NEWSLETTER
março 01
ISSN 1647-7248
2012
…eu
sou uma pessoa
que só escreveu
alguns versos, não
entendo a razão disto
tudo.
Mariano Calado
janeiro > março’12
ed içã o
d ig it a l
1 | newsletter | http://atb23.net
Editorial
Biografia
Sumário
Neste
número
PoDe
LeR
Vidas
Biblioteca
Mariano
Calado
Poesia
e Lendas
Um outro
olhar
Viagens
pela leitura
Escritores
Leituras
Património
Guilherme
de Corni
Agenda
>
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1
Agrupamento de Escolas
de Atouguia da Baleia
- PrO d Uçã o
Newsletter
Janeiro - Março
.março.2012 | ISSN 1647-7278
: Trimestral|
: Agrupamento
de Escolas de Atouguia da Baleia
R. Victor Baltazar,2525-079 Atouguia da Baleia,
tel. 262 757270, fax 262 757271 |
[email protected]
http://atb23.net
Ana Batalha, Helena
Martinho, Maria João Rodrigues, Inês Santos,
Eduarda Rocha e Mariana Silva Gomes.
Direcção da Escola Secundária de
Peniche pela cedência dos artigos publicados na
Paideia (2011), Revista de Cultura e Ciência,
relacionados com a homenagem a Mariano Caldo.
Mariano Calado
Editorial
Director
Como dizia o poeta, é com alguma
saudade do futuro que viramos uma
página na forma de informar e
divulgar as notícias do nosso
agrupamento. O “Baleia Jornalista”,
jornal trimestral do Agrupamento
ganhou o respectivo e merecido
direito à reforma, após muitos
números recheados da vida deste
agrupamento, dos seus alunos, dos
seus professores e da sua
comunidade. É uma reforma honrosa,
um pouco antecipada por via dos
elevados custos que implicava e pela
emergência de novas formas de
comunicar. Em tempos de crise,
importa gerir os recursos sem
prejudicar os objectivos e metas a
que nos propomos, mas sabendo
efectuar adaptações e introduzir
melhorias.
Neste caso, lançamos agora o 1º
número da nossa “NEWSLETTER”. O
suporte digital é mais ecológico, mais
económico e mais rápido e tem um
potencial de leitores muito maior,
pois não se cinge a um número de
tiragem de exemplares. No entanto, o
suporte físico do jornal permitia-nos
alcançar outro público. Os leitores da
nova “newsletter” e do “Baleia
Jornalista” não se sobrepõem
necessariamente.
A nossa “newsletter” deverá ter
como complemento e suplemento
uma atenção do leitor às páginas de
novidades e de actividades constantes
da página institucional do
Agrupamento de Escolas de Atouguia
da Baleia. A nossa “newsletter”,
articulada com a página institucional,
proporcionará aos leitores uma maior
interactividade com o nosso
agrupamento, bem como uma maior
actualidade nos temas tratados.
Para o lançamento da nossa
“newsletter” escolhemos um tema e
uma figura incontornável no cenário
cultural da nossa região. O seu
contributo para a nossa cultura, a
nossa História e o nosso Património,
constitui um cimento imprescindível
à construção da nossa identidade e ao
esclarecimento do nosso sentimento
de pertença. Sem bairrismos obtusos,
o cidadão Mariano Calado, o escritor
Mariano Calado, o historiador, o
poeta… evidenciam-nos alguém que
nos mostra o orgulho e amor de ser e
de pertencer a esta região, a esta
terra, a esta comunidade.
Finalmente, uma palavra de bom
augúrio para os próximos números
deste novo veículo da nossa
comunicação, na preocupação
constante de estreitar os laços com a
comunidade local extra-muros do
nosso agrupamento. Que esta
Newsletter seja mais um instrumento
que nos ajude a alargar o nosso
horizonte cultural e abra mais uma
janela sobre o que nós somos … de
acordo com a mensagem fulcral do
nosso projecto educativo: “Identidade
& Desenvolvimento”.
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2
vidas
BIOGRAFIA
3
Calado, Mariano, (2011) Percurso Biográfico. Paideia, Revista de Cultura e Ciência, 2, 23
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10 Junho de 1928
Almeirim
Formação, Actividade
Profissional, Literária e Artística
CaLaDo, MaRiAnO, (2011) Pe r c ur s o B iogr á f io. Pa ide ia , R e v is t a de C ult ur a e C iê nc ia ,
2, 21-28
Formação
Frequentou a escola primária em Peniche (Escola Nº I, segunda sala do lado
poente), de Outubro de 1935 a Junho de 1939).
Frequentou, desde de Outubro de 1939, o antigo Liceu Nacional Sá da Bandeira,
de Santarém. Residindo com familiares em Almeirim, deslocava-se diariamente, com
outros colegas de 10, 11 e 12 anos, de bicicleta, fazendo (ida e volta) os sete
quilómetros que o levavam ao Liceu.
Em Janeiro de 1942, no início do 2º. período do 3º ano, interrompeu os estudos,
por via de doença óssea que o reteve no leito durante quatro meses.
De Outubro de 1942 a Junho de 1943, repetiu o 3º ano liceal no extinto Instituto
D.Luís de Ataíde, de Peniche.
Em Outubro de 1943 voltou a frequentar o Liceu Nacional Sá da Bandeira, em
Santarém, tendo concluído, em Junho, o 4º ano (…) E, em Julho desse mesmo ano,
voltou a ser apoquentado pela anterior doença óssea, que, desta vez, o levou a ficar
retido, deitado, num tabuleiro-cama, durante três anos, fazendo helioterapia em
Peniche, nomeadamente na zona do santuário de Nossa Senhora dos Remédios.
Em 1964, inscreveu-se na Faculdade de Ciências Políticas de Madrid e matriculouse no Instituto Superior de Psicologia Aplicada (ISPA) (…) tendo concluído o curso
de Psicologia Social em 1968.
(…) Em 1999, realizou o mestrado de História Regional e Local, na faculdade de
letras da universidade de Lisboa, com a dissertação Fortificações da Região de
Peniche, tendo obtido a classificação de Muito Bom.(…)
Actividade Profissional
No final de 1949 concorreu a uma vaga de regente escolar, tendo sido colocado
(…) na aldeia da Moita (…) (Caldas da Rainha), com uma única turma de alunos da
1ª. à 4ª. classe, experiência difícil mas gratificante e muito rica do ponto de vista
humano.
No final de 1950 fez concurso para o Banco Nacional Ultramarino, onde foi
admitido em Fevereiro de 1952 e onde trabalhou até meados de 1965.
Em Setembro de 1965 foi convidado a ingressar na Lisnave – Estaleiros navais de
Lisboa para fundar e orientar a revista mensal «Lisnave», de informação e formação,
pelo que saiu do B.N.U. com licença ilimitada.
Em 1971 deixou de exercer a anterior função e passou a orientar o Serviço de
Psicologia da Lisnave, do qual foi responsável até 1984.
(…)
Em 1984, saiu da Lisnave, reingressando no Banco Nacional Ultramarino, como
psicólogo, cargo que exerceu até 1989, reformando-se da Banca nesta data. ”
[A partir daqui dedicou-se a muitas atividades: foi orientador de seminários de
Dinâmica de Grupo, formador no Instituto Superior de Gestão, diretor do
Psicolabor-Centro de Psicologia, Formação e Organização, monitor de seminários ,
diretor-conservador do Museu de Peniche, professor da cadeira de Gestão de
Recursos Humanos, professor das cadeiras de Psicologia Social e de
Psicossociologia das Organizações, professor-bibliotecário, vice-presidente da
Assembleia Geral de Escola, membro do Conselho de Redação da revista
Intervenção Social.]
Actividade Literária e Artística
“Começou a publicar os seus primeiros trabalhos literários com 14 anos, em o
Tiroliro, suplemento infantil, suplemento infantil do diário A Voz (…)
Profundamente interessado pelo estudo da Língua e encontrando no passatempoarte do Charadismo um óptimo meio para o seu desenvolvimento, dedicou-se a ele,
também desde os 14 anos, tanto em decifração, como em produção, com o
pseudónimo «Odalac» (…)
Em 1949, dirigiu na revista Flama a secção semanal «Avoz da Esfinge». Na mesma
data, fundou no seminário leiriense A Voz de Domingo, a secção «Busílis» e, na
década de 50, dirigiu na revista A Lente a secção «Eureka»e, no jornal juventude
Operária, a secção «Nas Horas de Folgar», esta sob o pseudónimo Ana Sabichão.
(…)
[Publicou] “em 1950, o seu primeiro livro(!), o pequeno manual Como fazer e
decifrar charadas …
Em 1948 estreia-se como amador de teatro (…)
Em 1950, com Manuel Marques Ferreira (…) escreve, pagina e publica o número
único do jornal O Penichense (…)
A partir da década de 50 colaborou (com poemas, contos, ensaios e trabalhos de
recreio charadístico) em vários jornais e revistas (…)
Orientou o quinzenário Jornal do Mar (…) de 1969 a 1974.
Tem praticamente concluído (…) um Auxiliar de Arcaísmos, com a compilação de
cerca de onze mil entradas.
(…)
Colaborou na produção, realização ou interpretação de programas radiofónicos
(…)
Colaborou, em Almada, na formação do Cine-clube, numa exposição de poesia
ilustrada e encenou, para alunos de um colégio do ensino secundário, uma peça de
Gil Vicente.
Encenou, em Lisboa, uma peça num acto (…)
A convite do director do Teatro de Ensaio (…) interpretou um dos personagens da
peça «O Homem da Flor na Boca» de Luigi Pirandelo.
(...)
Em 1958, foi um dos intérpretes do famoso e ousado programa de Matos Maia «A
invasão dos Marcianos» (réplica de «A guerra dos mundos», de Orson Welles)
transmitido por Rádio Renascença e que tanta celeuma levantou e causou fúria entre a
Censura de então.
Em 1983, foi de novo um dos intérpretes de outro inteligente e ousado programa
(«Quando os cientistas sonham»), igualmente de Matos Maia, no Rádio Clube
Português.
Em 2010 criou, para a 102FM RÁDIO, um apontamento sobre os 100 anos da
implantação da República em Peniche, de que foi um dos intérpretes, tendo sido
transmitido no dia 7 de Outubro.
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4
5
CALADO
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16 de Fevereiro
Inauguração da Biblioteca
Mariano Calado
No dia 16 de fevereiro a biblioteca da
Escola Básica 2,3 de Atouguia da Baleia
passou a chamar-se biblioteca Mariano
Calado.
Esta cerimónia de homenagem foi
integrada na 8ª entrega dos prémios
Guilherme de Corni, que anualmente,
premeia os alunos com melhores
resultados escolares. Ao longo das três
semanas anteriores, um conjunto de
professores, funcionários, encarregados
de educação e alunos ensaiou músicas,
leituras, dramatizações e declamações de
poemas deste ilustre poeta, escritor,
ensaísta …
A homenagem a Mariano Calado vem
recordar as múltiplas dimensões que
marcam a sua vida e a sua personalidade.
Através da escrita, soube protagonizar de
forma ímpar a grandeza do destino
individual e coletivo da sua gente. É
merecedor de uma gratidão que nos
compromete a todos, porque é o nosso
mundo, a nossa terra, as nossas gentes, o
nosso património natural e construído, as
nossas tradições, a nossa natureza, que
convergem como trajecto colectivo na sua
obra.
A noite iniciou-se com a leitura
expressiva do poema Cantilena de
Peniche (A Fuga do Silêncio), pelos
professores Joel Leal, Fernando Oliveira,
Valdemiro Rodrigues e pelas professoras
Graciosa Damas, Sílvia Alves, Ana Paula
Rodrigues e Isabel Cunha. A acompanhar,
o som flutuante do oboé tocado pela
professora
Linda
Comendinha
que
interpretou a peça Metamorfose Arethusa
para oboé de Benjamin Britten.
De seguida, iniciou-se o primeiro
conjunto de declamações dos alunos; a
Ana Russo do 6º D declamou o poema
, com a
dramatização e o vigor que já a
caracterizam, o Tomás Coelho do 6ºD
declamou o poema A Minha Terra (Raízes
de Maresia) com teatralidade e segurança
e a Mariana Gomes do 6ºB o poema João
Paulo (A Fuga do Silêncio) com a
emotividade e a firmeza necessárias a um
pai que fala para o seu filho.
A segunda interpretação realizada pelos
professores fez-se com o poema A Rosa,
Agora (A Fuga do Silêncio).
Seguiu-se o segundo conjunto de
declamações dos alunos; a Margarida
Silva do 7º F declamou o poema Espelho
de Mim (Raízes de Maresia), com
sentimento e delicadeza, a Carolina
Spínola do 7ºE o poema Ser Outra Vez
Criança (A Fuga do Silêncio), declamado
com a sua voz doce e clara, e o Henrique
Santos do 7º D o poema Vaidade (A Fuga
do Silêncio), de mãos nos bolsos,
conforme
lhe
pediram,
e
muito
descontraído.
O poema Gaivota Menina (Nau dos
Corvos) foi dito alternadamente pela
Carolina Spínola do 7ºE, pela Ana Russo
e pelo Tomás Coelho do 6ºD, que o
declamaram com muita graça, ao ritmo de
uma pequena coreografia.
A terceira leitura dos professores foi o
poema
Minha
Peniche
(Fogo
de
Santelmo) e foi lida somente pelas
professoras Graciosa Damas, Sílvia Alves,
Ana Paula Rodrigues e Isabel Cunha que
encheram a sala com as suas vozes claras
e ternas.
Seguiu-se o terceiro conjunto de
declamações dos alunos; o João Fortunato
do 7ºA declamou o poema Voo Branco
(Fogo de Santelmo), cheio de vivacidade,
a Alexandra Bastos do 7ºF o poema Ondas
(A Fuga do Silêncio), interpretado com
serenidade, e a Laura Pinto do 7º A o
poema Raiva Insatisfeita (A Fuga do
Silêncio) com muito ardor e veemência.
A quarta e última leitura coube, desta vez, só
aos professores Joel Leal, Fernando Oliveira e
Valdemiro Rodrigues com o poema Vagas de
Lezíria (Raízes de Maresia). O tom grave, alto e
dramático resumiu a vida de um sujeito poético
(Mariano Calado?) e revelou a dicotomia
presente na sua vida: o mar e a terra.
A Representante dos Encarregados de
Educação, a Dr.ª Paula Serafim leu o poema
Proa (A Fuga do Silêncio), mas antes fez, de
improviso, uma quadra muito engraçada e muito
a propósito.
Já quase no fim, pudemos rir e sorrir com a
pequena dramatização do poema Ti Caçoa (Nau
dos Corvos) feita pelas simpáticas Goretti
Valenove e Alice Cordeiro. Vestidas a rigor,
como manda o figurino, a Goretti era a varina
que apregoava o famoso pregão da ti Caçoa “Sardinha fresca! É aproveitar, fregueses!” Muito
descontraída, envolta num lindo xaile azul, as
argolas e o fio de ouro a contrastarem e levando
na cabeça um cesto cheio de sardinhas
prateadas, a Goretti gritou o pregão várias vezes,
assim como a interpelação “Não vai uma
sardinha, amor?”. O próprio Mariano não
escapou e aceitou duas sardinhas que a Goretti
lhe ofereceu, as quais foram costuradas por ela
própria numa tarde e noite de sábado. Vestida a
pescador, de boné e com um bigode que por
vezes lhe caía e o qual, com certa graça, num
determinado momento o arrancou de vez, estava
a Alice que lhe perguntou “A sardinha tá boa, ti
Caçoa?”
Assistimos, pois, ao desenrolar e ao fim do
diálogo desta vendedora e cliente tão especiais,
para ouvirmos depois o poema da Ti Palmira
Paleca (Nau dos Corvos) declamado pela Filipa
Laranjeiro, pela Carolina Prioste e pelo Xavier
Ferreira do 8ºB. Com coragem, gritaram, a bom
gritar, pela petinga, pelo carapau, pelo sargo,
pelo cantaril, pelo robalo, pelo safio, pela sarda,
pela boga, pelo chicharro, pelo bodião, pela
faneca, enfim por todos os peixes cantados e
apregoados pela ti Palmira cantadeira e, no fim,
concluíram em coro, e com muita graça que “a ti
Palmira Paleca /era levada da breca.”
Estas leituras foram sendo intercaladas com a
entrega dos diplomas e dos prémios aos alunos.
A tuna também quis prestar a sua homenagem e
cantou e tocou a música dos Cabeça no Ar Há
Baile na Biblioteca.
No final, após ter descerrado a placa, colocada
à entrada da biblioteca e que contém o seu nome
e o seu retrato, Mariano Calado agradeceu com
visível emoção. Na sua sincera e imensa
humildade disse “ … eu sou uma pessoa que só
escreveu alguns versos, não entendo a razão
disto tudo … ” É este facto, além de muitíssimos
outros, que são do conhecimento de todos
aqueles que o estimam e o admiram, que
mostram por que razão a biblioteca se chama
agora Mariano Calado.
A Direção, a equipa da BE e do PTE agradecem
a todos os que participaram e tornaram possível
esta cerimónia.
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6
Poesia
VA G A S DA
LEZÍRIA
Mariano Calado, Raízes de Maresia
NA lezíria do meu sonho,
NAS vagas do meu querer,
NO leito do meu destino,
FUI poeta,
FUI escritor,
FUI barqueiro,
FUI campino,
FUI toureiro
E pescador,
FUI tudo o que sempre quis
ENTRE os meus próprios destroços.
SÓ não pude ser menino,
- que o não quiseram meus ossos.
A ROSA A GORA
Mariano Calado, A Fuga do Silêncio
Não me falem do barco onde chorei,
não me falem do barco onde sofri,
não me falem do barco onde matei,
não me falem do barco onde morri.
Falem-me, sim, do barco onde sonhei
a esperança que hoje, e sempre, ainda me invade,
falem-me, sim, do barco onde pisei
os passos de lutar pela liberdade.
Que eu quero não errar como quem erra
e sentir fundo, e bem, como quem sente
amar, de mar a mar, a minha terra,
amar, de mar a mar, a minha gente.
Que este som, este grito, esta raiz
que o vento traz, em lágrimas de outrora,
que este ser e não ser, no meu país,
são o perfume de uma rosa, agora.
POVO QUE
VIVES DO MAR
Mariano Calado, Nau dos Corvos
Povo que vives do mar,
que no mar vives e
sonhas,
ah, meu povo de cantar,
meu povo de sol a sol,
meu povo de mar a
mar,
meu povo de mareantes
de naufrágios e chorar,
meu povo de velejar
com sereias e ternura,
companhia do meu
sonhar,
que vives com a loucura
de lendas para contar,
traineira da minha vida
Oh, vai, meu povo
moreno,
oh, vai, minha terraforça
Que tens a força do
mar,
que matas a fome e o
frio
à sombra do teu navio,
Nau dos Corvos, minha
nau
Que não se deixa
afundar.
Como eu te quero, meu
povo,
sempre antigo e sempre
novo,
toda de rendas vestida.
meu povo de mar a
mar!
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7
Poesia
do Carvoeiro a alertar
os caminheiros do mar,
do marítimo odor das
camarinhas
que apetece comer e
respirar,
da Nau dos Corvos que
nunca
o mar consegue vergar!
Da Berlenga vista ao
poente,
estrela do mar,
deitada,
sossegada,
abrindo os braços ao sul.
CANTILENA DE
PENICHE
Era uma vez uma ilha,
um coração de mar, feito
de luz,
onde abundavam os
coelhos e os veados
e onde crescia a planta do
alcaçuz.
E foi então que um
airinho,
de branco e negro vestido,
abriu as asas do sonho,
esvoaçou
e poisou
de canto em canto,
bailadeiro e divertido
e entreteve-se, rasgando
carreiros
e mais carreiros,
carreiros, praias e grutas,
esculpindo maravilhas,
figuras de enfeitiçar,
nos rochedos que
encantava
no milagre de voar.
Ai, Peniche, meu Peniche
dos Passos de Leonor,
onde Leonor tanto amou!
Do Carreiro de Joanes
e do Portinho da Areia,
onde a poesia é o bailado
do sonho de uma sereia.
Ai, Peniche da Furninha
onde o passado ficou,
testemunho de uma
história
que uma memória
guardou.
Mas, ai, que o airinho
acorda
ao som de gritos de
espanto
e começou a chorar.
Ai, meu Peniche azul,
alga de sol e de mar,
rocha de amor e luz
e de sonhar.
Ai, meu Peniche azul,
do Quebrado e da
Camboa,
do Abalo e da Papoa
e da Galé imponente.
Ai, Peniche dos Remédios
dos círios santos da gente,
do meu Revelim, janela
aberta ao azul que
espanta,
da Varanda de Pilatos,
Ai, Peniche da Ribeira,
do Portinho do Revés,
onde as traineiras apontam
ao futuro o gurupés,
onde os cabazes, saltando
das mãos dos homens do
mar,
têm asas de gaivota
sobre os barcos, a voar,
e onde a sardinha, de
prata,
pequenina, graciosa,
salta e rechina, gostosa,
saborosa
e bem assada
nas braseiras de escarlata,
do perfume que entontece
nos tachos de caldeirada!
E os médões
açoitados pelo vento
são moinhos tecendo
ilusões,
são sorrisos de sereia
em sete praias de encanto,
são beijos de maré cheia
nos sonhos do nosso
espanto!
dos fortes, dos fortins e
baluartes,
da Fortaleza, onde o cantar
da liberdade
silenciou os gritos da
opressão
dos cárceres que, a ter, fora
forçada.
Meu Peniche do mar, meu
sofredor
das invasões das águias
traiçoeiras,
que tantos dos teus filhos
violentaram!
Meu Peniche dos dramas,
dos naufrágios,
dos homens que, por actos
de heroísmo,
se foram do silêncio
libertando,
velas ao alto, abertas à
nortada,
mãos fincadas nos remos de
salvar,
redes fincadas nas águas
de pescar.
E foi então que o airinho,
de branco e negro vestido,
depois de rasgar carreiros,
carreiros, praias e grutas,
esculpindo maravilhas,
figuras de enfeitiçar,
nos rochedos que encantava
no milagre de voar,
abriu as asas do sonho
e poisou,
mais uma vez,
de canto em canto,
bailadeiro e divertido,
silenciou no seu canto
os apelos dos naufrágios
e a nortada arrefece,
que transforma em
pesadelos
o mar que, tonto, entontece,
que faz magoar os ossos
e o coração arrefece
e pôs Peniche a cantar,
Peniche que era uma ilha
um coração de mar feito de
luz,
onde abundavam os coelhos
e os veados
e onde crescia a planta do
alcaçuz.
E pôs Peniche a cantar,
menina e noiva do mar.
Ai, meu Peniche das
rendas
de bilros tecidas,
tecidas à mão,
quais lendas,
quais prendas,
do sonho nascidas
nos piques-milagre
da cor do açafrão,
geradas,
no gerar de maravilhas,,
do amor das almofadas
de algodão.
Meu Peniche da História,
dos lusitanos, árabes,
romanos,
das muralhas,
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8
Lendas
Peniche na História e na Lenda,
LENDA DE PENICHE Edicão de Autor, 1991, p.416-417
Um dia, nas águas sossegadas da praia do Carreiro do Cabo,
entretinha-se a mulher de um pescador a dar banho a uma sua
filhinha de tenra idade.
As ondas vinham beijar de mansinho as areias douradas e
finas que desciam dos médões rasteiros dos Remédios em
ondulações brandas e preguiçosas.
Entrementes, perante a surpresa da mãe, a
criança saltou dos braços maternos e, com
um brilho estranho de felicidade nos olhos e
um sorriso a divinizar-lhe as feições, atirouse ao mar. Espanto, gritos de receio de que a
menina se afogasse, correria assustada das
outras mulheres que se encontravam
também ali perto, à beira-mar. Mas, perante
o assombro dos presentes, a menina emergiu
das ondas, calma, serenamente deixando-se
apertar nos braços da mãe que chorava de
alegria por tornar a vê-la. Mas a criança dava
a ideia de vir diferente: o olhar, o sorriso, os cabelos castanhos
e ondulados, irradiavam reflexos maravilhosos de uma
estranha felicidade e como que exultava uma animação maior
em toda ela.
Passaram-se anos sobre este dia. A criança crescera em
graça e beleza; uma graça e uma beleza que fariam adivinhar
a presença misteriosa de qualquer sortilégio. Os pais bebiam
os ares pela filha e nada encontravam de singular no seu
convívio; mas as mulheres que haviam assistido à cena de anos
antes — velhas mulheres embiocadas cheias de crendices e de
assombros — pressentiam naquela existência como que um
halo sobrenatural, qualquer coisa de misterioso que não
sabiam explicar. E, à boca pequena, maravilhadas do seu
próprio receio, iam contando que, algum dia a moça se
transformaria em sereia, por ter recebido os poderes do
encanto quando surgira do mar, estranhamente feliz.
Ora, um dia, o filho do ouvidor do Conde de Atouguia,
deslumbrado pelo fascínio irradiante da rapariga, apaixonouse loucamente por ela. Mas não deixou o seu amor ser tão puro
e tão forte que, à sombra do poderio e dos Privilégios de que
seu pai gozava, a não tivesse seduzido e abandonado
miseravelmente.
A donzela, humilhada e cheia de vergonha, carpiu
largamente a sua desgraça. A beleza que a todos assombrava
pela sua singularidade, foi-a ela perdendo, dia após dia,
perante as lágrimas tristes dos pais que a adoravam e que nada
podiam fazer para o evitar. Até que o seu desgosto de amor a
“
levou à morte, sendo levada a enterrar no adro da igreja de
Nossa Senhora da Vitória, à altura existente no Cabo
Carvoeiro.
Certa noite, voltava o moço sedutor de uma festa nos
Remédios em que tomara parte, seguindo pela costa a caminho
da Ribeira, onde morava. Não muito longe do Carreiro do
Cabo, ouviu uma voz harmoniosa entoando
os versos de uma canção nostálgica. Com
mil cuidados, não fosse surpreender e
assustar a dona de voz tão bela, aproximouse. E, cheio de admiração, viu, sentada
junto de uma gruta existente ali perto, uma
mulher, extraordinariamente formosa.
À luz do luar que recortava figuras
estranhas e sinistras pelos rochedos,
”
pareceu-lhe, cheio de assombro, o vulto da
sua antiga namorada. Acercou-se, cheio de
receio e curiosidade. A mulher, porém, ao pressenti-lo,
desapareceu misteriosamente.
Mas aquela visão deixara o moço estupefacto e ansioso. E,
na noite seguinte, voltou de novo a passar perto da gruta,
ouvindo novamente a mesma voz a entoar a canção triste da
véspera; lá estava a mesma mulher, esbelta e enigmática,
sentada à beira da rocha. Aproximou-se, tentando tocar-lhe
para certificar-se do que os seus olhos viam mas no momento
em que o ousou fazer, ela voltou-se inesperadamente para ele
e enlaçou-o, gritando numa voz estranha e ameaçadora que
chegara finalmente a hora de ele expiar o crime da sua
desonra. O seu grito teve o condão de enfurecer as ondas do
mar, que se levantaram e ergueram, raivosas, até ao cimo da
gruta, arrastando os dois jovens, no meio de um turbilhão de
espuma, para o fundo dos abismos.
Alguns dias depois, foi encontrado junto do Médão Grande
o corpo do infeliz sedutor, lamentavelmente pisado e moído
como se tivesse sido exposto a bárbaras torturas.
Quanto à donzela seduzida, diz o povo que se transformou
realmente numa sereia — como o haviam pressentido as velhas
mulheres embiocadas, cheias de crendices e de assombros —
e que, saudosa dos seus amores, todas as noites em que o mar
se pavoneia, sereno, acarinhando a terra e o luar brilha no céu
escuro espargindo um manto de prata por sobre os rochedos
de recortes sinistros, volta à gruta misteriosa em que o
mancebo a encontrara. E aí, entre a hora fantasmagórica da
meia-noite e as duas da madrugada, eleva a sua mágoa para os
céus, em cânticos de tal maneira tristes e requebrados,
melodiosos e encantadores, que enternecem e fazem
chegar lágrimas aos olhos dos rudes pescadores que
passam a caminho do mar alto, ou dos caminhantes que
se aventuram a horas tão mortas por caminhos tão
escusos e perigosos…
CALADO, Mariano, Peniche na História e na Lenda,
Peniche, Edição do Autor, 1991, p.416-417
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Um outro olhar
Mariano Calado
Foi-me proposta a realização de um artigo
acerca de um dos maiores amigos que
Peniche tem. Desde a sua infância, em parte
passada a olhar o mar, a partir dos Remédios,
cresceu uma afeição e um sentimento de
pertença, devidamente acarinhado ao longo
dos anos que se lhe seguiram. A ligação que
criou com Peniche e as suas gentes, nunca
parou de crescer, eu diria mesmo que se
agigantou, tornando o seu nome uma
referência incontornável, quer ao nível cívico
e da cidadania activa, quer a nível da defesa
do Património e da História Local e Regional.
Efectivamente, Mariano Calado, como penso
que já se tornou evidente, sendo pois a ele
que me refiro, é e será, sempre que se falar
de Peniche e da sua História e Cultura, um
nome e uma obra vasta, dificilmente
alcançável no carinho e no conhecimento
que altruisticamente sempre pôs ao serviço
desta “Terra que o mar abraça”.
Não se trata aqui de fazer qualquer
panegírico. Os elogios para uma figura como
Mariano Calado ficam sempre curtos e
aquém da realidade, como eu a conheço, no
que se refere a este verdadeiro penichense ou
penicheiro, conforme for do agrado do leitor.
O Mariano Calado, o poeta e sobretudo o
historiador é aquele que eu aqui pretendo
evocar. O meu colega de mestrado, que me
honra com a sua amizade, o meu colega de
combates pelo património de Peniche,
sempre ao lado das causas humanas e
culturais do nosso concelho, é dele que
pretendo, sem a arrogância ou o atrevimento
de presumir demasiado acerca da sua
paciência e bonomia, escrever algumas
linhas apenas para sublinhar o quanto o
admiramos, eu e muitos que em Peniche
vivem.
A diversidade da intervenção literária e
científica de Mariano Calado, traduzida em
poema, verso, prosa, discurso científico,
romance,
romance
histórico,
abarca
vertentes
que
tem
como
máximo
denominador comum a sua dedicação a
Peniche e à sua região. Ao longo dos anos em
que tem vivido na região que adoptou como
sua, tem tido uma intensa e elevada
participação humanista, construindo uma
imagem de empenhado e profundo
conhecedor das coisas e das causas em que
se envolve, sempre em nome dos elevados
padrões do amor e da amizade que devota à
nossa terra e à sua população. Se Mariano
Calado não é um penichense, nado e criado,
trata-se apenas de uma contingência, pois
pelo estatuto que alcançou ele é já “nosso”,
isto é pertence a Peniche, faz parte do nosso
património e da nossa história e cultura,
constituindo uma bandeira e um exemplo
para todos os que aqui nasceram.
O que acabo de escrever é uma singela
constatação, de todos conhecida. O Mariano
Calado honra-nos com a sua amizade e
enriquece-nos com o seu conhecimento, o
qual partilha generosamente, em conversas,
em palestras, colóquios e intervenções
públicas, mas também em artigos e livros. A
sua escrita, prodigiosa pela habilidade
comunicacional e pelo ênfase dado ao verbo,
torna-se um verdadeiro edifício de cultura e
de conhecimento, em que o autor abre a sua
alma e nos deixa antever e perceber através
dos seus olhos feitos letra, um mundo, ora
poético ora científico, ora lúdico ora
paladino de causas.
Centrando agora a nossa atenção sobre a
sua obra, poderíamos dizer que dificilmente
podemos distinguir, de entre o que já
publicou, algum livro que mais se destaque.
Toda a sua obra, qualitativamente, se
encontra num limiar bastante elevado, quer
a nível científico quer a nível literário,
tornando injusto destacar este ou aquele
título. De resto, em Mariano Calado a poesia
e a prosa estão repassadas de História e por
outro lado a sua produção historiográfica é
um excelente exemplo de que se pode juntar
a riqueza literária ao discurso científico, com
ganhos significativos para o leitor. Longe vão
os tempos em que a prosa científica tinha
que ser enfadonha e despida de artifício e
beleza literária para ser levada a sério.
O nosso Mariano Calado abre o discurso
historiográfico a um patamar de beleza da
palavra escrita que aligeira a tarefa do leitor,
o qual é conduzido pelos factos, fontes, análises e
interpretações de forma agradável, em que
transparece a vitalidade e o alinhamento do autor,
sem que se perca a História-Ciência.
Sem recorrer ao romance histórico, em que
Mariano Calado também fez a sua incursão em
, trata-se de um autor
que alcança facilmente no seu discurso histórico,
escrito ou falado, um saudável equilíbrio entre a
fluência e seriedade científica e a qualidade e o
entusiasmo emotivo da forma. Naquela obra, o
conhecimento histórico, factual e concreto,
adquirido pelo autor ao longo de anos de pesquisa
permite-lhe criar um ponto de partida, um enredo e
um ambiente credível para um romance histórico
sucedido. Relacionando o que poderia ter sido em
1699, com o que ocorreu em 1976, utilizando a
credibilidade das fontes históricas e preenchendo os
espaços e as necessidades do enredo com uma
prolífica imaginação, servindo um objectvo final,
cívico, construtivo, apelativo e actual: o direito dos
povos a intervir e a fazer o seu futuro e as diferentes
imagens do “mal”, ou os males de ontem e de hoje.
Mas como dizíamos há pouco, se nos parece
qualitativamente injusto destacar um título ou outro,
já da parte da expressão e conhecimento da sua
obra junto do público em geral, a sua marca mais
emblemática é, sem dúvida,
. Publicado na sua 1ª edição em 1962 e
sucessivamente reeditado, é sem dúvida a grande
obra de referência, abarcando a pré-história e
história locais, abordando também temáticas mais
ou
menos
antropológicas/sociológicas
e
patrimoniais, sobretudo nos domínios da lendas e
tradições, fazendo uma abundante referenciação de
fontes e autores que em diferentes momentos
aludiram a esta região.
Obviamente, “Peniche na História e na Lenda”,
tratando-se de uma primeira incursão no domínio
historiográfco, sofreu ao longo dos anos e das suas
sucessivas reedições, um trabalho de afeiçoamento
aos desenvolvimentos que o autor foi ele próprio
sofrendo, quer no seu percurso individual quer no
sentido do aprofundar das temátcas abordadas, até à
sua 4ª edição em 1991.
A Obra e o Autor são naturalmente filhos do seu
tempo, como diria Fernand Braudel, e assim o
mesmo acontece com Peniche na História e na
Lenda, cujo alcance só poderá ser verdadeiramente
apreendido através de outros títulos que Mariano
Calado levou ao prelo e que tratam de temáticas mais
parcelares, menos gerais mas que dão conta de uma
extraordinária
maturação
da
componente
historiográfica, metodológica e epistemológica. É
neste contexto que se integram e deverão entender
as extraordinárias contribuições de: Da ilha de
Peniche, editado em 1994; Peniche no século XVIII ;
As Memórias Paroquiais, de 1996; Visão Cronológica
da História de Peniche, editado em 1999;
Fortificações da Região de Peniche, de 2000; História
das Rendas de Bilros de Peniche, em 2003.
Exploremos esta bibliografia. Da Ilha de Peniche,
aborda uma das mais interessantes características da
nossa região: a sua evolução geomorfológica. Esta
evolução da morfologia da costa condiciona toda a
relação desta população com o mar e o respectivo
interland. Mariano Calado, sustentado por fontes
devidamente trabalhadas do ponto de vista científico,
apresenta aqui uma perspectiva evolutiva da costa de
Peniche e a sua relação com o povoamento
respectivo. Os avanços e recuos do mar, claramente
documentados, apresentam-nos um dinamismo
costeiro que coloca a ilha de Peniche na chamada
“Crónica de Osberno” (séc. XII), dando conta do
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10
Um outro olhar
do progressivo assoreamento da foz do rio
de S. Domingos; a formação da lagoa de
Peniche, com as difíceis travessias do istmo,
inicialmente temporário e progressivamente
cada vez mais estável, até apresentar a
configuração dos nossos dias.
As memórias paroquiais, publicadas em
1996, por Mariano Calado, constituem uma
inequívoca intervenção do autor no domínio
da publicação de fontes históricas. Trata-se
de um trabalho menos interpretativo, mas
onde as notas de fim de página conferem um
sentido orientador e complementar de
informação ao leitor. Mariano Calado
aparece nessa obra com uma abordagem
científica, fascinada pelo discurso em
primeira mão prestado pelos párocos das
diferentes freguesias dos então concelhos de
Atouguia e de Peniche. A pedido do rei, são
remetidos inquéritos à elite letrada do século
XVIII em Portugal para que descrevam os
aspectos mais marcantes de cada freguesia.
As respostas são um repositório fundamental
e esclarecedor do séc. XVIII nesta nossa
região, tocando todas as vertentes da
actividade humana aqui desenvolvida.
A Visão Cronológica da História de
Peniche, constitui um precioso auxiliar para
quem pretenda iniciar o contacto com a
História local, na medida em que
sequencializa
alguns
dos
momentos
marcantes da história da região, de uma
forma sintética e prática. Não fazendo uso de
um aparato bibliográfico ou da indicação de
fontes históricas, ao contrário da obra
anteriormente descrita, serve um público
diferente, menos iniciado nas lides
historiográficas. Deste modo, Mariano
Calado consegue alcançar uma outra
audiência, menos interessada na faceta
científica e mais dada a procurar o “simples”
saber mais acerca da sua terra.
Como Mariano Calado entendeu muito
bem, as populações só valorizam o que
conhecem e se não lhes for dada
oportunidade de conhecer melhor a sua
terra, a sua história e o seu património, como
poderíamos então esperar que os nossos
conterrâneos valorizassem e se revissem
num sentimento de pertença cada vez mais
apertado acerca do seu passado. Não o
passado pelo passado, mas o conhecimento
e valorização do passado como meio de
clarificação e assunção de referenciais que
sejam reconhecidos e compreendidos como
alicerces do futuro e que garantam uma base
sólida e estável para a construção das
gerações futuras.
Assim, o historiador Mariano Calado, não
esgota a sua intervenção historiográfica,
produzindo
ao
serviço
de
elites
ensimesmadas de adoradoras da musa da
História, antes procura colocar a História da
nossa região ao alcance e ao serviço de mais
e mais gente. Não se trata de exaltar
saudosismos
ou
de
exibição
de
conhecimento, trata-se, com Mariano Calado,
de uma partilha generosa e entusiasta de
informação, para claramente se mostrar a
firmeza dos alicerces culturais das gentes
que fizeram o que nós hoje somos,
garantindo a segurança e a esperança na
construção de um futuro sustentado.
Em 2000, Mariano Calado dá ao prelo as
Fortificações da região de Peniche. Trata-se
de um trabalho científico, apurado e
decantado, que teve por base a sua tese de
mestrado em História Regional e Local, a
qual foi reconhecida com a máxima avaliação
pelo respectivo júri na Faculdade de Letras
da Universidade de Lisboa.
A temática gira em torno da temática do
património militar no concelho de Peniche, o
qual
apesar
de
riquíssimo
está
constantemente sob risco de perda, quer pela
acção humana quer pela acção das
intempéries ou pelo simples e palatino
desgaste provocado pelo tempo e pelo mar.
Trata-se de um brilhante e completo périplo
pelas fortificações de Peniche, ao longo do
tempo e das gentes que nelas e com elas
conviveram.
Esta obra recoloca claramente a perspectiva
das fortificações de Peniche naquilo de que
efectivamente se trata. A memória curta,
apesar de ser extremamente importante pode
ser bastante redutora quando analisamos
elementos estruturantes do quotidiano das
populações, com longevidade multissecular.
Efectivamente, hoje, a fortaleza de Peniche
é confundida com a prisão que durante
décadas serviu o Estado Novo. Mariano
Calado não pretende nem efectua o
branqueamento desse período, nem dessa
utlização, mas pretende mais que abordar o
século XX, dar voz aos restantes séculos de
história das fortfcações do concelho, pelo que
de positvo fizeram pelos povos desta região (e
mesmo do país): defesa das populações contra
corsários, piratas, invasores (franceses, Ingleses) e
guerras civis.
As fortificações de Peniche, na óptica de Mariano
Calado, não são só sentinelas nas muralhas e
soldados nas casernas. As fortificações são-nos
apresentadas como um elemento de ligação e
interacção com as populações locais, nem sempre
uma sombra positiva ou negativa, mas sempre um
elemento fundamental na evolução dos dinamismos
da região.
Finalmente, com a História das Rendas de Bilros
de Peniche, Mariano Calado surge-nos também
como um historiador do quotidiano. Desde sempre
associado ao associativismo em prol do património
local, desde o seu início, Mariano Calado associou
o seu nome à defesa e promoção desse elemento tão
fortemente identitário como são as rendas de bilros
na nossa região. A beleza e o potencial que este
património representa, mereceram–lhe uma
especial atenção e resultou na obra com mais
cuidadosa apresentação gráfica e de maior
plasticidade. É nas suas páginas que encontramos a
beleza da História associada à beleza da escrita e à
beleza das rendas de bilros.
A História das Rendas de Bilros de Peniche,
editada em 2003, será sem qualquer dúvida a obra
de referência para esta temática historiográfica e
constitui um importantíssimo contributo para a
preservação deste património. Outro aspecto
interessante nesta obra, foi o recurso a um tipo de
fontes históricas cujo uso é muito menos frequente
do que as fontes escritas, estou a referir-me aos
testemunhos orais. Note-se que este tipo de fonte
exige outro tipo de intervenção em termos de crítica
histórica, mas resulta normalmente num manancial
informativo que ao ser reduzido a escrito alcança
uma perenidade que a história recente raramente
usufrui.
Joeirar fontes da actualidade revelam-se um
escolho por vezes demasiado difícil de remover
para um historiador incauto. Não foi o caso de
Mariano Calado, o qual conseguiu seleccionar a
informação necessária, suficiente e correcta para
ultrapassar o anedotário da história com letra
pequena e alcançar um verdadeiro ex- libris em
defesa do património da sua região.
Em matéria historiográfica este foi o mais recente
contributo de Mariano Calado, embora este meu
amigo sempre consiga surpreender-nos com novas
ideias, novos projectos e novas publicações. Assim,
aguardo com expectativa o título da próxima.
A escrever desde 1955, Mariano Calado concedeu
à poesia uma grande parte da sua alma, felizmente
que sobrou bastante para os restantes géneros e
forma literárias e culturais. O seu primeiro livro, de
poesia, Mar de Sempre, foi publicado em 1955.
Depois de O Abismo e as Estrelas (1957) e de Fogo
de Santelmo, em 1995 publicou Raízes de Maresia,
onde se respiram, em permanente entusiasmo pela
aventura e pela beleza e numa surpreendente
simbiose, os cheiros a mar e a campina. Em 2005,
, publicou novos
sob o título
poemas.
Em 2009, surge o mais recente livro de poesia de
Mariano Calado,
, com o mar e a
História sempre no horizonte poético, Mariano
apresenta-se-nos num percurso feito de muitos
passos e carregado de afectividade .
BATALHA, Ana, (2011) Percurso Biográfico. Paideia, Revista de
Cultura e Ciência, 2, 37-42
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11
Elisabete Jacinto
viagens
pela
leitura...
12
Sala de Leitura da Biblioteca
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16 fev
A visita de
Elisabete Jacinto
EsCrItOrEs
Inês Santos
5D - N11
No dia 14 de fevereiro, Elisabete Jacinto, a escritora de “Os
Portugas No Dakar” e “Irina no master rali”, veio visitar-nos na
biblioteca da escola EB23 de Atouguia da Baleia.
Mas, além de escritora, ela é também piloto de ralis… de camiões…
Que emoção!! Quando nos disseram, ficámos entusiasmados. Será
que poderíamos dar uma voltinha no seu camião? Talvez ela nos
levasse ao Paris-Dakar!
A escritora começou por mostrar umas fotografias e explicar como
eram os ralis quando faziam o Paris-Dakar. Mostrou-nos qual era o
percurso do rali, referiu que o acampamento era muito grande e que
usavam sacos de lixo preto nas pernas para os proteger do frio
(nunca tinha pensado nisso, mas qualquer dia vou experimentar!).
Explicou-nos também o que acontecia quando tinham um acidente –
primeiro, os pilotos tinham de acionar uma antena ou carregar num
botão para a organização saber onde estavam. Mas, quando se
magoavam gravemente, podiam não conseguir fazer isto e então
começaram a usar um sinal de GPS. Assim, sabem sempre onde
estão e o sinal dá um alerta quando há um acidente. Muito melhor!!
De seguida a escritora tirou algumas dúvidas aos alunos e, para
encerrar a seção, deu a todos os alunos, que quiseram, um postal
autografado com a fotografia do seu camião. Quem quis também
pôde comprar um dos seus livros.
Foi uma tarde e peras!!!!
13
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Património
Local
Visita de Estudo do 3.º
ano
30 de Janeiro
Prof.Helena Martinho
PAA
14
Foram visitadas as Igrejas de S. Leonardo e de Nossa
Senhora da Conceição, assim como a fonte gótica, que
não passou despercebida aos olhares atentos dos
alunos.
Foi uma visita interessante e enriquecedora em
conteúdo. Desta forma os alunos fizeram desenhos a
carvão com base nestes monumentos e também
recorrendo ao site atouguiavirtual .
(Visita de estudo realizada no dia trinta de Janeiro de 2012 à localidade de Atouguia
da Baleia.)
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14 jan
Histórias com
Livros
LeItUrAs
Fevereiro
Eduarda Rocha
7D N11
15
15 | newsletter | http://atb23.net
16 fev
Prémios
Guilherme de
Corni
16 de Fevereiro
Mariana Silva Gomes
N.º 13 - 6.º B
A sessão teve início por volta das 20:30h, com um momento de
poesia, interpretado por professores e alunos, no qual eu também
declamei um poema, chamava-se
e fui a terceira aluna a
declamar.
A cerimónia começou com um poema que foi declamado por
alguns professores e acompanhado a Oboé, tocado pela prof.
Linda, uma das professoras de música da escola.
A cerimónia decorreu no refeitório da escola, mas não o parecia,
mais parecia um auditório.
Em primeiro lugar procedeu-se a entrega dos diplomas de Mérito
por ordem crescente (de 5ºs para 9ºs anos) e de seguida a entrega
dos prémios.
No intervalo entre a entrega de diplomas e prémios de Mérito de
cada ano escolar, existia sempre um momento de poesia.
Os poemas interpretados nesta noite foram da autoria de Mariano
Calado, escritor que escreveu muito sobre esta zona e o convidado
homenageado nesta noite.
No final da cerimónia houve uma pequena atuação da tuna da
escola, e de seguida foi apresentado o novo nome para biblioteca
da E.B 2,3 de Atouguia da Baleia:
- “Biblioteca Mariano Calado”.
16
8.ª sessão da entrega dos prémios Guilherme de Corni
Eu gostei muito da cerimónia, acho que foi muito bonita e uma merecida
homenagem a um grande escritor como é Mariano Calado.
Acho que todos os meus colegas e professores estiveram muito bem nos
poemas que declamaram.
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Agrupamento de
escolas de atouguia
da baleia
Identidade e
Desenvolvimento
AGENDA
Dia da Música em Maio
Um espaço de informação e formação 2012
17
mai
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…eu sou uma pessoa que só escreveu alguns versos, não entendo