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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA
PE
LA
A DANÇA DO VENTRE E O CORPO NA IDADE DA LUZ:
OT
EG
ID
O
“QUANDO A BORBOLETA SE SENTE MARIPOSA”
Orientador
Profa. Me. Fátima Alves
DO
CU
M
EN
TO
PR
Por: Tânia Bravo Leite Pereira
RIO DE JANEIRO
2013
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓSGRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO
MESTRE
A DANÇA DO VENTRE E O CORPO NA IDADE DA LUZ:
“QUANDO A BORBOLETA SE SENTE MARIPOSA”
ORIENTADOR
Profa. Me. Fátima Alves
Apresentação
de
monografia
à
AVM
Faculdade integrada como requisito parcial
para obtenção do grau de especialista em
Psicomotricidade.
Por Tânia Bravo Leite Pereira
AGRADECIMENTOS
À
Queridíssima professora e orientadora Fátima
Alves por sua linda energia e carinho com seus
alunos.
A todos os professores do curso que transmitiram
seus preciosos conhecimentos.
À professora Samra Sanches, da Escola de
Dança Kelimaski, pela excelente formação e
informação no curso de Instrutora de Dança do
Ventre.
À minha linda e paciente amiga e professora de
Dança do Ventre Charazad.
Aos colegas de curso de Psicomotricidade pela
troca de experiências.
As colegas fonoaudiólogas do TTC, Laurinda
Valle e Monica Campello pela formatação do título
da monografia.
DEDICATÓRIA
(In Memorian)
À
Memória de minha mãe Nilza
Que primeiro me inspirou o desejo de saber
dançar
Ao
Meu querido marido João Baptista
e
Minha filha amada Natália
RESUMO
Quando se fala em envelhecimento, terceira idade, geralmente as pessoas
relacionam essa fase de vida com doença, fragilidade, dependência, solidão
e morte. Mas como cada vez mais é maior a expectativa de vida
principalmente
entre
as
mulheres,
é
extremamente
importante
a
conscientização em relação a esse assunto, que deve ser tratado de
maneira séria. Esse trabalho tenta explicar todo o processo fisiológico,
psicológico e emocional do envelhecimento para tentar mudar esse
paradigma que temos sobre velhice e morte em nossa cultura, e saber se
preparar e como se portar na terceira idade de maneira positiva encarando
essa fase da vida com respeito e dedicação. Como o limite é o conceito
relacional da psicomotricidade, através da atenção e do conhecimento com o
corpo, este trabalho tem como objetivo dar consciência dos movimentos
corporais integrados a psique e as emoções femininas. Baseada numa visão
ampla da dança do ventre, não só como uma modalidade artística, mas
como um caminho para o autoconhecimento. Bastante falada, mas não
muito bem conhecida ou compreendida, a dança do ventre representa mais
um daqueles rituais ou práticas orientais que vem ganhando cada vez mais
espaço no ocidente. Como obra que pretende facilitar a vida de mulheres na
terceira idade interessadas na dança do ventre, este projeto faz
considerações sobre a importância da postura para essa arte e fornece
explicações detalhadas sobre os benefícios que sua prática faz para o corpo
e a mente feminina.
Palavras-Chave: Dança do Ventre, Envelhecimento, Consciência Corporal,
Feminilidade, Orientalismo, Atividade Física.
METODOLOGIA
Esta monografia caracteriza-se como uma pesquisa descritiva do tipo
bibliográfica, pois realiza uma revisão de literatura sobre a modalidade da
Dança do Ventre e os benefícios que essa atividade pode trazer para a
saúde física, mental e emocional das mulheres com mais de 65 anos e
revisa todo o processo de envelhecimento do corpo feminino, com todo o
seu complexo psicomotor.
A busca compreendeu artigos publicados entre os anos de 1990 e
2013, mas em relação às informações sobre ciências médicas sobre idosos,
foram
abordados
trabalhos
e
pesquisas
mais
atualizadas.
Foram
pesquisadas publicações nos idiomas em português e espanhol.
A análise e organização de dados foram realizadas da seguinte forma:
- Análise textual com a preparação de textos através de leitura rápida e
atenta da unidade adquirido assim uma visão geral do texto;
- Análise temática com a compreensão do texto determinando o problema e
estruturando a seqüência lógica de idéia;
- Análise interpretativa: interpretação do texto associando as idéias do autor
relatadas na unidade com outras idéias relacionadas ao mesmo tema;
- Problematização com discussão do texto através do levantamento das
questões explícitas e implícitas na obra;
- Síntese Pessoal com a elaboração da mensagem mediante um raciocínio
personalizado das questões interpretadas e de experiência própria no
exercício da dança.
Foram pesquisadas publicações temáticas sobre dança, terapia,
religião, história, psicanálise, psicologia, filosofia, anatomia, fisiologia
humana, música, ciências médicas e naturais, nutrição, gerontologia, postura
humana, exercícios físicos.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I
11
A DIFERENÇA ENTRE MARIPOSAS E BORBOLETAS
11
CAPÍTULO II
32
O HÁBITO DA SAÚDE: SÓ PARA MULHERES
32
CAPÍTULO III
66
O ESPÍRITO DA DANÇA DO VENTRE: CIÊNCIA E ARTE
66
CONCLUSÃO
120
BIBLIOGRAFIA
125
ANEXOS
132
ÍNDICE
138
8
INTRODUÇÃO
Presente no Brasil como opção de entretenimento para não árabes
desde os anos 70 do século XX, a Dança do Ventre começou a se difundir
de modo mais concreto no início dos anos 90. Sua popularidade alcançou o
ápice nos anos 2000, com o sucesso da novela “O Clone” da Rede Globo,
principalmente no imaginário das mulheres cariocas da cidade do Rio de
Janeiro.
Essa dança milenar e desconhecida em sua estrutura histórica, de
tema vastíssimo e tão pouco explorado no Brasil, acabou se popularizando
entre mulheres de todas as idades. E mesmo não existindo ensaios
científicos que comprovem os benefícios da dança, muitos médicos e
terapeutas, recomendam como tratamento o exercício da Dança do Ventre,
para suas pacientes. Existem poucas publicações sobre o assunto e o tema
ainda provoca grandes discussões entre profissionais da área de medicina e
terapeutas corporais, quanto aos seus benefícios ou não; justamente por ser
a Dança do Ventre uma atividade que trabalha muitos grupos musculares e
partes do corpo separadamente. Em qualquer atividade física, deve-se evitar
a realização de movimentos estereotipados e inadequados a nossa estrutura
corporal e ritmo pessoal, movimentos que desgastam ou prejudiquem.
Para falar da dança como terapia, deve-se em primeiro lugar
esclarecer o conceito de terapia. Terapia é prazer e é penar também. É se
trabalhar, se conhecer, desde os lados mais obscuros, aos mais reluzentes.
A Dança do Ventre é uma dança que exige da mulher, em primeiro lugar que
a mesma aceite seu corpo, pois ela terá de expô-lo para poder estudar essa
arte. O trabalho primordial da Dança do Ventre é fazer com que a mulher se
aceite, goste dela mesma, para poder iniciar seu aprendizado. Com o passar
do tempo, irão experimentar sensações, descobrir movimentos, tensões,
dores, bloqueios, enfim, inicia-se um processo de consciência corporal. A
mulher, principalmente aquela que passou pela menopausa e está
vivenciando a terceira idade, redescobre o prazer da sedução, da
9
feminilidade e sente o prazer que há em movimentar seu corpo, em sua
imagem e comover-se com ela. Além do trabalho físico, a Dança do Ventre é
uma atividade lúdica, educativa, sociabilizante e artística. Em cada
movimento, pode-se experimentar um despertar daquela região corporal,
que traz consigo um relaxamento pela mobilidade e uma sensação
prazerosa de realizar algo jamais visto. A todo o instante ensina o conceito
do eixo; do centro. Longe de ser uma atividade milagrosa, seus benefícios
são alcançados com muita dedicação e persistência, sendo um trabalho
ilimitado no que diz respeito às metas.
Com a evolução da Indústria Bioquímica estamos caminhando a
passos largos na realização do velho sonho da humanidade: a Juventude
Permanente. Estima-se que a população de mais de 60 anos esteja se
multiplicando entre os anos de 1990 e de 2025, e a maioria será de
mulheres. Isso exige uma atenção especial, como serão essas expectativas
onde vai haver um largo contingente de senhoras idosas no futuro. Em que
momento de nossas vidas é hora de nos sintonizar? Não se deve contar a
idade, mas a vontade de se conhecer e se empenhar para ser uma pessoa
feliz e ativa.
A monografia está estruturada em três capítulos: A Diferença entre
Mariposas e as Borboletas, O Hábito da Saúde: Só para Mulheres e o
Espírito da Dança do Ventre: Ciência e Arte.
O primeiro capítulo abrange um estudo sobre os mitos e símbolos
femininos, o resgate da feminilidade e da sexualidade, baseados em
pesquisas bibliográficas nas áreas da psicanálise, psicologia, filosofia e
religião e de ciências naturais.
O segundo capítulo descreve todo o processo de envelhecimento do
corpo feminino, suas doenças, os tabus da velhice e a educação para um
envelhecimento saudável, baseado em pesquisas bibliográficas em livros de
ciências médicas, psicologia e filosofia.
O terceiro capítulo demonstra a importância da cultura oriental, a
história e a evolução da dança do ventre, seus benefícios, técnicas,
principais bailarinas, os movimentos básicos da dança e suas danças
folclóricas e suas influências na reeducação corporal das mulheres com
10
mais de 65 anos de idade. Pesquisa bibliográfica em livros de história sobre
dança, orientalismo e psicomotricidade.
11
CAPÍTULO I
A DIFERENÇA ENTRE MARIPOSAS E BORBOLETAS
“Cultive um jardim no seu coração! Porque as borboletas, não
sobrevivem em deserto”.
Arne Saknussem (Alquimista Medieval)
1.1
O Segredo da Crisálida
Do latim: chrysaliis e do grego chrysallís, plural crisálidas, é o estágio
de pupa de insetos da ordem lepidóptera. O termo é derivado da coloração
metálico dourado encontrado nas pupas de muitas borboletas, do grego
Chrysós que significa ouro.
O estágio da crisálida é o estágio de repouso, dentro dela ocorre o
processo de crescimento e diferenciação sexual, ou seja, a metamorfose dos
insetos lepidópteros (do grego lépido= escama e ptero= asa). Tanto as
borboletas quanto mariposas são insetos que pertencem à ordem dos
lepidópteros (asas escamosas), o nome deriva das escamas que caem das
asas em forma de pó quando tocadas. Ambas têm muito em comum, se
alimentam do néctar das flores e suplementam sua dieta com outros
líquidos, como água parada de pesado teor mineral, e suco de frutas
apodrecidas. A ordem Lepidóptera é a segunda em diversidade no planeta,
atrás apenas da ordem Coleóptera, dos besouros. O total das espécies
descritas chega perto de 146 mil, das quais 22 mil são borboletas. Se
incluídas as estimativas de espécies de lepidópteros ainda para serem
descritas, o total sobe para 255 mil. A Indonésia é o país com maior
diversidade de borboletas e o Brasil está em quarto lugar, com cinco mil
espécies conhecidas. Pelo menos 55 dessas espécies estão ameaçadas de
12
extinção, segundo a lista oficial, publicada em 2003 pelo Instituto Brasileiro
de Meio ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA).
Por suas origens borboletas e mariposas evoluíram ao longo dos
últimos 300 milhões de anos, atravessando eras glaciais e interglaciais,
enfrentando frio e calor, excesso e falta d’água. Seus primeiros vôos
coincidem, no tempo, com o desenvolvimento dos vegetais fanerógamos, as
plantas que produzem flores.
As diferenças entre mariposas e borboletas se enquadram em duas
categorias: comportamento e anatomia. A maioria das borboletas é ativa
durante o dia, enquanto a maior parte das mariposas prefere a noite.
Borboletas e mariposas também tendem a manter as asas em posições
diferentes quando em repouso. É comum ver mariposas com as asas
dobradas sobre as costas ou abertas para os lados e as borboletas
normalmente mantém as asas unidas em posição vertical, perpendicular às
suas costas. Borboletas e mariposas também pupam, ou se tornam adultas,
de maneira distinta. Ambas passam por metamorfose em uma crisálida, ou
casca protetora. As mariposas, porém tecem uma rede de seda em torno da
crisálida, e ocasionalmente a camuflam com folhas ou restos. Outra
diferença interessante é em relação à velocidade do vôo, as borboletas
podem voar até 20 km/h, enquanto mariposas podem voar até 40 km/h.
Anatomicamente o corpo das mariposas muitas vezes é mais robusto
e peludo que os das borboletas. As antenas das borboletas são mais largas
nas pontas, se assemelhando a pequenos bastões, de aparência lisa, tendo
extremidades arredondadas. As antenas das mariposas podem ser finas
como das borboletas, mas sem os bastões, mas na maioria das vezes são
curtas, grossas e peludas. Muita gente pensa que as mariposas só
apresentam cores opacas e até usam isso para identificá-las. A Actias
Artemis é uma mariposa asiática, aparentada à mariposa luna, variedade
comum. Mas é tão colorida que se tornou conhecida como a borboleta da
noite. As asas das borboletas apresentam cores mais vividas, no Brasil 57
espécies de borboletas estão ameaçadas de extinção por serem utilizadas
em artesanatos e por causa da degradação do meio ambiente. As borboletas
são importantes polinizadoras e alimentam-se de líquidos variados (néctar
13
que extraem das flores ou suco dos frutos maduros que caem das árvores).
Ao contrário das mariposas, que quando jovens lagartas ingerem uma
quantidade enorme de folhas para terem reserva de energia para a fase
adulta, pois muitas espécies não se alimentam na fase adulta. Por isso, as
mariposas são às vezes consideradas pragas de plantações durante sua
fase jovem. Muitas vezes, também são consideradas bruxas, na sua fase
adulta, devido a sua aparência grotesca. No folclore popular, as mariposas,
principalmente as de cor negra, trazem sempre presságios funestos, e são
consideradas mensageiras da morte.
A palavra mariposa deriva de Mari e posa imperativo de posar. A alma
era freqüentemente representada por uma mariposa. Em Portugal e
Espanha, o termo mariposa é mais comumente utilizado como sinônimo para
as borboletas. As mariposas de colorações mais vibrantes habitam regiões
tropicais, e muitas delas podem ser venenosas, normalmente essas
espécies se alimentam de folhas tóxicas e absorvem um pouco de veneno, e
assim escapam de seus predadores naturais, os pássaros. Algumas lagartas
de mariposas fazem buracos no chão, onde ficam até se tornarem
mariposas adultas.
Atraídas pela luz costumam voar em círculos freneticamente em volta
de
luzes,
principalmente
de
luzes
artificiais;
à
razão
para
esse
comportamento ainda é desconhecido, mas uma hipótese é de que as
mariposas se utilizam de uma técnica de navegação chamada de orientação
transversal. Ao manter uma relação angular constante a uma fonte de luz,
como a Lua, por exemplo, elas conseguem manter um vôo em linha reta.
Objetos no espaço são tão distantes que mesmo depois de ter voado
grandes distâncias, a mudança de ângulo entre a mariposa e a fonte de luz é
desprezível. Quando mariposa encontra uma fonte de luz muito mais
próxima, como a luz dentro de uma casa, e a usa para navegação, o ângulo
muda drasticamente depois de pouco tempo de vôo e assim a mariposa
tenta instintivamente corrigir esse ângulo se virando contra a luz, resultando
assim num vôo com um ângulo espiral cada vez mais perto dela, o que
explica o motivo delas voarem em círculos em volta da fonte de luz artificiais
e constantemente se baterem contra ela. Muitas mariposas usam uma
14
espécie de laços conhecidos como retinaculum e uma franja chamada
frenulum para conectar suas asas frontais e traseiras. Já as borboletas não
apresentam essas estruturas.
Borboleta vem de belbelita, termo derivado de belo. Panapaná e
Panapanã da língua tupi Panapaná. A borboleta pode ter o peso mínimo de
0,3 gramas e as mais pesadas podem chegar a pesar três gramas; alguns
tipos de borboletas podem chegar a medir até 32 centímetros de asa a asa.
A
maior borboleta do
mundo,
a
borboleta-asa-de-pássaro-rainha-
alexandra (Ornithoptera alexandrae) pode ter cerca de 31 centímetros de
envergadura e pesar 12 gramas. As borboletas têm dois pares de asas
membranosas cobertas de escamas e peças bucais adaptadas à sucção.
Distinguem-se das traças pelas antenas retilíneas que terminam numa forma
arredondada, pelos hábitos de vida diurnos, pela metamorfose que decorre
dentro de uma crisálida rígida e pelo abdômen fino e alongado. Quando
estão em repouso, as borboletas dobram as asas para cima. As borboletas
são o grupo mais popular dos insetos. Admiradas desde sempre pela sua
beleza e elegância, elas foram colecionadas durante séculos, tendo sido
alguns colecionadores os primeiros a dedicarem-se ao seu estudo científico.
Existem em todas as partes do mundo, com exceção das regiões glaciais.
O corpo da borboleta é constituído por três partes: cabeça, tórax e
abdome. O corpo externo é coberto por pelos sensores, e as asas contém
películas que liberam hormônios voláteis durante o acasalamento. A cabeça
da borboleta é dotada de um par de antenas ou sensores longos, sensíveis
ao tato e a odores. Um par de olhos compostos e oblíquos permite ampla
visão angular. As borboletas detectam movimento, mas não vêm detalhes.
Cada olho composto constitui-se de milhares de pequenos ocelos, cada um
deles dotado de uma pequena lente conectada ao nervo óptico. Outro
componente da cabeça é a probóscide, ou língua, usada para sugar líquidos.
Sua estrutura assemelha-se a dois canudos unidos entre si. O tórax é uma
caixa muscular com três segmentos, dos quais saem os três pares de
pernas. Contêm também os músculos de vôo que estão ligados à base das
asas; o segundo e o terceiro par de asas estão respectivamente ligados ao
segundo e ao terceiro segmentos do tórax. No abdome estão os sistemas
15
digestores e o sistema excretor. Os órgãos sexuais ou genitália são
encontrados no abdome. As características internas da genitália são úteis na
identificação das diferentes espécies de borboletas.
O estágio da pupa distingue as borboletas dos outros insetos, os
quais, nos ciclos iniciais, parecem apenas adultos em miniatura. Os ovos
apresentam diferentes formatos e tamanhos de acordo com a espécie, e às
vezes contêm indícios úteis para identificação. A fêmea bota 200 – 500 ovos
na parte inferior das folhas, individualmente ou em grupos, os quais ficam
grudados à superfície de maneira a não cair e são protegidos por películas
derivadas do abdome da fêmea. No primeiro estágio, a lagarta sai do ovo e,
conforme vai crescendo, passa por um processo de muda da pele. A pele
externa é trocada cinco vezes e, a cada troca, a lagarta cresce mais e se
alimenta até ter mais ou menos 3 – 6 semanas, quando do fica pronta para
se transformar em pupa. Em geral, as borboletas não tecem o casulo de
seda para proteger a pupa, mas todas as lagartas possuem glândulas de
seda, que são usadas para tecer uma base firme na qual a pupa se fixará,
ou uma guirlanda de seda em torno da pupa para segurá-la a um ramo. A
pupa de muitas borboletas fica presa a um galho, sob a luz solar direta,
protegida apenas pela camuflagem por meio de cor, formato ou
padronagem. Após 10 dias, ou na primavera para as espécies nas quais a
pupa hiberna, surge o adulto. Algumas horas antes de emergir, a cor da
pupa se altera. Nessa fase, as duas linhas frágeis ao longo da cabeça e das
pernas se rompem e o inseto se esgueira por elas. Antes de poder voar, a
borboleta permanece muito vulnerável e indefesa até que suas asas
sequem, processo que demora cerca de uma hora.
Algumas das borboletas mais comuns encontradas no mundo inteiro
são migrantes regulares. Elas podem ser vistas nas mais diferentes regiões
climáticas como, por exemplo, nas regiões tropicais, subtropicais e
temperadas, às vezes em grandes quantidades. Nos climas temperados em
que há estações distintas, a razão da migração das borboletas é clara.
Quando o hemisfério norte se aquece na primavera devido à crescente
elevação do sol, os pássaros se mudam para se alimentar de insetos e
borboletas. Nos trópicos, região na qual não existe diferença marcante de
16
estações, as borboletas demonstram outra razão para migrar para locais
distantes da área na qual cresceram na forma de lagartas. Se todas as
borboletas permanecessem no local que emergiram, haveria muita
competição e as lagartas morreriam de fome. O oposto da migrante é a
espécie residente que permanece na área em que se desenvolveu na forma
de lagarta. Normalmente tem pequena capacidade de dispersão e pode
permanecer o resto da vida no mesmo território em que emergiu como
adulta. A maior parte das borboletas é residente. Existem variações entre os
tipos: migrante e residente. Tecnicamente, migração é o movimento de ida e
vinda de um local para outro. Na realidade, as borboletas nunca agem dessa
forma, embora haja exemplos de pequenos retornos migratórios. Vagante é
outro termo usado para descrever uma borboleta que se desloca por longas
distâncias, porém sem retornar ao lugar de origem, obrigatoriamente
(ENCICLOPÉDIA VIDA NA TERRA: INSETOS E ARACNÍDEOS, p. 20 e 34
– 35).
1.2
O Simbolismo da Borboleta
O antigo sábio chinês Confúcio afirmou que: “os signos e símbolos
governam o mundo, não as palavras e as leis”.
Desde o início dos tempos, o conceito do simbolismo apareceu em
todas as culturas humanas, estruturas sociais e sistemas religiosos,
contribuindo para a visão do mundo e proporcionando informações sobre o
cosmo e o nosso lugar nele.
Os símbolos tendem a acumular seus significados lentamente, ao
longo de centenas de anos. Como palavras, suas conotações proliferam em
muitos ramos, dividindo-se, seguindo uma variedade de rotas distintas de
acordo com o contexto cultural. Entretanto, alguns símbolos, ou tipos de
símbolos, são tão universalmente poderosos tão próximos à verdadeira
essência da vida, que seus significados tendem a permanecer constantes ou
variar dentro de um espectro muito mais estreito.
Há geralmente uma conexão entre o poder dos símbolos e sua
antiguidade. Para as sociedades primitivas, os requisitos mais básicos da
17
vida: calor, comida, abrigo e sexo, tomam grandes proporções. Junto com
isso, os instintos de sobrevivência e de reprodução, estavam o instinto de
achar significados, de entender mais os sentidos das necessidades das
quais a vida dependia. Conforme as civilizações se desenvolveram, as
primeiras preocupações retiveram sua força, e mesmo hoje os símbolos
ligados a elas ressoam com significância. A força e o significado de alguns
símbolos mais antigos do mundo ainda estão disponíveis para nós
atualmente. Como se estivessem se comunicando com um centro escondido
em nosso interior, esses símbolos, podem ser encontrados na arte e nos
artefatos remanescentes das primeiras civilizações do mundo e falam
claramente das preocupações físicas, sociais e espirituais de nossos
ancestrais,
além
de
representar
as
idéias
que
permanecem
fundamentalmente importantes para a humanidade moderna.
As borboletas povoam os versos de poetas e a imaginação das
pessoas. Inspira o sentimento mais nobre do ser humano: a liberdade. No
ano de 2013, as estampas de borboleta estão no hit entre as tendências da
moda. O efeito borboleta da moda que começou a chegar ao final de 2012 e
início de 2013 vai de unhas decoradas a roupas e acessórios. Durante a alta
do verão a imagem das borboletas expressa alegria, liberdade e harmonia;
significa metamorfose e transformação.
De imediato consideramos a borboleta como um símbolo de ligeireza
e de inconstância. Borboletear está nos dicionários: Verbo intransitivo, ato de
adejar como as borboletas – devanear, fantasiar, vagar, vaguear, divagar.
Sem as borboletas na natureza, não existiria o equilíbrio ecológico
necessário. Símbolo da alma e da ressurreição no Congo, no México e na
Polinésia. Também um símbolo de vida e de seu ciclo; na arte ocidental às
vezes Cristo é retratado segurando uma borboleta.
Devido ao seu ciclo de vida metamórfico, a borboleta é um símbolo
típico de transformação, renascimento místico e alma transcendente. Alguns
aborígines australianos consideram as borboletas como espíritos dos mortos
que retornaram. A graça e a beleza da criatura a tornam um emblema da
mulher no Japão, onde duas borboletas dançando juntas simbolizam a
felicidade marital e, na China, ela está associada aos prazeres da vida e aos
18
espíritos superiores. Alguém que muda de uma coisa para outra e nunca
está satisfeita pode ser descrito como uma borboleta. Ligeireza sutil: as
borboletas são espíritos viajantes; sua presença anuncia uma visita ou a
morte de uma pessoa próxima.
Outro aspecto do simbolismo da borboleta se fundamenta nas suas
metamorfoses: a crisálida é o ovo que contém a potencialidade do ser; a
borboleta que sai dele é um símbolo de ressurreição. É ainda, se preferir, a
saída do túmulo. Um simbolismo dessa ordem é utilizado na Psique, que é
representada com asas de borboleta. E também no de Yuan-K’o, o imortal
jardineiro, a quem a bela esposa ensina o segredo dos bichos-da-seda, e
que talvez ela própria seja um bicho-da-seda.
Pode parecer paradoxal que a borboleta sirva, no mundo sinovietnamita, para exprimir um voto de longevidade: essa assimilação resulta
de uma homofonia, dois caracteres com a mesma pronúncia (t’ie)
significando, respectivamente, borboleta e idade avançada, setuagenário.
Por outro lado, a borboleta é às vezes associada ao crisântemo para
simbolizar o outono.
No conto irlandês do ciclo mitológico, Tochmarc Etaine ou Corte de
Etain, a deusa, esposa do deus Mider e símbolo de soberania, é
transformada em uma poça de água pela primeira esposa do deus, que é
ciumenta. Mas dessa poça nasce, pouco tempo depois, uma lagarta, que se
transforma em uma magnífica borboleta, a qual o texto irlandês algumas
vezes chama de mosca; mas o simbolismo é eminentemente favorável.
Na América Latina, a palavra em espanhol para borboleta é mariposa
pode se referir a uma prostituta, que vai de um homem para outro. Entre os
astecas, a borboleta é um símbolo da alma, ou do sopro vital, que escapa da
boca do agonizante. Os astecas associavam a borboleta às mulheres que
tinham morrido no parto. Uma borboleta brincando entre flores representa a
alma de um guerreiro caído nos campos de batalha. Os guerreiros mortos
acompanham o sol na primeira metade de seu curso visível, até o meio-dia;
em seguida eles descem de volta a terra sob a forma de colibris ou de
borboletas. Todas essas interpretações decorrem provavelmente da
associação analógica da borboleta e da chama, de fato de suas cores e
19
bater de suas asas. Assim, o deus do fogo entre os astecas leva como
emblema um peitoral chamado borboleta de obsidiana. A obsidiana, como o
sílex, é uma pedra de fogo; sabe-se que ela forma igualmente a lâmina das
facas de sacrifício. O sol, na Casa das Águias ou Templo dos Guerreiros,
era figurado por uma imagem de borboleta. Símbolo do fogo solar e diurno, e
por essa razão da alma de guerreiros, a borboleta é também para os
mexicanos um símbolo do sol negro, atravessando os mundos subterrâneos
durante o seu curso noturno. É assim símbolo do fogo ctoniano oculto, ligado
à noção de sacrifício, de morte e de ressurreição. É então a borboleta de
obsidiana, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Na glíptica
asteca, ela tornou-se um substituto da mão, como um signo do número
cinco, número do Centro do Mundo.
Um apólogo dos balubas e dos luluas do Kasai (Zaire Central) ilustra
ao mesmo tempo a analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à
imagem. O homem, dizem eles, segue da vida à morte, o ciclo da borboleta:
ele é, na sua infância, uma pequena lagarta, uma grande lagarta na sua
maturidade; ele se transforma em crisálida na sua velhice; seu túmulo é o
casulo de onde sai sua alma que voa sob forma de borboleta; a postura de
ovos dessa borboleta é a expressão de sua reencarnação. Do mesmo modo,
a psicanálise moderna vê na borboleta um símbolo do renascimento. A
relação do indivíduo com seu próprio desenvolvimento podem ser
comparados à metáfora da lagarta e da borboleta. Pode-se escolher ser
lagarta a vida toda e não passar pela transformação de lagarta para
borboleta. A borboleta possui quatro fases de seu desenvolvimento e
carregam consigo a ousadia de voar e pousar em vários jardins. O corpo é
leve e mesmo assim ela consegue pousar na flor aberta e onde suga o
néctar adocicado e na fase adulta elas preferem os lugares abertos com
flores, bosques, prados, jardins e florestas pouco densas, sem muito frio e
sem muito calor, o ambiente perfeito para sua sobrevivência.
As borboletas são os seres mais elegantes da natureza e
cientificamente os mais fantásticos; é fonte de fascinação. Representam a
transformação, a imortalidade e a beleza emergindo da morte aparente (o
casulo aparentemente sem vida).
20
Uma crença popular da Antiguidade Greco-romana dava igualmente à
alma que deixa o corpo dos mortos a forma de uma borboleta. Nos afrescos
de Pompéia, Psique é representada como uma menininha alada, semelhante
a uma borboleta. Essa crença é encontrada entre certas populações turcas
da Ásia central que sofreram uma influência iraniana e para as quais os
defuntos podem aparecer na forma de uma mariposa.
Ainda que os Padres da Igreja Católica acentuem fortemente a
simbologia da ressurreição da borboleta, a primitiva arte cristã não a
reproduziu. Em afrescos das catacumbas e sarcófagos encontra-se, em seu
lugar, a retomada do antigo mito, narrado por Lúcio Apuleio (escritor e
filósofo, do Asno de Ouro, séc. II D.c), do Amor e da Psique no pensamento
e na arte cristãos como símbolo da relação entre Cristo e a alma. O mosaico
da criação (Séc.XIII) no átrio da entrada de S. Marcos, Veneza, vale-se
igualmente da antiga representação da Psique de asas de borboleta para
tornar plástica a dotação de Adão com alma vivente. Nos sécs. XVII e XVIII,
a imagem da borboleta, no antigo sentido da alma imortal, voltou a ser usada
na Alemanha protestante em inúmeras lousas sepulcrais (HEINZ-MOHR,
1994).
1.3
A Borboleta e a Psique
A mitologia grega representa psyché na forma de uma borboleta. Ela
é a esposa de Eros, o Deus do Amor (traduzido como cupido pelos
romanos).
A borboleta que sai do casulo é símbolo da alma imortal (psyche) que
deixa o corpo do morto. Por isso em obras de arte a psyche aparece em
geral com asas de borboleta. Também o deus do sono, Hypnos, foi pintado
com asas de borboleta, uma vez que se considerava o sono como libertação
periódica da alma dos laços terrenos. O termo “psicologia” vem da
associação de duas palavras gregas, psyché e logos e começa sendo
definida como o estudo do espírito (mente). Embora, hoje em dia, não seja
21
essa a concepção que a maioria dos psicólogos tem dela. O termo “espírito”,
inevitavelmente na concepção da psicologia tem o sentido “da mente”.
A história da Psique, na mitologia grego-latina, era de uma jovem
princesa, meiga e ingênua, de rara beleza, comparável a Vênus (Deusa da
beleza e do Amor). Vênus descontente por ter uma rival de sua beleza,
entregou Psique às traquinices do seu filho Eros (Deus do Amor, Cupido),
encantador menino alado, de cabelos encaracolados, risonho e travesso,
fornido de setas implantando amor tirano nos corações de outros. Eros logo
que viu Psique, ficou apaixonado e a desposou. Psique representa a alma
humana, que não pode amar sem sofrer de seus amores, e assim foi que
Eros, que faz todos sofrer, sofreu por sua vez. Psique não sabia que seu
amante era o Deus do Amor. Este vinha visitá-la somente à noite. O nascer
do dia trazia a jovem o desgosto de haver perdido aquele que seu coração
amava; o consolo da noite era precário, pois jamais ela vira seu misterioso
esposo. As duas irmãs de Psique, invejosas, persuadiram-na a ter preparada
uma lâmpada e aproveitar do sono do marido para ver quem era. Assim fez.
Reconhece o Deus no esplendor da sua eterna juventude; quando quis dar
um beijo, caiu sobre ele uma gota do azeite ardente. Eros desperta e, vendose surpreendido, desaparece para jamais retornar. Psique, desconsolada,
chora sem cessar. Vai até Vênus e esta que não esquecera seus
ressentimentos, escraviza Psique, obrigando-a a viver no meio da tristeza e
da inquietação e cumprir várias missões. O Deus Júpiter intercede na
situação de Psique. Assim, o casal Eros e Psique conseguem sua união.
Dessa união nasce uma filha, chamada de Volúpia (SPALDING, 1965).
1.4 Os Arquétipos e o Retorno da Deusa
As histórias e os mitos revelam o nível de desenvolvimento de uma
sociedade. Na Antiguidade, a primeira via de expressão dos arquétipos foi
às histórias narradas oralmente e depois registradas na forma de mitos. As
imagens arquetípicas espelhadas nessas histórias revelam as qualidades
especiais que as pessoas precisavam ter para florescer na cultura delas. Os
arquétipos podem refletir os mais profundos aspectos da natureza emocional
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de uma pessoa; é, basicamente, um retrato bidimensional de atitudes
pessoais. Eles simbolizam ritos de passagem em direção à plenitude e à
integração. Cada indivíduo tem a possibilidade de realizar todos os
arquétipos em sua personalidade, sejam eles dominantes ou passivos.
De acordo com o psicólogo e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung
(1875-1961), símbolos são gerados a partir do inconsciente como expressão
de algum profundo poder interior do qual estamos a par, mas não
conseguimos expressar com palavras. Certos tipos de simbolismo
constituem uma linguagem universal, porque as imagens e seus significados
ocorrem de formas similares, por meio das culturas e dos séculos. Os
símbolos que constituirão essa linguagem são a expressão natural das
forças psicológicas interiores.
As teorias modernas sobre os significados e uso dos símbolos são
derivadas em grande parte do trabalho pioneiro de Jung. Ao analisar sonhos
de vários pacientes, normais, neuróticos e psicóticos, Jung notou a
recorrência de certas imagens profundamente simbólicas, como por
exemplo, a mandala. Ele também se impressionou com a similaridade entre
as imagens que emergiam durante as sessões de análise e os símbolos
presentes nas religiões orientais e ocidentais, nos mitos, nas lendas e nos
rituais, particularmente aqueles ligados a movimentos esotéricos como a
Alquimia. Jung concluiu não apenas que alguns símbolos são de
significância universal, mas também que o simbolismo tem um papel
importante nos processos psíquicos que influenciam cada aspecto do
pensamento e do empreendimento humano. Enterrado ainda mais
profundamente na psique humana, na visão Junguiana, está o “inconsciente
coletivo”, o lugar daqueles padrões instintivos de pensamento e de
comportamento moldados através dos milênios da experiência humana sob
a forma do que nós agora reconhecemos como emoções e valores. Essas
imagens primordiais não podem ser trazidas para a consciência: elas devem
somente ser examinadas sob a forma simbólica personalizadas como
homens e mulheres, ou como imagens projetadas por nossas mentes sobre
o mundo externo. Jung denominou esses símbolos como “arquétipos” e os
considerou a herança comum da humanidade.
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De acordo com Jung, um indivíduo é psicologicamente “saudável”
quando o consciente e o inconsciente estão em equilibro dinâmico. Ele
considerava que a energia psíquica (a “força vital”) fluía da inconsciência
para a consciência a fim de satisfazer as demandas desta última, e na
direção oposta para satisfazer a inconsciência. Qualquer interrupção nessa
progressão ou regressão é uma falha em reconciliar as forças opostas que
compõem a psique humana, e conduz ao conflito interno. Assim como a
divisão entre consciente e inconsciente, essas forças consistem de outros
“opostos”, tais como intuição e racionalidade, emoção e pensamento,
instintos e espiritualidade, e os vários aspectos duplos da personalidade
como extroversão e introversão, autoridade e simpatia, negação e
conformidade. A crença de Jung de que os símbolos arquétipos podem ser
usados para explorar os limites entre o consciente e o inconsciente teve uma
influência importante sobre as técnicas clínicas. Foi principalmente por
causa de suas idéias sobre simbolismo que Jung foi forçado a romper com
seu amigo e mentor Sigmund Freud. Este atribuiu grande importância ao uso
dos símbolos para a compreensão da mente humana, mas os considerou
como representações da sexualidade reprimida ou de outro conteúdo mental
definidor.
A partir dos estudos clínicos e pesquisas sobre mitos e tradição, Jung
identificou as principais influências arquetípicas sobre o pensamento e os
comportamentos humanos.
Anima é o arquétipo feminino, a imagem
coletiva e universal da mulher gravada no inconsciente masculino. O caráter
da anima masculina é moldado pela mãe. Anima pode aparecer em um mito
como deusa, prostituta, fada ou bruxa. Em seu aspecto negativo é
geralmente personificada como mulher sedutora que traz humilhação e
morte. Em seu aspecto positivo, acredita-se que a anima tenha poderes
espirituais e esconda conhecimentos dos elementos da Terra e do mar.
Animus é a imagem coletiva do homem no inconsciente feminino, emerge
simbolicamente em seu aspecto positivo como o ideal de hombridade. É o
pai que dá ao animus da filha convicções que nunca tem a ver com a pessoa
real que é aquela mulher. O animus da mulher é tipicamente simbolizado
como um homem atlético, que se desenvolve em romântico “homem de
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ação”, sobre o qual os desejos da juventude são projetados. Mais tarde, ele
quase sempre se torna uma figura paterna ou líder espiritual. Em seu
aspecto negativo, o homem cruel e destrutivo que trata a mulher como
objeto. É o lado da mulher agressivo, que anseia por poder e é irredutível
nas suas opiniões. O animus, tal como o anima, apresenta quatro estágios
de desenvolvimento. Na fase superior torna-se como o anima, o mediador de
uma experiência religiosa por meio do qual a vida adquire novo sentido,
dando a mulher firmeza espiritual e um invisível amparo interior que
compensa a sua brandura exterior. Relaciona a mente feminina com a
evolução espiritual da sua época, tornando-a assim mais receptiva a novas
idéias criadoras do que o homem. Antigamente, em muitas culturas cabia às
mulheres a tarefa de adivinhar o futuro ou a vontade dos deuses (JUNG,
2008, p. 259).
Processos poderosos também estão ativos em outros arquétipos.
Enquanto o arquétipo materno, aquele lado da natureza humana que nutre e
cuida, começa a se expressar desde o nascimento durante a amamentação
da criança e no seu comportamento afetuoso, o arquétipo paterno
geralmente emerge mais tarde. O pai é o senhor do mundo material e
temporal, enquanto a mãe é a regente do mundo invisível das emoções e
sentimentos. Em seu aspecto positivo, o arquétipo paterno é a presença
protetora, o justo legislador e juiz. Em seu aspecto negativo, ele é o tirano
monstruoso.
O arquétipo do Trickster é a energia desordenadora e rebelde que
aprecia negar e questionar o status quo. O Trickster não tem um código
moral além do anseio por desordenar e ridicularizar. Na pior das hipóteses,
pode destruir nossa autoconfiança e converter nossas crenças mais caras,
mais ele também pode servir a propósitos, tirando-nos da complacência e
forçando-nos a reexaminar nossos objetivos. No mito, o Trickster mais bem
simbolizado é o deus escandinavo Loki, que ou ajudou seus amigos deuses
ou pregou peça neles, a seu bel-prazer.
A sombra é uma energia desordenadora de um tipo diferente. Ela é
parte da natureza humana obstinada e egocêntrica, que projetada
externamente é o anseio de encontrar um bode expiatório e de acusar
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aqueles menos capazes de se defender. É uma expressão dos desejos
básicos e anti-sociais que desejamos enterrar no inconsciente, que sentimos
que pode nos impelir a atos destrutivos, se perdermos o controle sobre ela.
Mas ela também tem um papel positivo, estabelecendo uma tensão criadora
contra os aspectos arquétipos mais arraigados, nos dando algo contra o que
lutar na vida, um obstáculo interno a superar. Embora a sombra seja uma
parte essencial da psique, nós a expressamos em geral durante os primeiros
anos de vida, no processo de sociabilização, para sermos mais merecedores
do amor de nossos pais. Aceitar a sombra tarde na vida requer um esforço
moral considerável (FONTANA, 2010).
Quando os arquétipos não são reconhecidos, podem destruir pessoas
ou nações inteiras. Como bem observou Jung, quando um arquétipo é
constelado no inconsciente e não passa pela compreensão consciente, a
pessoa é possuída por ele e forçada a cumprir sua meta fatal. (WHITMONT,
1991, p. 47)
Em todas as eras anteriores à nossa, acreditou-se em
deuses
de
uma
forma
ou
outra.
Somente
um
empobrecimento sem precedentes do simbolismo poderia
nos permitir considerar os deuses como fatores psíquicos,
ou seja, como arquétipos do inconsciente. Não há dúvida de
que essa descoberta ainda não é plenamente aceita.
(JUNG apud WHITMONT, p. 21, 1991).
Partindo do ponto mais remoto do passado, a consciência se
desenvolveu a partir de uma orientação ginecolátrica, matriarcal e mágica.
Esse período ginecolátrico se estende da Idade da Pedra a Idade do Bronze,
o mundo é mágico e governado pelo poder da Grande Deusa, como objeto
central de adoração. Houve um longo tempo de paz e harmonia na terra, um
tempo em que homens, mulheres e crianças viviam felizes, celebravam e
dançavam nas consagrações feitas a Deusa-mãe, pois era a mãe que nutria
essa Terra e o pai a protegia. A Deusa é a guardiã da interioridade humana.
As mulheres trazem dentro de si mesmas, a energia de muitas deusas: da
Sabedoria, da Paciência, da Força, da Criatividade, da Guerra e do Amor.
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Nomes famosos de Deusas arcaicas como: Inana, na Suméria; Anath, em
Canaã; Isthar, na Mesopotâmia; Skhmet, no Egito; as Morrigan, no Eire; Kali
na Índia; Pallas, na Grécia e Belona, em Roma; exerciam domínio sobre o
amor e sobre a guerra.
Dentro dos arquétipos das deusas, pode-se
descobrir qual delas está esquecida ou reprimida dentro de cada mulher,
pela dor de uma ferida não curada da infância, pelo desamor ou pela raiva.
Pode-se descobrir, também, no interior de cada mulher, se a deusa está à
luz ou á sombra, fazendo rever os departamentos das vidas femininas onde
a energia está estagnada, recriando o destino e a história, livrando das
amarguras, ansiedades, tensões e frustrações, trazendo luz a pontos mais
escondidos do Ser feminino.
Os valores psicológicos que estiveram associados à Grande Deusa
parecem ter atingido o seu máximo desenvolvimento da Idade do Bronze
(3.500 a.C.), e estão voltando. Segundo o psiquiatra americano WHITMONT
(1991, p.10): “A Deusa está voltando”, pois acredita que a influência do
arquétipo da Deusa terá papel importante nas relações humanas do futuro.
A Grande Deusa representa ser e tornar-se. O
arquétipo da Grande Mãe é uma espécie de banco de dados
de incontáveis experiências de concepção, gestação, parto
e cuidados registrados no inconsciente. Tudo é parte do
amplo conjunto de memórias do processo evolutivo humano,
que o parco entendimento dessas verdades dicotomizou em
corpo e mente. Qualquer mulher, quando vai ser mãe, sofre
certa estimulação inconsciente desse arquétipo. Na prática
tudo funciona para que ela se adapte da melhor maneira
possível à tarefa de parir, usando o acervo humano de
incontáveis experiências. (PENNA, 1993, p. 88).
Na perspectiva do arquétipo da Grande Mãe, nossas atitudes para
com a natureza dentro e fora de nós geralmente podem ser nutritivas ou
devoradoras. As primeiras são construtivas e promovem, alimentam. As
últimas são destrutivas, consomem e aprisionam. Essas alternativas são
válidas também para os relacionamentos sociais. Jung destacou três
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aspectos essenciais desse arquétipo que são encontrados nas pessoas sob
influência das imagens da Grande Mãe em todas as épocas: a capacidade
de nutrir e proteger os mais carentes, a emocionalidade e sua capacidade
para o prazer e a alegria (JUNG apud PENNA, 1993, p.101).
A masculinidade e feminilidade são forças arquetípicas, que
constituem maneiras diferentes de se relacionar com a vida, com o mundo e
com o sexo oposto. A repressão da feminilidade, afeta a relação da
humanidade com o seu mundo, assim como as relações mútuas ente
homens e mulheres.
A transição de um mundo do predominantemente ginecolátrico para
outro androlátrico foi pontuada por estágios: da Deusa para Deus, do
panteísmo para o teísmo e depois para o ateísmo ou não-teísmo. A
mudança em direção a uma decisiva predominância dos valores masculinos
talvez tenha ocorrido em algum momento do segundo milênio antes de
Cristo. Na sociedade mais primitiva, no Mesolítico, a figura da mulher era
guardiã de muitos segredos; o homem olhava admirado para a barriga de
sua companheira que crescia e inexplicavelmente findo um período de luas,
um novo ser humano aparecia. Quando a barriga não inchava, sofria
sangramentos determinados pelas lunações. O aspecto divino que a figura
da mulher oferecia, também era observado na natureza. Os primeiros
humanos perceberam que os períodos lunares, tinham a ver com várias
seqüências naturais e a figura da lua passa a ser Deusa, que tinha muito em
comum com as mulheres.
No período Neolítico, o homem toma consciência de que tem papel na
fecundação e concepção, a mulher começa a ser desvalorizada. O poder da
criação passa as ser do pai e o poder do macho se impõe. É o começo da
fase heróica, quando o ferro foi aos poucos substituindo o bronze. Marca
também o declínio daquela que mais tarde será descrita como era
mitológica, quando as divindades masculinas substituíram a imagem da
Grande Deusa como objeto central de adoração. O ego patriarcal dos
homens, e também das mulheres, para atingir o seu estágio heróico e de
disciplinamento do instinto, de esforço e de progresso, voou para longe do
terror puro causado pela Grande Deusa. As mulheres tornaram-se filhas
28
espirituais do patriarcado e acabaram por identificar-se com o pai e a cultura
patriarcal, alienando-se de sua própria base feminina e da mãe pessoal, que
freqüentemente é por elas considerada fraca e irrelevante.
No plano psicológico, o tema do reinado patriarcal resultou numa
primeira noção de centralidade individual e numa capacidade para a
intencionalidade racional e para a vontade pessoal. Com o tempo, o mito do
reinado egóico do patriarcado resultou num monoteísmo acelerado e no
enrijecimento do enfoque e da função centralizadora da percepção do
consciente. As visões do mundo mágica e mitológicas antes existentes
tinham
dado
margem
a
uma
pluralidade
de
forças,
poderes
e
personalidades, banidos pela visão do mundo centralizada e monoteísta. O
patriarcado regula os elementos externos do comportamento humano, mas
desvaloriza o instinto, os sentimentos e sensações, a intuição, a emoção
individualizada, e as profundezas do feminino, exceto quando estão a
serviço do coletivo.
Enquanto teologia, o mito aparece no conceito de Deus único;
enquanto psicologia, no conceito um self unificado, de uma personalidade
eu. Essa personalidade eu deificou os aspectos conscientes da experiência
e negou a multiplicidade de aspectos e complexos pré-ego-conscientes dos
quais ela mesmo emergiu. Essa tendência geral atingiu sua máxima
expressão nas três grandes religiões ocidentais: o Judaísmo, o Cristianismo
e o Islamismo. As duas primeiras, em especial, foram indispensáveis à
moldagem da cultura e da ética do mundo ocidental. Quanto ao Islamismo,
estamos testemunhando o ressurgimento de uma postura fundamentalista e
desconhecemos seus resultados finais.
Durante o período ginecolátrico, o mundo é mágico. È governado pelo
poder da Grande Deusa. Dela tudo procede e a ela tudo retorna. A Grande
Deusa representa ser e tornar-se. A desvalorização do feminino é um
aspecto intrínseco à cultura dominante na vigência do desenvolvimento do
ego patriarcal. A “fraqueza natural da mulher” sabe-se hoje que é uma
ficção:
29
A transição do matriarcado para o patriarcado é um
estágio necessário a um progresso real. O matriarcado deu
às mulheres um prestígio falso, porque mágico. Com o
advento do patriarcado, foi inevitável o confronto com o fato
real da maior fraqueza natural das mulheres. Os homens
mais fortes, quando superam sua crença na força mágica
das mulheres, passaram – movidos por uma lógica prática e
compreensível – a menosprezá-las e escravizá-las como
sexo frágil. (HARRISON apud WHITMONT, 1991, p.
141).
Em todas as eras as mulheres sempre foram maioria. Quanto à sua
capacidade mental, são iguais ou até superiores aos homens. Em relação à
força física, independente da capacidade mental, se esse fosse fator
determinante de domínio, as feras do planeta teriam dominado a raça
humana. O status inferior das mulheres precede a industrialização em cerca
de seis mil anos. Mas quando surgiram à necessidade e a oportunidade,
como aconteceu durante o período de guerras mundiais no século XX, as
mulheres se saíram tão bem, ou melhor, capazes que os homens, nas linhas
de montagens industriais.
Apesar da recente quebra do mito da desigualdade e da inferioridade
da mulher, muitas delas ainda se sentem desvalorizadas perante os
homens. Essa situação traz medo do encontro com os homens. Assim,
freqüentemente, as mulheres se sentem inferiorizadas no que se refere a
certas funções fisiológicas femininas, como menstruação e menopausa.
Como necessitam agradar os homens, não querem falar de assuntos que
pensam que podem desvalorizá-las: não explicam suas fantasias sexuais,
não ousam dizer o que admiram no corpo masculino e tem pudor de falar
“sobre suas coisas”. Contudo, a auto-imagem da mulher costuma ser mais
depreciativa do que a maneira como o homem a vê. O homem, com
freqüência, admira e valoriza a mulher mais do que ela mesma.
Como “filhas do pai”, para atingir seu estado sublime, a mulher
virtuosa de certa forma até os dias de hoje, em pleno século XXI, em
algumas culturas, tem que confinar suas atividades e até seus sonhos à
30
dimensão da maternidade, da vida familiar, da criação dos filhos ou, se as
circunstâncias a forçam a entrar no mundo do trabalho, a uma carreira do
tipo professora primária ou de autônoma. Ainda no Brasil, muitas mulheres
ainda têm dificuldades em defender seus pontos de vista, devido à criação
reprimida ao incentivo da autoconfiança, estimuladas nos meninos, mas não
nas meninas. Como modelo de criação até meados, do século XX, as
meninas deveriam ser cordatas e doces, sem competir ou se confrontar com
os meninos e nunca, em hipótese alguma demonstrar agressividade. As
mulheres tinham que aprender a cercear suas ânsias nos caminhos estreitos
culturalmente aceitos, que na maioria das vezes as tornavam vulneráveis a
manifestações de vergonha e auto-rejeição.
Várias considerações durante a história da humanidade derrubaram o
mito feminino. Santo Agostinho, por exemplo, declarou que as mulheres não
têm alma. Por isso os eruditos medievais debatiam se elas não precisariam
inicialmente ser transformadas em homens, pela mão de Deus, para
poderem estar em condições de aspirar ao céu no dia da ressurreição.
Malleus Maleficarum, autor do livro “Martelo das Bruxas”, padrão legislativo
de julgamento entre os sécs. XV e XVII, aprovado pelo Papa Inocêncio VIII,
descreveu as mulheres como: movidas apenas por afeto e emoção; que os
seus sentimentos de amor e ódio são gerados pelo “clamor da carne”, pela
possessividade e pelo ciúme. Que as mulheres são sexualmente insaciáveis,
mentirosas, fúteis e sedutoras; e que só buscam o prazer. “São mentalmente
e intelectualmente inferiores deficientes e débeis de corpo e mente; possui
memória
fraca,
exageradamente
infantilizadas,
impressionáveis
supersticiosas,
e
sugestionáveis;
supercrédulas,
“língua-solta”,
indisciplinadas; na verdade animais imperfeitos” (WHITMONT, 1991, p. 143).
Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) as
mulheres são as maiores consumidoras de psicofármacos e
possuem a maior porcentagem de doenças afetivas; são
quatro mulheres para cada homem. São conseqüências
psicossomáticas das recentes mudanças pelas quais as
mulheres estão passando. (SEIXAS, 1998, p. 265).
31
Por terem sido as mulheres maioria em todas as eras da humanidade
e em conseqüência da herança cultural e da forma como homens e
mulheres são educados, a maneira de experenciar o amor e a vida são
diferentes. Em geral, as mulheres tendem a ter uma expectativa de
dependência mútua; os homens tendem a valorizar a liberdade, manter sua
individualidade com espaços e momentos determinados. A mulher atual
mudou, desenvolveu-se, está procurando novas condições individuais e
sociais do Ser. Porém, ainda está arraigada às suas representações mais
remotas, está em conflito entre o que almeja ser e os limites de seus
condicionamentos.
Não acusa os homens, pois percebeu que nunca será
um deles, mas também está um pouco assustada e perdida
perante o novo homem, que surgiu a partir de suas próprias
reivindicações, homem que não é mais tão duro e machista,
que está se voltando para casa e olhando mais para a
companheira. A mulher está curiosa para saber quem é
esse homem e como vai se relacionar com ele agora.
Percebeu que, em vez de invadir o campo do homem,
precisa de um encontro com ele e, para tanto, continua se
questionando o que é ser mulher e feminina, onde quer ficar,
que tipos de encargos querem assumir, o que quer de sua
vida afetivo-sexual e o que é ser homem e masculino
(SEIXAS, 1998, p. 266).
Os papéis femininos e masculinos tradicionais de nossa sociedade
estão sendo desafiados. O ciclo do patriarcado está se esgotando. A
violência que cresce dia a dia no seio de nossas sociedades ameaça nos
dominar totalmente. A humanidade clama por segurança, amor e proteção.
Qual será o novo padrão cultural que assegurará a vida da humanidade no
futuro do planeta terra?
“Quem dera possas nascer numa época interessante”
MALDIÇÃO CHINESA TRADICIONAL
32
CAPÍTULO II
O HÁBITO DA SAÚDE: SÓ PARA
MULHERES
“Não podemos acrescentar anos à vida, mas podemos
acrescentar vida aos anos”.
(Dr. Niehans, 1882-1971)
2.1 Além da Menopausa
Segundo o médico psicoterapeuta, J. A. Gaiarsa, 1986, o ser humano
está conseguindo realizar seu principal sonho: a juventude permanente ou a
eterna juventude.
Em busca da fonte da juventude, o homem já bebeu amargas porções
mágicas e ainda hoje, todos gostariam de descobrir uma maneira de
preservar a beleza e a energia da mocidade. Voltar no tempo é fantasioso,
mas retardar o envelhecimento é algo plausível. Talvez, não se esteja mais
próximos de chegar à imortalidade do que os ancestrais pré-históricos, mas
existe um conhecimento muito maior sobre o envelhecimento e como intervir
para prolongar vidas. Nos tempos de hoje vive-se muito mais e muito
melhor.
No século XVI começaram a aparecer os primeiros
trabalhos científicos que estudam a terceira idade. (...)
Cientistas famosos como Descartes, Bacon e Benjamin
Franklin acreditavam que a terceira idade seria “vencida”
pelo desenvolvimento científico
.
O primeiro trabalho científico sobre a terceira idade foi
escrito por um médico francês no século XIX (Jean Marie
Charcot, em 1867) com o nome de “Estudo Clínico sobre a
Senilidade e Doenças Crônicas” (AZEVEDO, p. 31, 1998).
33
Com o aumento da expectativa de vida no século XX e, sobretudo
com os avanços da medicina e da industrialização, atualmente é moda
reconsiderar preceitos, pré-conceitos e pré-noções sobre o envelhecimento.
Até o começo do séc. XX, a expectativa de vida das pessoas era de 30 a 40
anos, mas hoje, com todo o progresso social, tecnológico e cultural, essa
expectativa aumentou bastante, e é fácil viver até aos 80 e 90 anos de
idade.
A Organização
Mundial da Saúde classifica o
envelhecimento em quatro estágios:
- meia idade – 45 a 59 anos
- idoso
– 60 a 74 anos
- ancião
– 75 a 90 anos
- velhice
– 90 em diante
(ALVES, P.46 E 47, 2013).
A cultura ocidental tem uma péssima visão sobre a velhice e em
nossas escolas praticamente não ensinam ou não sabem como ensinar a
ciência e a arte mais necessária ao ser humano, que é como cuidar de si
mesmo, com lucidez e com amor pelo dom mais caprichoso da natureza: o
nosso Corpo. O conhecimento de todo o processo de envelhecimento, por
parte das pessoas, poderia ajudá-las a viver muito tempo com um bom nível
de saúde. A educação, portanto é o principal fator do prolongamento
saudável da vida. Embora a maior parte das pessoas tenha uma vaga idéia
do que é levar uma vida saudável e saiba a diferença entre hábitos que
ajudam a permanecer jovens e fortes e aqueles que podem trazer prejuízos
para o bem-estar da saúde.
A rejeição ao envelhecimento é um mecanismo de defesa natural do
ser humano. O medo e o paradigma de envelhecer no mundo ocidental são
determinados pela inutilidade ou pela apreensão de não corresponder às
expectativas de um ambiente no qual a pessoa produz, conquista, tem e
mantém. Numa sociedade onde o interesse básico esta no lucro, onde o
“ser” é subordinado ao “ter”, a velhice em geral não pode ser honrada
porque a verdadeira honra iria solapar o sistema de prioridades que mantém
34
essa sociedade funcionando. Hoje, em nossa sociedade, é necessário um
novo senso de sabedoria e encontrar um sentido da velhice. Envelhecer é
uma experiência natural e básica do ser humano, refletir sobre a velhice é
refletir sobre o mistério da condição humana em si. Na arte de envelhecer
existem regras básicas que valem para todos os homens e mulheres, mas
cada qual necessita encontrar seu ritmo pessoal. Faz parte da velhice um
conjunto de aprendizagem: lidar com a solidão, aceitação de seus próprios
limites e treinar a abandonar para crescer e se renovar.
No Oriente a velhice é muito mais respeitada do que
no Ocidente: na verdade é glorificada. Os velhos sabem
como são as coisas, principalmente as que funcionam
sempre do mesmo modo, as convenções, os contratos, os
costumes, essa é a raiz, parcialmente válida do acatamento
ao velho. No Ocidente aceita-se, mal e mal, que a velhice
possa trazer alguma sabedoria. Mas é evidente que se
encontrarmos um velho muito risonho, teremos certeza de
que ele sofre de arteriosclerose avançada... (GAIARSA, p.
22, 1986).
Segregação e desolação são fatores poderosos que criam na pessoa
idosa uma severa alienação, mas o pior devido a todos os conceitos préestabelecidos por nossa sociedade é a auto-rejeição. A perda do Ser exige
atenção especial. A pessoa que perde seu Ser interior não tem mais nada
pelo que viver, pois fica sem esperanças e o seu centro fica perdido. Para
alguns só existem as trevas, a “Idade das Trevas”, mas para outros a velhice
se transforma na “Idade da Luz”. Segundo o escritor Lauro Trevisan: “Não
existe terceira idade e nem melhor idade, mas primeira idade continuada. A
vida continua normal. Inclusive porque a vida é o espírito e o espírito é
eternamente jovem e imortal” (TREVISAN, p. 12, 2012).
Os idosos brasileiros principalmente as mulheres, são um segmento
populacional cada vez mais visível na sociedade, não só porque são mais
numerosas, mas porque tem se envolvido na conquista de espaço na
35
sociedade e porque estão criando novas demandas para as instituições e os
agentes sociais. As estatísticas apontam que:
A população de mais de 60 anos vai dobrar entre a
década de 90 e o ano de 2025. E a maioria será de
mulheres. Em geral, elas têm uma expectativa de vida
superior à do homem. Por isso, deverá haver um largo
contingente de senhorias idosas na sociedade do futuro. (...)
Enquanto a percentagem dos idosos cresce, o índice de
nascimento deve diminuir. Espera-se que a população
brasileira de 0 a 14 anos passe dos 33,8% atuais para
22,9% no ano de 2025. Isso equivale a um decréscimo na
taxa de crescimento anual, que levará a um nascimento por
mulher. Uma sociedade na qual a participação feminina é
tão significativa, quantitativamente, exige uma atenção
especial. Essa participação terá um aumento de qualidade?
Como a mulher vai atender às expectativas que sobre ela
pesarão? (PENNA, p.28, 1993).
Devido a valores sociais e tradicionais, existe entre as mulheres uma
tendência ao empobrecimento e à dependência econômica. Embora no
âmbito da economia, mulheres de algumas classes sociais, ocupem espaços
significativos e em ascensão no mercado de trabalho. Mas devido à vida
doméstica e os cuidados com a família, as mulheres possuem melhores
condições de vida produtiva por estarem envolvidas na vida social e familiar.
Mesmo as mulheres de média e baixa renda tendem a freqüentar espaços
de lazer pela necessidade da atividade, participação, independência e
necessidade de autonomia. Um grande número de mulheres com idades
variadas entre 40 e 80 anos resolveu desafiar os modelos pré-estabelecidos
e saindo de casa muitas vezes contra a vontade de familiares, resolveram
tornarem-se agentes dos acontecimentos e acreditam que possam contribuir
para um envelhecimento mais saudável, passaram a encarar a saúde como
conquista da responsabilidade de cada ser social. O Brasil está deixando de
ser um país jovem e está se tornando um país de muitos idosos, devido a
36
diversos fatores como: a diminuição da mortalidade infantil e da natalidade e
os avanços da indústria bioquímica e da ciência.
Considerando que a expectativa de vida das mulheres
ao nascer é superior a masculina, não é de admirar o
grande número de mulheres de mais de 60 anos que
freqüenta espaços públicos, que retorna às aulas e se
inscreve nos clubes de terceira idade.
Muitas são as
pesquisas sobre mulheres de todas as cores e credos e
classes sociais, investigações sobre gênero feminino, mas
pouco são os estudos sobre mulheres envelhecidas
(PEIXOTO APUD GOLDMAN E PAZ, p. 153, 2001).
O processo de envelhecimento de homens e mulheres não ocorre da
mesma maneira. O envelhecimento feminino é multifacetado, devido a
fatores demográficos, de saúde e de funcionalidade física, mas também o
modo como mulheres enfrentam o processo de envelhecimento e velhice.
Outra dificuldade são os aspectos enfrentados pelas idosas em relação a
sua sexualidade e a maturidade da feminilidade. O período do climatério
demarca uma fase de transição caracterizada pela mudança de papéis que
dá a mulher a possibilidade de curtir seu corpo sem engravidar. Modulada
por fatores culturais, sociais e hormonais a sexualidade torna-se
extremamente pessoal. A sexualidade abrange uma terminologia muito mais
ampla, não é sinônimo de relação sexual. Reflete a intensidade com que
desempenhamos nosso papel sexual e como nos permitimos interagir com o
mundo. As mulheres envelhecidas em nossa cultura ficam proibidas a
sedução e a sexualidade. O corpo da mulher envelhecida não é mais objeto
de desejo, excluído do circuito da sedução e da reprodução. A auto-estima
nesse período facilmente é ameaçada, devido aos modelos estéticos de
beleza e as profundas mudanças na aparência. As mulheres que não
desenvolveram autoconhecimento em relação a sua sexualidade, encarando
o ato sexual como algo sujo e pecaminoso, começam a vivenciar conflitos já
que o aumento de testosterona aumenta o desejo sexual (RIBEIRO, 1995).
37
Certas mulheres na terceira idade são compelidas a
abandonar os prazeres do sexo por achar que sua idade já
passou, ou se declaram sexualmente incapacitadas. No
entanto, ao contrário do preconceito social contra o sexo na
velhice, sabe-se que a melhor formar de manter a saúde do
corpo e do espírito na idade avançada é ter atividade
mental, física e sexual. (...) A sexualidade pode trazer na
velhice a possibilidade de emoção e romance, expressando
a alegria de estar vivo. Em muitos casos, a chegada à
terceira idade é acompanhada de descuido e imprudência
em relação ao próprio corpo, como falta de higiene
adequada,
alimentação
deficiente
ou
em
demasia,
sedentarismo, excesso de fumo ou álcool, drogas receitadas
ou não. Esses componentes podem afetar a sexualidade e a
saúde (SEIXAS, p. 209, 1998).
Na sociedade contemporânea, o climatério demarca a maturidade
feminina. A menopausa é um processo de transformação natural, como um
dia o foi à menarca. A menstruação, em todas as culturas, sempre foi objeto
de mistérios e ritos. É um rito de passagem feminino. Em algumas
sociedades tribais é considerado um perigo para o homem e para a
comunidade. A função de um rito de passagem é dar importância a uma
transformação crítica na vida de uma pessoa: é dar à pessoa o apoio da
sociedade durante essa transformação, e tentar, por meio do ritual, chamar
as bênçãos dos deuses nesse período de transição e riscos. A primeira
relação mítica experienciada por todo ser vivo é a relação mãe e filho, é uma
relação mágico-arcaica, ligada as profundezas e as grandes deusas. O
arquétipo mãe e filho, por ser o primeiro mito, é o que se enraíza mais
profundamente na psique humana, mas não constitui o único atributo
feminino. Se os mitos permanecem no inconsciente, eles podem monitorar
nossas vidas de forma compulsiva, dominando a consciência e às vezes,
destrutiva. Observa-se isso em neuroses e psicoses, em nível de pessoas,
e, nas grandes mudanças, em nível coletivo. “Quando um mito é constelado
no inconsciente e não passa pela compreensão consciente, a pessoa é
38
possuída por ele e forçada a cumprir sua meta fatal” (JUNG APUD CREMA,
p. 182, 1996).
O climatério e a menopausa têm papel importante como indicadores
de transição entre a vida adulta e a velhice. Está carregada de estigmas, a
fisiologia da menopausa e suas implicações psicossociais, são aspectos de
uma experiência muito abrangente, que escraviza a mulher a uma condição
secundária, a partir de crendices culturais, que tem raízes profundas em
correntes mitológicas. No mundo civilizado, a existência da mulher sempre
esteve ligada a imagem masculina, pai ou marido, e o objetivo de sua
existência sempre foi à procriação e os cuidados com a sua prole. Uma
característica da sociedade patriarcal é reverenciar a mulher nos seus
aspectos de mãe, filha e esposa, enfim sempre vivendo em relação a
outrem. Pela menopausa, a mulher atinge um grau de evolução só possível
após o rompimento da relação primordial: mãe e filho. Miticamente ela se
torna UNA uma em si mesma, não precisa existir em função de outro, é
sujeito único no seu poder. Algumas mulheres ficam presas no mito e
permanecem numa existência vazia, amarga e improdutiva. Tornam-se
dependentes de psicotrópicos e emocionalmente reluta a possibilidade de
mudança; outras conscientizadas deste enredo mítico vivenciam esta
passagem com criatividade. A mulher se prepara para o confronto com o
mundo transpessoal, onde atitude é a espera, para um novo renascimento. A
relação da mulher com seu próprio de desenvolvimento podem ser
comparados à metáfora da lagarta e da borboleta. Pode se escolher ser
lagarta a vida inteira e não passar pela transformação da lagarta para
borboleta. Ou escolher a transformação da lagarta para mariposa.
Lembrando a turbulência da adolescência, uma analogia é a
turbulência provocada pela menopausa preparando a mulher para a
senescência. A menopausa é simplesmente a cessação da capacidade
reprodutiva dos ovários e seu sinal exterior é a interrupção definitiva do fluxo
menstrual. Senescência é o envelhecimento natural e biológico do corpo e
senilidade são as patologias (doenças) provocadas pelo envelhecimento. O
processo de envelhecimento é heterogêneo, nem todas as pessoas,
envelhecem iguais. Para algumas mulheres o envelhecer é tranqüilo, para
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outras é uma verdadeira turbulência em maremotos revoltos, que podem
levar ao não reconhecimento da própria imagem, como tão bem descreveu a
poetisa e escritora Cecília Meireles (1901-1964) em seu poema Retrato:
Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
- Em que espelho ficou perdida a minha face?
(MEIRELES, p.22, 2013).
A pré-menopausa, um período de meses ou anos antes da
menopausa, pode começar na metade da idade dos 30 anos e continuar até
o final dos 40 ou início dos 50 anos. A idade média em que ocorre a
menopausa é de 50 anos. O período da pré-menopausa pode durar até
quinze anos. Esses parâmetros não são rígidos e estão sujeitos a variações.
Os sintomas são vários e os mais comuns são: instabilidade emocional com
emoções exacerbadas, reações exageradas e falta de paciência; acordar no
meio da noite e não conseguir voltar a dormir; perda de memória, tipo
esquecer o que estavam dizendo no meio da frase. A razão técnica para isso
é que os níveis de estradiol (estrogênio) estão caindo. Esses sintomas
deixam as mulheres ansiosas e acabam despertando medos monstruosos.
Os acessos de calor, sintoma mais comum, ocorrem durante a prémenopausa quanto durante a menopausa. Pode-se sentir calor o tempo
todo, ter acessos repentinos ou de uma hora para outra ficar enrubescida e
passar a suar demais. Esses surtos podem ser acompanhados de
aceleração do ritmo cardíaco. A explicação técnica para esse sintoma é que
os ovários nesse período produzem menos estrogênio, e isso faz com que o
40
hipotálamo (no cérebro) para de regular a produção de calor. É como se o
termostato do aquecimento central de uma casa parasse de funcionar e não
fosse possível controlar o calor.
Problemas da bexiga com micção
freqüente, ardência, despertar durante a noite com necessidade de urinar e
incontinência, se devem à perda da elasticidade do músculo púbico
coccígeo, que se enfraquece pela diminuição do estrogênio. Esse músculo
envolve a vagina e sustenta a bexiga e o reto. Ele pode perder a elasticidade
com conseqüência da falta de exercícios físicos, parto normal ou queda do
nível de estrogênio, causando perda de controle da bexiga e da evacuação
retal.
A pele, o cabelo e as unhas às vezes ficam ressecados, e é possível
ocorrer queda de cabelo. Irregularidade no ciclo menstrual, variando desde a
ausência de períodos ou a infreqüência de alguns períodos, a ocorrência de
períodos cada duas semanas, até o sangramento constante. Os períodos se
tornam mais fracos ou mais fortes, mais ou menos freqüentes. Isso varia
conforme a atividade física e sexual da mulher. Na maioria das vezes, a
causa das irregularidades é a diminuição de estrogênio e progesterona.
Existe também a possibilidade de ocorrer uma ovulação ou uma gravidez, e
o sangramento irregular pode ser sinal de gravidez. Os diversos sinais e
sintomas podem deixar a mulher confusa. Outra preocupação é a perda de
interesse sexual, é um sintoma comum por falta de estrogênio, progesterona
ou testosterona, ou uma combinação desses três hormônios.
Estrogênio e Progesterona são hormônios sexuais femininos,
produzidos nos ovários. A Testosterona é um hormônio sexual masculino e
que não para de ser produzido pelos testículos, a não ser em idade bem
avançada; e nas mulheres é produzido em pequenas quantidades pelos
ovários. Hoje é possível aumentar o interesse sexual e prevenir outros
sintomas com a ajuda de reposição hormonal (TRH) conforme a orientação
do médico ginecologista. Mas existem mulheres que inversamente a esses
sintomas relatam aumento da atividade e interesse sexual, como a origem
dos sintomas estão ligados a diversos fatores, talvez isso aconteça devido a
fatores psicológicos. O hormônio masculino que ambos os sexos possuem a
testosterona, pode oscilar. O aumento no nível da testosterona faz as
41
mulheres sentirem um maior impulso sexual, enquanto a queda da
testosterona diminui o impulso sexual. Quando os níveis de testosterona,
que é o hormônio masculino, comum a ambos os sexos, oscila, podem
contribuir para a sexualidade; se o nível desse hormônio está em queda
pode diminuir o impulso sexual e o aumento desse hormônio pode aumentar
o impulso sexual. Outro hormônio que contribui para a sexualidade a
desidroepiandrosterona, ou DHEA, também pode ter seus níveis diminuídos
e resultar em menor impulso sexual.
A sensibilidade nos seios ou a sensação de estar grávida, antes da
menstruação, é outra preocupação comum entre as mulheres na prémenopausa. Essa sensibilidade pode ser causada devido ao desequilíbrio
entre os níveis de hormônios de estrogênio e progesterona. Às vezes
mulheres na pré-menopausa sentem dores nas articulações, nos ombros, no
pescoço e nas pernas, entretanto o processo natural de envelhecimento
pode ser acompanhado de osteoartrite e osteoporose, que produzem
sintomas característicos durante esse período. Os hormônios sexuais
femininos, principalmente o estrogênio, têm ação indireta e não direta sobre
os ossos. Está provado pela medicina que a perda de massa óssea pela
mulher no começo da menopausa, deve-se ao fato do organismo ter parado
de produzir os hormônios sexuais femininos. O estrogênio em seu período
de produção regular bloqueia a paratireóide (HPT), estimula ativação da
vitamina D e a ativação da calcitonina (espécie de hormônio protetor do
osso). Esse hormônio é secretado por células especiais da tireóide e
começa entrar em ação quando o nível do cálcio está alto no sangue. A
calcitonina libera outros hormônios, entre eles o do crescimento, que tem
ligação com o aumento dos músculos e ossos, na prevenção e tratamento
da osteoporose. No período da menopausa a mulher produz menos
calcitonina, mas as que fazem atividades físicas estimulam a produção
desse hormônio, inibindo os osteoclastos e aumentando a massa óssea. Já
a progesterona, também produzida pelo ovário na segunda metade do ciclo
menstrual, inibe a glândula supra-renal que produz a cortisona interna do
organismo. A cortisona atua sobre os ossos, liberando o cálcio e deixando
eles mais porosos. Na menopausa com a falta da progesterona, a cortisona
42
fica liberada e ajuda a produzir a osteoporose. Esse hormônio da supra-renal
só cessa sua atividade na osteoporose quando a mulher chega aos 65 anos.
2.2 O Envelhecimento Feminino e suas Patologias
O conhecimento de todo o processo de envelhecimento, por parte das
mulheres, poderá ajudá-las a viver com um bom nível de saúde. Cada uma
delas tem sua responsabilidade pessoal, nesse processo de viver mais e
melhor, acrescentando vida aos anos e não só anos a vida. Quando se fala
em saúde, a melhor coisa a fazer é conhecer a si mesmo é descobrir quais
riscos que se corre em relação a certas doenças e monitorar os hábitos
diários que afetam o bem-estar. Assim sendo, dispor de informações
necessárias para desenvolver um protocolo pessoal com o médico, adequar
cuidados com a saúde de acordo com as necessidades específicas, de
acordo com seu perfil psicológico, sua genética, suas prioridades e
condições particulares. Cada mulher ou homem deve considerar metas de
assumir a responsabilidade plena por sua saúde todo santo dia não
importando os reveze da vida. O poder de controlá-la é pessoal e
intransferível, só depende de cada uma de nós. A boa saúde, em qualquer
idade, está na dependência de três fatores básicos constituídos pela
alimentação, pela atividade física e pelo estado psicológico. O terceiro fator
é fundamental em nossas vidas e atua diretamente sobre todas as nossas
atividades. O equilíbrio emocional é à base da sustentação da saúde de
qualquer indivíduo. A principal fonte energética do corpo é a psique.
Os scripts da mulher na menopausa como nervosa, encalorada e
brigona é um papel cruel. E ainda pior é o modelo negativo da velhice.
Caracteriza a velhice, o papel de pessoa chata, rabugenta, que só fala do
passado e que o mundo de hoje está errado e no seu tempo tudo era ótimo;
é a pessoa que coleciona doenças e fala delas com orgulho. Enfim velhice é
sucata, tanto que o termo é substituído por outros: terceira idade, melhor
idade, idade continuada etc. Todas essas imagens constituem um modelo
arcaico da velhice com o qual convivemos durante gerações.
43
Vários fenômenos físicos ocorrem com o envelhecimento, como
diminuição de água celular que leva à desidratação progressiva no
organismo; diminuição do fluxo sanguíneo, da capacidade respiratória, da
velocidade dos nervos e do rendimento cardíaco. O controle da saúde, o
conhecimento do processo de envelhecimento e suas atividades físicas e
mentais farão com que as mulheres cheguem com mais tranqüilidade a
idades mais avançadas. Dois grandes componentes atuam no processo do
envelhecimento: as condições genéticas e metabólicas, que determinam, por
exemplo, a menopausa, a perda de neurônios, a diminuição da água
corporal e outras características comuns ao processo de envelhecimento
biológico. A nutrição tem importante papel no aumento e qualidade de vida e
tem sido evidenciada em várias experiências científicas. Alguns membros da
comunidade científica apregoam que a dieta ideal deve conter pouca
gordura de origem animal, pouco sal, pouco açúcar, muita verdura e muita
água.
São vários os riscos quando a menstruação cessa e o processo da
menopausa se inicia, mas os maiores são: a osteoporose e suas doenças
periféricas e os problemas cardiovasculares.
Toda mulher apresenta depois da menopausa importante perda óssea
e algumas com história familiar de osteoporose na família, podem perder
ossos em ritmo mais acelerado. A doença da osteoporose é uma doença
grave que deve ser acompanhada de um médico ginecologista, pois
compromete a vida e a qualidade de vida da mulher. Os ossos frágeis
podem ser fraturados mesmo sem quedas e traumas.
O aparelho locomotor é formado por uma série de ossos articulados
entre si, sobre os quais se fixam os músculos, que por usa vez são fixados
nos ossos através de tendões. O movimento se completa, quando um
músculo se contrai e diminui de tamanho e traciona o tendão, que por sua
vez puxa os ossos. A matriz óssea é feita de colágeno, proteína básica do
nosso corpo, onde se depositam sais de cálcio. O osso exige proteína,
cálcio, fósforo, vitamina D e outras, para que ele possa se renovar. Os ossos
femininos que sofrem mais precocemente o desgaste são: vértebras, ossos
do pulso, dos maxilares (levando a perda dos dentes) e da mandíbula.
44
Progressivamente vêm os ossos dos quadris e do colo do fêmur, sendo este
último a fratura mais temida devido as suas graves conseqüências.
Movimentos pequenos como levantar um peso, podem quebrar uma
vértebra, acompanhada de dor e diminuição da estatura. Infelizmente, as
estruturas do aparelho locomotor, assim como outras partes do corpo, estão
sujeitas às leis que regem o universo, o tempo é implacável! (KNOPLICH,
2001)
As articulações são formadas pelo contato das superfícies de dois ou
mais ossos vizinhos, permitindo movimento das partes do corpo. Os
extremos dos ossos que formam as articulações estão cobertos por uma
substância de superfície lisa e brilhante, denominada cartilagem articular.
Essa cartilagem atua como amortecedor, absorvendo grande parte das
pressões que atuam na articulação, permitindo movimentos livres e suaves
em várias direções. Os ossos articulados estão envolvidos por um manto, a
cápsula articular, revestida por dentro por uma membrana fina, a sinóvia, e
reforçada por ligamentos. A cápsula e os ligamentos mantêm a articulação
estável e a membrana sinovial produz um lubrificante semelhante à clara de
ovo, que ajuda a reduzir o desgaste das superfícies articulares. Cruzando as
articulações, estão os músculos e tendões que servem para movimentá-las.
Com o processo de envelhecimento o uso indevido ou abusivo das juntas,
resultará em maior desgaste das superfícies articuladas. De lisas elas se
tornam irregulares, com perda de cartilagem em algumas áreas. Esse
processo é conhecido como artrose ou osteoartrose, que traz dores,
aumentam de volume as juntas e limita os movimentos. Qualquer junta pode
ser comprometida, mas mais freqüentemente as dos membros inferiores, por
suportar o peso do corpo, por isso é importante controlar o peso corporal.
Pois se as juntas são usadas com sobrecarga ou exaustivamente em
trabalhos, atividades esportivas, ou quando traumatizadas e não são bem
cuidadas, podem ficar muito comprometidas. O tratamento é aliviar a dor
através de medicação, manter ou restabelecer os movimentos da
articulação.
As juntas além da artrose podem ser comprometidas por outras
formas de reumatismo, sendo o mais comum a gota e a artrite reumatóide. A
45
gota é mais comum nos homens, porque o corpo feminino elimina ácido
úrico com mais eficiência. Geralmente na mulher, as crises de dor nas juntas
provocadas pelo ácido úrico ocorrem por vários fatores, podem ser quando
ela está tomando diuréticos tiazídicos para controlar a pressão alta, tensão
emocional e excesso de bebida alcoólica. Esse tipo de gota é chamado de
gota secundária e é diferente da gota primária, ocorre especialmente no
homem por produção aumentada ou excreção diminuída de ácido úrico,
resultado de herança genética. A artrite reumatóide é uma doença crônica,
de causa desconhecida, classificada entre doenças auto-imunes, onde o
sistema de defesa da própria pessoa reage contra as estruturas de sua
articulação. Caracterizam-se pela inflamação das articulações periféricas,
principalmente das mãos, punhos, cotovelos e tornozelos. Causa sintomas
dolorosos e deformações nas juntas. Com o passar dos anos a
sintomatologia diminui, mas a deformação permanece, essa doença pode
atingir mulheres na faixa de 25 a 35 anos de idade. A flexibilidade mental
influenciará no trabalho articular. A mulher mais mentalmente ativa tem mais
oportunidade de estimular sua flexibilidade articular (RIBEIRO, 1995).
O tempo traz uma série de modificações no sistema músculoesquelético, que faz o corpo ficar mais vulnerável e é preciso continuar
treinando. Consegue-se equilibrar de pé todos os dias, porque treinamos. A
capacidade de locomoção é gerada pela prática e exercício das suas
funções, não adianta conhecer a teoria do movimento é necessário treinar
todos os dias. Consegue-se ir longe, mesmo que ao passar dos anos se
perca a agilidade e movimentos rápidos. Os reflexos estão menos vivos,
mas são mantidos como atividades. Conquistando um ritmo próprio,
consegue-se manter músculos treinados e em forma.
A Osteoporose é o dado quando o osso perdeu cálcio e massa óssea
e ficou mais fraco. O grau de osteoporose do osso, dessa fraqueza, pode ser
medido através do exame de densitometria óssea. Esse método descobre as
fases iniciais da osteoporose, altera-se com o tratamento instituído e é um
exame indolor; é uma espécie de radiografia que se traduz com um gráfico
comparativo. Com certeza a evolução da vida de uma pessoa, sua
alimentação, o tipo de água que bebeu, se tinha ou não fluoreto, as
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atividades físicas, se tomou sol, permite descobrir que há homens e
mulheres, com ossos mais fortes (ricos em cálcio) e outros que tem ossos
mais fracos (pobres em cálcio). A osteoporose pode ser natural ou primária e
ou secundária a outra causa e doença. A osteoporose é dez vezes mais
freqüente na mulher do que no homem. A perda da massa óssea a partir do
pico ósseo da maturidade ocorre em ambos os sexos a partir dos 35 anos.
Nas mulheres, que aos 35 anos, já tem um pico ósseo mais baixo, nas quais
os ossos são pobres em cálcio, essas perdas de massa óssea vão chegar a
níveis perigosos de fratura de osso. A osteoporose primária ou natural
também se chama osteoporose pós-menopausa e se estende a um período
de dez anos após a menopausa, quando piora a osteoporose da mulher.
Existe outro tipo de osteoporose que se chama osteoporose senil que
acomete homens e mulheres com mais de 65 anos de idade. A osteoporose
secundária a uma doença tem tratamento, mas deve-se priorizar a doença
que causa a osteoporose. Essa osteoporose segue-se a problemas médicos
mais importantes: doenças das glândulas tireóides, paratireóide, ovários,
etc.; doenças crônicas do estômago, intestinos, principalmente cirurgias
desses órgãos; histerectomia, principalmente se foi seguida da retirada do
ovário; uso de alguns medicamentos como sais de alumínio (remédios
usados para azia, gastrite, úlcera e colite), cortisona, hormônios, etc.;
imobilização na cama por muito tempo ou ficar com o braço e a perna
engessada; insuficiência renal (nefrite, nefiose) e insuficiência hepática
(cirrose, por hepatite ou bebida, também causam osteoporose secundária).
Pacientes que após receberem tratamento na cura do câncer com
quimioterapia, ou principalmente radioterapia pode apresentar osteoporose
após o tratamento.
Enfim, a osteoporose é influenciada por quatro fatores: biológico,
genético, fatores de riscos individuais (ou estilo de vida pessoal) e fatores
ambientais (o tipo de consumo de água, ar e sol). Conforme os fatores de
risco a prevenção dessa doença deve ser feita por toda a vida, ou mais
intensamente nos 10 anos logo após a menopausa, no mínimo. Deve-se
prevenir a mulher na menopausa para evitar a invalidez na terceira idade. As
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fraturas, principalmente as de quadril e do colo do fêmur podem
comprometer em muito o sistema locomotor da mulher idosa.
Segundo o médico Dr. Hélion Póvoa (2000), a osteoporose não está
ligada apenas ao metabolismo do cálcio; existe outro mineral responsável
pela saúde dos ossos: o magnésio. Tanto o cálcio e o magnésio são duas
substâncias fundamentais para se combater a osteoporose e devem estar
sempre em equilíbrio. O magnésio é importante para o relaxamento
muscular adequado. A alimentação é muito importante na prevenção e no
tratamento da osteoporose, sem dúvida os melhores alimentos são aqueles
que fazem o organismo manter os níveis normais de cálcio e magnésio no
sangue. Se os hábitos alimentares são insuficientes para suprirem as
exigências orgânicas é necessária a ingestão de suplementos químicos de
cálcio, vitaminas e minerais para a reposição. Com o envelhecimento, devido
à absorção intestinal, o organismo começa a absorver menos magnésio,
assim dificulta o transporte de cálcio e outros minerais importantes como o
zinco, o cobre e o manganês, que agem como co-fatores de enzimas que
formam a massa óssea. A vitamina D é outro elemento importante que
comanda a calcificação dos ossos, sua reposição também é muito
importante, pois fixa o cálcio no corpo.
Após a menopausa a mulher fica mais sujeita a ter problemas
cardíacos como: infarto, angina, derrames cerebrais e outros problemas
cardiovasculares, tudo isso devido à falta de produção de estrogênio.
Entre 1980 e o ano de 2000, cerca de quarenta
milhões de mulheres estavam acima de cinqüenta anos com
uma expectativa de vida em torno de 75 anos; a mulher
passa próximo a um terço de sua vida em pós-menopausa e
três quartos com sintomas da menopausa.
O risco de mortalidade cardiovascular aumenta 18
vezes depois da menopausa. (...) A baixa de estrogênio
também é responsável por aumento de LDL – colesterol e
triglicerídeos,
diminuição
do
HDL
–
colesterol
e
conseqüentemente arteriosclerose e enfarte do miocárdio
(TARGINO APUD GUIDI E MOREIRA, p. 77, 1996)
48
O coração é um músculo muito especial do nosso corpo. Sua função
é de manter o fluxo de sangue no sistema circulatório. O tamanho de um
coração adulto é de uma mão fechada e bombeia cerca de 5 litros de
sangue a cada minuto na situação de repouso, podendo chegar a bombear
30 litros de sangue por minuto durante o exercício. O sangue bombeado
pelo coração transporta alimento, hormônios e oxigênio para as células do
corpo e remove seus detritos através do sistema circulatório, que é
composto de artérias e veias de vários calibres e ajuda a manter a
temperatura do corpo. As doenças circulatórias, em especial aquelas que
acometem o coração, constituem a principal causa de óbito da população
brasileira (GUIMARÃES APUD GUIDI E MOREIRA, 1996). Entre os fatores
de risco, o mais significativo é a hipertensão arterial, ou seja, pressão alta.
Esse inimigo silencioso, nem sempre provoca sintomas. O colesterol alto e o
stress são fatores significativos de risco cardiovascular. Nessas condições o
corpo responde de modo primitivo lançando na circulação substâncias que
preparam o corpo para a ação. O coração é obrigado a bater mais rápido e
se esse trabalho em ritmo acelerado pode perdurar por longos períodos e as
paredes do coração passam a sofrer, pois continuam tendo que trabalhar
sem tempo suficiente para descansarem ou serem reabastecidas. A pressão
arterial é influenciada por diversos fatores: pelo volume e pela qualidade de
sangue circulante, pela freqüência com que o coração bate e pela
resistência imposta pela parede da aorta. Quanto mais é solicitado o
trabalho do coração, a reação se dá de duas maneiras: aumentando a força
de contração e aumentando o número de batimentos. Com o passar do
tempo apenas passa a impulsionar o sangue.
As coronárias estão sujeitas ao desenvolvimento da arteriosclerose e
aterosclerose. Por serem artérias de calibre pequeno e estarem submetidas
a um regime de trabalho constante, nem sempre compensadas por
condições
adequadas
de
relaxamento,
podem
ser
comprometidas
precocemente. Arteriosclerose é o endurecimento, perda da elasticidade da
parede das artérias. A aterosclerose é a formação de placas de sangue
coagulado, misturado com gordura, que calcificam e obstruem a passagem
49
do sangue. A obstrução das coronárias leva ao aparecimento de angina no
peito e muitas vezes ao infarto do miocárdio. As mortes por aterosclerose
são em geral decorrentes de ataque cardíaco ou derrame cerebral. Esses
dois problemas poderão também não ser fatais. As altas taxas de
triglicérides são os maiores inimigos das coronárias. A ingestão excessiva de
açúcar, massas, gorduras e álcool aliados a obesidade, diabetes e
hipotireoidismo aumentam em muito a gordura no sangue e obstruem a
passagem do mesmo. Nesse círculo vicioso onde a aterosclerose alimenta a
arteriosclerose e a circulação de sangue de baixa qualidade, as artérias
aceleram seu envelhecimento e vão adoecendo.
O AVC, acidente vascular cerebral, constitui causa importante de
morte na velhice e de muitas seqüelas. Pode ocorrer em qualquer idade,
mas é mais freqüente em pessoas com mais de 65 anos. Na maior parte dos
casos é isquêmico, AVCI (falta de sangue em determinada região do
cérebro). A causa básica do AVC é a arteriosclerose, pelo processo de
embolia (placa que se desprende de um local distante) ou trombose
(estreitamento da artéria). Favorece a isquemia a hipotensão, combinação
da queda brusca arterial com a falta de irrigação sanguínea no cérebro e a
fibrilação arterial. Quando o AVC, não leva a morte ou o coma, pode
paralisar os membros de um lado do corpo ou deixar seqüelas como
distúrbios da fala e na compreensão, dificuldade na deglutição, paralisia dos
músculos da face e outras dificuldades, inclusive convulsões (AZEVEDO,
1998).
Atualmente, sob a ótica bioquímica e da fisiologia celular, estão
construindo um modelo preventivo de saúde. O equilíbrio químico de cada
indivíduo é a sua principal defesa contra os fatores que provocam o
envelhecimento precoce e as doenças. A finalidade é aproveitar a sabedoria
da idade, ou a Idade da Luz, sem perder a capacidade física e intelectual. A
prevenção está inserida dentro da educação, e é o caminho para se
conquistar o futuro que se deseja. Desde que a medicina passou a ter
conhecimento dos radicais livres, vilões radicais, responsáveis pela
degeneração e sérias doenças em nosso organismo; que a luta tornou-se
retomar o potencial antioxidante do nosso organismo, para garantir a boa
50
saúde e o bem estar. Os radicais livres são átomos e moléculas
eletroquimicamente incompletas, instáveis, que procuram reagir com átomos
e moléculas vizinhas a fim de se complementarem. São consideradas
“promíscuas”, porque gostam de quebrar as relações estáveis que se
encontram ao seu redor. Os radicais têm vida curta, mas velocidade e ação
muito rápida; formam uma ação em cadeia na qual um número enorme de
radicais livres é gerado. Esses radicais se produzem normalmente na
natureza e no nosso organismo e a maior parte deles deriva do oxigênio que
respiramos. Num paradoxo o oxigênio nos alimenta e nos enferruja. Os
radicais livres são gerados continuamente como resultado de reações
químicas
essenciais
que
ocorrem
naturalmente
em
nosso
corpo,
imprescindíveis a vida (RIBEIRO, 1995).
Do nascimento até a morte, tudo que o nosso corpo
nos permite fazer, ou faz sem percebemos, acontece a partir
da combinação de moléculas de hidrogênio, oxigênio,
carbono, nitrogênio, cálcio, zinco, cobre e muitos outros
minerais que agem e reagem continuamente, Somos,
portanto, química em essência. (...) Somos pura química.
(PÓVOA, p.23, 2000)
Outra doença que amedronta e se torna um grande capataz das
mulheres após menopausa e na terceira idade, é a doença decorrente do
descontrole no crescimento das células, ou seja, malignidade celular,
conhecida pelo termo vago de Câncer.
A parte mais insidiosa do câncer é a própria natureza
desse monstro: ele é autogerado, no sentido de que são as
nossas próprias células que se descontrolam. (...) o câncer é
como um gigante adormecido, latente em todos nós. O
câncer apresenta determinados desafios que não estão
presentes em outras doenças, sobretudo naquelas que
podem facilmente ser atribuídas a agentes externos. Mesmo
assim, a questão permanece: por que não conseguimos
51
avançar no conhecimento e no combate ao câncer, ainda
que de uma forma modesta e lenta? (AGUS, p.46 e 47,
2013).
Já é certo que a incidência dessa neoplasia aumenta com a idade e a
grande expectativa de tempo de vida, porque com a idade avançada o
sistema imunológico, que em geral destrói essas células malignas, torna-se
menos eficaz. As causas ainda não se conhecem, o que se sabe é que tem
haver com fatores genéticos e hereditários, fatores relacionados à imunidade
e fatores ambientais e com a alimentação. Em função do seu
comportamento as neoplasias são classificadas como benignas e malignas.
Quando malignas o crescimento é muito rápido, e às vezes formam
metástases. Essa doença constitui uma das principais causas de morte das
pessoas. A grande maioria de câncer é curável, através de medicamentos,
quimioterapia, imunoterapia, cirurgia e radioterapia. A principal arma de
defesa em relação a essa doença é a prevenção. As mulheres com mais de
50 anos ao entrar na menopausa devem fazer no mínimo um exame
ginecológico anual, o exame de Papanicolau (para prevenção do câncer da
Cérvix ou colo uterino) e o exame das mamas (prevenção do câncer de
mama, que pode ter seu risco aumentado pela obesidade e dietas
gordurosas). A mamografia de rotina é fundamental na precocidade do
diagnóstico do câncer de mama.
O mais importante no combate da doença do câncer que é tão temida,
além da prevenção é o fator psicológico. O estado psíquico de cada pessoa
é fator determinante na convivência com a doença. O estado depressivo é
um fator agravante da doença, pois a depressão ajuda a destruir nosso
sistema imunológico. Outro item fundamental é a qualidade de vida de cada
pessoa, é claro que bons hábitos e uma boa qualidade de vida vão auxiliar
com mais eficácia ao combate e ao tratamento de qualquer doença, além de
tornar a convivência com as doenças menos dolorosas.
O hábito do tabagismo e o uso de bebidas alcoólicas introduzem no
organismo nicotina e etanol, além de outras substâncias tóxicas, que levam
à saúde precária, a doenças perigosas e a morte precoce. Além de
52
estimularem a ação dos radicais livres, que podem modificar células
importantes do corpo humano. O fumo está relacionado diretamente com o
aceleramento do processo de arteriosclerose e responsável pelas doenças
pulmonares e doenças cardíacas, além de alterarem o metabolismo de
vitaminas e do oxigênio do organismo. A intoxicação por álcool tem inúmeras
conseqüências físicas e patológicas, mas a pior de todas é o isolamento
social e os distúrbios familiares; as demências e problemas neurológicos.
A alimentação é outro fator determinante da boa saúde, afinal “Somos
o que Comemos” (ditado popular). O alimento é importante e fundamental
para todos os nossos processos vitais. A dieta correta é uma das principais
bases para a manutenção da saúde. Alimentação inadequada rica em
gorduras e açucares são responsáveis por diversas doenças como diabetes
e problemas cardiovasculares, dieta incorreta pode levar riscos à saúde.
Após os 50 anos é aconselhada a utilização rotineira de alimentos ricos em
vitaminas, principalmente a A e C. A mulher na menopausa deve ingerir
alimentos ricos em cálcio com regularidade. Na terceira idade há uma
diminuição global da atividade das células, o que leva a modificação das
necessidades nutricionais (AZEVEDO, 1998). A obesidade constitui fator de
alto risco para várias doenças. As alterações antropométricas na
senescência são mais prevalecentes nas mulheres; o incremento do peso
corporal pode se iniciar a partir dos 35 anos de idade. Entre 20 e 65 anos de
idade a gordura corporal dobra e essa gordura extra, fica concentrada em
torno do abdome e tronco, representando um perigo para as cardiopatias.
Aos 75 anos o corpo da pessoa idosa é composto de: 8% de osso, 15% de
músculo e 40% de tecido adiposo, comprometendo assim a autonomia
funcional e a qualidade de vida.
Todos os médicos são unânimes em alertar e divulgar, que o aspecto
mais importante para reformular e prevenir o estilo de vida e o
envelhecimento é a atividade física. As pessoas que se exercitam
provavelmente também seguem outras práticas saudáveis. Mas, antes de
iniciar é bom avaliar as funções cardíacas e o estado geral e receber
orientação do médico para o exercício mais apropriado. Os exercícios são
úteis para oxigenação do corpo. Exercitando o corpo, está se exercitando o
53
cérebro, porque além de melhorar a oxigenação previnem-se doenças
neurodegenerativas; aumenta-se a liberação do NGF (neurotrofina que
estimula o crescimento dos neurônios), quando não estimulado milhares de
neurônios se perdem, e assim pode se desenvolver doenças como
Alzheimer e Parkinson. Nutrir a mente é importantíssimo. Um cérebro pobre
em nutrientes é um cérebro fragilizado; aperfeiçoar atividade cerebral,
através de nutrientes bem equilibrados. “Estar em movimento mental é para
pensar, para analisar com mais freqüência. È analisar a vida a vida a cada
passo e não passar por ela” (RIBEIRO, p.35, 1995). A revisão da vida inclui
muito valor, muita riqueza, muitos estados afetivos positivos, frutos de
muitos anos dedicados às metas de vida. Por meio dela descobrimos
sentimentos
de
alegria,
gratidão,
justiça,
conquistas,
tensões,
aborrecimentos, ansiedades, angústias, mas que ajudam ao indivíduo a
buscar o equilíbrio interno. Um dos fatores que possivelmente contribui para
a maior esperança de vida feminina é o nível de socialização das mulheres.
Não existe remédio que faça rejuvenescer, mas atitudes que podem tornar a
velhice mais saudável e agradável. O que importa é a idade funcional e não
a cronológica. Envelhecer não significa perder a capacidade intelectual, ficar
assexuada,
burra
ou
imprestável.
Muitos
indivíduos
cresceram
intelectualmente nesta faixa etária. Aqui no Brasil temos o exemplo da
grande poetisa do Estado de Goiás, Cora Coralina (1889-1985), que
amadureceu sua arte já no ocaso da vida. Sustentou seus quatro filhos como
doceira, e aos 70 anos aprendeu datilografia para preparar suas poesias.
Cora apenas cursou até o terceiro ano da série primária. Aos 75 anos
realizou o sonho de publicar o primeiro livro.
O corpo humano é um equipamento excelente, uma
obra-prima,
produzido
pelo
mais
genial
fabricante
(construtor, artista, engenheiro e técnico) – o excelso
Criador do universo. Perfeição é o que não falta. Diz a
ciência
ser
nosso
equipamento
inteligentemente
programado para durar 120 anos. Se não pairam dúvidas
54
sobre a credibilidade do produto, a explicação de suas
freqüentes panes e breve duração está na inabilidade, na
negligência do usuário. (...). Ora ao comprar, digamos um
equipamento de som, não lhe é fornecido um “Manual de
Instruções”, produzido pelo fabricante? Seu propósito é
ensinar como utilizar o aparelho para otimizar seu
funcionamento e prolongar sua duração. (...) A alegria da
posse engloba dois fatores: excelência da fabricação e
forma
correta
desempenho,
desacelerará
de
uso.
evitará
o
Só
assim
freqüentes
inevitável
obterá o
visitas
desgaste
do
à
melhor
oficina
e
equipamento.
Concorda?
Você vem atendendo às “instruções” para melhorar o
desempenho, prevenir consultas ao médico e desacelerar a
decadência inevitável do fabuloso equipamento que é o seu
corpo?! Você pode indagar: Por onde anda este bendito
“Manual de Instruções”?! (HERMÓGENES, p.41, 2012)
2.3 A Imagem Corporal da Mulher na Idade da Luz
Não se deve deixar o olhar matar aquilo que seremos,
deve sim olhar-se no espelho e ver como ficamos, como
realmente somos (ALVES, 2013).
O corpo é a carruagem que nos transporta por este mundo terreno. É
o nosso veículo, a nossa comunicação com o mundo que nos cerca, com o
nosso ambiente. O corpo é aquilo que vemos e que podemos tocar e pegar,
através dele se expressa às emoções, a afetividade e os sentimentos da
psique humana. É o ponto de referência que o ser humano possui para
conhecer e interagir com o mundo. Nos últimos tempos, nunca se falou tanto
acerca do corpo, entrou em cena da produção teórica às inúmeras práticas
corporais. O corpo tornou-se objeto de culto na sociedade contemporânea,
desencadeando várias regulações sociais, sobretudo sobre o corpo
55
feminino. E o estigma histórico da mulher e a beleza, estão associados à
feiúra, que hoje está ligada ao envelhecimento e a gordura, sendo uma
tremenda exclusão social validada.
A imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio entre as
funções psicomotoras e a sua maturidade. Sua finalidade é favorecer o
desenvolvimento. Essa imagem corporal não está pré-formada, ela é
organizada através das relações mútuas do organismo e do meio, as
atividades motoras e sensório-motoras, são de fundamental importância na
evolução da imagem corporal (LE BOULCH, 1982).
O corpo de hoje é mais orgânico, é objeto de mercado. Até as
substâncias biológicas, o sangue, os tecidos e os órgãos circulam, troca-se e
constituem os bens raros estocados em bancos ou reservatórios. O corpo
tornou-se objeto de consumo no capitalismo atual, tem valor de troca ou,
como bem adquire um status a partir das insígnias que carrega, traduzindo
os valores da cultura da sociedade de consumo. Hoje o sujeito serve ao
corpo e não o corpo ao sujeito (DEL PRIORE E AMANTINO, 2011).
Segundo Paul Schilder, a formação da imagem
corporal, psicologicamente falando, dá-se por meio de um
contato contínuo com o mundo externo. No plano libidinal,
forma-se por meio do investimento que fazemos ao nosso
corpo e pelo interesse que os outros demonstram por ele,
por meio de ações ou palavras e, também, pelo modo com
as pessoas à nossa volta tratam seus próprios corpos. (...) O
distúrbio da imagem corporal é conseqüência de um não
investimento da libido na imagem corporal. Deduz o autor,
que a percepção de inteireza do corpo não é acidental, ela é
sim produto do amor-próprio (GERALDI E THIERS, p. 188,
2009).
A cobrança demasiada em relação ao corpo perfeito reforçada pela
mídia exclui as pessoas que não se encaixam nesse padrão. O ideal de
beleza transformou-se em um valor social. Segundo Erikson (APUD GRÜN,
56
2008), o objetivo do desenvolvimento humano é a integridade. Quem
alcança a integridade torna-se uno consigo mesmo, está de acordo com sua
história de vida, desenvolveu um sentimento de auto-estima forte, um
sentimento de dignidade. A imagem de todo ser humano é moldada por
individualidade e generalidade, por totalidade e fertilidade. Um importante
caminho, para chegar a si mesmo é o caminho do corpo. O corpo é a
bússola que mostra como a pessoa está e onde está em si. O corpo é um
instrumento para ajudar o sujeito a identificar a si mesmo, através do corpo e
no corpo pode-se também treinar posturas internas. Pode-se aprender a ter
mais autoconfiança através do corpo.
A mulher envelhecida na terceira idade, que sofre com as vicissitudes
das doenças naturais e às vezes com o excesso de peso, tende a se alienar
do seu corpo, por desprezo, medo e sofrimento. Tem uma auto-imagem
fraca e se sentem horríveis, principalmente quando tentam comparar seus
corpos com os corpos femininos elaborados por fotoshop que aparecem
através da mídia. A mulher em qualquer idade necessita desenvolver uma
imagem mais realista da aparência que gostaria de ter, ou seja, parecer com
ela mesma, mas em melhor forma. Ao invés de ver o corpo como uma
coleção de partes horrorosas ou que seria possível melhorar, o ideal é
concentrar-se no corpo e pensar nas coisas maravilhosas que ele permitiu e
permite realizar. O problema maior é se o ódio a aparência se transforma
numa visão negativa da personalidade e do caráter da mulher. O corpo
envelhecido é excluído da sociedade, pois esta criou concepções e modelos
sociais de corpo que estão voltados, para a juventude e o início da
maturidade.
A representação da velhice está fortemente associada
a estigmas socialmente ligados à decadência física e, a
percepção que as pessoas envelhecidas tem da sua própria
imagem muda a medida que o tempo passa; o confronto
com a velhice, provocado, principalmente, pela inatividade
ocasionada pela aposentadoria, cria múltiplas facetas na
representação da decadência e do envelhecer. Assim, a
57
representação de si é como um jogo de espelhos que
reflete, através da representação do outro, a imagem que
cada um tem de si (GOLDMAN E PAZ, p.162, 2001).
A auto-imagem é o conjunto de todos os pensamentos, as atitudes e
as crenças que percebemos e armazenamos desde a infância. Normalmente
o comportamento de cada um é o que ele acredita ser. A auto-imagem
negativa é causa freqüente de ansiedade, ressentimento, frustração,
depressão, autopiedade, ciúme e outros sentimentos negativos geradores de
ações destrutivas (GERALDI E THIERS, 2009).
As mulheres idosas muitas vezes imaginam o olhar que os outros
dirigem a seus corpos envelhecidos e sentem vergonha do próprio corpo;
acabam por desistir de determinadas atividades para não se exporem aos
olhos de outros, isso diz respeito ao registro da aparência. Outro empecilho
são as dificuldades da locomoção do corpo com o meio material, por
exemplo, as dificuldades enfrentadas por certas mulheres idosas para pegar
um ônibus ou se locomover em algumas ruas das cidades do Brasil. A
vitalidade diminuída no corpo da mulher na terceira idade, também levam a
desistência de muitas atividades, mesmo aquelas que gozam de boa saúde,
é a diminuição da “energia vital”. Devido a esses diversos fatores acabam
por levar a mulher envelhecida ao confinamento doméstico. Só que esse
confinamento ou sedentarismo provocam transformações corporais, como
por exemplo, a cuidar pouco da aparência e o não caminhar aumentam as
dificuldades de deslocamento com a diminuição da força muscular e o senso
de equilíbrio (GOLDENBERG, 2011).
A questão da imagem corporal e do esquema corporal parte de
posições dualistas, alguns autores preferem usar o conceito “imagem do
corpo” como propriedade da psicologia e cabe aos neurologistas usar a
expressão “esquema corporal”. Mas, o que está em discussão é o corpo
material e subjetivo. A etapa do “corpo vivido” termina na primeira imagem
do corpo identificado pela criança como seu próprio EU. A etapa do “corpo
58
percebido” corresponde a organização do “esquema corporal” (LE BOULCH,
1982).
A partir do momento em que o indivíduo descobre,
utiliza e controla seu corpo, o esquema corporal é
estruturado e passa a ter consciência dele e suas
possibilidades, na relação com o meio ambiente em que
vive. Vivenciar estímulos sensoriais, para discriminar as
partes do próprio corpo e exercer um controle sobre elas,
implica:
. A percepção do corpo;
. O equilíbrio;
. A lateralidade;
. A independência dos membros em relação ao tronco
e entre si;
. O controle muscular;
. O controle de respiração. (ALVES, p. 54 E 55, 2012)
A imagem corporal diz respeito aos sentimentos da
pessoa em relação à estrutura de seu corpo com a
bilateralidade, lateralidade, dinâmica e equilíbrio corporal.
(ALVES, p. 60, 2012)
Portanto como bem explicou a autora, a pessoa idosa que se confina
ao seu domicílio doméstico, para fugir dos olhares reprovadores ou para se
poupar das incertezas das ruas ou porque não tem mais energia para
atividades fora de casa, acaba por comprometer ainda mais todo o seu
desenvolvimento que ainda ‘não acabou’ apesar do envelhecimento como
59
“Ser Integral”. Apesar dos pesares, mesmo com idade deve-se vivenciar
estímulos sensoriais e exercer controle sobre elas, observar e aceitar a
estrutura ou a nova estrutura do seu corpo, “pois o corpo é o que se faz dele,
seja onde for e a partir de convenções” (GOLDENBERG, p.77, 2011). Se a
terceira idade como diz o escritor Lauro Trevisan é a Idade da Luz, que o
corpo seja percebido pela visão sob essa ótica, pois com luminosidade
podemos corrigir todas as imperfeições.
2.4 A Psicomotricidade Desenvolvendo Borboletas
São muitos os conceitos e as definições sobre a ciência conhecida
como psicomotricidade. Assim como são muitos os conceitos e definições
sobre o envelhecimento feminino.
Adotada na Europa há mais de 60 anos, principalmente desenvolvida
na
França,
onde
se
instituiu
o
primeiro
curso
universitário
de
Psicomotricidade em 1963, foram muitos os estudiosos que desenvolveram
e pesquisaram o ser humano sob a ótica da psicomotricidade; desde os
bebês de alto risco até pessoas na terceira idade, crianças com dificuldades
em seu desenvolvimento e portadores de necessidades especiais. Henri
Wallon (1879 – 1962) médico, psicólogo e pedagogo, foi o grande pioneiro
da Psicomotricidade, vista como campo científico. Suas publicações em
1925 e em 1934 iniciam uma das obras mais importantes no campo do
desenvolvimento psicológico da criança. Responsável pelo surgimento do
movimento
de
reeducação
psicomotora,
suas
obras
durante
anos
influenciaram estudiosos e profissionais a investigar crianças com problemas
de comportamento. Profissionais com formações médicas e pedagógicas
(Descoeudres); educação física (Demeny, Hérbert, Dalcroze, etc.). Mais
tarde Ajuriaguerra e Soubiran, conduzem com maestria as idéias originais de
Wallon. Outros profissionais divulgaram as obras de Wallon e Ajuriaguerra:
no campo educacional, Le Boulch (psicocinética) e Ramain (educação das
atitudes); no campo terapêutico, Soubiran e Mazo; os criadores Vayer,
60
Lapierre e Aucoutier, da Sociedade Francesa de Educação e Reeducação
Psicomotora em 1968, influenciaram escolas francesas, belgas, suíças e
italianas. Na mesma época surgem os métodos de Borel-Maisonny
(FONSECA, 2012).
O conceito de Psicomotricidade ganhou assim uma
expressão significativa, uma vez que traduz a solidariedade
profunda e original entre a atividade psíquica e a atividade
motora. O movimento é equacionado como parte integrante
do comportamento. A psicomotricidade é hoje concebida
como a integração superior da motricidade, produto de uma
relação inteligível entre a criança e o meio, e tem
instrumento privilegiado por meio do qual a consciência se
forma e materializa-se (FONSECA, p.14, 2012).
Num sentido mais amplo a psicomotricidade é definida como uma
ciência que estuda o homem através do seu corpo em movimento e em
relação ao seu mundo ou ambiente interno e externo. O corpo humano é
considerado como origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas e
está alicerçado num tripé: o movimento, o intelecto e o afeto ou se preferir:
corpo, mente e emoção. A psicomotricidade é o resultado: soma + psique.
Os profissionais psicomotricistas ou especialistas em psicomotricidade
atuam nas áreas de saúde e educação, com clínicas, consultorias,
supervisão e pesquisas. Esses profissionais estão aptos a educar, reeducar
e terapeuticamente detectar se o problema do indivíduo está no corpo, na
mente ou na afetividade, estimulando o desenvolvimento integral desta
pessoa.
O movimento é o elemento fundamental para o desenvolvimento do
ser humano e é através do corpo que nos movimentamos. Como diz o
ditado: “Caminhando é que se vai longe”. O conceito fundamental na
61
psicomotricidade é o limite. O mais difícil no processo de envelhecimento
são as limitações do corpo cansado, sem energia, e com patologias que
afetam a locomoção da idosa ou da mulher na terceira idade.
Uma questão fundamental e que não pode ser
esquecida no processo de envelhecimento são as limitações
que o corpo vai sofrendo durante seu percurso de
desenvolvimento e a consciência da temporalidade. Nesse
entrecruzar do corpo e do tempo e da maneira como isso
ocorre,
é
que
nascerão
diversos
tipos
de
velhice
(FERREIRA E HEINSIUS, p. 187 e 188, 2010).
Às vezes mulheres na terceira idade podem apresentar problemas
físicos nos cinco sentidos, que muitas vezes tem ligações com patologias
naturais do processo do envelhecimento feminino e também existe o
envelhecimento emocional, cujos fatores são: redução progressiva da
capacidade física e intelectual, perdas, separação, solidão, isolamento e
marginalização social (FERREIRA E HEINSIUS, 2010)
Os fatores principais no processo de envelhecimento são as
limitações corporais e a consciência da temporalidade (FERREIRA E
HEINSIUS, 2010). Mas, nem sempre a atividade cerebral de uma pessoa em
processo de envelhecimento corresponde ao estágio em que o corpo está
vivendo. Todos nós construímos um modelo postural do corpo. Normalmente
quando envelhecemos não conseguimos nos ver velhas, principalmente
quando há um equilibro biológico, só conseguimos perceber esse
envelhecimento pela visão dos outros, que conseguem nos ver velhas com
muita facilidade (ALVES, 2013). Os jovens nos chamam de “TIA” e nas filas
nos oferecem senhas preferenciais. Por exemplo, a mulher pode ter um
corpo de 67 anos, já afetado por algumas patologias inerentes a idade e, no
entanto sua atividade cerebral, ou seja, a vontade e o pique de realizar
atividades é a mesma de 17 anos de idade. Claro que o corpo não vai
corresponder a essa atividade e nem se movimentar como se deseja e aí é
62
que entra a questão do Ritmo. A definição de Ritmo é o tempo que demora a
repartir-se, para o músico e compositor Dalcroze (1868-1950) o ritmo é
princípio e movimento e para o filósofo grego Platão (428/27 0 347 a.C) ritmo
é movimento ordenado. E como se sabe e como se diz cada um de nós tem
seu Ritmo. O conceito relacional da psicomotricidade é o limite. Cada um de
nós tem um limite e um ritmo próprio, assim como nossa psique, muito
particular e muito peculiar. Embora feitos na mesma forma, cada ser tem um
sabor próprio e diferente um do outro.
Segundo a professora e escritora Fátima Alves (2013) o corpo é uma
jornada, e o corpo em movimento é a psicomotricidade. A postura do corpo é
a primeira percepção importante para uma ação.
A psicomotricidade auxilia o individuo a se educar e
reeducar, desenvolvendo suas necessidades por meio de
aprendizagem
das
dominâncias
motoras,
dando
oportunidade a esse indivíduo de analisar suas condições e
assim permitir que ele descubra como comportar-se
corporalmente. Com este aprendizado, o indivíduo terá
maior oportunidade de perceber como utilizar seu corpo por
meio de movimentos, não havendo desgastes psíquicos e
motores. É a construção do conhecimento em qualquer um,
para um qualquer e cada um.
(...) Portanto, por meio da educação motora, existe a
possibilidade de resgatar todas as funções que, por
conseqüência, foram privadas por alguma razão (ALVES, p.
97 e 98, 2013).
O prazer lúdico através dos movimentos do corpo possibilita o
conhecimento do corpo e a harmonia em relação à mente, suas emoções e
o ambiente exterior. Os objetivos das atividades físicas para mulheres na
terceira idade deverão ser para conservar no máximo sua autonomia e
ajudar a retardar o envelhecimento. As atividades físicas devem favorecer o
equilíbrio, a marcha e a escuta de si; atividades que propiciem a livre
63
iniciativa de explorar seu potencial criativo e trabalhar relações interpessoais
e atividades que promovam oportunidade autodescoberta e de valorização
de sua vivência e de suas experiências (FERREIRA E HEINSIUS, 2010).
Nesta fase da vida é importantíssimo se conectar a pessoas e atividades
prazerosas, desafiar a mente e realizar aprendizados em que nunca se
pensou em fazer antes. “A prática psicomotora dá oportunidade ao idoso de
desenvolver estruturas psicomotoras almejadas com alguns valores, como
partilhar, agir, respeitar, aprender e reaprender “(ALVES, p. 101, 2013).
A dança está vinculada às possibilidades de expressão do ser
humano, seja de forma artística, religiosa, lúdica, social ou cultural. Tão
antiga
quanto
à
humanidade,
foram
encontrados
vários
registros
arqueológicos nos primórdios de sua história. A dança sempre expressou
sentimentos do amor, ódio, morte, guerras, religiões e até nascimento. A
dança faz história, testemunha fatos, relaciona culturas variadas em um
processo dinâmico temporal e celebra a vida. A dança é uma vivência lúdica
e prazerosa, trabalha na pessoa o autoconhecimento e propicia melhor
qualidade de vida. Aumenta a percepção corporal, relaxa e alonga a
musculatura do corpo, favorecendo o desenvolvimento físico, motor,
neurológico e intelectual; principalmente, trabalha “a auto-imagem mediante
estímulo das percepções, sensações sinestésicas e visuais, que orientam o
tempo e o espaço” (MELLO APUD FERREIRA E HEINSIUS, p. 188, 2010).
Segundo, Sonia de Oliveira, a dança atua no corpo
como um canal de educação, estimulação ou reorganização
de
conteúdos
bem
específicos
da
Psicomotricidade:
Lateralidade, estruturação, orientação espacial e temporal,
coordenação
motora,
percepções
auditivas,
visuais,
sinestésicas, táteis. No campo individual capacidades, como
mobilidade, flexibilidade, agilidade, resistência, equilíbrio
estático e dinâmico, tudo influenciado positivamente sobre o
sentimento de auto-estima do idoso.
As atividades de gerontoativação visam produzir
efeitos preventivos e terapêuticos, melhorando a fraqueza
64
muscular, a rigidez articular e a perda do domínio dos
movimentos práxicos, auxiliando o equilíbrio corporal e a
boa postura. Possibilitam melhoria na respiração e na
coordenação quedas e prevenindo atrofias.
O aprendizado das coreografias trabalha a atenção, a
concentração, a percepção, a lateralidade, o ritmo, a
memória recente, a orientação espacial, estimulando
diversas habilidades psicomotoras e cognitivas, além de
promover
um
trabalho
motor
com
progressivo
condicionamento físico associado à sensação de satisfação
física e mental (FERREIRA E HEINSIUS, p. 195, 2010).
A prática psicomotora através da dança propicia a mulher em
processo de envelhecimento se perceber sem choques e ajuda a
desenvolver valores como partilhar, agir, respeitar, aprender e reaprender
(ALVES, 2013). Além de resgatar toda a sua AUTOESTIMA, valorizando
suas personalidades muito mais do que seu corpo. Torna a mulher como Ser
Integral, libertando a borboleta que existe no interior de cada uma de nós,
mulheres de todas as idades! Elegantes, fantásticas e independentes, com
inúmeros papéis no sistema social da nossa sociedade contemporânea:
FEMININA, AMANTE, MÃE, ESPOSA, AVÓ, CIDADÃ, PROFISSIONAL,
DEUSA, GUARDIÃ, mas principalmente MULHER!
65
DE COMO O MOVIMENTO SE FAZ
GESTO,
ATITUDE,
IMAGEM,
EMOÇÃO
E
IDÉIA.
(GAIARSA, p. 23, 1995).
66
CAPÍTULO III
O ESPÍRITO DA DANÇA DO VENTRE:
CIÊNCIA E ARTE
Escutem bem a música, mas com a alma. Vocês
não estão sentindo que há outra pessoa que faz vocês
levantarem a cabeça, mexer os braços e caminhar para
diante, na direção da luz?
Isadora Duncan (1877 – 1927)
3.1 O Ventre, O Centro do Corpo e Equilíbrio da Vida
“Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu
ventre”
Palavras de Isabel à sua prima Maria, por ocasião da sua visita.
(Lucas, 1- 42, Bíblia Sagrada)
Se a alma é a fonte da vida; o útero é o berço que embala a
existência de um ser, ele representa a natureza íntima da mulher, com
originalidade e espontaneidade. Ser mulher é dar vazão aos conteúdos do
ser, como ternura e afetividade; esse procedimento nutre a mulher,
tornando-a preenchida dos valores da alma.
O sistema reprodutor feminino representa a realização da mulher na
vida: os ovários representam a iniciativa, as tubas uterinas o Ser
convincente, o útero são a características da mulher e a vagina a
manifestação do prazer. O âmbito da sexualidade humana representa uma
via pela qual as pessoas podem superar suas dificuldades, serem criativas e
espontâneas, e assim expressar suas naturezas íntimas. Quando essas
qualidades do Ser forem acrescentadas à realidade, elas contribuirão para a
edificação de uma vida melhor, proporcionando felicidade e realização
pessoal.
67
Assim, aquilo que é natural ao corpo feminino
relaciona-se,
essencialmente,
com
a
organização
fisiopsíquica que lhe permite gerar, gestar, parir filhos e
cuidar deles. Em termos coletivos, a função procriadora
mantém o corpo da mulher organizado em torno desse eixo
fundamental, o qual se resume à capacidade criadora
biológica do corpo. Mesmo que a mulher jamais tenha filhos
nem se interesse em tê-los, ainda assim – pelo menos no
atual estágio evolutivo – a sua anatomia, fisiologia e
psicologia estão profundamente associadas com essa força
geradora, independentemente da sua vontade (PENNA,
p.41, 1993).
O ventre vulgarmente chamado de barriga é a fonte de muitas
experiências,
berço
da
vida
e
passagem
da
morte.
Local
das
transformações, o ventre foi comparado ao laboratório de alquimistas.
Simboliza a mãe e reflete particularmente uma necessidade de ternura e de
proteção. Quando as pessoas sonham com o ventre, seu significado pode
sinalizar uma atitude regressiva, um retorno ao útero, uma maturação
espiritual travada, diante de graves obstáculos afetivos. O ventre é um local
importante do nosso corpo porque nele se encontram o alto e o baixo.
Também se encontram o pai e a mãe e algumas vezes nossas dificuldades
digestivas são uma interiorização dos problemas que podem existir entre
nosso pai e mãe. Certos acontecimentos fazem mal ao ventre, eles nos
mostram que nosso corpo é religado com o que se passa no mundo
(LELOUP, 2012). O ventre representa outro exemplo de experiência humana
chamadas de “sensações na barriga” ou sentimentos viscerais. Recentes
pesquisas na medicina consolidam a idéia de um sistema nervoso entérico
comparável a um verdadeiro cérebro visceral, ou seja, pretende-se provar
que existe “mente” nas vísceras. O ventre costuma ser caracterizado como
sede dos apetites, dos desejos, cuja voracidade pode parecer assustadora
para aquele que não aceita sua animalidade profunda. O ventre pode ser
refúgio, mas também devorador. Expressões comuns como: “eu sinto isso
68
na barriga”; “eu simplesmente sigo as minhas entranhas”; “eu ouço o que
sinto visceralmente”; “isso não está de acordo com o que estou sentindo por
dentro” e até mesmo “eu o odeio com todas as minhas entranhas”. É
interessante notar que a região do ventre (e seus significados) está embutida
em diversas expressões da cultura popular: “Só ver o próprio umbigo”; “Tirar
a barriga da miséria”; “Chorar de barriga cheia”; “Com o rei na barriga”.
O ventre corresponde ao meio do corpo humano, tem a forma ovóide
e é um grande vazio entre as costelas e as pernas, preenchido por tubos
que se movimentam em ondas e, por glândulas. O ventre recebe a maior
força de atração do planeta terra. Ter ventre é ter centro. Os antigos
consideram o ventre como lugar de transformação. Segundo os dicionários
da língua portuguesa, o ventre do latim venter, ventris é a parte do corpo
onde está alojados o abdome, barriga, útero; intestino, o estômago, o fígado,
o pâncreas, a bexiga, etc. O adjetivo ventral refere-se á frente do corpo. Na
anatomia refere-se também a parte média ou mais ou menos volumosa de
certos músculos.
O fato de o centro da gravidade estar no abdome, e
não na cabeça nem nos pés, nos traz uma conseqüência:
esses segmentos é que precisam alinhar-se com o ventre,
estar de acordo com ele, pois disso depende o andar
equilibrado e todas as outras formas de movimento humano.
Então o equilíbrio do nosso corpo no espaço é decorrente
do alinhamento dos nossos centros de gravidade, que se faz
a partir do ventre (PENNA, p. 70, 1993).
Na parte inferior do ventre, fica o aparelho genital e reprodutor
feminino, conhecido como diafragma pélvico e o sistema urinário.
Descrevendo o aparelho genital feminino de dentro do abdome para fora, é
constituído pelo ovário direito, ovário esquerdo, trompas ou tubas da direita e
da esquerda, útero, vagina e vulva. Ainda dentro do abdome encontram-se
as trompas ou tubas, que são canais que se estendem das proximidades
dos ovários até a parte superior e interna do útero, em cuja cavidade
69
desemboca. Esses canais ocos são destinados à captação e transporte do
elemento ou célula reprodutora feminina, o óvulo, para a fecundação.
O útero, também chamado matriz, é um órgão oco, de paredes
grossas, de natureza muscular e, portanto, com capacidade de contrair-se e
relaxar. Tem seu revestimento interno, chamado endométrio, devidamente
preparado pelos hormônios femininos, produzidos pelos ovários para alojar o
ovo. É um órgão de gestação e o principal agente de expulsão no trabalho
de parto; também promove a menstruação. Tem a forma de uma pêra
achatada de frente para trás, com a parte mais volumosa voltada para cima
e a parte mais fina de forma mais ou menos cilíndrica e chamada de colo do
útero, voltada para baixo. O colo uterino tem dois orifícios, um superior e um
interno, que se comunica com a cavidade uterina e entre os dois existe um
canal chamado canal endocervical ou endocérvix, que comunica a cavidade
uterina com a vagina. O que mantém o útero fixo em posição dentro da
parte inferior do abdome são os ligamentos, espécies de cordões fibrosos,
uns mais finos e outros mais largos. São constituídos por um tecido elástico
(chamado conjuntivo), fibras musculares e envolvidos por outro tecido
chamado peritônio, na parte que está dentro do abdome, também possuem
vasos e nervos (MARQUES, 2007).
Os rins estão situados um de cada lado da coluna vertebral e trabalha
contínua e silenciosamente realizando diversas funções que garantem o
equilíbrio do corpo. Na fisiologia do sistema urinário, o papel essencial dos
rins é de filtração e purificação do sangue. Segundo LELOUP (2012) “Os rins
são um espaço para a Palavra que temos a escutar. Porque, para enfrentar
nossa existência, temos necessidade de rins sólidos”. Dos rins saem dois
longos canais, os ureteres, que são tubos musculares que produzem ondas
de contração e ajudam a urina a se deslocar para a bexiga. Na ligação dos
ureteres com a bexiga existem anéis musculares chamados esfíncteres,
esses anéis musculares relaxam enquanto a urina goteja na bexiga. A
bexiga possui músculos em suas paredes, lhe dando elasticidade, possui
também mais um esfíncter, que controla a passagem da urina para uretra. A
micção é facilitada pela contração das paredes da bexiga e da musculatura
abdominal. Situadas acima dos rins, estão às glândulas suprarrenais e essas
70
glândulas estão relacionadas ao estresse. Produz substâncias como
adrenalina que prepara o organismo para situações de tensão e hormônios
que controlam as concentrações de minerais no corpo.
A parte mediana do ventre é conhecida como “barriguinha”. É a parte
que merece muita atenção, pois é a parte crítica na imagem corporal de
mulheres acima de 30 anos, pois tende dobrar-se sobre a virilha devido ao
excesso de gordura, devido à alimentação, desequilíbrio hormonal e
gravidez. A famosa barriguinha ocupa o topo das listas de cirurgias plásticas
e dos exercícios abdominais das academias de ginásticas. Nesta parte do
ventre está acondicionado um importante órgão considerado pelos cientistas
como o segundo cérebro do corpo humano e que merece toda a atenção: o
intestino.
O intestino está dividido anatomicamente em duas regiões: o duodeno
que mede cerca de 25 cm e dele continua o processo digestivo que
começou no estômago. Depois o alimento percorre a mais longa distância do
sistema digestório: em média, os 6 metros do jejuno-íleo, que está dobrado
na cavidade abdominal e, assim como todo o tubo digestivo, possui
movimentos peristálticos que impulsionam o alimento para frente. As
paredes internas do jejuno-íleo possuem dobras, denominadas vilosidades.
Por fim o intestino grosso que é o último segmento do sistema digestório e
mede cerca de 1,5 m e em seu interior há uma imensa quantidade de
microorganismos formando a microbiota ou flora intestinal. A primeira região
do intestino grosso é o ceco e junto a ele, no lado direito do abdômen, existe
o apêndice cecal, uma projeção com até 8 cm que, acredita-se, participa das
funções de defesa do organismo. A trajetória do alimento termina quando do
intestino passa ao reto, e o que não pode ser digerido é eliminado pelo ânus.
A fisiologia do intestino é de um grande labirinto, igual ao que se encontra no
cérebro.
Assim como qualquer parte do nosso corpo, o
aparelho digestivo e, mais especificamente, o intestino
grosso, tem um caráter simbólico. Os eventos digestivos são
análogos ao processo de aquisição de informação que
71
ocorre em nosso sistema nervoso central. Assim, como a
nossa mente processa informação, o aparelho digestivo
também o faz só que essa informação nos chega sob a
forma de alimentos. (...) O intestino delgado tem a tarefa de
tomar toda informação (alimentos) decodificada pela boca,
estômago e duodeno, e proceder sua análise com vistas a
aproveitar (absorver) certas partes e eliminar outras. (...) O
intestino delgado ficaria, assim, com a carga simbólica de
ser o consciente ou o aspecto analítico da nossa mente
integral. O intestino grosso, por sua vez, corresponderia ao
nosso inconsciente. (...) As pessoas que apresentam
quadros de prisão de ventre estão entre as que têm medo
do que o inconsciente pode trazer (AUGUSTO, p.43 e 44,
1995).
Na parte superior do ventre, está o diafragma, que é o divisor do
tronco, formado por um arco ou abóboda. Esta região além de servir de
apoio para o músculo cardíaco acoberta o estômago que é um órgão em
forma de bolsa com fortes paredes musculares, para comprimir e misturar os
alimentos
aos
sucos
gástricos.
Assim
como
há
determinados
acontecimentos que levam tempo para serem digeridos, muitas vezes o
sofrimento nos impede de comer e se nos alimentarmos demais ficamos
doentes. O perdão é um poderoso remédio para as doenças deste órgão; o
fígado que é a maior glândula do corpo humano, com aproximadamente 1,5
kg, localizado logo abaixo das costelas, ao lado direito do abdômen e
responsável por centenas de atividades vitais. Na simbologia antiga o fígado
estava ligado à visão. A arte divinatória como prever o futuro era feito sobre
o fígado aberto de animais. É neste lugar do corpo que a luz é estocada e
todas as emoções. Emoções negativas impedem que a luz habite (LELOUP,
2012); a vesícula biliar é uma bolsa escondida atrás do fígado e ajuda na
digestão das gorduras. Na antiguidade era considerada a sede do
discernimento; o baço que fica próximo ao estômago e é uma víscera que
libera hemoglobina e destrói glóbulos vermelhos inúteis, assim como o
72
fígado e a vesícula é responsável por muito de nossos humores e o
pâncreas é uma glândula mista que mede cerca de 13 cm de comprimento e
fica alojada junto ao estômago, sua função é produzir insulina que vai para o
sangue e o suco pancreático que vai para o duodeno no intestino delgado.
Esse órgão faz o trabalho de transformação, todas as provações humanas
solicitam do pâncreas a liberação de energia necessária para enfrentar as
dificuldades (LELOUP, 2012).
O diafragma desde a época dos gregos foi considerado um músculo
essencial para a respiração. Mesmo quando o corpo está em repouso, o
diafragma é o único músculo esquelético do corpo que continua trabalhando;
é um sistema automático e voluntário. Devido a hábitos posturais
desequilibrados desde a infância, as pessoas no decorrer dos tempos
deixaram de apresentar o movimento natural do diafragma, mas é possível
recuperar esse movimento natural, através da psicomotricidade, tratando de
forma integrada o tônus, a respiração, o equilíbrio e as respostas
emocionais, ou seja, métodos de consciência corporal. O ritmo respiratório
ocorre em três tempos: inspiração, expiração e pausa. Deve-se esperar que
o corpo manifeste espontaneamente, a necessidade do ar.
Resta-nos assegurar que o diafragma execute bem o
seu trabalho de músculo respiratório. Ao contrair-se, ele
aplana-se levemente e provoca uma chamada de ar na base
do pulmão. Ao mesmo tempo, exerce uma leve pressão
sobre os órgãos que recobre – fígado, estômago, baço,
intestinos – e efetua uma massagem suave e permanente
sobre o conteúdo do ventre. Ao relaxar-se, recupera sua
forma anterior – mais ou menos a de um prato fundo de
boca para baixo -, ajudando assim o pulmão a esvaziar-se
em sua base. A cada inspiração o ventre aumenta
ligeiramente sob pressão do diafragma, retornando à sua
posição inicial na expiração. Podemos observar essa
ondulação respiratória da barriga em todos os quadrúpedes
em repouso, em todas as crianças saudáveis e na maioria
dos adultos. Mas existem desafortunados que aprenderam a
73
contrair esse movimento natural. (...) Para resolver esses
problemas, será necessário reeducar a atividade do
diafragma (EHRENFRIED, p. 59 e 60, 1991).
Melhorando o conjunto de sua atitude física, a pessoa se sentirá mais
a vontade, mais calma e menos cansada. A sintonia entre a respiração e o
psiquismo é muito profunda. Há milênios os sábios do oriente já sabiam
dessa estreita relação. Na Índia formou-se uma filosofia que integrou mente
ao corpo, assimilando também a dimensão transcendente. A Hatha Yoga é
uma prática holística que age sobre todo o ser humano. A palavra Ioga
deriva do radical sânscrito yuj, que quer dizer fusão ou união. A finalidade é
juntar o homem, o mortal, com o Infinito, a Luz, a Verdade, a Consciência
Universal. Hatha que dizer sol e lua, diz respeito às qualidades solares e
lunares da respiração e ao Prana (forma sutil de energia). Na Índia são
reconhecidas sete escolas de Yoga: Raja Yoga, Karma Yoga, Jnana Yoga,
Hatha Yoga, Laya Yoga, Bhakti Yoga e Mantra Yoga. Todas essas escolas
reconhecem a existência dos chacras. A Laya Yoga é a escola que dá mais
atenção aos chacras, e o seu método consiste em despertar os níveis mais
elevados do fogo serpentino, e forçá-lo a passar pelos chacras um a um.
Inspirando! Peito para fora! Barriga para dentro!
Fisiologicamente uma contravenção. O natural, portanto, o
sadio é extremamente o oposto. Uma respiração plena
engloba a baixa, a média e a alta.
Quando a natureza ainda prevalece, na baixa
inspiramos graças a um discreto avançar do ventre,
permitindo ao diafragma descer, o que aumenta o vazio
interno; vazio este que é imediata e automaticamente
preenchido pelo ar que invade os pulmões. Na expiração, o
vazio deixado pelo gás carbônico permite ao diafragma
novamente subir.
A respiração média é produzida pelo alargamento
seguido do estreitamento horizontal da parte média da caixa
torácica, graças à ação dos músculos intercostais.
74
A respiração alta resulta da movimentação vertical da
caixa torácica – subindo na inspiração e descendo na
expiração, graças ao trabalho dos músculos esternocleidos
(HERMÓGENES, p.320 e 321, 2012).
É preciso lembrar que a degradação do aparelho respiratório é feita
pela vida sedentária, o mau hábito do fumo e pelo excesso de gordura na
região abdominal, principalmente nas pessoas idosas, que acabam apenas
conseguindo a respiração alta.
O ventre na concepção iogue em geral, é a sede da Kundalini, que
mora no assoalho pélvico. Segundo OSHO (2011), O ser humano é dividido
em sete corpos: físico, etéreo, astral, mental ou psíquico, espiritual, cósmico
e nirvânico ou nirvana sharir. O corpo físico, sthul sharir, é formado nos
primeiros sete anos de vida. Os animais desenvolvem apenas esse corpo e
há pessoas que não passam desses primeiros sete anos; dos sete anos aos
14 anos de idade, se desenvolve o corpo etéreo, bhawa sharir, esse período
são anos de crescimento emocional; dos 14 aos 21 anos de idade, é
desenvolvido o corpo astral, sukshma sharir, que envolve o crescimento da
razão, do pensamento e do intelecto. Esses atributos são resultados da
educação, da cultura e da civilização. A maioria das pessoas não se
desenvolve além dos 21 anos de idade, o crescimento delas para com o
terceiro corpo e não há mais crescimento para o resto de suas vidas; dos 21
aos 28 anos de idade, poucos desenvolvem o quarto corpo, manas sharir,
que é o corpo mental ou psíquico. Esse corpo tem um grande potencial e é
subjetivo, no mundo desse corpo há perigos e ganhos. Os sonhos são
acontecimentos do quarto corpo e a Kundalini também, por isso é um
fenômeno psíquico; Raras são as pessoas que descobrem o quinto corpo, o
atma sharir (corpo espiritual), conhecidas como espiritualistas esse corpo
desenvolve-se dos 28 aos 35 anos de idade, a libertação é experiência desta
fase; o sexto corpo, que é o cósmico, brama sharir, se desenvolve dos 35
anos aos 42 anos de idade, chegando a esse estágio haverá a possibilidade
de realização divina; dos 42 aos 49 anos de idade, desenvolve-se o sétimo
corpo, estado incorpóreo, nirvânico, onde permanece apenas o vazio. A
75
palavra nirvana implica a extinção da chama. Num período de 49 anos se
desenvolvem sete corpos, por isso os 50 anos e 75 anos de idade são
pontos de revolução: com 50 anos a pessoa se torna um wanaprasth e aos
75 anos um sannyas.
Há diferenças nos primeiros quatro corpos dos homens e das
mulheres, os corpos masculinos e femininos são corpos positivos e
negativos. O corpo físico da mulher é negativo. Em termos de eletricidade,
negativo significa receptividade, reservatório. No corpo da mulher, a energia
fica guardada. Por isso o poder de resistência da mulher e sua capacidade
de persistir são maiores do que a dos homens. As mulheres ficam menos
doentes e sua longevidade é maior do que a dos homens. Para cada cem
mulheres, nascem 116 homens (OSHO, 2011).
Mas, o que é a Kundalini?
É uma energia adormecida e suas
energias se estendem do centro sexual até o centro do topo da cabeça. A
Kundalini é a energia da vida que ativa os chacras e se movimenta dentro do
corpo, pela coluna vertebral (Merudanda). Duas serpentes simbolizam a
Kundalini ou fogo serpentino. Como toda energia é invisível; mas no corpo
humano ela se reveste de um curioso invólucro de esferas concêntricas de
matéria astral e etérica, uma dentro da outra. Existem sete dessas esferas
concêntricas dentro do chacra básico, dentro e em torno da última câmara
da cavidade da espinha dorsal, junto ao cóccix. A Kundalini reside no
Muladhara, que é o chakra-raiz, conhecido como “portão da vida e da
morte”. É descrita como uma devi ou deusa luminosa como o raio, que
permanece adormecida no chacra básico, enrolada como uma serpente três
vezes e meia em torno do svayambhu linga que ali se encontra, e fechando
a entrada de sushumna com a cabeça. Chakras ou Chacras, na palavra
sânscrita significa roda, círculo ou movimento. Os sete chakras principais
são centros de consciência, os três últimos estão no ventre: Plexo Solar
(Manipura),
acima
do
umbigo,
na
boca
do
estômago;
Esplênico
(Swadhisthana), umbilical ou sexual, localiza-se na lombar e abaixo do
umbigo e controla as glândulas supra-renais e o Básico (Muladhara) situa-se
nos órgãos genital e pélvico e é a sede da Kundalini. Os quatro chacras
76
restantes são: Cardíaco (Anahata); Laríngeo (Vishuddha); Frontal (Ajnã) e
Coronário (Sahasrara) (LEADBEATER, 2010).
Como explica a psicóloga Lucy Penna (PENNA, p. 81, 1993), “o
ventre está muito além de ser um saco vísceras, como insinuam os livros
escolares”.
A consciência dos planos psicológicos e simbólicos
relativos às funções do ventre tem aumentado nos últimos
dez
anos.
Dietas
para
emagrecer,
macrobiótica,
vegetarianismo, a preocupação com os agrotóxicos e a
qualidade do que ingere mostra que o cidadão das capitais
modernas está aberto às mudanças.
Já se fala na associação entre alimento e afeto com
mais regularidade. A percepção do mal que a desnutrição
alimentar e emocional causa nas pessoas de todas as
idades
é
geralmente
reconhecida
pelos
pediatras,
educadores e pais. (...) Não obstante, estamos no limiar da
percepção integrada do corpo enquanto conjunto físico, que
a ciência ocidental descreve, e campo de energias, como
propõem o Oriente. Tal união de perspectivas e de valores é
crucial para a sobrevivência pacífica deste planeta (PENNA,
p. 81 e 82, 1993).
Na organização psicomotora da mulher, o equilíbrio no espaço é um
dos pontos principais. Talvez por isso que algumas atividades como a dança
e algumas modalidades de ginástica sejam mais accessíveis. Na dança do
Ventre, o conjunto de flexibilidade, leveza e sensualidade do corpo feminino,
faz dela uma dança estritamente feminina. Na sabedoria natural e primária
dos povos da Antiguidade, essa dança ritualista, na verdade naturalmente
psicomotora, reunia todos os ensinamentos e educação corporal do
elemento feminino. O ventre é um lugar sagrado carregado de simbolismo. A
ondulação do corpo feminino na dança reascende a energia da Kundalini, e
assim os corpos se energizam com o infinito, é um treinamento para domar o
próprio corpo e a perfeição dos movimentos conduz ao autoconhecimento e
77
ao crescimento pessoal. A consciência do EU, através do ventre se relaciona
com outras consciências: do mundo, das pessoas, dos objetos, da vida e da
capacidade de viver, recriando este mesmo universo numa única dança, que
congrega: Corpo Mente e Espírito.
É preciso transformar a vida que coxeia em uma vida que dança,
por meio da compreensão e da aceitação (LELOUP, 2012).
3.2 Racks El Sharqi, A Dança do Leste
Conhecida como “Dança do Ventre”, denominação recebida por
ocasião da expedição de Napoleão no Egito em 1798. Pouco se sabe da sua
remota origem, mas através dos achados arqueológicos sabe-se que a
dança é muito antiga, ritualista e de fecundação. Fertilidade e o milagre da
vida eram tudo o que se desejava nas sociedades antigas.
A dança é um fenômeno que sempre se mostrou como expressão
humana, seja em rituais, como forma de lazer ou como linguagem artística.
Neste sentido, ela é uma possibilidade de expressão e também de
comunicação humana que, através de diálogos corporais e verbais, viabiliza
o autoconhecimento, os conhecimentos sobre os outros, a expressão
individual e coletiva e a comunicação entre as pessoas. Pode-se dividir a
dança em três formas distintas: étnica, folclórica e teatral. Pensando a dança
como manifestação humana no mundo, é possível dizer que ela é uma
maneira de vivenciar a corporeidade, integrando o sensível e o racional, o
pensamento e a ação. Segundo PORTINARI (1989), especialistas
pesquisadores como Susan K. Langer (filosofia da arte) e Curt Sanchs
(musicólogo) consideram a conquista da gravidade como o principal atributo
da dança, enquanto arte. A conquista da gravidade é uma das
características da dança, mas não a principal. Observando a natureza podese dizer que a dança precedeu o homem: movimentos considerados
dançantes integram a rotina de diferentes espécies animais para o
acasalamento. Como se vê a dança está sempre direcionada para o ritual da
78
fertilidade. Sem dúvida, a dança é um elemento primário e uma
manifestação instintiva, que ajudou a desenvolver as capacidades para o
surgimento da música, da escrita, da pintura e, mais além para a criação das
estruturas capazes de formar a sociedade.
Uma das características marcantes da arte da dança é sua simbiose
com a religião, portanto é correto afirmar que a dança nasceu da religião e é
reprimida mais tarde na era do cristianismo pela própria religião. O corpo era
usado como instrumento para alcançar o sagrado, a oportunidade de
dissolver o ego e se aproximar do celestial. Até hoje essa técnica é usada
em diversas religiões. Os místicos do Islã e os sufis utilizam movimentos
seculares para alterar seu estado natural e por meio da dança chegar perto
do criador. Essas danças recebem o nome de Dhikr, que significa chamar
ou religar a Deus, ou Racks, que significa estremecer e agitar o coração.
Como elemento primário, com certeza o homem primeiro descobriu o
som do seu corpo com palmas e sons vocálicos, a respiração e a pulsação
estão conectadas ao movimento. Depois descobriu que podia tocar. Os
instrumentos de percussão foram os primeiros, pois estão ligados ao lado
instintivo, primitivo e fisiológico e mais ligados aos quadris; os instrumentos
melódicos, foram criados a seguir, quando os homens desenvolvem
consciência das suas emoções, esses instrumentos estão relacionados a
região do tronco e mais tarde quando o ser humano desenvolve seu intelecto
e se torna mais racional, surgem os instrumentos harmônicos, ligados à
mente humana (ATON, 2000).
A mulher ancestral do período pré-histórico vivia imersa em sua
natureza pelo tempo em que podia viver. As condições de vida da época
eram muito rudimentares e difíceis, as mulheres desenvolviam muitas
atividades: conseguir alimentos e cozinhá-los, cuidar da sua prole e trabalhar
a terra desde o amanhecer até o por do sol. Todas essas tarefas eram feitas
ao ar livre, por isso as mulheres da época garantiram um grande volume de
exercícios físicos e flexibilidade natural de movimentos, além de uma
excelente musculatura e resistência física (MOHAMED, 1998). Surgem nas
arcaicas sociedades agrícolas os rituais de fertilidade, sendo uma maneira
79
mágica de controlar a natureza simulando o seu ciclo e garantindo assim a
continuidade da vida.
A mais antiga imagem da dança data do mesolítico
(cerca de 8.300 A.c). Foi descoberta na caverna de Cogul,
que fica na província de Lérida, na Espanha. Mostra nove
mulheres em torno de um homem despido, indicando ritual
de fertilidade. No livro World History of Dance, Curt Sachs
analisa esse desenho como registro de uma tosca ronda
dançante que atravessou milênios e prenunciava a mítica
dança de Apolo cercado pelas nove musas (PORTINARI, p.
17, 1989).
Através de sacrifícios de sangue, símbolos fálicos, máscaras, danças
e dramatizações, com toda essa magia transmitiam-se a terra a mesma
capacidade
reprodutiva
de
fêmeas
humanas
e
animais.
Segundo
PORTINARI (1989), é desses rituais que nasce uma dança que sobrevive
até hoje, a “Dança do Ventre”.
No livro The White Goddess, Robert Graves a inclui
como uma das principais manifestações no culto da deusamãe. Por seu lado, Havelock Ellis em Dance of Life
analisou-a em relação ao matriarcado: teria sido no início,
um cerimonial secreto do qual os homens eram banidos
(PORTINARI, p. 18, 1989).
A partir do século XIX, com a expedição de Napoleão ao Egito e a
decifração dos misteriosos hieróglifos da pedra Roseta, por Champollion,
abriram as portas da civilização egípcia para o mundo ocidental, cujo
interesse começava a ser despertado para a arqueologia. Esta tendência é
reforçada pelo gosto de viagens distante, muito difundido entre os europeus
da época. O século vai presenciar o nascimento da ciência histórica que
igualmente descobrirá as civilizações soterradas pelas areias há milênios.
80
Na sucessão das grandes descobertas, há uma região menos beneficiada
pelo interesse dos eruditos: a Anatólia, ou “País do Sol Nascente”, como a
chamavam os gregos.
A febre das expedições arqueológicas pelos
europeus e todo o interesse se concentrava no Egito e na Mesopotâmia. Na
Ásia Menor, apenas procuravam os vestígios do período Greco-romano.
Ninguém teria arriscado de que a região tivesse abrigado uma poderosa
civilização. A descoberta de Estados e cidades esquecidas como Çatal
Hoyuk ou Chatal Hüyük (grupo de duas colinas, a mil metros de altitude),
reconhecida pela primeira vez em 1958 por James Mellaart e dois
arqueólogos ingleses, Alan Hall e David French, deu luz nova à história,
demonstrando o interesse primordial que apresenta a Ásia Menor anatoliana
para a gênese e o desenvolvimento das civilizações do Oriente próximo
antigo. A riqueza do material encontrado, a qualidade de vestígios trazidos à
luz e o grande número de santuários revelados apenas na parte oeste da
cidade permitem a reconstituição de um quadro completo da vida, da arte e
das crenças de uma civilização de oito milênios! Neste sítio arqueológico
foram encontrados evidências de que a deusa Ishtar já era cultuada em
época afastada. Desde aquela época os rituais à Deusa incluíam danças e
instrumentos sonoros e estavam ligados às funções vitais. Vários relatos
detalhados de pesquisadores descrevem com detalhes os achados de
Chatal Hüyük. Os locais sagrados eram pontos de encontro onde o
nascimento, a morte e a regeneração eram celebradas com a dança e outros
rituais, incluindo observação do parto e relacionamento sexual. A fertilidade
feminina correspondia à fertilidade dos animais e do solo. As divindades
passaram a ser representadas e adoradas em forma de figuras femininas. A
mulher parece ter gozado de condição social muito evoluída, relacionada
talvez à importância que lhe dava o papel desempenhado na vida doméstica
(PENNA, 1993).
Em árabe Racks el Sharqi significa Dança do Leste e porquê
denominada dança do leste? Ao leste do planeta terra fica a grande Ásia, o
próprio nome já diz e é no leste que o sol nasce. O sol é astro de pura
energia e vital para o desenvolvimento e preservação de todos os seres de
todos os reinos da terra. Segundo a veterana e precursora de dança do
81
ventre no Brasil, a armênia Shehrazad, Dança do Leste, significa onde o sol
nasce de onde a mulher recebe as energias e o poder do sol e sua relação
com os ciclos da natureza. Esta dança oriental recebeu influência de
diversos povos e culturas orientais. Desde os tempos pré-históricos, essa
dança veio sofrendo mudanças em sua evolução. Porém, com o contínuo
intercâmbio cultural, tornou-se uma dança popular e passou a fazer parte
das celebrações, nascimento, casamento e festa. Por ser uma arte muito
antiga, sem fronteiras e por ter sobrevivido a diferentes povos e em
diferentes civilizações, há muito mistério e informação controversa sobre a
Dança do Ventre. A começar pela denominação que ficou conhecida no
Ocidente como “Danse Du Ventre” (Frances) ou “Belly Dance” (Inglês).
Ainda se discute acaloradamente para saber qual das grandes
civilizações da Antiguidade foi à primeira. A maioria das opiniões parece
favorável à Egípcia; não obstante um número respeitável de autoridades
advogarem os direitos do vale Tigre e Eufrates (Mesopotâmia). Outros
especialistas preferem o Elam, região situada a leste do vale Tigre-Eufrates
e margeando o Golfo Pérsico. Mas, devido às descobertas arqueológicas
nos últimos tempos do século XX, há fortes razões para se acreditar que o
vale do Nilo e do Tigre-Eufrates foram os berços das mais antigas culturas
históricas. Essas duas áreas eram geograficamente, as mais favorecidas da
região chamada Crescente Fértil.
O Crescente Fértil é a vasta faixa de terra produtiva que se estende
para o nordeste do Golfo Pérsico, daí descendo pela costa do Mediterrâneo
até quase o Egito, formando um semicírculo a contornar a parte norte do
deserto da Arábia. Nesta região foi encontrado o maior número de artefatos
da Antiguidade incontestável do que em qualquer outra parte do Oriente
Próximo (região do mundo antigo que compreendia a Mesopotâmia, o Egito
e a área habitada pelos Hebreus. Atualmente corresponde ao Oriente Médio:
Iraque, Turquia, Chipre, Israel, Egito, Iêmen, Síria, Omã, Qatar, Bahrein,
Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Irã, Arábia Saudita, Kuwait e Líbano).
Além disso, o progresso nas artes e nas ciências tinha atingido um nível sem
par em ambas essas áreas já pelas alturas do ano 3000 a.C., quando quase
todo o resto do mundo estava ainda mergulhado na ignorância.
82
As regiões do vales do Nilo e do Tigre-Eufrates apresentavam
excelentes vantagens para o desenvolvimento de sociedades devido a seus
fatores geográficos, por serem solos férteis, pela grande extensão de seus
territórios, pelos rios navegáveis (favorecendo a comunicação entre as
populações) e ricos em peixes e aves marinhas (favorecendo a proteína na
alimentação), além das excelentes condições climáticas, sendo a do Egito
melhor do que a da Mesopotâmia; nesta região o verão era mais quente, a
umidade mais alta e havia mais doenças tropicais, por outro lado a queda de
chuva era mais abundante (ARRUDA E PILETTI, 2003).
As
civilizações
Egípcias
e
os
povos
da
Mesopotâmica
se
desenvolveram paralelamente, ambas eram de religião politeísta e
acreditavam que seus deuses estavam relacionados a elementos da
natureza.
Os pioneiros no desenvolvimento da civilização na região da
Mesopotâmica foram os sumérios (3.500 a 3000 a.C), sua origem precisa é
desconhecida, mas parece que vieram do planalto da Ásia Central. Muitos
pesquisadores da evolução da dança atribuem aos sumerianos à origem
primitiva Dança do Ventre, em louvor ritualista à Grande Mãe, Deusa Ishtar.
A deusa Inana, cujo nome semítico é Ishtar, apresenta
uma imagem simbólica multifacetada, um modelo de
totalidade do feminino que se projeta para além do aspecto
meramente maternal. Outras deusas da Suméria eram
grandes mães do mar e da terra. (...)
Entretanto, apesar de todo o poder enquanto deusa da
fertilidade, ordem, guerra, amor, bem como do céu, da cura,
das emoções e da canção; apesar de ostentar o título de
Senhora dos Mil Ofícios e Rainha, Inana é uma errante. (...)
Ela está mais relacionada à terra do que o bem e ao
mal. Sua descida e retorno oferecem, todavia, um modelo
para
nossas
próprias
jornadas
(PERERA, p. 27, 31 e 35, 1985).
psicológico-espirituais
83
A dança antiga que as sumérias, acádias, babilônias, egípcias e
asiáticas aprenderam de suas ancestrais foi uma expressão ritual e sagrada
da identificação da mulher e da Deusa. Pelo treinamento que essa dança
proporcionava, as moças conseguiam superar o medo, criar filhos saudáveis
e sobreviver às rudes condições da época. Essa comunhão com as
divindades lhes trazia força e esperança para sua própria sobrevivência na
terra. A dança de movimentos sinuosos e eróticos, que insinuavam a
fecundação, num ambiente de alegria e prazer, ajuda essas mulheres a
realizar seu treinamento físico e psicológico para o desempenho de suas
funções sexuais e maternais (PENNA, 1993).
De todas as civilizações que se desenvolveram no Crescente Fértil, o
Egito se destaca como uma das mais importantes. Pois foram responsáveis
por uma civilização extremamente original! Devido ao seu isolamento
geográfico, que além de protegê-los de invasores, garantiu a eles traços
culturais razoavelmente homogêneos e intercâmbio limitado com outros
povos. A antiga sociedade egípcia se formou da mistura de vários povos:
hamíticos, semitas e os núbios, e sua história está dividida em Antigo, Médio
e Novo Império. O poder dos Faraós era imenso e divino. O Egito sofreu
poucas invasões como a dos hicsos (vindos da Ásia) no Médio Império e
sendo expulsos no Novo Império; no séc. VII a.C, os assírios invadiram o
país e em 525 a.C., os Persas colocando o fim da independência egípcia.
Depois veio o domínio de Alexandre, o Magno e a partir de 30 a.C, os
romanos.
Pierre Montet (1885 – 1966), egiptólogo francês em seu livro “La Vie
Quotidienne em Égypte au temps dês Ramsés (Séculos XIII – XII a.C.), faz
uma descrição detalhada sobre as danças e música nos palácios, templos e
nas casas das famílias egípcias. Segundo MONTET (1946), o passatempo
preferido das moças egípcias era a dança, até os jogos da infância e
adolescência eram jogos de dança (ANEXO 1). Talvez por isso algumas
performances na dança sejam meio acrobatas, como por exemplo: a Ponte
(ANEXO 2). As canções invocavam a Deusa Hathor, padroeira dos prazeres,
da beleza, da música e da dança. Nos quartos do harém havia sempre
muitos instrumentos musicais: harpas, cítaras, alaúdes, pandeiros, etc. Os
84
instrumentos musicais foram evoluindo e se transformando durante os
Impérios egípcio (ANEXO 3). Duas profissões fizeram parte da vida feminina
no Antigo Egito: dançarina e musicista. Todas as meninas deveriam dançar
mesmo aquelas que não desejavam tornarem-se bailarinas profissionais.
As danças egípcias na Antiguidade dividiam-se em:
Danças Sagradas – realizadas para rituais em templos em reverência
aos deuses;
Danças de Energização – realizadas antes dos rituais nos templos,
com a finalidade de energizar e transmutar uma vibração mais densa;
Danças Funerárias – dançadas nos rituais fúnebres, lamentando a
morte de alguém, descrevendo a passagem na terra e pedindo aos deuses o
seu perdão;
Danças Profanas – usadas em festividades e cerimônias quando as
bailarinas apresentavam-se quase nuas ou somente com tapa-sexo.
O principal centro do culto de Osíris ficava em Abydos.
Ali, todos os anos, antecedendo a época da cheia do rio
Nilo, realizava-se um festival que dramatizava o mito diante
de milhares de fiéis. Em procissão solene, os sacerdotes
entravam no templo, acompanhados por músicos e
dançarinas. (...)
Fragmentos de textos e imagens atestam que o
mistério de Osíris era uma festa especial desde 3000 a.C.,
coincidindo com a primeira dinastia que se seguiu a um
lendário rei Narmer, ou Menes, unificador do baixo e do alto
Egito (PORTINARI, p. 21, 1989).
Todos os templos do antigo Egito possuíam um corpo de cantoras,
cujo ofício consistia em cantar agitando o sistro (instrumento de percussão
de som achocalhado) e os crótalos (castanholas de marfim ou madeira)
durante as cerimônias, para expulsar do ambiente os maus espíritos. Um
grande número de mulheres participava dos cultos, mas não habitavam nos
templos, mas sim com suas famílias, pois suas funções nos cultos só eram
exigidas em certos dias e horas. As mulheres que compunham a Khenerit
85
deviam residir nos templos. A palavra Khener significa prisão ou partes
exclusivas de um templo ou palácio. As suas superioras eram a mulher
divina do deus, a mão divina ou a divina adoradora. As mulheres que eram
sacerdotisas e dançarinas preparavam-se para entrar em contato com a
Deusa, através de sacrifícios, jejuns e, finalmente a dança sagrada.
Mais tarde já no século XVI, o Egito foi incorporado ao Império
Otomano, pelo Sultão Selim I e nesse período de dominação otomana viveu
em relativa obscuridade, tornando-se uma província atrasada do Império
Otomano; só Istambul brilhava!
Todos esses conhecimentos vieram à tona para o Ocidente, a partir
do século XIX, graças à disputa política e de poder entre a França e a
Inglaterra; essa foi a herança de Napoleão Bonaparte e uma nova cultura
científica e secularista do Ocidente invadiram o mundo mulçumano, que
nunca mais seria o mesmo. A expedição de Napoleão de 4300 soldados,
que invadiu o Egito em 1º de julho de 1798, levava consigo um grupo de
estudiosos, uma biblioteca da moderna literatura européia, um laboratório
científico e um prelo com caracteres arábicos. A invasão francesa no Egito
inaugurou uma nova fase de relações entre Oriente e Ocidente, pois
Napoleão se apresentou como portador do progresso e do conhecimento e
como libertador. A partir da invasão napoleônica o Ocidente passou a
controlar o Oriente Médio.
Depois de derrotar os mamelucos na batalha das
pirâmides, em 21 de julho de 1798, expediu uma
proclamação, em árabe, prometendo libertar o Egito do jugo
estrangeiro. Durante séculos os mamelucos da Circássia e
da Georgia exploraram os egípcios, mas agora essa tirania
chegara ao fim. Ciente de que os ulemás representavam o
povo, Napoleão lhes assegurou que não era um cruzado
moderno e pediu-lhes que tranqüilizassem quem pensava
que ele estava ali para destruir a religião (ARMSTRONG, p.
161 E 162, 2009).
86
Foi com a invasão de Napoleão ao Egito que o Ocidente passou a
conhecer a dança sagrada e ancestral. Nesta época no Egito existiam duas
castas de dançarinas: as Awalim, plural de Almeh, que eram cortesãs de
luxo, que viviam nos palácios (ANEXO 4). Eram cultas, poetizas
instrumentistas, compositoras, cantoras e dançarinas, apresentavam--se
com véus e portava-se com muita descrição; e a outra casta eram as
exóticas Ghawazee, plural de Ghazeya, ciganas descendentes dos grupos
dumi (ou nawar) e helebi (o mais comum no Egito)
essas
dançarinas
populares dos povos Tziganes (ciganos), vestiam vestidos folclóricos, chador
de medalhas e os cabelos enfeitados por moedas e o casaco Ghawazee
(peça de origem Persa introduzido no Egito durante o Império Otomano),
com o corte abaixo do busto. Dançavam nas ruas com instrumentos
diversos. Essas danças impressionaram os franceses, que maravilhados e
vendo o movimento sinuoso que faziam com o ventre denominaram essa
dança, como “Danse du Ventre”.
Foi no alvorecer do século XIX que a Dança do Ventre, ficou
conhecida no mundo Ocidental, mas como uma arte ligada à sedução e a
sexualidade e a erotização; devido aos artistas europeus que faziam em
suas retratações seus próprios ajustamentos fantasiosos (ANEXOS 4, 5, 6).
Foi nesse século que a dança do ventre figurou como um dos mais
importantes atrativos para turistas no Egito, em conjunto com as pirâmides.
Por concentrar grande parte de suas técnicas de dança nos quadris e pela
sensualidade dos movimentos sinuosos a dança do ventre é considerada
como um código corporal de forte apelo erótico, que incomoda as
praticantes, pois seu conceito fica ligado à idéia de sedução e prostituição. O
imaginário formado pelo processo colonizador europeu foi tão forte que
permeia a cultura de massa ocidental, principalmente a brasileira. Assim, as
odaliscas passam a ser arquétipos de mulheres fáceis, sedutoras e artistas
do sexo, como as mulheres stripper.
Mas todos esses conceitos têm uma razão de existir. No caso das
Awalim, com a chegada do exército francês no Egito e como viviam com as
elites dominantes que eram os Mamelucos (domínio Otomano) derrotados
por Napoleão; essa casta de dançarinas fugiu com medo para o Sul do Egito
87
e só voltaram em 1801, quando os ingleses expulsaram os franceses do
Egito. Durante ao longo do tempo a imagem das Awalim foi mudando: no
séc. XVIII era artista de corte, que recitava e cantava; no início do século XIX
eram apontadas como cantoras e dançarinas e em 1850, com o declínio da
casta tornaram-se dançarinas e prostitutas.
As alegres Ghawazee, dançarinas ciganas e populares nas ruas do
Egito, descobriram no exército francês, clientes em potencial. Temendo que
essas mulheres pudessem ameaçar a ordem e a disciplina dos soldados,
foram punidas pelos Generais do exército francês com o apoio dos Ulemás
(teólogos mulçumanos), que eram contra a expressão artística da dança das
Ghawazee, por considerarem elas impuras e provocantes. E entre as muitas
barbaridades cometidas contra essas dançarinas, quatrocentas delas foram
decapitadas e jogadas no Rio Nilo e outras fuziladas (acusadas de terem
transmitido sífilis para os soldados franceses) e outras mais trancadas na
Grande Cidadela. Muitas dessas dançarinas fugiram para o Sul do Egito,
concentrando-se em Luxor, Qenah e Essna. Em 1866, durante o governo de
Ismail (1830 – 1895) descendente do grande paxá Muhammad Ali, que as
Ghawazee puderam retornar ao Cairo e aos seus cargos profissionais sem
problemas, mas pagando taxas ao governo pelas performances.
Com o êxodo das Ghawazee para o Sul do Egito, foi encontrado por
essas dançarinas o ritmo Said (no Sul o ritmo Maqsoum, compasso 4/4, que
é o pai de todos os ritmos chama-se Said). A característica da estrutura da
dança Ghawazee é o ritmo Said combinado com o Mizmar (espécie de oboé,
instrumento de sopro), ou agregado a outros instrumentos, como por
exemplo, a Rebeca (precursor do violino) ou Nay (flauta de bambu), tanto no
Sul como no Norte. A música na dança Ghawazee tem o ritmo Said ou
Maqsoum com o solista principal Mizmar baladi. No sul usa-se o Nay para a
dança Ghawazee.
Com a expulsão dos franceses pelos ingleses em 1801, a mudança
no Egito foi caótica. Os ingleses devolveram o país ao jugo do Império
Otomano:
88
Os mamelucos não aceitaram o novo governador turco
e durante dois anos lutaram com os janízaros e os
albaneses enviados pelos otomanos, aterrorizando a
população. Na confusão o jovem oficial albanês Muhammad
Ali (1796 – 1849) assumiu o poder. Cansados de tanta
desordem e decepcionados com a incompetência dos
mamelucos, os ulemás o apoiaram (ARMSTRONG, p. 163,
2009).
O governante Muhammad Ali (1801 – 1849) foi uma figura
extraordinária, realizando uma façanha, quando morreu tinha sozinho
modernizado o Egito. Depois de sua morte seus sucessores foram seus
filhos e netos. O maior legado de Muhammad foi o cultivo de algodão, que
se converteu em valioso produto de exportação. Em 1834, através de um
decreto lei Muhammad Ali, a pedido dos Ulemás, proibiu as danças nas vias
públicas do Cairo e as dançarinas foram exiladas para o Sul do Egito.
Ao final do século XIX, as potências européias muito poderosas
estavam invadindo o mundo islâmico e começando a desmantelar seus
Impérios. Os egípcios, por exemplo, eram obrigados a viver num mundo
duplo: um moderno e ocidental e o outro tradicional. Esse dualismo
provocaria uma grande crise de identidade que por volta das décadas de 20
e 50 do século XX vai implodir e, como em outras experiências de
modernização, algumas surpreendentes soluções religiosas (HOURANI,
2006).
Foi também, no final do século XIX, que dois eventos importantes em
dois continentes estratégicos do mundo ocidental, revelaram para o mundo
ocidental a polêmica dança do ventre.
Em 1889, para comemorar o centenário da Revolução Francesa
(1798), a cidade de Paris, na França foi palco de uma badalada Exposição
Universal. A torre Eiffel foi construída para esse evento, servia de entrada
para a exposição e tornou-se o seu símbolo principal (ainda hoje é um dos
monumentos mais visitados no mundo). Cerca de 28.000 pessoas de vários
lugares do mundo, visitaram essa exposição, que cobria uma área total de
0.96 Km2 e durou cerca de sete meses. Nesta área foram construídos:
89
palácios, casas chinesas, templos maias, pavilhões indianos, mesquitas e
inúmeros pavilhões de colônias e países do mundo que deleitavam os
olhares dos visitantes. Nesses pavilhões orientais se apresentaram as
dançarinas Algerianas. A dança do ventre foi difundida pelas dançarinas
Ouled Nail (denominação da região de origem dessas dançarinas
algerianas) e apreciada por milhares de ocidentais.
A cultura dessas dançarinas é muito diferente das egípcias e a
maneira de enxergar os conceitos de dança também, devido às diferenças
religiosas, econômicas, políticas e ambientais. A Argélia é um país de
origem berbere, situada ao norte da África e que sofreu muito o domínio
árabe até a chegada dos franceses, que dominaram a Argélia em 1830.
Essas dançarinas não tinham origem cigana e desde criança eram treinadas
para a arte da dança. O objetivo da dança era ganhar dinheiro para o dote
de seu casamento. Abandonavam suas aldeias e iam para as cidades para
dançar e às vezes até se prostituir, pois a qualidade do casamento seria
assegurada pela riqueza do dote financeiro. Depois de casadas tornavam-se
mães e esposas dedicadas. Durante suas performances nas ruas da cidade,
usavam uma maquiagem carregada a fim de impressionar e hipnotizar a
platéia, com olhos escurecidos por Kohl (tipo de delineador preto usado
como proteção por moradores do deserto) e o rosto tatuado. Usavam muitas
jóias de adorno, xales com moedas e seus trajes eram uma saia volumosa.
Na cabeça toucas adornada por penas, moedas e outros acessórios. Os
cabelos oleados e trançados sobre as orelhas. A dança era bem provocante,
estilo terra, com muitos shimmies (tremidos de pernas, quadris, ventre ou
tronco); ondulações e torção dos quadris sempre pesados e que estavam
sempre junto com os movimentos ondulatórios do ventre. Movimentavam
também bastante o tronco e a cabeça.
As danças orientais apresentadas nas Exposições Internacionais
arrecadaram imensas quantias em dinheiro por causa do choque causado às
mulheres da Era Vitoriana. O sensacionalismo despertado a partir dos
movimentos improvisados e selvagens dos quadris das dançarinas nas
feiras atraía milhares de curiosos, que muitas vezes vinham a essas
Exposições só para assistir essas apresentações.
90
Um desses curiosos foi o jovem empresário de música Sol Bloom
(1870-1949), que deslumbrado com a atuação das dançarinas e acrobatas
da “Aldeia Argelina”, formou grupos de danças através do patrocínio de
vários grupos do Oriente Médio e Norte da África. Em 1893, a América do
Norte conhece a dança do ventre, através das dançarinas exóticas da
Argélia.
A Exposição Mundial de Chicago, em 1893, foi realizada no Jackson
Park, numa área de 277 hectares e durou cerca de seis meses, recebendo
um público de 27 milhões de visitantes. Para comemorar os “400 anos do
Descobrimento da América”, foi construída a grande roda gigante “Ferris
Wheel” e a “White City”. Ficou registrado para a história que a grande
atração foi a dançarina “Little Egypt” (pequeno Egito). Esse nome passou a
significar bailarina de dança exótica e foi adotado por outras artistas.
Com a invenção do cinema pelos irmãos Lumiére, a dança do ventre
ganha espaço para divulgação da sua arte. Várias causas explicam o porquê
do Egito, mais do que qualquer outro país árabe, africano ou mulçumano o
cinema tenha se desenvolvido durante a primeira metade do século XX.
Durante a ocupação européia, várias mudanças influenciaram na vida
econômica, e nos costumes sociais dos povos apossados da África. A idéia
modernista inglesa, embora de difícil compreensão para os mulçumanos,
acabou por influenciar o urbanismo e o estilo de vida dos egípcios. Os
teatros proporcionavam novos modos de ver a sociedade. A aristocracia do
Cairo podia assistir a apresentações de companhias excursionistas do teatro
clássico francês ou ópera italiana. Mesmo com o domínio da cultura
imperialista, a idéia do nacionalismo sempre existiu; mas só se tornou
importante nas últimas décadas antes da primeira Guerra Mundial.
Esse foi um dos principais motivos para o desenvolvimento do cinema
do Egito: ao desenvolvimento da arte dramática (o público do cinema era o
mesmo dos teatros) e a subida do nacionalismo de onde se desenrolou a
grande revolução popular de 1919 e a conquista egípcia da independência
política em 1922 e por fim a Constituição de 1923 (a primeira das
Constituições modernas dos árabes e mulçumanos) (HOURANI, 2006).
91
Depois da Primeira Guerra Mundial, o Egito passa a ser a Capital do
lazer para os estrangeiros no mundo árabe e sofre influências do cinema
hollywoodiano. O estilo cabaré teve início em 1920, nas noites do Líbano e
do Egito. Aos poucos, as boates foram alastrando-se, para atender a procura
do público colonial. O Cassino Ópera foi à primeira casa noturna egípcia,
construída no Cairo em 1925 ou 1926, pela dançarina e atriz libanesa Badia
Massabini (1900 – 1975). O salão de Badia tornou-se muito badalado
internacionalmente, neste espaço havia todo tipo de dança, canto,
monólogos, pequenas comédias e muitas dançarinas. Havia também
apresentações tradicionais e até estilos estrangeiros de música e dança.
Badia Massabini deu ao show de dança egípcia uma estrutura, um formato,
dando uma base aos shows e a cada show as bailarinas eram diferentes e
trajavam figurinos muito refinados e sofisticados. Foi sem dúvida pilar
importante na divulgação da arte da dança oriental e na organização da
mesma. Lá passaram grandes nomes que dominaram o cinema egípcio nas
décadas de 40, 50 e 60. Alguns exemplos são: Samia Gamal (conhecida
como a dançarina dos pés descalços) e Tahya Karioca (por suas habilidades
no samba, tipo Carmen Miranda) eram algumas das artistas que foram
divulgadas entre a população árabe pelo cinema. Outra artista, Naima Akef,
de origem circense, foi levada por um coreógrafo russo, para ter seus
movimentos estudados, quando voltou para o Egito, trouxe influências do
balé clássico que havia aprendido para a dança oriental (ATON, 2000).
A dança egípcia pura é o Baladi (compasso 4/4). No salão de Badia
muitos dançarinos, cantores e grupos folclóricos se apresentavam:
A palavra Baladi, significa minha terra, meu país. (...) o
Baladi e o Macksoum são os progenitores de uma árvore
genealógica
rítmica
imensa.
Quando
este
ritmo
é
introduzido, conduz a platéia igualmente, a um êxtase sem
igual, através de suas batidas cadenciadas (ATON, p. 165,
2000).
O espetáculo de Badia passou a corresponder a todas as demandas
econômicas, até tornar-se mais estético, acompanhando igualmente às
92
modificações sofridas na música. Os artistas começam a ganhar espaço na
sociedade, por serem sinônimos de lucro. A arte perde aos poucos o sentido
pejorativo, porque passa a ter uma função de gerar empregos. O espetáculo
passa a ser uma necessidade urbana, vira produto.
Na década de 50, depois de mudanças políticas radicais e com a
resistência cultural a dança do ventre, foi recomendada as dançarinas que
cobrissem a barriga ou ao menos o umbigo. Em 1952, num evento
conhecido como Sábado Negro, os membros e simpatizantes do Wafd,
partido nacionalista popular do Egito, junto aos membros da irmandade
mulçumana, atearam fogo a centros culturais britânicos e franceses. Um dos
espaços atingidos foi à antiga sala de Badia (NIEUWKERK, 1995). Depois
do ano da Revolução Nacionalista Egípcia, com os novos conceitos desse
novo governo, Badia temendo por sua segurança e sua vida voltou para o
Líbano, deixando seu espaço para uma de suas artistas, Beba Azzeiddin.
Em 1952, o Rei Farouk, governante do Egito é deposto pelo
Movimento Nacionalista, liderado por Gamal Abdel Nasser, que tomou o
poder sem violência e é exilado pelo general Mohammed Neguib, que
governa o Egito de 1952 a 54; até Nasser tomar o poder em 54 e ser eleito
Presidente do Egito em 1956. Inaugura-se a partir desse governo um novo
conceito nas artes da dança e música egípcia. Os anos 50, do século XX,
serão de extrema importância na influência de preferência e escolhas de
artistas músicos e dançarinas que serão reverenciadas pelo mundo árabe,
devido ao resgate e o forte censo da Cultura Nacionalista Egípcia: “O Egito
para os Egípcios”.
Um dos mais importantes componentes da identidade nacional
egípcia cristaliza-se em um conceito de difícil apreensão: o Baladi. Essa
palavra
assume
diferentes
sentidos,
a
depender
da
narrativa.
É
comumentemente traduzida como “meu país”, mas pode indicar também
uma comunidade imaginada qualquer – vila, cidade, terra – e também uma
qualidade: algo comportamento, artesania, costume, estilo musical ou
coreográfico. Baladi invoca pertencimento, tradição, autenticidade, “raiz”. É
um conceito de pertença territorial e ideológica. A bint El balad (filha da terra)
e seu correspondente masculino, ibn El balad (plural: awalad El balad),
93
condesam valores e práticas construídas como representações fidedignas
de identidade nacional. Tradições e valores locais remetem a uma unidade
nacional e à delimitação de uma comunidade a partir do entendimento mútuo
dos signos sociais e culturais. Segundo ANDERSON (2005), imagina-se que
a partir de uma exclusão de outros signos alheios aos contornos ideológicos
de uma nação integrada e autônoma. A partir da revolução no Egito, em
1952, é excluído todo signo que lembre a nação o seu estado de colonizado;
inclusive as dançarinas Belly Dance como as do cabaré de Badia Massabini,
não poderiam representar o Egito, devido aos seus figurinos ocidentalizados
e performances clássicas. As mulheres artistas que vão representar o Egito
e incorporariam o novo Egito Nacionalista seriam: a bailarina folclórica
Farida Fahmy (1940, co-fundadora da Trupe Reda) e a famosa e cultuada
cantora Umm Kalthoum (1904 – 1975).
O conceito em música árabe é mover alguém emocionalmente por
meio da música. A cantora, compositora e atriz, de nome artístico, Om
Kalsoum ou Umm Kalthoum, encarnou toda essa qualidade. De origem
pobre, foi reconhecida como uma das mais famosas e ilustres artistas da
história árabe do séc. XX. Sua fama foi impulsionada por vários fatores, na
década de 30 gravou discos e estreou no mundo do cinema egípcio. Depois
suas aparições musicais e a transmissão ao vivo de seus shows,
contribuíram muito para sua fama. A artista se engajou no movimento árabe
nacionalista e incorporou os predicados de um Egito autônomo, poderoso e
orgulhoso de suas tradições. Representava ela mesma, o Egito rural, urbano
e protagonista da união pan-árabe. Na era do rádio na década de 40 e 50 do
século XX, a cantora Umm Kalthoum alcançou uma projeção rara, quando
ela cantava todo o mundo árabe ouvia. Desde 1940, a formação da
orquestra árabe é a mesma, devido à referência da famosa cantora. Sua
música é dançada por todas as bailarinas do ventre e é considerada uma
parte importante da Rotina Clássica. O estilo clássico é conhecido
popularmente como Tarab (em árabe, estado de êxtase e entrega). São
músicas muito longas com até 12 minutos de duração e muito difíceis de
dançar, pois apresentam muitas variações, exigindo da bailarina muita
94
habilidade e conhecimento. O que dá a leitura da música para a bailarina é a
melodia. O ritmo serve apenas para nortear a dança.
O charme das mulheres baladi é natural; a feminilidade é plenamente
aceita
e
a
bailarina
simplesmente
é
a
protagonista
da
dança.
Tradicionalmente, o baladi é dançado com um vestido longo, chamado
Thobe ou Galabi. O baladi se desenvolveu nas cidades egípcias do Cairo e
de Alexandria. Embora no princípio fosse uma música da classe
trabalhadora, sua popularidade cresceu e depois se tornou popular até
mesmo na classe alta. Através do Baladi, foi desenvolvido o Racks el
Sharqi, um estilo formal, sofisticado, mais adequado ao palco; nele
podemos ver uma forma híbrida, com movimentos que nos remetem à dança
da Turquia, Pérsia, Índia e até o balé do Ocidente. A música é composta por
sucessivos Taqsins (solos de improviso). A bailarina se deixa levar pela
música, sem se preocupar com coreografia ou regras determinadas; move o
corpo com uma canção que fala direto ao coração, celebrando o
divertimento ou vivendo sua tristeza. Esse estilo de música nasceu da fusão
da música folclórica egípcia e a música ocidental, mas antes de tudo é
distintamente egípcio em seu caráter, mas mistura instrumentos árabes
tradicionais: daff, mazhar (instrumentos de percussão), nay (instrumento de
sopro, flauta) e tabla (principal instrumento de percussão, tipo tambor); com
instrumentos ocidentais como: acordeom (instrumento principal e mais
comum na música baladi, de origem francesa), clarinete e trompete. O
Baladi é apresentado principalmente com acordeom e tabla, esses dois
instrumentos fazem uma brincadeira de perguntas e respostas, evoluem
para o ritmo Baladi ou Macksoum (compasso 4/4) e depois crescem para
sua finalização com o ritmo dos camponeses egípcios, o Fallahi (compasso
2/4). Dessa mistura e das novas possibilidades, tanto para a dança como
para a música, nasceu o Taqsim Baladi. Taqsim significa improvisação, é
importante que a bailarina conheça os ritmos árabes e é muito importante
estar atenta as pausas, assim como os momentos sonoros.
O corpo e o instrumento devem existir como um único
princípio e agirem de forma uníssona.
95
Jamais se deve dançar percussão com o véu, ou como
primeira performance. Os movimentos necessitam de
clareza, sem poluir a dança, não exagerando nos shimmies
ou ignorando as pausas. É importante a busca de simetria.
Toda a mobilidade deve transcorrer como um diálogo –
perguntas e respostas devem ser visivelmente de intenções
diferentes.
Dançar com o corpo inteiro é uma atividade que
solicita o conhecimento minucioso da muita música egípcia
de qualidade e a técnica perfeita (ATON, p. 179, 2000).
As raízes folclóricas do Baladi são claras e aparentes hoje por meio
das canções Said (Alto Egito) e Fallahi (camponeses), que muitas vezes
fazem parte de uma apresentação Baladi. Passos folclóricos típicos, vindos
da dança masculina, com os cavalos e também do Tahtib (dança combativa
masculina com bastões) são incluídos no repertório e estilizados pelas
bailarinas.
Em 1959, os irmãos Reda e Fahmy, criaram o Grupo Reda. Grupo de
dança este pioneiro que pôs em marcha a criação dos grupos Folkdance nas
províncias, universidades e escolas de todo o Egito. Mahmoud Reda
considerado o “pai” do folclore árabe, uma lenda do meio artístico. Reda,
bailarino, coreógrafo e pesquisador; viajou por todas as regiões do Egito e
do Oriente Médio, estudando e observando as danças regionais e
aprendendo seus costumes. Pode-se considerar que foi ele quem introduziu
as técnicas de balé clássico nas danças árabes, em especial no folclore. A
herança deixada por Reda, para o teatro-dança, constitui uma fonte muito
rica para professores e coreógrafos.
O Egito é composto de muitas regiões e povos
diferentes, existem: os camponeses do Delta; os povos que
moram no Alto Egito, que são os Saydi (essa palavra que
dizer Alto). Essa região do alto Egito inclui muitos lugares
em volta do Rio Nilo; há os desertos do leste e do oeste; a
região do Mar Vermelho; os pescadores do Mediterrâneo, os
96
beduínos do deserto Leste, que tem influência no Golfo
(FAHMY, REVISTA SHIMMIE, Nº 8, p. 31).
As dança folclóricas são muitas, são inúmeras as danças, ritmos e
seus estilos. Folclore rico e variado e o seu resgate se deve principalmente a
Identidade Nacionalista do Egito; mas as danças mais conhecidas são:
Racks AL Assaya, Tarhteeb (região Saiid – Sul do Egito); Zaar
(dança do exorcismo, com largo número de egípcios desaparecidos por
causa do islamismo; atualmente encontra-se na Somália e na Etiópia);
Guedra (dos povos Tuaregues do deserto, “abandonados por Deus”);
Tannoura (dança dos mulçumanos e sufistas do Egito); Khalije (dança da
Arábia Saudita e do Golfo Pérsico); Dança dos Pescadores (Área costeira,
Norte do Egito - Port Said e Alexandria); Dábcke (Oriente Médio,
principalmente Líbano); Racks AL Brink (dança do jarro, povo da região do
Rio Nilo); Racks AL Saif (dança da espada, Oriente Médio, Líbano e Egito);
Racks AL Shamadan (dança do castiçal ou candelabro, toda a região do
Egito e países do Oriente Médio); Melaya Laff (Cairo, Port Said e
Alexandria); Hagallah (beduínos da região de Mersa Matruh, deserto do
Egito, próximo à Líbia); Dança com Pandeiro (Sul do Egito) e Dança
Ghawazee (povos nômades do deserto).
Numa perspectiva histórica, desde a revolução egípcia de 1952. O
novo governo revolucionário adotou uma firme postura nacionalista, agenda
antiimperialista que veio a ser expressa principalmente através do
nacionalismo árabe e não alinhamento internacional. Os sucessos iniciais da
revolução incentivaram outros movimentos nacionalistas em outros países
árabes e africanos, como Argélia e o Quênia, que estavam engajados em
lutas anti-coloniais contra impérios europeus.
Na década de 60 do século XX, o socialismo árabe tornou-se um
tema dominante, transformando o Egito em uma economia planificada e
centralizada. As pessoas da classe trabalhadora (Shaabi) com suas raízes
rurais foram capazes de desfrutar de um pouco de alívio econômico. Nesta
década, em 1963, foi lançada a fita cassete, invenção da empresa
holandesa Phillips. Os primeiros gravadores em áudio cassete da Phillips, já
97
eram portáteis. O movimento Shaabi, surge nesta década com canções que
tratavam os problemas de identidade egípcia (em relação à dominação da
cultura européia) de uma forma bem humorada. Nesta época destacam-se
alguns cantores como Ainda AL Shah e Layla Nasmy. O dinheiro corria o
suficiente para deixar as fitas cassetes disponível comercialmente, feitos
caseiros e piratas; graças ao turismo egípcio e ao recém criado petróleo do
Golfo árabe, que empregava trabalhadores egípcios. Os Shaabis foram
capazes de sustentar uma voz que não era mais governada pelo monopólio
egípcio a RCA, chamada “VOZ DO POVO”. Na década de 70, com a
invenção do walkman da Sony, houve a explosão do som individual.
Atualmente o estilo Shaabi utiliza-se das modernas ferramentas de celulares
e internet.
Na década de 70, com a morte de Nasser, Presidente do Egito, que
deu o “Egito de volta para os egípcios”; os governos que se seguiram
abriram as portas outra vez para o domínio Ocidental.
A música Shaabi, estilo moderno musical com raízes rurais, combina
vários instrumentos até equipamentos eletrônicos e sons digitais do
computador. A voz do cantor tem de ser emocional rouca e quase rude. A
música pode introduzir vários ritmos, mas uma das características do Shaabi
é o Mawal (uma improvisação do cantor na introdução da música). Na
dança, o mais importante é que a artista conheça a letra da música que vai
interpretar. Pois as canções usam de irreverências, conotações sexuais,
humor e conversa de rua para mascarar os verdadeiros significados, que
muitas vezes são censurados pela mídia e governo. A dança em si é
espontânea e natural: com muitos shimmies, ondulações e redondos.
Bailarinas como Fifi Abdou, Dina, Randa Kamel encarnam o puro estilo
Shaabi, interpretando essas canções com gestos culturais.
Outro movimento que surgiu na mesma época do Shaabi, foi o
movimento Al Jeel, que em árabe significa “geração” ou “nova geração”.
Esse estilo surgiu também em países como, por exemplo: Líbano, Iêmen,
Marrocos (com o nome de Raí) e Iraque. A própria música já tem batida
eletrônica, mas muitas vezes pode ser acompanhado por snujs (címbalos de
metal, em formato de pequenos pratos, de origem dos crotálos). Esse
98
movimento tem basicamente os mesmos elementos frente ao resgate
popular da música nacional egípcia, com a diferença sutil de que a, maioria
dos cantores possuía uma ligação mais profunda com as correntes musicais
ocidentais. O ritmo pode variar para um tango, salsa, mambo, etc.
Várias foram às dançarinas orientais que fizeram história e se
destacaram nessa arte, no Egito. Como, por exemplo, Shafiqa La Copta
(1851 – 1926), que foi uma das mais ricas e famosas bailarinas do Egito. As
artistas que participaram principalmente da Companhia de Dança de Badia
Massabini, que já foi uma das artistas de maior destaque. Beba Ezz Eldin
(1910 – 1950); Naima Akef (1929 – 1966); Taheya Karioca (1921 – 1999);
Samia Gamal (1924 – 1994) e Nadia Gamal (1937 – 1990).
Nagwa Fouad, nascida em 1942, participou de diversos filmes
cinematográficos e dentro de seus espetáculos foi à pioneira em incorporar
elementos originais e sofisticados, dando a dança oriental um teor muito
adaptável ao mundo ocidental. Ainda viva nos dias de hoje é extremamente
respeitada e venerada no mundo egípcio.
Outra artista de sucesso, polêmica e que dança até hoje, que além de
ser bailarina e atriz, tornou-se uma mulher de negócios e é considerada uma
das pessoas mais ricas do Egito e a que paga mais altos impostos, é a
artista Fifi Abdou, nascida em 1953. Hoje com 60 anos, essa artista é
chamada de a quarta pirâmide do Egito, tamanha é a sua fama. Sua
personalidade marcante e surpreendente faz dela uma celebridade. O
controle que tem sobre o seu corpo é fascinante, além de uma presença de
palco que cativa o expectador com seu sorriso. O seu forte é a interpretação
das músicas, com um estilo solto e improvisado.
Sohair Zaki foi a primeira bailarina a dançar as músicas da famosa
cantora Umm Kalthoum e também a primeira a dançar na televisão egípcia
em 1959, tornando-se celebridade através da TV Nacional. Essa artista é
uma das mais amadas de todo o Oriente. Nos anos 60 do século XX,
recebeu premiações e medalhas do Governo Nasser. Sofreu fortes
influências das bailarinas Taheya Karioca e Samia Gamal. O acordeom era
sua marca registrada nas apresentações. O baladi era o auge do seu show.
Foi ícone da dança egípcia nos anos 80. Uma das mais famosas dançarinas
99
das décadas de 60 e 70, sua imagem tornou-se marca registrada das capas
de cassetes. Quando se casou parou de dançar.
Mona Said, dançando desde os 13 anos, em 1970 mudou-se para o
Líbano, voltando em 1975 para o Cairo. Fez muitas apresentações em
Londres e no Cairo. Seu repertório de dança incluía musicas clássicas e o
uso de flautas. Também seguia o estilo de Thaheya Karioca. Seus
movimentos são delicados e pequenos, sem exageros. Em 2006, esteve no
Brasil, na IV Conferência Internacional Luxor.
Dina é a artista de maior polêmica na atualidade por causa das
roupas de dança que usa, por serem trajes exuberantes, apertados e
sensuais. Participou do Grupo Reda e com eles aprendeu a fusão entre a
dança moderna, balé clássico e cultura egípcia. Seus shows são bem
preparados e ela trabalha com orquestras com mais de 20 músicos no palco.
Todos os seus movimentos são executados junto com o toque da orquestra
e são precisos e de impacto. Sua dança costuma ter muitos giros,
principalmente no encerramento de uma apresentação.
Randa Kamel também participou da Trupe Reda, durante sete anos.
Seus movimentos são limpos, batidas pequenas, porém fortes e shimmies
potentes. Consegue aliar técnica à interpretação. Gosta de interpretar
músicas antigas e de usar roupas com decotes grandes e fendas largas.
Tem como característica principal, a tradução de sentimentos em
movimentos, no melhor estilo egípcio.
3.3 A Dança do Ventre no Brasil e as Bailarinas Brasileiras
O sucesso da França na fundação do protetorado e o contínuo
enfraquecimento do Império Otomano aumentaram a influência européia em
toda essa região do Oriente. Muitos missionários europeus foram para essa
região pregar o cristianismo, fundando escolas cristãs, por todo o Líbano,
Síria e Palestina. Como resultado dessa política, melhorou os meios de
transportes na segunda metade do século XIX, facilitando o intercâmbio e as
missões educativas e comerciais entre os países ocidentais e as “terras de
Damasco”. Os intelectuais e comerciantes desta região tiveram oportunidade
100
de
conhecer
as
“terras
prósperas”
da
Américas,
que
acenavam
oportunidades de emprego e lucro rápido. Essas expectativas foram
reforçadas com a participação desses árabes na Feira de Comércio em
Filadélfia no ano de 1876. Ao retornarem para sua região no Oriente
disseminaram as notícias da América tentadora e de suas oportunidades.
Essas idéias foram lançadas através de livros dos intelectuais e pensadores
cristãos que procuravam sensibilizar a população contra a ocupação turca.
Estes apelos nacionalistas durante partes dos séculos XIX e XX resultaram
em perseguições, prisões e até em execuções desses intelectuais; muitos
deles fugiram para o Egito.
Foi neste cenário, por volta dos anos de 1877 e 1887, que essa região
do Oriente Médio, recebeu a visita do então imperador do Brasil D. Pedro II,
que visitou: o Egito, Damasco, Beirute e Jerusalém. D.Pedro II notando a
situação de sofrimento desse povo fez o convite para imigrarem para o
Brasil. O Imperador brasileiro quando esteve em Damasco compôs um
poema sobre esta cidade, afirmando o desejo de que fosse aceito seu
convite para a população imigrar para o Brasil, para trabalhar em novas
oportunidades de vida e contribuir para o desenvolvimento de nosso país.
Todos esses eventos levaram um grande número de habitantes da região da
Grande Síria a migrarem para as Américas e especialmente para o Brasil.
Com a vinda dos imigrantes árabes para o Brasil, vieram também
junto da sua alegria as suas danças. Nas festas sociais da colônia árabe,
onde a família é o pilar da sociedade e os árabes são muito festivos, não
poderia faltar um conjunto de músicos e uma ou mais dançarinas.
Paulatinamente, no decorrer dos tempos, as brasileiras foram tendo contato
com a “Dança do Leste” ou como é conhecida a “Dança do Ventre”.
Aqui no Brasil, a dança do ventre, antes de chegar nesse formato
atual, foi difundida pelas próprias bailarinas brasileiras, que apreciavam e
interagiam com as colônias árabes. Muitas dessas bailarinas eram formadas
em balé clássico.
Shehrazad Shahid Sharkey foi à precursora da Dança do Ventre no
Brasil. Essa artista nasceu na Palestina e é descendente de armênios.
Começou a dançar desde quatro anos de idade e aos nove anos dançou
101
para o Rei da Jordânia, em seu aniversário, causando grande admiração e
repercussão. No ano de 1957, veio para o Brasil, e durante 18 anos
trabalhou como cabeleireira. Como qualquer outra bailarina, Shehrazad,
também estudou balé clássico. Em 1979 iniciou seu trabalho na formação de
dançarinas profissionais. Sempre foi contra o costume de se ofertar dinheiro
as dançarinas; para ela é um grande desrespeito. Até o início dos anos
2000, ministra aulas em Osasco – SP (ATON, 2000).
No início dos anos 70 do século XX, na cidade de São Paulo, alguns
restaurantes árabes como Semíramis, Bier Maza e Porta Aberta faziam
apresentações de dança do ventre como atração para seu público
freqüentador, em sua maioria, pessoas da colônia árabe. Foi o começo para
muitas bailarinas que hoje são conhecidas, umas ainda ativas e outras que
se tornaram lendas vivas, como Shahrazad, Samira Mattar, Soria Zaied,
Camelia e Warda. Muitas das bailarinas que fizeram parte do início da dança
no Brasil, já se foram, mas deixaram suas marcas, que hoje ainda são
estudadas por outras profissionais.
A partir de 1980, a dança do ventre começou a exercer maior fascínio
entre as mulheres brasileiras, assim como no resto do mundo. A
necessidade de aprendizado e a grande procura de leigos em dança do
ventre levaram ao aparecimento de novas perspectivas. Em 1983, a
conceituada Casa de Chá Khan El Khalili, na zona norte de São Paulo, fazia
as Noites Egípcias, com apresentação de bailarinas. Na primeira noite
dançaram Samira, Rita, Selma, Rosana e Mileidy. Devido a Khan El Khalili,
que esteve sob a direção de Jorge e Lulu Sabongi, durante 21 anos, e hoje
se dividiu em duas organizações distintas, a dança do ventre se tornou muita
respeitada. A linha de trabalho da casa de chá, assim como o estilo pelo
qual a casa ficou conhecida, tem a marca dos estudos de Lulu Sabongi.
Diversas gerações de bailarinas já se apresentaram nas Noites Egípcias,
entre elas, a própria Lulu Sabongi (1985), Fátima Fontes, Najawa e Kareema
(1987) e Shams (1987).
A novela o Clone, lançada pela Rede Globo, no ano de 2001, foi um
verdadeiro “Boom” na dança do ventre no Brasil. A novela com audiência
nacional, ajudou a difundir a cultura árabe em nosso país e suas danças.
102
Artistas brasileiros como Tony Mouzayek e Cláudia Cenci, convidados pela
Rede Globo, como músico e coreógrafo, participaram com outras
profissionais desta novela. No Rio de Janeiro, abriram-se várias escolas e as
academias; inseriram a dança do ventre no seu currículo. A dança do ventre
virou febre nacional.
Samira Samia começou a dançar em 1978, no restaurante árabe
Semíramis. Também dançou no restaurante Zorba – o grego, na casa de
chá Khan El Khalili, no restaurante El Chalita e no Bier Maza. Foi
idealizadora dos festivais de dança do ventre no Brasil, sendo o primeiro no
ano de 1990 e do primeiro jornal sobre o assunto de dança, lançado em
1995.
Na década de 70, em toda a cidade de São Paulo, havia cerca de 10
bailarinas. As primeiras desta época eram Sandra, Magda, Rita, Vera,
Emmanuela, Shahrazad e Aziza. As informações sobre dança do ventre
eram quase inexistentes. Nesta época os shows eram realizados com
música ao vivo, pois estava direcionada a comunidade árabe e as roupas
eram confeccionadas pelas próprias bailarinas, não havia estilistas
especializados.
Aziza
esta
profissional,
Chacrete,
do programa
do
saudoso
Chacrinha, com formação em balé clássico, pela Escola Municipal de São
Paulo e com formação em balé moderno, sapateado, jazz e danças
folclóricas; começou a dançar Dança do Ventre em 1975. Trabalhou nos
restaurantes citados acima, na década de 70 e 80. A partir de 1994, iniciou
várias viagens a Europa, Egito, Turquia, Grécia e outros países, para
aperfeiçoar sua técnica e realizar apresentações. A partir de 1980, começou
a trabalhar com técnicas de Psicodrama nos trabalhos corporais, reunindo a
psicologia com a dança.
Lulu Sabongi aos 17 anos Lulu, na época Luciana, assistiu um show
da bailarina Shahrazad e se apaixonou pela dança do ventre. Acabou
virando empresária e entrou de cabeça no mundo árabe. Dava aulas na
casa de chá Khan El Khalili, um dos lugares mais influentes da cultura árabe
em São Paulo (SP), e que na época era de sua propriedade e do seu marido
Jorge Sabongi. Viajou para os Estados Unidos e para o Oriente, inclusive o
103
Egito. Deu aula na Escandinávia e outros países. Com mais de 30 anos de
carreira, atualmente dirige a Shangrila House, especialista em estudos de
dança oriental. Lulu Sabongi é respeitada em todas as esferas do mundo da
dança do ventre, difundindo seu talento pelo Brasil e pelo mundo.
O panorama atual da Dança do Ventre é o seguinte: a partir do final
dos anos 90, houve uma saturação no mercado de dançarinas,
principalmente depois da novela o Clone, esse número não acompanhou o
de músicos. Isso acabou por proporcionar espetáculos, onde quase não
existe música ao vivo, aqui no Brasil utiliza-se muito o som de músicas
mecânicas. Em sua maioria as escolas de dança do ventre não estão bem
estruturadas com o ensino, tempo e técnicas de estudo. As estudantes não
se interessam pela pesquisa e o estudo da cultura da dança, o que leva uma
pobreza técnica e uma ignorância em termos da música e dos ritmos. Como
a técnica dessa dança só passou a ser ensinada há pouco tempo, não existe
uma cartilha para que todas as professoras ensinem igualmente todos os
movimentos. Existem na verdade várias maneiras de se ensinar o mesmo
movimento e sem regras fixas. Cada escola e cada professora têm seu
estilo; além da técnica vem o estilo. Caso as estudantes não estudem
ninguém, além de sua professora, ou se estudam as mesmas bailarinas, a
dança fica igual. Por isso a importância dos workshops e vídeos, onde se
estuda estilos diferentes, pois o que é ensinado no Brasil é diferente do que
é ensinado no Egito, na Europa, nos EUA e nos demais países. Através
destas ferramentas que chegamos à mesma conclusão: vários movimentos
podem ser mostrados de maneiras diferentes. Muitos movimentos usados no
passado são esquecidos e substituídos por outros mais elaborados por
causa da evolução da dança. O problema é que ninguém trabalhou para a
catalogação desses movimentos. A partir dos anos 70, a cultura afro passou
a influenciar a música árabe e a dança do ventre. Mais recentemente
receberam influências também da Salsa, do Reggae, do Funk, do New Age,
da Dance Music, do Jazz e até do Axé Baiano. Todas estas danças
populares passaram a doar elementos à Dança Oriental.
A valorização estética interfere com a vida profissional das dançarinas;
mulheres com mais de 35 ou 40 anos, com físicos mais volumosos, nem
104
sempre são solicitadas para shows. A preferência é por garotas com
bastante beleza física, que nem sempre sabem dançar. Normalmente a
mídia divulga o que é vendável e não o que tem qualidade. No nosso país os
artistas não são reconhecidos como profissionais, a arte é vista como
diversão e prazer. É difícil compreender a dedicação, estudo e esforços na
vida do artista. Portanto conectar dinheiro do trabalho com a arte é um
privilégio de poucos profissionais. Segundo ATON (2000), a dança do ventre
na mídia tornou-se quase caricata, sem novidades e cópias padrões sem
sentido.
3.4 Os Benefícios da Arte Milenar da Dança do Ventre
ao Corpo e a Mente Feminina
“Mostrem-me como dança um povo, e eu lhes direi se
sua civilização está doente ou tem boa saúde”.
CONFÚCIO, filósofo chinês (551 a.C – 479 a.C)
MOHAMED (1998), bailarino e coreógrafo egípcio, radicado na
Espanha, descreve em seu livro que nos tempos atuais a ciência médica
utiliza a dança e a música como tratamento terapêutico. A razão se atribui de
que a dança requer numerosos e diversos movimentos que exigem
coordenação para se realizar um esforço físico. Menciona que muitas
enfermidades são psíquicas e não de causas orgânicas e a dança é capaz
de curá-las. Mas muitas mulheres não gostam da dança e da música,
geralmente porque sofrem algum tipo de transtorno depressivo, percebendo
o mundo sob esse ponto de vista. Muitas doenças psicológicas realmente
não podem ser tratadas através da música e da dança pela incapacidade do
paciente perceber seus conteúdos. A dança é uma terapia eficaz para curar
a depressão, as preocupações, o nervosismo e as neuroses, além de ser
uma atividade que contribui para desvendar a energia oculta do ser humano.
Portanto a dança protege o corpo, evitando dores lombares e a debilidade
dos ossos e as possíveis inflamações das articulações. Outro aspecto
105
desconhecido por muitas pessoas é de que a dança evita a artrose, depois
que harmoniza a função dos músculos, com as cartilagens e as articulações,
fazendo que o corpo adquira seu melhor desempenho.
Com efeito, os antigos egípcios se interessavam pela dança como
atividade física, para se ter corpos fortes e sãos. Sua próspera civilização
refletia, de maneira clara, seus interesses e cuidados com a saúde mediante
ao exercício da dança. Nos tempos faraônicos, a dança era uma atividade
reconhecida e prestigiosa para a mulher. Através dela poderia expressar
seus sentimentos e entreter, inclusive, o seu marido. As danças populares e
cortesãs
tinham
grande
importância,
executadas
por
bailarinas
acompanhadas de músicos. A música soava por todas as celebrações.
Diversos registros pictóricos gravados nas tumbas faraônicas mostram as
bailarinas em diversas cerimônias. Este testemunho indica que as raízes da
dança se fundem no mínimo com aquele período sendo praticado e
divulgado pelas mulheres até os nossos dias, é claro com uma lógica
evolutiva. Através dos tempos com as sucessivas proibições é colocada uma
barreira para se praticar essa dança ao largo da história, por causa da
religião.
Mas, é bom lembrar, que a dança do ventre não tem
como função primeira o trabalho terapêutico, embora
apresente condições para isso devido à complexidade de
movimentos. Trata-se de uma técnica que busca sempre a
saúde e o bem-estar da mulher (BENCARDINI, p. 133,
2002).
Nossa estrutura física está fundamentalmente relacionada à nossa
personalidade e às vivências pelos quais passamos, através do nosso meio
ambiente e da hereditariedade. Nossa postura fica impregnada à memória
corporal, que é a nossa noção do correto fisicamente. Alterar nossa postura
é automaticamente alterar nossa forma de lidar, reagir, com o mundo
(ATON, 2000). A repetição na busca dessa postura adequada faz com que o
corpo vá se acostumando à correta e melhor postura. Como a dança do
ventre a todo instante ensina co conceito do eixo: o centro, este equilíbrio e
106
alinhamento, facilitam a ação dos músculos sobre as articulações e colabora
no bom desempenho dos movimentos. É evidente que nesse caso estamos
falando de consciência corporal e de sua funcionalidade considerando
mulheres
saudáveis
sem
patologias,
com
normalidades
músculo-
esquelético.
Antes de se iniciar o exercício da dança, é necessário um preparo
físico com aquecimento, alongamento e fortalecimento, dos músculos
trabalhados e não trabalhados na dança. Nesse caso, a dança do ventre
mexe com todo o corpo, até os músculos faciais são trabalhados: um detalhe
de olho e um sorriso bem colocado fazem uma enorme diferença em quem
está dançando. Muitas vezes culpamos de ser o nosso corpo, o responsável
pelas nossas dificuldades de executar determinados movimentos, mas na
verdade o principal personagem ativo é o nosso cérebro com os estímulos
do sistema nervoso. Devido ao condicionamento natural dos nossos
movimentos realizados diariamente que entram no “automático”, não
pensamos ou raciocinamos sobre eles, ou seja, nossa atenção fica
desconcentrada. Com o processo de envelhecimento, essa área fica
naturalmente mais afetada, portanto é necessário realizar exercício que
estimulem nossa capacidade cognitiva. O aprendizado da dança requer uma
repetição e compreensão sistemática dos movimentos, para possibilitar a
descoberta de como realizá-los e memorizá-los.
Como cada ser feminino é único e, portanto cada uma possui um
ritmo pessoal; é importante que o profissional que ensina saiba respeitar e
ajudar cada aluna a encontrar o equilíbrio entre o ritmo e sua atividade
cerebral. A dança do ventre possui indicações para ser feita por qualquer
mulher e de todas as idades, mas só deve ser realizada depois de avaliação
médica. O aprendizado da dança só não é indicado para mulheres com
gravidez de risco, com problemas na coluna vertebral ou joelho e etc.
A dança do ventre, além de ser um trabalho físico, é uma atividade
prazerosa e lúdica, educativa, sociabilizante e artística. Em cada movimento
aprendido experimenta-se o despertar de uma região corporal desconhecida
ou adormecida, trazendo sentimentos de prazer por realizar algo jamais visto
107
ou sentido. Essa dança exige da mulher em primeiro lugar que ela aceite o
seu corpo, pois terá de expô-lo para aprender.
A dança favorece uma maior percepção em diferentes níveis de si
mesmo, tais quais: respiração, postura, equilíbrio, memória, força, agilidade,
calma, confiança e outros fatores, que favorecem a consciência corporal, de
atenção às sensações, daquilo que o corpo fala, mas que nem sempre
percebemos. Enfim, a dança do ventre abrange de forma holística todos os
aspectos do feminino, o físico, mental, emocional e espiritual, de maneira
individual e única.
Ao contrário de outras modalidades de dança, a dança do ventre
movimenta cada quadrante do corpo da mulher, de forma harmoniosa e
ensina a dominar as partes do corpo separadamente ou em conjunto.
Para as mulheres na terceira idade, além da menopausa, em
processo biológico de envelhecimento, a dança do ventre pode ser uma
excelente atividade física para a melhoria da saúde do corpo:
§
Através dos seus movimentos ondulatórios massageia os órgãos
internos do ventre, reforçando sua musculatura, aliviando dores,
melhorando as funções dos intestinos, estômago (por facilitar a
digestão),
fortalecendo
a
musculatura
e
sua
correspondente
inervação na região do períneo e assoalho pélvico e de todo o
aparelho urinário, ajudando a prevenir ou minimizar os problemas de
incontinência urinária e estimula os órgãos do aparelho reprodutor
(útero, ovários) e estimula a produção de hormônios;
§
Aumenta a velocidade e a precisão, pois certos movimentos exigem
rapidez;
§
Como aeróbica auxiliando na redução e manutenção do peso
corporal;
§
§
Para a postura podendo corrigir desvios ou vícios posturais;
Desenvolve consciência corporal, ajudando a perceber o corpo como
somatória
de
todas
as
experiências
entendimento das razões do próprio corpo;
§
Eleva o rendimento e a resistência física;
vividas,
favorecendo
o
108
§
Melhora a flexibilidade articular aumentando a amplitude dos
movimentos;
§
Melhorando o condicionamento físico beneficiando o sistema
circulatório e respiratório;
§
Sua movimentação estimula o desenvolvimento da coordenação
motora;
§
Trabalha, tonifica e fortalece os músculos de todo o corpo,
fortalecendo principalmente o abdômen e afinando ou acentuando a
cintura. Contrariando aquela lenda de que a “dança dá barriga”;
§
Pode melhorar o desempenho sexual e também ser executada para
temperar o relacionamento amoroso.
A dança do ventre pode ser uma excelente atividade física para a
melhoria da saúde da mente:
§
Desenvolve o raciocínio, a memória, a musicalidade, noção de tempo
e espaço;
§
Exige concentração, o que aumenta a capacidade cerebral aflorando
problemas bloqueados, emoções ocultas ou tensões psíquicas
acumuladas. Tornando possível a eliminação das couraças corporais
psicossomáticas;
§
Trabalha e desenvolve a imaginação e a criatividade, que são
importantíssimos elementos da ludicidade.
A dança do ventre pode ser uma excelente atividade física para a
melhoria da saúde emocional e espiritual:
§
Ajuda a desenvolver a sensualidade, o carisma, o magnetismo
pessoal, o charme e a personalidade vencedora;
§
Auxilia no combate ao estresse e ansiedade, bem como afasta a
tristeza e a depressão;
§
É uma atividade relaxante e prazerosa podendo ser praticada como
lazer e com o exercício para aumentar a capacidade física e cognitiva;
109
§
Eleva a autoconfiança e o auto-respeito aumentando a auto-estima, a
auto-aceitação e o amor-próprio;
§
Estimula exteriorização de diversas qualidades femininas, tais como a
delicadeza, a elegância, a beleza, a sutileza, a leveza, a suavidade, a
sensibilidade e a graciosidade;
§
Reduz a timidez e a insegurança;
§
Trabalha todos os pontos de energia do corpo (Chacras e plexos),
desbloqueando, descongestionando e harmonizando, fazendo a
energia fluir.
(ATON, 2000; BENCARDINI, 2002; FAIRUZA E YASMIN 2002;
MARTINS, 2005).
Toda mulher não importa a sua idade, quando se veste com as
roupas orientais da dança do ventre e maquia-se de forma orientalizada,
permite-se entrar em contato com o que há de mais feminino. Portanto este
é o Arquétipo da “Odalisca” ou da dançarina do ventre, que todas as
mulheres trazem dentro de si. O misticismo e o mistério das “Mil e Uma
Noites” encantam e mexem com o imaginário das mulheres e dos homens,
através dos tempos.
Na dança do ventre os movimentos ondulatórios,
sinuosos, espalhados por todo o corpo de forma hipnótica
mexem, não só com a alma de quem dança, mas com o
corpo também. (...)
Dizer que ela traz benefícios aos órgãos sexuais não é
um exagero, mas também não é uma receita padronizada.
Dependerá dos objetivos e dos métodos de quem ensina e
aprende em conjunto (ATON, p. 126, 2000).
110
3.5 O Ensino dos Movimentos Básicos da Dança do Ventre
numa Visão Psicomotora e da Filosofia Oriental
Porque e para que praticar a dança do ventre?
Essa pergunta deveria ser feita para todas as iniciantes dessa arte.
Com certeza as respostas serão as mais variadas.
Um
dos
maiores
aperfeiçoamento
técnico
benefícios
como
desta
forma
dança
de
é
o
estudo
do
autoconhecimento
e
desenvolvimento pessoal, ou seja, a busca pela perfeição em vários
aspectos da vida humana.
Este é um conceito oriental antigo e existe na Yoga, no
Sufismo, em várias artes marciais e correntes filosóficas do
Oriente. É o ser humano tentando superar seus limites.
Primeiro as limitações físicas, depois as mentais e as
emocionais e num estágio bastante superior, até as
espirituais (BENCARDINI, p. 75, 2002).
O processo de aprendizado é lento, porque alcança diferentes etapas
de aquisição motora, neurológica e psicológica. Se a mulher estiver
preocupada ou ansiosa em assimilar o que está aprendendo, terá mais
dificuldades, pois seu foco de atenção está em outra direção. Através da
repetição os movimentos serão incorporados, tornando-se automático, mas
sempre prevalecerá o movimento voluntário. Cada mulher ao dançar deixa
transparecer o seu ritmo interior. Isto é muito importante, tanto em termos de
conscientização de suas características, quanto de respeitar o ritmo
individual de cada um, antes de impor um ritmo padrão. A dança do Ventre
possui um contexto muito profundo quando trabalhado de maneira
terapêutica e para grupos personalizados (ATON, 2000).
O homem antes de desenvolver a escrita desenvolveu uma linguagem
ligada às figuras geométricas. Esses registros estão nas cavernas do
período primitivo e histórico dos homens da caverna. Essas formas
geométricas representavam nessas culturas e também nas culturas da
111
Antiguidade e Medievais, representavam muito mais do que palavras, mas
também eram signos de teorias filosóficas e de magia. Sendo os símbolos
conceitos de difícil definição e compreensão, são imagens do inconsciente e
muitas vezes seu entendimento ultrapassa o raciocínio lógico e analítico. A
dança, especialmente a dança do ventre é uma espécie de símbolo. Gestos
e movimentos possuem um significado que está implícito no contexto desse
baile (BENCARDINI, 2002).
No ensino dos movimentos é necessário que se saiba seccioná-los,
assim se dá ciência às alunas de cada passo da estruturação que formou
todo o movimento. Outra maneira é fazer com que a aluna entenda o
movimento, procurando desenhá-lo com o próprio corpo. Todos os
movimentos devem ser executados com o mais preciso domínio do tônus
muscular, além de estar com o corpo equilibrado com a força da gravidade.
Após o estudo de cada movimento básico da Dança do Ventre separado,
parte-se para a junção de um com outro, de maneira simultânea ou
consecutiva.
O início do aprendizado de uma aluna de dança do ventre é a forma
do quadrado. No início a maioria dos movimentos executados fica
“quadrados”, ou seja, dividido em quatro tempos (que é o compasso de
muitas músicas árabes) e como vetores na direção para o seu
deslocamento. O quadrado é a figura geométrica que representa a matéria,
a realização e está ligada a lógica e ao pensamento analítico, tem quatro
lados articulados por quatro ângulos de 90°. O quadrado serve como
aprimoramento e desenvolvimento técnico da bailarina; pode ser aplicado a
movimentos de quadril, cabeça, tronco e mãos. Ajuda a desenvolver a
consciência corporal da mulher.
O triângulo é uma das formas geométricas mais apreciadas desde a
Antiguidade. São três retas unidas por três ângulos fechados. A letra grega
delta é representada por um triângulo. Simboliza o conteúdo, a essência e
representa o tempo. O triângulo eqüilátero simboliza a divindade, a
harmonia, a proporção. O triângulo com a ponta para cima simboliza o fogo
e o sexo masculino; com a ponta para baixo simboliza a água e o sexo
112
feminino. Na alquimia é o símbolo do fogo; e também o símbolo do coração
(CHEVALIER E GHEEERBRANT, 2009). Dentro do contexto da dança:
Quando a bailarina dança, está na verdade utilizando
o seu corpo para desenhar várias figuras geométricas no
espaço. Se o triângulo representa a bailarina, então um dos
símbolos da dança seria o triângulo contido dentro de um
círculo. Este é um signo antigo e que também pode
representar o ser humano (BENCARDINI, p. 87, 2002).
A pirâmide é composta por quatro triângulos e uma base quadrada.
Utilizando o símbolo da pirâmide e o conceito Delta para a figura da
bailarina, os quatro triângulos representados dentro da pirâmide, podem ser
divididos no corpo da bailarina nas seguintes partes, sendo que cada parte
corresponde a um triângulo: primeira parte – do umbigo até os pés corresponde aos movimentos de quadril e a toda força que as pernas
desenvolvem para execução dos mesmos, esse triângulo é representado
com a base na altura da cintura, passando pelo umbigo e o vértice no chão,
simbolizando os pés e o quanto eles são importantes na manutenção do
equilíbrio corporal. Simboliza a ligação material, a terra e a fertilidade;
segunda parte – do umbigo até a clavícula – os triângulos tem dupla
representação, o vértice pode ser para cima ou para baixo, esses dois
triângulo formam o desenho de uma estrela estão associados aos
movimentos do tronco e dos braços. O que está com o vértice para baixo
representa as emoções e o vértice para cima a mente. Os dois triângulos
são considerados a ligação entre o céu e a terra, a ponte entre matéria e
espírito. Os braços na dança do ventre possuem um ritmo contínuo e
hipnótico. As mãos possuem uma postura, elas sobem sempre voltando o
punho para cima e descem com o punho voltado para baixo; a terceira parte
– pescoço e cabeça – a base do triângulo encontra-se na altura dos ombros
e o vértice fica cerca de um palmo acima da cabeça. Simboliza a ligação
espiritual, o despertar da consciência, o céu, a criatividade e o
desenvolvimento das potencialidades (BENCARDINI, 2002).
113
O quadril é uma das mais importantes ferramentas de trabalho para a
dança do ventre, serve para marcar o ritmo, mas principalmente por estar
conectado com a pelve e todos os músculos aí envolvidos. Essa região está
ligada aos instintos primários ou primitivos do ser humano, inicia-se assim a
elevação da energia vinda da Terra. Os movimentos ondulatórios
relacionados ao quadril estão simbolicamente relacionados ao ato da criação
e da fertilização, representa o equilíbrio, a vitalidade, a força, a alegria, a
decisão e o autoconhecimento e desenvolvimento do potencial interior. Esta
região do corpo está ligada ao Chacra Raiz ou Básico, no sânscrito
Muladhara, situado na base da espinha dorsal. Envolve os Plexos coccígeo,
pélvico e solar; o Chacra esplênico, sobre o baço, que se dedica a
especializar, subdividir e distribuir a vitalidade que chega do sol e o Chacra
do umbigo sobre o plexo solar, no sânscrito Manipura, situado exatamente
no umbigo.
No projeto dos movimentos básicos da Dança do Ventre para
mulheres da Terceira Idade ou na Idade da Luz, vamos iniciar intercedendo
diretamente por esta região ou a primeira parte do corpo da bailarina
(segundo o conceito da pirâmide e do delta) como resgate da força, da
vitalidade e da energia adormecida devido ao processo natural e biológico
de envelhecimento. Num ritmo lento e vagaroso, pode-se sentir o movimento
mais tempo para percorrer o trajeto e memorizá-lo melhor, pois quanto mais
rápido, menor é o movimento. Como o trabalho envolve não só os
movimentos básicos da dança, mas também, os Arquétipos, os Símbolos, os
Campos Energéticos do corpo dentro da filosofia oriental e os Elementos da
Natureza, o primeiro movimento ondulatório, a ser estudado, são os OITOS:
Para o povo Egípcio, o número oito representa o olhar, a eternidade e
o infinito. Universalmente, o oito é o número do equilíbrio cósmico e da
renovação. O signo matemático do infinito é um “oito deitado”, na dança do
ventre um dos movimentos é conhecido dessa forma. Para os nativos
americanos é o número das leis naturais. No Budismo, o oito está
relacionado com o dharmachakra, ou a roda da vida de oito rosas, oito
pétalas da flor de lótus, representando os oito caminhos para a perfeição
espiritual. Os Taoístas reverenciam os Oito Imortais e as Oito Coisas
114
Preciosas; o deus hindu Vishnu tem oito braços que corresponde aos oito
guardiões do espaço. Na crença africana, entre o povo Dogon, existem oito
criadores heróis e oito ancestrais principais; o oito está associado à água e
ao sêmen (O’ CONNELL E AIREY, 2011). O símbolo “oito” apresenta-se em
várias partes do corpo da bailarina, com o movimento dos dedos, das mãos,
seios e principalmente, quadril. Na dança, os movimentos ondulatórios dos
oitos recebem vários nomes, conforme a cultura e a classificação das
Instrutoras de Dança. Sempre com os joelhos flexionados e pernas unidas,
sendo a postura mais correta e o quadril bem encaixado, os oitos
denominados mais conhecidos são: o Egípcio, Americano, Maia, Maia ao
contrário e Oito de Lateral. À medida que os quadris vão sendo
desbloqueados, esses movimentos fluem com mais soltura, podendo
desenvolvê-los com mais rapidez.
O CÍRCULO:
Para ATON (2000), bailarina, coreógrafa e pesquisadora todos os
movimentos da Dança do Ventre, fazem parte de uma única figura
geométrica, que é exposta de diversas maneiras pelo corpo: o Círculo. Para
ela, até mesmo os movimentos que parecem secos e retos, partem de um
círculo. Os movimentos lentos da dança estão geralmente relacionados à
representação do círculo.
Ligado à idéia de perfeição, representa a espiritualidade, a totalidade
do ser. Significa ainda a área de trabalho da bailarina, quando ela dança
está contida dentro de um círculo invisível de proteção, onde executa seus
movimentos (BENCARDINI, 2002). O círculo simboliza o céu cósmico,
particularmente em suas relações com a Terra. É o signo da Unidade de
princípio e também o do Céu. Em primeiro lugar o círculo é um ponto
estendido; participa da perfeição do ponto. O movimento circular é perfeito,
imutável, sem começo nem fim, nem variações: o que o habilita a simbolizar
o tempo. No zen budismo encontra-se muitas vezes desenhos de círculos
concêntricos, que simbolizam as etapas de aperfeiçoamento interior, a
harmonia
progressiva
do
espírito.
Combinado
com
outras
formas
geométricas como, por exemplo: quadrado ou triângulo, passa a ter outros
significados (CHEVALIER E GHEERBRANT, 2009)
115
Os Redondos de quadril, que são movimentos lunares, desenham um
círculo nos sentidos horários e anti-horários. Podem ser feitos Redondos
amplos com macro movimentos e Redondinhos com micro movimentos. No
Redondo grande, fazendo um grande círculo com o corpo, utiliza-se a
movimentação do tronco inversa à do quadril ou com o tronco estável, neste
caso sempre com joelhos flexionados e pernas ligeiramente afastadas, se
imagina quatro pontos distantes a serem ligados pelo quadril. Os Redondos
pequenos com os joelhos sempre flexionados e as pernas juntas, se
desenha um círculo na horizontal com o quadril.
Os movimentos relativos ao chacra umbilical traduzem
as fases da lua, pois todos os movimentos da dança do
ventre são redondos, serpentíneos e em forma de oito,
levando a harmonia geral do corpo. Relacionam-se com a
fertilidade e a energia lunar. (...)
Lua Cheia – são os movimentos redondos e oitos.
Lua Crescente – movimentos laterais de meia lua.
Lua Nova – são os movimentos dos oito
Lua Minguante – os camelos que dinamizam a
Kundalini, embora a subida seja lenta.
Movimento da Terra – as batidas fortes, shimmins e
balanços.
Esses movimentos nos envolvem com o elemento
água, que rege o chacra umbilical (LYS, p.47, 1999).
Passos ou Ondulações do Camelo, baseado no movimento
ondulatório produzido no corpo durante o caminhar do camelo, animal típico
do deserto. Existem várias denominações para esses passos, mas os mais
comuns são: Camelo Frontal Completo e Camelo Pélvico. As melhores
referências para a execução da contração abdominal desta ondulação
seguem as seguintes direções: para trás, para dentro, de baixo para cima,
subindo puxando. Recebendo energia do universo. As ondulações
crescentes do camelo fazem com que a Kundalini se eleve pela coluna
116
energizando todos os Chacras, soltando e limpando as energias de todos os
Chacras do corpo.
As ondulações Abdominais, ou seja, o Movimento do Ventre. Podem
ser feitas de cima para baixo e de baixo para cima. Inspirando e expirando
profundamente, até sentir que a musculatura abdominal está descontraída
podendo executar uma ondulação perfeita. Esse movimento acende o
elemento fogo no corpo, como um gerador de energia que traz o poder de
realização.
As Batidas de Quadril tem uma série de variações: os Shimmies
(tremidos), que podem ser feitos também com o abdômen, busto e quadris;
Básico Egípcio, passo básico da dança do ventre, com batida de quadril, e
feito de diversas modalidades, girando, para trás ou para frente, de dois
pontos, meia-lua e quadradinho. Esse passo utiliza as pernas de forma
alternada.
Os movimentos dos oitos: maia, vertical e horizontal; abertura da
articulação coxofemoral e movimentos de Lua; batida pélvica, camelo,
respiração na faixa umbilical e shimmins de barriga. Todos esses
movimentos são exercícios pélvicos que massageiam e fazem mobilizar as
energias de intestinos, rins, supra-renais e bexiga.
Os movimentos da dança do ventre relacionados ao chacra Cardíaco
(no sânscrito Anahata), Chacra do coração, situado no coração, segunda
parte do corpo da bailarina, são os oito de busto e as ondulações do camelo.
Através deste Chacra expressamos nossas emoções e sentimentos.
Para a terceira parte do corpo da bailarina, onde ficam os Chacras:
Laríngeo (no sânscrito Vishuddha) situado na frente da garganta, os
movimentos recomendados são os ondulantes e circulares de pescoço, pois
propiciam a abertura da comunicação e da criatividade, existe a união dos
lados esquerdos e direito do cérebro (emocional e racional). Ajuda a mulher
a se tornar mais harmoniosa, com melhor expressão verbal, a voz mais
melodiosa, aprendendo quando falar e calar para ouvir. São movimentos
conhecidos como Cabeça Egípcia, Cabeça Circular e Giratória e a Cabeça
Árabe muito usada na dança saudita; Frontal, situado entre as sobrancelhas
(no sânscrito Ajna), Chacra do Frontal, representa a terceira visão, o
117
desequilíbrio deste chacra causa problemas de falta de coordenação
muscular e motora, de lateralidade, tonturas e labirintite. Movimentos de
expressão facial e com os olhos, devem refletir a alma da mulher que dança
sua alegria e energia. Exercícios de Elefante como estender o braço e deitar
o pescoço sobre o ombro do braço estendido e descrever o oito com o braço
e a mão, pode ser feito com lado direito e esquerdo. Esse movimento ajuda
a limpar esse Chacra; Coronário (no sânscrito, Sahasrara), situado no alto
da cabeça. Para que o Chacra Coronário fique completamente ativo é
necessário que a mente, o corpo e o espírito estejam em equilíbrio, este é o
tripé da psicomotricidade. Com os movimentos da mão, dos movimentos
harmoniosos de rotação de pulsos, a postura e a beleza dos cotovelos,
rotação e flexibilidade dos ombros são requisitos exigidos para levar a
bailarina a alcançar boas energias. Utilizar o instrumento de mão, como os
snujs (címbalos de metal, tipo castanhola), embora seu aprendizado não
seja muito fácil, pois requer muita noção de cadência e ritmo da aluna, é um
ótimo exercício de alinhamento para as nossas mãos captar energias.
Posicionados na base da unha dos dedos médios e polegar de cada mão,
seus toques metálicos fazem que sua vibração mística afaste do ambiente a
negatividade e atraia energias positivas.
Algumas danças folclóricas e alguns elementos usados na dança são
muito recomendados para atividades com mulheres na terceira idade:
Véu, simbolizando a riqueza é um elemento importante para a soltura
e a evolução da bailarina, é necessário possuir o tamanho, a cor e a forma
correta para a manipulação exata de cada da aluna. O manuseio do véu
estimula de forma grandiosa a coordenação motora e trabalha todos os
músculos do tronco. O véu serve também de adorno, proteção e poses para
a figura da bailarina;
Dança Milaya-Lâff, tipo de véu oriental que foi moda muito popular
nos grandes centros urbanos do Egito, Cairo e Alexandria. A dança faz parte
do folclore egípcio. Milaya é lenço e Lâff é enrolado. Dança sensual e
provocante, usada para flertar e paquerar. Os gestos são típicos da cultura
Baladi. O véu é preto pesado e sem transparência, a bailarina entra com ele
enrolado sobre o corpo e o rosto e durante a dança movimenta suas pontas
118
de forma circulares par dentro e para fora. Movimentos com caminhadas,
ondulações e shimmies;
Bastão e Bengala, tipicamente folclóricos, provenientes dos países
árabes, é uma dança de habilidade, agilidade e energia. Na Índia o bastão
simboliza a posição da coluna vertebral ereta, e por ela flui a Kundalini
(energia da serpente), os movimentos executados são circulares na vertical,
horizontal para frente e para trás, para as laterais e Hélice;
Dança das Taças, dança antiga pertence ao folclore egípcio. São
duas taças com velas acesas e a bailarina segura cada uma em uma mão:
iluminando, cruzadas, desenhadas no ar e em posições de equilíbrio. O
corpo acompanha com muitas ondulações. É o ritual do fogo para purificar o
ambiente e a chama simboliza a paixão ardente que a mulher traz no seu
coração;
Dança Khaleege (Racks AL Nashs’at), dança saudita feminina que
faz parte do folclore do Golfo Pérsico e área da Península Arábica. Feita por
mulheres nômades que dançavam em roda. Muito usada nas celebrações,
as mulheres usam um grande vestido em tecido fino, rico de bordados,
chamado “Thobe AL nasha’at”. O ritmo da música é um ritmo alegre e
intenso chamado Soudi ou Saldita. Seu maior encanto é o trabalho intenso
com os cabelos jogando-os de forma circular, desenhando oitos e jogandoos para frente e para trás e de um lado para o outro. É uma dança bastante
gestual e expressiva de muita alegria. A gesticulação típica das mãos, a
singeleza dos gestos tem expressões culturais. As mangas do vestido são
largas e podem ser usadas para criar um visual exótico, dentro delas
podemos apoiar seu tecido sobre a cabeça de forma graciosa e abusar dos
movimentos de pescoço. O molejo é no deslocamento dos pés, com peso
alternado, com o quadril sendo projetado para frente e para trás. Os
deslocamentos são laterais ou em giros. No Oriente as mulheres idosas são
muito reverenciadas neste tipo de dança.
Na dança existem elementos primordiais ao seu desenvolvimento,
como por exemplo: o andamento e a dinâmica (em relação ao movimento –
velocidade e força); o ritmo (estimulo sonoro); expressão (interpretação e
olhar); noção tempo (troca de movimentos conforme as frases musicais);
119
criatividade (em relação à utilização dos passos); braços (sua utilização com
técnica, delicadeza e coordenação dissociada do resto do corpo); postura
(colocação devida do corpo); técnica (limpeza dos movimentos); estilo
(personalidade da bailarina) e desenvolvimento da dança (começo, meio e
fim).
“Somente um grande pesar ou um grande júbilo poderá revelar
tua verdade. Se queres ser revelado, deves dançar desnudo ao sol ou
carregar tua cruz”.
Gibran Khalil Gibran (1883 – 1931. Artista, Poeta e Escritor libanês)
E você, mulher da Idade da Luz, que se esconde no casulo,
desejas ser revelada como borboleta ou mariposa?
Tânia Bravo (2013)
120
CONCLUSÃO
Como se diz: “Feliz de quem vive como se não devesse morrer”.
Ninguém é tão velho que não acredite que se possa viver ao menos mais um
ano. A vida a Deus pertence, mas somos nós quem a vivemos! E viver é não
fazer distinção de idade. A alegria e o prazer deveriam ser regras gerais
para a vida e pertence a todos os seres jovens e velhos. O estado da velhice
não é sinônimo de tristeza e depressão. O envelhecimento é um processo
biológico, natural e necessário, assim como a morte. Assim como ninguém
pensa em nascer, é o que normalmente dizemos não se deveria pensar em
morrer. Mas, estes conceitos biológicos não são aceitos pelos seres
humanos, principalmente na civilização ocidental.
Numa sociedade que pensa o envelhecimento como declínio, os
sinais da velhice não são bem vindos e o avançar da idade não é muito
valorizado. Mas o desempenho de uma pessoa adulta da terceira idade
significa maior capacidade de ponderação e serenidade. Essas qualidades
são importantíssimas em várias áreas de atuação. Se nem todos os idosos
estão sadios, para isso existe tratamento e prevenção.
Com o processo de envelhecimento orgânico surgem as doenças,
mas o medo das doenças nos apavora tanto que acaba gerando reações
psicológicas muito negativas que podem afetar ainda mais as doenças,
principalmente as mais assustadoras como câncer. O estado psicológico e o
equilíbrio emocional são à base da sustentação de nossa saúde. O conteúdo
da nossa Psique é o manancial de energias do nosso corpo. Uma boa
qualidade de vida, com alimentação saudável e atividade física, aliadas a um
estado psicológico sadio, é um tripé da longevidade. O processo de
envelhecimento é um processo ativo, sendo de certa maneira imposto pelo
próprio organismo, segundo um programa localizado dentro de nosso
patrimônio genético e que também recebe influência do meio ambiente.
A movimentação do corpo é crítica durante o envelhecimento, o
consumo de oxigênio diminui, o sistema nervoso fica mais lento e três
registros se tornam mutantes para o declínio: o corpo orgânico (saúde e
121
capacidade física), a aparência e a energia. Mas é possível melhorar o
condicionamento físico com treinamento. Através da psicomotricidade, é
possível trabalhar para educar e reeducar a pessoa que apresenta distúrbios
que exprimem, por meio de perturbações psicomotoras: debilidade,
inabilidade, atrasos, instabilidade e inibição motora. O treinamento através
da psicomotricidade vai auxiliar a idosa na sua autonomia, na aquisição de
conhecimentos com esse novo corpo e se adequar as novas circunstâncias
de vida. A conexão com outras pessoas vai auxiliar a idosa a viver com mais
qualidade de vida e confiança em sua autonomia. Vai inspirar a mulher idosa
a se sentir mais borboleta do que mariposa.
A segregação e o isolamento é o que existe de pior na velhice, esses
dois fatores roubam-lhe o centro. É quando a idosa perde o próprio Ser e
fica sem esperanças, vivendo nas trevas, em profunda depressão. Esses
sentimentos na verdade são contraditórios, porque se analisarmos
racionalmente o envelhecimento é um caminho para a Luz!
As mulheres que logo serão um grande contingente de terceira idade
duvidam da sua capacidade criadora, pois falta a maioria delas informação e
treinamento, para que se descubra que a força da vida não acaba com a
chegada da menopausa e com um corpo em mutação estética da boa
aparência.
Essa informação e treinamento podem ser adquiridos através da
milenar arte da Dança do Ventre. Mas, por concentrar grande parte de sua
técnica nos quadris, como já foi citada nos capítulos dois e três e pela
languidez dos movimentos de braços e ombros, a dança do ventre é
considerada um código corporal de forte apelo erótico. Portanto esse
conceito incomoda o grupo de mulheres que praticam ou que intencionam
praticar essa dança, como lazer ou atividade física. Sentem vergonha e
receiam o deboche das pessoas que vivem no seu ambiente. Essa noção
acontece principalmente com as mulheres mais idosas, que acabam
excluindo o senso de sexualidade de suas vidas, pois ao manifestar essas
questões passam a ser criticadas pelos familiares e pela comunidade.
Como já foi explicada no capítulo III, essa imagem erótica da dança
foi motivada pelas apropriações midiáticas, em primeira mão no século XIX,
122
com a reprodução artística das artes plásticas, pelos artistas e orientalistas
franceses e ingleses. Essa abordagem erótica continuou para o ocidente em
todos os meios possíveis, como em capa de discos, esquetes cômicos de
programas de TV, comércio sexual e pornográfico, exaltando para este fim o
Arquétipo da Odalisca, divulgando a idéia da dança como arte da sedução
para alcançar um objetivo material ou apenas libidinoso, esvaziando assim
os verdadeiros e genuínos sentidos da Dança do Ventre, que são artísticos,
religiosos, culturais, terapêuticos e pedagógicos. Ou seja, a Dança do Ventre
por si só já é uma atividade psicomotora.
A mulher contemporânea se insere numa rotina atribulada composta
por tarefas envolvendo vida profissional, filhos, netos e atividades
domésticas e muitas vezes academias de ginástica. Com tudo isso acaba
por se sentir frustrada por se ver tomada pelo cansaço do esforço cotidiano
e ainda por cima ser cobrada a se apresentar socialmente com o frescor
feminino que as modelos da mídia exibem. A Dança do Ventre como arte
conhecida em promover a feminilidade pela delicadeza, complexidade e
sinuosidade de seus movimentos, torna-se a bóia de salvação para o
feminino ameaçado. Quando a mulher se veste e se caracteriza como as
bailarinas orientais, entra em contato com o que há de mais feminino:
adornos, maquiagens, roupas ousadas e ricamente bordadas, elementos
que nunca são usados no cotidiano. Além disso, a dança do ventre permite
que a mulher encarne vários papéis femininos, conforme o ritmo e estilos de
dança e os acessórios que usa na dança. Se dançar um Baladi vai
incorporar os trejeitos e sentimentos de uma mulher popular; com uma
música
eletrônica
com
nuances
oriental,
pode
desempenhar
uma
sacerdotisa ou uma deusa no templo; ao dançar uma música clássica
cantada por Umm Kalthoum, pode se sentir uma rainha ou uma figura muito
importante da corte oriental; se dança com uma espada ou bengala, inspirase como uma guerreira e se sente poderosa e se toca snujs, por exemplo, se
sente realizada e diferenciada por saber tocar um instrumento. Todas essas
expressões do feminino são experenciadas nas salas de aula de Dança do
Ventre, por ser uma atividade muito lúdica estimula o imaginário das alunas
de todas as idades. Este é, portanto, o arquétipo da bailarina do ventre. Ela
123
é a própria representação do feminino em toda sua forma e força. O que
acaba sendo um resgate por que tudo isso está enterrado no interior das
mulheres. Seja devido ao ritmo de vida, ou em relação às repressões ou
porque estão envelhecendo e por isso se sentem menos MULHER!
Com a Dança do Ventre todos os medos e inseguranças são
dissolvidos, porque o maior ensinamento desta dança é aprender a se amar,
se aceitar e ter consciência integral do seu ser; viver com toda plenitude do
corpo ao espírito. Essa dança oferece a praticante uma possibilidade de se
inscrever artisticamente no mundo e de subverter os padrões de
comportamento e beleza tradicionais, todos os corpos femininos são
capacitados para absorver o repertório da Dança do Ventre e também de
elaborar construções poéticas dançantes. A dança acontece quando flui, o
conhecimento intrínseco de si mesma isso é autoconhecimento. O processo
de libertação através da dança do ventre acontece à medida que isso vai
sendo trabalhado e desenvolvido. Quanto mais informação a mulher tem
sobre si mesma, mais controle ela adquire. Ganha mais poder,
administrando melhor sua vida cotidiana. Sente-se livre mesmo que viva sob
rígidas regras de conduta social.
A dança também traz à luz outros conhecimentos importantes para
que a mulher se sinta mais segura. É muito importante que junto às aulas
dos movimentos da dança, a praticante adquira conhecimentos de anatomia,
da música que dança e da história da própria Dança do Ventre e todos os
conceitos relacionados a essa arte.
A Dança do Ventre atravessou muitas culturas e não podemos afirmar
seu surgimento, quer geograficamente, quer cronologicamente, e até hoje,
mesmo com todas as fusões que foram feitas em sua arte, ainda é uma
linguagem única em suas especificidades. O Egito passou a ser o difusor da
Dança, porque foi à conexão entre o mundo oriental e ocidental, e dele
partiram os conhecimentos, as experiências artísticas e os estudos sobre a
Dança do Ventre.
Assim como a própria dança, a mulher que aprendeu a conquistar a si
mesma é livre e feliz, como uma borboleta. Sente-se realizada em si mesma.
Mesmo vivendo em organizações repressoras, tem melhor preparo para
124
superar as diversas situações da vida: doenças, envelhecimento, perdas e
abandono familiar, pois essa mulher aprendeu a conquistar a verdadeira
força interior. Esta é a força do real poder feminino, da deusa interior. À
medida que se pratica a antiga forma da Dança do Ventre ou suas novas
formas, surge o despertar da Consciência, que tanto se precisa na Idade da
Luz!
Se tudo pudesse ser dito, não haveria dança para
expressar nossos tremendos vazios.
Dança do Ventre. Uma dança que em seu cerne
abriga a mais rebelde cigana, jamais será dominada,
Jamais será massacrada. Estará sempre guardada em
nosso coração (ATON, p. 231, 2000).
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132
ANEXO 1
TOCADORAS DE INSTRUMENTOS E DANÇARINAS - 18ª DINASTIA
EGÍPCIA
(BAINES E MÁLEK, VOL.II 1996)
133
ANEXO 2
A PONTE
DANÇA EGÍPCIA, SÉC. XIV A.C.
134
ANEXO 3
AFRESCO DA ÉPOCA DOS RAMSÉS
INSTRUMENTOS EGÍPCIOS
(BAINES e MÁLEK, VOL. I 1996)
135
ANEXO 4
DANÇA DE ALMEH
Desenho de Jean-Léon Gérôme, Séc. XIX
136
ANEXO 5
DANÇAS DE ALMEH
Jean-Léon Gérôme. Séc. XIX
137
ANEXO 6
JEAN-LÉON GÉROME. DANÇA DA ALMEH. 1863.
DAYTON ART INSTITUT
138
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO
02
AGRADECIMENTOS
03
DEDICATÓRIA
04
RESUMO
05
METODOLOGIA
06
SUMÁRIO
07
INTRODUÇÃO
08
CAPÍTULO I
11
A DIFERENÇA ENTRE MARIPOSAS E BORBOLETAS
11
1.1 O Segredo da Crisálida
11
1.2 O Simbolismo da Borboleta
16
1.3 A Borboleta e a Psique
20
1.4 Os Arquétipos e o Retorno da Deusa
21
CAPÍTULO II
32
139
O HÁBITO DA SAÚDE: SÓ PARA MULHERES
32
2.1 Além da Menopausa
32
2.2 O Envelhecimento Feminino e suas Patologias
42
2.3 A Imagem Corporal da Mulher na Idade da Luz
54
2.4 A Psicomotricidade Desenvolvendo Borboletas
59
CAPÍTULO III
66
O ESPÍRITO DA DANÇA DO VENTRE: CIÊNCIA E ARTE
66
3.1 O Ventre, O Centro do Corpo e Equilíbrio da Vida
66
3.2 Racks El Sharqi, A Dança do Leste
77
3.3 A Dança do Ventre no Brasil e as Bailarinas Brasileiras
99
3.4 Os Benefícios da Arte Milenar da Dança do Ventre ao Corpo
e a Mente Feminina
104
3.5 O Ensino dos Movimentos Básicos da Dança do Ventre numa
Visão Psicomotora e da Filosofia Oriental
110
CONCLUSÃO
120
BIBLIOGRAFIA
125
ANEXOS
132
ÍNDICE
138
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