INCIDÊNCIA DE MALÁRIA NA ILHA DE COTIJUBA-PA E SUA RELAÇÃO COM O
MICROCLIMA
Venize Assunção Teixeira 1 , Renata Kelen Cardoso Câmara 2 , João Batista Miranda Ribeiro 3 ,
Lourival Gomes da Silva 4 , Antonio José da Silva Sousa 5 .
RESUMO - A malária é uma doença infecciosa, febril aguda, que mata mais de dois milhões de
pessoas por ano, e infecta mais de 500 pessoas a cada ano. Em vista do citado acima, e por saber
que o Pará é um dos estados brasileiros que mais sofre com essa endemia, foram feitas campanhas
na ilha de Cotijuba, onde se coletou dados de precipitação e temperatura, além da utilização de
questionários epidemiológicos. Observou-se que a maioria dos casos de malária ocorria,
exatamente, em épocas onde o nível pluviométrico era maior. Sendo assim, fenômenos como La
Nina e El Nino, também mostraram ter influência sobre o número de casos de malária. Com os
dados obtidos também foi possível a criação de um mapa digital, onde se verifica a distribuição
geográfica da malária na ilha de Cotijuba antes e depois da instalação de redes elétricas.
Através dessas informações é possível elaborar um planejamento mensal de erradicação da
malária mais eficaz evidenciando os locais de risco da região.
ABSTRACT- The malaria is an infectious disease, acute feverish, that kills more than two millions
of people per year, and infectum more than 500 people to each year.Like the Para state is one of the
Brazilian states that more suffer with this endemic disease, campaigns in the island of Cotijuba had
been made, where if collected given of precipitation and temperature and questionnaires
epidemiologists. It was observed that the majority of the malaria cases occurred, at times with
where the pluviometric level was bigger. Thus the phenomena as La Niña and El Niño, had shown
that to have influence on the number of malaria cases. With the data also gotten the creation of a
digital map was where can it verified the geographic distribution of the malaria in the Cotijuba
island after the installation of electric nets. Through these information it is possible to elaborate a
monthly planning increase of malaria cases most efficient being evidenced the risk places the
region.
1
Graduanda de Meteorologia Universidade Federal do Pará, End: Rua 15 de Agosto 1525 CEP: 66812-480 TEL:
(0XX91)3278-3932,email:[email protected].
2
Graduanda de Meteorologia, Universidade Federal do Pará, End. Rua Domingos Marreiros 1760 apt:208 CEP:66060006, email:[email protected].
3
Doutor em Meteorologia, Universidade Federal do Pará-UFPA-Centro de Geociências-Depto. de Meteorologia.
Campus Universitário do Guamá, Av. Augusto Corrêa, no 01, CEP 66.075-110 e-mail: [email protected].
4
Graduado de Meteorologista, Universidade Federal do Pará, End.: Conj.:Pedro Teixeira Rua B n° 54 CEP: 66670350,email: [email protected].
5
Mestrando em Meteorologia, Universidade Federal de Alagoas-UFAL, End.: Av. Lourival de Melo Mota,S/N - BR
104, km 14, Maceió – AL CEP: 57070-972, Tel. (0XX82) 3214-1369, e-mail: [email protected].
Palavra-chave: Malária, Cotijuba
INTRODUÇÃO
A malária é uma doença infecciosa, febril aguda causada por um protozoário unicelular do
gênero Plasmódio. Sua transmissão acontece quando a fêmea do mosquito do gênero anopheles,
infectada pelo protozoário, pica uma pessoa sadia. É responsável por milhões de óbitos todo ano,
cerca de 40% da população mundial, vive em área de risco e estudos comprovam que, com o
aquecimento global, esse número só tende a aumentar.
A Ilha de Cotijuba possui 2000 habitantes e localiza-se na região norte do Pará, na latitude de
01º 15,58`S e longitude de 48º33,61`W, integrando a região metropolitana de Belém, com altas
taxas de umidade relativa, e elevadas temperaturas e cotas pluviométricas. Sua população triplica
nos fins de semana, em especial durante o mês de julho, período das férias escolares, considerado
como o “verão” paraense. Além disso, a Ilha de Cotijuba também se destaca por seus elevados
índices de malária, que entre 2001 e 2005 totalizaram 1082 casos, cerca de 54% da população. Os
casos notificados e procedentes assumem picos justamente quando ocorrem os indicies de
precipitação mensal.
METODOLOGIA:
Para realização dessa pesquisa, foi feito um levantamento sobre o número de casos de malária
em Cotijuba, através da aplicação de questionários epidemiológicos. Utilizamos também os dados
fornecidos pela SESMA (Secretaria de Estado de Saúde e meio ambiente) e os cruzamos com os
dados adquiridos através da aplicação dos questionários epidemiológicos. Foram visitadas 125
casas, nos anos de 2004 e 2005, tendo sido aplicado em cada residência um questionário que
continha informações referentes ao número de crianças e adultos residentes no local, o número de
pessoas infectadas pelo plasmódio da malária, o tipo de plasmódio responsável pela infecção e o
ano em que esta infecção foi diagnosticada. Além destas outras informações, como o meio de
prevenção adotada pelos moradores do local, e a existência de locais, próximos da residência, que
apresentam água parada. Foram coletados, também, dados de precipitação e temperatura, referentes
à ilha de Tatuoca, por ser, mas próxima de Cotijuba do que Belém.
Foram utilizados dois aparelhos GPS (Global Position System) modelo Garmim, para
demarcar a localização geográfica dos pontos de coletas dos dados.
As informações obtidas através do questionário foram organizadas em uma planilha no Excel.
Utilizando essa planilha foi possível fazer um mapa digital, com o auxílio do software SPRING,
onde foram plotadas todas as localizações geográficas referentes a cada casa visitada. Todas as
casas que apresentaram casos de malária foram representadas no mapa por um ponto vermelho, já
todas as casas que não apresentaram casos de malária, foram representadas no mapa por um ponto
azul. Além disso, sobre cada ponto foi criado um atalho, onde é possível visualizar todas as
informações obtidas, com os questionários epidemiológicos, referentes ao ponto selecionado.
Os dados meteorológicos utilizados neste estudo limitam-se aos totais mensais de
precipitações de 2000 a 2005, fornecidos pelo INMET (Instituto Meteorológico).
RESULTADOS E DISCUSSÕES
Relação entre a precipitação e a malária durante a campanha.
Segundo estudos atuais, a chuva tem se mostrado como o parâmetro meteorológico que, mas
influencia na proliferação da malária. Afinal, para que o mosquito possa se reproduzir, ele precisa
depositar seus ovos em água parada e relativamente limpa, o que se observa é que nos períodos
onde há abundância de chuva, a um aumento no número de casos de malária. Geralmente, isso
ocorre devido ao aumento do número de coleções hídricas. Porém, chuvas pesadas podem arrastar
os mosquitos para locais inadequados, destruindo os criadouros e resultando, muitas vezes, em um
conseqüente declínio da incidência da malária. Na região tropical ela apresenta uma transmissão
sazonal.
Para se obter uma melhor analise da influência da chuva sobre os casos de malária, foram
coletados dados, na SESMA e no INMET, equivalentes aos anos de 2001 a 2004. (Figura 1)
500
P R O C E D ÊN C IA
450
N O T IF IC A D O S
PRECIPITAÇÃO (mm)
400
PRP
350
300
250
200
150
100
50
0
JAN
FEV
M AR
ABR
M AI
JUN
JUL
AGO
SET
UOT
NOV
DEZ
M ESES
Figura 1_ Médias mensais de precipitação, casos notificados e procedentes de malária.
Período 2001 a 2004. Fonte: SESMA e INMET.
Na Figura 1, pode se verificar que no período chuvoso (dezembro a maio) o índice de casos de
malária sofreu um aumento gradativo, tendo alcançado seu nível mais alto no mês de maio, ou seja,
até o inicio do período seco, observou-se que o número de casos de malária apresentou um
crescimento quase que constante, só apresentando redução após o inicio do período seco (junho a
novembro).
Foram realizadas coletas na ilha de Tatuoca, no período de junho a dezembro de 2005. Dentro
dos seis meses analisados, foi possível verificar que o mês de dezembro foi onde a precipitação
apresentou um nível mais elevado, 394 mm, tendo ocorrido no mês de novembro, o nível mais
baixo, 3,4mm. Em média, nos seis meses pesquisados, foi possível a verificação de chuva em 13
dias do mês.
Relação entre ENOS e a incidência de malária entre 1994 e 2005 na ilha de Cotijuba.
Como foi verificado em estudos anteriores, o levantamento estatístico realizado no período de
1994 a 2002, mostrou a evolução temporal do número de casos de malária, esse período foi
ampliando de 1994 a 2005, sendo os notificados os moradores da ilha com a doença, que foram
identificados na própria unidade de saúde local e as procedências são os moradores identificados
também na ilha mais àqueles identificados em outro local.
1250
NOTIFICADOS
PROCEDÊNCIAS
1000
750
500
250
0
1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Figura 2 – Distribuição anual total do número de casos de malária de 1994 até 2005 na
ilha de Cotijuba.
Conforme a Figura 2 observa-se um número elevado de casos notificados em 1996, em torno
de 795. Esse número é ainda maior considerando as procedências (1193 casos). Isso pode estar
associado ao fenômeno La Niña que foi observado desde outubro de 1995 até abril de 1997
(Climanálise,
1995-1997).
Esse
fenômeno
atua
no
tempo
atmosférico
aumentando
consideravelmente as chuvas da região amazônica, contribuindo naturalmente para o aumento da
incidência da malária, por aumentar as coleções hídricas.
A partir de 1997 ocorre um decréscimo gradual até 1999, ano em que ocorreu somente 20
casos notificados e 22 procedências. Vale ressaltar que ocorreu um episódio intenso do fenômeno
El Niño de 1997-1998 (Climanálise, 1997-1998). Ao contrário da La Niña, esse sistema atmosférico
diminui as chuvas na região, contribuindo para a diminuição da população do mosquito, porém o
menor número de casos observado só ocorreu em 1999. O aumento verificado de 2000 a 2001 pode
ser explicado, quando se observa que passado o efeito do fenômeno El Niño, o nível pluviométrico
volta ao seu estado normal, tendo sido verificado também, que só a partir de 2001 as ações em
busca de diminuir os casos de malária, por parte dos agentes de saúde, se tornaram mais intensas.
Verifica-se ligeiro declínio de 2001 a 2003 no número de casos de malária, tanto os casos
notificados quanto os procedentes, e apesar do aumento sofrido no ano de 2004, o que observamos é
que desde 2001 os casos de malária vêm sofrendo um decréscimo que, aparentemente, parece ser
continuo nos próximos anos.
Mapa digitalizado da ilha de Cotijuba-pa, representativo da distribuição de incidência de
malaria na ilha de Cotijuba.
Figura3. Mapa de digital da incidência de malária em
cotijuba.
Na figura 3, foram plotados 92 pontos. Cada ponto referente a uma residência visitada na ilha
de Cotijuba, nos anos de 2004 e 2005. Pode-se observar que a maioria das casas visitadas
apresentou casos de malária, para ser mais exata, 67 casas tiveram respostas positivas quando
perguntadas se houve ou não casos de malaria na residência, ou seja, mais de 50%. Sendo nas
regiões da Praia Funda, da praia do Vai-quem-quer e na Rua Magalhães barata, os locais onde a
incidência de malária foi constatada em quase 100% das casas visitadas. Isso pode ser explicado
quando se verifica que estes são locais onde existem maiores condições para a proliferação do
mosquito anofeles. Devido apresentar um maior numero de lagos, alagados, ou seja, criadouros que
por estarem em mata fechada, são de difícil localização, fato que só favorece o aumento no numero
de casos de malária no local.
As áreas onde foram aplicados os questionários são áreas que apresentam o maior numero de
residências e relativamente acessíveis. Porém, o objetivo final dessa pesquisa é realizar um
levantamento por toda a ilha de cotijuba, identificando, dessa forma, todos os locais de risco da ilha
de Cotijuba.
CONCLUSÃO
Portanto, a precipitação é um dos principais parâmetros que contribuem para a epidemia da
malária, estando ela relacionada com a época do ano na região tropical. A região amazônica é
caracterizada por chuvas abundantes durante o período chuvoso contribuindo fortemente para a
incidência da malária. Como esperado, a incidência maior de casos de malária foi encontrada
durante o final da época chuvosa até metade do período seco. Observou – se que a partir do mês de
dezembro até o inicio do mês de maio, o numero de casos de malaria sofre um aumento gradativo.
Declinando apenas no período seco.
A incidência da malária anual vista na figura 2, tende aparentemente a decrescer nos próximos
anos. O maior pico de número de casos ocorrido em 1996 parece estar associado com a El-Niño.
Este trabalho poderá contribuir para a realização de programas de erradicação mais eficientes na
ilha de Cotijuba. Sua continuidade numa escala temporal maior certamente aperfeiçoará ainda mais
o entendimento sobre a doença e suas correlações com o microclima da região amazônica. Além de
ter sido possível, através do mapa digitalizado, verificar como ocorre a distribuição da malária na
ilha de cotijuba, evidenciando os locais de risco. Dessa maneira fica, mas fácil, para os órgãos de
saúde, localizar os focos de proliferação da doença e identificar suas causas. Podendo através disso,
organizar campanhas de redução da malária e métodos de borrifações, que atuem diretamente nos
locais de risco, tornando as campanhas contra a malária, mas eficientes.
AGRADECIMENTOS:
Agradeço a Deus, ao meu Coordenador João Batista Miranda Ribeiro e a todos que me ajudaram.
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Mota, M.A.S.; Gusmão, R.H.P; Mascarenhas, J.P.; Linhares, A.C.; Gabbay, Y.D., Estudo da
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Vianello, R.L. & Alves, A.R., Meteorologia Básica e Aplicações Viçosa – MG, Imprensa
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Halpert, M. S.; G.D.Bell; V.E. Kousky; C. Ropelewski. Climate Assessment for 1995. Bulletin of
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e anomalias de precipitação. Ciência e Cultura, Vol.36(11):1888-1899.
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