Bruce Coville; John Clapp The Prince of Butterflies Orlando, Voyager Books, 2002 (Tradução e adaptação) pegar num dos bichinhos, retraiu-se com medo de que o bando assustar. Embora sentisse um formigueiro nas mãos, mortas por John nunca vira nada mais belo. Ficou em silêncio para não as peitoril do patamar, as cadeiras de encosto, o carro e parte do pátio. sempre a mudar. Pequenos cachos de borboletas decoravam o cor-de-laranja abriam e fechavam, e o padrão do tapete estava cobriam a parede lateral, como se fossem um tapete vivo. As asinhas Quando John saiu nessa manhã, viu que as borboletas casa. Farrington, uma migração de borboletas-monarca pousou na sua Dois dias após o décimo primeiro aniversário de John O PRÍNCIPE DAS BORBOLETAS suas asas pretas e laranja… e voou dali para sempre. Com o coração cheio de alegria, John Farrington esticou as mau bocado. Não conseguia coleccionar borboletas e colocá-las em caixas com alfinetes espetados. Preferia estudá-las no seu habitat natural. Ficava doente só de ver colecções de borboletas. Acabou por ter de abandonar os estudos e continuar a trabalhar por conta estar quieto. Só que agora estava determinado a abrir uma excepção. O seu auto-controlo foi então recompensado por uma borboleta que veio pousar na ponta da sua sapatilha. Abriu e fechou as asas uma vez e, depois, começou a subir pela perna do rapaz. borboletas-monarca possam efectuar a sua migração anual em paz. A maioria dos investigadores considera que foi John Farrington que uma borboleta? No entanto, o rapaz sentia que algo de estranho estava para acontecer. Algo de pouco natural… um roçar de asas na sua face. As vozes pediam ajuda. Faziam-no Milhares de vozes sussurravam na sua mente, tão delicadas como Foi então que as borboletas começaram a falar com ele. consagra a preservação de uma série de espaços verdes para que as tentou dominar o medo. Afinal, o que haveria de mais inofensivo do -americano a aprovar a lei do “Trilho das Borboletas”, uma lei que veio mesmo pousar-lhe na mão. John engoliu em seco, nervoso, e minúsculas caíram sobre os seus olhos, braços e pernas. borboletas rodeou-o. Milhares de asas roçaram a sua face e escamas Alguns minutos depois dela se ter ido embora, uma nuvem de de casa, deixando-o a gozar o calor e o silêncio daquele espaço. John acenou afirmativamente e a enfermeira foi para dentro -lhes as pernas com um cobertor, antes de o deixar. ─ Acha que fica bem aqui? ─ perguntou-lhe, aconchegando- enfermeira que tomava conta dele levou-o até um lugar ensolarado. Um dia, quando John já era velho, e deixou de poder andar, a quem salvou estas borboletas da extinção. Trinta anos mais tarde, John persuadiu o Congresso norte- aterraram no seu ombro esquerdo. Uma, particularmente ousada, própria. professores o tenham achado um aluno brilhante, John passou um Era um rapaz impulsivo por natureza, e preferia correr e gritar a Entretanto, outras borboletas vieram na sua direcção e especializou em estudos sobre borboletas. Mas, embora os No ano seguinte, entrou para a faculdade, onde se porque chorava na cama à noite. Toda esta tranquilidade não se coadunava muito com John. Finalmente, sentou-se na relva, o mais devagar que conseguiu. levantasse voo. Mal se atrevendo a respirar, foi-se afastando da casa. acabrunhadas pela tristeza. Uma voz ergueu-se e ressoou clara: “Ajuda-nos!” a razão, este foi o período mais doloroso da sua vida. Mas nunca conseguiu explicar à mãe porque se sentia tão desesperado, ou iremos agora?” anos, o bando deixou de aparecer. O coração de John doía de tantas borboletas e trazia consigo os pensamentos de muitas outras, conhecíamos nesta etapa do nosso percurso até casa. Para onde e conduziu-as a um lugar seguro. No ano em que fez dezassete esquecido? Ou será que algo pior tinha acontecido? Fosse qual fosse coração. “O que havemos de fazer? Este era o último santuário que vezes mais. E, das duas vezes, o rapaz transformou-se em borboleta A pergunta foi feita, simultaneamente, por milhares de apresentava agora e o desespero das borboletas inundou-lhe o borboletas, que não tardavam a vir. Pediram-lhe ajuda por duas perguntas. Será que ficara velho demais? Será que o tinham mente do rapaz reproduziu, sem querer, a imagem que o prado construtora tinha começado a transformá-lo em centro comercial. A de bom grado, uma semana no chão por um dia com asas. A partir dessa altura, todas as Primaveras John esperava pelas brincara com frequência. No último Setembro, porém, uma e estava de facto em apuros. Mas não se importou: trocaria sempre, um espaço tão grande… Para onde terá ido?” lagarta, John perdeu as asas e voltou a ser um rapaz, encandeado John percebeu que se referiam ao prado, um lugar onde comer e descansar. Só que agora não conseguimos encontrá-lo. Era como antes. Como uma borboleta que se transforma de novo em pela luz do sol. Tinha os pés cheios de bolhas quando chegou a casa, Existe um lugar verde aqui perto, onde costumamos parar para mente. “Perdemo-nos no caminho”, sussurraram as borboletas. de que sentiriam a sua falta. E de que ele sentiria a falta deles. Então, as borboletas juntaram-se todas e tudo voltou a ser ele, a imagem de um prado, verde e tranquilo, tomava forma na sua para sempre. Mas lembrou-se de que os pais estariam em cuidados e “Que caminho?”, pensou John. “O caminho que conduz a casa. criaturas frágeis, delicadas e… assustadas. Enquanto se dirigiam a céu, conduzi-lo para longe dali, e desejou permanecer borboleta “Não posso ficar”, disse com tristeza. “Tenho de ir para casa.” borboletas nas suas pernas, nos seus braços, nos seus ombros. Eram John sentiu o sol nas asas, asas que poderiam erguê-lo até ao Fechando os olhos, pensou: Como? Porquê? minha mãe vai ficar furiosa comigo, porque não lhe disse onde ia.” Mais borboletas aterraram no seu corpo imóvel: havia a espinha de John, que teve sérios problemas em ficar quieto. que estava em apuros. “Será que me podem enviar de volta? A “Fica connosco”, sussurraram as borboletas. “Fica connosco.” sem palavras mas de forma clara. Uma sensação de pânico percorreu apreciando o sol a bater nas suas asas. Por volta do meio-dia, sentiu por milhares de seres cintilantes e coloridos, aos quais agora se outro local verde aqui perto?” caules verdes e esguios, desenrolando a língua em busca de néctar, O rapaz passou a manhã toda com elas, rastejando ao longo de cálido. braços e pernas. Então, abrindo as asas inesperadas que pendiam dos seus ombros, John levantou voo. sentimento de alívio que John se sentiu bafejado por um vento asas, e derramaram as suas escamas minúsculas nos seus olhos, descansando numa sebe, ora repousando numa árvore. “Só falta até lá.” “Como?” perguntou John. o prado, as borboletas repousaram na sua verdura bravia com um tal guiou as borboletas por sobre as casas. Voaram a manhã toda, ora na sua mente, as borboletas pediram, excitadas e aliviadas: “Leva-nos ou imagens, ou sentimentos. Cercaram o rapaz, roçando nele as forma a ver o rumo que deviam seguir. Mal o encontrou, logo bulldozers não tinham destruído. Mal a imagem do local se formou mais um bocadinho”, prometeu-lhes. Quando, por fim, alcançaram Abanando as suas asas delicadas, John ergueu-se no ar de Nesse mesmo local, existia ainda um oásis de verdura que os A resposta das borboletas não surgiu sob a forma de palavras, “Conduz-nos ao prado”, pediu o bando. nunca antes experimentara. Tinha ido de bicicleta até um local distante e tinha-se perdido. ido vender revistas para angariar fundos para o recreio da escola. assemelhava, o rapaz sentia-se acompanhado de uma forma que pelo ar ameno. Flutuando ao sabor de brisas suaves e acompanhado debatia entre o medo e o deslumbramento. “Será que existe um O rapaz lembrou-se que, num dia do início desse mês, tinha O seu coração quase rebentou de felicidade por poder deslizar “Mas, o que posso eu fazer?” pensou John, cuja alma se