à o b s e r v a ç ã o . A s s i m , se t i v é s s e m o s u m a
estrela c o n t e n d o , s u p o n h a m o s , cálcio na s u a
atmosfera e a u m e n t á s s e m o s a t e m p e r a t u r a ,
após u m certo t e m p o as linhas d o cálcio
c o m e ç a r i a m a d e s a p a r e c e r e s e r i a m substituídas pelas d o cálcio ionizado, de tal m o d o
que duas estrelas contendo a m e s m a quantid a d e d e cálcio m o s t r a r i a m estas linhas c o m
a c e n t u a ç ã o c o m p l e t a m e n t e diferentes depend e n d o d a t e m p e r a t u r a da e s t r e l a .
A d e p e n d ê n c i a d e acentuação d a s linhas
n u m e l e m e n t o particular n a sua a b u n d â n c i a
e n a t e m p e r a t u r a p o d e r á s e r ilustrada pela
analogia d u m a caldeira c o n t e n d o a l g u m a
água.
S e a caldeira está fria, p o r m a i s
água q u e contenha, a p r e s s ã o d o vapor será
nula, m a s enquanto n ã o s o u b e r m o s a t e m p e r a t u r a da caldeira s e r e m o s incapazes de
distinguir este caso d a q u e l e n o qual a cald e i r a está m u i t o q u e n t e m a s n ã o contém
á g u a . E m s e m e l h a n t e caso, n a t u r a l m e n t e ,
p o d e m o s olhar para d e n t r o d a caldeira ou
m e d i r a s u a t e m p e r a t u r a , m a s n o caso d a s
estrelas n ã o é possível u m a solução t ã o
simples.
P o d e m o s , c o n t u d o , avaliar a t e m p e r a t u r a
da estrela de duas m a n e i r a s . O u p o d e m o s
e x a m i n a r a côr da estrela, isto é, p o d e m o s
e s t u d a r as características da luz q u e se
espalha entre a s linhas, o u , calculando a
t e m p e r a t u r a na qual as linhas dum e l e m e n t o
d e v e r i a m s e r a s m a i s vigorosas, podemos
avaliar a s t e m p e r a t u r a s d a q u e l a s estrelas
nas quais estas linhas a p a r e c e m m a i s vigor o s a s . A interpretação d o s resultados é de
n a t u r e z a técnica, e as t e m p e r a t u r a s avaliad a s n ã o s ã o de m o d o algum c e r t a s . U m a
d a s r a z õ e s disto é que m u i t a s d a s estrelas
d ã o m a i s r a d i a ç õ e s na região inobservável
ultra-violeta. P o d e m o s , todavia, dizer c o m
certeza q u e u m a estrela como a V e g a , na
qual as linhas de hidrogénio s ã o muito acent u a d a s , deve t e r u m a t e m p e r a t u r a de pelo
m e n o s 10.000 c. e q u e a t e m p e r a t u r a da
superfície d o S o l deve s e r a p r o x i m a d a o
o
m e n t e d e 6.000 c.
A g o r a q u e s a b e m o s a t e m p e r a t u r a da
nossa caldeira, p o d e m o s avaliar a quantid a d e d e água q u e ela c o n t é m . O s resultados d e s t e s cálculos são algo i m p r e s s i o n a n tes. P a r e c e q u e o elemento simples m a i s
i m p o r t a n t e d a s atmosferas d a s estrelas é o
h i d r o g é n i o . A avaliação m a i s alta é a d o
P r o f e s s o r H. N . Russel, q u e descobriu q u e
havia 1.000 á t o m o s d e hidrogénio p o r cada
á t o m o de m e t a l , e q u e o s átomos d e m e t a l
f o r m a v a m u m a m i s t u r a definida c h a m a d a a
mistura R u s s e l , consistindo p r i n c i p a l m e n t e
em m a g n é s i o , sílica, ferro e sódio. S e g u n d o
o dito professor, h á u m simples «cheiro d o s
metais» n u m a aliás p u r a atmosfera de hidrogénio. O p r e s e n t e ponto d e vista p a r e c e
ser o d e q u e isto é u m cálculo e x a g e r a d o
sobre a abundância d e hidrogénio, m a s q u e
o h i d r o g é n i o é ainda o e l e m e n t o simples
mais i m p o r t a n t e d a s atmosferas e s t e l a r e s .
E s t e r e s u l t a d o é e v i d e n t e m e n t e de importância vital p a r a a c o m p r e e n s ã o da estrut u r a d a s e s t r e l a s , e , felizmente, p o d e s e r
verificado p o r u m acesso diferente ao problema.
S e c o n s i d e r a r m o s q u a l q u e r pedacito d e
m a t é r i a d e n t r o d u m a estrela, n ó s s a b e m o s
que êle está sendo r e p u x a d o p a r a o centro
da estrela pela força d a g r a v i d a d e , e p o d e m o s avaliar esta força pela m a n e i r a c o m o o
m a t e r i a l da estrela está d i s t r i b u í d o . A fim
de evitar o colapso d a estrela, d e v e h a v e r
u m a força p a r a c o n t r a b a l a n ç a r isto. E s t a
força de equilíbrio é p r o d u z i d a e m parte
pela p r e s s ã o d o g á s de q u e a estrela é composta e e m p a r t e pela p r e s s ã o da r a d i a ç ã o
que é d i m a n a d a atravez d a estrela e q u e
e v e n t u a l m e n t e sairá p a r a o espaço como
luz e s t e l a r . A ideia de q u e a luz pode
exercer p r e s s ã o é u m a ideia singular, e n â o
é p a r a s u r p r e e n d e r q u e isso seja u m a noção
extranha à nossa experiência vulgar, desde
que esta p r e s s ã o só se torna apreciável a
u m a t e m p e r a t u r a muito e l e v a d a . Seria p r e ciso u m a t e m p e r a t u r a d e 70.000 c. p a r a
produzir u m a p r e s s ã o de 1 libra p o r polegada q u a d r a d a , m a s , desde q u e n a s p a r t e s
m a i s quentes d u m a estrela a t e m p e r a t u r a
pode alcançar 40 milhões de g r a u s , é fácil
vêr q u e este factor é da m a i o r importância.
A g o r a afim de u s a r esta p r e s s ã o d e
r a d i a ç ã o o m a t e r i a l da estrela deve s e r
capaz d e a b s o r v e r a r a d i a ç ã o . S e o m e i o
da estrela fosse c o m p l e t a m e n t e t r a n s p a rente a r a d i a ç ã o espalhar-se-ia a t r a v é s dele
como o vento a t r a v é s d u m a r e d e d e fios e
não produziria efeito a l g u m .
o
N e s t a r a d i a ç ã o o m a t e r i a l estelar d o
vento comporta-se c o m o u m a vela a c e s a ;
a r a d i a ç ã o q u e se escoa é a q u e v e m o s ,
e no processo d e e s c o a m e n t o e l a conserva
a estrela dilatada ao seu t a m a n h o p r ó p r i o .
E s t e e s c o a m e n t o ou «opacidade» p o d e s e r
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Síntese AII, N6, 1940_19