereiro de 2005 4