NEWSLETTER março 01 ISSN 1647-7248 2012 …eu sou uma pessoa que só escreveu alguns versos, não entendo a razão disto tudo. Mariano Calado janeiro > março’12 ed içã o d ig it a l 1 | newsletter | http://atb23.net Editorial Biografia Sumário Neste número PoDe LeR Vidas Biblioteca Mariano Calado Poesia e Lendas Um outro olhar Viagens pela leitura Escritores Leituras Património Guilherme de Corni Agenda > 1 | newsletter | http://atb23.net 1 Agrupamento de Escolas de Atouguia da Baleia - PrO d Uçã o Newsletter Janeiro - Março .março.2012 | ISSN 1647-7278 : Trimestral| : Agrupamento de Escolas de Atouguia da Baleia R. Victor Baltazar,2525-079 Atouguia da Baleia, tel. 262 757270, fax 262 757271 | [email protected] http://atb23.net Ana Batalha, Helena Martinho, Maria João Rodrigues, Inês Santos, Eduarda Rocha e Mariana Silva Gomes. Direcção da Escola Secundária de Peniche pela cedência dos artigos publicados na Paideia (2011), Revista de Cultura e Ciência, relacionados com a homenagem a Mariano Caldo. Mariano Calado Editorial Director Como dizia o poeta, é com alguma saudade do futuro que viramos uma página na forma de informar e divulgar as notícias do nosso agrupamento. O “Baleia Jornalista”, jornal trimestral do Agrupamento ganhou o respectivo e merecido direito à reforma, após muitos números recheados da vida deste agrupamento, dos seus alunos, dos seus professores e da sua comunidade. É uma reforma honrosa, um pouco antecipada por via dos elevados custos que implicava e pela emergência de novas formas de comunicar. Em tempos de crise, importa gerir os recursos sem prejudicar os objectivos e metas a que nos propomos, mas sabendo efectuar adaptações e introduzir melhorias. Neste caso, lançamos agora o 1º número da nossa “NEWSLETTER”. O suporte digital é mais ecológico, mais económico e mais rápido e tem um potencial de leitores muito maior, pois não se cinge a um número de tiragem de exemplares. No entanto, o suporte físico do jornal permitia-nos alcançar outro público. Os leitores da nova “newsletter” e do “Baleia Jornalista” não se sobrepõem necessariamente. A nossa “newsletter” deverá ter como complemento e suplemento uma atenção do leitor às páginas de novidades e de actividades constantes da página institucional do Agrupamento de Escolas de Atouguia da Baleia. A nossa “newsletter”, articulada com a página institucional, proporcionará aos leitores uma maior interactividade com o nosso agrupamento, bem como uma maior actualidade nos temas tratados. Para o lançamento da nossa “newsletter” escolhemos um tema e uma figura incontornável no cenário cultural da nossa região. O seu contributo para a nossa cultura, a nossa História e o nosso Património, constitui um cimento imprescindível à construção da nossa identidade e ao esclarecimento do nosso sentimento de pertença. Sem bairrismos obtusos, o cidadão Mariano Calado, o escritor Mariano Calado, o historiador, o poeta… evidenciam-nos alguém que nos mostra o orgulho e amor de ser e de pertencer a esta região, a esta terra, a esta comunidade. Finalmente, uma palavra de bom augúrio para os próximos números deste novo veículo da nossa comunicação, na preocupação constante de estreitar os laços com a comunidade local extra-muros do nosso agrupamento. Que esta Newsletter seja mais um instrumento que nos ajude a alargar o nosso horizonte cultural e abra mais uma janela sobre o que nós somos … de acordo com a mensagem fulcral do nosso projecto educativo: “Identidade & Desenvolvimento”. 2 | newsletter | http://atb23.net 2 vidas BIOGRAFIA 3 Calado, Mariano, (2011) Percurso Biográfico. Paideia, Revista de Cultura e Ciência, 2, 23 3 | newsletter | http://atb23.net 10 Junho de 1928 Almeirim Formação, Actividade Profissional, Literária e Artística CaLaDo, MaRiAnO, (2011) Pe r c ur s o B iogr á f io. Pa ide ia , R e v is t a de C ult ur a e C iê nc ia , 2, 21-28 Formação Frequentou a escola primária em Peniche (Escola Nº I, segunda sala do lado poente), de Outubro de 1935 a Junho de 1939). Frequentou, desde de Outubro de 1939, o antigo Liceu Nacional Sá da Bandeira, de Santarém. Residindo com familiares em Almeirim, deslocava-se diariamente, com outros colegas de 10, 11 e 12 anos, de bicicleta, fazendo (ida e volta) os sete quilómetros que o levavam ao Liceu. Em Janeiro de 1942, no início do 2º. período do 3º ano, interrompeu os estudos, por via de doença óssea que o reteve no leito durante quatro meses. De Outubro de 1942 a Junho de 1943, repetiu o 3º ano liceal no extinto Instituto D.Luís de Ataíde, de Peniche. Em Outubro de 1943 voltou a frequentar o Liceu Nacional Sá da Bandeira, em Santarém, tendo concluído, em Junho, o 4º ano (…) E, em Julho desse mesmo ano, voltou a ser apoquentado pela anterior doença óssea, que, desta vez, o levou a ficar retido, deitado, num tabuleiro-cama, durante três anos, fazendo helioterapia em Peniche, nomeadamente na zona do santuário de Nossa Senhora dos Remédios. Em 1964, inscreveu-se na Faculdade de Ciências Políticas de Madrid e matriculouse no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) (…) tendo concluído o curso de Psicologia Social em 1968. (…) Em 1999, realizou o mestrado de História Regional e Local, na faculdade de letras da universidade de Lisboa, com a dissertação Fortificações da Região de Peniche, tendo obtido a classificação de Muito Bom.(…) Actividade Profissional No final de 1949 concorreu a uma vaga de regente escolar, tendo sido colocado (…) na aldeia da Moita (…) (Caldas da Rainha), com uma única turma de alunos da 1ª. à 4ª. classe, experiência difícil mas gratificante e muito rica do ponto de vista humano. No final de 1950 fez concurso para o Banco Nacional Ultramarino, onde foi admitido em Fevereiro de 1952 e onde trabalhou até meados de 1965. Em Setembro de 1965 foi convidado a ingressar na Lisnave – Estaleiros navais de Lisboa para fundar e orientar a revista mensal «Lisnave», de informação e formação, pelo que saiu do B.N.U. com licença ilimitada. Em 1971 deixou de exercer a anterior função e passou a orientar o Serviço de Psicologia da Lisnave, do qual foi responsável até 1984. (…) Em 1984, saiu da Lisnave, reingressando no Banco Nacional Ultramarino, como psicólogo, cargo que exerceu até 1989, reformando-se da Banca nesta data. ” [A partir daqui dedicou-se a muitas atividades: foi orientador de seminários de Dinâmica de Grupo, formador no Instituto Superior de Gestão, diretor do Psicolabor-Centro de Psicologia, Formação e Organização, monitor de seminários , diretor-conservador do Museu de Peniche, professor da cadeira de Gestão de Recursos Humanos, professor das cadeiras de Psicologia Social e de Psicossociologia das Organizações, professor-bibliotecário, vice-presidente da Assembleia Geral de Escola, membro do Conselho de Redação da revista Intervenção Social.] Actividade Literária e Artística “Começou a publicar os seus primeiros trabalhos literários com 14 anos, em o Tiroliro, suplemento infantil, suplemento infantil do diário A Voz (…) Profundamente interessado pelo estudo da Língua e encontrando no passatempoarte do Charadismo um óptimo meio para o seu desenvolvimento, dedicou-se a ele, também desde os 14 anos, tanto em decifração, como em produção, com o pseudónimo «Odalac» (…) Em 1949, dirigiu na revista Flama a secção semanal «Avoz da Esfinge». Na mesma data, fundou no seminário leiriense A Voz de Domingo, a secção «Busílis» e, na década de 50, dirigiu na revista A Lente a secção «Eureka»e, no jornal juventude Operária, a secção «Nas Horas de Folgar», esta sob o pseudónimo Ana Sabichão. (…) [Publicou] “em 1950, o seu primeiro livro(!), o pequeno manual Como fazer e decifrar charadas … Em 1948 estreia-se como amador de teatro (…) Em 1950, com Manuel Marques Ferreira (…) escreve, pagina e publica o número único do jornal O Penichense (…) A partir da década de 50 colaborou (com poemas, contos, ensaios e trabalhos de recreio charadístico) em vários jornais e revistas (…) Orientou o quinzenário Jornal do Mar (…) de 1969 a 1974. Tem praticamente concluído (…) um Auxiliar de Arcaísmos, com a compilação de cerca de onze mil entradas. (…) Colaborou na produção, realização ou interpretação de programas radiofónicos (…) Colaborou, em Almada, na formação do Cine-clube, numa exposição de poesia ilustrada e encenou, para alunos de um colégio do ensino secundário, uma peça de Gil Vicente. Encenou, em Lisboa, uma peça num acto (…) A convite do director do Teatro de Ensaio (…) interpretou um dos personagens da peça «O Homem da Flor na Boca» de Luigi Pirandelo. (...) Em 1958, foi um dos intérpretes do famoso e ousado programa de Matos Maia «A invasão dos Marcianos» (réplica de «A guerra dos mundos», de Orson Welles) transmitido por Rádio Renascença e que tanta celeuma levantou e causou fúria entre a Censura de então. Em 1983, foi de novo um dos intérpretes de outro inteligente e ousado programa («Quando os cientistas sonham»), igualmente de Matos Maia, no Rádio Clube Português. Em 2010 criou, para a 102FM RÁDIO, um apontamento sobre os 100 anos da implantação da República em Peniche, de que foi um dos intérpretes, tendo sido transmitido no dia 7 de Outubro. 4 | newsletter | http://atb23.net 4 5 CALADO 5 | newsletter | http://atb23.net 16 de Fevereiro Inauguração da Biblioteca Mariano Calado No dia 16 de fevereiro a biblioteca da Escola Básica 2,3 de Atouguia da Baleia passou a chamar-se biblioteca Mariano Calado. Esta cerimónia de homenagem foi integrada na 8ª entrega dos prémios Guilherme de Corni, que anualmente, premeia os alunos com melhores resultados escolares. Ao longo das três semanas anteriores, um conjunto de professores, funcionários, encarregados de educação e alunos ensaiou músicas, leituras, dramatizações e declamações de poemas deste ilustre poeta, escritor, ensaísta … A homenagem a Mariano Calado vem recordar as múltiplas dimensões que marcam a sua vida e a sua personalidade. Através da escrita, soube protagonizar de forma ímpar a grandeza do destino individual e coletivo da sua gente. É merecedor de uma gratidão que nos compromete a todos, porque é o nosso mundo, a nossa terra, as nossas gentes, o nosso património natural e construído, as nossas tradições, a nossa natureza, que convergem como trajecto colectivo na sua obra. A noite iniciou-se com a leitura expressiva do poema Cantilena de Peniche (A Fuga do Silêncio), pelos professores Joel Leal, Fernando Oliveira, Valdemiro Rodrigues e pelas professoras Graciosa Damas, Sílvia Alves, Ana Paula Rodrigues e Isabel Cunha. A acompanhar, o som flutuante do oboé tocado pela professora Linda Comendinha que interpretou a peça Metamorfose Arethusa para oboé de Benjamin Britten. De seguida, iniciou-se o primeiro conjunto de declamações dos alunos; a Ana Russo do 6º D declamou o poema , com a dramatização e o vigor que já a caracterizam, o Tomás Coelho do 6ºD declamou o poema A Minha Terra (Raízes de Maresia) com teatralidade e segurança e a Mariana Gomes do 6ºB o poema João Paulo (A Fuga do Silêncio) com a emotividade e a firmeza necessárias a um pai que fala para o seu filho. A segunda interpretação realizada pelos professores fez-se com o poema A Rosa, Agora (A Fuga do Silêncio). Seguiu-se o segundo conjunto de declamações dos alunos; a Margarida Silva do 7º F declamou o poema Espelho de Mim (Raízes de Maresia), com sentimento e delicadeza, a Carolina Spínola do 7ºE o poema Ser Outra Vez Criança (A Fuga do Silêncio), declamado com a sua voz doce e clara, e o Henrique Santos do 7º D o poema Vaidade (A Fuga do Silêncio), de mãos nos bolsos, conforme lhe pediram, e muito descontraído. O poema Gaivota Menina (Nau dos Corvos) foi dito alternadamente pela Carolina Spínola do 7ºE, pela Ana Russo e pelo Tomás Coelho do 6ºD, que o declamaram com muita graça, ao ritmo de uma pequena coreografia. A terceira leitura dos professores foi o poema Minha Peniche (Fogo de Santelmo) e foi lida somente pelas professoras Graciosa Damas, Sílvia Alves, Ana Paula Rodrigues e Isabel Cunha que encheram a sala com as suas vozes claras e ternas. Seguiu-se o terceiro conjunto de declamações dos alunos; o João Fortunato do 7ºA declamou o poema Voo Branco (Fogo de Santelmo), cheio de vivacidade, a Alexandra Bastos do 7ºF o poema Ondas (A Fuga do Silêncio), interpretado com serenidade, e a Laura Pinto do 7º A o poema Raiva Insatisfeita (A Fuga do Silêncio) com muito ardor e veemência. A quarta e última leitura coube, desta vez, só aos professores Joel Leal, Fernando Oliveira e Valdemiro Rodrigues com o poema Vagas de Lezíria (Raízes de Maresia). O tom grave, alto e dramático resumiu a vida de um sujeito poético (Mariano Calado?) e revelou a dicotomia presente na sua vida: o mar e a terra. A Representante dos Encarregados de Educação, a Dr.ª Paula Serafim leu o poema Proa (A Fuga do Silêncio), mas antes fez, de improviso, uma quadra muito engraçada e muito a propósito. Já quase no fim, pudemos rir e sorrir com a pequena dramatização do poema Ti Caçoa (Nau dos Corvos) feita pelas simpáticas Goretti Valenove e Alice Cordeiro. Vestidas a rigor, como manda o figurino, a Goretti era a varina que apregoava o famoso pregão da ti Caçoa “Sardinha fresca! É aproveitar, fregueses!” Muito descontraída, envolta num lindo xaile azul, as argolas e o fio de ouro a contrastarem e levando na cabeça um cesto cheio de sardinhas prateadas, a Goretti gritou o pregão várias vezes, assim como a interpelação “Não vai uma sardinha, amor?”. O próprio Mariano não escapou e aceitou duas sardinhas que a Goretti lhe ofereceu, as quais foram costuradas por ela própria numa tarde e noite de sábado. Vestida a pescador, de boné e com um bigode que por vezes lhe caía e o qual, com certa graça, num determinado momento o arrancou de vez, estava a Alice que lhe perguntou “A sardinha tá boa, ti Caçoa?” Assistimos, pois, ao desenrolar e ao fim do diálogo desta vendedora e cliente tão especiais, para ouvirmos depois o poema da Ti Palmira Paleca (Nau dos Corvos) declamado pela Filipa Laranjeiro, pela Carolina Prioste e pelo Xavier Ferreira do 8ºB. Com coragem, gritaram, a bom gritar, pela petinga, pelo carapau, pelo sargo, pelo cantaril, pelo robalo, pelo safio, pela sarda, pela boga, pelo chicharro, pelo bodião, pela faneca, enfim por todos os peixes cantados e apregoados pela ti Palmira cantadeira e, no fim, concluíram em coro, e com muita graça que “a ti Palmira Paleca /era levada da breca.” Estas leituras foram sendo intercaladas com a entrega dos diplomas e dos prémios aos alunos. A tuna também quis prestar a sua homenagem e cantou e tocou a música dos Cabeça no Ar Há Baile na Biblioteca. No final, após ter descerrado a placa, colocada à entrada da biblioteca e que contém o seu nome e o seu retrato, Mariano Calado agradeceu com visível emoção. Na sua sincera e imensa humildade disse “ … eu sou uma pessoa que só escreveu alguns versos, não entendo a razão disto tudo … ” É este facto, além de muitíssimos outros, que são do conhecimento de todos aqueles que o estimam e o admiram, que mostram por que razão a biblioteca se chama agora Mariano Calado. A Direção, a equipa da BE e do PTE agradecem a todos os que participaram e tornaram possível esta cerimónia. 6 | newsletter | http://atb23.net 6 Poesia VA G A S DA LEZÍRIA Mariano Calado, Raízes de Maresia NA lezíria do meu sonho, NAS vagas do meu querer, NO leito do meu destino, FUI poeta, FUI escritor, FUI barqueiro, FUI campino, FUI toureiro E pescador, FUI tudo o que sempre quis ENTRE os meus próprios destroços. SÓ não pude ser menino, - que o não quiseram meus ossos. A ROSA A GORA Mariano Calado, A Fuga do Silêncio Não me falem do barco onde chorei, não me falem do barco onde sofri, não me falem do barco onde matei, não me falem do barco onde morri. Falem-me, sim, do barco onde sonhei a esperança que hoje, e sempre, ainda me invade, falem-me, sim, do barco onde pisei os passos de lutar pela liberdade. Que eu quero não errar como quem erra e sentir fundo, e bem, como quem sente amar, de mar a mar, a minha terra, amar, de mar a mar, a minha gente. Que este som, este grito, esta raiz que o vento traz, em lágrimas de outrora, que este ser e não ser, no meu país, são o perfume de uma rosa, agora. POVO QUE VIVES DO MAR Mariano Calado, Nau dos Corvos Povo que vives do mar, que no mar vives e sonhas, ah, meu povo de cantar, meu povo de sol a sol, meu povo de mar a mar, meu povo de mareantes de naufrágios e chorar, meu povo de velejar com sereias e ternura, companhia do meu sonhar, que vives com a loucura de lendas para contar, traineira da minha vida Oh, vai, meu povo moreno, oh, vai, minha terraforça Que tens a força do mar, que matas a fome e o frio à sombra do teu navio, Nau dos Corvos, minha nau Que não se deixa afundar. Como eu te quero, meu povo, sempre antigo e sempre novo, toda de rendas vestida. meu povo de mar a mar! 7 | newsletter | http://atb23.net 7 Poesia do Carvoeiro a alertar os caminheiros do mar, do marítimo odor das camarinhas que apetece comer e respirar, da Nau dos Corvos que nunca o mar consegue vergar! Da Berlenga vista ao poente, estrela do mar, deitada, sossegada, abrindo os braços ao sul. CANTILENA DE PENICHE Era uma vez uma ilha, um coração de mar, feito de luz, onde abundavam os coelhos e os veados e onde crescia a planta do alcaçuz. E foi então que um airinho, de branco e negro vestido, abriu as asas do sonho, esvoaçou e poisou de canto em canto, bailadeiro e divertido e entreteve-se, rasgando carreiros e mais carreiros, carreiros, praias e grutas, esculpindo maravilhas, figuras de enfeitiçar, nos rochedos que encantava no milagre de voar. Ai, Peniche, meu Peniche dos Passos de Leonor, onde Leonor tanto amou! Do Carreiro de Joanes e do Portinho da Areia, onde a poesia é o bailado do sonho de uma sereia. Ai, Peniche da Furninha onde o passado ficou, testemunho de uma história que uma memória guardou. Mas, ai, que o airinho acorda ao som de gritos de espanto e começou a chorar. Ai, meu Peniche azul, alga de sol e de mar, rocha de amor e luz e de sonhar. Ai, meu Peniche azul, do Quebrado e da Camboa, do Abalo e da Papoa e da Galé imponente. Ai, Peniche dos Remédios dos círios santos da gente, do meu Revelim, janela aberta ao azul que espanta, da Varanda de Pilatos, Ai, Peniche da Ribeira, do Portinho do Revés, onde as traineiras apontam ao futuro o gurupés, onde os cabazes, saltando das mãos dos homens do mar, têm asas de gaivota sobre os barcos, a voar, e onde a sardinha, de prata, pequenina, graciosa, salta e rechina, gostosa, saborosa e bem assada nas braseiras de escarlata, do perfume que entontece nos tachos de caldeirada! E os médões açoitados pelo vento são moinhos tecendo ilusões, são sorrisos de sereia em sete praias de encanto, são beijos de maré cheia nos sonhos do nosso espanto! dos fortes, dos fortins e baluartes, da Fortaleza, onde o cantar da liberdade silenciou os gritos da opressão dos cárceres que, a ter, fora forçada. Meu Peniche do mar, meu sofredor das invasões das águias traiçoeiras, que tantos dos teus filhos violentaram! Meu Peniche dos dramas, dos naufrágios, dos homens que, por actos de heroísmo, se foram do silêncio libertando, velas ao alto, abertas à nortada, mãos fincadas nos remos de salvar, redes fincadas nas águas de pescar. E foi então que o airinho, de branco e negro vestido, depois de rasgar carreiros, carreiros, praias e grutas, esculpindo maravilhas, figuras de enfeitiçar, nos rochedos que encantava no milagre de voar, abriu as asas do sonho e poisou, mais uma vez, de canto em canto, bailadeiro e divertido, silenciou no seu canto os apelos dos naufrágios e a nortada arrefece, que transforma em pesadelos o mar que, tonto, entontece, que faz magoar os ossos e o coração arrefece e pôs Peniche a cantar, Peniche que era uma ilha um coração de mar feito de luz, onde abundavam os coelhos e os veados e onde crescia a planta do alcaçuz. E pôs Peniche a cantar, menina e noiva do mar. Ai, meu Peniche das rendas de bilros tecidas, tecidas à mão, quais lendas, quais prendas, do sonho nascidas nos piques-milagre da cor do açafrão, geradas, no gerar de maravilhas,, do amor das almofadas de algodão. Meu Peniche da História, dos lusitanos, árabes, romanos, das muralhas, 8 | newsletter | http://atb23.net 8 Lendas Peniche na História e na Lenda, LENDA DE PENICHE Edicão de Autor, 1991, p.416-417 Um dia, nas águas sossegadas da praia do Carreiro do Cabo, entretinha-se a mulher de um pescador a dar banho a uma sua filhinha de tenra idade. As ondas vinham beijar de mansinho as areias douradas e finas que desciam dos médões rasteiros dos Remédios em ondulações brandas e preguiçosas. Entrementes, perante a surpresa da mãe, a criança saltou dos braços maternos e, com um brilho estranho de felicidade nos olhos e um sorriso a divinizar-lhe as feições, atirouse ao mar. Espanto, gritos de receio de que a menina se afogasse, correria assustada das outras mulheres que se encontravam também ali perto, à beira-mar. Mas, perante o assombro dos presentes, a menina emergiu das ondas, calma, serenamente deixando-se apertar nos braços da mãe que chorava de alegria por tornar a vê-la. Mas a criança dava a ideia de vir diferente: o olhar, o sorriso, os cabelos castanhos e ondulados, irradiavam reflexos maravilhosos de uma estranha felicidade e como que exultava uma animação maior em toda ela. Passaram-se anos sobre este dia. A criança crescera em graça e beleza; uma graça e uma beleza que fariam adivinhar a presença misteriosa de qualquer sortilégio. Os pais bebiam os ares pela filha e nada encontravam de singular no seu convívio; mas as mulheres que haviam assistido à cena de anos antes — velhas mulheres embiocadas cheias de crendices e de assombros — pressentiam naquela existência como que um halo sobrenatural, qualquer coisa de misterioso que não sabiam explicar. E, à boca pequena, maravilhadas do seu próprio receio, iam contando que, algum dia a moça se transformaria em sereia, por ter recebido os poderes do encanto quando surgira do mar, estranhamente feliz. Ora, um dia, o filho do ouvidor do Conde de Atouguia, deslumbrado pelo fascínio irradiante da rapariga, apaixonouse loucamente por ela. Mas não deixou o seu amor ser tão puro e tão forte que, à sombra do poderio e dos Privilégios de que seu pai gozava, a não tivesse seduzido e abandonado miseravelmente. A donzela, humilhada e cheia de vergonha, carpiu largamente a sua desgraça. A beleza que a todos assombrava pela sua singularidade, foi-a ela perdendo, dia após dia, perante as lágrimas tristes dos pais que a adoravam e que nada podiam fazer para o evitar. Até que o seu desgosto de amor a “ levou à morte, sendo levada a enterrar no adro da igreja de Nossa Senhora da Vitória, à altura existente no Cabo Carvoeiro. Certa noite, voltava o moço sedutor de uma festa nos Remédios em que tomara parte, seguindo pela costa a caminho da Ribeira, onde morava. Não muito longe do Carreiro do Cabo, ouviu uma voz harmoniosa entoando os versos de uma canção nostálgica. Com mil cuidados, não fosse surpreender e assustar a dona de voz tão bela, aproximouse. E, cheio de admiração, viu, sentada junto de uma gruta existente ali perto, uma mulher, extraordinariamente formosa. À luz do luar que recortava figuras estranhas e sinistras pelos rochedos, ” pareceu-lhe, cheio de assombro, o vulto da sua antiga namorada. Acercou-se, cheio de receio e curiosidade. A mulher, porém, ao pressenti-lo, desapareceu misteriosamente. Mas aquela visão deixara o moço estupefacto e ansioso. E, na noite seguinte, voltou de novo a passar perto da gruta, ouvindo novamente a mesma voz a entoar a canção triste da véspera; lá estava a mesma mulher, esbelta e enigmática, sentada à beira da rocha. Aproximou-se, tentando tocar-lhe para certificar-se do que os seus olhos viam mas no momento em que o ousou fazer, ela voltou-se inesperadamente para ele e enlaçou-o, gritando numa voz estranha e ameaçadora que chegara finalmente a hora de ele expiar o crime da sua desonra. O seu grito teve o condão de enfurecer as ondas do mar, que se levantaram e ergueram, raivosas, até ao cimo da gruta, arrastando os dois jovens, no meio de um turbilhão de espuma, para o fundo dos abismos. Alguns dias depois, foi encontrado junto do Médão Grande o corpo do infeliz sedutor, lamentavelmente pisado e moído como se tivesse sido exposto a bárbaras torturas. Quanto à donzela seduzida, diz o povo que se transformou realmente numa sereia — como o haviam pressentido as velhas mulheres embiocadas, cheias de crendices e de assombros — e que, saudosa dos seus amores, todas as noites em que o mar se pavoneia, sereno, acarinhando a terra e o luar brilha no céu escuro espargindo um manto de prata por sobre os rochedos de recortes sinistros, volta à gruta misteriosa em que o mancebo a encontrara. E aí, entre a hora fantasmagórica da meia-noite e as duas da madrugada, eleva a sua mágoa para os céus, em cânticos de tal maneira tristes e requebrados, melodiosos e encantadores, que enternecem e fazem chegar lágrimas aos olhos dos rudes pescadores que passam a caminho do mar alto, ou dos caminhantes que se aventuram a horas tão mortas por caminhos tão escusos e perigosos… CALADO, Mariano, Peniche na História e na Lenda, Peniche, Edição do Autor, 1991, p.416-417 9 9 | newsletter | http://atb23.net Um outro olhar Mariano Calado Foi-me proposta a realização de um artigo acerca de um dos maiores amigos que Peniche tem. Desde a sua infância, em parte passada a olhar o mar, a partir dos Remédios, cresceu uma afeição e um sentimento de pertença, devidamente acarinhado ao longo dos anos que se lhe seguiram. A ligação que criou com Peniche e as suas gentes, nunca parou de crescer, eu diria mesmo que se agigantou, tornando o seu nome uma referência incontornável, quer ao nível cívico e da cidadania activa, quer a nível da defesa do Património e da História Local e Regional. Efectivamente, Mariano Calado, como penso que já se tornou evidente, sendo pois a ele que me refiro, é e será, sempre que se falar de Peniche e da sua História e Cultura, um nome e uma obra vasta, dificilmente alcançável no carinho e no conhecimento que altruisticamente sempre pôs ao serviço desta “Terra que o mar abraça”. Não se trata aqui de fazer qualquer panegírico. Os elogios para uma figura como Mariano Calado ficam sempre curtos e aquém da realidade, como eu a conheço, no que se refere a este verdadeiro penichense ou penicheiro, conforme for do agrado do leitor. O Mariano Calado, o poeta e sobretudo o historiador é aquele que eu aqui pretendo evocar. O meu colega de mestrado, que me honra com a sua amizade, o meu colega de combates pelo património de Peniche, sempre ao lado das causas humanas e culturais do nosso concelho, é dele que pretendo, sem a arrogância ou o atrevimento de presumir demasiado acerca da sua paciência e bonomia, escrever algumas linhas apenas para sublinhar o quanto o admiramos, eu e muitos que em Peniche vivem. A diversidade da intervenção literária e científica de Mariano Calado, traduzida em poema, verso, prosa, discurso científico, romance, romance histórico, abarca vertentes que tem como máximo denominador comum a sua dedicação a Peniche e à sua região. Ao longo dos anos em que tem vivido na região que adoptou como sua, tem tido uma intensa e elevada participação humanista, construindo uma imagem de empenhado e profundo conhecedor das coisas e das causas em que se envolve, sempre em nome dos elevados padrões do amor e da amizade que devota à nossa terra e à sua população. Se Mariano Calado não é um penichense, nado e criado, trata-se apenas de uma contingência, pois pelo estatuto que alcançou ele é já “nosso”, isto é pertence a Peniche, faz parte do nosso património e da nossa história e cultura, constituindo uma bandeira e um exemplo para todos os que aqui nasceram. O que acabo de escrever é uma singela constatação, de todos conhecida. O Mariano Calado honra-nos com a sua amizade e enriquece-nos com o seu conhecimento, o qual partilha generosamente, em conversas, em palestras, colóquios e intervenções públicas, mas também em artigos e livros. A sua escrita, prodigiosa pela habilidade comunicacional e pelo ênfase dado ao verbo, torna-se um verdadeiro edifício de cultura e de conhecimento, em que o autor abre a sua alma e nos deixa antever e perceber através dos seus olhos feitos letra, um mundo, ora poético ora científico, ora lúdico ora paladino de causas. Centrando agora a nossa atenção sobre a sua obra, poderíamos dizer que dificilmente podemos distinguir, de entre o que já publicou, algum livro que mais se destaque. Toda a sua obra, qualitativamente, se encontra num limiar bastante elevado, quer a nível científico quer a nível literário, tornando injusto destacar este ou aquele título. De resto, em Mariano Calado a poesia e a prosa estão repassadas de História e por outro lado a sua produção historiográfica é um excelente exemplo de que se pode juntar a riqueza literária ao discurso científico, com ganhos significativos para o leitor. Longe vão os tempos em que a prosa científica tinha que ser enfadonha e despida de artifício e beleza literária para ser levada a sério. O nosso Mariano Calado abre o discurso historiográfico a um patamar de beleza da palavra escrita que aligeira a tarefa do leitor, o qual é conduzido pelos factos, fontes, análises e interpretações de forma agradável, em que transparece a vitalidade e o alinhamento do autor, sem que se perca a História-Ciência. Sem recorrer ao romance histórico, em que Mariano Calado também fez a sua incursão em , trata-se de um autor que alcança facilmente no seu discurso histórico, escrito ou falado, um saudável equilíbrio entre a fluência e seriedade científica e a qualidade e o entusiasmo emotivo da forma. Naquela obra, o conhecimento histórico, factual e concreto, adquirido pelo autor ao longo de anos de pesquisa permite-lhe criar um ponto de partida, um enredo e um ambiente credível para um romance histórico sucedido. Relacionando o que poderia ter sido em 1699, com o que ocorreu em 1976, utilizando a credibilidade das fontes históricas e preenchendo os espaços e as necessidades do enredo com uma prolífica imaginação, servindo um objectvo final, cívico, construtivo, apelativo e actual: o direito dos povos a intervir e a fazer o seu futuro e as diferentes imagens do “mal”, ou os males de ontem e de hoje. Mas como dizíamos há pouco, se nos parece qualitativamente injusto destacar um título ou outro, já da parte da expressão e conhecimento da sua obra junto do público em geral, a sua marca mais emblemática é, sem dúvida, . Publicado na sua 1ª edição em 1962 e sucessivamente reeditado, é sem dúvida a grande obra de referência, abarcando a pré-história e história locais, abordando também temáticas mais ou menos antropológicas/sociológicas e patrimoniais, sobretudo nos domínios da lendas e tradições, fazendo uma abundante referenciação de fontes e autores que em diferentes momentos aludiram a esta região. Obviamente, “Peniche na História e na Lenda”, tratando-se de uma primeira incursão no domínio historiográfco, sofreu ao longo dos anos e das suas sucessivas reedições, um trabalho de afeiçoamento aos desenvolvimentos que o autor foi ele próprio sofrendo, quer no seu percurso individual quer no sentido do aprofundar das temátcas abordadas, até à sua 4ª edição em 1991. A Obra e o Autor são naturalmente filhos do seu tempo, como diria Fernand Braudel, e assim o mesmo acontece com Peniche na História e na Lenda, cujo alcance só poderá ser verdadeiramente apreendido através de outros títulos que Mariano Calado levou ao prelo e que tratam de temáticas mais parcelares, menos gerais mas que dão conta de uma extraordinária maturação da componente historiográfica, metodológica e epistemológica. É neste contexto que se integram e deverão entender as extraordinárias contribuições de: Da ilha de Peniche, editado em 1994; Peniche no século XVIII ; As Memórias Paroquiais, de 1996; Visão Cronológica da História de Peniche, editado em 1999; Fortificações da Região de Peniche, de 2000; História das Rendas de Bilros de Peniche, em 2003. Exploremos esta bibliografia. Da Ilha de Peniche, aborda uma das mais interessantes características da nossa região: a sua evolução geomorfológica. Esta evolução da morfologia da costa condiciona toda a relação desta população com o mar e o respectivo interland. Mariano Calado, sustentado por fontes devidamente trabalhadas do ponto de vista científico, apresenta aqui uma perspectiva evolutiva da costa de Peniche e a sua relação com o povoamento respectivo. Os avanços e recuos do mar, claramente documentados, apresentam-nos um dinamismo costeiro que coloca a ilha de Peniche na chamada “Crónica de Osberno” (séc. XII), dando conta do 10 | newsletter | http://atb23.net 10 Um outro olhar do progressivo assoreamento da foz do rio de S. Domingos; a formação da lagoa de Peniche, com as difíceis travessias do istmo, inicialmente temporário e progressivamente cada vez mais estável, até apresentar a configuração dos nossos dias. As memórias paroquiais, publicadas em 1996, por Mariano Calado, constituem uma inequívoca intervenção do autor no domínio da publicação de fontes históricas. Trata-se de um trabalho menos interpretativo, mas onde as notas de fim de página conferem um sentido orientador e complementar de informação ao leitor. Mariano Calado aparece nessa obra com uma abordagem científica, fascinada pelo discurso em primeira mão prestado pelos párocos das diferentes freguesias dos então concelhos de Atouguia e de Peniche. A pedido do rei, são remetidos inquéritos à elite letrada do século XVIII em Portugal para que descrevam os aspectos mais marcantes de cada freguesia. As respostas são um repositório fundamental e esclarecedor do séc. XVIII nesta nossa região, tocando todas as vertentes da actividade humana aqui desenvolvida. A Visão Cronológica da História de Peniche, constitui um precioso auxiliar para quem pretenda iniciar o contacto com a História local, na medida em que sequencializa alguns dos momentos marcantes da história da região, de uma forma sintética e prática. Não fazendo uso de um aparato bibliográfico ou da indicação de fontes históricas, ao contrário da obra anteriormente descrita, serve um público diferente, menos iniciado nas lides historiográficas. Deste modo, Mariano Calado consegue alcançar uma outra audiência, menos interessada na faceta científica e mais dada a procurar o “simples” saber mais acerca da sua terra. Como Mariano Calado entendeu muito bem, as populações só valorizam o que conhecem e se não lhes for dada oportunidade de conhecer melhor a sua terra, a sua história e o seu património, como poderíamos então esperar que os nossos conterrâneos valorizassem e se revissem num sentimento de pertença cada vez mais apertado acerca do seu passado. Não o passado pelo passado, mas o conhecimento e valorização do passado como meio de clarificação e assunção de referenciais que sejam reconhecidos e compreendidos como alicerces do futuro e que garantam uma base sólida e estável para a construção das gerações futuras. Assim, o historiador Mariano Calado, não esgota a sua intervenção historiográfica, produzindo ao serviço de elites ensimesmadas de adoradoras da musa da História, antes procura colocar a História da nossa região ao alcance e ao serviço de mais e mais gente. Não se trata de exaltar saudosismos ou de exibição de conhecimento, trata-se, com Mariano Calado, de uma partilha generosa e entusiasta de informação, para claramente se mostrar a firmeza dos alicerces culturais das gentes que fizeram o que nós hoje somos, garantindo a segurança e a esperança na construção de um futuro sustentado. Em 2000, Mariano Calado dá ao prelo as Fortificações da região de Peniche. Trata-se de um trabalho científico, apurado e decantado, que teve por base a sua tese de mestrado em História Regional e Local, a qual foi reconhecida com a máxima avaliação pelo respectivo júri na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. A temática gira em torno da temática do património militar no concelho de Peniche, o qual apesar de riquíssimo está constantemente sob risco de perda, quer pela acção humana quer pela acção das intempéries ou pelo simples e palatino desgaste provocado pelo tempo e pelo mar. Trata-se de um brilhante e completo périplo pelas fortificações de Peniche, ao longo do tempo e das gentes que nelas e com elas conviveram. Esta obra recoloca claramente a perspectiva das fortificações de Peniche naquilo de que efectivamente se trata. A memória curta, apesar de ser extremamente importante pode ser bastante redutora quando analisamos elementos estruturantes do quotidiano das populações, com longevidade multissecular. Efectivamente, hoje, a fortaleza de Peniche é confundida com a prisão que durante décadas serviu o Estado Novo. Mariano Calado não pretende nem efectua o branqueamento desse período, nem dessa utlização, mas pretende mais que abordar o século XX, dar voz aos restantes séculos de história das fortfcações do concelho, pelo que de positvo fizeram pelos povos desta região (e mesmo do país): defesa das populações contra corsários, piratas, invasores (franceses, Ingleses) e guerras civis. As fortificações de Peniche, na óptica de Mariano Calado, não são só sentinelas nas muralhas e soldados nas casernas. As fortificações são-nos apresentadas como um elemento de ligação e interacção com as populações locais, nem sempre uma sombra positiva ou negativa, mas sempre um elemento fundamental na evolução dos dinamismos da região. Finalmente, com a História das Rendas de Bilros de Peniche, Mariano Calado surge-nos também como um historiador do quotidiano. Desde sempre associado ao associativismo em prol do património local, desde o seu início, Mariano Calado associou o seu nome à defesa e promoção desse elemento tão fortemente identitário como são as rendas de bilros na nossa região. A beleza e o potencial que este património representa, mereceram–lhe uma especial atenção e resultou na obra com mais cuidadosa apresentação gráfica e de maior plasticidade. É nas suas páginas que encontramos a beleza da História associada à beleza da escrita e à beleza das rendas de bilros. A História das Rendas de Bilros de Peniche, editada em 2003, será sem qualquer dúvida a obra de referência para esta temática historiográfica e constitui um importantíssimo contributo para a preservação deste património. Outro aspecto interessante nesta obra, foi o recurso a um tipo de fontes históricas cujo uso é muito menos frequente do que as fontes escritas, estou a referir-me aos testemunhos orais. Note-se que este tipo de fonte exige outro tipo de intervenção em termos de crítica histórica, mas resulta normalmente num manancial informativo que ao ser reduzido a escrito alcança uma perenidade que a história recente raramente usufrui. Joeirar fontes da actualidade revelam-se um escolho por vezes demasiado difícil de remover para um historiador incauto. Não foi o caso de Mariano Calado, o qual conseguiu seleccionar a informação necessária, suficiente e correcta para ultrapassar o anedotário da história com letra pequena e alcançar um verdadeiro ex- libris em defesa do património da sua região. Em matéria historiográfica este foi o mais recente contributo de Mariano Calado, embora este meu amigo sempre consiga surpreender-nos com novas ideias, novos projectos e novas publicações. Assim, aguardo com expectativa o título da próxima. A escrever desde 1955, Mariano Calado concedeu à poesia uma grande parte da sua alma, felizmente que sobrou bastante para os restantes géneros e forma literárias e culturais. O seu primeiro livro, de poesia, Mar de Sempre, foi publicado em 1955. Depois de O Abismo e as Estrelas (1957) e de Fogo de Santelmo, em 1995 publicou Raízes de Maresia, onde se respiram, em permanente entusiasmo pela aventura e pela beleza e numa surpreendente simbiose, os cheiros a mar e a campina. Em 2005, , publicou novos sob o título poemas. Em 2009, surge o mais recente livro de poesia de Mariano Calado, , com o mar e a História sempre no horizonte poético, Mariano apresenta-se-nos num percurso feito de muitos passos e carregado de afectividade . BATALHA, Ana, (2011) Percurso Biográfico. Paideia, Revista de Cultura e Ciência, 2, 37-42 11 | newsletter | http://atb23.net 11 Elisabete Jacinto viagens pela leitura... 12 Sala de Leitura da Biblioteca 12 | newsletter | http://atb23.net 16 fev A visita de Elisabete Jacinto EsCrItOrEs Inês Santos 5D - N11 No dia 14 de fevereiro, Elisabete Jacinto, a escritora de “Os Portugas No Dakar” e “Irina no master rali”, veio visitar-nos na biblioteca da escola EB23 de Atouguia da Baleia. Mas, além de escritora, ela é também piloto de ralis… de camiões… Que emoção!! Quando nos disseram, ficámos entusiasmados. Será que poderíamos dar uma voltinha no seu camião? Talvez ela nos levasse ao Paris-Dakar! A escritora começou por mostrar umas fotografias e explicar como eram os ralis quando faziam o Paris-Dakar. Mostrou-nos qual era o percurso do rali, referiu que o acampamento era muito grande e que usavam sacos de lixo preto nas pernas para os proteger do frio (nunca tinha pensado nisso, mas qualquer dia vou experimentar!). Explicou-nos também o que acontecia quando tinham um acidente – primeiro, os pilotos tinham de acionar uma antena ou carregar num botão para a organização saber onde estavam. Mas, quando se magoavam gravemente, podiam não conseguir fazer isto e então começaram a usar um sinal de GPS. Assim, sabem sempre onde estão e o sinal dá um alerta quando há um acidente. Muito melhor!! De seguida a escritora tirou algumas dúvidas aos alunos e, para encerrar a seção, deu a todos os alunos, que quiseram, um postal autografado com a fotografia do seu camião. Quem quis também pôde comprar um dos seus livros. Foi uma tarde e peras!!!! 13 13 | newsletter | http://atb23.net Património Local Visita de Estudo do 3.º ano 30 de Janeiro Prof.Helena Martinho PAA 14 Foram visitadas as Igrejas de S. Leonardo e de Nossa Senhora da Conceição, assim como a fonte gótica, que não passou despercebida aos olhares atentos dos alunos. Foi uma visita interessante e enriquecedora em conteúdo. Desta forma os alunos fizeram desenhos a carvão com base nestes monumentos e também recorrendo ao site atouguiavirtual . (Visita de estudo realizada no dia trinta de Janeiro de 2012 à localidade de Atouguia da Baleia.) 14 | newsletter | http://atb23.net 14 jan Histórias com Livros LeItUrAs Fevereiro Eduarda Rocha 7D N11 15 15 | newsletter | http://atb23.net 16 fev Prémios Guilherme de Corni 16 de Fevereiro Mariana Silva Gomes N.º 13 - 6.º B A sessão teve início por volta das 20:30h, com um momento de poesia, interpretado por professores e alunos, no qual eu também declamei um poema, chamava-se e fui a terceira aluna a declamar. A cerimónia começou com um poema que foi declamado por alguns professores e acompanhado a Oboé, tocado pela prof. Linda, uma das professoras de música da escola. A cerimónia decorreu no refeitório da escola, mas não o parecia, mais parecia um auditório. Em primeiro lugar procedeu-se a entrega dos diplomas de Mérito por ordem crescente (de 5ºs para 9ºs anos) e de seguida a entrega dos prémios. No intervalo entre a entrega de diplomas e prémios de Mérito de cada ano escolar, existia sempre um momento de poesia. Os poemas interpretados nesta noite foram da autoria de Mariano Calado, escritor que escreveu muito sobre esta zona e o convidado homenageado nesta noite. No final da cerimónia houve uma pequena atuação da tuna da escola, e de seguida foi apresentado o novo nome para biblioteca da E.B 2,3 de Atouguia da Baleia: - “Biblioteca Mariano Calado”. 16 8.ª sessão da entrega dos prémios Guilherme de Corni Eu gostei muito da cerimónia, acho que foi muito bonita e uma merecida homenagem a um grande escritor como é Mariano Calado. Acho que todos os meus colegas e professores estiveram muito bem nos poemas que declamaram. 16 | newsletter | http://atb23.net Agrupamento de escolas de atouguia da baleia Identidade e Desenvolvimento AGENDA Dia da Música em Maio Um espaço de informação e formação 2012 17 mai 17 | newsletter | http://atb23.net