celia ribeiro [email protected] Segunda: Etiqueta Terça: Viagem 7 SEGUNDA-FEIRA, 3 DE NOVEMBRO DE 2014 Quarta: Casa&Cia Quinta: Games Sexta: Gastronomia Uma vida que ensina a concretizar sonhos E la é linda e cativante. Dona de um sorriso franco que elimina a natural reserva de um primeiro encontro, Alexandra Loras, consulesa da França em São Paulo, me recebe num apartamento de cobertura nos altos da Bela Vista, em Porto Alegre, de vestido estampado bem acima do joelho e delicados brincos com o pendente de uma borboleta de ouro branco. Sua presença na Capital foi motivada pela palestra que fez para os ex-camelôs saídos das ruas do centro da cidade para desenvolverem seu comércio autônomo no Pop Center (também conhecido como Camelódromo), dirigido por Elaine Debone, sua anfitriã. Filha de mãe pertencente a uma rica e tradicional família de industriais franceses, Alexandra é a única negra entre os cinco irmãos, frutos dos quatro casamentos da mãe. Seu pai era um africano, da República de Gâmbia, que acabou se tornando morador de rua em Paris devido à dependência das drogas e do álcool. Ele morreu quatro anos depois da última vez que Alexandra falou com ele, quando ela tinha apenas 11 anos de idade. Alexandra sempre viveu com a mãe somente entre brancos, inclusive no colégio parisiense de freiras onde estudou – e onde veio a sofrer com as primeiras manifestações de preconceito racial dirigidas a si. Já adulta, decidiu sair em busca de suas origens e passou um mês na aldeia onde o pai nasceu. Na África, foi hóspede da própria avó, que sempre desejara conhecer a neta francesa e veio a falecer logo depois do encontro. Segundo uma das tias disse a Alexandra na ocasião: “Ela só estava esperando para conhecer você”. A extraordinária história de 37 anos de vida fez de Alexandra Loras um ser humano que busca conhecer a si mesmo e parte sem medo rumo a mudanças radicais, vivendo sonhos que por muitas vezes podem parecer impossíveis de serem realizados. Em vez de reclamar por não haver negros na televisão francesa, por exemplo, ela deu o primeiro passo para tornar-se uma ao acompanhar uma amiga a programa de TV a cabo na França. Convidaram-na para cantar – e ela se arriscou. Logo depois, perguntaram se Fotos divulgação Sábado: estilo Etiqueta na prática Envie sua pergunta para a Celia: [email protected] Cuidadoras à mesa sem ligar para o preconceito gostaria de participar de uma entrevista com a Miss França. As interferências e críticas feitas por ela ao esquema imposto pela organização do concurso impressionaram o produtor, que perguntou se a desembaraçada Alexandra não gostaria de apresentar um programa semanal sobre crítica literária na TV. Não seria remunerada, mas mesmo assim aceitou a proposta. OAutodidata, marido ao perceber a chance de ser apresentadora de jornal televisivo voltou a estudar e foi fazer mestrado em Ciência Política, em Paris. Sempre absorvendo leituras e ensinamentos, em nossa conversa Alexandra fez uma análise psicológica e social dos pais e dos irmãos, envolvendo sua família materna. Mas ela não faz psicanálise, nem gosta de Freud: diz que a pessoa que lhe mostrou seu caminho na vida, no período em que viveu nos Estados Unidos, foi um coach – o mesmo que orientava Madonna e George Bush. O encontro com Damien Loras, 44 anos, foi num canal de televisão em Paris, quando Alexandra ancorava um programa político. Ela o define como um aristocrata, amigo e consultor do ex-presidente Nicolas Sarkozy, por quem Alexandra nutre admiração, mesmo sendo ele de uma ideologia de direita. Damien e Alexandra tem um filho de dois anos, Rafael, afilhado da irmã de Carla Bruni. Preconceito Ainda há muito preconceito racial no Brasil – e ela própria já o tem experimentado. Um dia, em São Paulo, ao chegar a um clube acompanhando o filho, loiro como o pai, uma recepcionista perguntou-lhe se era a babá do menino (mesmo Alexandra vestindo um Emilio Pucci). E ela observa que só agora está vendo muitos atores negros nas telenovelas brasileiras, ainda que a maioria represente personagens de posições inferiores na vida ou mulheres bonitas que são amantes, e não esposas. Arte de receber Alexandra Loras preside o grupo de 88 consulesas que residem em São Paulo. Melhor deixá-la contar na primeira pessoa sua experiência de savoir faire, como os franceses definem a etiqueta num sentido global: – A residência consular no Jardim Europa, projetada por Sergio Rodrigues, tem dois mil metros quadrados. Ali recebemos frequentemente autoridades francesas e brasileiras, além de muitos amigos. A chegada de um convidado deve ser uma experiência única, pois não é um aperto de mãos em apenas três segundos que vai deixálo à vontade. Não posso dar atenção aos convidados todo o tempo, por isso olho nos olhos ao chegarem para perceberem meu prazer em recebê-los (e ela fez o mesmo quando cheguei à casa em que estava hospedada). Cedo comecei a me preparar para exercer a arte de receber, começando pelos livros da baronesa Nadine de Rothschild, que possui uma academia em Genebra onde dá aulas de boas maneiras. Aos 17 anos, fui estudar na Alemanha e trabalhei como babá na mansão de uma condessa, com quem aprendi coisas que até hoje sigo fazendo na minha casa. Uma delas é não misturar nos arranjos mais de duas cores de flor, de preferência o verde com o branco; outra é considerar a chama das velas estímulo para uma festa ter alma. O que sempre dou aos garçons que vão servir na minha casa é o briefing da festa, recomendando que trabalhem sorridentes e expliquem aos convidados o alimento que estão oferecendo. Se nos cardápios dos meus jantares incluo algumas receitas africanas? Não tenho porquê fazê-lo, pois nossa residência é francesa. “Somos um casal de octogenários e, de vez em quando, necessitamos de cuidadoras em casa para aplicar injeções e fazer algum curativo. Gostaria de saber se convido a profissional para sentar-se conosco à mesa de refeições.” BRAZILIA – Depende do contrato feito com a cuidadora, pois muitas levam seus próprios lanches e se alimentam em lugar reservado. Se não houver empregada, ela atende os clientes à mesa e come depois, Bombons de presente “Sempre que minha mãe ganha bombons, coloca a caixa aberta na mesa de centro e, ao final, acaba sem presente. É de praxe dividir inclusive uma garrafa de bebida que se ganhou?” MARCELA – Se os bombons representarem um final adequado, são servidos na hora. Em geral, porém, guarda-se o pacote como presente. Usase também oferecer bebida aos anfitriões, gelada e sem pacote. Pode ser colocada no refrigerador ou harmonizada com os vinhos da reunião. Madrinhas de preto “Meu casamento será em março, às 18h. As madrinhas vão todas de preto, com buquê de flores multicoloridas, e os padrinhos de terno preto e camisa branca de manga curta. Eles devem usar gravata preta?” MARIA JOSÉ – Como será verão, os vestidos deverão ser decotados, para não ficar muito pesado. Há uma regra que atravessa estações: madrinhas não usam preto. Quanto aos padrinhos, ficaria bem uma camiseta de seda clássica, estilo Armani, gola redonda ou reta (barco). Estou curiosa para saber como estará vestido o casal de noivos.