CONEXÃO ENTRE OS CRISTAIS LÍQUIDOS NEMÁTICOS E A GEOMETRIA DIFERENCIAL Fernando Cesar Correia de Araujo (PIBIC/CNPq-UEL), Manuel Simões Filho (Orientador), e-mail: [email protected]. Universidade Estadual de Londrina/Centro de Ciências Exatas/Londrina, PR. Grande área: Ciências Exatas e da Terra / Área: Física / Sub-área: Física da Matéria Condensada. Palavras-chave: Cristais líquidos nemáticos, Geometria Diferencial. Resumo: É proposta, neste artigo, uma extensão do modelo de Hess-Baalss [Baalss, D.; Hess, S. Phys. Rev. Lett. 1986, 57, 86] para cristais líquidos nemáticos, o qual tem por base teórica a Transformação Afim, consistindo na alteração da simetria da superfície equipotencial de uma molécula hipoteticamente esférica para uma superfície equipotencial de simetria elipsoidal, que representa uma molécula nemática. Nosso trabalho demonstra - com base nos estudos de Simões [Simões, M.; Campos, A. de; Barbato, D. Phys. Rev. E. 2007, 75, 061710.] - que esse conceito pode ser desenvolvido utilizando os fundamentos da geometria diferencial. Esta metodologia permite construir uma métrica que descreve a transformação da simetria do potencial de esférica para a simetria elipsoidal e vice-versa. Introdução Em 1935, Miesowicz [1] mostrou que, na presença de campos externos, alguns cristais líquidos nemáticos poderiam apresentar viscosidades que dependiam da direção relativa entre o campo externo e o plano de cisalhamento. Hoje em dia, sabemos que esse fenômeno tem origem na forma anisotrópica dos domínios nemáticos: quando a direção do campo externo é mudada, a orientação coletiva média das moléculas também muda, estabelecendo condições físicas diferentes para o transporte de momento entre os planos de cisalhamento adjacentes [2]. Nas últimas três décadas um modelo adquiriu relevância notável na descrição da viscosidade molecular de um cristal líquido nemático: o modelo de Conexão Afim de Hess [3,4]. Cuja viscosidade dos compostos nemáticos é calculada usando argumentos geométricos. Essa transformação consiste na alteração da simetria da superfície equipotencial de uma molécula hipoteticamente esférica para uma superfície equipotencial de simetria elipsoidal, que representa uma molécula nemática. Quando é imposto o caráter local para essa transformação, a forma determinante para a configuração do diretor do meio nemático adquire uma curvatura intrínseca Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. em que tratamento correto requer a substituição das técnicas e métodos do cálculo usual por aquele da geometria diferencial de superfícies não planas. Essa metodologia permitiu construir uma métrica que descreve a transformação da simetria do potencial de esférica para a simetria elipsoidal e vice-versa. Seguindo essas idéias, demonstraremos a conexão entre os cristais líquidos nemáticos e a geometria diferencial. Revisão de literatura Parâmetro de ordem. A fase cristal líquido caracteriza-se basicamente pela forma e alinhamento das moléculas anisotrópicas [2], em um dado intervalo de temperatura. Como essas moléculas anisotrópicas, formadoras dos cristais líquidos, são parecidas com bastões rígidos, a forma apresentada por esta fase pode ser descrita por um fator, dado pela razão entre o comprimento e a espessura dessas moléculas. A direção do alinhamento médio do eixo maior das moléculas é representada por um vetor unitário nˆ ( r ) , chamado de diretor, sendo que em cada ponto, existe uma direção preferencial de alinhamento. O grau de alinhamento é quantificado através de um parâmetro de ordem da fase cristal líquido. A escolha mais conveniente para o parâmetro de ordem escalar de um cristal líquido é dada pela medida da orientação média das moléculas, utilizando uma função distribuição simetricamente cilíndrica em relação ao eixo definido pelo diretor n̂ que depende apenas do ângulo θ médio entre o eixo maior da molécula e o diretor como mostrado na figura 1. Figura 1 – Ordem molecular em um cristal líquido nemático. Adaptado de [6]. A medida do grau de alinhamento das moléculas é um parâmetro fundamental na caracterização e descrição das fases. Ele expressa o quanto a configuração das moléculas na fase menos simétrica difere daquela mais simétrica. Em geral, um parâmetro de ordem , descrevendo uma transição de fase, deve satisfazer os seguintes requisitos: =0 (fase isotrópica) na fase mais simétrica, menos ordenada, e ≠0 (fase nemática) na fase menos simétrica, mais ordenada. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. Modelo de Hess e Baalss. Hess e Baalss [4] formularam um modelo para descrever a anisotropia dos coeficientes de viscosidade dos cristais líquidos nemáticos. Neste modelo, supõe-se que o fluido é constituído de partículas perfeitamente ordenadas, suas superfícies equipotenciais têm a forma de elipsóides de revolução, os coeficientes de viscosidade são obtidos em função da forma da molécula e da viscosidade de um líquido isotrópico hipotético. Os resultados são obtidos a partir de uma Transformação Afim que deforma os potenciais esféricos dessas moléculas para que eles assumam a forma elipsoidal dos potenciais de interação dos aglomerados moleculares dos cristais líquidos. Neste modelo, um cristal líquido nemático na presença de um campo orientacional forte é encarado como o um fluido anisotrópico composto de moléculas não esféricas com uma orientação fixa. Em termos matemáticos essa hipótese é descrita considerando que o potencial de interação elipsoidal Φ E entre as moléculas nemáticas pode ser transformado em um potencial de interação esférico Φ S , uma vez que o vetor r conectando duas partículas é submetido a uma conexão afim apropriada. Ou seja, Φ E (rS ) = Φ S (rE ) (1) Os índices E e S indicam uma simetria elipsoidal e esférica respectivamente. Isto é, o potencial não esférico, Φ E , pode ser substituído pelo potencial esférico, Φ S , se a distância entre dois pontos é dada por uma métrica na qual dois pontos sobre uma superfície equipotencial não esférica permanecem eqüidistantes do centro do potencial. . Resultados e Discussão Como conseqüência, existe uma Transformação Afim entre a física de líquidos formados com moléculas esféricas com a física de líquidos com moléculas elipsoidais, e vice-versa. Desta forma, considera-se que a superfície equipotencial de uma molécula idealizada de um líquido isotrópico é dada pela superfície S , cuja coordenada relativa ao ponto central comum é dada por s i , e a distância ds , do ponto central comum obedece a relação ds 2 = δ ij ds i ds j (2) Enquanto que a distância entre dois pontos na superfície elipsoidal e dada por, Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. ds E2 = δ ij dx i dx j (3) Para obter a lei de transformação dada na equação (1), os pontos situados ao longo da superfície equipotencial de simetria elipsoidal devem permanecer eqüidistantes do centro do potencial. Deste modo, para o potencial de simetria elipsoidal existe um potencial de simetria esférica associado satisfazendo a regra ds 2 = ds E2 (4) i Deformando continuamente cada componente s da superfície S , de forma que a nova equipotencial será descrita pela superfície elipsoidal E , cujas coordenadas são dadas por x i e considerando também que a relação entre os sistemas coordenados é descritas através de uma transformação i local dxds j , as componentes infinitesimais destas superfícies são conectadas pelas relações, j i ds i = dxds j dx j , dsd i = dxds i dxd j , (5) que obedece a regra, ds i dx m = δ ij (6) dx m ds j Portanto, das equações (4) e (5), pode-se obter a condição de que a distância efetiva entre os pontos, em um sistema esférico e no sistema deformado, permaneça a mesma, resultando na expressão abaixo, i j ds 2 = δ ij ds i ds j = δ ij dxdsk dsdxl dx k dx l = g kl dx k dx l (7) na qual ds l ds m g ij = δ lm dx (8) i dx j Assim, a passagem do potencial elipsoidal um para o esférico, ou vice-versa, pode ser realizada através de uma mudança de métrica g ij em cada ponto da amostra em que o fenômeno está a ser estudado. Conclusões A passagem da fase isotrópica para a anisotrópica pode ser compreendida com o surgimento de uma nova métrica, que, em conseqüência, deve ser dependente da temperatura. Além disto, quando a fase nemática apresenta uma textura, o campo diretor depende da posição e a métrica não descreve um espaço plano, ela apresenta uma curvatura que descreve a elasticidade dos materiais nemáticos muito bem, conforme [5]. Agradecimentos O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq – Brasil. Referências [1] Miesowicz, M., Nature (london). 1935, 136, 261. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR. [2] Chandrasekhar, S. Liquid Crystals. Cambridge: Great Britain, 1994. [3] Baalss, D.; Hess, S. Phys. Rev. Lett. 1986, 57, 86. [4] Baalss, D.; Hess, S. Z. Naturforsch. 1988, A 43, 662. [5] Simões, M.; Campos, A. de; Barbato, D. Phys. Rev. E. 2007, 75, 061710. [6] Alves, F. S. Geometria dos Cristais Líquidos Nemáticos sobre Cisalhamento e Conexão entre os Coeficientes de Leslie. Tese de Doutorado. Universidade Estadual de Londrina, 2008. Anais do XIX EAIC – 28 a 30 de outubro de 2010, UNICENTRO, Guarapuava –PR.