UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA ESTRUTURAL E CONSTRUÇÃO CIVIL CURSO DE ENGENHARIA CIVIL RÉGIS SILVA CARDOSO CANTEIROS SUSTENTÁVEIS: UMA ANÁLISE QUALITATIVA DOS IMPACTOS DE IMPLANTAÇÃO E OPERAÇÃO FORTALEZA 2011 ii RÉGIS SILVA CARDOSO CANTEIROS SUSTENTÁVEIS: UMA ANÁLISE QUALITATIVA DOS IMPACTOS DE IMPLANTAÇÃO E OPERAÇÃO Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para obtenção do grau de Engenheiro Civil. Orientador: Prof. Alexandre Araújo Bertini, Dr. FORTALEZA 2011 iii iv RÉGIS SILVA CARDOSO CANTEIROS SUSTENTÁVEIS: UMA ANÁLISE QUALITATIVA DOS IMPACTOS DE IMPLANTAÇÃO E OPERAÇÃO Monografia submetida à Coordenação do Curso de Engenharia Civil, da Universidade Federal do Ceará, como requisito parcial para a obtenção do grau de Engenheiro Civil. Aprovada em ____/____/_____ BANCA EXAMINADORA _______________________________________________________ Prof. Alexandre Araújo Bertini, D.Sc. (Orientador) Universidade Federal do Ceará - UFC _______________________________________________________ Eng. Raimundo Soares Rezende Neto Cameron Construtora ________________________________________________________ Engª. Geórgia Morais Jereissati, M.Sc. Universidade Federal do Ceará - UFC v Dedico este trabalho à minha noiva Rafaela. vi AGRADECIMENTOS À DEUS por tudo e em especial pelas oportunidades que me foram dadas na vida. À minha noiva Rafaela pelo incentivo e apoio durante todo o curso e ao longo da realização deste trabalho. Aos queridos Demontieux, Mônica, Neila e Estélio da Ponte pelo incentivo e confiança. Aos meus pais, Valdir e Célia, que se sacrificaram para educar com sucesso a mim e aos meus irmãos. Ao professor Alexandre Bertini por sua valorosa colaboração neste trabalho. Ao professor Aldo Oliveira por fazer parte da banca examinadora. A todos os professores da Engenharia Civil (UFC) pelas contribuições na minha formação técnico-profissional. Aos colegas de faculdade pelo auxílio nos estudos, pela amizade, sucessos e angústias que partilhamos durante o curso de engenharia. Aos engenheiros civis Eduardo Aragão, Daniel Farney e Rezende Neto pelos exemplos de dedicação à profissão e companheirismo. À Cameron Construtora pela oportunidade de estágio durante quase todo o curso. E aos demais que, de alguma forma, contribuíram na elaboração desta monografia. vii RESUMO Do ponto de vista ambiental a indústria da construção civil provoca grandes impactos, demanda insumos não renováveis e é, reconhecidamente, geradora de desperdícios e perdas. A partir de uma análise superficial deste panorama verifica-se a necessidade de desenvolvimento de tecnologias e práticas sustentáveis. Diante disto, este trabalho busca estudar a implantação de canteiros de obras sustentáveis, bem como seus impactos em seu entorno e a viabilidade em empreendimentos de construção civil. Para tanto, vislumbra-se também, com esta pesquisa, realizar uma discussão acerca dos selos de certificação ambiental, mas especificamente o Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), que trazem uma padronização de procedimentos a ser observada desde a concepção do projeto à ocupação racional do edifício, visando à mitigação dos impactos inerentes a atividade. Foram realizadas visitas em empreendimentos de construção civil de duas construtoras em Fortaleza, sendo uma delas pré-certificada pelo selo LEED-CS, onde foram realizadas entrevistas com os técnicos responsáveis pela implantação e operação do sistema da qualidade ambiental. Nesta oportunidade foram relatadas as dificuldades enfrentadas assim como os benefícios decorrentes para a construtora e para o entorno da obra da certificação “verde”. Analisando as referências bibliográficas, verifica-se que há consciência dos profissionais da área quanto à importância da sustentabilidade, porém a efetivação de práticas sustentáveis ainda é pequena; há certa resistência do setor na absorção de novos instrumentos de gestão, principalmente os que não incrementam de imediato as margens de lucro. Os estudos realizados aqui apontam a necessidade de adoção de práticas sustentáveis simples visando a gestão racional de resíduos da construção civil e de redução dos impactos ambientais. Ao final foram analisadas as principais diferenças entre os canteiros de obra convencional e sustentável, em seguida é proposto um esboço de projeto de canteiro para a obra convencional visitada. Palavras chaves: Sustentabilidade, canteiro de obra, certificação. viii LISTA DE FIGURAS Figura 4.1 - Lava rodas implantado na obra de reforma do estádio Castelão - Fortaleza-CE. ............................................................................................................................................. 42 Figura 4.2 - Acondicionamento inicial dos RCC – (PINI, 2011). ....................................... 43 Figura 5.1 - Aproveitamento das alvenarias e tubulações hidrossanitárias definitivas no canteiro de obras. ................................................................................................................. 49 Figura 5.2 - Utilização de telhas ecológicas mescladas com translúcidas em escritórios e banheiros.............................................................................................................................. 50 Figura 5.3 - Planta baixa do vestiários e banheiro coletivo - sem escala. ........................... 51 ix LISTA DE TABELAS Tabela 4-1 - Números da economia do Nordeste. ............................................................... 27 Tabela 4-2 - Números da economia do Estado do Ceará. ................................................... 27 Tabela 4-3 - Valores das perdas de materiais por entulho no Reino Unido, baseadas no estudo de 114 canteiros de obras. ........................................................................................ 28 Tabela 4-4 - Indicadores de perdas de materiais determinados na pesquisa Finep/Senai para materiais na obra.................................................................................................................. 29 Tabela 4-5 - Indicadores de perdas de materiais determinados na pesquisa Finep/Senai para o cimento na execução de emboço interno e extreno em contrapiso................................... 29 Tabela 4-6 - Indicadores de perdas de materiais determinados na pesquisa Finep/Senais para materiais simples utilizados em outros serviços. ......................................................... 30 Tabela 4-7 - Dispositivos de coleta utilizados no sistema de gerenciamento de resíduos (Sinduscon-SP, 2005). ......................................................................................................... 31 Tabela 4-8 - Formas de acondicionamento inicial para diferentes tipos de RCC (SindusconSP, 2005). ............................................................................................................................ 32 Tabela 4-9 - Formas de acondicionamento final para diferentes tipos de RCC (SindusconSP, 2005). ............................................................................................................................ 32 Tabela 4-10 - Dimensionamento das instalações hidrossanitárias em canteiros de obras (Adaptado de NR-18, 2011). ............................................................................................... 36 Tabela 4-11 - Localização das áreas operacionais e de vivência no canteiro de obras da Construtora A. ..................................................................................................................... 39 Tabela 4-12 - Alimentação da central de argamassa no canteiro de obra da Construtora A. ............................................................................................................................................. 39 Tabela 5-1 - Matriz comparativa entre os canteiros de obra convencional e sustentável. .. 46 x SUMÁRIO LISTA DE FIGURAS ........................................................................................................ viii LISTA DE TABELAS.......................................................................................................... ix 1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 11 1.1 Justificativa ........................................................................................................... 13 1.2 Objetivos ............................................................................................................... 13 1.2.1 Objetivo geral ................................................................................................ 13 1.2.2 Objetivos específicos ..................................................................................... 14 1.3 Limitação da Pesquisa........................................................................................... 14 1.4 Estrutura do trabalho ............................................................................................. 15 2 METODOLOGIA ........................................................................................................ 17 3 SUSTENTABILIDADE APLICADA À CONSTRUÇÃO CIVIL ............................. 19 3.1 Sustentabilidade e as certificações ........................................................................ 19 4 PROJETO DO CANTEIRO DE OBRA ...................................................................... 26 4.1 Estudo de caso: comparativo entre canteiro de obra convencional e sustentável . 38 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES ............................................................................... 46 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ................................................................... 54 ANEXOS ............................................................................................................................. 57 ANEXO A ....................................................................................................................... 58 ANEXO B........................................................................................................................ 59 ANEXO C........................................................................................................................ 60 ANEXO C........................................................................................................................ 61 ANEXO D ....................................................................................................................... 62 11 1 INTRODUÇÃO A economia brasileira vem passando por um período de expansão nos últimos anos e a indústria da construção tem seguido esta tendência. Após duas décadas de baixo crescimento e relativa estagnação, verifica-se que com a estabilidade da economia, controle da inflação, investimentos públicos, incremento e facilidade do crédito, dentre outros pontos, possibilitaram a promoção deste quadro atual de crescimento no setor. Alguns dados do setor podem ilustrar o crescimento deste cenário econômico, como por exemplo, o incremento no número de empregos formais. Segundo Gomes (2010), no ano de 2010 foram gerados 2.555.421 novos postos de trabalho na economia brasileira, um aumento superior a 150% em relação ao ano anterior, sendo a construção civil responsável por 13,1% deste total. Este aquecimento da atividade vem demandando uma readaptação do setor produtivo nos mais diversos aspectos. A demanda por mão de obra, em quantidade e qualidade, por insumos e por novas tecnologias são fatores que ilustram esse panorama. A construção civil no Brasil vem se utilizando de métodos construtivos com baixa tecnologia cuja qualidade é, quase sempre, dependente das habilidades do operário, ou seja, os processos construtivos têm sido impactados por um fator significativo de manufatura e todas as dificuldades inerentes a tal característica. Do ponto de vista ambiental, a indústria da construção civil provoca grandes impactos, demanda insumos não renováveis e é, reconhecidamente, geradora de desperdícios e perdas, tendo destaque as construções em áreas urbanas. Segundo Braga et al. (2005 apud Carvalho et al. 2007), “a poluição se manifesta tanto nas formas gasosa, líquida e sólida e é sob forma desta última que se verificam os principais problemas devido às grandes quantidades geradas e à sua difícil movimentação, já que diferentemente das outras esta não possui mobilidade própria”. Verifica-se, portanto, que o setor tem desafios importantes no combate à geração dos chamados Resíduos da Construção Civil – RCC. De acordo com a resolução nº 307/2002 do Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA –os RCC são definidos como: “Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, 12 tubulações, fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou metralha.” Na contemporaneidade, o apelo pela sustentabilidade das atividades antrópicas vem crescendo e o setor destaca-se por ter grande potencial de melhorias na busca pela redução dos danos ambientais causados. Novos modelos de gestão, tecnologias e melhorias na conscientização ambiental são demandas destes novos tempos. Em virtude das elevadas taxas de crescimento do setor e das peculiaridades supracitadas, surge a preocupação quanto à sustentabilidade da atividade, haja vista que em uma análise superficial verifica-se que esta realidade ruma para um caminho preocupante. Gehlen (2008) defende que dentre as etapas de um empreendimento, a execução deve ser foco das construtoras na busca por sucesso em suas responsabilidades sociais, ambientais, econômicas e culturais, que resultam na sustentabilidade aplicada nos canteiros de obras. É nesta esfera de busca pela sustentabilidade ambiental, na atividade, que aparecem os selos de certificação ambiental. Destacam-se assim os seguintes: Leadership in Energy and Environmental Design (LEED), Alta Qualidade Ambiental (AQUA) e o Organização Internacional de Normatização 14.000 (ISO-14.000). Tem-se apresentado, nesta última década, um número crescente de empreendimentos buscando tais certificações. Os “selos verdes” têm papel importante no sentido de parametrizar as ações para a redução dos impactos ambientais, melhoria no rendimento de materiais, redução do consumo de energia e água, e melhor inserção do edifício com relação ao seu entorno, dentre outras. Assim, este estudo busca identificar instrumentos, tecnologias, metodologias e sistemas prático-gerenciais que visem mitigar os impactos desta atividade econômica e que observem a sustentabilidade em canteiros de obras. Neste cerne, surge como ponto chave deste estudo o conceito de sustentabilidade aplicado à construção. A concepção de um canteiro que alie um rendimento ótimo no uso de materiais, à produtividade e qualidade da mão de obra, que observe o bem estar dos operários e que reduza os impactos ambientais são exemplos de ações que convergem para a filosofia de um canteiro sustentável. Consoante a esta perspectiva, um projeto de canteiros de obras deve observar a dinâmica dos serviços; picos de consumo de materiais; locais adequados para armazenamento; redução dos tempos, distâncias de transporte, de geração de resíduos e no 13 consumo de água e energia; além de promover um processo de conscientização e educação dos operários. 1.1 Justificativa Verificando-se que, ainda que esteja em crescimento, o número de empresas e empreendimentos a submeterem-se às certificações ambientais, trata-se de algo ainda pontual. No decorrer dos estudos verificou-se que algumas peculiaridades do setor podem ser fatores que dificultam a adoção de novas práticas, principalmente as que não evidenciam de forma clara e direta os benefícios econômicos à curto prazo para o empreendedor. Visando este apelo econômico pretende-se evidenciar dados sobre a viabilidade técnica, econômica e financeira de práticas sustentáveis. Portanto, busca-se, ainda, destacar pontos de simples compreensão dentro dos parâmetros dos “selos verdes” que possam ser difundidos no mercado para o bem da prática sustentável. Diante disto, a implantação de canteiros de obras considerados sustentáveis, bem como seus impactos relativos ao seu entorno e a viabilidade de aplicação em empreendimentos de construção civil, é abordada no decorrer do presente estudo. A concepção do projeto de canteiro e gerenciamento das atividades realizadas em suas dependências são itens importantes no tocante à minimização dos transtornos causados durante a obra, ao bem estar dos operários e ao seu entorno. 1.2 Objetivos 1.2.1 Objetivo geral Analisar de forma qualitativa os impactos ambientais, para a sociedade em geral e para os empreendimentos de construção civil, da implantação de práticas sustentáveis em canteiros de obras. 14 1.2.2 Objetivos específicos Estabelecer práticas no cotidiano das atividades dos canteiros de obras que visam à sustentabilidade na construção de edifícios; Levantar, a partir do comparativo entre as obras visitadas, instrumentos que podem ser executados nos canteiros de obra visando à mitigação dos impactos da construção; Esboçar um projeto de canteiro de obra sustentável para a obra visitada que não tem certificação ambiental. Esta pesquisa busca apontar a aplicação dos preceitos de fácil assimilação da sustentabilidade a um canteiro de obra da construção civil não certificado com selo verde, de modo a introduzir uma nova realidade que está sendo implementada em países desenvolvidos e em empreendimentos brasileiros certificados. 1.3 Limitação da Pesquisa Este trabalho acadêmico apresenta limitações que devem ser ressaltadas, uma vez que o mesmo foi desenvolvido em um contexto que permite o alcance dos objetivos anteriormente estabelecidos, caracteriza os resultados obtidos e os torna válidos cientificamente para este escopo limitado. Este estudo apresenta uma discussão acerca do cenário atual desta atividade econômica no Brasil, com destaque para a cidade de Fortaleza-CE, assim como as perspectivas no tocante à sustentabilidade do setor, à geração de impactos ambientais, à legislação específica, bem como os conceitos aplicados aos canteiros de obras. Também será apresentada a caracterização dos resíduos gerados pela construção civil e que destinações finais são possíveis tendo em vista a tecnologia atual disponível para tal. É foco deste estudo as obras de edifícios residenciais ou comerciais situadas em regiões urbanizadas, com estrutura em concreto armado e revestimentos interno e externo argamassados e placas cerâmicas. De forma a vislumbrar a realidade de duas construtoras locais, foram realizadas visitas às construtoras situadas em Fortaleza, que doravante serão reportadas como “Construtora A” e “Construtora B”. 15 A primeira é certificada apenas com os selos de qualidade de gestão de processos ISO-9001/2008 e PBQPH, ambos com nível A. Aqui não serão aprofundados tais selos, uma vez que não se trata do foco deste trabalho. Com relação à segunda construtora, além das duas certificações supracitadas, a obra da Construtora B também é pré-certificada pelo selo LEED, tipo Core and Shell – LEED-CS (envoltórias e áreas comuns), nível Prata ou Silver, versão 3. Devido às limitações impostas pela “Construtora B”, que visam à proteção comercial de suas estratégias, não foram autorizados o registro de fotografias, filmagens ou gravação de entrevistas. Assim serão expostos, neste trabalho, apenas os tópicos tratados durante as visitas e seu conteúdo de forma a ilustrar soluções para a mitigação de impactos ambientais causados pela atividade da construção civil. Além disto, estão apresentadas algumas fotos que ilustram alguns dos itens exigidos pela certificação LEED, que será analisada neste estudo, capturadas ou oriundas da pesquisa bibliográfica. Não se teve acesso à documentação oficial utilizada pelo conselho certificador em estudo uma vez que este acesso é permitido apenas aos membros da entidade. Todavia, foram realizadas pesquisas no site oficial do Green Building Council Brasil, (GBCB), que traz um checklist para certificação LEED-CS (Anexo A), contendo a pontuação para avaliação de projetos e permitiu o conhecimento dos quesitos avaliados neste tipo de certificação. 1.4 Estrutura do trabalho O conteúdo deste estudo fora dividido de forma a dinamizar a leitura e sistematizar sua compreensão. Assim, este trabalho está dividido em seis capítulos, dos quais o primeiro é esta introdução, que apresenta a contextualização da temática, traz um apanhado geral acerca do desenvolvimento do estudo além de explicitar esta estruturação. O capítulo 2 apresenta a metodologia utilizada para o desenvolvimento da pesquisa de modo a contemplar os objetivos pré-estabelecidos, estruturando-a de modo a permitir a elaboração dos resultados. O terceiro capítulo expõe os conceitos de sustentabilidade, de canteiro de obras sustentável, além de apresentar um panorama acerca dos selos de certificação ambientais mais difundidos no mercado mundial, nacional e regional. São apresentados e discutidos os dados, levantados em visitas técnicas a um empreendimento convencional e outro pré- 16 certificado pelo selo LEED-CS na cidade de Fortaleza, as entrevistas realizadas com os responsáveis técnicos pelo assunto na Construtora B e na obra. Os dados obtidos nas referências consultadas sobre o selo LEED e nas visitas foram tabulados e, assim, realizado um estudo comparativo com relação às obras convencionais observando que impactos ambientais são minimizados ou mitigados em obras certificadas. Tendo em vista que as obras certificadas com os selos verdes em Fortaleza são uma minoria e que a construção civil apresenta um potencial de impactos ambientais passíveis de redução ou eliminação, é que em seguida são discutidos quais das práticas são de simples implementação em obras convencionais. O capítulo 4 aborda a temática do projeto de canteiro de obras, aponta questões que podem ser racionalizadas durante o processo de concepção do projeto do canteiro, operação e manutenção do mesmo visando a otimização dos recursos empregados, redução de perdas, adequação às normas e legislação específica, planejamento das atividades inerentes ao cotidiano da obra, dimensionamento das áreas de vivência. Ainda neste capítulo será abordada a importância das instalações e equipamentos de modo a minimizar o consumo de energia e água. Além disso, avalia-se que o canteiro pode proporcionar o bem estar dos operários e a minimização dos transtornos à vizinhança. O capítulo 5, em linhas gerais, apresenta os resultados e discussões sobre o esboço de um projeto de canteiro de obra sustentável para a obra da Construtora A. O sexto e último capítulo traz as conclusões e considerações finais acerca da temática, destacando recomendações que são julgadas necessárias para a colaboração com a academia e a sociedade. 17 2 METODOLOGIA Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos utilizados, bem como a descrição dos mesmos, como forma de explicitar o desenvolvimento desta pesquisa. Para o desenvolvimento deste estudo a metodologia procedeu-se em etapas, a saber: a) Revisão bibliográfica; b) Elaboração de questionário para entrevistas; c) Seleção das construtoras e obras a serem visitadas; d) Entrevista com a Engenheira da Qualidade1 da Construtora B; e) Entrevista com o gerente técnico da Construtora B; f) Visita à Construtora A; g) Tabulação de dados; h) Elaboração de projeto de canteiro de obra sustentável para a obra da Construtora A. Desta forma o passo inicial deu-se a partir de uma pesquisa bibliográfica em revistas, web sites, jornais, livros, boletins técnicos, artigos científicos e normas técnicas voltadas à construção civil, mais especificamente as temáticas de canteiro sustentável, redução de perdas em canteiros e legislações pertinentes. Procurou-se estabelecer algumas discussões sobre a indústria da construção civil e, assim, compará-la com as indústrias seriadas, ressaltando sua importância econômica e social, bem como acerca dos impactos ambientais gerados pela atividade e suas respectivas formas de atenuação. Em seguida focou-se nos estudos acerca da literatura existente sobre conceitos de sustentabilidade, construção sustentável, canteiro de obras sustentável e suas ferramentas e metodologias que são aplicáveis na construção e operação de edifícios, sobretudo os residenciais. Posteriormente, ampliando-se a coleta de dados, realizaram-se investigações obtendo-se uma análise de dados sócios econômicos referentes à indústria da construção, conforme algumas entidades do setor e outras instituições de pesquisa econômica, de 1 Engenheiro(a) de qualidade é o cargo da ocupado por um engenheiro(a) civil ou de produção responsável por gerir e representar a diretoria da empresa no sistema de qualidade em questão – Construtora B. 18 forma a posicionar esta atividade e ilustrar sua importância na economia brasileira e regional e sua respectiva influência na sociedade. O passo seguinte foi a realização de uma pesquisa no mercado local com relação a empresas que possuíssem um selo de certificação com o viés da construção sustentável. Este procedimento foi impulsionado pelo desejo de vislumbrar, na prática, que instrumentos gerenciais são sugeridos pelos selos verdes no tocante às atividades desenvolvidas no canteiro de obra. Esta pesquisa apontou para uma construtora em Fortaleza, com um empreendimento com pré-certificação do selo LEED, neste estudo intitulada como Construtora B. Nesta empresa foram realizadas entrevistas com a Engenheira da Qualidade, no canteiro de obra, e com o gerente técnico, no escritório da empresa. Os questionários foram elaborados com o intuito de buscar informações sobre as dificuldades encontradas na adoção da certificação, sobre a influência da certificação sobre os operários e vice-versa, sobre ferramentas gerenciais de fácil assimilação em obras não certificadas, sobre o impacto da certificação sobre o entorno da obra e, finalmente, visando estabelecer alguma relação entre a certificação ambiental e o preço de venda do imóvel. Como já fora relatado, a Construtora B impôs condições de proteção comercial de suas práticas de forma que não foi possível a captura de fotografias, vídeos ou mesmo a gravação da entrevista. Portanto, os relatos aqui registrados são oriundos de anotações e síntese das ideias gerais tratadas. As figuras utilizadas ilustram alguns dos itens exigidos pela certificação LEED foram capturadas em outras obras ou na pesquisa bibliográfica. A pesquisa teve continuidade com a visita a outro canteiro de obra na Construtora A, de forma a possibilitar um comparativo entre as obras em questão e identificar as potencialidades de melhorias, com relação à redução de impactos ambientais, gestão de resíduos, saúde ocupacional e bem estar de operários, enfim sustentabilidade. Com o conhecimento das duas realidades e de acordo com a bibliografia consultada, foram tabulados alguns dados qualitativos visando identificar instrumentos de gestão e controle das atividades desenvolvidas no planejamento e no cotidiano do canteiro, de modo a racionalizar e minimizar os impactos inerentes. Finalizando o percurso metodológico foi elaborado um projeto para o canteiro de obra da Construtora A, observando o fluxo dos processos construtivos e demais atividades realizadas no canteiro de obra. 19 3 SUSTENTABILIDADE APLICADA À CONSTRUÇÃO CIVIL Este capítulo traz uma abordagem sobre os conceitos de sustentabilidade e suas diretrizes, bem como suas aplicações à construção civil, mais especificamente, ao que se refere aos canteiros de obra. Aborda ainda as visitas realizadas às obras das construtoras A e B. Na visita a Construtora B, além da análise do canteiro de obra, realizou-se também uma visita ao escritório de administração da empresa. Das entrevistas dos profissionais desta empresa foram levantadas informações sobre as experiências regionais pioneiras na adoção deste tipo de certificação. Em seguida são apresentadas as características dos diferentes selos de certificação para “green buildings”. Foram registrados alguns pontos importantes sobre a certificação LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) e sua influência nas atividades de gestão e operação do canteiro de obras. Do que foi disposto verifica-se que a indústria da construção civil demanda insumos que são recursos naturais não renováveis e é tida como grande geradora de resíduos e desperdício. Em uma análise superficial verifica-se que este panorama não é sustentável. A origem do termo sustentabilidade surgiu exatamente da preocupação com o futuro produtivo das gerações posteriores (GEHLEN, 2008). 3.1 Sustentabilidade e as certificações Gehlen (2008, p.22) destaca que “o termo sustentabilidade tem suas origens na década de 1960, quando o movimento ambientalista se fortaleceu” e a definição mais difundida é oriunda do Relatório Brundtland de 1987. Tal documento, resultado de estudos e debates promovidos pela World Commission on Environment and Development, defende que a economia não pode ser discutida sem os aspectos concernentes ao meio ambiente, uma vez que desastres ambientais podem causar recessões e outros impactos econômicos. Com isto posto, surgiu então o conceito de desenvolvimento sustentável, que passou a ser tido como “aquele que atende às necessidades da geração atual sem comprometer as necessidades das gerações futuras” (BRUNDTLAND, 1987 apud GEHLEN, 2008). 20 Silva (2003) afirma que a questão da sustentabilidade é a tentativa de conciliar o que é socialmente desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável. Para Smeraldi (2004, apud GEHLEN, 2008), “a sustentabilidade deve ser algo dinâmico, procurando a melhoria contínua, de forma que os limites devem ser cada vez mais restritivos”. Para tanto a tecnologia aparece com função importante na busca por processos com rendimentos cada vez melhores. Em outras palavras a sustentabilidade é um conceito que preconiza uma produção racional, visando garantias futuras de produção com qualidade ambiental compatível. Assim, a sustentabilidade na construção civil pode ser abordada em três níveis: construções atentas ao meio ambiente, construções sustentáveis e vida sustentável. (ROVERS, 2003 apud GEHLEN, 2008). De maneira geral, o primeiro nível trata da construção em si e as considerações que nela são feitas com relação à redução de impactos ambientais causados por ela, redução do consumo de energia, água e materiais. No tocante ao segundo nível, as construções sustentáveis devem atender todos os aspectos da construção com a adição de cuidados com o meio ambiente, ou seja, fauna, flora, infraestrutura, qualidade do ar e projeto urbanístico. O terceiro nível traz considerações sobre o cotidiano de operação do edifício com melhoria do bem-estar geral. Diante destas considerações sobre a sustentabilidade surgiu a necessidade de parametrizar as diretrizes da causa. O mesmo ocorreu com as filosofias de gestão empresarial, de gestão de processos e responsabilidade sociais das empresas. Desta forma, surgem os selos de certificação, ferramentas que permitem registrar um reconhecimento de um organismo, colegiado ou conselho. Em 1946 a Organização Internacional de Normatização (ISO) foi criada, com a função de elaborar normas internacionais de fabricação, comercialização e comunicação para todos os tipos de indústria e comércio. A série de normas ISO 9000 objetivam a padronização de um modelo de gestão que garanta a melhoria qualitativa dos processos, cuja ideia central é a da melhoria contínua (ISO, 2008 apud GEHLEN, 2008). Em 1992, a ISO foi convidada para Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (Rio-92). Nesta ocasião foi constatado que vários países vinham desenvolvendo suas próprias leis de cunho ambiental impulsionadas pelas tragédias ambientais de anos anteriores. Percebeu-se então a demanda por padronizar o comportamento das atividades econômicas de forma a observar a sustentabilidade destas. 21 Este foi o ponto inicial da ISO-14.000, criada em 1996. “A norma estabelece ferramentas focadas nos processos de produção [...] em relação aos efeitos ou externalidades destes no meio ambiente” (GEHLEN, 2008). Este panorama vem estabelecendo uma crescente aceitação dos países pelas certificações e o status que elas proporcionam. É neste contexto, mas especificamente em 1996, que o Programa Brasileiro de Qualidade e Produtividade no Habitat (PBQP-H) foi desenvolvido no Brasil pelo Governo Federal para buscar a aplicabilidade da ISO 9001 no país. O Programa envolve algumas ações com o intuito de, dentre outros, atingir alguns objetivos, como, por exemplo: melhoria de materiais, formação e requalificação de mão de obra, normatização técnica, avaliar técnicas inovadoras, promover a comunicação intersetorial e com os consumidores visando ao longo prazo reduzir à níveis mínimos o déficit habitacional no país. De forma sucinta, o programa objetiva “organizar o setor da construção civil em torno de duas questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e a modernização produtiva.” (PBQP-H, 2011). Atualmente os dois principais selos de avaliação de edifícios mais difundidos no Brasil são o AQUA (Alta Qualidade Ambiental) e o LEED. De acordo com Cardoso (apud GEHLEN, 2008) o AQUA “é um processo de gestão de projeto visando obter a qualidade ambiental de um empreendimento novo ou reabilitação”. A experiência vivenciada nesta pesquisa, a partir da visita à obra da construtora B, possibilitou a análise de uma pré-certificação LEED e que, portanto, merece um maior destaque por se tratar do edifício residencial pioneiro em Fortaleza a conseguir este status. O selo LEED, segundo o GBCB (2011) é “o sistema de certificação e orientação ambiental de edificações [...], sendo o selo de maior reconhecimento internacional e mais utilizado em todo o mundo, inclusive no Brasil”. Para requerer a certificação um empreendimento deve buscar encaixar-se em um tipo de certificação e submeter-se à análise de critérios, checklist, estipulado para cada um destes tipos. A pontuação obtida no checklist aponta para qual dos níveis disponíveis será a certificação. Os níveis variam da seguinte forma: Certificado (40 a 49 pontos), Silver ou Prata (50 a 59 pontos), Gold ou Ouro (60 a 79 pontos) e a pontuação máxima Platinum (80 a 100 pontos). O selo atende a diversos tipos e necessidades e atualmente o GBCB disponibiliza os seguintes tipos de LEED, a saber: “LEED NC – Novas construções e grande projetos de renovação; LEED ND – Desenvolvimento de bairro (localidades); 22 LEED CS – Projetos de fachadas e parte central do edifício; LEED Retail NC e CI – Lojas de varejo; LEED Heathcare – Unidade de saúde; LEED EB_OM – Operação de manutenção de edifícios existentes; LEED Schools – Escolas; LEED CI – Projetos de interiores e edifícios comerciais”. De acordo com Casado (2011, p. 3) “o futuro da construção civil já tem um caminho traçado e a sustentabilidade não será apenas um modismo”. O autor ainda faz considerações ao que se refere ao crescente número de empreendimento registrado junto ao United States Green Building Council (USGBC) para a obtenção da certificação LEED. Ainda segundo Casado (2011, p. 3) “o movimento da construção sustentável já faz parte da agenda mundial e felizmente não há mais como ignorar esse movimento. Ou as empresas do mercado se atualizam ou vão ficar obsoletas em um futuro próximo”. Algumas empresas nacionais vêm utilizando as prerrogativas da construção sustentável em suas edificações, como, por exemplo, algumas agências de bancos. Em Fortaleza, segundo o GBCB, existe uma agência do Banco do Brasil que recebeu a certificação LEED por atender aos pré-requisitos da construção verde. Desta mesma forma tem-se ainda na capital cearense um edifício comercial pré-certificado, assim como obra de reforma do estádio Castelão para a Copa do Mundo de Futebol de 2014 também é précertificada (GBCB, 2011). Verifica-se, portanto, uma diversificação quanto ao tipo de edificações que vem procurando submeter-se ao selo LEED. A certificação, como uma forma de parametrizar as ações com viés de sustentabilidade, funciona muitas vezes como ponto de publicidade para empresas. Não se deve encarar, no entanto, tal coisa como algo negativo, uma vez que estas instituições têm aplicado recursos na pesquisa e divulgação desta área. Na publicação intitulada Guia de Boas Práticas na Construção Civil, o Banco Real/Santander traz, dentre outros premissas, o 3R (reduzir, reutilizar e reciclar) da construção sustentável definindo da seguinte forma: “Repensar o empreendimento, reduzindo perdas e evitando desperdício de materiais de construção, gerenciando corretamente os resíduos e incentivando primeiro sua reutilização quando possível e depois a sua reciclagem, inclusive pela aquisição de materiais de construção reciclados.” A premissa dos 3R tem um apelo importante e de fácil assimilação na busca pelo melhor rendimento dos materiais. 23 A importância das certificações são refletidas durante toda a vida útil do edifício, e não apenas durante a construção do mesmo. Segundo Casado (2011) os edifícios com certificação LEED tem potencial para redução de 30% do consumo de energia, 35% de emissão de CO2, 30 a 50% do consumo de água e 50 a 60% na produção de resíduos. Assim, sendo palco da principal atividade das construtoras, construir edifícios, o canteiro de obras está inserido neste panorama e, portanto, tem um papel fundamental na busca por melhorias no que concerne a sustentabilidade das construções, pois neste espaço ocorrem as atividades produtivas inerentes do setor. De forma a elucidar possíveis confusões sobre o termo impacto ambiental e como uma obra inserida no meio urbano pode causar danos ambientais é pertinente desenvolver uma discussão a respeito. Esta questão do impacto ambiental é cotidianamente associada à ecossistemas em florestas, mangues ou outros ambientes naturais. Para o bom entendimento desta questão, o presente estudo é fundamental a apresentação do conceito de impacto ambiental, trazido pela resolução nº 001/1986 do CONAMA. Segundo esta, o Impacto Ambiental é considerado como sendo: “[...] qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I - a saúde, a segurança e o bem-estar da população; II - as atividades sociais e econômicas; III - a biota; IV - as condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V - a qualidade dos recursos ambientais”. Portanto, percebe-se que àquelas concepções são errôneas, haja vista que o impacto ambiental também contempla os danos ou perturbações causadas à sociedade, inclusive a urbana. É importante obsevar que as obras demandam a promoção da destinação final aos resíduos produzidos. A destinação mais comum, para obras de construtoras estabelecidas formalmente em Fortaleza, é a deposição de entulhos sobre aterro sanitário controlado situado na Região Metropolitana. De maneira geral, as obras vão depositando o entulho gerado em caçambas estacionárias, de 3 à 5m³ de capacidade, localizadas junto ao meio fio em vias públicas. A coleta é realizada por caminhão. Durante todo o seu trajeto, o caminhão promove alguns impactos ambientais, podendo ser gerador de nuvens de material particulado e ou deixando cair resíduos sólidos sobre o pavimento das ruas ou passeios. Este exemplo é capaz de 24 ilustrar como as obras urbanas causam impactos em áreas de influência maiores que o seu entorno. Diante destes problemas, a CONAMA traz a resolução nº 307/2002, um marco regulatório dos resíduos sólidos da construção civil (RCC), para instituir um instrumento de gestão ambiental do setor. Ao estabelecer diretrizes, critérios e procedimentos o Conselho imprimiu as responsabilidades relativas à redução dos volumes gerados, transporte e destinação final dos RCC. O texto desta resolução é baseado considerando os seguinte itens: a) “[...] a disposição de RCC em locais inadequados contribui para a degradação da qualidade ambiental; b) [...] os RCC representam um significativo percentual dos resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas; c) [...] os geradores de RCC devem ser responsáveis pelos resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e estradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação de solos; d) [...] a viabilidade técnica e econômica de produção de materiais provenientes da reciclagem de RCC; e e) [...] a gestão integrada de RCC deverá proporcionar benefícios de ordem social, econômica e ambiental”. (CONAMA, 2002) Com isto posto, ainda percebeu-se a necessidade de caracterizar os RCC. A resolução em questão classifica-os da seguinte maneira, a saber: “Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como: a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem; b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto; c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras; Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros; Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os produtos oriundos do gesso; IV - Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos à saúde.” Logo, fica evidente que a gestão dos RCC é um desafio do setor produtivo, dos governos e da sociedade em geral. Destaca-se neste ponto a importância do planejamento, 25 projeto do canteiro de obras, assim como as atividades desenvolvidas no cotidiano da obra na busca por resultados satisfatórios de redução e reaproveitamento de resíduos e pela mitigação dos impactos causados pela indústria da construção civil. Conclui-se, então, que o projeto do canteiro de obras deve observar o bom andamento das atividades inerentes; logística operacional; acondicionamento interno, externo e destinação final dos RCC; produtividade, bem estar, saúde ocupacional e desenvolvimento social dos funcionários; redução de impactos ambientais causados ao entorno e às cidades; e proporcionar um melhor rendimento dos materiais de forma a reduzir custos do empreendimento. Este trabalho foca sua pesquisa e analisa o ato de construir, a despeito de toda a importância prévia de planejamento e projeto da obra, visando o cotidiano das atividades no canteiro de obras. Assim, o capítulo seguinte faz uma análise do projeto de canteiro de obra observando estes pontos. 26 4 PROJETO DO CANTEIRO DE OBRA Este capítulo traz uma discussão sobre o panorama do cenário econômico em que a construção civil está inserida; um levantamento quantitativo com relação a perdas no setor. Apresenta o dimensionamento e a importância de se projetar o canteiro de obra do ponto de vista das normas do Ministério do Trabalho e Emprego e da logística da dinâmica do canteiro, bem como destaca alguns dos impactos causados pelos serviços na construção de uma edificação. Na última década o crescimento do setor da construção civil foi impulsionado pela estabilidade econômica, redução de impostos sobre insumos, programas e financiamentos da habitação e grandes obras públicas de infraestrutura. Dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC, 2010) mostram que a taxa de crescimento do Produto Interno Bruto – PIB – setorial chegou a atingir, somente nos nove primeiros meses de 2010, o patamar de 13,6%. Outra particularidade do setor verifica-se na esfera social, uma vez que emprega uma fatia da mão de obra com baixa escolaridade. A construção civil tem papel social e econômico importante na economia brasileira e, fundamentalmente nas regiões de baixo desenvolvimento como é o caso do Nordeste. Devido as suas características, que ainda perduram, como baixo nível de tecnologia em seus processos, o setor é responsável por absorver boa parte da mão de obra com baixa escolaridade. As Tabelas 4.1 e 4.2, compiladas pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010 apud Banco do Nordeste – BN – 2010a, 2010b), trazem os números de vínculos empregatícios e quantidade de estabelecimentos vinculados às economias do Nordeste e do Estado do Ceará, respectivamente. Em ambas aparecem em destaque a participação da construção civil, ilustrando assim a importância do setor na economia regional. Mesmo com isto posto o setor da habitação no Brasil ainda tem uma lacuna importante a ser preenchida em virtude do déficit habitacional ainda persistente. Esta questão impõe o desafio de introduzir tecnologias para um melhor rendimento dos insumos de produção. Todavia, com a atual concorrência entre as empresas do ramo, as dificuldades inerentes à mão de obra, aquisições cada vez mais caras de terrenos e insumos e as 27 pressões devidos aos impactos ambientais da atividade instaura-se um novo cenário para construção civil (GEHLEN, 2008). Tabela 4-1 - Números da economia do Nordeste. N° de Vínculos Empregatícios Valores % Nordeste Total Indústria 7.422.186 1.105.325 100 14,89 Construção Civil Comércio Serviços e Administração Pública Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 430.113 1.233.665 4.427.198 225.885 5,79 16,62 59,65 3,04 N° de Estabelecimentos Total Indústria Valores 466.962 43.876 % Nordeste 100 9,4 Construção Civil 21.370 46,52 Comércio 217.244 46,52 Serviços e Administração Pública 155.415 33,28 Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 29.057 6,22 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010) apud Banco do Nordeste (BN) (2010 b). Tabela 4-2 - Números da economia do Estado do Ceará. N° de Vínculos Empregatícios Total Indústria Construção Civil Comércio Serviços e Administração Pública Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca N° de Estabelecimentos Total Indústria Valores % Estado 1.236.261 246.438 100 19,93 58.435 185.522 721.433 24.433 4,73 15,01 58,36 1,98 Valores 71.673 9.498 % Estado 100 13,25 Construção Civil 3.809 5,31 Comércio 33.782 47,13 Serviços e Administração Pública 23.575 32,89 Agropecuária, extração vegetal, caça e pesca 1.009 1,41 Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) (2010) apud Banco do Nordeste (BN) (2010 a) É neste contexto que se destacam os sistemas de gerenciamento do controle de custos, qualidade e tempo. A este tripé conceitual já tradicional da construção civil, que Blumenschein (2004) afirma que “deve-se passar a considerar também os aspectos 28 ambientais como relevantes”. O autor afirma ainda que desastres ambientais impactam sobremaneira a economia e que isso justifica a inserção deste novo ponto. Para tanto, verifica-se que as atividades desenvolvidas no canteiro de obra têm papel fundamental para redução dos impactos ambientais causados por esta atividade produtiva. Ao se tratar de sustentabilidade na construção é inerente pontuar a relevância do controle de perdas, do consumo de água e energia e do bem estar dos trabalhadores e vizinhança da obra. Quando se fala de perdas na construção civil é preciso se ter cuidado de como são tratados os dados. Segundo Souza (2005) alguns dados alarmantes difundidos pela mídia são distorcidos e inverossímeis. O autor defende que alguns mitos foram gerados pela dinâmica imposta à imprensa e a necessidade de se minimizar os tempos das matérias que vão ao ar. Afirmações como a de que a cada três prédios construídos, um é desperdiçado são exemplos deste cenário. Verifica-se, porém, que há de fato um potencial extraordinário na redução de perdas produzida pela construção civil formal. O desconhecimento de tais valores pode induzir a erros durante o processo de elaboração de orçamentos de obras. Alguns dados são importantes para apresentar a dimensão destas perdas. A Tabela 4.3 de Skoyles (1976, apud SOUZA, 2005, p. 53) traz um apanhado de valores de perdas de materiais por entulho, baseado em estudo em 114 canteiros de obras. Tabela 4-3 - Valores das perdas de materiais por entulho no Reino Unido, baseadas no estudo de 114 canteiros de obras. Índice de perdas (%) Nº de Faixa de variação Usual em Material Real canteiros dos resultados (%) orçamentos Concreto em infraestrutura 12 3 a 18 8 2,5 Concreto em superestrutura 3 - 2 2,5 Aço 1 - 5 2,5 Tijolos comuns 68 1 a 20 8 4 Tijolos à vista 62 1 a 22 12 5 Tijolos estruturais vazados 2 - 5 2,5 Tijolos estruturais maciços 3 9 a 11 10 2,5 Blocos leves 22 1 a 22 9 5 Blocos de concreto 1 - 7 5 Telhas (inclusive cumeeira) 1 - 10 2,5 29 Madeira - tábuas 3 12 a 22 15 5 Madeira - compensados 2 - 15 5 Rev. Argamassados - paredes 4 2a7 5 5 Rev. Argamassados - tetos 4 - 3 5 Rev. Cerâmicos - paredes 1 - 3 2,5 Rev. Cerâmicos - pisos 1 - 3 2,5 Tubos cobre 9 - 7 2,5 Tubos PVC 1 - 3 2,5 Conexões de cobre 7 - 3 - Vidro - chapas 3 - 9 5 - 16 - Janelas pré-envidraçadas 2 Fonte: (SKOYLES, 1976, apud Souza, 2005). Souza (2005, p. 55) traz ainda dados da pesquisa Finep/Senai, estudo da realidade brasileira, contemplando canteiros de obras em 12 estados. As Tabelas 4.4; 4.5; e 4.6 registram indicadores de perdas de materiais na obra, para o cimento na execução de emboços internos e externos e em contrapiso e materiais simples utilizados em outros serviços. Tabela 4-4 - Indicadores de perdas de materiais determinados na pesquisa Finep/Senai para materiais na obra. Material na obra Areia Saibro Cimento Pedra Cal média (%) 76 182 95 75 97 Valor da perda mediana mínima máxima Número de (%) (%) (%) casos estudados 44 7 311 28 174 134 247 4 56 38 36 6 9 6 638 294 638 44 6 12 Tabela 4-5 - Indicadores de perdas de materiais determinados na pesquisa Finep/Senai para o cimento na execução de emboço interno e extreno em contrapiso. Valor da perda média mediana mínima máxima Número de Serviço (%) (%) (%) (%) casos estudados Emboço interno 104 102 8 234 11 Emboço 67 53 -11 164 8 externo Contrapiso 79 42 8 288 7 30 Tabela 4-6 - Indicadores de perdas de materiais determinados na pesquisa Finep/Senais para materiais simples utilizados em outros serviços. Material Concreto usinado Serviço Estrutura Aço Blocos e tijolos Eletrodutos Condutores Tubos PVC Placas cerâmicas Gesso Estrutura Alvenaria Elétrica Elétrica Hidráulica Revestimento cerâmico Revestimento com gesso Valor da perda Média Mediana Mínima Máxima Número de (%) (%) (%) (%) casos estudados 9 9 2 23 35 10 17 15 25 20 16 45 11 13 15 27 15 14 30 4 3 13 14 8 2 -14 16 48 18 35 56 50 120 12 37 3 3 7 18 3 Fonte: Souza (2005) O autor faz ainda considerações sobre tais resultados. Estes corroboram com outros trabalhos e alertam para valores elevados de perdas físicas. Verifica-se ainda grande variação entre obras, que os materiais que passam por processo de dosagem no canteiro sofrem maiores perdas. Souza (2005) afirma ainda que os materiais utilizados na estrutura de concreto armado sofrem baixas perdas, mas que por apresentarem imperfeições na execução acabam demandando maiores quantidades de regularização nos revestimentos argamassados. Percebe-se também que os materiais de instalações prediais sofrem perdas significativas. Segundo o Sindicato da Indústria da Construção Civil do Estado de São Paulo (Sinduscon-SP, 2005), em seu Manual de Resíduos Sólidos, afirma que “a questão do gerenciamento de resíduos está intimamente ligada ao problema dos desperdício de materiais e mão de obra na execução dos empreendimentos”. A busca pela racionalização dos processos visando à redução ou eliminação de resíduos gerados deve ser algo incessante nos canteiros de obra. Segundo pesquisa realizada pelo Sinduscon-SP (2005), a gestão dos resíduos contribui muito para não gerar resíduos, considerando que: “I - o canteiro fica mais organizado e mais limpo; II - haverá a triagem de resíduos, impedindo sua mistura com insumos; III - haverá possibilidade de reaproveitamento de resíduos antes de descartá-los; IV - serão quantificados e qualificados os resíduos descartados, possibilitando a identificação de possíveis focos de desperdício de materiais”. A experiência paulista é resultado de um projeto piloto que fora realizado, seguido de pesquisa dos resultados atingidos, trazendo algumas recomendações que são 31 válidas para a melhoria contínua do gerenciamento de RCC nos canteiros de obras. São tratados itens concernentes à organização do canteiro, dispositivos e acessórios que viabilizam a coleta diferenciada dos resíduos e fluxo destes materiais no canteiro. O Manual Sinduscon-SP (2005) defende ainda que a boa organização do canteiro, de locais de estoques e almoxarifado em geral proporcionam uma melhor verificação, controle dos estoques, otimiza a utilização dos insumos, e evita com que desperdícios sistemáticos no uso e na aquisição de materiais de reposição. Por outro lado, a falta de critérios na organização de estocagem, materiais dispostos de qualquer forma na obra e sem identificação possibilitam equívocos na coleta dos resíduos, provocando o desperdício de materiais passíveis de utilização. Assim, o ato de caminhar pela obra é fundamental para a identificação destes materiais passíveis de reutilização, reciclagem ou descarte. Destacam-se as Tabelas 4.7; 4.8; e 4.9 que trazem os dispositivos de coleta, acondicionamentos inicial e final dos resíduos. Tabela 4-7 - Dispositivos de coleta utilizados no sistema de gerenciamento de resíduos - (Sinduscon-SP, 2005). ACESSÓRIOS DISPOSITIVOS DESCRIÇÃO UTILIZADOS 1-Sacos de ráfia; Bombonas Recipiente plástico, com capacidade para 50 litros, normalmente produzido para conter substâncias líquidas. Depois de corretamente lavado e extraída sua parte superior, pode ser utilizado como dispositivo para coleta. 2-Sacos de lixo simples (quando forem dispostos resíduos orgânicos ou outros passíveis de coleta pública); 3-Adesivos de sinalização 1-Suporte de madeira ou metálico; Bags Saco de ráfia reforçado, dotado de 4 alças e com capacidade para armazenamento em torno de 1m³. 2-Plaquetas para fixação dos adesivos de sinalização; 3-Adesivos de sinalização Baias Caçambas estacionárias 1-Adesivos de sinalização; Geralmente construída em madeira, com dimensões diversas, adapta-se às necessidades de armazenamento do resíduo e ao espaço disponível em 2-Plaquetas para fixação dos adesivos de sinalização obra. (em alguns casos) Recipiente metálico com capacidade volumétrica de 3, 4 e 5m. Recomendável o uso de dispositivo de cobertura, quando disposta em via pública. 32 Tabela 4-8 - Formas de acondicionamento inicial para diferentes tipos de RCC (Sinduscon-SP, 2005). TIPOS DE RESÍDUO Blocos de concreto, blocos cerâmicos, argamassas, outros componentes cerâmicos, concreto, tijolos e assemelhados. Madeira Plásticos (sacaria de embalagens, aparas de tubulações etc.). Papelão (sacos e caixas de embalagens dos insumos utilizados durante a obra) e papéis (escritório) Metal (ferro, aço, fiação revestida, arame etc.). Serragem Gesso de revestimento, placas acartonadas e artefatos. ACONDICIONAMENTO INICIAL Em pilhas formadas próximas aos locais de geração, nos respectivos pavimentos. Em bombonas sinalizadas e revestidas internamente por saco de ráfia (pequenas peças) ou em pilhas formadas nas proximidades da própria bombona e dos dispositivos para transporte vertical (grandes peças). Em bombonas sinalizadas e revestidas internamente por saco de ráfia. Em bombonas sinalizadas e revestidas internamente por saco de ráfia, para pequenos volumes. Como alternativa para grandes volumes: bags ou fardos. Em bombonas sinalizadas e revestidas internamente por saco de ráfia ou em fardos. Em sacos de ráfia próximos aos locais de geração. Em pilhas formadas próximas aos locais de geração dos resíduos, nos respectivos pavimentos. Solos Telas de fachada e de proteção EPS (Poliestireno expandido) – exemplo: isopor Eventualmente em pilhas e, preferencialmente, para imediata remoção (carregamento dos caminhões ou caçambas estacionárias logo após a remoção dos resíduos de seu local de origem). Recolher após o uso e dispor em local adequado. Quando em pequenos pedaços, colocar em sacos de ráfia. Em placas, formar fardos. Resíduos perigosos presentes em embalagens plásticas e de metal, instrumentos de aplicação como broxas, pincéis, trinchas e outros materiais auxiliares como panos, trapos, estopas etc. Manuseio com os cuidados observados pelo fabricante do insumo na ficha de segurança da embalagem ou do elemento contaminante do instrumento de trabalho. Imediato transporte pelo usuário para o local de acondicionamento final. Restos de uniforme, botas, panos e trapos sem contaminação por produtos químicos. Disposição nos bags para outros resíduos. Fonte: Sinduscon-SP (2005) Tabela 4-9 - Formas de acondicionamento final para diferentes tipos de RCC (Sinduscon-SP, 2005). TIPOS DE RESÍDUO Blocos de concreto, blocos cerâmicos, argamassas, outros componentes cerâmicos, concreto, tijolos e assemelhados. ACONDICIONAMENTO FINAL Preferencialmente em caçambas estacionárias. Madeira Preferencialmente em baias sinalizadas, podendo ser utilizadas caçambas estacionárias. Plásticos (sacaria de embalagens, aparas de tubulações etc.). Em bags sinalizados. 33 Papelão (sacos e caixas de embalagens dos insumos utilizados durante a obra) e papéis (escritório) Metal (ferro, aço, fiação revestida, arame etc.). Serragem Em bags sinalizados ou em fardos, mantidos ambos em local coberto. Em bombonas sinalizadas e revestidas internamente por saco de ráfia ou em fardos. Em baias sinalizadas Gesso de revestimento, placas acartonadas e artefatos. Solos Telas de fachada e de proteção EPS (Poliestireno expandido) – exemplo: isopor Baia para acúmulo dos sacos contendo o resíduo; em caçambas estacionárias, respeitando condição de segregação em relação aos resíduos de alvenaria e concreto. Em caçambas estacionárias, preferencialmente separados dos resíduos de alvenaria e concreto. Dispor em local de fácil acesso e solicitar imediatamente a retirada ao destinatário. Baia para acúmulo dos sacos contendo o resíduo ou fardos. Resíduos perigosos presentes em embalagens plásticas e de metal, instrumentos de aplicação como broxas, pincéis, trinchas e outros materiais auxiliares como panos, trapos, estopas etc. Em baias devidamente sinalizadas e para uso restrito das pessoas que, durante suas tarefas, manuseiam estes resíduos. Restos de uniforme, botas, panos e trapos sem contaminação por produtos químicos. Em bags para outros resíduos. Fonte: Sinduscon-SP (2005) Destaca-se, portanto, a necessidade de um planejamento estratégico, envolvendo uma rede de fluxo de resíduos, para a definição dos locais mais adequados para a locação de tais dispositivos. Importante ressaltar também que os materiais indicados nas tabelas anteriores são todos oriundos de embalagens de produtos adquiridos ou que podem ser comprados por baixos custos. Alguns pontos devem ser observados na concepção racional do planejamento, projeto e execução dos edifícios de modo a reduzir tais índices de perdas e consequente produção de resíduos. Cabe, no que se propõe este estudo, a análise da concepção, operação e manutenção do canteiro de obra de modo a contribuir, na fase de execução da obra, para a redução das perdas e redução dos custos econômicos, financeiros e ambientais. O projeto do canteiro deve ser concebido à época do planejamento da obra, com o cronograma físico-financeiro da mesma e cronograma de aquisições de materiais. Deve assim contemplar a escolha e dimensionamento das formas de transporte de pessoas e materiais. O projeto é dinâmico, ou seja, é mutável em função dos serviços que vão sendo executados e com as demandas de cada fase da obra. Devem ser observadas as oportunidades em que há os picos de consumo de argamassas e concreto, ou seja, na 34 execução da estrutura, se em concreto armado ou protendido, e durante a execução dos revestimentos argamassados internos e externos. Souza (2005, p. 9) pontua sobre o projeto do canteiro de obras com a seguinte assertiva: “A qualidade deve ser buscada no ponto de vista mais amplo – quando se trata da satisfação do comprador de um imóvel -, ou do ponto de vista dos clientes interno de uma construtora – quando se analisa as condições de trabalho ideais para as equipes de operários que produzirão o edifício. A Produtividade, por sua vez, deve ser buscada através da eliminação dos desperdícios em geral, através da redução dos sobreconsumos de materiais, mão de obra e equipamentos.” Para o dimensionamento ideal do canteiro, em cada fase da obra, há a necessidade de se projetá-lo utilizando o cronograma físico da obra, projetos de situação e conhecimento das especificações dos materiais utilizados nas diversas fases da obra. Desta forma haveria um dimensionamento dos volumes a serem estocados, demandando áreas de armazenamento, e transportados, promovendo a escolha por que tipo de transporte vertical, para materiais e passageiros. Como em outras situações conhecidas na engenharia civil, o canteiro de obras deve ser dimensionado para o seu uso de pico. Segundo Souza (2002), obras relacionadas com o escopo deste estudo, as fases de maior consumo de material e demanda por mão de obra estão os serviços referentes à estrutura em concreto armado, e os revestimentos internos e externos. A realização de um levantamento de demanda dos equipamentos elétricos, betoneiras, peneiras elétricas, elevadores de passageiro e/ou carga, gruas, bombas, dentre outros, que serão utilizados ao longo da obra, com os respectivos consumos de energia é primordial assegurar para um abastecimento contínuo e a contento, visando também à segurança dos mesmos. O mesmo raciocínio é válido para as instalações hidrossanitárias. O projeto de canteiro deve observar projeto específico para o abastecimento de água e destinação de esgoto. De acordo com Reis et al. (2004) “a execução das instalações prediais provisórias é essencial para o inicio das atividades de um canteiro de obras”. Ressalta-se que além do consumo humano e utilização para necessidades sanitárias, a água tem singular importância em uma obra de construção civil. A água entra como insumo, muitas vezes não percebido, nos diversos serviços, como por exemplo, na confecção de argamassas e cura de concreto, elaboração de refeições e limpeza do canteiro. 35 O correto dimensionamento e execução destas instalações promovem o melhor rendimento e menor perda d’água e energia, itens fundamentais para a sustentabilidade da atividade. Com relação ao bem estar dos trabalhadores, segundo Souza (2002), “a construção civil tem sido palco de melhorias nos últimos anos, tanto pelo aumento da concorrência [...] quanto pelo maior rigor das normas, [...] e maior empenho do Ministério do Trabalho na fiscalização [...]”. O autor defende que um indicador desta afirmação tem sido a redução da prática de alojar trabalhadores nos canteiros devido aos custos impostos pelas normas. Evidenciada a importância do canteiro de obras e a necessidade de planejamento das atividades nele desenvolvidas observa-se a necessidade da concepção de um projeto que além de dimensionar as áreas de vivencias, conforme a NR-18 preconiza, que contemple itens da logística das atividades, movimentação de insumos e pessoas, observe a segurança coletiva, e compatibilize estes com o entorno da obra procurando mitigar os desgastes e impactos com a sociedade em geral. Com relação aos resíduos provenientes da construção civil Resende (2008, p. 1) faz as seguintes afirmações: A construção civil é a indústria que mais causa impactos ambientais no planeta. Nos canteiros de obras os maiores impactos ambientais estão relacionados ao grande consumo de recursos e à grande geração de poluições que afetam toda sociedade. Dentre estas poluições, está a emissão de material particulado na atmosfera, responsável por uma série de problemas respiratórios e cardíacos, danos à flora e à fauna, incômodos à vizinhança, danos ao solo, à água e à qualidade do ar, entre outros aspectos. Em vários países, os canteiros de obras são reconhecidos como uma das principais fontes de poluição por partículas. Desta forma, fica evidente que a construção é uma atividade econômica que demanda procedimentos e tecnologias que proporcionem uma racionalização tanto no consumo de materiais quanto no tocante à geração de resíduos e demais impactos ambientais. Para a NB-1367 (ABNT, 1991), o canteiro de obras é composto por “áreas destinadas à execução e apoio dos trabalhos da indústria da construção, dividindo-se em áreas operacionais e áreas de vivência”. São indispensáveis na composição do canteiro de obras, segundo a NR-18 (Brasil, 2011), e onde não há trabalhadores alojados, situação mais comum em obras de edifícios em regiões urbanizadas, as instalações sanitárias, vestiário, local para refeições, cozinha, quando houver preparo de refeições, área de lazer e 36 ambulatório (para obras com 50 trabalhadores ou mais). Dentre outras imposições da NR18 (2011) são de destaque as referentes às instalações sanitárias. A tabela 4.10 ilustra as proporções para estes dimensionamentos. Vislumbrando a redução de custos, através da minimização de perdas, e a sustentabilidade, a reboque, é recomendável a prévia concepção de projetos de alvenaria e de paginação de revestimentos cerâmicos das unidades, caso não haja projeto específico para este fim. Por sua vez, tais projetos irão alimentar a demanda por áreas no canteiro destinadas às centrais de corte e montagem de blocos ou tijolos com caixas elétricas e de corte de placas cerâmicas, à época da fase de revestimentos internos e externos. Tabela 4-10 - Dimensionamento das instalações hidrossanitárias em canteiros de obras (Adaptado de NR-18, 2011). Item Nº máximo de Unidade trabalhadores por unidade Observações Vaso sanitário 1 20 ou fração Divisórias com 1,80 m de altura e área 1,00m² (mínimos) Lavatório 1 20 ou fração Altura de 90cm para o piso e espaçamento de 60cm (mínimos) Mictório 1 20 ou fração Altura máxima de 50cm. Se em calha cada espaçamento de 60cm equivale a 1 mictório de louça Chuveiro 1 10 ou fração Área 0,80m² e altura 2,10m (mínimos) Somam-se, também, as áreas operacionais e de apoio à produção, como escritórios, guaritas, almoxarifado, centrais de corte e dobra de armaduras, de corte de madeira, de produção de argamassa, baias de armazenamentos e outras. Constata-se, portanto, a estreita ligação entre o projeto de canteiros deve guardar com a sustentabilidade da construção, pois para ambos a redução de consumo de insumos e o bem-estar dos operários buscando a melhoria na produtividade e economia são pontos que ilustram tal relação. Quando analisa a implantação de atitudes e preceitos voltados para a sustentabilidade Gehlen (2008, p.19) destaca: “Dentre as diversas etapas de um empreendimento, a etapa de execução de obras, atividade principal das empresas construtoras, devem ser o foco no exercício de 37 suas responsabilidades sociais, ambientais, econômicas e culturais, que resultam na sustentabilidade aplicada nos canteiros de obras.” A autora defende ainda que os colaboradores das construtoras devem ser sensibilizados da importância da atitude individual para melhores resultados em termos de construção sustentável. Para tanto, alguns pontos importantes, que podem ser inibidores ou impeditivos, devem ser levantados, como é mostrado a seguir. A indústria da construção civil é resistente na alteração de seus processos, tem demorada implantação de novas tecnologias e baixa retroalimentação de informações e conhecimentos adquiridos em obras anteriores (YIN, TSERNG et al., 2008 apud GEHLEN, 2008). A rotatividade da mão de obra também é observada e apresenta taxas elevadas em comparação a outras atividades econômicas. Dados do Ministério do Trabalho (2010) apontam que a taxa média de rotatividade brasileira nos anos de 2003 a 2009 é de aproximadamente 36%, excluindo-se os desligamentos por transferências, aposentadorias, falecimentos e demissão voluntária. Por sua vez a Construção Civil, embora tenha um pequeno peso no total de vínculos trabalhistas, apresenta taxa de rotatividade da ordem de 87,3%. No que concerne à qualificação dos técnicos do setor verifica-se que 82% dos profissionais possuem consciência sobre questões envolvendo sustentabilidade, porém apenas 9% realmente estiveram envolvidos na prática com tais preceitos (WBCSD, 2007 apud GEHLEN, 2008). Portanto, dada à importância da sensibilidade de operários e a ciência de grande maioria dos técnicos do setor quanto à sustentabilidade nas construções percebe-se um cenário onde persiste a difusão insuficiente de instrumentos e meios práticos para a implantação dos preceitos sustentáveis. Neste contexto ainda com um número reduzido de empresas certificadas, os selos “verdes” apontam caminhos que visam os preceitos da sustentabilidade nas construções. Conforme já mencionado, os selos de qualidade ambiental mais difundidos no mundo são o LEED e o AQUA, em ambos são traçados pontos que devem ser observados desde a concepção do projeto do edifício, permeando a construção e prevendo ações que tendem a mitigar os impactos da ocupação no entorno do edifício. Gehlen (2008) descreve que os critérios mínimos para certificações são o atendimento à legislação e um desempenho superior às práticas usuais de mercado. Estes 38 critérios tendem a provocar mudanças de atitude pelas empresas e toda a cadeia produtiva que as cercam. De forma a constatar o que foi discutido sobre os canteiros de obras sustentáveis foram realizadas visitas a obras em Fortaleza. A primeira obra visitada é de responsabilidade da Construtora A, onde há a certificação de qualidade dos processos ISO9001/2008 e PBQPH-A. A segunda obra visitada é executada pela Construtora B, sendo contemplada com os mesmos selos da anterior acrescido também de uma pré-certificação pelo selo LEED-CS, versão 3. A seguir estão expostas as considerações sobre tais experiências. 4.1 Estudo de caso: comparativo entre canteiro de obra convencional e sustentável Neste tópico serão avaliados alguns itens relativos ao canteiro de obras das Construtoras A e B (esta última certificada pelo selo LEED-CS). Ambos estão situados no mesmo bairro, Aldeota em Fortaleza, e atualmente, encontram-se nas mesmas fases construtivas. Estão sendo executados os serviços da estrutura em concreto armado e alvenarias com tijolos cerâmicos e blocos de concreto de vedação. Para fins de comparação e conhecimento das ordens de grandeza dos valores cobrados pelas unidades foi realizado um levantamento dos preços por metro quadrado de área privativa. O edifício da Construtora A tem como venda R$ 4.249,91/m², enquanto o edifício da Construtora B suas unidade são comercializadas com a variação entre R$ 4.252,40/m² à R$ 4.365,33/m². 4.1.1 Caracterização da obra da Construtora A O produto oferecido pela Construtora A é um edifício com unidades com 109m² a 184 m² (cobertura). Os pavimentos são divididos em 2 subsolos, 1 pilotis, 17 pavimentos tipo e 1 pavimento de coberturas. Os apartamentos tipo contém varanda gourmet, 3 suítes (sendo uma reversível) e sendo contemplados 2 vagas na garagem cada. A área comum possui fitness, sauna, salões de festas e de jogos, piscinas com raia e infantil, deck com churrasqueira e dois elevadores (sendo um social e outro de serviço). Na oportunidade da visita à obra da Construtora A o canteiro de obras estava passando por um processo de readequação com relação aos espaços oferecidos pelo 39 andamento dos serviços da estrutura do edifício, à época executando a laje do teto 15. A sala técnica, ou sala de engenharia, nomenclatura mais utilizada pela empresa, ocupa atualmente uma região destinada ao fitness. No período anterior a esta disponibilidade de espaço a mesma ocupava um container habitável alugado. Tabela 4-11 - Localização das áreas operacionais e de vivência no canteiro de obras da Construtora A. ITEM LOCAL Almoxarifado Subsolo superior Central de aço (montagem) Subsolo superior Estoques de blocos e tijolos Pavimento térreo (próximo à portaria do canteiro) Central de argamassa Subsolo inferior Depósito de Cimento e cal Subsolo inferior Elevador de cargas Junto à fachada da caixa de escada Elevador de pessoas Junto à fachada da caixa de escada Pavimento térreo (local destinado à sauna do Escritório de subempreiteiros edifício) A central de argamassa, constituída da betoneira autocarregável e peneira elétrica, é abastecida por insumos da seguinte forma: Tabela 4-12 - Alimentação da central de argamassa no canteiro de obra da Construtora A. INSUMO OU PRODUTO TRANSPORTE HORIZONTAL TRANSPORTE VERTICAL Cimento e Cal Carrinho Elevador de carga Operário padiola para calha no Areia e Brita Carrinho pavimento térreo que leva por gravidade até o subsolo inferior Água Mangueira Tubulação em PVC Argamassas Carrinho Elevador de carga Por questões estratégicas que visam incrementar as vendas, a Construtora A costuma moldar as lajes de subsolo apenas na região da projeção vertical da torre, objetivando passar uma imagem de velocidade na obra. Isto acaba trazendo problemas de mobilidade de pessoas e materiais no canteiro. Isso obrigava uma quebra no fluxo de materiais, obrigando a padiolagem de areias para o subsolo, duas ou mais viagens para subida de blocos e tijolos. Verificou-se que durante o serviço de elevação da alvenaria os tijolos eram assentados sem um planejamento prévio ou estudo de compatibilidade com a estrutura e instalações, ou seja, para a execução das instalações elétricas, por exemplo, haverá quebra sem controle de tijolos para passagem de eletrodutos e caixas de passagens. 40 4.1.2 Caracterização da obra da Construtora B O edifício da Construtora B contempla em seu projeto duas torres interligadas, com 2 subsolos, 1 pilotis, 21 pavimentos tipo e um pavimento para coberturas. Os pavimentos tipos são formados por 3 apartamentos, sendo 1 apartamento de 167 m² de área privativa, compostos de 3 suítes e 3 vagas na garagem e 2 unidades de 151m² de área com 3 suítes e 3 vagas na garagem. A área comum conta com fitness, piscinas com raia e infantil, guarita blindada, lan house, sauna, vestuário para funcionários, salões de festas e de jogos, vagas de garagem para visitantes, quadra poliesportiva home theater playground e deck com churrasqueira e bar, além de 3 elevadores (2 sociais e 1 de serviço). Com relação à Construtora B foram realizadas entrevistas com a Engenheira Civil da Qualidade, no canteiro da obra, e com o Gerente Técnico, no escritório da empresa. A escolha pelo tipo LEED-CS se deu pela falta de um tipo específico para edifícios regionais e este é, portanto o que mais se aproxima da realidade residencial, segundo o Gerente Técnico da Construtora B. Ele prossegue ainda discorrendo sobre um comparativo entre outros selos verdes. Segundo este profissional o selo ISO 14.000 parametriza apenas a fase construtiva, ou seja, o edifício depois de concluído poderia gerar os mesmos impactos ambientais de outro que não tenha tido sua construção certificada. O período construtivo tem sua importância quanto à redução dos impactos ambientais, contudo os impactos de maior ordem e de maior duração são ao longo da vida útil da edificação (GEHLEN, 2008). Esta ideia é compartilhada pelo profissional em questão da Construtora B, em que segundo ele: “O LEED está muito mais preocupado com a vida do prédio do que durante a obra. Mas ele consegue aglutinar os 3, o antes, a obra e a operação [...] o LEED é mais abrangente e, portanto, para mim foi clara a escolha pelo LEED. Tem defeitos, mas tem muito a melhorar. O LEED é um padrão americano que tem que se adequar às realidades tropicais. Isso já está sendo trabalhado. Estas coisas é que o Conselho (GBC Brasil) está corrigindo.” Foi constatado também que a Construtora já tinha uma experiência com o viés da sustentabilidade em suas ações, inclusive as que envolvem a publicidade. À exemplo disto o Gerente Técnico pontua: “Já fazíamos o plantio de árvores. Há uma ligação boa da 41 lean construction que já aplicávamos, assim como itens da ISO 9.000. Podemos dizer que o lean construction foi a base para atingirmos esta certificação.” Quanto às dificuldades encontradas durante a adoção das práticas impostas pela certificação a opinião da Engenheira da Qualidade foi uníssona com o Gerente Técnico. Um dos maiores pontos de dificuldade foi com relação aos projetistas e as adequações impostas pelo selo aos projetos. À exemplo disto o Gerente Técnico expôs a necessidade de se utilizar lâmpadas de menor consumo e que para tanto os quadros de carga precisariam ser dimensionado para tal, enquanto que o costume dos projetistas é fazer um projeto para cargas elevadas, proporcionadas pelas lâmpadas incandescentes, que são menos eficiente energeticamente. Visando as principais imposições da certificação quanto ao canteiro de obras os profissionais da Construtora B apontam para a necessidade de arranjar-se o layout do canteiro visando à destinação final dos resíduos. A Engenheira da Qualidade pontuou ainda a necessidade de se utilizar fundações, no caso estacas de hélice contínua, que promovam um menor nível de ruído visando à redução dos impactos sonoros aos vizinhos. Na Construtora B já havia, previamente, a adoção da filosofia do lean construction, e que este fator proporcionou uma facilidade na adoção de muitas práticas exigidas pelo selo LEED. O projeto do canteiro está dentro deste caso. Segundo a Engenheira da Qualidade “o lean nos ajudou, pois já vínhamos elaborando em nossos empreendimentos o projeto de canteiro”. Há a preocupação com a redução dos resíduos gerados pelo canteiro de obras onde se observa a máxima permanência das instalações durante a obra, reduzindo ou evitando demolições das instalações do canteiro de obra. Este é um processo de melhoria contínua. Procuram-se ambientes permanentes do prédio, como salão de festas, onde é possível construir com a alvenaria definitiva e instalarmos a sala técnica de administração da obra. Desta forma, não se tem que demolir uma local que seria utilizado apenas durante a obra. Há ainda a utilização de instalações prediais permanentes de forma a reduzir a necessidade de produção de resíduos provenientes destas demolições e retrabalhos. Após a certificação, adotou-se também o sistema de lava-rodas para veículos ou caminhões que circulam no canteiro, o que reduz significativamente o transporte de areia ou lama que ocasionam a sujeira nas ruas. Além disto, verificou-se também que as águas pluviais são armazenadas e reutilizadas na irrigação de jardins de canteiros ou no abastecimento deste lava-rodas. 42 Visando a redução de poluição por materiais particulados (poeira) foi adotado também o revestimento de taludes resultantes de escavações provisórias. Além disso, os caminhões de material particulados, areia, brita ou entulho são obrigatoriamente cobertos com lonas para minimizar as nuvens de poeira. São realizados ainda o acompanhamento dos caminhões e o registro fotográficos dos caminhões de entulho para a certificação de que a destinação final é adequada. De acordo com os engenheiros da Construtora B há a percepção da vizinhança quanto à preocupação ambiental da empresa e do empreendimento. Segundo os mesmos há uma surpresa com atitudes como o lava-rodas (Figura 4.1) e a manutenção da limpeza no entorno da obra. Figura 4.1 - Lava rodas implantado na obra de reforma do estádio Castelão - Fortaleza-CE. Um fator importante observado no canteiro de obra da Construtora B é a busca por reduções na geração de resíduos e perdas. Segundo o Gerente Técnico a meta para tais reduções é de 10% sobre a expectativa de produção de RCC por uma obra de mesmo porte e sem a visão da sustentabilidade. São os seguintes os instrumentos que buscam atingir estes objetivos: a) Projeto racional de alvenaria, observando as paginações vertical e horizontal da mesma, espessuras das juntas de assentamento, elementos de fixação à estrutura e seu espaçamento, traço da argamassa utilizada, família (tipos e tamanhos) de blocos ou tijolos; 43 b) Montagem de central específica no canteiro, de blocos e tijolos já com caixas de tomada para instalações elétricas; c) Realização de pesquisa de intenção de personalização de projeto das unidades de modo a subsidiar projetos de apartamentos com as opções mais significativas estatisticamente desta pesquisa, oferecendo uma gama de opções de alteração de projeto. Há ainda um setor de projetos na construtora que realiza análises dos projetos de clientes que desejam um nível maior de personalização. Em tempo hábil, este planejamento leva a uma otimização das personalizações, reduzindo retrabalhos e potenciais demolições futuras; d) Realização de transportes e movimentos para otimização da mão de obra; e) Dos resíduos gerados é organizada uma triagem dos materiais passíveis de reutilização, reciclagem ou destinação final adequada (Figura 4.2). Figura 4.2 - Acondicionamento inicial dos RCC – (PINI, 2011). São estipuladas também pela certificação metas limite para redução no consumo de água e energia pelo edifício durante o uso. Segundo o Gerente Técnico da Construtora B tais metas são de uma redução 12% para energia e 20% para água. 44 Buscando este viés também durante a obra o canteiro é projetado de forma a reduzir tais índices. Para tanto o dimensionamento das instalações de canteiro também tem grande importância neste contexto. Sob a ótica das especificações de materiais os produtos cuja extração, produção, manufatura ou industrialização sejam realizados na região do empreendimento, até 805 Km (500 milhas) de raio, trazem uma melhor pontuação para a certificação do selo tipo LEED-CS. A utilização de materiais com determinados percentuais de reciclagem também são acrescidos créditos extras. São exigidas ainda tintas reflexivas, vidros (se for o caso) que promovam menor irradiação de calor ao ambiente e gás ecológico no sistema de ar-condicionado (GBCB, 2008). No tocante ao cotidiano da obra foi constatado que são oferecidos treinamentos de aperfeiçoamento sobre a filosofia do lean construction e sustentabilidade além do oferecimento de escolinhas, que visam o incremento na escolaridade do operário. Segundo a Engenheira da Qualidade, a escolaridade muitas vezes precária dos operários requer estratégias e metodologias que proporcionem um melhor rendimento nas questões da certificação que requerem o envolvimento destes. Ações que visam o bem estar e saúde ocupacional dos operários também são observadas no canteiro sustentável. Áreas de convivência do canteiro de obras, tais como o refeitório, centrais de corte, utilização adequada de equipamentos de proteção coletiva e individual, assim como a destinação de áreas do canteiro dedicadas ao lazer ou descanso dos operários tendem a implicar em envolvimento com as causas e uma melhor produtividade. A Engenheira da Qualidade da construtora apontou ainda itens do LEED de simples adoção por obras não certificadas e que tenham interesse em reduzir os impactos provocados pela atividade da construção. Um sistema de lava rodas, a adoção de lonas plásticas nos caminhões, assim como treinamentos dos colaboradores quanto à coleta seletiva de resíduos gerados podem ser adotados facilmente. O projeto de canteiro pode prever também a destinação de uma área verde, para plantio de jardins, além de aproveitamento da água pluvial. De acordo com o Gerente Técnico da Construtora B os apartamentos do edifício já haviam sido todos vendidos e a certificação foi requerida após. Mesmo admitindo que a certificação seja um custo a mais no orçamento de um empreendimento, o profissional pontua que esta é uma tendência de mercado que veio se estabelecer de forma 45 gradual e definitiva. Porém este repasse do custo deve obedecer à curva de valores praticados no mercado local, sob a pena de haver dificuldades na venda das unidades pois a realidade brasileira, segundo ele, aponta que o consumidor não comprará um empreendimento mais caro apenas pela simpatia a causa. Neste sentido, percebe-se que este processo requer uma mudança de cultura no setor. Além disso, a busca pela sustentabilidade é algo dinâmico, devendo-se atingir metas cada vez mais restritivas, conforme já foi mencionado. Devido às resistências, já citadas, encontradas no setor na absorção de novas práticas e tecnologias, principalmente as que não visam o lucro imediato e palpável, acredita-se que algumas práticas mais simples e de fácil assimilação no cotidiano das obras, e que são adotadas pelas empresas certificadas, podem ser amplamente implantadas em quaisquer obras de construção civil, mesmo que não seja certificada. É com este intuito que segue a discussão e, posteriormente no capítulo de resultados, apresenta-se um estudo de caso com relação à obra da Construtora A, observando os preceitos para um projeto de canteiro sustentável. Deve-se atentar, da mesma maneira, para os transtornos causados ao entorno da obra. Poluição sonora, intervenções no tráfego local, poluição dos passeios, queda de materiais e poluição particulada são fatores a se observar neste quesito. 46 5 RESULTADOS E DISCUSSÕES Neste capítulo serão apresentados os resultados e serão discutidas as preposições para o projeto de canteiro sustentável para a obra da Construtora A. Para tanto se faz necessário à tabulação dos dados referentes ao canteiro de obra sustentável, encontrados no canteiro de obra da Construtora B, assim como pontos já citados anteriormente resultantes da pesquisa bibliográfica – Tabela 5.1. Tabela 5-1 - Matriz comparativa entre os canteiros de obra convencional e sustentável. Resultados das melhorias Canteiro de obra Item Canteiro de obra sustentável encontradas no canteiro convencional sustentável Entrada e saída de veículos Controla as entradas de insumos e saída de resíduos Controla as entradas de insumos e saída de resíduos Todos os veículos têm as rodas lavadas na saída Todos os veículos, de entrega de insumos, assim como de retirada de RCC, são cobertos. Reduz a quantidade de resíduos particulados provocados pelo transporte de solos ou argamassas provenientes do transporte interno ao canteiro. Observa-se a segregação de RCC classes C e D Observa-se a segregação de Visa o reaproveitamento de visando o custo de retirada RCC classes C e D visando o Separação dos materiais danificados ou destes. custo de retirada destes. diferentes tipos cortados, mas que são de resíduos É realizada, em cada pavimento, passíveis de reaproveitamento, gerados a segregação dos RCC gerados. reduzindo os índices de perdas. Utilização de baias de acondicionamento inicial Usinas de reciclagem Destinação de resíduos Aterros sanitários controlados. Triagem e reaproveitamento Aterros sanitários controlados. Conservação de solos provenientes de escavações Verifica-se a manutenção de solos para reaterro nas Manutenção dos volumes imediações do local á ser nas imediações do local á utilizado. ser utilizado. Observa-se o revestimento de taludes. Executado de forma Instalações improvisada, com mão de hidrossanitárias obra desqualificada e sem projeto. Executada segundo projeto específico, observando um abastecimento ininterrupto, a estanqueidade e pressões adequadas. Promove a busca pela redução nos índices de produção de RCC com o reaproveitamento de blocos ou tijolos cortados ou quebrados, pedaços de vergalhões ou madeira, por exemplo. Visa à redução de poluição por materiais particulados. A preocupação com um projeto específico e com utilização de mão de obra especializada promove a redução no consumo de água, 47 Muitas vezes depende das experiências baseadas em erros anteriores e da Possibilidade de se utilizar habilidade de improviso tubulações definitivas. de mestres de obra e/ou engenheiros. Produz volumes Possibilidade de se utilizar consideráveis de RCC na sanitários e/ou cabines de banho desmobilização do modulados. canteiro. Utilização de circuitos sem critérios adequados de dimensionamento e distribuição. Uso de lâmpadas sem critérios quanto ao consumo. Necessidade de uso da iluminação artificial inclusive nos períodos diurnos devido à falta de iluminação natural. Instalações elétricas - Critérios para a locação das áreas de vivência e operacionais Segundo a experiência de mestres de obras e/ou engenheiros. Observando custos. Segundo normas e legislações cabíveis. - na produção de RCC na desmobilização do canteiro. Executada segundo projeto específico, observando um abastecimento ininterrupto, com planejamento prévio dos equipamentos a serem utilizados, promovendo a segurança de equipamentos, circuitos internos e operários Promove o correto dimensionamento das instalações, barateamento das instalações, a segurança dos Uso de lâmpadas eletrônicas. equipamentos, dos circuitos e de operários, assim como a redução no consumo de Utilização de telhas energia elétrica durante a obra. translúcidas, quando for o caso, em cobertas de áreas de vivência/ operacionais. Promove aquisições racionais de materiais e equipamentos necessários. Observando os potenciais impactos ambientais ao entorno. Observando custos. Segundo normas e legislações cabíveis. Observando saúde ocupacional e bem estar de operários. Tendência a resultados satisfatórios em termos de custos, questões legais, produtividade e redução de impactos ambientais. Redução dos deslocamentos e tempos improdutivos de mão de obra. O projeto do canteiro de obra sustentável para a obra da Construtora A, considerou o que preconizam os selos de certificação, assim como o que foi pontuado na Tabela 5.1, e de acordo com: a) Parâmetros observados em SOUZA (2002), que compatibiliza o canteiro para os períodos de pico de uma obra vertical com revestimentos argamassados e estrutura em concreto armado; b) Redução de perdas conforme recomendações contidas em SOUZA (2005,b); 48 c) Exigências da NR-18 quanto ao dimensionamento de instalações sanitárias e condições de trabalho, visando à saúde ocupacional dos operários; d) Recomendações do Sinduscon-SP (2005) quanto à organização do canteiro; fluxo e acondicionamentos inicial e final, e busca por reduzir a produção de RCC; e) Mitigar os impactos inerentes à atividade da construção civil ao entorno da obra; f) Minimizar os custos com destinação de RCC; g) As diretrizes adotadas em obras certificadas com o selo LEED; h) Buscar a promoção de melhor rendimento de materiais e mão de obra. A seguir é traçado um relato de como foram dimensionados os itens numerados no Anexo B, no Anexo C e no Anexo D, que apresenta a planta baixa proposta para o projeto de canteiro de obras sustentável para a obra da Construtora A. (1) Lava rodas: Sistema utilizado para realizar a limpeza das rodas de veículos que precisem transitar nas dependências do canteiro. A lavagem das rodas minimizam o transporte de lama, areia, argamassas ou outros materiais particulados para a rua e, consequentemente, para o entorno da obra. De maneira alternativa a água servida do lava rodas pode aproveitar o excedente da irrigação de jardins do canteiro de obras - Anexo B. (2) Refeitório: O refeitório foi dimensionado de forma a aproveitar boa parte da alvenaria definitiva da região na qual ele foi locado, área reservada ao fitness. Desta forma busca-se a minimização de possíveis demolições e, consequentemente, reduziu-se o entulho produzido, conforme pode ser contatado na Figura 5.1. O espaço físico foi fator restritivo no dimensionamento do refeitório e impôs a divisão do horário de almoço em dois intervalos de uma hora cada, desta forma atende-se às exigências da NR-18 - Anexo B. (3) Aproveitamento de alvenarias e instalações definitivas: A sala do subempreiteiro, assim como a do WC de engenharia e da sala de engenharia aproveitam ao máximo partes da alvenaria definitiva do pavimento térreo, de forma a reduzir significativamente o montante gerado por possíveis demolições do canteiro de obras em desmobilizações, assim como foi proposto no projeto e como também é evidenciado na Figura 5.1 e no Anexo B. Tal figura que apresenta um comparativo da alvenaria do pavimento térreo definitivo do edifício com o projeto do canteiro verifica-se também que as tubulações hidrossanitárias definitivas de banheiros podem ser aproveitadas pelo canteiro de obras sem que com isso haja prejuízos para o desempenho futuro das mesmas. Recomenda-se ainda a utilização de containers habitáveis quando não há possibilidade da utilização das áreas definitivas do edifício: no início da obra, quando a 49 estrutura de concreto armado ainda não permite a ocupação dos pavimentos; e ao final, quando é preciso promover a desmobilização da sala de engenharia para concluir os serviços pendentes no pavimento. O mesmo raciocínio pode ser utilizado para almoxarifado ou outras áreas de vivência. Figura 5.1 - Aproveitamento das alvenarias e tubulações hidrossanitárias definitivas no canteiro de obras. (4) Salão de jogos: Visando o bem estar dos operários neste ambiente é oferecido um momento de lazer e descontração para os horários anterior e posterior ao expediente, assim como no horário reservado ao almoço. Nesta mesma região a utilização de quadros de avisos é bastante útil no sentido de promover a conscientização e educação ambiental dos operários - Anexo B. (5) Trecho vazado na laje: Este decisão foi tomada visando o transporte vertical de armaduras moldadas no subsolo superior, e fôrmas cortadas e montadas no subsolo inferior para os pavimentos superiores, além de promover o aproveitamento do potencial gravitacional para o transporte horizontal de pedras e areias. O caminhão basculante já é 50 equipado com instrumento capaz de descarregá-lo automaticamente e, portanto deve-se tirar proveito disto. Deixando-se vazados trechos das lajes do 1º e 2º teto o caminhão basculante pode efetuar a descarga do pavimento térreo e o material cai no subsolo inferior, local onde ficam as baias de areia, pode ser visualizados nos Anexos A, B e C. As baias de areia e brita, desta forma, ficam localizadas o mais próximo possível da central de argamassa (Anexo D), diminuindo os tempos e percursos improdutivos da mão de obra de capatazia. (6) Sanitários e vestiários para operários: Tais instalações foram dimensionadas conforme a Tabela 4.10, baseada na NR-18. Verifica-se ainda a utilização de telhas de fibras naturais ou material reciclado, as chamadas telhas “ecológicas”, intercaladas de forma adequada com telhas translúcidas no mesmo formato, de forma a promover a iluminação natural do ambiente, reduzindo-se o consumo de energia elétrica para iluminação. Recomenda-se ainda a pesquisa no mercado quanto à viabilidade de se adotar cabines de banho e módulos sanitários reaproveitáveis, assim como os banheiros químicos geralmente utilizados quando se é preciso mobilidade do mesmo, como em obras de estradas. Desta forma seria possível a reutilização destes módulos por mais de uma obra da construtora (Figura 5.2 e Figura 5.3 e localização no Anexo B). Figura 5.2 - Utilização de telhas ecológicas mescladas com translúcidas em escritórios e banheiros (PINI, 2011) (7) Poço de visita do sistema de coleta pública de esgoto: Neste item observa-se a necessidade da interligação das tubulações de águas servidas com a rede pública de acordo com as especificações da concessionária local, porém em regiões onde não há este serviço deve-se dimensionar um sistema de fossa sumidouro para a destinação final dos esgotos Anexo B. 51 Figura 5.3 - Planta baixa do vestiários e banheiro coletivo - sem escala. (8) Barreira de acesso à obra, tipo gradil modulado: Este tipo de barreira promove a necessidade de demolições e, consequentemente, produção de entulhos de grande volume Anexo B. (9) Caçamba estacionária – acondicionamento final: Caçamba estacionária tradicional com capacidade variável entre 3 a 5 m³. Durante a operação do sistema de gerenciamento de RCC deve-se verificar a necessidade de haver a separação por classes de modo a proporcionar a destinação final adequada - Anexo B. (10) Baias de acondicionamento inicial: Confeccionados em madeira ou alvenaria promovem a separação por tipo, tamanho ou classe e possibilitam a triagem e o reaproveitamento - Anexo B. (11) Guarita/ Portaria: Localizada próxima à entrada de pessoas de forma a regulamentar este trânsito. Permite ainda a fiscalização quanto ao cumprimento das expectativas quanto ao uso das baias de acondicionamento inicial e lava rodas - Anexo B. (12) Jardim provisório: Área verde no canteiro, destinada ao paisagismo provisório durante a execução da obra ao mesmo tempo em que promove a reutilização de águas pluviais ou oriundas do lava rodas - Anexo B. (13) Depósito de blocos ou tijolos: Local mais próximo possível do portão de acesso para transbordo dos caminhões. Suprime a necessidade de uma realocação dos tijolos ou blocos de um local provisório para um local de armazenamento definitivo. Recomenda-se a análise constante da demanda por área de acordo com o ritmo de consumo deste material Anexo B. 52 (14) Almoxarifado: Localizado no subsolo inferior de modo a reduzir a visibilidade dos materiais estocados e, consequentemente, reduzir as percas por pequenos furtos. O escritório do almoxarife é dotado de computador de forma a possibilitar as atualizações de estoque e realização de solicitações de materiais pelo sistema informatizado utilizado pela Construtora A - Anexo C. (15) Central de montagem de armaduras: Como a obra já faz a aquisição de armaduras cortadas e dobradas resta a ser realizada no canteiro apenas a montagem das armaduras dos elementos estruturais. O transporte vertical destas armaduras é realizado através de cabos de aço içados pelo equipamento conhecido como guincho pórtico ou elevador de coluna através do vazado na laje de piso do térreo junto à torre – Anexo C. (16) Central de corte de tijolos e blocos: Localizado no subsolo inferior, visa atender a demanda do projeto de alvenaria racionalizada, com tijolos e blocos já montados com caixas de tomada, além de reduzir os efeitos sonoros do corte para a vizinhança, haja vista que no subsolo há um confinamento, o que promove certo isolamento acústico – Anexo D. (17) Central de argamassa: Localizada no subsolo inferior de modo a aproveitar tanto o isolamento acústico promovido por esta localização, assim como obter a vantagem da economia de mão de obra ou energia para fazer o transporte vertical para abastecimento desta. Como fica adjacente às baias de areia e brita e do depósito de cimento e cal também há uma redução satisfatória dos movimentos de mão de obra para a confecção de argamassas. (18) Baias de areia e brita e calha rampada: Localizados no subsolo inferior de modo a eliminar a necessidade de grandes deslocamentos ou consumo de energia no transporte vertical e horizontal de areias, britas, cimento e cal. Este esquema de transporte já se mostra eficiente em algumas obras da Construtora A, portanto de simples aplicação – Anexo D. (19) Depósito de formas: Localizado no subsolo inferior e próximo à central de corte de fôrmas, reduzindo as distâncias e tempos percorridos horizontalmente, e do vazado nas lajes, o que vem a facilitar o transporte vertical das fôrmas. (20) Depósito de cimento e cal: Localizado no subsolo inferior, próximo à calha de abastecimento, que promove a entrada de estoque, e da central de argamassa, que por sua vez realiza o consumo do estoque. 53 (21) Central de corte de fôrmas: Localizada no subsolo inferior, tirando partido do isomanto acústico promovido pelo subsolo e próximo ao vazado nas lajes, o que vem a facilitar o transporte vertical das fôrmas. (22) Elevadores de pessoas e cargas: Dispositivos de transporte vertical já utilizados pela obra em questão da Construtora A. Segundo os gestores da obra a localização se dá desta forma para reduzir empecilhos em serviços futuros na obra, sendo impactados apenas os serviços referentes à fachada, concretagem dos vazios nas lajes de teto dos dois subsolos. Itens como um projeto de alvenaria racional e acompanhamento dos serviços com vistas para a melhoria nos rendimentos de materiais e mão de obra são outros fatores importantes na busca da redução de impactos ambientais. Desta forma verificou-se que a implementação de atitudes gerenciais simples visando as reduções no consumo de água e energia elétrica, assim como na redução da produção de RCC, agregadas a ações que possibilitem a promoção do bem estar dos operários da construção civil mostram-se como alternativas para obras de construtoras que ainda não são certificadas por algum selo verde. 54 6 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES A análise dos resultados permite tecer algumas considerações sobre a sustentabilidade aplicada ao canteiro de obra. Verificou-se que o selo LEED concentra suas maiores aplicações no desenvolvimento do projeto do edifício, visando a redução dos impactos ambientais ao longo da vida útil do edifício. De toda forma alguns pontos importantes são visualizados no canteiro de obra. A busca pela redução de impactos ambientais, sejam eles sonoros, ou por materiais particulados ou sólidos é bem estabelecida. Em síntese, do que foi exposto, verifica-se que os profissionais de engenharia e arquitetura envolvidos na construção civil tem consciência da necessidade de atitudes sustentáveis para o setor e para a economia em um contexto mundial, porém faltam instrumentos práticos e de simples adoção para que seja mudada a realidade atual do setor. Vale lembrar que ações que visem à melhoria da escolaridade e treinamento dos operários aliados à manutenção da baixa rotatividade da mão de obra e a reabsorção desta entre as obras da construtora facilitam na assimilação das metodologias de trabalho, aplicadas pela Construtora B. Aponta-se como dificuldades a falta de acesso à documentação oficial para certificações LEED e pelo protecionismo comercial da Construtora B. O projeto do canteiro de obra da Construtora A mostrou-se de simples assimilação e propício a baixos custos para sua implementação. Para o sucesso de sistemas de gestão da qualidade observa-se ainda a necessidade de engajamento de todos que atuam no canteiro de obras, demandando, portanto, um processo de conscientização, treinamento e qualificação da mão de obra. Como sugestões para trabalhos futuros são propostos o aperfeiçoamento de metodologias de projeto de canteiro de obra sustentável, assim como o desenvolvimento de tecnologias para reduzir a produção de RCC no ato da desmobilização dos canteiros. Recomenda-se ainda a busca contínua por implementações racionais e simples que visem a melhoria dos rendimentos de mão de obra e materiais. Propõe-se ainda um estudo quantitativo dos custos para implantação de um canteiro sustentável. Portanto, torna-se emergente uma mudança no panorama atual da construção civil visando a melhoria nos processos, materiais, conscientização e treinamento de pessoal técnico e operacional para que as metas de sustentabilidade sejam alcançadas. 55 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ABNT. NB-1367 Áreas de vivência em canteiros de obras. Rio de Janeiro, 1991. BANCO DO NORDESTE. Informações estaduais – Ceará. 2010 a. BANCO DO NORDESTE. Informações estaduais – Nordeste. 2010 b. BLUMESNCHEIN, R. N. A sustentabilidade na cadeia produtiva na indústria da construção. CDS, UnB, Tese de Doutorado, Brasília, 2004. CÂMARA BRASILEIRA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. análise e perspectivas. Banco de dados da CBIC. Brasília, 2010. Construção civil: CARDOSO (COORD.), F.F. Referencial técnico de certificação: edifícios do setor de serviços – processo AQUA. São Paulo: FCAV, 2007. CARVALHO, Emerson Meireles de, et. al. Resíduos da construção civil e os desafios para a implementação da resolução CONAMA no. 307/2002: o caso de ARACAJU-SERGIPE. Sergipe – SE. 2007. CASADO, Marcos. Green buildings, antes tarde do que nunca. Revista CREA-ES, edição Junho/11. ES 2011. CONAMA. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, Resolução nº 001. Brasília, 1986. CONAMA. CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE, Resolução nº 307. Brasília, 2002. GBCB. Disponível em: <http://www.gbcbrasil.org.br>. Acessado em: 17 março 2011. GBCB, LEED 2008, Core and Shell development. <http://www.gbcbrasil.org.br>. Acessado em: 17 março 2011. Disponível em: GEHLEN, Juliana. Construção da sustentabilidade em canteiros de obras: um estudo no DF. Dissertação de Mestrado da Universidade de Brasília, 2008. GOMES, Roberto Alves. Evolução do emprego formal no Brasil e Nordeste em 2010. Informe ETENE. Ano V, n. 7, abril. 2010. MINISTÉRIO DO TRABALHO. NR-18: Condições e meio ambiente do trabalho na indústria da construção. Brasília, 2011. MINISTÉRIO DO TRABALHO. Movimentação contratual no mercado de trabalho formal e rotatividade no Brasil, 2010. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/geral/publicacoes/> Acessado em: 25 mai. 2011. 56 PBQP-H. Disponível em: <http://www.cidades.gov.br/pbqp-h>. Acessado em: 19 out. 2011. PINI. Disponível em: <http://www.equipedeobra.com.br/construcaoreforma/36/artigo215994-2.asp>. Acessado em 19 out. 2011. REIS, Ricardo Prado Abreu, et. al. Alternativas e soluções de instalações hidráulicas provisórias em canteiros de obras. São Paulo, 2004. RESENDE, Fernando. Poluição atmosférica por emissão de material particulado: avaliação e controle nos canteiros de obras de edifícios. São Paulo: EPUSP, 2008. SILVA, V. G. D. Avaliação da sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros: diretrizes e base metodológica. Departamento de Engenharia da Construção Civil, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. Tese de doutorado, São Paulo, 2003. SINDUSCON-SP. Gestão ambiental de resíduos da construção civil – A experiência do Sinduscon-SP. São Paulo, 2005. SMERALDI, R. Introdução. In: F. G. Vargas (Orgs.). Manual de negócios sustentáveis. São Paulo, 2004. SOUZA, Ubiraci E. Lemes. Projeto e implantação do canteiro. São Paulo: 2002. Ed. O Nome da Rosa. SOUZA, Ubiraci E. Lemes. Como reduzir perdas nos canteiro – Manual de gestão do consumo de materiais na construção civil. São Paulo. 2005. Ed. PINI 57 ANEXOS Anexo A – Checklist de pontuação LEED-CS Anexo B – Projeto de canteiro de obra sustentável aplicado à obra da Construtora A – Planta baixa pavimento térreo – Escala 1:175. Anexo C – Projeto de canteiro de obra sustentável aplicado à obra da Construtora A – Planta baixa pavimento subsolo superior – Escala 1:150. Anexo D – Projeto de canteiro de obra sustentável aplicado à obra Construtora A – Planta baixa pavimento subsolo inferior – Escala 1:150. 58 ANEXO A LEED-CS para Fachadas e áreas comuns do edifício - 2009 Registro Projeto Checklist Nome do Projteto: Endereço do Projeto: Yes ? No Espaço Sustentável Y Pré-requisito 1 Crédito 1 Crédito 2 Crédito 3 Crédito 4.1 Crédito 4.2 Crédito 4.3 Crédito 4.4 Crédito 5.1 Crédito 5.2 Crédito 6.1 Crédito 6.2 Crédito 7.1 Crédito 7.2 Crédito 8 Crédito 9 Yes ? Prevenção da Poluição ativa da construção Seleção do Terreno Desenvolver Densidade Urbana e Conexão com a Comunidade Remediação de áreas contaminadas Transporte Alternativo - Fácil acesso ao transporte público Transporte Alternativo - Bicicletário e Vestiário para os usuários Transporte Alternativo - Uso de veículos de baixa emissão Transporte Alternativo - Capacidade de Estacionamento Desenvolvimento do espaço, Proteção e restauração do Habitat Desenvolvimento do espaço, Maximinizar espaços abertos Projeto para águas Pluviais, Controle da quantidade Projeto para águas pluviais, Controle da qualidade Redução da ilha de calor, Áreas cobertas Redução da ilha de calor, Áreas descobertas Redução da Poluição Luminosa Guia de Projeto & Construção para inquilinos Y Pré-requisito 1 Crédito 1 Crédito 2 Crédito 3 ? Redução no Uso da Água, 20% de redução Uso eficiente de água no paisagismo Redução de 50% Uso de água não-potável ou sem irrigação Tecnologias Inovadoras para águas servidas Redução no Uso da Água Redução de 30% Redução de 35% Redução de 40% Y Y Y Pré-requisito 1 Pré-requisito 2 Pré-requisito 3 Crédito 1 Crédito 2 Crédito 3 Crédito 4 Crédito 5.1 Crédito 5.2 Crédito 6 ? 1 5 1 6 2 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1 10 Pontos Requisito 2a4 2 4 2 2a4 2 3 4 No Energia e Atmosfera Yes Requisito No Uso Racional da Água Yes 28 Pontos No Comissionamento dos sistemas de energia Performance Mínima de Energia, 10% novas contruções e 5% edifícios existentes Gestão Fundamental de Gases Refrigerantes Otimização da performance energética 12% Prédios Novos ou 8% Prédios Reformados 14% Prédios Novos ou 10% Prédios Reformados 16% Prédios Novos ou 12% Prédios Reformados 18% Prédios Novos ou 14% Prédios Reformados 20% Prédios Novos ou 16% Prédios Reformados 22% Prédios Novos ou 18% Prédios Reformados 24% Prédios Novos ou 20% Prédios Reformados 26% Prédios Novos ou 22% Prédios Reformados 28% Prédios Novos ou 24% Prédios Reformados 30% Prédios Novos ou 26% Prédios Reformados 32% Prédios Novos ou 28% Prédios Reformados 34% Prédios Novos ou 30% Prédios Reformados 36% Prédios Novos ou 32% Prédios Reformados 38% Prédios Novos ou 34% Prédios Reformados 40% Prédios Novos ou 36% Prédios Reformados 42% Prédios Novos ou 38% Prédios Reformados 44% Prédios Novos ou 40% Prédios Reformados 46% Prédios Novos ou 42% Prédios Reformados 48% Prédios Novos ou 44% Prédios Reformados Energia Renovável no local Melhoria no comissionamento Melhoria na gestão de gases refrigerantes Medições & Verificações: Base do Edifício Medições & Verificações: Sub-medição de inquilinos Energia Verde 37 Pontos Requisito Requisito Requisito 3 a 21 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 4 2 2 3 3 2 Materiais e Recursos Y Pré-requisito 1 Crédito 1 Crédito 2 Crédito 3 Crédito 4 Crédito 5 Crédito 6 Yes ? Depósito e Coleta de materiais recicláveis Reuso do edifício, Manter Paredes, Pisos e Coberturas Existentes Manter 25% de paredes, pisos e coberturas existentes Manter 33% de paredes, pisos e coberturas existentes Manter 42% de paredes, pisos e coberturas existentes Manter 50% de paredes, pisos e coberturas existentes Manter 75% de paredes, pisos e coberturas existentes Gestão de Resíduos da Construção Destinar 50% para reuso Destinar 75% para reuso Reuso de Materiais, 5% Conteúdo Reciclado 10% (pós-consumo + 1/2 pré consumo) 20% (pós-consumo + 1/2 pré consumo) Materiais Regionais 10% dos materiais extraído, processado e manufaturado regionalmente 20% dos materiais extraído, processado e manufaturado regionalmente Madeira Certificada Y Y Pré-requisito 1 Pré-requisito 2 Crédito 1 Crédito 2 Crédito 3 Crédito 4.1 Crédito 4.2 Crédito 4.3 Crédito 4.4 Crédito 5 Crédito 6 Crédito 7 Crédito 8.1 Crédito 8.2 ? Desempenho Mínimo da Qualidade do Ar Interno Controle da fumaça do cigarro Monitoração do Ar Externo Aumento da Ventilação Plano de Gestão de Qualidade do Ar, Durante a Construção Materiais de Baixa Emissão, Adesivos e Selantes Materiais de Baixa Emissão, Tintas e Vernizes Materiais de Baixa Emissão, Carpetes e sistemas de piso Materiais de Baixa Emissão, Madeiras Compostas e Produtos de Agrofibras Controle interno de poluentes e produtos químicos Controle de Sistemas, Conforto Térmico Conforto Térmico, Projeto Iluminação Natural e Paisagem, Luz do dia para 75% dos espaços Iluminação Natural e Paisagem, Vistas para 90% dos espaços Crédito 1.1 Crédito 1.2 Crédito 1.3 Crédito 1.4 Crédito 1.5 Crédito 2 ? Inovação no Projeto: Insira o título Inovação no Projeto: Insira o título Inovação no Projeto: Insira o título Inovação no Projeto: Insira o título Inovação no Projeto: Insira o título Profissional Acreditado LEED® Crédito 1.1 Crédito 1.2 Crédito 1.3 Crédito 1.4 ? 1 2 3 4 5 1a2 1 2 1 1a2 1 2 1a2 1 2 1 12 Pontos Requisito Requisito 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 1 6 Pontos 1 1 1 1 1 1 No Créditos Regionais Yes 1a5 No Inovação e Processo do Projeto Yes Requisito No Qualidade Ambiental Interna Yes 13 Pontos Prioridades Regionais Prioridades Regionais Prioridades Regionais Prioridades Regionais 4 Pontos 1 1 1 1 No Total de Pontuação do Projeto (Estimativa de Certificação) Certificado: 40-49 pontos Prata: 50-59 pontos Ouro: 60-79 pontos Platinum: 80 pontos ou mais 110 Pontos 59 ANEXO B 60 ANEXO C 62 ANEXO D