AU TO RA L LE I DE DI R EI TO UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” AVM FACULDADE INTEGRADA PE LA A DANÇA DO VENTRE E O CORPO NA IDADE DA LUZ: OT EG ID O “QUANDO A BORBOLETA SE SENTE MARIPOSA” Orientador Profa. Me. Fátima Alves DO CU M EN TO PR Por: Tânia Bravo Leite Pereira RIO DE JANEIRO 2013 UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓSGRADUAÇÃO “LATO SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE A DANÇA DO VENTRE E O CORPO NA IDADE DA LUZ: “QUANDO A BORBOLETA SE SENTE MARIPOSA” ORIENTADOR Profa. Me. Fátima Alves Apresentação de monografia à AVM Faculdade integrada como requisito parcial para obtenção do grau de especialista em Psicomotricidade. Por Tânia Bravo Leite Pereira AGRADECIMENTOS À Queridíssima professora e orientadora Fátima Alves por sua linda energia e carinho com seus alunos. A todos os professores do curso que transmitiram seus preciosos conhecimentos. À professora Samra Sanches, da Escola de Dança Kelimaski, pela excelente formação e informação no curso de Instrutora de Dança do Ventre. À minha linda e paciente amiga e professora de Dança do Ventre Charazad. Aos colegas de curso de Psicomotricidade pela troca de experiências. As colegas fonoaudiólogas do TTC, Laurinda Valle e Monica Campello pela formatação do título da monografia. DEDICATÓRIA (In Memorian) À Memória de minha mãe Nilza Que primeiro me inspirou o desejo de saber dançar Ao Meu querido marido João Baptista e Minha filha amada Natália RESUMO Quando se fala em envelhecimento, terceira idade, geralmente as pessoas relacionam essa fase de vida com doença, fragilidade, dependência, solidão e morte. Mas como cada vez mais é maior a expectativa de vida principalmente entre as mulheres, é extremamente importante a conscientização em relação a esse assunto, que deve ser tratado de maneira séria. Esse trabalho tenta explicar todo o processo fisiológico, psicológico e emocional do envelhecimento para tentar mudar esse paradigma que temos sobre velhice e morte em nossa cultura, e saber se preparar e como se portar na terceira idade de maneira positiva encarando essa fase da vida com respeito e dedicação. Como o limite é o conceito relacional da psicomotricidade, através da atenção e do conhecimento com o corpo, este trabalho tem como objetivo dar consciência dos movimentos corporais integrados a psique e as emoções femininas. Baseada numa visão ampla da dança do ventre, não só como uma modalidade artística, mas como um caminho para o autoconhecimento. Bastante falada, mas não muito bem conhecida ou compreendida, a dança do ventre representa mais um daqueles rituais ou práticas orientais que vem ganhando cada vez mais espaço no ocidente. Como obra que pretende facilitar a vida de mulheres na terceira idade interessadas na dança do ventre, este projeto faz considerações sobre a importância da postura para essa arte e fornece explicações detalhadas sobre os benefícios que sua prática faz para o corpo e a mente feminina. Palavras-Chave: Dança do Ventre, Envelhecimento, Consciência Corporal, Feminilidade, Orientalismo, Atividade Física. METODOLOGIA Esta monografia caracteriza-se como uma pesquisa descritiva do tipo bibliográfica, pois realiza uma revisão de literatura sobre a modalidade da Dança do Ventre e os benefícios que essa atividade pode trazer para a saúde física, mental e emocional das mulheres com mais de 65 anos e revisa todo o processo de envelhecimento do corpo feminino, com todo o seu complexo psicomotor. A busca compreendeu artigos publicados entre os anos de 1990 e 2013, mas em relação às informações sobre ciências médicas sobre idosos, foram abordados trabalhos e pesquisas mais atualizadas. Foram pesquisadas publicações nos idiomas em português e espanhol. A análise e organização de dados foram realizadas da seguinte forma: - Análise textual com a preparação de textos através de leitura rápida e atenta da unidade adquirido assim uma visão geral do texto; - Análise temática com a compreensão do texto determinando o problema e estruturando a seqüência lógica de idéia; - Análise interpretativa: interpretação do texto associando as idéias do autor relatadas na unidade com outras idéias relacionadas ao mesmo tema; - Problematização com discussão do texto através do levantamento das questões explícitas e implícitas na obra; - Síntese Pessoal com a elaboração da mensagem mediante um raciocínio personalizado das questões interpretadas e de experiência própria no exercício da dança. Foram pesquisadas publicações temáticas sobre dança, terapia, religião, história, psicanálise, psicologia, filosofia, anatomia, fisiologia humana, música, ciências médicas e naturais, nutrição, gerontologia, postura humana, exercícios físicos. SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 11 A DIFERENÇA ENTRE MARIPOSAS E BORBOLETAS 11 CAPÍTULO II 32 O HÁBITO DA SAÚDE: SÓ PARA MULHERES 32 CAPÍTULO III 66 O ESPÍRITO DA DANÇA DO VENTRE: CIÊNCIA E ARTE 66 CONCLUSÃO 120 BIBLIOGRAFIA 125 ANEXOS 132 ÍNDICE 138 8 INTRODUÇÃO Presente no Brasil como opção de entretenimento para não árabes desde os anos 70 do século XX, a Dança do Ventre começou a se difundir de modo mais concreto no início dos anos 90. Sua popularidade alcançou o ápice nos anos 2000, com o sucesso da novela “O Clone” da Rede Globo, principalmente no imaginário das mulheres cariocas da cidade do Rio de Janeiro. Essa dança milenar e desconhecida em sua estrutura histórica, de tema vastíssimo e tão pouco explorado no Brasil, acabou se popularizando entre mulheres de todas as idades. E mesmo não existindo ensaios científicos que comprovem os benefícios da dança, muitos médicos e terapeutas, recomendam como tratamento o exercício da Dança do Ventre, para suas pacientes. Existem poucas publicações sobre o assunto e o tema ainda provoca grandes discussões entre profissionais da área de medicina e terapeutas corporais, quanto aos seus benefícios ou não; justamente por ser a Dança do Ventre uma atividade que trabalha muitos grupos musculares e partes do corpo separadamente. Em qualquer atividade física, deve-se evitar a realização de movimentos estereotipados e inadequados a nossa estrutura corporal e ritmo pessoal, movimentos que desgastam ou prejudiquem. Para falar da dança como terapia, deve-se em primeiro lugar esclarecer o conceito de terapia. Terapia é prazer e é penar também. É se trabalhar, se conhecer, desde os lados mais obscuros, aos mais reluzentes. A Dança do Ventre é uma dança que exige da mulher, em primeiro lugar que a mesma aceite seu corpo, pois ela terá de expô-lo para poder estudar essa arte. O trabalho primordial da Dança do Ventre é fazer com que a mulher se aceite, goste dela mesma, para poder iniciar seu aprendizado. Com o passar do tempo, irão experimentar sensações, descobrir movimentos, tensões, dores, bloqueios, enfim, inicia-se um processo de consciência corporal. A mulher, principalmente aquela que passou pela menopausa e está vivenciando a terceira idade, redescobre o prazer da sedução, da 9 feminilidade e sente o prazer que há em movimentar seu corpo, em sua imagem e comover-se com ela. Além do trabalho físico, a Dança do Ventre é uma atividade lúdica, educativa, sociabilizante e artística. Em cada movimento, pode-se experimentar um despertar daquela região corporal, que traz consigo um relaxamento pela mobilidade e uma sensação prazerosa de realizar algo jamais visto. A todo o instante ensina o conceito do eixo; do centro. Longe de ser uma atividade milagrosa, seus benefícios são alcançados com muita dedicação e persistência, sendo um trabalho ilimitado no que diz respeito às metas. Com a evolução da Indústria Bioquímica estamos caminhando a passos largos na realização do velho sonho da humanidade: a Juventude Permanente. Estima-se que a população de mais de 60 anos esteja se multiplicando entre os anos de 1990 e de 2025, e a maioria será de mulheres. Isso exige uma atenção especial, como serão essas expectativas onde vai haver um largo contingente de senhoras idosas no futuro. Em que momento de nossas vidas é hora de nos sintonizar? Não se deve contar a idade, mas a vontade de se conhecer e se empenhar para ser uma pessoa feliz e ativa. A monografia está estruturada em três capítulos: A Diferença entre Mariposas e as Borboletas, O Hábito da Saúde: Só para Mulheres e o Espírito da Dança do Ventre: Ciência e Arte. O primeiro capítulo abrange um estudo sobre os mitos e símbolos femininos, o resgate da feminilidade e da sexualidade, baseados em pesquisas bibliográficas nas áreas da psicanálise, psicologia, filosofia e religião e de ciências naturais. O segundo capítulo descreve todo o processo de envelhecimento do corpo feminino, suas doenças, os tabus da velhice e a educação para um envelhecimento saudável, baseado em pesquisas bibliográficas em livros de ciências médicas, psicologia e filosofia. O terceiro capítulo demonstra a importância da cultura oriental, a história e a evolução da dança do ventre, seus benefícios, técnicas, principais bailarinas, os movimentos básicos da dança e suas danças folclóricas e suas influências na reeducação corporal das mulheres com 10 mais de 65 anos de idade. Pesquisa bibliográfica em livros de história sobre dança, orientalismo e psicomotricidade. 11 CAPÍTULO I A DIFERENÇA ENTRE MARIPOSAS E BORBOLETAS “Cultive um jardim no seu coração! Porque as borboletas, não sobrevivem em deserto”. Arne Saknussem (Alquimista Medieval) 1.1 O Segredo da Crisálida Do latim: chrysaliis e do grego chrysallís, plural crisálidas, é o estágio de pupa de insetos da ordem lepidóptera. O termo é derivado da coloração metálico dourado encontrado nas pupas de muitas borboletas, do grego Chrysós que significa ouro. O estágio da crisálida é o estágio de repouso, dentro dela ocorre o processo de crescimento e diferenciação sexual, ou seja, a metamorfose dos insetos lepidópteros (do grego lépido= escama e ptero= asa). Tanto as borboletas quanto mariposas são insetos que pertencem à ordem dos lepidópteros (asas escamosas), o nome deriva das escamas que caem das asas em forma de pó quando tocadas. Ambas têm muito em comum, se alimentam do néctar das flores e suplementam sua dieta com outros líquidos, como água parada de pesado teor mineral, e suco de frutas apodrecidas. A ordem Lepidóptera é a segunda em diversidade no planeta, atrás apenas da ordem Coleóptera, dos besouros. O total das espécies descritas chega perto de 146 mil, das quais 22 mil são borboletas. Se incluídas as estimativas de espécies de lepidópteros ainda para serem descritas, o total sobe para 255 mil. A Indonésia é o país com maior diversidade de borboletas e o Brasil está em quarto lugar, com cinco mil espécies conhecidas. Pelo menos 55 dessas espécies estão ameaçadas de 12 extinção, segundo a lista oficial, publicada em 2003 pelo Instituto Brasileiro de Meio ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Por suas origens borboletas e mariposas evoluíram ao longo dos últimos 300 milhões de anos, atravessando eras glaciais e interglaciais, enfrentando frio e calor, excesso e falta d’água. Seus primeiros vôos coincidem, no tempo, com o desenvolvimento dos vegetais fanerógamos, as plantas que produzem flores. As diferenças entre mariposas e borboletas se enquadram em duas categorias: comportamento e anatomia. A maioria das borboletas é ativa durante o dia, enquanto a maior parte das mariposas prefere a noite. Borboletas e mariposas também tendem a manter as asas em posições diferentes quando em repouso. É comum ver mariposas com as asas dobradas sobre as costas ou abertas para os lados e as borboletas normalmente mantém as asas unidas em posição vertical, perpendicular às suas costas. Borboletas e mariposas também pupam, ou se tornam adultas, de maneira distinta. Ambas passam por metamorfose em uma crisálida, ou casca protetora. As mariposas, porém tecem uma rede de seda em torno da crisálida, e ocasionalmente a camuflam com folhas ou restos. Outra diferença interessante é em relação à velocidade do vôo, as borboletas podem voar até 20 km/h, enquanto mariposas podem voar até 40 km/h. Anatomicamente o corpo das mariposas muitas vezes é mais robusto e peludo que os das borboletas. As antenas das borboletas são mais largas nas pontas, se assemelhando a pequenos bastões, de aparência lisa, tendo extremidades arredondadas. As antenas das mariposas podem ser finas como das borboletas, mas sem os bastões, mas na maioria das vezes são curtas, grossas e peludas. Muita gente pensa que as mariposas só apresentam cores opacas e até usam isso para identificá-las. A Actias Artemis é uma mariposa asiática, aparentada à mariposa luna, variedade comum. Mas é tão colorida que se tornou conhecida como a borboleta da noite. As asas das borboletas apresentam cores mais vividas, no Brasil 57 espécies de borboletas estão ameaçadas de extinção por serem utilizadas em artesanatos e por causa da degradação do meio ambiente. As borboletas são importantes polinizadoras e alimentam-se de líquidos variados (néctar 13 que extraem das flores ou suco dos frutos maduros que caem das árvores). Ao contrário das mariposas, que quando jovens lagartas ingerem uma quantidade enorme de folhas para terem reserva de energia para a fase adulta, pois muitas espécies não se alimentam na fase adulta. Por isso, as mariposas são às vezes consideradas pragas de plantações durante sua fase jovem. Muitas vezes, também são consideradas bruxas, na sua fase adulta, devido a sua aparência grotesca. No folclore popular, as mariposas, principalmente as de cor negra, trazem sempre presságios funestos, e são consideradas mensageiras da morte. A palavra mariposa deriva de Mari e posa imperativo de posar. A alma era freqüentemente representada por uma mariposa. Em Portugal e Espanha, o termo mariposa é mais comumente utilizado como sinônimo para as borboletas. As mariposas de colorações mais vibrantes habitam regiões tropicais, e muitas delas podem ser venenosas, normalmente essas espécies se alimentam de folhas tóxicas e absorvem um pouco de veneno, e assim escapam de seus predadores naturais, os pássaros. Algumas lagartas de mariposas fazem buracos no chão, onde ficam até se tornarem mariposas adultas. Atraídas pela luz costumam voar em círculos freneticamente em volta de luzes, principalmente de luzes artificiais; à razão para esse comportamento ainda é desconhecido, mas uma hipótese é de que as mariposas se utilizam de uma técnica de navegação chamada de orientação transversal. Ao manter uma relação angular constante a uma fonte de luz, como a Lua, por exemplo, elas conseguem manter um vôo em linha reta. Objetos no espaço são tão distantes que mesmo depois de ter voado grandes distâncias, a mudança de ângulo entre a mariposa e a fonte de luz é desprezível. Quando mariposa encontra uma fonte de luz muito mais próxima, como a luz dentro de uma casa, e a usa para navegação, o ângulo muda drasticamente depois de pouco tempo de vôo e assim a mariposa tenta instintivamente corrigir esse ângulo se virando contra a luz, resultando assim num vôo com um ângulo espiral cada vez mais perto dela, o que explica o motivo delas voarem em círculos em volta da fonte de luz artificiais e constantemente se baterem contra ela. Muitas mariposas usam uma 14 espécie de laços conhecidos como retinaculum e uma franja chamada frenulum para conectar suas asas frontais e traseiras. Já as borboletas não apresentam essas estruturas. Borboleta vem de belbelita, termo derivado de belo. Panapaná e Panapanã da língua tupi Panapaná. A borboleta pode ter o peso mínimo de 0,3 gramas e as mais pesadas podem chegar a pesar três gramas; alguns tipos de borboletas podem chegar a medir até 32 centímetros de asa a asa. A maior borboleta do mundo, a borboleta-asa-de-pássaro-rainha- alexandra (Ornithoptera alexandrae) pode ter cerca de 31 centímetros de envergadura e pesar 12 gramas. As borboletas têm dois pares de asas membranosas cobertas de escamas e peças bucais adaptadas à sucção. Distinguem-se das traças pelas antenas retilíneas que terminam numa forma arredondada, pelos hábitos de vida diurnos, pela metamorfose que decorre dentro de uma crisálida rígida e pelo abdômen fino e alongado. Quando estão em repouso, as borboletas dobram as asas para cima. As borboletas são o grupo mais popular dos insetos. Admiradas desde sempre pela sua beleza e elegância, elas foram colecionadas durante séculos, tendo sido alguns colecionadores os primeiros a dedicarem-se ao seu estudo científico. Existem em todas as partes do mundo, com exceção das regiões glaciais. O corpo da borboleta é constituído por três partes: cabeça, tórax e abdome. O corpo externo é coberto por pelos sensores, e as asas contém películas que liberam hormônios voláteis durante o acasalamento. A cabeça da borboleta é dotada de um par de antenas ou sensores longos, sensíveis ao tato e a odores. Um par de olhos compostos e oblíquos permite ampla visão angular. As borboletas detectam movimento, mas não vêm detalhes. Cada olho composto constitui-se de milhares de pequenos ocelos, cada um deles dotado de uma pequena lente conectada ao nervo óptico. Outro componente da cabeça é a probóscide, ou língua, usada para sugar líquidos. Sua estrutura assemelha-se a dois canudos unidos entre si. O tórax é uma caixa muscular com três segmentos, dos quais saem os três pares de pernas. Contêm também os músculos de vôo que estão ligados à base das asas; o segundo e o terceiro par de asas estão respectivamente ligados ao segundo e ao terceiro segmentos do tórax. No abdome estão os sistemas 15 digestores e o sistema excretor. Os órgãos sexuais ou genitália são encontrados no abdome. As características internas da genitália são úteis na identificação das diferentes espécies de borboletas. O estágio da pupa distingue as borboletas dos outros insetos, os quais, nos ciclos iniciais, parecem apenas adultos em miniatura. Os ovos apresentam diferentes formatos e tamanhos de acordo com a espécie, e às vezes contêm indícios úteis para identificação. A fêmea bota 200 – 500 ovos na parte inferior das folhas, individualmente ou em grupos, os quais ficam grudados à superfície de maneira a não cair e são protegidos por películas derivadas do abdome da fêmea. No primeiro estágio, a lagarta sai do ovo e, conforme vai crescendo, passa por um processo de muda da pele. A pele externa é trocada cinco vezes e, a cada troca, a lagarta cresce mais e se alimenta até ter mais ou menos 3 – 6 semanas, quando do fica pronta para se transformar em pupa. Em geral, as borboletas não tecem o casulo de seda para proteger a pupa, mas todas as lagartas possuem glândulas de seda, que são usadas para tecer uma base firme na qual a pupa se fixará, ou uma guirlanda de seda em torno da pupa para segurá-la a um ramo. A pupa de muitas borboletas fica presa a um galho, sob a luz solar direta, protegida apenas pela camuflagem por meio de cor, formato ou padronagem. Após 10 dias, ou na primavera para as espécies nas quais a pupa hiberna, surge o adulto. Algumas horas antes de emergir, a cor da pupa se altera. Nessa fase, as duas linhas frágeis ao longo da cabeça e das pernas se rompem e o inseto se esgueira por elas. Antes de poder voar, a borboleta permanece muito vulnerável e indefesa até que suas asas sequem, processo que demora cerca de uma hora. Algumas das borboletas mais comuns encontradas no mundo inteiro são migrantes regulares. Elas podem ser vistas nas mais diferentes regiões climáticas como, por exemplo, nas regiões tropicais, subtropicais e temperadas, às vezes em grandes quantidades. Nos climas temperados em que há estações distintas, a razão da migração das borboletas é clara. Quando o hemisfério norte se aquece na primavera devido à crescente elevação do sol, os pássaros se mudam para se alimentar de insetos e borboletas. Nos trópicos, região na qual não existe diferença marcante de 16 estações, as borboletas demonstram outra razão para migrar para locais distantes da área na qual cresceram na forma de lagartas. Se todas as borboletas permanecessem no local que emergiram, haveria muita competição e as lagartas morreriam de fome. O oposto da migrante é a espécie residente que permanece na área em que se desenvolveu na forma de lagarta. Normalmente tem pequena capacidade de dispersão e pode permanecer o resto da vida no mesmo território em que emergiu como adulta. A maior parte das borboletas é residente. Existem variações entre os tipos: migrante e residente. Tecnicamente, migração é o movimento de ida e vinda de um local para outro. Na realidade, as borboletas nunca agem dessa forma, embora haja exemplos de pequenos retornos migratórios. Vagante é outro termo usado para descrever uma borboleta que se desloca por longas distâncias, porém sem retornar ao lugar de origem, obrigatoriamente (ENCICLOPÉDIA VIDA NA TERRA: INSETOS E ARACNÍDEOS, p. 20 e 34 – 35). 1.2 O Simbolismo da Borboleta O antigo sábio chinês Confúcio afirmou que: “os signos e símbolos governam o mundo, não as palavras e as leis”. Desde o início dos tempos, o conceito do simbolismo apareceu em todas as culturas humanas, estruturas sociais e sistemas religiosos, contribuindo para a visão do mundo e proporcionando informações sobre o cosmo e o nosso lugar nele. Os símbolos tendem a acumular seus significados lentamente, ao longo de centenas de anos. Como palavras, suas conotações proliferam em muitos ramos, dividindo-se, seguindo uma variedade de rotas distintas de acordo com o contexto cultural. Entretanto, alguns símbolos, ou tipos de símbolos, são tão universalmente poderosos tão próximos à verdadeira essência da vida, que seus significados tendem a permanecer constantes ou variar dentro de um espectro muito mais estreito. Há geralmente uma conexão entre o poder dos símbolos e sua antiguidade. Para as sociedades primitivas, os requisitos mais básicos da 17 vida: calor, comida, abrigo e sexo, tomam grandes proporções. Junto com isso, os instintos de sobrevivência e de reprodução, estavam o instinto de achar significados, de entender mais os sentidos das necessidades das quais a vida dependia. Conforme as civilizações se desenvolveram, as primeiras preocupações retiveram sua força, e mesmo hoje os símbolos ligados a elas ressoam com significância. A força e o significado de alguns símbolos mais antigos do mundo ainda estão disponíveis para nós atualmente. Como se estivessem se comunicando com um centro escondido em nosso interior, esses símbolos, podem ser encontrados na arte e nos artefatos remanescentes das primeiras civilizações do mundo e falam claramente das preocupações físicas, sociais e espirituais de nossos ancestrais, além de representar as idéias que permanecem fundamentalmente importantes para a humanidade moderna. As borboletas povoam os versos de poetas e a imaginação das pessoas. Inspira o sentimento mais nobre do ser humano: a liberdade. No ano de 2013, as estampas de borboleta estão no hit entre as tendências da moda. O efeito borboleta da moda que começou a chegar ao final de 2012 e início de 2013 vai de unhas decoradas a roupas e acessórios. Durante a alta do verão a imagem das borboletas expressa alegria, liberdade e harmonia; significa metamorfose e transformação. De imediato consideramos a borboleta como um símbolo de ligeireza e de inconstância. Borboletear está nos dicionários: Verbo intransitivo, ato de adejar como as borboletas – devanear, fantasiar, vagar, vaguear, divagar. Sem as borboletas na natureza, não existiria o equilíbrio ecológico necessário. Símbolo da alma e da ressurreição no Congo, no México e na Polinésia. Também um símbolo de vida e de seu ciclo; na arte ocidental às vezes Cristo é retratado segurando uma borboleta. Devido ao seu ciclo de vida metamórfico, a borboleta é um símbolo típico de transformação, renascimento místico e alma transcendente. Alguns aborígines australianos consideram as borboletas como espíritos dos mortos que retornaram. A graça e a beleza da criatura a tornam um emblema da mulher no Japão, onde duas borboletas dançando juntas simbolizam a felicidade marital e, na China, ela está associada aos prazeres da vida e aos 18 espíritos superiores. Alguém que muda de uma coisa para outra e nunca está satisfeita pode ser descrito como uma borboleta. Ligeireza sutil: as borboletas são espíritos viajantes; sua presença anuncia uma visita ou a morte de uma pessoa próxima. Outro aspecto do simbolismo da borboleta se fundamenta nas suas metamorfoses: a crisálida é o ovo que contém a potencialidade do ser; a borboleta que sai dele é um símbolo de ressurreição. É ainda, se preferir, a saída do túmulo. Um simbolismo dessa ordem é utilizado na Psique, que é representada com asas de borboleta. E também no de Yuan-K’o, o imortal jardineiro, a quem a bela esposa ensina o segredo dos bichos-da-seda, e que talvez ela própria seja um bicho-da-seda. Pode parecer paradoxal que a borboleta sirva, no mundo sinovietnamita, para exprimir um voto de longevidade: essa assimilação resulta de uma homofonia, dois caracteres com a mesma pronúncia (t’ie) significando, respectivamente, borboleta e idade avançada, setuagenário. Por outro lado, a borboleta é às vezes associada ao crisântemo para simbolizar o outono. No conto irlandês do ciclo mitológico, Tochmarc Etaine ou Corte de Etain, a deusa, esposa do deus Mider e símbolo de soberania, é transformada em uma poça de água pela primeira esposa do deus, que é ciumenta. Mas dessa poça nasce, pouco tempo depois, uma lagarta, que se transforma em uma magnífica borboleta, a qual o texto irlandês algumas vezes chama de mosca; mas o simbolismo é eminentemente favorável. Na América Latina, a palavra em espanhol para borboleta é mariposa pode se referir a uma prostituta, que vai de um homem para outro. Entre os astecas, a borboleta é um símbolo da alma, ou do sopro vital, que escapa da boca do agonizante. Os astecas associavam a borboleta às mulheres que tinham morrido no parto. Uma borboleta brincando entre flores representa a alma de um guerreiro caído nos campos de batalha. Os guerreiros mortos acompanham o sol na primeira metade de seu curso visível, até o meio-dia; em seguida eles descem de volta a terra sob a forma de colibris ou de borboletas. Todas essas interpretações decorrem provavelmente da associação analógica da borboleta e da chama, de fato de suas cores e 19 bater de suas asas. Assim, o deus do fogo entre os astecas leva como emblema um peitoral chamado borboleta de obsidiana. A obsidiana, como o sílex, é uma pedra de fogo; sabe-se que ela forma igualmente a lâmina das facas de sacrifício. O sol, na Casa das Águias ou Templo dos Guerreiros, era figurado por uma imagem de borboleta. Símbolo do fogo solar e diurno, e por essa razão da alma de guerreiros, a borboleta é também para os mexicanos um símbolo do sol negro, atravessando os mundos subterrâneos durante o seu curso noturno. É assim símbolo do fogo ctoniano oculto, ligado à noção de sacrifício, de morte e de ressurreição. É então a borboleta de obsidiana, atributo das divindades ctonianas, associadas à morte. Na glíptica asteca, ela tornou-se um substituto da mão, como um signo do número cinco, número do Centro do Mundo. Um apólogo dos balubas e dos luluas do Kasai (Zaire Central) ilustra ao mesmo tempo a analogia alma-borboleta e a passagem do símbolo à imagem. O homem, dizem eles, segue da vida à morte, o ciclo da borboleta: ele é, na sua infância, uma pequena lagarta, uma grande lagarta na sua maturidade; ele se transforma em crisálida na sua velhice; seu túmulo é o casulo de onde sai sua alma que voa sob forma de borboleta; a postura de ovos dessa borboleta é a expressão de sua reencarnação. Do mesmo modo, a psicanálise moderna vê na borboleta um símbolo do renascimento. A relação do indivíduo com seu próprio desenvolvimento podem ser comparados à metáfora da lagarta e da borboleta. Pode-se escolher ser lagarta a vida toda e não passar pela transformação de lagarta para borboleta. A borboleta possui quatro fases de seu desenvolvimento e carregam consigo a ousadia de voar e pousar em vários jardins. O corpo é leve e mesmo assim ela consegue pousar na flor aberta e onde suga o néctar adocicado e na fase adulta elas preferem os lugares abertos com flores, bosques, prados, jardins e florestas pouco densas, sem muito frio e sem muito calor, o ambiente perfeito para sua sobrevivência. As borboletas são os seres mais elegantes da natureza e cientificamente os mais fantásticos; é fonte de fascinação. Representam a transformação, a imortalidade e a beleza emergindo da morte aparente (o casulo aparentemente sem vida). 20 Uma crença popular da Antiguidade Greco-romana dava igualmente à alma que deixa o corpo dos mortos a forma de uma borboleta. Nos afrescos de Pompéia, Psique é representada como uma menininha alada, semelhante a uma borboleta. Essa crença é encontrada entre certas populações turcas da Ásia central que sofreram uma influência iraniana e para as quais os defuntos podem aparecer na forma de uma mariposa. Ainda que os Padres da Igreja Católica acentuem fortemente a simbologia da ressurreição da borboleta, a primitiva arte cristã não a reproduziu. Em afrescos das catacumbas e sarcófagos encontra-se, em seu lugar, a retomada do antigo mito, narrado por Lúcio Apuleio (escritor e filósofo, do Asno de Ouro, séc. II D.c), do Amor e da Psique no pensamento e na arte cristãos como símbolo da relação entre Cristo e a alma. O mosaico da criação (Séc.XIII) no átrio da entrada de S. Marcos, Veneza, vale-se igualmente da antiga representação da Psique de asas de borboleta para tornar plástica a dotação de Adão com alma vivente. Nos sécs. XVII e XVIII, a imagem da borboleta, no antigo sentido da alma imortal, voltou a ser usada na Alemanha protestante em inúmeras lousas sepulcrais (HEINZ-MOHR, 1994). 1.3 A Borboleta e a Psique A mitologia grega representa psyché na forma de uma borboleta. Ela é a esposa de Eros, o Deus do Amor (traduzido como cupido pelos romanos). A borboleta que sai do casulo é símbolo da alma imortal (psyche) que deixa o corpo do morto. Por isso em obras de arte a psyche aparece em geral com asas de borboleta. Também o deus do sono, Hypnos, foi pintado com asas de borboleta, uma vez que se considerava o sono como libertação periódica da alma dos laços terrenos. O termo “psicologia” vem da associação de duas palavras gregas, psyché e logos e começa sendo definida como o estudo do espírito (mente). Embora, hoje em dia, não seja 21 essa a concepção que a maioria dos psicólogos tem dela. O termo “espírito”, inevitavelmente na concepção da psicologia tem o sentido “da mente”. A história da Psique, na mitologia grego-latina, era de uma jovem princesa, meiga e ingênua, de rara beleza, comparável a Vênus (Deusa da beleza e do Amor). Vênus descontente por ter uma rival de sua beleza, entregou Psique às traquinices do seu filho Eros (Deus do Amor, Cupido), encantador menino alado, de cabelos encaracolados, risonho e travesso, fornido de setas implantando amor tirano nos corações de outros. Eros logo que viu Psique, ficou apaixonado e a desposou. Psique representa a alma humana, que não pode amar sem sofrer de seus amores, e assim foi que Eros, que faz todos sofrer, sofreu por sua vez. Psique não sabia que seu amante era o Deus do Amor. Este vinha visitá-la somente à noite. O nascer do dia trazia a jovem o desgosto de haver perdido aquele que seu coração amava; o consolo da noite era precário, pois jamais ela vira seu misterioso esposo. As duas irmãs de Psique, invejosas, persuadiram-na a ter preparada uma lâmpada e aproveitar do sono do marido para ver quem era. Assim fez. Reconhece o Deus no esplendor da sua eterna juventude; quando quis dar um beijo, caiu sobre ele uma gota do azeite ardente. Eros desperta e, vendose surpreendido, desaparece para jamais retornar. Psique, desconsolada, chora sem cessar. Vai até Vênus e esta que não esquecera seus ressentimentos, escraviza Psique, obrigando-a a viver no meio da tristeza e da inquietação e cumprir várias missões. O Deus Júpiter intercede na situação de Psique. Assim, o casal Eros e Psique conseguem sua união. Dessa união nasce uma filha, chamada de Volúpia (SPALDING, 1965). 1.4 Os Arquétipos e o Retorno da Deusa As histórias e os mitos revelam o nível de desenvolvimento de uma sociedade. Na Antiguidade, a primeira via de expressão dos arquétipos foi às histórias narradas oralmente e depois registradas na forma de mitos. As imagens arquetípicas espelhadas nessas histórias revelam as qualidades especiais que as pessoas precisavam ter para florescer na cultura delas. Os arquétipos podem refletir os mais profundos aspectos da natureza emocional 22 de uma pessoa; é, basicamente, um retrato bidimensional de atitudes pessoais. Eles simbolizam ritos de passagem em direção à plenitude e à integração. Cada indivíduo tem a possibilidade de realizar todos os arquétipos em sua personalidade, sejam eles dominantes ou passivos. De acordo com o psicólogo e psicoterapeuta suíço Carl Gustav Jung (1875-1961), símbolos são gerados a partir do inconsciente como expressão de algum profundo poder interior do qual estamos a par, mas não conseguimos expressar com palavras. Certos tipos de simbolismo constituem uma linguagem universal, porque as imagens e seus significados ocorrem de formas similares, por meio das culturas e dos séculos. Os símbolos que constituirão essa linguagem são a expressão natural das forças psicológicas interiores. As teorias modernas sobre os significados e uso dos símbolos são derivadas em grande parte do trabalho pioneiro de Jung. Ao analisar sonhos de vários pacientes, normais, neuróticos e psicóticos, Jung notou a recorrência de certas imagens profundamente simbólicas, como por exemplo, a mandala. Ele também se impressionou com a similaridade entre as imagens que emergiam durante as sessões de análise e os símbolos presentes nas religiões orientais e ocidentais, nos mitos, nas lendas e nos rituais, particularmente aqueles ligados a movimentos esotéricos como a Alquimia. Jung concluiu não apenas que alguns símbolos são de significância universal, mas também que o simbolismo tem um papel importante nos processos psíquicos que influenciam cada aspecto do pensamento e do empreendimento humano. Enterrado ainda mais profundamente na psique humana, na visão Junguiana, está o “inconsciente coletivo”, o lugar daqueles padrões instintivos de pensamento e de comportamento moldados através dos milênios da experiência humana sob a forma do que nós agora reconhecemos como emoções e valores. Essas imagens primordiais não podem ser trazidas para a consciência: elas devem somente ser examinadas sob a forma simbólica personalizadas como homens e mulheres, ou como imagens projetadas por nossas mentes sobre o mundo externo. Jung denominou esses símbolos como “arquétipos” e os considerou a herança comum da humanidade. 23 De acordo com Jung, um indivíduo é psicologicamente “saudável” quando o consciente e o inconsciente estão em equilibro dinâmico. Ele considerava que a energia psíquica (a “força vital”) fluía da inconsciência para a consciência a fim de satisfazer as demandas desta última, e na direção oposta para satisfazer a inconsciência. Qualquer interrupção nessa progressão ou regressão é uma falha em reconciliar as forças opostas que compõem a psique humana, e conduz ao conflito interno. Assim como a divisão entre consciente e inconsciente, essas forças consistem de outros “opostos”, tais como intuição e racionalidade, emoção e pensamento, instintos e espiritualidade, e os vários aspectos duplos da personalidade como extroversão e introversão, autoridade e simpatia, negação e conformidade. A crença de Jung de que os símbolos arquétipos podem ser usados para explorar os limites entre o consciente e o inconsciente teve uma influência importante sobre as técnicas clínicas. Foi principalmente por causa de suas idéias sobre simbolismo que Jung foi forçado a romper com seu amigo e mentor Sigmund Freud. Este atribuiu grande importância ao uso dos símbolos para a compreensão da mente humana, mas os considerou como representações da sexualidade reprimida ou de outro conteúdo mental definidor. A partir dos estudos clínicos e pesquisas sobre mitos e tradição, Jung identificou as principais influências arquetípicas sobre o pensamento e os comportamentos humanos. Anima é o arquétipo feminino, a imagem coletiva e universal da mulher gravada no inconsciente masculino. O caráter da anima masculina é moldado pela mãe. Anima pode aparecer em um mito como deusa, prostituta, fada ou bruxa. Em seu aspecto negativo é geralmente personificada como mulher sedutora que traz humilhação e morte. Em seu aspecto positivo, acredita-se que a anima tenha poderes espirituais e esconda conhecimentos dos elementos da Terra e do mar. Animus é a imagem coletiva do homem no inconsciente feminino, emerge simbolicamente em seu aspecto positivo como o ideal de hombridade. É o pai que dá ao animus da filha convicções que nunca tem a ver com a pessoa real que é aquela mulher. O animus da mulher é tipicamente simbolizado como um homem atlético, que se desenvolve em romântico “homem de 24 ação”, sobre o qual os desejos da juventude são projetados. Mais tarde, ele quase sempre se torna uma figura paterna ou líder espiritual. Em seu aspecto negativo, o homem cruel e destrutivo que trata a mulher como objeto. É o lado da mulher agressivo, que anseia por poder e é irredutível nas suas opiniões. O animus, tal como o anima, apresenta quatro estágios de desenvolvimento. Na fase superior torna-se como o anima, o mediador de uma experiência religiosa por meio do qual a vida adquire novo sentido, dando a mulher firmeza espiritual e um invisível amparo interior que compensa a sua brandura exterior. Relaciona a mente feminina com a evolução espiritual da sua época, tornando-a assim mais receptiva a novas idéias criadoras do que o homem. Antigamente, em muitas culturas cabia às mulheres a tarefa de adivinhar o futuro ou a vontade dos deuses (JUNG, 2008, p. 259). Processos poderosos também estão ativos em outros arquétipos. Enquanto o arquétipo materno, aquele lado da natureza humana que nutre e cuida, começa a se expressar desde o nascimento durante a amamentação da criança e no seu comportamento afetuoso, o arquétipo paterno geralmente emerge mais tarde. O pai é o senhor do mundo material e temporal, enquanto a mãe é a regente do mundo invisível das emoções e sentimentos. Em seu aspecto positivo, o arquétipo paterno é a presença protetora, o justo legislador e juiz. Em seu aspecto negativo, ele é o tirano monstruoso. O arquétipo do Trickster é a energia desordenadora e rebelde que aprecia negar e questionar o status quo. O Trickster não tem um código moral além do anseio por desordenar e ridicularizar. Na pior das hipóteses, pode destruir nossa autoconfiança e converter nossas crenças mais caras, mais ele também pode servir a propósitos, tirando-nos da complacência e forçando-nos a reexaminar nossos objetivos. No mito, o Trickster mais bem simbolizado é o deus escandinavo Loki, que ou ajudou seus amigos deuses ou pregou peça neles, a seu bel-prazer. A sombra é uma energia desordenadora de um tipo diferente. Ela é parte da natureza humana obstinada e egocêntrica, que projetada externamente é o anseio de encontrar um bode expiatório e de acusar 25 aqueles menos capazes de se defender. É uma expressão dos desejos básicos e anti-sociais que desejamos enterrar no inconsciente, que sentimos que pode nos impelir a atos destrutivos, se perdermos o controle sobre ela. Mas ela também tem um papel positivo, estabelecendo uma tensão criadora contra os aspectos arquétipos mais arraigados, nos dando algo contra o que lutar na vida, um obstáculo interno a superar. Embora a sombra seja uma parte essencial da psique, nós a expressamos em geral durante os primeiros anos de vida, no processo de sociabilização, para sermos mais merecedores do amor de nossos pais. Aceitar a sombra tarde na vida requer um esforço moral considerável (FONTANA, 2010). Quando os arquétipos não são reconhecidos, podem destruir pessoas ou nações inteiras. Como bem observou Jung, quando um arquétipo é constelado no inconsciente e não passa pela compreensão consciente, a pessoa é possuída por ele e forçada a cumprir sua meta fatal. (WHITMONT, 1991, p. 47) Em todas as eras anteriores à nossa, acreditou-se em deuses de uma forma ou outra. Somente um empobrecimento sem precedentes do simbolismo poderia nos permitir considerar os deuses como fatores psíquicos, ou seja, como arquétipos do inconsciente. Não há dúvida de que essa descoberta ainda não é plenamente aceita. (JUNG apud WHITMONT, p. 21, 1991). Partindo do ponto mais remoto do passado, a consciência se desenvolveu a partir de uma orientação ginecolátrica, matriarcal e mágica. Esse período ginecolátrico se estende da Idade da Pedra a Idade do Bronze, o mundo é mágico e governado pelo poder da Grande Deusa, como objeto central de adoração. Houve um longo tempo de paz e harmonia na terra, um tempo em que homens, mulheres e crianças viviam felizes, celebravam e dançavam nas consagrações feitas a Deusa-mãe, pois era a mãe que nutria essa Terra e o pai a protegia. A Deusa é a guardiã da interioridade humana. As mulheres trazem dentro de si mesmas, a energia de muitas deusas: da Sabedoria, da Paciência, da Força, da Criatividade, da Guerra e do Amor. 26 Nomes famosos de Deusas arcaicas como: Inana, na Suméria; Anath, em Canaã; Isthar, na Mesopotâmia; Skhmet, no Egito; as Morrigan, no Eire; Kali na Índia; Pallas, na Grécia e Belona, em Roma; exerciam domínio sobre o amor e sobre a guerra. Dentro dos arquétipos das deusas, pode-se descobrir qual delas está esquecida ou reprimida dentro de cada mulher, pela dor de uma ferida não curada da infância, pelo desamor ou pela raiva. Pode-se descobrir, também, no interior de cada mulher, se a deusa está à luz ou á sombra, fazendo rever os departamentos das vidas femininas onde a energia está estagnada, recriando o destino e a história, livrando das amarguras, ansiedades, tensões e frustrações, trazendo luz a pontos mais escondidos do Ser feminino. Os valores psicológicos que estiveram associados à Grande Deusa parecem ter atingido o seu máximo desenvolvimento da Idade do Bronze (3.500 a.C.), e estão voltando. Segundo o psiquiatra americano WHITMONT (1991, p.10): “A Deusa está voltando”, pois acredita que a influência do arquétipo da Deusa terá papel importante nas relações humanas do futuro. A Grande Deusa representa ser e tornar-se. O arquétipo da Grande Mãe é uma espécie de banco de dados de incontáveis experiências de concepção, gestação, parto e cuidados registrados no inconsciente. Tudo é parte do amplo conjunto de memórias do processo evolutivo humano, que o parco entendimento dessas verdades dicotomizou em corpo e mente. Qualquer mulher, quando vai ser mãe, sofre certa estimulação inconsciente desse arquétipo. Na prática tudo funciona para que ela se adapte da melhor maneira possível à tarefa de parir, usando o acervo humano de incontáveis experiências. (PENNA, 1993, p. 88). Na perspectiva do arquétipo da Grande Mãe, nossas atitudes para com a natureza dentro e fora de nós geralmente podem ser nutritivas ou devoradoras. As primeiras são construtivas e promovem, alimentam. As últimas são destrutivas, consomem e aprisionam. Essas alternativas são válidas também para os relacionamentos sociais. Jung destacou três 27 aspectos essenciais desse arquétipo que são encontrados nas pessoas sob influência das imagens da Grande Mãe em todas as épocas: a capacidade de nutrir e proteger os mais carentes, a emocionalidade e sua capacidade para o prazer e a alegria (JUNG apud PENNA, 1993, p.101). A masculinidade e feminilidade são forças arquetípicas, que constituem maneiras diferentes de se relacionar com a vida, com o mundo e com o sexo oposto. A repressão da feminilidade, afeta a relação da humanidade com o seu mundo, assim como as relações mútuas ente homens e mulheres. A transição de um mundo do predominantemente ginecolátrico para outro androlátrico foi pontuada por estágios: da Deusa para Deus, do panteísmo para o teísmo e depois para o ateísmo ou não-teísmo. A mudança em direção a uma decisiva predominância dos valores masculinos talvez tenha ocorrido em algum momento do segundo milênio antes de Cristo. Na sociedade mais primitiva, no Mesolítico, a figura da mulher era guardiã de muitos segredos; o homem olhava admirado para a barriga de sua companheira que crescia e inexplicavelmente findo um período de luas, um novo ser humano aparecia. Quando a barriga não inchava, sofria sangramentos determinados pelas lunações. O aspecto divino que a figura da mulher oferecia, também era observado na natureza. Os primeiros humanos perceberam que os períodos lunares, tinham a ver com várias seqüências naturais e a figura da lua passa a ser Deusa, que tinha muito em comum com as mulheres. No período Neolítico, o homem toma consciência de que tem papel na fecundação e concepção, a mulher começa a ser desvalorizada. O poder da criação passa as ser do pai e o poder do macho se impõe. É o começo da fase heróica, quando o ferro foi aos poucos substituindo o bronze. Marca também o declínio daquela que mais tarde será descrita como era mitológica, quando as divindades masculinas substituíram a imagem da Grande Deusa como objeto central de adoração. O ego patriarcal dos homens, e também das mulheres, para atingir o seu estágio heróico e de disciplinamento do instinto, de esforço e de progresso, voou para longe do terror puro causado pela Grande Deusa. As mulheres tornaram-se filhas 28 espirituais do patriarcado e acabaram por identificar-se com o pai e a cultura patriarcal, alienando-se de sua própria base feminina e da mãe pessoal, que freqüentemente é por elas considerada fraca e irrelevante. No plano psicológico, o tema do reinado patriarcal resultou numa primeira noção de centralidade individual e numa capacidade para a intencionalidade racional e para a vontade pessoal. Com o tempo, o mito do reinado egóico do patriarcado resultou num monoteísmo acelerado e no enrijecimento do enfoque e da função centralizadora da percepção do consciente. As visões do mundo mágica e mitológicas antes existentes tinham dado margem a uma pluralidade de forças, poderes e personalidades, banidos pela visão do mundo centralizada e monoteísta. O patriarcado regula os elementos externos do comportamento humano, mas desvaloriza o instinto, os sentimentos e sensações, a intuição, a emoção individualizada, e as profundezas do feminino, exceto quando estão a serviço do coletivo. Enquanto teologia, o mito aparece no conceito de Deus único; enquanto psicologia, no conceito um self unificado, de uma personalidade eu. Essa personalidade eu deificou os aspectos conscientes da experiência e negou a multiplicidade de aspectos e complexos pré-ego-conscientes dos quais ela mesmo emergiu. Essa tendência geral atingiu sua máxima expressão nas três grandes religiões ocidentais: o Judaísmo, o Cristianismo e o Islamismo. As duas primeiras, em especial, foram indispensáveis à moldagem da cultura e da ética do mundo ocidental. Quanto ao Islamismo, estamos testemunhando o ressurgimento de uma postura fundamentalista e desconhecemos seus resultados finais. Durante o período ginecolátrico, o mundo é mágico. È governado pelo poder da Grande Deusa. Dela tudo procede e a ela tudo retorna. A Grande Deusa representa ser e tornar-se. A desvalorização do feminino é um aspecto intrínseco à cultura dominante na vigência do desenvolvimento do ego patriarcal. A “fraqueza natural da mulher” sabe-se hoje que é uma ficção: 29 A transição do matriarcado para o patriarcado é um estágio necessário a um progresso real. O matriarcado deu às mulheres um prestígio falso, porque mágico. Com o advento do patriarcado, foi inevitável o confronto com o fato real da maior fraqueza natural das mulheres. Os homens mais fortes, quando superam sua crença na força mágica das mulheres, passaram – movidos por uma lógica prática e compreensível – a menosprezá-las e escravizá-las como sexo frágil. (HARRISON apud WHITMONT, 1991, p. 141). Em todas as eras as mulheres sempre foram maioria. Quanto à sua capacidade mental, são iguais ou até superiores aos homens. Em relação à força física, independente da capacidade mental, se esse fosse fator determinante de domínio, as feras do planeta teriam dominado a raça humana. O status inferior das mulheres precede a industrialização em cerca de seis mil anos. Mas quando surgiram à necessidade e a oportunidade, como aconteceu durante o período de guerras mundiais no século XX, as mulheres se saíram tão bem, ou melhor, capazes que os homens, nas linhas de montagens industriais. Apesar da recente quebra do mito da desigualdade e da inferioridade da mulher, muitas delas ainda se sentem desvalorizadas perante os homens. Essa situação traz medo do encontro com os homens. Assim, freqüentemente, as mulheres se sentem inferiorizadas no que se refere a certas funções fisiológicas femininas, como menstruação e menopausa. Como necessitam agradar os homens, não querem falar de assuntos que pensam que podem desvalorizá-las: não explicam suas fantasias sexuais, não ousam dizer o que admiram no corpo masculino e tem pudor de falar “sobre suas coisas”. Contudo, a auto-imagem da mulher costuma ser mais depreciativa do que a maneira como o homem a vê. O homem, com freqüência, admira e valoriza a mulher mais do que ela mesma. Como “filhas do pai”, para atingir seu estado sublime, a mulher virtuosa de certa forma até os dias de hoje, em pleno século XXI, em algumas culturas, tem que confinar suas atividades e até seus sonhos à 30 dimensão da maternidade, da vida familiar, da criação dos filhos ou, se as circunstâncias a forçam a entrar no mundo do trabalho, a uma carreira do tipo professora primária ou de autônoma. Ainda no Brasil, muitas mulheres ainda têm dificuldades em defender seus pontos de vista, devido à criação reprimida ao incentivo da autoconfiança, estimuladas nos meninos, mas não nas meninas. Como modelo de criação até meados, do século XX, as meninas deveriam ser cordatas e doces, sem competir ou se confrontar com os meninos e nunca, em hipótese alguma demonstrar agressividade. As mulheres tinham que aprender a cercear suas ânsias nos caminhos estreitos culturalmente aceitos, que na maioria das vezes as tornavam vulneráveis a manifestações de vergonha e auto-rejeição. Várias considerações durante a história da humanidade derrubaram o mito feminino. Santo Agostinho, por exemplo, declarou que as mulheres não têm alma. Por isso os eruditos medievais debatiam se elas não precisariam inicialmente ser transformadas em homens, pela mão de Deus, para poderem estar em condições de aspirar ao céu no dia da ressurreição. Malleus Maleficarum, autor do livro “Martelo das Bruxas”, padrão legislativo de julgamento entre os sécs. XV e XVII, aprovado pelo Papa Inocêncio VIII, descreveu as mulheres como: movidas apenas por afeto e emoção; que os seus sentimentos de amor e ódio são gerados pelo “clamor da carne”, pela possessividade e pelo ciúme. Que as mulheres são sexualmente insaciáveis, mentirosas, fúteis e sedutoras; e que só buscam o prazer. “São mentalmente e intelectualmente inferiores deficientes e débeis de corpo e mente; possui memória fraca, exageradamente infantilizadas, impressionáveis supersticiosas, e sugestionáveis; supercrédulas, “língua-solta”, indisciplinadas; na verdade animais imperfeitos” (WHITMONT, 1991, p. 143). Segundo a OMS (Organização Mundial de Saúde) as mulheres são as maiores consumidoras de psicofármacos e possuem a maior porcentagem de doenças afetivas; são quatro mulheres para cada homem. São conseqüências psicossomáticas das recentes mudanças pelas quais as mulheres estão passando. (SEIXAS, 1998, p. 265). 31 Por terem sido as mulheres maioria em todas as eras da humanidade e em conseqüência da herança cultural e da forma como homens e mulheres são educados, a maneira de experenciar o amor e a vida são diferentes. Em geral, as mulheres tendem a ter uma expectativa de dependência mútua; os homens tendem a valorizar a liberdade, manter sua individualidade com espaços e momentos determinados. A mulher atual mudou, desenvolveu-se, está procurando novas condições individuais e sociais do Ser. Porém, ainda está arraigada às suas representações mais remotas, está em conflito entre o que almeja ser e os limites de seus condicionamentos. Não acusa os homens, pois percebeu que nunca será um deles, mas também está um pouco assustada e perdida perante o novo homem, que surgiu a partir de suas próprias reivindicações, homem que não é mais tão duro e machista, que está se voltando para casa e olhando mais para a companheira. A mulher está curiosa para saber quem é esse homem e como vai se relacionar com ele agora. Percebeu que, em vez de invadir o campo do homem, precisa de um encontro com ele e, para tanto, continua se questionando o que é ser mulher e feminina, onde quer ficar, que tipos de encargos querem assumir, o que quer de sua vida afetivo-sexual e o que é ser homem e masculino (SEIXAS, 1998, p. 266). Os papéis femininos e masculinos tradicionais de nossa sociedade estão sendo desafiados. O ciclo do patriarcado está se esgotando. A violência que cresce dia a dia no seio de nossas sociedades ameaça nos dominar totalmente. A humanidade clama por segurança, amor e proteção. Qual será o novo padrão cultural que assegurará a vida da humanidade no futuro do planeta terra? “Quem dera possas nascer numa época interessante” MALDIÇÃO CHINESA TRADICIONAL 32 CAPÍTULO II O HÁBITO DA SAÚDE: SÓ PARA MULHERES “Não podemos acrescentar anos à vida, mas podemos acrescentar vida aos anos”. (Dr. Niehans, 1882-1971) 2.1 Além da Menopausa Segundo o médico psicoterapeuta, J. A. Gaiarsa, 1986, o ser humano está conseguindo realizar seu principal sonho: a juventude permanente ou a eterna juventude. Em busca da fonte da juventude, o homem já bebeu amargas porções mágicas e ainda hoje, todos gostariam de descobrir uma maneira de preservar a beleza e a energia da mocidade. Voltar no tempo é fantasioso, mas retardar o envelhecimento é algo plausível. Talvez, não se esteja mais próximos de chegar à imortalidade do que os ancestrais pré-históricos, mas existe um conhecimento muito maior sobre o envelhecimento e como intervir para prolongar vidas. Nos tempos de hoje vive-se muito mais e muito melhor. No século XVI começaram a aparecer os primeiros trabalhos científicos que estudam a terceira idade. (...) Cientistas famosos como Descartes, Bacon e Benjamin Franklin acreditavam que a terceira idade seria “vencida” pelo desenvolvimento científico . O primeiro trabalho científico sobre a terceira idade foi escrito por um médico francês no século XIX (Jean Marie Charcot, em 1867) com o nome de “Estudo Clínico sobre a Senilidade e Doenças Crônicas” (AZEVEDO, p. 31, 1998). 33 Com o aumento da expectativa de vida no século XX e, sobretudo com os avanços da medicina e da industrialização, atualmente é moda reconsiderar preceitos, pré-conceitos e pré-noções sobre o envelhecimento. Até o começo do séc. XX, a expectativa de vida das pessoas era de 30 a 40 anos, mas hoje, com todo o progresso social, tecnológico e cultural, essa expectativa aumentou bastante, e é fácil viver até aos 80 e 90 anos de idade. A Organização Mundial da Saúde classifica o envelhecimento em quatro estágios: - meia idade – 45 a 59 anos - idoso – 60 a 74 anos - ancião – 75 a 90 anos - velhice – 90 em diante (ALVES, P.46 E 47, 2013). A cultura ocidental tem uma péssima visão sobre a velhice e em nossas escolas praticamente não ensinam ou não sabem como ensinar a ciência e a arte mais necessária ao ser humano, que é como cuidar de si mesmo, com lucidez e com amor pelo dom mais caprichoso da natureza: o nosso Corpo. O conhecimento de todo o processo de envelhecimento, por parte das pessoas, poderia ajudá-las a viver muito tempo com um bom nível de saúde. A educação, portanto é o principal fator do prolongamento saudável da vida. Embora a maior parte das pessoas tenha uma vaga idéia do que é levar uma vida saudável e saiba a diferença entre hábitos que ajudam a permanecer jovens e fortes e aqueles que podem trazer prejuízos para o bem-estar da saúde. A rejeição ao envelhecimento é um mecanismo de defesa natural do ser humano. O medo e o paradigma de envelhecer no mundo ocidental são determinados pela inutilidade ou pela apreensão de não corresponder às expectativas de um ambiente no qual a pessoa produz, conquista, tem e mantém. Numa sociedade onde o interesse básico esta no lucro, onde o “ser” é subordinado ao “ter”, a velhice em geral não pode ser honrada porque a verdadeira honra iria solapar o sistema de prioridades que mantém 34 essa sociedade funcionando. Hoje, em nossa sociedade, é necessário um novo senso de sabedoria e encontrar um sentido da velhice. Envelhecer é uma experiência natural e básica do ser humano, refletir sobre a velhice é refletir sobre o mistério da condição humana em si. Na arte de envelhecer existem regras básicas que valem para todos os homens e mulheres, mas cada qual necessita encontrar seu ritmo pessoal. Faz parte da velhice um conjunto de aprendizagem: lidar com a solidão, aceitação de seus próprios limites e treinar a abandonar para crescer e se renovar. No Oriente a velhice é muito mais respeitada do que no Ocidente: na verdade é glorificada. Os velhos sabem como são as coisas, principalmente as que funcionam sempre do mesmo modo, as convenções, os contratos, os costumes, essa é a raiz, parcialmente válida do acatamento ao velho. No Ocidente aceita-se, mal e mal, que a velhice possa trazer alguma sabedoria. Mas é evidente que se encontrarmos um velho muito risonho, teremos certeza de que ele sofre de arteriosclerose avançada... (GAIARSA, p. 22, 1986). Segregação e desolação são fatores poderosos que criam na pessoa idosa uma severa alienação, mas o pior devido a todos os conceitos préestabelecidos por nossa sociedade é a auto-rejeição. A perda do Ser exige atenção especial. A pessoa que perde seu Ser interior não tem mais nada pelo que viver, pois fica sem esperanças e o seu centro fica perdido. Para alguns só existem as trevas, a “Idade das Trevas”, mas para outros a velhice se transforma na “Idade da Luz”. Segundo o escritor Lauro Trevisan: “Não existe terceira idade e nem melhor idade, mas primeira idade continuada. A vida continua normal. Inclusive porque a vida é o espírito e o espírito é eternamente jovem e imortal” (TREVISAN, p. 12, 2012). Os idosos brasileiros principalmente as mulheres, são um segmento populacional cada vez mais visível na sociedade, não só porque são mais numerosas, mas porque tem se envolvido na conquista de espaço na 35 sociedade e porque estão criando novas demandas para as instituições e os agentes sociais. As estatísticas apontam que: A população de mais de 60 anos vai dobrar entre a década de 90 e o ano de 2025. E a maioria será de mulheres. Em geral, elas têm uma expectativa de vida superior à do homem. Por isso, deverá haver um largo contingente de senhorias idosas na sociedade do futuro. (...) Enquanto a percentagem dos idosos cresce, o índice de nascimento deve diminuir. Espera-se que a população brasileira de 0 a 14 anos passe dos 33,8% atuais para 22,9% no ano de 2025. Isso equivale a um decréscimo na taxa de crescimento anual, que levará a um nascimento por mulher. Uma sociedade na qual a participação feminina é tão significativa, quantitativamente, exige uma atenção especial. Essa participação terá um aumento de qualidade? Como a mulher vai atender às expectativas que sobre ela pesarão? (PENNA, p.28, 1993). Devido a valores sociais e tradicionais, existe entre as mulheres uma tendência ao empobrecimento e à dependência econômica. Embora no âmbito da economia, mulheres de algumas classes sociais, ocupem espaços significativos e em ascensão no mercado de trabalho. Mas devido à vida doméstica e os cuidados com a família, as mulheres possuem melhores condições de vida produtiva por estarem envolvidas na vida social e familiar. Mesmo as mulheres de média e baixa renda tendem a freqüentar espaços de lazer pela necessidade da atividade, participação, independência e necessidade de autonomia. Um grande número de mulheres com idades variadas entre 40 e 80 anos resolveu desafiar os modelos pré-estabelecidos e saindo de casa muitas vezes contra a vontade de familiares, resolveram tornarem-se agentes dos acontecimentos e acreditam que possam contribuir para um envelhecimento mais saudável, passaram a encarar a saúde como conquista da responsabilidade de cada ser social. O Brasil está deixando de ser um país jovem e está se tornando um país de muitos idosos, devido a 36 diversos fatores como: a diminuição da mortalidade infantil e da natalidade e os avanços da indústria bioquímica e da ciência. Considerando que a expectativa de vida das mulheres ao nascer é superior a masculina, não é de admirar o grande número de mulheres de mais de 60 anos que freqüenta espaços públicos, que retorna às aulas e se inscreve nos clubes de terceira idade. Muitas são as pesquisas sobre mulheres de todas as cores e credos e classes sociais, investigações sobre gênero feminino, mas pouco são os estudos sobre mulheres envelhecidas (PEIXOTO APUD GOLDMAN E PAZ, p. 153, 2001). O processo de envelhecimento de homens e mulheres não ocorre da mesma maneira. O envelhecimento feminino é multifacetado, devido a fatores demográficos, de saúde e de funcionalidade física, mas também o modo como mulheres enfrentam o processo de envelhecimento e velhice. Outra dificuldade são os aspectos enfrentados pelas idosas em relação a sua sexualidade e a maturidade da feminilidade. O período do climatério demarca uma fase de transição caracterizada pela mudança de papéis que dá a mulher a possibilidade de curtir seu corpo sem engravidar. Modulada por fatores culturais, sociais e hormonais a sexualidade torna-se extremamente pessoal. A sexualidade abrange uma terminologia muito mais ampla, não é sinônimo de relação sexual. Reflete a intensidade com que desempenhamos nosso papel sexual e como nos permitimos interagir com o mundo. As mulheres envelhecidas em nossa cultura ficam proibidas a sedução e a sexualidade. O corpo da mulher envelhecida não é mais objeto de desejo, excluído do circuito da sedução e da reprodução. A auto-estima nesse período facilmente é ameaçada, devido aos modelos estéticos de beleza e as profundas mudanças na aparência. As mulheres que não desenvolveram autoconhecimento em relação a sua sexualidade, encarando o ato sexual como algo sujo e pecaminoso, começam a vivenciar conflitos já que o aumento de testosterona aumenta o desejo sexual (RIBEIRO, 1995). 37 Certas mulheres na terceira idade são compelidas a abandonar os prazeres do sexo por achar que sua idade já passou, ou se declaram sexualmente incapacitadas. No entanto, ao contrário do preconceito social contra o sexo na velhice, sabe-se que a melhor formar de manter a saúde do corpo e do espírito na idade avançada é ter atividade mental, física e sexual. (...) A sexualidade pode trazer na velhice a possibilidade de emoção e romance, expressando a alegria de estar vivo. Em muitos casos, a chegada à terceira idade é acompanhada de descuido e imprudência em relação ao próprio corpo, como falta de higiene adequada, alimentação deficiente ou em demasia, sedentarismo, excesso de fumo ou álcool, drogas receitadas ou não. Esses componentes podem afetar a sexualidade e a saúde (SEIXAS, p. 209, 1998). Na sociedade contemporânea, o climatério demarca a maturidade feminina. A menopausa é um processo de transformação natural, como um dia o foi à menarca. A menstruação, em todas as culturas, sempre foi objeto de mistérios e ritos. É um rito de passagem feminino. Em algumas sociedades tribais é considerado um perigo para o homem e para a comunidade. A função de um rito de passagem é dar importância a uma transformação crítica na vida de uma pessoa: é dar à pessoa o apoio da sociedade durante essa transformação, e tentar, por meio do ritual, chamar as bênçãos dos deuses nesse período de transição e riscos. A primeira relação mítica experienciada por todo ser vivo é a relação mãe e filho, é uma relação mágico-arcaica, ligada as profundezas e as grandes deusas. O arquétipo mãe e filho, por ser o primeiro mito, é o que se enraíza mais profundamente na psique humana, mas não constitui o único atributo feminino. Se os mitos permanecem no inconsciente, eles podem monitorar nossas vidas de forma compulsiva, dominando a consciência e às vezes, destrutiva. Observa-se isso em neuroses e psicoses, em nível de pessoas, e, nas grandes mudanças, em nível coletivo. “Quando um mito é constelado no inconsciente e não passa pela compreensão consciente, a pessoa é 38 possuída por ele e forçada a cumprir sua meta fatal” (JUNG APUD CREMA, p. 182, 1996). O climatério e a menopausa têm papel importante como indicadores de transição entre a vida adulta e a velhice. Está carregada de estigmas, a fisiologia da menopausa e suas implicações psicossociais, são aspectos de uma experiência muito abrangente, que escraviza a mulher a uma condição secundária, a partir de crendices culturais, que tem raízes profundas em correntes mitológicas. No mundo civilizado, a existência da mulher sempre esteve ligada a imagem masculina, pai ou marido, e o objetivo de sua existência sempre foi à procriação e os cuidados com a sua prole. Uma característica da sociedade patriarcal é reverenciar a mulher nos seus aspectos de mãe, filha e esposa, enfim sempre vivendo em relação a outrem. Pela menopausa, a mulher atinge um grau de evolução só possível após o rompimento da relação primordial: mãe e filho. Miticamente ela se torna UNA uma em si mesma, não precisa existir em função de outro, é sujeito único no seu poder. Algumas mulheres ficam presas no mito e permanecem numa existência vazia, amarga e improdutiva. Tornam-se dependentes de psicotrópicos e emocionalmente reluta a possibilidade de mudança; outras conscientizadas deste enredo mítico vivenciam esta passagem com criatividade. A mulher se prepara para o confronto com o mundo transpessoal, onde atitude é a espera, para um novo renascimento. A relação da mulher com seu próprio de desenvolvimento podem ser comparados à metáfora da lagarta e da borboleta. Pode se escolher ser lagarta a vida inteira e não passar pela transformação da lagarta para borboleta. Ou escolher a transformação da lagarta para mariposa. Lembrando a turbulência da adolescência, uma analogia é a turbulência provocada pela menopausa preparando a mulher para a senescência. A menopausa é simplesmente a cessação da capacidade reprodutiva dos ovários e seu sinal exterior é a interrupção definitiva do fluxo menstrual. Senescência é o envelhecimento natural e biológico do corpo e senilidade são as patologias (doenças) provocadas pelo envelhecimento. O processo de envelhecimento é heterogêneo, nem todas as pessoas, envelhecem iguais. Para algumas mulheres o envelhecer é tranqüilo, para 39 outras é uma verdadeira turbulência em maremotos revoltos, que podem levar ao não reconhecimento da própria imagem, como tão bem descreveu a poetisa e escritora Cecília Meireles (1901-1964) em seu poema Retrato: Eu não tinha este rosto de hoje, Assim calmo, assim triste, assim magro, Nem estes olhos tão vazios, Nem o lábio amargo. Eu não tinha estas mãos sem força, Tão paradas e frias e mortas; Eu não tinha este coração Que nem se mostra. Eu não dei por esta mudança, Tão simples, tão certa, tão fácil: - Em que espelho ficou perdida a minha face? (MEIRELES, p.22, 2013). A pré-menopausa, um período de meses ou anos antes da menopausa, pode começar na metade da idade dos 30 anos e continuar até o final dos 40 ou início dos 50 anos. A idade média em que ocorre a menopausa é de 50 anos. O período da pré-menopausa pode durar até quinze anos. Esses parâmetros não são rígidos e estão sujeitos a variações. Os sintomas são vários e os mais comuns são: instabilidade emocional com emoções exacerbadas, reações exageradas e falta de paciência; acordar no meio da noite e não conseguir voltar a dormir; perda de memória, tipo esquecer o que estavam dizendo no meio da frase. A razão técnica para isso é que os níveis de estradiol (estrogênio) estão caindo. Esses sintomas deixam as mulheres ansiosas e acabam despertando medos monstruosos. Os acessos de calor, sintoma mais comum, ocorrem durante a prémenopausa quanto durante a menopausa. Pode-se sentir calor o tempo todo, ter acessos repentinos ou de uma hora para outra ficar enrubescida e passar a suar demais. Esses surtos podem ser acompanhados de aceleração do ritmo cardíaco. A explicação técnica para esse sintoma é que os ovários nesse período produzem menos estrogênio, e isso faz com que o 40 hipotálamo (no cérebro) para de regular a produção de calor. É como se o termostato do aquecimento central de uma casa parasse de funcionar e não fosse possível controlar o calor. Problemas da bexiga com micção freqüente, ardência, despertar durante a noite com necessidade de urinar e incontinência, se devem à perda da elasticidade do músculo púbico coccígeo, que se enfraquece pela diminuição do estrogênio. Esse músculo envolve a vagina e sustenta a bexiga e o reto. Ele pode perder a elasticidade com conseqüência da falta de exercícios físicos, parto normal ou queda do nível de estrogênio, causando perda de controle da bexiga e da evacuação retal. A pele, o cabelo e as unhas às vezes ficam ressecados, e é possível ocorrer queda de cabelo. Irregularidade no ciclo menstrual, variando desde a ausência de períodos ou a infreqüência de alguns períodos, a ocorrência de períodos cada duas semanas, até o sangramento constante. Os períodos se tornam mais fracos ou mais fortes, mais ou menos freqüentes. Isso varia conforme a atividade física e sexual da mulher. Na maioria das vezes, a causa das irregularidades é a diminuição de estrogênio e progesterona. Existe também a possibilidade de ocorrer uma ovulação ou uma gravidez, e o sangramento irregular pode ser sinal de gravidez. Os diversos sinais e sintomas podem deixar a mulher confusa. Outra preocupação é a perda de interesse sexual, é um sintoma comum por falta de estrogênio, progesterona ou testosterona, ou uma combinação desses três hormônios. Estrogênio e Progesterona são hormônios sexuais femininos, produzidos nos ovários. A Testosterona é um hormônio sexual masculino e que não para de ser produzido pelos testículos, a não ser em idade bem avançada; e nas mulheres é produzido em pequenas quantidades pelos ovários. Hoje é possível aumentar o interesse sexual e prevenir outros sintomas com a ajuda de reposição hormonal (TRH) conforme a orientação do médico ginecologista. Mas existem mulheres que inversamente a esses sintomas relatam aumento da atividade e interesse sexual, como a origem dos sintomas estão ligados a diversos fatores, talvez isso aconteça devido a fatores psicológicos. O hormônio masculino que ambos os sexos possuem a testosterona, pode oscilar. O aumento no nível da testosterona faz as 41 mulheres sentirem um maior impulso sexual, enquanto a queda da testosterona diminui o impulso sexual. Quando os níveis de testosterona, que é o hormônio masculino, comum a ambos os sexos, oscila, podem contribuir para a sexualidade; se o nível desse hormônio está em queda pode diminuir o impulso sexual e o aumento desse hormônio pode aumentar o impulso sexual. Outro hormônio que contribui para a sexualidade a desidroepiandrosterona, ou DHEA, também pode ter seus níveis diminuídos e resultar em menor impulso sexual. A sensibilidade nos seios ou a sensação de estar grávida, antes da menstruação, é outra preocupação comum entre as mulheres na prémenopausa. Essa sensibilidade pode ser causada devido ao desequilíbrio entre os níveis de hormônios de estrogênio e progesterona. Às vezes mulheres na pré-menopausa sentem dores nas articulações, nos ombros, no pescoço e nas pernas, entretanto o processo natural de envelhecimento pode ser acompanhado de osteoartrite e osteoporose, que produzem sintomas característicos durante esse período. Os hormônios sexuais femininos, principalmente o estrogênio, têm ação indireta e não direta sobre os ossos. Está provado pela medicina que a perda de massa óssea pela mulher no começo da menopausa, deve-se ao fato do organismo ter parado de produzir os hormônios sexuais femininos. O estrogênio em seu período de produção regular bloqueia a paratireóide (HPT), estimula ativação da vitamina D e a ativação da calcitonina (espécie de hormônio protetor do osso). Esse hormônio é secretado por células especiais da tireóide e começa entrar em ação quando o nível do cálcio está alto no sangue. A calcitonina libera outros hormônios, entre eles o do crescimento, que tem ligação com o aumento dos músculos e ossos, na prevenção e tratamento da osteoporose. No período da menopausa a mulher produz menos calcitonina, mas as que fazem atividades físicas estimulam a produção desse hormônio, inibindo os osteoclastos e aumentando a massa óssea. Já a progesterona, também produzida pelo ovário na segunda metade do ciclo menstrual, inibe a glândula supra-renal que produz a cortisona interna do organismo. A cortisona atua sobre os ossos, liberando o cálcio e deixando eles mais porosos. Na menopausa com a falta da progesterona, a cortisona 42 fica liberada e ajuda a produzir a osteoporose. Esse hormônio da supra-renal só cessa sua atividade na osteoporose quando a mulher chega aos 65 anos. 2.2 O Envelhecimento Feminino e suas Patologias O conhecimento de todo o processo de envelhecimento, por parte das mulheres, poderá ajudá-las a viver com um bom nível de saúde. Cada uma delas tem sua responsabilidade pessoal, nesse processo de viver mais e melhor, acrescentando vida aos anos e não só anos a vida. Quando se fala em saúde, a melhor coisa a fazer é conhecer a si mesmo é descobrir quais riscos que se corre em relação a certas doenças e monitorar os hábitos diários que afetam o bem-estar. Assim sendo, dispor de informações necessárias para desenvolver um protocolo pessoal com o médico, adequar cuidados com a saúde de acordo com as necessidades específicas, de acordo com seu perfil psicológico, sua genética, suas prioridades e condições particulares. Cada mulher ou homem deve considerar metas de assumir a responsabilidade plena por sua saúde todo santo dia não importando os reveze da vida. O poder de controlá-la é pessoal e intransferível, só depende de cada uma de nós. A boa saúde, em qualquer idade, está na dependência de três fatores básicos constituídos pela alimentação, pela atividade física e pelo estado psicológico. O terceiro fator é fundamental em nossas vidas e atua diretamente sobre todas as nossas atividades. O equilíbrio emocional é à base da sustentação da saúde de qualquer indivíduo. A principal fonte energética do corpo é a psique. Os scripts da mulher na menopausa como nervosa, encalorada e brigona é um papel cruel. E ainda pior é o modelo negativo da velhice. Caracteriza a velhice, o papel de pessoa chata, rabugenta, que só fala do passado e que o mundo de hoje está errado e no seu tempo tudo era ótimo; é a pessoa que coleciona doenças e fala delas com orgulho. Enfim velhice é sucata, tanto que o termo é substituído por outros: terceira idade, melhor idade, idade continuada etc. Todas essas imagens constituem um modelo arcaico da velhice com o qual convivemos durante gerações. 43 Vários fenômenos físicos ocorrem com o envelhecimento, como diminuição de água celular que leva à desidratação progressiva no organismo; diminuição do fluxo sanguíneo, da capacidade respiratória, da velocidade dos nervos e do rendimento cardíaco. O controle da saúde, o conhecimento do processo de envelhecimento e suas atividades físicas e mentais farão com que as mulheres cheguem com mais tranqüilidade a idades mais avançadas. Dois grandes componentes atuam no processo do envelhecimento: as condições genéticas e metabólicas, que determinam, por exemplo, a menopausa, a perda de neurônios, a diminuição da água corporal e outras características comuns ao processo de envelhecimento biológico. A nutrição tem importante papel no aumento e qualidade de vida e tem sido evidenciada em várias experiências científicas. Alguns membros da comunidade científica apregoam que a dieta ideal deve conter pouca gordura de origem animal, pouco sal, pouco açúcar, muita verdura e muita água. São vários os riscos quando a menstruação cessa e o processo da menopausa se inicia, mas os maiores são: a osteoporose e suas doenças periféricas e os problemas cardiovasculares. Toda mulher apresenta depois da menopausa importante perda óssea e algumas com história familiar de osteoporose na família, podem perder ossos em ritmo mais acelerado. A doença da osteoporose é uma doença grave que deve ser acompanhada de um médico ginecologista, pois compromete a vida e a qualidade de vida da mulher. Os ossos frágeis podem ser fraturados mesmo sem quedas e traumas. O aparelho locomotor é formado por uma série de ossos articulados entre si, sobre os quais se fixam os músculos, que por usa vez são fixados nos ossos através de tendões. O movimento se completa, quando um músculo se contrai e diminui de tamanho e traciona o tendão, que por sua vez puxa os ossos. A matriz óssea é feita de colágeno, proteína básica do nosso corpo, onde se depositam sais de cálcio. O osso exige proteína, cálcio, fósforo, vitamina D e outras, para que ele possa se renovar. Os ossos femininos que sofrem mais precocemente o desgaste são: vértebras, ossos do pulso, dos maxilares (levando a perda dos dentes) e da mandíbula. 44 Progressivamente vêm os ossos dos quadris e do colo do fêmur, sendo este último a fratura mais temida devido as suas graves conseqüências. Movimentos pequenos como levantar um peso, podem quebrar uma vértebra, acompanhada de dor e diminuição da estatura. Infelizmente, as estruturas do aparelho locomotor, assim como outras partes do corpo, estão sujeitas às leis que regem o universo, o tempo é implacável! (KNOPLICH, 2001) As articulações são formadas pelo contato das superfícies de dois ou mais ossos vizinhos, permitindo movimento das partes do corpo. Os extremos dos ossos que formam as articulações estão cobertos por uma substância de superfície lisa e brilhante, denominada cartilagem articular. Essa cartilagem atua como amortecedor, absorvendo grande parte das pressões que atuam na articulação, permitindo movimentos livres e suaves em várias direções. Os ossos articulados estão envolvidos por um manto, a cápsula articular, revestida por dentro por uma membrana fina, a sinóvia, e reforçada por ligamentos. A cápsula e os ligamentos mantêm a articulação estável e a membrana sinovial produz um lubrificante semelhante à clara de ovo, que ajuda a reduzir o desgaste das superfícies articulares. Cruzando as articulações, estão os músculos e tendões que servem para movimentá-las. Com o processo de envelhecimento o uso indevido ou abusivo das juntas, resultará em maior desgaste das superfícies articuladas. De lisas elas se tornam irregulares, com perda de cartilagem em algumas áreas. Esse processo é conhecido como artrose ou osteoartrose, que traz dores, aumentam de volume as juntas e limita os movimentos. Qualquer junta pode ser comprometida, mas mais freqüentemente as dos membros inferiores, por suportar o peso do corpo, por isso é importante controlar o peso corporal. Pois se as juntas são usadas com sobrecarga ou exaustivamente em trabalhos, atividades esportivas, ou quando traumatizadas e não são bem cuidadas, podem ficar muito comprometidas. O tratamento é aliviar a dor através de medicação, manter ou restabelecer os movimentos da articulação. As juntas além da artrose podem ser comprometidas por outras formas de reumatismo, sendo o mais comum a gota e a artrite reumatóide. A 45 gota é mais comum nos homens, porque o corpo feminino elimina ácido úrico com mais eficiência. Geralmente na mulher, as crises de dor nas juntas provocadas pelo ácido úrico ocorrem por vários fatores, podem ser quando ela está tomando diuréticos tiazídicos para controlar a pressão alta, tensão emocional e excesso de bebida alcoólica. Esse tipo de gota é chamado de gota secundária e é diferente da gota primária, ocorre especialmente no homem por produção aumentada ou excreção diminuída de ácido úrico, resultado de herança genética. A artrite reumatóide é uma doença crônica, de causa desconhecida, classificada entre doenças auto-imunes, onde o sistema de defesa da própria pessoa reage contra as estruturas de sua articulação. Caracterizam-se pela inflamação das articulações periféricas, principalmente das mãos, punhos, cotovelos e tornozelos. Causa sintomas dolorosos e deformações nas juntas. Com o passar dos anos a sintomatologia diminui, mas a deformação permanece, essa doença pode atingir mulheres na faixa de 25 a 35 anos de idade. A flexibilidade mental influenciará no trabalho articular. A mulher mais mentalmente ativa tem mais oportunidade de estimular sua flexibilidade articular (RIBEIRO, 1995). O tempo traz uma série de modificações no sistema músculoesquelético, que faz o corpo ficar mais vulnerável e é preciso continuar treinando. Consegue-se equilibrar de pé todos os dias, porque treinamos. A capacidade de locomoção é gerada pela prática e exercício das suas funções, não adianta conhecer a teoria do movimento é necessário treinar todos os dias. Consegue-se ir longe, mesmo que ao passar dos anos se perca a agilidade e movimentos rápidos. Os reflexos estão menos vivos, mas são mantidos como atividades. Conquistando um ritmo próprio, consegue-se manter músculos treinados e em forma. A Osteoporose é o dado quando o osso perdeu cálcio e massa óssea e ficou mais fraco. O grau de osteoporose do osso, dessa fraqueza, pode ser medido através do exame de densitometria óssea. Esse método descobre as fases iniciais da osteoporose, altera-se com o tratamento instituído e é um exame indolor; é uma espécie de radiografia que se traduz com um gráfico comparativo. Com certeza a evolução da vida de uma pessoa, sua alimentação, o tipo de água que bebeu, se tinha ou não fluoreto, as 46 atividades físicas, se tomou sol, permite descobrir que há homens e mulheres, com ossos mais fortes (ricos em cálcio) e outros que tem ossos mais fracos (pobres em cálcio). A osteoporose pode ser natural ou primária e ou secundária a outra causa e doença. A osteoporose é dez vezes mais freqüente na mulher do que no homem. A perda da massa óssea a partir do pico ósseo da maturidade ocorre em ambos os sexos a partir dos 35 anos. Nas mulheres, que aos 35 anos, já tem um pico ósseo mais baixo, nas quais os ossos são pobres em cálcio, essas perdas de massa óssea vão chegar a níveis perigosos de fratura de osso. A osteoporose primária ou natural também se chama osteoporose pós-menopausa e se estende a um período de dez anos após a menopausa, quando piora a osteoporose da mulher. Existe outro tipo de osteoporose que se chama osteoporose senil que acomete homens e mulheres com mais de 65 anos de idade. A osteoporose secundária a uma doença tem tratamento, mas deve-se priorizar a doença que causa a osteoporose. Essa osteoporose segue-se a problemas médicos mais importantes: doenças das glândulas tireóides, paratireóide, ovários, etc.; doenças crônicas do estômago, intestinos, principalmente cirurgias desses órgãos; histerectomia, principalmente se foi seguida da retirada do ovário; uso de alguns medicamentos como sais de alumínio (remédios usados para azia, gastrite, úlcera e colite), cortisona, hormônios, etc.; imobilização na cama por muito tempo ou ficar com o braço e a perna engessada; insuficiência renal (nefrite, nefiose) e insuficiência hepática (cirrose, por hepatite ou bebida, também causam osteoporose secundária). Pacientes que após receberem tratamento na cura do câncer com quimioterapia, ou principalmente radioterapia pode apresentar osteoporose após o tratamento. Enfim, a osteoporose é influenciada por quatro fatores: biológico, genético, fatores de riscos individuais (ou estilo de vida pessoal) e fatores ambientais (o tipo de consumo de água, ar e sol). Conforme os fatores de risco a prevenção dessa doença deve ser feita por toda a vida, ou mais intensamente nos 10 anos logo após a menopausa, no mínimo. Deve-se prevenir a mulher na menopausa para evitar a invalidez na terceira idade. As 47 fraturas, principalmente as de quadril e do colo do fêmur podem comprometer em muito o sistema locomotor da mulher idosa. Segundo o médico Dr. Hélion Póvoa (2000), a osteoporose não está ligada apenas ao metabolismo do cálcio; existe outro mineral responsável pela saúde dos ossos: o magnésio. Tanto o cálcio e o magnésio são duas substâncias fundamentais para se combater a osteoporose e devem estar sempre em equilíbrio. O magnésio é importante para o relaxamento muscular adequado. A alimentação é muito importante na prevenção e no tratamento da osteoporose, sem dúvida os melhores alimentos são aqueles que fazem o organismo manter os níveis normais de cálcio e magnésio no sangue. Se os hábitos alimentares são insuficientes para suprirem as exigências orgânicas é necessária a ingestão de suplementos químicos de cálcio, vitaminas e minerais para a reposição. Com o envelhecimento, devido à absorção intestinal, o organismo começa a absorver menos magnésio, assim dificulta o transporte de cálcio e outros minerais importantes como o zinco, o cobre e o manganês, que agem como co-fatores de enzimas que formam a massa óssea. A vitamina D é outro elemento importante que comanda a calcificação dos ossos, sua reposição também é muito importante, pois fixa o cálcio no corpo. Após a menopausa a mulher fica mais sujeita a ter problemas cardíacos como: infarto, angina, derrames cerebrais e outros problemas cardiovasculares, tudo isso devido à falta de produção de estrogênio. Entre 1980 e o ano de 2000, cerca de quarenta milhões de mulheres estavam acima de cinqüenta anos com uma expectativa de vida em torno de 75 anos; a mulher passa próximo a um terço de sua vida em pós-menopausa e três quartos com sintomas da menopausa. O risco de mortalidade cardiovascular aumenta 18 vezes depois da menopausa. (...) A baixa de estrogênio também é responsável por aumento de LDL – colesterol e triglicerídeos, diminuição do HDL – colesterol e conseqüentemente arteriosclerose e enfarte do miocárdio (TARGINO APUD GUIDI E MOREIRA, p. 77, 1996) 48 O coração é um músculo muito especial do nosso corpo. Sua função é de manter o fluxo de sangue no sistema circulatório. O tamanho de um coração adulto é de uma mão fechada e bombeia cerca de 5 litros de sangue a cada minuto na situação de repouso, podendo chegar a bombear 30 litros de sangue por minuto durante o exercício. O sangue bombeado pelo coração transporta alimento, hormônios e oxigênio para as células do corpo e remove seus detritos através do sistema circulatório, que é composto de artérias e veias de vários calibres e ajuda a manter a temperatura do corpo. As doenças circulatórias, em especial aquelas que acometem o coração, constituem a principal causa de óbito da população brasileira (GUIMARÃES APUD GUIDI E MOREIRA, 1996). Entre os fatores de risco, o mais significativo é a hipertensão arterial, ou seja, pressão alta. Esse inimigo silencioso, nem sempre provoca sintomas. O colesterol alto e o stress são fatores significativos de risco cardiovascular. Nessas condições o corpo responde de modo primitivo lançando na circulação substâncias que preparam o corpo para a ação. O coração é obrigado a bater mais rápido e se esse trabalho em ritmo acelerado pode perdurar por longos períodos e as paredes do coração passam a sofrer, pois continuam tendo que trabalhar sem tempo suficiente para descansarem ou serem reabastecidas. A pressão arterial é influenciada por diversos fatores: pelo volume e pela qualidade de sangue circulante, pela freqüência com que o coração bate e pela resistência imposta pela parede da aorta. Quanto mais é solicitado o trabalho do coração, a reação se dá de duas maneiras: aumentando a força de contração e aumentando o número de batimentos. Com o passar do tempo apenas passa a impulsionar o sangue. As coronárias estão sujeitas ao desenvolvimento da arteriosclerose e aterosclerose. Por serem artérias de calibre pequeno e estarem submetidas a um regime de trabalho constante, nem sempre compensadas por condições adequadas de relaxamento, podem ser comprometidas precocemente. Arteriosclerose é o endurecimento, perda da elasticidade da parede das artérias. A aterosclerose é a formação de placas de sangue coagulado, misturado com gordura, que calcificam e obstruem a passagem 49 do sangue. A obstrução das coronárias leva ao aparecimento de angina no peito e muitas vezes ao infarto do miocárdio. As mortes por aterosclerose são em geral decorrentes de ataque cardíaco ou derrame cerebral. Esses dois problemas poderão também não ser fatais. As altas taxas de triglicérides são os maiores inimigos das coronárias. A ingestão excessiva de açúcar, massas, gorduras e álcool aliados a obesidade, diabetes e hipotireoidismo aumentam em muito a gordura no sangue e obstruem a passagem do mesmo. Nesse círculo vicioso onde a aterosclerose alimenta a arteriosclerose e a circulação de sangue de baixa qualidade, as artérias aceleram seu envelhecimento e vão adoecendo. O AVC, acidente vascular cerebral, constitui causa importante de morte na velhice e de muitas seqüelas. Pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais freqüente em pessoas com mais de 65 anos. Na maior parte dos casos é isquêmico, AVCI (falta de sangue em determinada região do cérebro). A causa básica do AVC é a arteriosclerose, pelo processo de embolia (placa que se desprende de um local distante) ou trombose (estreitamento da artéria). Favorece a isquemia a hipotensão, combinação da queda brusca arterial com a falta de irrigação sanguínea no cérebro e a fibrilação arterial. Quando o AVC, não leva a morte ou o coma, pode paralisar os membros de um lado do corpo ou deixar seqüelas como distúrbios da fala e na compreensão, dificuldade na deglutição, paralisia dos músculos da face e outras dificuldades, inclusive convulsões (AZEVEDO, 1998). Atualmente, sob a ótica bioquímica e da fisiologia celular, estão construindo um modelo preventivo de saúde. O equilíbrio químico de cada indivíduo é a sua principal defesa contra os fatores que provocam o envelhecimento precoce e as doenças. A finalidade é aproveitar a sabedoria da idade, ou a Idade da Luz, sem perder a capacidade física e intelectual. A prevenção está inserida dentro da educação, e é o caminho para se conquistar o futuro que se deseja. Desde que a medicina passou a ter conhecimento dos radicais livres, vilões radicais, responsáveis pela degeneração e sérias doenças em nosso organismo; que a luta tornou-se retomar o potencial antioxidante do nosso organismo, para garantir a boa 50 saúde e o bem estar. Os radicais livres são átomos e moléculas eletroquimicamente incompletas, instáveis, que procuram reagir com átomos e moléculas vizinhas a fim de se complementarem. São consideradas “promíscuas”, porque gostam de quebrar as relações estáveis que se encontram ao seu redor. Os radicais têm vida curta, mas velocidade e ação muito rápida; formam uma ação em cadeia na qual um número enorme de radicais livres é gerado. Esses radicais se produzem normalmente na natureza e no nosso organismo e a maior parte deles deriva do oxigênio que respiramos. Num paradoxo o oxigênio nos alimenta e nos enferruja. Os radicais livres são gerados continuamente como resultado de reações químicas essenciais que ocorrem naturalmente em nosso corpo, imprescindíveis a vida (RIBEIRO, 1995). Do nascimento até a morte, tudo que o nosso corpo nos permite fazer, ou faz sem percebemos, acontece a partir da combinação de moléculas de hidrogênio, oxigênio, carbono, nitrogênio, cálcio, zinco, cobre e muitos outros minerais que agem e reagem continuamente, Somos, portanto, química em essência. (...) Somos pura química. (PÓVOA, p.23, 2000) Outra doença que amedronta e se torna um grande capataz das mulheres após menopausa e na terceira idade, é a doença decorrente do descontrole no crescimento das células, ou seja, malignidade celular, conhecida pelo termo vago de Câncer. A parte mais insidiosa do câncer é a própria natureza desse monstro: ele é autogerado, no sentido de que são as nossas próprias células que se descontrolam. (...) o câncer é como um gigante adormecido, latente em todos nós. O câncer apresenta determinados desafios que não estão presentes em outras doenças, sobretudo naquelas que podem facilmente ser atribuídas a agentes externos. Mesmo assim, a questão permanece: por que não conseguimos 51 avançar no conhecimento e no combate ao câncer, ainda que de uma forma modesta e lenta? (AGUS, p.46 e 47, 2013). Já é certo que a incidência dessa neoplasia aumenta com a idade e a grande expectativa de tempo de vida, porque com a idade avançada o sistema imunológico, que em geral destrói essas células malignas, torna-se menos eficaz. As causas ainda não se conhecem, o que se sabe é que tem haver com fatores genéticos e hereditários, fatores relacionados à imunidade e fatores ambientais e com a alimentação. Em função do seu comportamento as neoplasias são classificadas como benignas e malignas. Quando malignas o crescimento é muito rápido, e às vezes formam metástases. Essa doença constitui uma das principais causas de morte das pessoas. A grande maioria de câncer é curável, através de medicamentos, quimioterapia, imunoterapia, cirurgia e radioterapia. A principal arma de defesa em relação a essa doença é a prevenção. As mulheres com mais de 50 anos ao entrar na menopausa devem fazer no mínimo um exame ginecológico anual, o exame de Papanicolau (para prevenção do câncer da Cérvix ou colo uterino) e o exame das mamas (prevenção do câncer de mama, que pode ter seu risco aumentado pela obesidade e dietas gordurosas). A mamografia de rotina é fundamental na precocidade do diagnóstico do câncer de mama. O mais importante no combate da doença do câncer que é tão temida, além da prevenção é o fator psicológico. O estado psíquico de cada pessoa é fator determinante na convivência com a doença. O estado depressivo é um fator agravante da doença, pois a depressão ajuda a destruir nosso sistema imunológico. Outro item fundamental é a qualidade de vida de cada pessoa, é claro que bons hábitos e uma boa qualidade de vida vão auxiliar com mais eficácia ao combate e ao tratamento de qualquer doença, além de tornar a convivência com as doenças menos dolorosas. O hábito do tabagismo e o uso de bebidas alcoólicas introduzem no organismo nicotina e etanol, além de outras substâncias tóxicas, que levam à saúde precária, a doenças perigosas e a morte precoce. Além de 52 estimularem a ação dos radicais livres, que podem modificar células importantes do corpo humano. O fumo está relacionado diretamente com o aceleramento do processo de arteriosclerose e responsável pelas doenças pulmonares e doenças cardíacas, além de alterarem o metabolismo de vitaminas e do oxigênio do organismo. A intoxicação por álcool tem inúmeras conseqüências físicas e patológicas, mas a pior de todas é o isolamento social e os distúrbios familiares; as demências e problemas neurológicos. A alimentação é outro fator determinante da boa saúde, afinal “Somos o que Comemos” (ditado popular). O alimento é importante e fundamental para todos os nossos processos vitais. A dieta correta é uma das principais bases para a manutenção da saúde. Alimentação inadequada rica em gorduras e açucares são responsáveis por diversas doenças como diabetes e problemas cardiovasculares, dieta incorreta pode levar riscos à saúde. Após os 50 anos é aconselhada a utilização rotineira de alimentos ricos em vitaminas, principalmente a A e C. A mulher na menopausa deve ingerir alimentos ricos em cálcio com regularidade. Na terceira idade há uma diminuição global da atividade das células, o que leva a modificação das necessidades nutricionais (AZEVEDO, 1998). A obesidade constitui fator de alto risco para várias doenças. As alterações antropométricas na senescência são mais prevalecentes nas mulheres; o incremento do peso corporal pode se iniciar a partir dos 35 anos de idade. Entre 20 e 65 anos de idade a gordura corporal dobra e essa gordura extra, fica concentrada em torno do abdome e tronco, representando um perigo para as cardiopatias. Aos 75 anos o corpo da pessoa idosa é composto de: 8% de osso, 15% de músculo e 40% de tecido adiposo, comprometendo assim a autonomia funcional e a qualidade de vida. Todos os médicos são unânimes em alertar e divulgar, que o aspecto mais importante para reformular e prevenir o estilo de vida e o envelhecimento é a atividade física. As pessoas que se exercitam provavelmente também seguem outras práticas saudáveis. Mas, antes de iniciar é bom avaliar as funções cardíacas e o estado geral e receber orientação do médico para o exercício mais apropriado. Os exercícios são úteis para oxigenação do corpo. Exercitando o corpo, está se exercitando o 53 cérebro, porque além de melhorar a oxigenação previnem-se doenças neurodegenerativas; aumenta-se a liberação do NGF (neurotrofina que estimula o crescimento dos neurônios), quando não estimulado milhares de neurônios se perdem, e assim pode se desenvolver doenças como Alzheimer e Parkinson. Nutrir a mente é importantíssimo. Um cérebro pobre em nutrientes é um cérebro fragilizado; aperfeiçoar atividade cerebral, através de nutrientes bem equilibrados. “Estar em movimento mental é para pensar, para analisar com mais freqüência. È analisar a vida a vida a cada passo e não passar por ela” (RIBEIRO, p.35, 1995). A revisão da vida inclui muito valor, muita riqueza, muitos estados afetivos positivos, frutos de muitos anos dedicados às metas de vida. Por meio dela descobrimos sentimentos de alegria, gratidão, justiça, conquistas, tensões, aborrecimentos, ansiedades, angústias, mas que ajudam ao indivíduo a buscar o equilíbrio interno. Um dos fatores que possivelmente contribui para a maior esperança de vida feminina é o nível de socialização das mulheres. Não existe remédio que faça rejuvenescer, mas atitudes que podem tornar a velhice mais saudável e agradável. O que importa é a idade funcional e não a cronológica. Envelhecer não significa perder a capacidade intelectual, ficar assexuada, burra ou imprestável. Muitos indivíduos cresceram intelectualmente nesta faixa etária. Aqui no Brasil temos o exemplo da grande poetisa do Estado de Goiás, Cora Coralina (1889-1985), que amadureceu sua arte já no ocaso da vida. Sustentou seus quatro filhos como doceira, e aos 70 anos aprendeu datilografia para preparar suas poesias. Cora apenas cursou até o terceiro ano da série primária. Aos 75 anos realizou o sonho de publicar o primeiro livro. O corpo humano é um equipamento excelente, uma obra-prima, produzido pelo mais genial fabricante (construtor, artista, engenheiro e técnico) – o excelso Criador do universo. Perfeição é o que não falta. Diz a ciência ser nosso equipamento inteligentemente programado para durar 120 anos. Se não pairam dúvidas 54 sobre a credibilidade do produto, a explicação de suas freqüentes panes e breve duração está na inabilidade, na negligência do usuário. (...). Ora ao comprar, digamos um equipamento de som, não lhe é fornecido um “Manual de Instruções”, produzido pelo fabricante? Seu propósito é ensinar como utilizar o aparelho para otimizar seu funcionamento e prolongar sua duração. (...) A alegria da posse engloba dois fatores: excelência da fabricação e forma correta desempenho, desacelerará de uso. evitará o Só assim freqüentes inevitável obterá o visitas desgaste do à melhor oficina e equipamento. Concorda? Você vem atendendo às “instruções” para melhorar o desempenho, prevenir consultas ao médico e desacelerar a decadência inevitável do fabuloso equipamento que é o seu corpo?! Você pode indagar: Por onde anda este bendito “Manual de Instruções”?! (HERMÓGENES, p.41, 2012) 2.3 A Imagem Corporal da Mulher na Idade da Luz Não se deve deixar o olhar matar aquilo que seremos, deve sim olhar-se no espelho e ver como ficamos, como realmente somos (ALVES, 2013). O corpo é a carruagem que nos transporta por este mundo terreno. É o nosso veículo, a nossa comunicação com o mundo que nos cerca, com o nosso ambiente. O corpo é aquilo que vemos e que podemos tocar e pegar, através dele se expressa às emoções, a afetividade e os sentimentos da psique humana. É o ponto de referência que o ser humano possui para conhecer e interagir com o mundo. Nos últimos tempos, nunca se falou tanto acerca do corpo, entrou em cena da produção teórica às inúmeras práticas corporais. O corpo tornou-se objeto de culto na sociedade contemporânea, desencadeando várias regulações sociais, sobretudo sobre o corpo 55 feminino. E o estigma histórico da mulher e a beleza, estão associados à feiúra, que hoje está ligada ao envelhecimento e a gordura, sendo uma tremenda exclusão social validada. A imagem do corpo representa uma forma de equilíbrio entre as funções psicomotoras e a sua maturidade. Sua finalidade é favorecer o desenvolvimento. Essa imagem corporal não está pré-formada, ela é organizada através das relações mútuas do organismo e do meio, as atividades motoras e sensório-motoras, são de fundamental importância na evolução da imagem corporal (LE BOULCH, 1982). O corpo de hoje é mais orgânico, é objeto de mercado. Até as substâncias biológicas, o sangue, os tecidos e os órgãos circulam, troca-se e constituem os bens raros estocados em bancos ou reservatórios. O corpo tornou-se objeto de consumo no capitalismo atual, tem valor de troca ou, como bem adquire um status a partir das insígnias que carrega, traduzindo os valores da cultura da sociedade de consumo. Hoje o sujeito serve ao corpo e não o corpo ao sujeito (DEL PRIORE E AMANTINO, 2011). Segundo Paul Schilder, a formação da imagem corporal, psicologicamente falando, dá-se por meio de um contato contínuo com o mundo externo. No plano libidinal, forma-se por meio do investimento que fazemos ao nosso corpo e pelo interesse que os outros demonstram por ele, por meio de ações ou palavras e, também, pelo modo com as pessoas à nossa volta tratam seus próprios corpos. (...) O distúrbio da imagem corporal é conseqüência de um não investimento da libido na imagem corporal. Deduz o autor, que a percepção de inteireza do corpo não é acidental, ela é sim produto do amor-próprio (GERALDI E THIERS, p. 188, 2009). A cobrança demasiada em relação ao corpo perfeito reforçada pela mídia exclui as pessoas que não se encaixam nesse padrão. O ideal de beleza transformou-se em um valor social. Segundo Erikson (APUD GRÜN, 56 2008), o objetivo do desenvolvimento humano é a integridade. Quem alcança a integridade torna-se uno consigo mesmo, está de acordo com sua história de vida, desenvolveu um sentimento de auto-estima forte, um sentimento de dignidade. A imagem de todo ser humano é moldada por individualidade e generalidade, por totalidade e fertilidade. Um importante caminho, para chegar a si mesmo é o caminho do corpo. O corpo é a bússola que mostra como a pessoa está e onde está em si. O corpo é um instrumento para ajudar o sujeito a identificar a si mesmo, através do corpo e no corpo pode-se também treinar posturas internas. Pode-se aprender a ter mais autoconfiança através do corpo. A mulher envelhecida na terceira idade, que sofre com as vicissitudes das doenças naturais e às vezes com o excesso de peso, tende a se alienar do seu corpo, por desprezo, medo e sofrimento. Tem uma auto-imagem fraca e se sentem horríveis, principalmente quando tentam comparar seus corpos com os corpos femininos elaborados por fotoshop que aparecem através da mídia. A mulher em qualquer idade necessita desenvolver uma imagem mais realista da aparência que gostaria de ter, ou seja, parecer com ela mesma, mas em melhor forma. Ao invés de ver o corpo como uma coleção de partes horrorosas ou que seria possível melhorar, o ideal é concentrar-se no corpo e pensar nas coisas maravilhosas que ele permitiu e permite realizar. O problema maior é se o ódio a aparência se transforma numa visão negativa da personalidade e do caráter da mulher. O corpo envelhecido é excluído da sociedade, pois esta criou concepções e modelos sociais de corpo que estão voltados, para a juventude e o início da maturidade. A representação da velhice está fortemente associada a estigmas socialmente ligados à decadência física e, a percepção que as pessoas envelhecidas tem da sua própria imagem muda a medida que o tempo passa; o confronto com a velhice, provocado, principalmente, pela inatividade ocasionada pela aposentadoria, cria múltiplas facetas na representação da decadência e do envelhecer. Assim, a 57 representação de si é como um jogo de espelhos que reflete, através da representação do outro, a imagem que cada um tem de si (GOLDMAN E PAZ, p.162, 2001). A auto-imagem é o conjunto de todos os pensamentos, as atitudes e as crenças que percebemos e armazenamos desde a infância. Normalmente o comportamento de cada um é o que ele acredita ser. A auto-imagem negativa é causa freqüente de ansiedade, ressentimento, frustração, depressão, autopiedade, ciúme e outros sentimentos negativos geradores de ações destrutivas (GERALDI E THIERS, 2009). As mulheres idosas muitas vezes imaginam o olhar que os outros dirigem a seus corpos envelhecidos e sentem vergonha do próprio corpo; acabam por desistir de determinadas atividades para não se exporem aos olhos de outros, isso diz respeito ao registro da aparência. Outro empecilho são as dificuldades da locomoção do corpo com o meio material, por exemplo, as dificuldades enfrentadas por certas mulheres idosas para pegar um ônibus ou se locomover em algumas ruas das cidades do Brasil. A vitalidade diminuída no corpo da mulher na terceira idade, também levam a desistência de muitas atividades, mesmo aquelas que gozam de boa saúde, é a diminuição da “energia vital”. Devido a esses diversos fatores acabam por levar a mulher envelhecida ao confinamento doméstico. Só que esse confinamento ou sedentarismo provocam transformações corporais, como por exemplo, a cuidar pouco da aparência e o não caminhar aumentam as dificuldades de deslocamento com a diminuição da força muscular e o senso de equilíbrio (GOLDENBERG, 2011). A questão da imagem corporal e do esquema corporal parte de posições dualistas, alguns autores preferem usar o conceito “imagem do corpo” como propriedade da psicologia e cabe aos neurologistas usar a expressão “esquema corporal”. Mas, o que está em discussão é o corpo material e subjetivo. A etapa do “corpo vivido” termina na primeira imagem do corpo identificado pela criança como seu próprio EU. A etapa do “corpo 58 percebido” corresponde a organização do “esquema corporal” (LE BOULCH, 1982). A partir do momento em que o indivíduo descobre, utiliza e controla seu corpo, o esquema corporal é estruturado e passa a ter consciência dele e suas possibilidades, na relação com o meio ambiente em que vive. Vivenciar estímulos sensoriais, para discriminar as partes do próprio corpo e exercer um controle sobre elas, implica: . A percepção do corpo; . O equilíbrio; . A lateralidade; . A independência dos membros em relação ao tronco e entre si; . O controle muscular; . O controle de respiração. (ALVES, p. 54 E 55, 2012) A imagem corporal diz respeito aos sentimentos da pessoa em relação à estrutura de seu corpo com a bilateralidade, lateralidade, dinâmica e equilíbrio corporal. (ALVES, p. 60, 2012) Portanto como bem explicou a autora, a pessoa idosa que se confina ao seu domicílio doméstico, para fugir dos olhares reprovadores ou para se poupar das incertezas das ruas ou porque não tem mais energia para atividades fora de casa, acaba por comprometer ainda mais todo o seu desenvolvimento que ainda ‘não acabou’ apesar do envelhecimento como 59 “Ser Integral”. Apesar dos pesares, mesmo com idade deve-se vivenciar estímulos sensoriais e exercer controle sobre elas, observar e aceitar a estrutura ou a nova estrutura do seu corpo, “pois o corpo é o que se faz dele, seja onde for e a partir de convenções” (GOLDENBERG, p.77, 2011). Se a terceira idade como diz o escritor Lauro Trevisan é a Idade da Luz, que o corpo seja percebido pela visão sob essa ótica, pois com luminosidade podemos corrigir todas as imperfeições. 2.4 A Psicomotricidade Desenvolvendo Borboletas São muitos os conceitos e as definições sobre a ciência conhecida como psicomotricidade. Assim como são muitos os conceitos e definições sobre o envelhecimento feminino. Adotada na Europa há mais de 60 anos, principalmente desenvolvida na França, onde se instituiu o primeiro curso universitário de Psicomotricidade em 1963, foram muitos os estudiosos que desenvolveram e pesquisaram o ser humano sob a ótica da psicomotricidade; desde os bebês de alto risco até pessoas na terceira idade, crianças com dificuldades em seu desenvolvimento e portadores de necessidades especiais. Henri Wallon (1879 – 1962) médico, psicólogo e pedagogo, foi o grande pioneiro da Psicomotricidade, vista como campo científico. Suas publicações em 1925 e em 1934 iniciam uma das obras mais importantes no campo do desenvolvimento psicológico da criança. Responsável pelo surgimento do movimento de reeducação psicomotora, suas obras durante anos influenciaram estudiosos e profissionais a investigar crianças com problemas de comportamento. Profissionais com formações médicas e pedagógicas (Descoeudres); educação física (Demeny, Hérbert, Dalcroze, etc.). Mais tarde Ajuriaguerra e Soubiran, conduzem com maestria as idéias originais de Wallon. Outros profissionais divulgaram as obras de Wallon e Ajuriaguerra: no campo educacional, Le Boulch (psicocinética) e Ramain (educação das atitudes); no campo terapêutico, Soubiran e Mazo; os criadores Vayer, 60 Lapierre e Aucoutier, da Sociedade Francesa de Educação e Reeducação Psicomotora em 1968, influenciaram escolas francesas, belgas, suíças e italianas. Na mesma época surgem os métodos de Borel-Maisonny (FONSECA, 2012). O conceito de Psicomotricidade ganhou assim uma expressão significativa, uma vez que traduz a solidariedade profunda e original entre a atividade psíquica e a atividade motora. O movimento é equacionado como parte integrante do comportamento. A psicomotricidade é hoje concebida como a integração superior da motricidade, produto de uma relação inteligível entre a criança e o meio, e tem instrumento privilegiado por meio do qual a consciência se forma e materializa-se (FONSECA, p.14, 2012). Num sentido mais amplo a psicomotricidade é definida como uma ciência que estuda o homem através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo ou ambiente interno e externo. O corpo humano é considerado como origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas e está alicerçado num tripé: o movimento, o intelecto e o afeto ou se preferir: corpo, mente e emoção. A psicomotricidade é o resultado: soma + psique. Os profissionais psicomotricistas ou especialistas em psicomotricidade atuam nas áreas de saúde e educação, com clínicas, consultorias, supervisão e pesquisas. Esses profissionais estão aptos a educar, reeducar e terapeuticamente detectar se o problema do indivíduo está no corpo, na mente ou na afetividade, estimulando o desenvolvimento integral desta pessoa. O movimento é o elemento fundamental para o desenvolvimento do ser humano e é através do corpo que nos movimentamos. Como diz o ditado: “Caminhando é que se vai longe”. O conceito fundamental na 61 psicomotricidade é o limite. O mais difícil no processo de envelhecimento são as limitações do corpo cansado, sem energia, e com patologias que afetam a locomoção da idosa ou da mulher na terceira idade. Uma questão fundamental e que não pode ser esquecida no processo de envelhecimento são as limitações que o corpo vai sofrendo durante seu percurso de desenvolvimento e a consciência da temporalidade. Nesse entrecruzar do corpo e do tempo e da maneira como isso ocorre, é que nascerão diversos tipos de velhice (FERREIRA E HEINSIUS, p. 187 e 188, 2010). Às vezes mulheres na terceira idade podem apresentar problemas físicos nos cinco sentidos, que muitas vezes tem ligações com patologias naturais do processo do envelhecimento feminino e também existe o envelhecimento emocional, cujos fatores são: redução progressiva da capacidade física e intelectual, perdas, separação, solidão, isolamento e marginalização social (FERREIRA E HEINSIUS, 2010) Os fatores principais no processo de envelhecimento são as limitações corporais e a consciência da temporalidade (FERREIRA E HEINSIUS, 2010). Mas, nem sempre a atividade cerebral de uma pessoa em processo de envelhecimento corresponde ao estágio em que o corpo está vivendo. Todos nós construímos um modelo postural do corpo. Normalmente quando envelhecemos não conseguimos nos ver velhas, principalmente quando há um equilibro biológico, só conseguimos perceber esse envelhecimento pela visão dos outros, que conseguem nos ver velhas com muita facilidade (ALVES, 2013). Os jovens nos chamam de “TIA” e nas filas nos oferecem senhas preferenciais. Por exemplo, a mulher pode ter um corpo de 67 anos, já afetado por algumas patologias inerentes a idade e, no entanto sua atividade cerebral, ou seja, a vontade e o pique de realizar atividades é a mesma de 17 anos de idade. Claro que o corpo não vai corresponder a essa atividade e nem se movimentar como se deseja e aí é 62 que entra a questão do Ritmo. A definição de Ritmo é o tempo que demora a repartir-se, para o músico e compositor Dalcroze (1868-1950) o ritmo é princípio e movimento e para o filósofo grego Platão (428/27 0 347 a.C) ritmo é movimento ordenado. E como se sabe e como se diz cada um de nós tem seu Ritmo. O conceito relacional da psicomotricidade é o limite. Cada um de nós tem um limite e um ritmo próprio, assim como nossa psique, muito particular e muito peculiar. Embora feitos na mesma forma, cada ser tem um sabor próprio e diferente um do outro. Segundo a professora e escritora Fátima Alves (2013) o corpo é uma jornada, e o corpo em movimento é a psicomotricidade. A postura do corpo é a primeira percepção importante para uma ação. A psicomotricidade auxilia o individuo a se educar e reeducar, desenvolvendo suas necessidades por meio de aprendizagem das dominâncias motoras, dando oportunidade a esse indivíduo de analisar suas condições e assim permitir que ele descubra como comportar-se corporalmente. Com este aprendizado, o indivíduo terá maior oportunidade de perceber como utilizar seu corpo por meio de movimentos, não havendo desgastes psíquicos e motores. É a construção do conhecimento em qualquer um, para um qualquer e cada um. (...) Portanto, por meio da educação motora, existe a possibilidade de resgatar todas as funções que, por conseqüência, foram privadas por alguma razão (ALVES, p. 97 e 98, 2013). O prazer lúdico através dos movimentos do corpo possibilita o conhecimento do corpo e a harmonia em relação à mente, suas emoções e o ambiente exterior. Os objetivos das atividades físicas para mulheres na terceira idade deverão ser para conservar no máximo sua autonomia e ajudar a retardar o envelhecimento. As atividades físicas devem favorecer o equilíbrio, a marcha e a escuta de si; atividades que propiciem a livre 63 iniciativa de explorar seu potencial criativo e trabalhar relações interpessoais e atividades que promovam oportunidade autodescoberta e de valorização de sua vivência e de suas experiências (FERREIRA E HEINSIUS, 2010). Nesta fase da vida é importantíssimo se conectar a pessoas e atividades prazerosas, desafiar a mente e realizar aprendizados em que nunca se pensou em fazer antes. “A prática psicomotora dá oportunidade ao idoso de desenvolver estruturas psicomotoras almejadas com alguns valores, como partilhar, agir, respeitar, aprender e reaprender “(ALVES, p. 101, 2013). A dança está vinculada às possibilidades de expressão do ser humano, seja de forma artística, religiosa, lúdica, social ou cultural. Tão antiga quanto à humanidade, foram encontrados vários registros arqueológicos nos primórdios de sua história. A dança sempre expressou sentimentos do amor, ódio, morte, guerras, religiões e até nascimento. A dança faz história, testemunha fatos, relaciona culturas variadas em um processo dinâmico temporal e celebra a vida. A dança é uma vivência lúdica e prazerosa, trabalha na pessoa o autoconhecimento e propicia melhor qualidade de vida. Aumenta a percepção corporal, relaxa e alonga a musculatura do corpo, favorecendo o desenvolvimento físico, motor, neurológico e intelectual; principalmente, trabalha “a auto-imagem mediante estímulo das percepções, sensações sinestésicas e visuais, que orientam o tempo e o espaço” (MELLO APUD FERREIRA E HEINSIUS, p. 188, 2010). Segundo, Sonia de Oliveira, a dança atua no corpo como um canal de educação, estimulação ou reorganização de conteúdos bem específicos da Psicomotricidade: Lateralidade, estruturação, orientação espacial e temporal, coordenação motora, percepções auditivas, visuais, sinestésicas, táteis. No campo individual capacidades, como mobilidade, flexibilidade, agilidade, resistência, equilíbrio estático e dinâmico, tudo influenciado positivamente sobre o sentimento de auto-estima do idoso. As atividades de gerontoativação visam produzir efeitos preventivos e terapêuticos, melhorando a fraqueza 64 muscular, a rigidez articular e a perda do domínio dos movimentos práxicos, auxiliando o equilíbrio corporal e a boa postura. Possibilitam melhoria na respiração e na coordenação quedas e prevenindo atrofias. O aprendizado das coreografias trabalha a atenção, a concentração, a percepção, a lateralidade, o ritmo, a memória recente, a orientação espacial, estimulando diversas habilidades psicomotoras e cognitivas, além de promover um trabalho motor com progressivo condicionamento físico associado à sensação de satisfação física e mental (FERREIRA E HEINSIUS, p. 195, 2010). A prática psicomotora através da dança propicia a mulher em processo de envelhecimento se perceber sem choques e ajuda a desenvolver valores como partilhar, agir, respeitar, aprender e reaprender (ALVES, 2013). Além de resgatar toda a sua AUTOESTIMA, valorizando suas personalidades muito mais do que seu corpo. Torna a mulher como Ser Integral, libertando a borboleta que existe no interior de cada uma de nós, mulheres de todas as idades! Elegantes, fantásticas e independentes, com inúmeros papéis no sistema social da nossa sociedade contemporânea: FEMININA, AMANTE, MÃE, ESPOSA, AVÓ, CIDADÃ, PROFISSIONAL, DEUSA, GUARDIÃ, mas principalmente MULHER! 65 DE COMO O MOVIMENTO SE FAZ GESTO, ATITUDE, IMAGEM, EMOÇÃO E IDÉIA. (GAIARSA, p. 23, 1995). 66 CAPÍTULO III O ESPÍRITO DA DANÇA DO VENTRE: CIÊNCIA E ARTE Escutem bem a música, mas com a alma. Vocês não estão sentindo que há outra pessoa que faz vocês levantarem a cabeça, mexer os braços e caminhar para diante, na direção da luz? Isadora Duncan (1877 – 1927) 3.1 O Ventre, O Centro do Corpo e Equilíbrio da Vida “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre” Palavras de Isabel à sua prima Maria, por ocasião da sua visita. (Lucas, 1- 42, Bíblia Sagrada) Se a alma é a fonte da vida; o útero é o berço que embala a existência de um ser, ele representa a natureza íntima da mulher, com originalidade e espontaneidade. Ser mulher é dar vazão aos conteúdos do ser, como ternura e afetividade; esse procedimento nutre a mulher, tornando-a preenchida dos valores da alma. O sistema reprodutor feminino representa a realização da mulher na vida: os ovários representam a iniciativa, as tubas uterinas o Ser convincente, o útero são a características da mulher e a vagina a manifestação do prazer. O âmbito da sexualidade humana representa uma via pela qual as pessoas podem superar suas dificuldades, serem criativas e espontâneas, e assim expressar suas naturezas íntimas. Quando essas qualidades do Ser forem acrescentadas à realidade, elas contribuirão para a edificação de uma vida melhor, proporcionando felicidade e realização pessoal. 67 Assim, aquilo que é natural ao corpo feminino relaciona-se, essencialmente, com a organização fisiopsíquica que lhe permite gerar, gestar, parir filhos e cuidar deles. Em termos coletivos, a função procriadora mantém o corpo da mulher organizado em torno desse eixo fundamental, o qual se resume à capacidade criadora biológica do corpo. Mesmo que a mulher jamais tenha filhos nem se interesse em tê-los, ainda assim – pelo menos no atual estágio evolutivo – a sua anatomia, fisiologia e psicologia estão profundamente associadas com essa força geradora, independentemente da sua vontade (PENNA, p.41, 1993). O ventre vulgarmente chamado de barriga é a fonte de muitas experiências, berço da vida e passagem da morte. Local das transformações, o ventre foi comparado ao laboratório de alquimistas. Simboliza a mãe e reflete particularmente uma necessidade de ternura e de proteção. Quando as pessoas sonham com o ventre, seu significado pode sinalizar uma atitude regressiva, um retorno ao útero, uma maturação espiritual travada, diante de graves obstáculos afetivos. O ventre é um local importante do nosso corpo porque nele se encontram o alto e o baixo. Também se encontram o pai e a mãe e algumas vezes nossas dificuldades digestivas são uma interiorização dos problemas que podem existir entre nosso pai e mãe. Certos acontecimentos fazem mal ao ventre, eles nos mostram que nosso corpo é religado com o que se passa no mundo (LELOUP, 2012). O ventre representa outro exemplo de experiência humana chamadas de “sensações na barriga” ou sentimentos viscerais. Recentes pesquisas na medicina consolidam a idéia de um sistema nervoso entérico comparável a um verdadeiro cérebro visceral, ou seja, pretende-se provar que existe “mente” nas vísceras. O ventre costuma ser caracterizado como sede dos apetites, dos desejos, cuja voracidade pode parecer assustadora para aquele que não aceita sua animalidade profunda. O ventre pode ser refúgio, mas também devorador. Expressões comuns como: “eu sinto isso 68 na barriga”; “eu simplesmente sigo as minhas entranhas”; “eu ouço o que sinto visceralmente”; “isso não está de acordo com o que estou sentindo por dentro” e até mesmo “eu o odeio com todas as minhas entranhas”. É interessante notar que a região do ventre (e seus significados) está embutida em diversas expressões da cultura popular: “Só ver o próprio umbigo”; “Tirar a barriga da miséria”; “Chorar de barriga cheia”; “Com o rei na barriga”. O ventre corresponde ao meio do corpo humano, tem a forma ovóide e é um grande vazio entre as costelas e as pernas, preenchido por tubos que se movimentam em ondas e, por glândulas. O ventre recebe a maior força de atração do planeta terra. Ter ventre é ter centro. Os antigos consideram o ventre como lugar de transformação. Segundo os dicionários da língua portuguesa, o ventre do latim venter, ventris é a parte do corpo onde está alojados o abdome, barriga, útero; intestino, o estômago, o fígado, o pâncreas, a bexiga, etc. O adjetivo ventral refere-se á frente do corpo. Na anatomia refere-se também a parte média ou mais ou menos volumosa de certos músculos. O fato de o centro da gravidade estar no abdome, e não na cabeça nem nos pés, nos traz uma conseqüência: esses segmentos é que precisam alinhar-se com o ventre, estar de acordo com ele, pois disso depende o andar equilibrado e todas as outras formas de movimento humano. Então o equilíbrio do nosso corpo no espaço é decorrente do alinhamento dos nossos centros de gravidade, que se faz a partir do ventre (PENNA, p. 70, 1993). Na parte inferior do ventre, fica o aparelho genital e reprodutor feminino, conhecido como diafragma pélvico e o sistema urinário. Descrevendo o aparelho genital feminino de dentro do abdome para fora, é constituído pelo ovário direito, ovário esquerdo, trompas ou tubas da direita e da esquerda, útero, vagina e vulva. Ainda dentro do abdome encontram-se as trompas ou tubas, que são canais que se estendem das proximidades dos ovários até a parte superior e interna do útero, em cuja cavidade 69 desemboca. Esses canais ocos são destinados à captação e transporte do elemento ou célula reprodutora feminina, o óvulo, para a fecundação. O útero, também chamado matriz, é um órgão oco, de paredes grossas, de natureza muscular e, portanto, com capacidade de contrair-se e relaxar. Tem seu revestimento interno, chamado endométrio, devidamente preparado pelos hormônios femininos, produzidos pelos ovários para alojar o ovo. É um órgão de gestação e o principal agente de expulsão no trabalho de parto; também promove a menstruação. Tem a forma de uma pêra achatada de frente para trás, com a parte mais volumosa voltada para cima e a parte mais fina de forma mais ou menos cilíndrica e chamada de colo do útero, voltada para baixo. O colo uterino tem dois orifícios, um superior e um interno, que se comunica com a cavidade uterina e entre os dois existe um canal chamado canal endocervical ou endocérvix, que comunica a cavidade uterina com a vagina. O que mantém o útero fixo em posição dentro da parte inferior do abdome são os ligamentos, espécies de cordões fibrosos, uns mais finos e outros mais largos. São constituídos por um tecido elástico (chamado conjuntivo), fibras musculares e envolvidos por outro tecido chamado peritônio, na parte que está dentro do abdome, também possuem vasos e nervos (MARQUES, 2007). Os rins estão situados um de cada lado da coluna vertebral e trabalha contínua e silenciosamente realizando diversas funções que garantem o equilíbrio do corpo. Na fisiologia do sistema urinário, o papel essencial dos rins é de filtração e purificação do sangue. Segundo LELOUP (2012) “Os rins são um espaço para a Palavra que temos a escutar. Porque, para enfrentar nossa existência, temos necessidade de rins sólidos”. Dos rins saem dois longos canais, os ureteres, que são tubos musculares que produzem ondas de contração e ajudam a urina a se deslocar para a bexiga. Na ligação dos ureteres com a bexiga existem anéis musculares chamados esfíncteres, esses anéis musculares relaxam enquanto a urina goteja na bexiga. A bexiga possui músculos em suas paredes, lhe dando elasticidade, possui também mais um esfíncter, que controla a passagem da urina para uretra. A micção é facilitada pela contração das paredes da bexiga e da musculatura abdominal. Situadas acima dos rins, estão às glândulas suprarrenais e essas 70 glândulas estão relacionadas ao estresse. Produz substâncias como adrenalina que prepara o organismo para situações de tensão e hormônios que controlam as concentrações de minerais no corpo. A parte mediana do ventre é conhecida como “barriguinha”. É a parte que merece muita atenção, pois é a parte crítica na imagem corporal de mulheres acima de 30 anos, pois tende dobrar-se sobre a virilha devido ao excesso de gordura, devido à alimentação, desequilíbrio hormonal e gravidez. A famosa barriguinha ocupa o topo das listas de cirurgias plásticas e dos exercícios abdominais das academias de ginásticas. Nesta parte do ventre está acondicionado um importante órgão considerado pelos cientistas como o segundo cérebro do corpo humano e que merece toda a atenção: o intestino. O intestino está dividido anatomicamente em duas regiões: o duodeno que mede cerca de 25 cm e dele continua o processo digestivo que começou no estômago. Depois o alimento percorre a mais longa distância do sistema digestório: em média, os 6 metros do jejuno-íleo, que está dobrado na cavidade abdominal e, assim como todo o tubo digestivo, possui movimentos peristálticos que impulsionam o alimento para frente. As paredes internas do jejuno-íleo possuem dobras, denominadas vilosidades. Por fim o intestino grosso que é o último segmento do sistema digestório e mede cerca de 1,5 m e em seu interior há uma imensa quantidade de microorganismos formando a microbiota ou flora intestinal. A primeira região do intestino grosso é o ceco e junto a ele, no lado direito do abdômen, existe o apêndice cecal, uma projeção com até 8 cm que, acredita-se, participa das funções de defesa do organismo. A trajetória do alimento termina quando do intestino passa ao reto, e o que não pode ser digerido é eliminado pelo ânus. A fisiologia do intestino é de um grande labirinto, igual ao que se encontra no cérebro. Assim como qualquer parte do nosso corpo, o aparelho digestivo e, mais especificamente, o intestino grosso, tem um caráter simbólico. Os eventos digestivos são análogos ao processo de aquisição de informação que 71 ocorre em nosso sistema nervoso central. Assim, como a nossa mente processa informação, o aparelho digestivo também o faz só que essa informação nos chega sob a forma de alimentos. (...) O intestino delgado tem a tarefa de tomar toda informação (alimentos) decodificada pela boca, estômago e duodeno, e proceder sua análise com vistas a aproveitar (absorver) certas partes e eliminar outras. (...) O intestino delgado ficaria, assim, com a carga simbólica de ser o consciente ou o aspecto analítico da nossa mente integral. O intestino grosso, por sua vez, corresponderia ao nosso inconsciente. (...) As pessoas que apresentam quadros de prisão de ventre estão entre as que têm medo do que o inconsciente pode trazer (AUGUSTO, p.43 e 44, 1995). Na parte superior do ventre, está o diafragma, que é o divisor do tronco, formado por um arco ou abóboda. Esta região além de servir de apoio para o músculo cardíaco acoberta o estômago que é um órgão em forma de bolsa com fortes paredes musculares, para comprimir e misturar os alimentos aos sucos gástricos. Assim como há determinados acontecimentos que levam tempo para serem digeridos, muitas vezes o sofrimento nos impede de comer e se nos alimentarmos demais ficamos doentes. O perdão é um poderoso remédio para as doenças deste órgão; o fígado que é a maior glândula do corpo humano, com aproximadamente 1,5 kg, localizado logo abaixo das costelas, ao lado direito do abdômen e responsável por centenas de atividades vitais. Na simbologia antiga o fígado estava ligado à visão. A arte divinatória como prever o futuro era feito sobre o fígado aberto de animais. É neste lugar do corpo que a luz é estocada e todas as emoções. Emoções negativas impedem que a luz habite (LELOUP, 2012); a vesícula biliar é uma bolsa escondida atrás do fígado e ajuda na digestão das gorduras. Na antiguidade era considerada a sede do discernimento; o baço que fica próximo ao estômago e é uma víscera que libera hemoglobina e destrói glóbulos vermelhos inúteis, assim como o 72 fígado e a vesícula é responsável por muito de nossos humores e o pâncreas é uma glândula mista que mede cerca de 13 cm de comprimento e fica alojada junto ao estômago, sua função é produzir insulina que vai para o sangue e o suco pancreático que vai para o duodeno no intestino delgado. Esse órgão faz o trabalho de transformação, todas as provações humanas solicitam do pâncreas a liberação de energia necessária para enfrentar as dificuldades (LELOUP, 2012). O diafragma desde a época dos gregos foi considerado um músculo essencial para a respiração. Mesmo quando o corpo está em repouso, o diafragma é o único músculo esquelético do corpo que continua trabalhando; é um sistema automático e voluntário. Devido a hábitos posturais desequilibrados desde a infância, as pessoas no decorrer dos tempos deixaram de apresentar o movimento natural do diafragma, mas é possível recuperar esse movimento natural, através da psicomotricidade, tratando de forma integrada o tônus, a respiração, o equilíbrio e as respostas emocionais, ou seja, métodos de consciência corporal. O ritmo respiratório ocorre em três tempos: inspiração, expiração e pausa. Deve-se esperar que o corpo manifeste espontaneamente, a necessidade do ar. Resta-nos assegurar que o diafragma execute bem o seu trabalho de músculo respiratório. Ao contrair-se, ele aplana-se levemente e provoca uma chamada de ar na base do pulmão. Ao mesmo tempo, exerce uma leve pressão sobre os órgãos que recobre – fígado, estômago, baço, intestinos – e efetua uma massagem suave e permanente sobre o conteúdo do ventre. Ao relaxar-se, recupera sua forma anterior – mais ou menos a de um prato fundo de boca para baixo -, ajudando assim o pulmão a esvaziar-se em sua base. A cada inspiração o ventre aumenta ligeiramente sob pressão do diafragma, retornando à sua posição inicial na expiração. Podemos observar essa ondulação respiratória da barriga em todos os quadrúpedes em repouso, em todas as crianças saudáveis e na maioria dos adultos. Mas existem desafortunados que aprenderam a 73 contrair esse movimento natural. (...) Para resolver esses problemas, será necessário reeducar a atividade do diafragma (EHRENFRIED, p. 59 e 60, 1991). Melhorando o conjunto de sua atitude física, a pessoa se sentirá mais a vontade, mais calma e menos cansada. A sintonia entre a respiração e o psiquismo é muito profunda. Há milênios os sábios do oriente já sabiam dessa estreita relação. Na Índia formou-se uma filosofia que integrou mente ao corpo, assimilando também a dimensão transcendente. A Hatha Yoga é uma prática holística que age sobre todo o ser humano. A palavra Ioga deriva do radical sânscrito yuj, que quer dizer fusão ou união. A finalidade é juntar o homem, o mortal, com o Infinito, a Luz, a Verdade, a Consciência Universal. Hatha que dizer sol e lua, diz respeito às qualidades solares e lunares da respiração e ao Prana (forma sutil de energia). Na Índia são reconhecidas sete escolas de Yoga: Raja Yoga, Karma Yoga, Jnana Yoga, Hatha Yoga, Laya Yoga, Bhakti Yoga e Mantra Yoga. Todas essas escolas reconhecem a existência dos chacras. A Laya Yoga é a escola que dá mais atenção aos chacras, e o seu método consiste em despertar os níveis mais elevados do fogo serpentino, e forçá-lo a passar pelos chacras um a um. Inspirando! Peito para fora! Barriga para dentro! Fisiologicamente uma contravenção. O natural, portanto, o sadio é extremamente o oposto. Uma respiração plena engloba a baixa, a média e a alta. Quando a natureza ainda prevalece, na baixa inspiramos graças a um discreto avançar do ventre, permitindo ao diafragma descer, o que aumenta o vazio interno; vazio este que é imediata e automaticamente preenchido pelo ar que invade os pulmões. Na expiração, o vazio deixado pelo gás carbônico permite ao diafragma novamente subir. A respiração média é produzida pelo alargamento seguido do estreitamento horizontal da parte média da caixa torácica, graças à ação dos músculos intercostais. 74 A respiração alta resulta da movimentação vertical da caixa torácica – subindo na inspiração e descendo na expiração, graças ao trabalho dos músculos esternocleidos (HERMÓGENES, p.320 e 321, 2012). É preciso lembrar que a degradação do aparelho respiratório é feita pela vida sedentária, o mau hábito do fumo e pelo excesso de gordura na região abdominal, principalmente nas pessoas idosas, que acabam apenas conseguindo a respiração alta. O ventre na concepção iogue em geral, é a sede da Kundalini, que mora no assoalho pélvico. Segundo OSHO (2011), O ser humano é dividido em sete corpos: físico, etéreo, astral, mental ou psíquico, espiritual, cósmico e nirvânico ou nirvana sharir. O corpo físico, sthul sharir, é formado nos primeiros sete anos de vida. Os animais desenvolvem apenas esse corpo e há pessoas que não passam desses primeiros sete anos; dos sete anos aos 14 anos de idade, se desenvolve o corpo etéreo, bhawa sharir, esse período são anos de crescimento emocional; dos 14 aos 21 anos de idade, é desenvolvido o corpo astral, sukshma sharir, que envolve o crescimento da razão, do pensamento e do intelecto. Esses atributos são resultados da educação, da cultura e da civilização. A maioria das pessoas não se desenvolve além dos 21 anos de idade, o crescimento delas para com o terceiro corpo e não há mais crescimento para o resto de suas vidas; dos 21 aos 28 anos de idade, poucos desenvolvem o quarto corpo, manas sharir, que é o corpo mental ou psíquico. Esse corpo tem um grande potencial e é subjetivo, no mundo desse corpo há perigos e ganhos. Os sonhos são acontecimentos do quarto corpo e a Kundalini também, por isso é um fenômeno psíquico; Raras são as pessoas que descobrem o quinto corpo, o atma sharir (corpo espiritual), conhecidas como espiritualistas esse corpo desenvolve-se dos 28 aos 35 anos de idade, a libertação é experiência desta fase; o sexto corpo, que é o cósmico, brama sharir, se desenvolve dos 35 anos aos 42 anos de idade, chegando a esse estágio haverá a possibilidade de realização divina; dos 42 aos 49 anos de idade, desenvolve-se o sétimo corpo, estado incorpóreo, nirvânico, onde permanece apenas o vazio. A 75 palavra nirvana implica a extinção da chama. Num período de 49 anos se desenvolvem sete corpos, por isso os 50 anos e 75 anos de idade são pontos de revolução: com 50 anos a pessoa se torna um wanaprasth e aos 75 anos um sannyas. Há diferenças nos primeiros quatro corpos dos homens e das mulheres, os corpos masculinos e femininos são corpos positivos e negativos. O corpo físico da mulher é negativo. Em termos de eletricidade, negativo significa receptividade, reservatório. No corpo da mulher, a energia fica guardada. Por isso o poder de resistência da mulher e sua capacidade de persistir são maiores do que a dos homens. As mulheres ficam menos doentes e sua longevidade é maior do que a dos homens. Para cada cem mulheres, nascem 116 homens (OSHO, 2011). Mas, o que é a Kundalini? É uma energia adormecida e suas energias se estendem do centro sexual até o centro do topo da cabeça. A Kundalini é a energia da vida que ativa os chacras e se movimenta dentro do corpo, pela coluna vertebral (Merudanda). Duas serpentes simbolizam a Kundalini ou fogo serpentino. Como toda energia é invisível; mas no corpo humano ela se reveste de um curioso invólucro de esferas concêntricas de matéria astral e etérica, uma dentro da outra. Existem sete dessas esferas concêntricas dentro do chacra básico, dentro e em torno da última câmara da cavidade da espinha dorsal, junto ao cóccix. A Kundalini reside no Muladhara, que é o chakra-raiz, conhecido como “portão da vida e da morte”. É descrita como uma devi ou deusa luminosa como o raio, que permanece adormecida no chacra básico, enrolada como uma serpente três vezes e meia em torno do svayambhu linga que ali se encontra, e fechando a entrada de sushumna com a cabeça. Chakras ou Chacras, na palavra sânscrita significa roda, círculo ou movimento. Os sete chakras principais são centros de consciência, os três últimos estão no ventre: Plexo Solar (Manipura), acima do umbigo, na boca do estômago; Esplênico (Swadhisthana), umbilical ou sexual, localiza-se na lombar e abaixo do umbigo e controla as glândulas supra-renais e o Básico (Muladhara) situa-se nos órgãos genital e pélvico e é a sede da Kundalini. Os quatro chacras 76 restantes são: Cardíaco (Anahata); Laríngeo (Vishuddha); Frontal (Ajnã) e Coronário (Sahasrara) (LEADBEATER, 2010). Como explica a psicóloga Lucy Penna (PENNA, p. 81, 1993), “o ventre está muito além de ser um saco vísceras, como insinuam os livros escolares”. A consciência dos planos psicológicos e simbólicos relativos às funções do ventre tem aumentado nos últimos dez anos. Dietas para emagrecer, macrobiótica, vegetarianismo, a preocupação com os agrotóxicos e a qualidade do que ingere mostra que o cidadão das capitais modernas está aberto às mudanças. Já se fala na associação entre alimento e afeto com mais regularidade. A percepção do mal que a desnutrição alimentar e emocional causa nas pessoas de todas as idades é geralmente reconhecida pelos pediatras, educadores e pais. (...) Não obstante, estamos no limiar da percepção integrada do corpo enquanto conjunto físico, que a ciência ocidental descreve, e campo de energias, como propõem o Oriente. Tal união de perspectivas e de valores é crucial para a sobrevivência pacífica deste planeta (PENNA, p. 81 e 82, 1993). Na organização psicomotora da mulher, o equilíbrio no espaço é um dos pontos principais. Talvez por isso que algumas atividades como a dança e algumas modalidades de ginástica sejam mais accessíveis. Na dança do Ventre, o conjunto de flexibilidade, leveza e sensualidade do corpo feminino, faz dela uma dança estritamente feminina. Na sabedoria natural e primária dos povos da Antiguidade, essa dança ritualista, na verdade naturalmente psicomotora, reunia todos os ensinamentos e educação corporal do elemento feminino. O ventre é um lugar sagrado carregado de simbolismo. A ondulação do corpo feminino na dança reascende a energia da Kundalini, e assim os corpos se energizam com o infinito, é um treinamento para domar o próprio corpo e a perfeição dos movimentos conduz ao autoconhecimento e 77 ao crescimento pessoal. A consciência do EU, através do ventre se relaciona com outras consciências: do mundo, das pessoas, dos objetos, da vida e da capacidade de viver, recriando este mesmo universo numa única dança, que congrega: Corpo Mente e Espírito. É preciso transformar a vida que coxeia em uma vida que dança, por meio da compreensão e da aceitação (LELOUP, 2012). 3.2 Racks El Sharqi, A Dança do Leste Conhecida como “Dança do Ventre”, denominação recebida por ocasião da expedição de Napoleão no Egito em 1798. Pouco se sabe da sua remota origem, mas através dos achados arqueológicos sabe-se que a dança é muito antiga, ritualista e de fecundação. Fertilidade e o milagre da vida eram tudo o que se desejava nas sociedades antigas. A dança é um fenômeno que sempre se mostrou como expressão humana, seja em rituais, como forma de lazer ou como linguagem artística. Neste sentido, ela é uma possibilidade de expressão e também de comunicação humana que, através de diálogos corporais e verbais, viabiliza o autoconhecimento, os conhecimentos sobre os outros, a expressão individual e coletiva e a comunicação entre as pessoas. Pode-se dividir a dança em três formas distintas: étnica, folclórica e teatral. Pensando a dança como manifestação humana no mundo, é possível dizer que ela é uma maneira de vivenciar a corporeidade, integrando o sensível e o racional, o pensamento e a ação. Segundo PORTINARI (1989), especialistas pesquisadores como Susan K. Langer (filosofia da arte) e Curt Sanchs (musicólogo) consideram a conquista da gravidade como o principal atributo da dança, enquanto arte. A conquista da gravidade é uma das características da dança, mas não a principal. Observando a natureza podese dizer que a dança precedeu o homem: movimentos considerados dançantes integram a rotina de diferentes espécies animais para o acasalamento. Como se vê a dança está sempre direcionada para o ritual da 78 fertilidade. Sem dúvida, a dança é um elemento primário e uma manifestação instintiva, que ajudou a desenvolver as capacidades para o surgimento da música, da escrita, da pintura e, mais além para a criação das estruturas capazes de formar a sociedade. Uma das características marcantes da arte da dança é sua simbiose com a religião, portanto é correto afirmar que a dança nasceu da religião e é reprimida mais tarde na era do cristianismo pela própria religião. O corpo era usado como instrumento para alcançar o sagrado, a oportunidade de dissolver o ego e se aproximar do celestial. Até hoje essa técnica é usada em diversas religiões. Os místicos do Islã e os sufis utilizam movimentos seculares para alterar seu estado natural e por meio da dança chegar perto do criador. Essas danças recebem o nome de Dhikr, que significa chamar ou religar a Deus, ou Racks, que significa estremecer e agitar o coração. Como elemento primário, com certeza o homem primeiro descobriu o som do seu corpo com palmas e sons vocálicos, a respiração e a pulsação estão conectadas ao movimento. Depois descobriu que podia tocar. Os instrumentos de percussão foram os primeiros, pois estão ligados ao lado instintivo, primitivo e fisiológico e mais ligados aos quadris; os instrumentos melódicos, foram criados a seguir, quando os homens desenvolvem consciência das suas emoções, esses instrumentos estão relacionados a região do tronco e mais tarde quando o ser humano desenvolve seu intelecto e se torna mais racional, surgem os instrumentos harmônicos, ligados à mente humana (ATON, 2000). A mulher ancestral do período pré-histórico vivia imersa em sua natureza pelo tempo em que podia viver. As condições de vida da época eram muito rudimentares e difíceis, as mulheres desenvolviam muitas atividades: conseguir alimentos e cozinhá-los, cuidar da sua prole e trabalhar a terra desde o amanhecer até o por do sol. Todas essas tarefas eram feitas ao ar livre, por isso as mulheres da época garantiram um grande volume de exercícios físicos e flexibilidade natural de movimentos, além de uma excelente musculatura e resistência física (MOHAMED, 1998). Surgem nas arcaicas sociedades agrícolas os rituais de fertilidade, sendo uma maneira 79 mágica de controlar a natureza simulando o seu ciclo e garantindo assim a continuidade da vida. A mais antiga imagem da dança data do mesolítico (cerca de 8.300 A.c). Foi descoberta na caverna de Cogul, que fica na província de Lérida, na Espanha. Mostra nove mulheres em torno de um homem despido, indicando ritual de fertilidade. No livro World History of Dance, Curt Sachs analisa esse desenho como registro de uma tosca ronda dançante que atravessou milênios e prenunciava a mítica dança de Apolo cercado pelas nove musas (PORTINARI, p. 17, 1989). Através de sacrifícios de sangue, símbolos fálicos, máscaras, danças e dramatizações, com toda essa magia transmitiam-se a terra a mesma capacidade reprodutiva de fêmeas humanas e animais. Segundo PORTINARI (1989), é desses rituais que nasce uma dança que sobrevive até hoje, a “Dança do Ventre”. No livro The White Goddess, Robert Graves a inclui como uma das principais manifestações no culto da deusamãe. Por seu lado, Havelock Ellis em Dance of Life analisou-a em relação ao matriarcado: teria sido no início, um cerimonial secreto do qual os homens eram banidos (PORTINARI, p. 18, 1989). A partir do século XIX, com a expedição de Napoleão ao Egito e a decifração dos misteriosos hieróglifos da pedra Roseta, por Champollion, abriram as portas da civilização egípcia para o mundo ocidental, cujo interesse começava a ser despertado para a arqueologia. Esta tendência é reforçada pelo gosto de viagens distante, muito difundido entre os europeus da época. O século vai presenciar o nascimento da ciência histórica que igualmente descobrirá as civilizações soterradas pelas areias há milênios. 80 Na sucessão das grandes descobertas, há uma região menos beneficiada pelo interesse dos eruditos: a Anatólia, ou “País do Sol Nascente”, como a chamavam os gregos. A febre das expedições arqueológicas pelos europeus e todo o interesse se concentrava no Egito e na Mesopotâmia. Na Ásia Menor, apenas procuravam os vestígios do período Greco-romano. Ninguém teria arriscado de que a região tivesse abrigado uma poderosa civilização. A descoberta de Estados e cidades esquecidas como Çatal Hoyuk ou Chatal Hüyük (grupo de duas colinas, a mil metros de altitude), reconhecida pela primeira vez em 1958 por James Mellaart e dois arqueólogos ingleses, Alan Hall e David French, deu luz nova à história, demonstrando o interesse primordial que apresenta a Ásia Menor anatoliana para a gênese e o desenvolvimento das civilizações do Oriente próximo antigo. A riqueza do material encontrado, a qualidade de vestígios trazidos à luz e o grande número de santuários revelados apenas na parte oeste da cidade permitem a reconstituição de um quadro completo da vida, da arte e das crenças de uma civilização de oito milênios! Neste sítio arqueológico foram encontrados evidências de que a deusa Ishtar já era cultuada em época afastada. Desde aquela época os rituais à Deusa incluíam danças e instrumentos sonoros e estavam ligados às funções vitais. Vários relatos detalhados de pesquisadores descrevem com detalhes os achados de Chatal Hüyük. Os locais sagrados eram pontos de encontro onde o nascimento, a morte e a regeneração eram celebradas com a dança e outros rituais, incluindo observação do parto e relacionamento sexual. A fertilidade feminina correspondia à fertilidade dos animais e do solo. As divindades passaram a ser representadas e adoradas em forma de figuras femininas. A mulher parece ter gozado de condição social muito evoluída, relacionada talvez à importância que lhe dava o papel desempenhado na vida doméstica (PENNA, 1993). Em árabe Racks el Sharqi significa Dança do Leste e porquê denominada dança do leste? Ao leste do planeta terra fica a grande Ásia, o próprio nome já diz e é no leste que o sol nasce. O sol é astro de pura energia e vital para o desenvolvimento e preservação de todos os seres de todos os reinos da terra. Segundo a veterana e precursora de dança do 81 ventre no Brasil, a armênia Shehrazad, Dança do Leste, significa onde o sol nasce de onde a mulher recebe as energias e o poder do sol e sua relação com os ciclos da natureza. Esta dança oriental recebeu influência de diversos povos e culturas orientais. Desde os tempos pré-históricos, essa dança veio sofrendo mudanças em sua evolução. Porém, com o contínuo intercâmbio cultural, tornou-se uma dança popular e passou a fazer parte das celebrações, nascimento, casamento e festa. Por ser uma arte muito antiga, sem fronteiras e por ter sobrevivido a diferentes povos e em diferentes civilizações, há muito mistério e informação controversa sobre a Dança do Ventre. A começar pela denominação que ficou conhecida no Ocidente como “Danse Du Ventre” (Frances) ou “Belly Dance” (Inglês). Ainda se discute acaloradamente para saber qual das grandes civilizações da Antiguidade foi à primeira. A maioria das opiniões parece favorável à Egípcia; não obstante um número respeitável de autoridades advogarem os direitos do vale Tigre e Eufrates (Mesopotâmia). Outros especialistas preferem o Elam, região situada a leste do vale Tigre-Eufrates e margeando o Golfo Pérsico. Mas, devido às descobertas arqueológicas nos últimos tempos do século XX, há fortes razões para se acreditar que o vale do Nilo e do Tigre-Eufrates foram os berços das mais antigas culturas históricas. Essas duas áreas eram geograficamente, as mais favorecidas da região chamada Crescente Fértil. O Crescente Fértil é a vasta faixa de terra produtiva que se estende para o nordeste do Golfo Pérsico, daí descendo pela costa do Mediterrâneo até quase o Egito, formando um semicírculo a contornar a parte norte do deserto da Arábia. Nesta região foi encontrado o maior número de artefatos da Antiguidade incontestável do que em qualquer outra parte do Oriente Próximo (região do mundo antigo que compreendia a Mesopotâmia, o Egito e a área habitada pelos Hebreus. Atualmente corresponde ao Oriente Médio: Iraque, Turquia, Chipre, Israel, Egito, Iêmen, Síria, Omã, Qatar, Bahrein, Emirados Árabes Unidos, Jordânia, Irã, Arábia Saudita, Kuwait e Líbano). Além disso, o progresso nas artes e nas ciências tinha atingido um nível sem par em ambas essas áreas já pelas alturas do ano 3000 a.C., quando quase todo o resto do mundo estava ainda mergulhado na ignorância. 82 As regiões do vales do Nilo e do Tigre-Eufrates apresentavam excelentes vantagens para o desenvolvimento de sociedades devido a seus fatores geográficos, por serem solos férteis, pela grande extensão de seus territórios, pelos rios navegáveis (favorecendo a comunicação entre as populações) e ricos em peixes e aves marinhas (favorecendo a proteína na alimentação), além das excelentes condições climáticas, sendo a do Egito melhor do que a da Mesopotâmia; nesta região o verão era mais quente, a umidade mais alta e havia mais doenças tropicais, por outro lado a queda de chuva era mais abundante (ARRUDA E PILETTI, 2003). As civilizações Egípcias e os povos da Mesopotâmica se desenvolveram paralelamente, ambas eram de religião politeísta e acreditavam que seus deuses estavam relacionados a elementos da natureza. Os pioneiros no desenvolvimento da civilização na região da Mesopotâmica foram os sumérios (3.500 a 3000 a.C), sua origem precisa é desconhecida, mas parece que vieram do planalto da Ásia Central. Muitos pesquisadores da evolução da dança atribuem aos sumerianos à origem primitiva Dança do Ventre, em louvor ritualista à Grande Mãe, Deusa Ishtar. A deusa Inana, cujo nome semítico é Ishtar, apresenta uma imagem simbólica multifacetada, um modelo de totalidade do feminino que se projeta para além do aspecto meramente maternal. Outras deusas da Suméria eram grandes mães do mar e da terra. (...) Entretanto, apesar de todo o poder enquanto deusa da fertilidade, ordem, guerra, amor, bem como do céu, da cura, das emoções e da canção; apesar de ostentar o título de Senhora dos Mil Ofícios e Rainha, Inana é uma errante. (...) Ela está mais relacionada à terra do que o bem e ao mal. Sua descida e retorno oferecem, todavia, um modelo para nossas próprias jornadas (PERERA, p. 27, 31 e 35, 1985). psicológico-espirituais 83 A dança antiga que as sumérias, acádias, babilônias, egípcias e asiáticas aprenderam de suas ancestrais foi uma expressão ritual e sagrada da identificação da mulher e da Deusa. Pelo treinamento que essa dança proporcionava, as moças conseguiam superar o medo, criar filhos saudáveis e sobreviver às rudes condições da época. Essa comunhão com as divindades lhes trazia força e esperança para sua própria sobrevivência na terra. A dança de movimentos sinuosos e eróticos, que insinuavam a fecundação, num ambiente de alegria e prazer, ajuda essas mulheres a realizar seu treinamento físico e psicológico para o desempenho de suas funções sexuais e maternais (PENNA, 1993). De todas as civilizações que se desenvolveram no Crescente Fértil, o Egito se destaca como uma das mais importantes. Pois foram responsáveis por uma civilização extremamente original! Devido ao seu isolamento geográfico, que além de protegê-los de invasores, garantiu a eles traços culturais razoavelmente homogêneos e intercâmbio limitado com outros povos. A antiga sociedade egípcia se formou da mistura de vários povos: hamíticos, semitas e os núbios, e sua história está dividida em Antigo, Médio e Novo Império. O poder dos Faraós era imenso e divino. O Egito sofreu poucas invasões como a dos hicsos (vindos da Ásia) no Médio Império e sendo expulsos no Novo Império; no séc. VII a.C, os assírios invadiram o país e em 525 a.C., os Persas colocando o fim da independência egípcia. Depois veio o domínio de Alexandre, o Magno e a partir de 30 a.C, os romanos. Pierre Montet (1885 – 1966), egiptólogo francês em seu livro “La Vie Quotidienne em Égypte au temps dês Ramsés (Séculos XIII – XII a.C.), faz uma descrição detalhada sobre as danças e música nos palácios, templos e nas casas das famílias egípcias. Segundo MONTET (1946), o passatempo preferido das moças egípcias era a dança, até os jogos da infância e adolescência eram jogos de dança (ANEXO 1). Talvez por isso algumas performances na dança sejam meio acrobatas, como por exemplo: a Ponte (ANEXO 2). As canções invocavam a Deusa Hathor, padroeira dos prazeres, da beleza, da música e da dança. Nos quartos do harém havia sempre muitos instrumentos musicais: harpas, cítaras, alaúdes, pandeiros, etc. Os 84 instrumentos musicais foram evoluindo e se transformando durante os Impérios egípcio (ANEXO 3). Duas profissões fizeram parte da vida feminina no Antigo Egito: dançarina e musicista. Todas as meninas deveriam dançar mesmo aquelas que não desejavam tornarem-se bailarinas profissionais. As danças egípcias na Antiguidade dividiam-se em: Danças Sagradas – realizadas para rituais em templos em reverência aos deuses; Danças de Energização – realizadas antes dos rituais nos templos, com a finalidade de energizar e transmutar uma vibração mais densa; Danças Funerárias – dançadas nos rituais fúnebres, lamentando a morte de alguém, descrevendo a passagem na terra e pedindo aos deuses o seu perdão; Danças Profanas – usadas em festividades e cerimônias quando as bailarinas apresentavam-se quase nuas ou somente com tapa-sexo. O principal centro do culto de Osíris ficava em Abydos. Ali, todos os anos, antecedendo a época da cheia do rio Nilo, realizava-se um festival que dramatizava o mito diante de milhares de fiéis. Em procissão solene, os sacerdotes entravam no templo, acompanhados por músicos e dançarinas. (...) Fragmentos de textos e imagens atestam que o mistério de Osíris era uma festa especial desde 3000 a.C., coincidindo com a primeira dinastia que se seguiu a um lendário rei Narmer, ou Menes, unificador do baixo e do alto Egito (PORTINARI, p. 21, 1989). Todos os templos do antigo Egito possuíam um corpo de cantoras, cujo ofício consistia em cantar agitando o sistro (instrumento de percussão de som achocalhado) e os crótalos (castanholas de marfim ou madeira) durante as cerimônias, para expulsar do ambiente os maus espíritos. Um grande número de mulheres participava dos cultos, mas não habitavam nos templos, mas sim com suas famílias, pois suas funções nos cultos só eram exigidas em certos dias e horas. As mulheres que compunham a Khenerit 85 deviam residir nos templos. A palavra Khener significa prisão ou partes exclusivas de um templo ou palácio. As suas superioras eram a mulher divina do deus, a mão divina ou a divina adoradora. As mulheres que eram sacerdotisas e dançarinas preparavam-se para entrar em contato com a Deusa, através de sacrifícios, jejuns e, finalmente a dança sagrada. Mais tarde já no século XVI, o Egito foi incorporado ao Império Otomano, pelo Sultão Selim I e nesse período de dominação otomana viveu em relativa obscuridade, tornando-se uma província atrasada do Império Otomano; só Istambul brilhava! Todos esses conhecimentos vieram à tona para o Ocidente, a partir do século XIX, graças à disputa política e de poder entre a França e a Inglaterra; essa foi a herança de Napoleão Bonaparte e uma nova cultura científica e secularista do Ocidente invadiram o mundo mulçumano, que nunca mais seria o mesmo. A expedição de Napoleão de 4300 soldados, que invadiu o Egito em 1º de julho de 1798, levava consigo um grupo de estudiosos, uma biblioteca da moderna literatura européia, um laboratório científico e um prelo com caracteres arábicos. A invasão francesa no Egito inaugurou uma nova fase de relações entre Oriente e Ocidente, pois Napoleão se apresentou como portador do progresso e do conhecimento e como libertador. A partir da invasão napoleônica o Ocidente passou a controlar o Oriente Médio. Depois de derrotar os mamelucos na batalha das pirâmides, em 21 de julho de 1798, expediu uma proclamação, em árabe, prometendo libertar o Egito do jugo estrangeiro. Durante séculos os mamelucos da Circássia e da Georgia exploraram os egípcios, mas agora essa tirania chegara ao fim. Ciente de que os ulemás representavam o povo, Napoleão lhes assegurou que não era um cruzado moderno e pediu-lhes que tranqüilizassem quem pensava que ele estava ali para destruir a religião (ARMSTRONG, p. 161 E 162, 2009). 86 Foi com a invasão de Napoleão ao Egito que o Ocidente passou a conhecer a dança sagrada e ancestral. Nesta época no Egito existiam duas castas de dançarinas: as Awalim, plural de Almeh, que eram cortesãs de luxo, que viviam nos palácios (ANEXO 4). Eram cultas, poetizas instrumentistas, compositoras, cantoras e dançarinas, apresentavam--se com véus e portava-se com muita descrição; e a outra casta eram as exóticas Ghawazee, plural de Ghazeya, ciganas descendentes dos grupos dumi (ou nawar) e helebi (o mais comum no Egito) essas dançarinas populares dos povos Tziganes (ciganos), vestiam vestidos folclóricos, chador de medalhas e os cabelos enfeitados por moedas e o casaco Ghawazee (peça de origem Persa introduzido no Egito durante o Império Otomano), com o corte abaixo do busto. Dançavam nas ruas com instrumentos diversos. Essas danças impressionaram os franceses, que maravilhados e vendo o movimento sinuoso que faziam com o ventre denominaram essa dança, como “Danse du Ventre”. Foi no alvorecer do século XIX que a Dança do Ventre, ficou conhecida no mundo Ocidental, mas como uma arte ligada à sedução e a sexualidade e a erotização; devido aos artistas europeus que faziam em suas retratações seus próprios ajustamentos fantasiosos (ANEXOS 4, 5, 6). Foi nesse século que a dança do ventre figurou como um dos mais importantes atrativos para turistas no Egito, em conjunto com as pirâmides. Por concentrar grande parte de suas técnicas de dança nos quadris e pela sensualidade dos movimentos sinuosos a dança do ventre é considerada como um código corporal de forte apelo erótico, que incomoda as praticantes, pois seu conceito fica ligado à idéia de sedução e prostituição. O imaginário formado pelo processo colonizador europeu foi tão forte que permeia a cultura de massa ocidental, principalmente a brasileira. Assim, as odaliscas passam a ser arquétipos de mulheres fáceis, sedutoras e artistas do sexo, como as mulheres stripper. Mas todos esses conceitos têm uma razão de existir. No caso das Awalim, com a chegada do exército francês no Egito e como viviam com as elites dominantes que eram os Mamelucos (domínio Otomano) derrotados por Napoleão; essa casta de dançarinas fugiu com medo para o Sul do Egito 87 e só voltaram em 1801, quando os ingleses expulsaram os franceses do Egito. Durante ao longo do tempo a imagem das Awalim foi mudando: no séc. XVIII era artista de corte, que recitava e cantava; no início do século XIX eram apontadas como cantoras e dançarinas e em 1850, com o declínio da casta tornaram-se dançarinas e prostitutas. As alegres Ghawazee, dançarinas ciganas e populares nas ruas do Egito, descobriram no exército francês, clientes em potencial. Temendo que essas mulheres pudessem ameaçar a ordem e a disciplina dos soldados, foram punidas pelos Generais do exército francês com o apoio dos Ulemás (teólogos mulçumanos), que eram contra a expressão artística da dança das Ghawazee, por considerarem elas impuras e provocantes. E entre as muitas barbaridades cometidas contra essas dançarinas, quatrocentas delas foram decapitadas e jogadas no Rio Nilo e outras fuziladas (acusadas de terem transmitido sífilis para os soldados franceses) e outras mais trancadas na Grande Cidadela. Muitas dessas dançarinas fugiram para o Sul do Egito, concentrando-se em Luxor, Qenah e Essna. Em 1866, durante o governo de Ismail (1830 – 1895) descendente do grande paxá Muhammad Ali, que as Ghawazee puderam retornar ao Cairo e aos seus cargos profissionais sem problemas, mas pagando taxas ao governo pelas performances. Com o êxodo das Ghawazee para o Sul do Egito, foi encontrado por essas dançarinas o ritmo Said (no Sul o ritmo Maqsoum, compasso 4/4, que é o pai de todos os ritmos chama-se Said). A característica da estrutura da dança Ghawazee é o ritmo Said combinado com o Mizmar (espécie de oboé, instrumento de sopro), ou agregado a outros instrumentos, como por exemplo, a Rebeca (precursor do violino) ou Nay (flauta de bambu), tanto no Sul como no Norte. A música na dança Ghawazee tem o ritmo Said ou Maqsoum com o solista principal Mizmar baladi. No sul usa-se o Nay para a dança Ghawazee. Com a expulsão dos franceses pelos ingleses em 1801, a mudança no Egito foi caótica. Os ingleses devolveram o país ao jugo do Império Otomano: 88 Os mamelucos não aceitaram o novo governador turco e durante dois anos lutaram com os janízaros e os albaneses enviados pelos otomanos, aterrorizando a população. Na confusão o jovem oficial albanês Muhammad Ali (1796 – 1849) assumiu o poder. Cansados de tanta desordem e decepcionados com a incompetência dos mamelucos, os ulemás o apoiaram (ARMSTRONG, p. 163, 2009). O governante Muhammad Ali (1801 – 1849) foi uma figura extraordinária, realizando uma façanha, quando morreu tinha sozinho modernizado o Egito. Depois de sua morte seus sucessores foram seus filhos e netos. O maior legado de Muhammad foi o cultivo de algodão, que se converteu em valioso produto de exportação. Em 1834, através de um decreto lei Muhammad Ali, a pedido dos Ulemás, proibiu as danças nas vias públicas do Cairo e as dançarinas foram exiladas para o Sul do Egito. Ao final do século XIX, as potências européias muito poderosas estavam invadindo o mundo islâmico e começando a desmantelar seus Impérios. Os egípcios, por exemplo, eram obrigados a viver num mundo duplo: um moderno e ocidental e o outro tradicional. Esse dualismo provocaria uma grande crise de identidade que por volta das décadas de 20 e 50 do século XX vai implodir e, como em outras experiências de modernização, algumas surpreendentes soluções religiosas (HOURANI, 2006). Foi também, no final do século XIX, que dois eventos importantes em dois continentes estratégicos do mundo ocidental, revelaram para o mundo ocidental a polêmica dança do ventre. Em 1889, para comemorar o centenário da Revolução Francesa (1798), a cidade de Paris, na França foi palco de uma badalada Exposição Universal. A torre Eiffel foi construída para esse evento, servia de entrada para a exposição e tornou-se o seu símbolo principal (ainda hoje é um dos monumentos mais visitados no mundo). Cerca de 28.000 pessoas de vários lugares do mundo, visitaram essa exposição, que cobria uma área total de 0.96 Km2 e durou cerca de sete meses. Nesta área foram construídos: 89 palácios, casas chinesas, templos maias, pavilhões indianos, mesquitas e inúmeros pavilhões de colônias e países do mundo que deleitavam os olhares dos visitantes. Nesses pavilhões orientais se apresentaram as dançarinas Algerianas. A dança do ventre foi difundida pelas dançarinas Ouled Nail (denominação da região de origem dessas dançarinas algerianas) e apreciada por milhares de ocidentais. A cultura dessas dançarinas é muito diferente das egípcias e a maneira de enxergar os conceitos de dança também, devido às diferenças religiosas, econômicas, políticas e ambientais. A Argélia é um país de origem berbere, situada ao norte da África e que sofreu muito o domínio árabe até a chegada dos franceses, que dominaram a Argélia em 1830. Essas dançarinas não tinham origem cigana e desde criança eram treinadas para a arte da dança. O objetivo da dança era ganhar dinheiro para o dote de seu casamento. Abandonavam suas aldeias e iam para as cidades para dançar e às vezes até se prostituir, pois a qualidade do casamento seria assegurada pela riqueza do dote financeiro. Depois de casadas tornavam-se mães e esposas dedicadas. Durante suas performances nas ruas da cidade, usavam uma maquiagem carregada a fim de impressionar e hipnotizar a platéia, com olhos escurecidos por Kohl (tipo de delineador preto usado como proteção por moradores do deserto) e o rosto tatuado. Usavam muitas jóias de adorno, xales com moedas e seus trajes eram uma saia volumosa. Na cabeça toucas adornada por penas, moedas e outros acessórios. Os cabelos oleados e trançados sobre as orelhas. A dança era bem provocante, estilo terra, com muitos shimmies (tremidos de pernas, quadris, ventre ou tronco); ondulações e torção dos quadris sempre pesados e que estavam sempre junto com os movimentos ondulatórios do ventre. Movimentavam também bastante o tronco e a cabeça. As danças orientais apresentadas nas Exposições Internacionais arrecadaram imensas quantias em dinheiro por causa do choque causado às mulheres da Era Vitoriana. O sensacionalismo despertado a partir dos movimentos improvisados e selvagens dos quadris das dançarinas nas feiras atraía milhares de curiosos, que muitas vezes vinham a essas Exposições só para assistir essas apresentações. 90 Um desses curiosos foi o jovem empresário de música Sol Bloom (1870-1949), que deslumbrado com a atuação das dançarinas e acrobatas da “Aldeia Argelina”, formou grupos de danças através do patrocínio de vários grupos do Oriente Médio e Norte da África. Em 1893, a América do Norte conhece a dança do ventre, através das dançarinas exóticas da Argélia. A Exposição Mundial de Chicago, em 1893, foi realizada no Jackson Park, numa área de 277 hectares e durou cerca de seis meses, recebendo um público de 27 milhões de visitantes. Para comemorar os “400 anos do Descobrimento da América”, foi construída a grande roda gigante “Ferris Wheel” e a “White City”. Ficou registrado para a história que a grande atração foi a dançarina “Little Egypt” (pequeno Egito). Esse nome passou a significar bailarina de dança exótica e foi adotado por outras artistas. Com a invenção do cinema pelos irmãos Lumiére, a dança do ventre ganha espaço para divulgação da sua arte. Várias causas explicam o porquê do Egito, mais do que qualquer outro país árabe, africano ou mulçumano o cinema tenha se desenvolvido durante a primeira metade do século XX. Durante a ocupação européia, várias mudanças influenciaram na vida econômica, e nos costumes sociais dos povos apossados da África. A idéia modernista inglesa, embora de difícil compreensão para os mulçumanos, acabou por influenciar o urbanismo e o estilo de vida dos egípcios. Os teatros proporcionavam novos modos de ver a sociedade. A aristocracia do Cairo podia assistir a apresentações de companhias excursionistas do teatro clássico francês ou ópera italiana. Mesmo com o domínio da cultura imperialista, a idéia do nacionalismo sempre existiu; mas só se tornou importante nas últimas décadas antes da primeira Guerra Mundial. Esse foi um dos principais motivos para o desenvolvimento do cinema do Egito: ao desenvolvimento da arte dramática (o público do cinema era o mesmo dos teatros) e a subida do nacionalismo de onde se desenrolou a grande revolução popular de 1919 e a conquista egípcia da independência política em 1922 e por fim a Constituição de 1923 (a primeira das Constituições modernas dos árabes e mulçumanos) (HOURANI, 2006). 91 Depois da Primeira Guerra Mundial, o Egito passa a ser a Capital do lazer para os estrangeiros no mundo árabe e sofre influências do cinema hollywoodiano. O estilo cabaré teve início em 1920, nas noites do Líbano e do Egito. Aos poucos, as boates foram alastrando-se, para atender a procura do público colonial. O Cassino Ópera foi à primeira casa noturna egípcia, construída no Cairo em 1925 ou 1926, pela dançarina e atriz libanesa Badia Massabini (1900 – 1975). O salão de Badia tornou-se muito badalado internacionalmente, neste espaço havia todo tipo de dança, canto, monólogos, pequenas comédias e muitas dançarinas. Havia também apresentações tradicionais e até estilos estrangeiros de música e dança. Badia Massabini deu ao show de dança egípcia uma estrutura, um formato, dando uma base aos shows e a cada show as bailarinas eram diferentes e trajavam figurinos muito refinados e sofisticados. Foi sem dúvida pilar importante na divulgação da arte da dança oriental e na organização da mesma. Lá passaram grandes nomes que dominaram o cinema egípcio nas décadas de 40, 50 e 60. Alguns exemplos são: Samia Gamal (conhecida como a dançarina dos pés descalços) e Tahya Karioca (por suas habilidades no samba, tipo Carmen Miranda) eram algumas das artistas que foram divulgadas entre a população árabe pelo cinema. Outra artista, Naima Akef, de origem circense, foi levada por um coreógrafo russo, para ter seus movimentos estudados, quando voltou para o Egito, trouxe influências do balé clássico que havia aprendido para a dança oriental (ATON, 2000). A dança egípcia pura é o Baladi (compasso 4/4). No salão de Badia muitos dançarinos, cantores e grupos folclóricos se apresentavam: A palavra Baladi, significa minha terra, meu país. (...) o Baladi e o Macksoum são os progenitores de uma árvore genealógica rítmica imensa. Quando este ritmo é introduzido, conduz a platéia igualmente, a um êxtase sem igual, através de suas batidas cadenciadas (ATON, p. 165, 2000). O espetáculo de Badia passou a corresponder a todas as demandas econômicas, até tornar-se mais estético, acompanhando igualmente às 92 modificações sofridas na música. Os artistas começam a ganhar espaço na sociedade, por serem sinônimos de lucro. A arte perde aos poucos o sentido pejorativo, porque passa a ter uma função de gerar empregos. O espetáculo passa a ser uma necessidade urbana, vira produto. Na década de 50, depois de mudanças políticas radicais e com a resistência cultural a dança do ventre, foi recomendada as dançarinas que cobrissem a barriga ou ao menos o umbigo. Em 1952, num evento conhecido como Sábado Negro, os membros e simpatizantes do Wafd, partido nacionalista popular do Egito, junto aos membros da irmandade mulçumana, atearam fogo a centros culturais britânicos e franceses. Um dos espaços atingidos foi à antiga sala de Badia (NIEUWKERK, 1995). Depois do ano da Revolução Nacionalista Egípcia, com os novos conceitos desse novo governo, Badia temendo por sua segurança e sua vida voltou para o Líbano, deixando seu espaço para uma de suas artistas, Beba Azzeiddin. Em 1952, o Rei Farouk, governante do Egito é deposto pelo Movimento Nacionalista, liderado por Gamal Abdel Nasser, que tomou o poder sem violência e é exilado pelo general Mohammed Neguib, que governa o Egito de 1952 a 54; até Nasser tomar o poder em 54 e ser eleito Presidente do Egito em 1956. Inaugura-se a partir desse governo um novo conceito nas artes da dança e música egípcia. Os anos 50, do século XX, serão de extrema importância na influência de preferência e escolhas de artistas músicos e dançarinas que serão reverenciadas pelo mundo árabe, devido ao resgate e o forte censo da Cultura Nacionalista Egípcia: “O Egito para os Egípcios”. Um dos mais importantes componentes da identidade nacional egípcia cristaliza-se em um conceito de difícil apreensão: o Baladi. Essa palavra assume diferentes sentidos, a depender da narrativa. É comumentemente traduzida como “meu país”, mas pode indicar também uma comunidade imaginada qualquer – vila, cidade, terra – e também uma qualidade: algo comportamento, artesania, costume, estilo musical ou coreográfico. Baladi invoca pertencimento, tradição, autenticidade, “raiz”. É um conceito de pertença territorial e ideológica. A bint El balad (filha da terra) e seu correspondente masculino, ibn El balad (plural: awalad El balad), 93 condesam valores e práticas construídas como representações fidedignas de identidade nacional. Tradições e valores locais remetem a uma unidade nacional e à delimitação de uma comunidade a partir do entendimento mútuo dos signos sociais e culturais. Segundo ANDERSON (2005), imagina-se que a partir de uma exclusão de outros signos alheios aos contornos ideológicos de uma nação integrada e autônoma. A partir da revolução no Egito, em 1952, é excluído todo signo que lembre a nação o seu estado de colonizado; inclusive as dançarinas Belly Dance como as do cabaré de Badia Massabini, não poderiam representar o Egito, devido aos seus figurinos ocidentalizados e performances clássicas. As mulheres artistas que vão representar o Egito e incorporariam o novo Egito Nacionalista seriam: a bailarina folclórica Farida Fahmy (1940, co-fundadora da Trupe Reda) e a famosa e cultuada cantora Umm Kalthoum (1904 – 1975). O conceito em música árabe é mover alguém emocionalmente por meio da música. A cantora, compositora e atriz, de nome artístico, Om Kalsoum ou Umm Kalthoum, encarnou toda essa qualidade. De origem pobre, foi reconhecida como uma das mais famosas e ilustres artistas da história árabe do séc. XX. Sua fama foi impulsionada por vários fatores, na década de 30 gravou discos e estreou no mundo do cinema egípcio. Depois suas aparições musicais e a transmissão ao vivo de seus shows, contribuíram muito para sua fama. A artista se engajou no movimento árabe nacionalista e incorporou os predicados de um Egito autônomo, poderoso e orgulhoso de suas tradições. Representava ela mesma, o Egito rural, urbano e protagonista da união pan-árabe. Na era do rádio na década de 40 e 50 do século XX, a cantora Umm Kalthoum alcançou uma projeção rara, quando ela cantava todo o mundo árabe ouvia. Desde 1940, a formação da orquestra árabe é a mesma, devido à referência da famosa cantora. Sua música é dançada por todas as bailarinas do ventre e é considerada uma parte importante da Rotina Clássica. O estilo clássico é conhecido popularmente como Tarab (em árabe, estado de êxtase e entrega). São músicas muito longas com até 12 minutos de duração e muito difíceis de dançar, pois apresentam muitas variações, exigindo da bailarina muita 94 habilidade e conhecimento. O que dá a leitura da música para a bailarina é a melodia. O ritmo serve apenas para nortear a dança. O charme das mulheres baladi é natural; a feminilidade é plenamente aceita e a bailarina simplesmente é a protagonista da dança. Tradicionalmente, o baladi é dançado com um vestido longo, chamado Thobe ou Galabi. O baladi se desenvolveu nas cidades egípcias do Cairo e de Alexandria. Embora no princípio fosse uma música da classe trabalhadora, sua popularidade cresceu e depois se tornou popular até mesmo na classe alta. Através do Baladi, foi desenvolvido o Racks el Sharqi, um estilo formal, sofisticado, mais adequado ao palco; nele podemos ver uma forma híbrida, com movimentos que nos remetem à dança da Turquia, Pérsia, Índia e até o balé do Ocidente. A música é composta por sucessivos Taqsins (solos de improviso). A bailarina se deixa levar pela música, sem se preocupar com coreografia ou regras determinadas; move o corpo com uma canção que fala direto ao coração, celebrando o divertimento ou vivendo sua tristeza. Esse estilo de música nasceu da fusão da música folclórica egípcia e a música ocidental, mas antes de tudo é distintamente egípcio em seu caráter, mas mistura instrumentos árabes tradicionais: daff, mazhar (instrumentos de percussão), nay (instrumento de sopro, flauta) e tabla (principal instrumento de percussão, tipo tambor); com instrumentos ocidentais como: acordeom (instrumento principal e mais comum na música baladi, de origem francesa), clarinete e trompete. O Baladi é apresentado principalmente com acordeom e tabla, esses dois instrumentos fazem uma brincadeira de perguntas e respostas, evoluem para o ritmo Baladi ou Macksoum (compasso 4/4) e depois crescem para sua finalização com o ritmo dos camponeses egípcios, o Fallahi (compasso 2/4). Dessa mistura e das novas possibilidades, tanto para a dança como para a música, nasceu o Taqsim Baladi. Taqsim significa improvisação, é importante que a bailarina conheça os ritmos árabes e é muito importante estar atenta as pausas, assim como os momentos sonoros. O corpo e o instrumento devem existir como um único princípio e agirem de forma uníssona. 95 Jamais se deve dançar percussão com o véu, ou como primeira performance. Os movimentos necessitam de clareza, sem poluir a dança, não exagerando nos shimmies ou ignorando as pausas. É importante a busca de simetria. Toda a mobilidade deve transcorrer como um diálogo – perguntas e respostas devem ser visivelmente de intenções diferentes. Dançar com o corpo inteiro é uma atividade que solicita o conhecimento minucioso da muita música egípcia de qualidade e a técnica perfeita (ATON, p. 179, 2000). As raízes folclóricas do Baladi são claras e aparentes hoje por meio das canções Said (Alto Egito) e Fallahi (camponeses), que muitas vezes fazem parte de uma apresentação Baladi. Passos folclóricos típicos, vindos da dança masculina, com os cavalos e também do Tahtib (dança combativa masculina com bastões) são incluídos no repertório e estilizados pelas bailarinas. Em 1959, os irmãos Reda e Fahmy, criaram o Grupo Reda. Grupo de dança este pioneiro que pôs em marcha a criação dos grupos Folkdance nas províncias, universidades e escolas de todo o Egito. Mahmoud Reda considerado o “pai” do folclore árabe, uma lenda do meio artístico. Reda, bailarino, coreógrafo e pesquisador; viajou por todas as regiões do Egito e do Oriente Médio, estudando e observando as danças regionais e aprendendo seus costumes. Pode-se considerar que foi ele quem introduziu as técnicas de balé clássico nas danças árabes, em especial no folclore. A herança deixada por Reda, para o teatro-dança, constitui uma fonte muito rica para professores e coreógrafos. O Egito é composto de muitas regiões e povos diferentes, existem: os camponeses do Delta; os povos que moram no Alto Egito, que são os Saydi (essa palavra que dizer Alto). Essa região do alto Egito inclui muitos lugares em volta do Rio Nilo; há os desertos do leste e do oeste; a região do Mar Vermelho; os pescadores do Mediterrâneo, os 96 beduínos do deserto Leste, que tem influência no Golfo (FAHMY, REVISTA SHIMMIE, Nº 8, p. 31). As dança folclóricas são muitas, são inúmeras as danças, ritmos e seus estilos. Folclore rico e variado e o seu resgate se deve principalmente a Identidade Nacionalista do Egito; mas as danças mais conhecidas são: Racks AL Assaya, Tarhteeb (região Saiid – Sul do Egito); Zaar (dança do exorcismo, com largo número de egípcios desaparecidos por causa do islamismo; atualmente encontra-se na Somália e na Etiópia); Guedra (dos povos Tuaregues do deserto, “abandonados por Deus”); Tannoura (dança dos mulçumanos e sufistas do Egito); Khalije (dança da Arábia Saudita e do Golfo Pérsico); Dança dos Pescadores (Área costeira, Norte do Egito - Port Said e Alexandria); Dábcke (Oriente Médio, principalmente Líbano); Racks AL Brink (dança do jarro, povo da região do Rio Nilo); Racks AL Saif (dança da espada, Oriente Médio, Líbano e Egito); Racks AL Shamadan (dança do castiçal ou candelabro, toda a região do Egito e países do Oriente Médio); Melaya Laff (Cairo, Port Said e Alexandria); Hagallah (beduínos da região de Mersa Matruh, deserto do Egito, próximo à Líbia); Dança com Pandeiro (Sul do Egito) e Dança Ghawazee (povos nômades do deserto). Numa perspectiva histórica, desde a revolução egípcia de 1952. O novo governo revolucionário adotou uma firme postura nacionalista, agenda antiimperialista que veio a ser expressa principalmente através do nacionalismo árabe e não alinhamento internacional. Os sucessos iniciais da revolução incentivaram outros movimentos nacionalistas em outros países árabes e africanos, como Argélia e o Quênia, que estavam engajados em lutas anti-coloniais contra impérios europeus. Na década de 60 do século XX, o socialismo árabe tornou-se um tema dominante, transformando o Egito em uma economia planificada e centralizada. As pessoas da classe trabalhadora (Shaabi) com suas raízes rurais foram capazes de desfrutar de um pouco de alívio econômico. Nesta década, em 1963, foi lançada a fita cassete, invenção da empresa holandesa Phillips. Os primeiros gravadores em áudio cassete da Phillips, já 97 eram portáteis. O movimento Shaabi, surge nesta década com canções que tratavam os problemas de identidade egípcia (em relação à dominação da cultura européia) de uma forma bem humorada. Nesta época destacam-se alguns cantores como Ainda AL Shah e Layla Nasmy. O dinheiro corria o suficiente para deixar as fitas cassetes disponível comercialmente, feitos caseiros e piratas; graças ao turismo egípcio e ao recém criado petróleo do Golfo árabe, que empregava trabalhadores egípcios. Os Shaabis foram capazes de sustentar uma voz que não era mais governada pelo monopólio egípcio a RCA, chamada “VOZ DO POVO”. Na década de 70, com a invenção do walkman da Sony, houve a explosão do som individual. Atualmente o estilo Shaabi utiliza-se das modernas ferramentas de celulares e internet. Na década de 70, com a morte de Nasser, Presidente do Egito, que deu o “Egito de volta para os egípcios”; os governos que se seguiram abriram as portas outra vez para o domínio Ocidental. A música Shaabi, estilo moderno musical com raízes rurais, combina vários instrumentos até equipamentos eletrônicos e sons digitais do computador. A voz do cantor tem de ser emocional rouca e quase rude. A música pode introduzir vários ritmos, mas uma das características do Shaabi é o Mawal (uma improvisação do cantor na introdução da música). Na dança, o mais importante é que a artista conheça a letra da música que vai interpretar. Pois as canções usam de irreverências, conotações sexuais, humor e conversa de rua para mascarar os verdadeiros significados, que muitas vezes são censurados pela mídia e governo. A dança em si é espontânea e natural: com muitos shimmies, ondulações e redondos. Bailarinas como Fifi Abdou, Dina, Randa Kamel encarnam o puro estilo Shaabi, interpretando essas canções com gestos culturais. Outro movimento que surgiu na mesma época do Shaabi, foi o movimento Al Jeel, que em árabe significa “geração” ou “nova geração”. Esse estilo surgiu também em países como, por exemplo: Líbano, Iêmen, Marrocos (com o nome de Raí) e Iraque. A própria música já tem batida eletrônica, mas muitas vezes pode ser acompanhado por snujs (címbalos de metal, em formato de pequenos pratos, de origem dos crotálos). Esse 98 movimento tem basicamente os mesmos elementos frente ao resgate popular da música nacional egípcia, com a diferença sutil de que a, maioria dos cantores possuía uma ligação mais profunda com as correntes musicais ocidentais. O ritmo pode variar para um tango, salsa, mambo, etc. Várias foram às dançarinas orientais que fizeram história e se destacaram nessa arte, no Egito. Como, por exemplo, Shafiqa La Copta (1851 – 1926), que foi uma das mais ricas e famosas bailarinas do Egito. As artistas que participaram principalmente da Companhia de Dança de Badia Massabini, que já foi uma das artistas de maior destaque. Beba Ezz Eldin (1910 – 1950); Naima Akef (1929 – 1966); Taheya Karioca (1921 – 1999); Samia Gamal (1924 – 1994) e Nadia Gamal (1937 – 1990). Nagwa Fouad, nascida em 1942, participou de diversos filmes cinematográficos e dentro de seus espetáculos foi à pioneira em incorporar elementos originais e sofisticados, dando a dança oriental um teor muito adaptável ao mundo ocidental. Ainda viva nos dias de hoje é extremamente respeitada e venerada no mundo egípcio. Outra artista de sucesso, polêmica e que dança até hoje, que além de ser bailarina e atriz, tornou-se uma mulher de negócios e é considerada uma das pessoas mais ricas do Egito e a que paga mais altos impostos, é a artista Fifi Abdou, nascida em 1953. Hoje com 60 anos, essa artista é chamada de a quarta pirâmide do Egito, tamanha é a sua fama. Sua personalidade marcante e surpreendente faz dela uma celebridade. O controle que tem sobre o seu corpo é fascinante, além de uma presença de palco que cativa o expectador com seu sorriso. O seu forte é a interpretação das músicas, com um estilo solto e improvisado. Sohair Zaki foi a primeira bailarina a dançar as músicas da famosa cantora Umm Kalthoum e também a primeira a dançar na televisão egípcia em 1959, tornando-se celebridade através da TV Nacional. Essa artista é uma das mais amadas de todo o Oriente. Nos anos 60 do século XX, recebeu premiações e medalhas do Governo Nasser. Sofreu fortes influências das bailarinas Taheya Karioca e Samia Gamal. O acordeom era sua marca registrada nas apresentações. O baladi era o auge do seu show. Foi ícone da dança egípcia nos anos 80. Uma das mais famosas dançarinas 99 das décadas de 60 e 70, sua imagem tornou-se marca registrada das capas de cassetes. Quando se casou parou de dançar. Mona Said, dançando desde os 13 anos, em 1970 mudou-se para o Líbano, voltando em 1975 para o Cairo. Fez muitas apresentações em Londres e no Cairo. Seu repertório de dança incluía musicas clássicas e o uso de flautas. Também seguia o estilo de Thaheya Karioca. Seus movimentos são delicados e pequenos, sem exageros. Em 2006, esteve no Brasil, na IV Conferência Internacional Luxor. Dina é a artista de maior polêmica na atualidade por causa das roupas de dança que usa, por serem trajes exuberantes, apertados e sensuais. Participou do Grupo Reda e com eles aprendeu a fusão entre a dança moderna, balé clássico e cultura egípcia. Seus shows são bem preparados e ela trabalha com orquestras com mais de 20 músicos no palco. Todos os seus movimentos são executados junto com o toque da orquestra e são precisos e de impacto. Sua dança costuma ter muitos giros, principalmente no encerramento de uma apresentação. Randa Kamel também participou da Trupe Reda, durante sete anos. Seus movimentos são limpos, batidas pequenas, porém fortes e shimmies potentes. Consegue aliar técnica à interpretação. Gosta de interpretar músicas antigas e de usar roupas com decotes grandes e fendas largas. Tem como característica principal, a tradução de sentimentos em movimentos, no melhor estilo egípcio. 3.3 A Dança do Ventre no Brasil e as Bailarinas Brasileiras O sucesso da França na fundação do protetorado e o contínuo enfraquecimento do Império Otomano aumentaram a influência européia em toda essa região do Oriente. Muitos missionários europeus foram para essa região pregar o cristianismo, fundando escolas cristãs, por todo o Líbano, Síria e Palestina. Como resultado dessa política, melhorou os meios de transportes na segunda metade do século XIX, facilitando o intercâmbio e as missões educativas e comerciais entre os países ocidentais e as “terras de Damasco”. Os intelectuais e comerciantes desta região tiveram oportunidade 100 de conhecer as “terras prósperas” da Américas, que acenavam oportunidades de emprego e lucro rápido. Essas expectativas foram reforçadas com a participação desses árabes na Feira de Comércio em Filadélfia no ano de 1876. Ao retornarem para sua região no Oriente disseminaram as notícias da América tentadora e de suas oportunidades. Essas idéias foram lançadas através de livros dos intelectuais e pensadores cristãos que procuravam sensibilizar a população contra a ocupação turca. Estes apelos nacionalistas durante partes dos séculos XIX e XX resultaram em perseguições, prisões e até em execuções desses intelectuais; muitos deles fugiram para o Egito. Foi neste cenário, por volta dos anos de 1877 e 1887, que essa região do Oriente Médio, recebeu a visita do então imperador do Brasil D. Pedro II, que visitou: o Egito, Damasco, Beirute e Jerusalém. D.Pedro II notando a situação de sofrimento desse povo fez o convite para imigrarem para o Brasil. O Imperador brasileiro quando esteve em Damasco compôs um poema sobre esta cidade, afirmando o desejo de que fosse aceito seu convite para a população imigrar para o Brasil, para trabalhar em novas oportunidades de vida e contribuir para o desenvolvimento de nosso país. Todos esses eventos levaram um grande número de habitantes da região da Grande Síria a migrarem para as Américas e especialmente para o Brasil. Com a vinda dos imigrantes árabes para o Brasil, vieram também junto da sua alegria as suas danças. Nas festas sociais da colônia árabe, onde a família é o pilar da sociedade e os árabes são muito festivos, não poderia faltar um conjunto de músicos e uma ou mais dançarinas. Paulatinamente, no decorrer dos tempos, as brasileiras foram tendo contato com a “Dança do Leste” ou como é conhecida a “Dança do Ventre”. Aqui no Brasil, a dança do ventre, antes de chegar nesse formato atual, foi difundida pelas próprias bailarinas brasileiras, que apreciavam e interagiam com as colônias árabes. Muitas dessas bailarinas eram formadas em balé clássico. Shehrazad Shahid Sharkey foi à precursora da Dança do Ventre no Brasil. Essa artista nasceu na Palestina e é descendente de armênios. Começou a dançar desde quatro anos de idade e aos nove anos dançou 101 para o Rei da Jordânia, em seu aniversário, causando grande admiração e repercussão. No ano de 1957, veio para o Brasil, e durante 18 anos trabalhou como cabeleireira. Como qualquer outra bailarina, Shehrazad, também estudou balé clássico. Em 1979 iniciou seu trabalho na formação de dançarinas profissionais. Sempre foi contra o costume de se ofertar dinheiro as dançarinas; para ela é um grande desrespeito. Até o início dos anos 2000, ministra aulas em Osasco – SP (ATON, 2000). No início dos anos 70 do século XX, na cidade de São Paulo, alguns restaurantes árabes como Semíramis, Bier Maza e Porta Aberta faziam apresentações de dança do ventre como atração para seu público freqüentador, em sua maioria, pessoas da colônia árabe. Foi o começo para muitas bailarinas que hoje são conhecidas, umas ainda ativas e outras que se tornaram lendas vivas, como Shahrazad, Samira Mattar, Soria Zaied, Camelia e Warda. Muitas das bailarinas que fizeram parte do início da dança no Brasil, já se foram, mas deixaram suas marcas, que hoje ainda são estudadas por outras profissionais. A partir de 1980, a dança do ventre começou a exercer maior fascínio entre as mulheres brasileiras, assim como no resto do mundo. A necessidade de aprendizado e a grande procura de leigos em dança do ventre levaram ao aparecimento de novas perspectivas. Em 1983, a conceituada Casa de Chá Khan El Khalili, na zona norte de São Paulo, fazia as Noites Egípcias, com apresentação de bailarinas. Na primeira noite dançaram Samira, Rita, Selma, Rosana e Mileidy. Devido a Khan El Khalili, que esteve sob a direção de Jorge e Lulu Sabongi, durante 21 anos, e hoje se dividiu em duas organizações distintas, a dança do ventre se tornou muita respeitada. A linha de trabalho da casa de chá, assim como o estilo pelo qual a casa ficou conhecida, tem a marca dos estudos de Lulu Sabongi. Diversas gerações de bailarinas já se apresentaram nas Noites Egípcias, entre elas, a própria Lulu Sabongi (1985), Fátima Fontes, Najawa e Kareema (1987) e Shams (1987). A novela o Clone, lançada pela Rede Globo, no ano de 2001, foi um verdadeiro “Boom” na dança do ventre no Brasil. A novela com audiência nacional, ajudou a difundir a cultura árabe em nosso país e suas danças. 102 Artistas brasileiros como Tony Mouzayek e Cláudia Cenci, convidados pela Rede Globo, como músico e coreógrafo, participaram com outras profissionais desta novela. No Rio de Janeiro, abriram-se várias escolas e as academias; inseriram a dança do ventre no seu currículo. A dança do ventre virou febre nacional. Samira Samia começou a dançar em 1978, no restaurante árabe Semíramis. Também dançou no restaurante Zorba – o grego, na casa de chá Khan El Khalili, no restaurante El Chalita e no Bier Maza. Foi idealizadora dos festivais de dança do ventre no Brasil, sendo o primeiro no ano de 1990 e do primeiro jornal sobre o assunto de dança, lançado em 1995. Na década de 70, em toda a cidade de São Paulo, havia cerca de 10 bailarinas. As primeiras desta época eram Sandra, Magda, Rita, Vera, Emmanuela, Shahrazad e Aziza. As informações sobre dança do ventre eram quase inexistentes. Nesta época os shows eram realizados com música ao vivo, pois estava direcionada a comunidade árabe e as roupas eram confeccionadas pelas próprias bailarinas, não havia estilistas especializados. Aziza esta profissional, Chacrete, do programa do saudoso Chacrinha, com formação em balé clássico, pela Escola Municipal de São Paulo e com formação em balé moderno, sapateado, jazz e danças folclóricas; começou a dançar Dança do Ventre em 1975. Trabalhou nos restaurantes citados acima, na década de 70 e 80. A partir de 1994, iniciou várias viagens a Europa, Egito, Turquia, Grécia e outros países, para aperfeiçoar sua técnica e realizar apresentações. A partir de 1980, começou a trabalhar com técnicas de Psicodrama nos trabalhos corporais, reunindo a psicologia com a dança. Lulu Sabongi aos 17 anos Lulu, na época Luciana, assistiu um show da bailarina Shahrazad e se apaixonou pela dança do ventre. Acabou virando empresária e entrou de cabeça no mundo árabe. Dava aulas na casa de chá Khan El Khalili, um dos lugares mais influentes da cultura árabe em São Paulo (SP), e que na época era de sua propriedade e do seu marido Jorge Sabongi. Viajou para os Estados Unidos e para o Oriente, inclusive o 103 Egito. Deu aula na Escandinávia e outros países. Com mais de 30 anos de carreira, atualmente dirige a Shangrila House, especialista em estudos de dança oriental. Lulu Sabongi é respeitada em todas as esferas do mundo da dança do ventre, difundindo seu talento pelo Brasil e pelo mundo. O panorama atual da Dança do Ventre é o seguinte: a partir do final dos anos 90, houve uma saturação no mercado de dançarinas, principalmente depois da novela o Clone, esse número não acompanhou o de músicos. Isso acabou por proporcionar espetáculos, onde quase não existe música ao vivo, aqui no Brasil utiliza-se muito o som de músicas mecânicas. Em sua maioria as escolas de dança do ventre não estão bem estruturadas com o ensino, tempo e técnicas de estudo. As estudantes não se interessam pela pesquisa e o estudo da cultura da dança, o que leva uma pobreza técnica e uma ignorância em termos da música e dos ritmos. Como a técnica dessa dança só passou a ser ensinada há pouco tempo, não existe uma cartilha para que todas as professoras ensinem igualmente todos os movimentos. Existem na verdade várias maneiras de se ensinar o mesmo movimento e sem regras fixas. Cada escola e cada professora têm seu estilo; além da técnica vem o estilo. Caso as estudantes não estudem ninguém, além de sua professora, ou se estudam as mesmas bailarinas, a dança fica igual. Por isso a importância dos workshops e vídeos, onde se estuda estilos diferentes, pois o que é ensinado no Brasil é diferente do que é ensinado no Egito, na Europa, nos EUA e nos demais países. Através destas ferramentas que chegamos à mesma conclusão: vários movimentos podem ser mostrados de maneiras diferentes. Muitos movimentos usados no passado são esquecidos e substituídos por outros mais elaborados por causa da evolução da dança. O problema é que ninguém trabalhou para a catalogação desses movimentos. A partir dos anos 70, a cultura afro passou a influenciar a música árabe e a dança do ventre. Mais recentemente receberam influências também da Salsa, do Reggae, do Funk, do New Age, da Dance Music, do Jazz e até do Axé Baiano. Todas estas danças populares passaram a doar elementos à Dança Oriental. A valorização estética interfere com a vida profissional das dançarinas; mulheres com mais de 35 ou 40 anos, com físicos mais volumosos, nem 104 sempre são solicitadas para shows. A preferência é por garotas com bastante beleza física, que nem sempre sabem dançar. Normalmente a mídia divulga o que é vendável e não o que tem qualidade. No nosso país os artistas não são reconhecidos como profissionais, a arte é vista como diversão e prazer. É difícil compreender a dedicação, estudo e esforços na vida do artista. Portanto conectar dinheiro do trabalho com a arte é um privilégio de poucos profissionais. Segundo ATON (2000), a dança do ventre na mídia tornou-se quase caricata, sem novidades e cópias padrões sem sentido. 3.4 Os Benefícios da Arte Milenar da Dança do Ventre ao Corpo e a Mente Feminina “Mostrem-me como dança um povo, e eu lhes direi se sua civilização está doente ou tem boa saúde”. CONFÚCIO, filósofo chinês (551 a.C – 479 a.C) MOHAMED (1998), bailarino e coreógrafo egípcio, radicado na Espanha, descreve em seu livro que nos tempos atuais a ciência médica utiliza a dança e a música como tratamento terapêutico. A razão se atribui de que a dança requer numerosos e diversos movimentos que exigem coordenação para se realizar um esforço físico. Menciona que muitas enfermidades são psíquicas e não de causas orgânicas e a dança é capaz de curá-las. Mas muitas mulheres não gostam da dança e da música, geralmente porque sofrem algum tipo de transtorno depressivo, percebendo o mundo sob esse ponto de vista. Muitas doenças psicológicas realmente não podem ser tratadas através da música e da dança pela incapacidade do paciente perceber seus conteúdos. A dança é uma terapia eficaz para curar a depressão, as preocupações, o nervosismo e as neuroses, além de ser uma atividade que contribui para desvendar a energia oculta do ser humano. Portanto a dança protege o corpo, evitando dores lombares e a debilidade dos ossos e as possíveis inflamações das articulações. Outro aspecto 105 desconhecido por muitas pessoas é de que a dança evita a artrose, depois que harmoniza a função dos músculos, com as cartilagens e as articulações, fazendo que o corpo adquira seu melhor desempenho. Com efeito, os antigos egípcios se interessavam pela dança como atividade física, para se ter corpos fortes e sãos. Sua próspera civilização refletia, de maneira clara, seus interesses e cuidados com a saúde mediante ao exercício da dança. Nos tempos faraônicos, a dança era uma atividade reconhecida e prestigiosa para a mulher. Através dela poderia expressar seus sentimentos e entreter, inclusive, o seu marido. As danças populares e cortesãs tinham grande importância, executadas por bailarinas acompanhadas de músicos. A música soava por todas as celebrações. Diversos registros pictóricos gravados nas tumbas faraônicas mostram as bailarinas em diversas cerimônias. Este testemunho indica que as raízes da dança se fundem no mínimo com aquele período sendo praticado e divulgado pelas mulheres até os nossos dias, é claro com uma lógica evolutiva. Através dos tempos com as sucessivas proibições é colocada uma barreira para se praticar essa dança ao largo da história, por causa da religião. Mas, é bom lembrar, que a dança do ventre não tem como função primeira o trabalho terapêutico, embora apresente condições para isso devido à complexidade de movimentos. Trata-se de uma técnica que busca sempre a saúde e o bem-estar da mulher (BENCARDINI, p. 133, 2002). Nossa estrutura física está fundamentalmente relacionada à nossa personalidade e às vivências pelos quais passamos, através do nosso meio ambiente e da hereditariedade. Nossa postura fica impregnada à memória corporal, que é a nossa noção do correto fisicamente. Alterar nossa postura é automaticamente alterar nossa forma de lidar, reagir, com o mundo (ATON, 2000). A repetição na busca dessa postura adequada faz com que o corpo vá se acostumando à correta e melhor postura. Como a dança do ventre a todo instante ensina co conceito do eixo: o centro, este equilíbrio e 106 alinhamento, facilitam a ação dos músculos sobre as articulações e colabora no bom desempenho dos movimentos. É evidente que nesse caso estamos falando de consciência corporal e de sua funcionalidade considerando mulheres saudáveis sem patologias, com normalidades músculo- esquelético. Antes de se iniciar o exercício da dança, é necessário um preparo físico com aquecimento, alongamento e fortalecimento, dos músculos trabalhados e não trabalhados na dança. Nesse caso, a dança do ventre mexe com todo o corpo, até os músculos faciais são trabalhados: um detalhe de olho e um sorriso bem colocado fazem uma enorme diferença em quem está dançando. Muitas vezes culpamos de ser o nosso corpo, o responsável pelas nossas dificuldades de executar determinados movimentos, mas na verdade o principal personagem ativo é o nosso cérebro com os estímulos do sistema nervoso. Devido ao condicionamento natural dos nossos movimentos realizados diariamente que entram no “automático”, não pensamos ou raciocinamos sobre eles, ou seja, nossa atenção fica desconcentrada. Com o processo de envelhecimento, essa área fica naturalmente mais afetada, portanto é necessário realizar exercício que estimulem nossa capacidade cognitiva. O aprendizado da dança requer uma repetição e compreensão sistemática dos movimentos, para possibilitar a descoberta de como realizá-los e memorizá-los. Como cada ser feminino é único e, portanto cada uma possui um ritmo pessoal; é importante que o profissional que ensina saiba respeitar e ajudar cada aluna a encontrar o equilíbrio entre o ritmo e sua atividade cerebral. A dança do ventre possui indicações para ser feita por qualquer mulher e de todas as idades, mas só deve ser realizada depois de avaliação médica. O aprendizado da dança só não é indicado para mulheres com gravidez de risco, com problemas na coluna vertebral ou joelho e etc. A dança do ventre, além de ser um trabalho físico, é uma atividade prazerosa e lúdica, educativa, sociabilizante e artística. Em cada movimento aprendido experimenta-se o despertar de uma região corporal desconhecida ou adormecida, trazendo sentimentos de prazer por realizar algo jamais visto 107 ou sentido. Essa dança exige da mulher em primeiro lugar que ela aceite o seu corpo, pois terá de expô-lo para aprender. A dança favorece uma maior percepção em diferentes níveis de si mesmo, tais quais: respiração, postura, equilíbrio, memória, força, agilidade, calma, confiança e outros fatores, que favorecem a consciência corporal, de atenção às sensações, daquilo que o corpo fala, mas que nem sempre percebemos. Enfim, a dança do ventre abrange de forma holística todos os aspectos do feminino, o físico, mental, emocional e espiritual, de maneira individual e única. Ao contrário de outras modalidades de dança, a dança do ventre movimenta cada quadrante do corpo da mulher, de forma harmoniosa e ensina a dominar as partes do corpo separadamente ou em conjunto. Para as mulheres na terceira idade, além da menopausa, em processo biológico de envelhecimento, a dança do ventre pode ser uma excelente atividade física para a melhoria da saúde do corpo: § Através dos seus movimentos ondulatórios massageia os órgãos internos do ventre, reforçando sua musculatura, aliviando dores, melhorando as funções dos intestinos, estômago (por facilitar a digestão), fortalecendo a musculatura e sua correspondente inervação na região do períneo e assoalho pélvico e de todo o aparelho urinário, ajudando a prevenir ou minimizar os problemas de incontinência urinária e estimula os órgãos do aparelho reprodutor (útero, ovários) e estimula a produção de hormônios; § Aumenta a velocidade e a precisão, pois certos movimentos exigem rapidez; § Como aeróbica auxiliando na redução e manutenção do peso corporal; § § Para a postura podendo corrigir desvios ou vícios posturais; Desenvolve consciência corporal, ajudando a perceber o corpo como somatória de todas as experiências entendimento das razões do próprio corpo; § Eleva o rendimento e a resistência física; vividas, favorecendo o 108 § Melhora a flexibilidade articular aumentando a amplitude dos movimentos; § Melhorando o condicionamento físico beneficiando o sistema circulatório e respiratório; § Sua movimentação estimula o desenvolvimento da coordenação motora; § Trabalha, tonifica e fortalece os músculos de todo o corpo, fortalecendo principalmente o abdômen e afinando ou acentuando a cintura. Contrariando aquela lenda de que a “dança dá barriga”; § Pode melhorar o desempenho sexual e também ser executada para temperar o relacionamento amoroso. A dança do ventre pode ser uma excelente atividade física para a melhoria da saúde da mente: § Desenvolve o raciocínio, a memória, a musicalidade, noção de tempo e espaço; § Exige concentração, o que aumenta a capacidade cerebral aflorando problemas bloqueados, emoções ocultas ou tensões psíquicas acumuladas. Tornando possível a eliminação das couraças corporais psicossomáticas; § Trabalha e desenvolve a imaginação e a criatividade, que são importantíssimos elementos da ludicidade. A dança do ventre pode ser uma excelente atividade física para a melhoria da saúde emocional e espiritual: § Ajuda a desenvolver a sensualidade, o carisma, o magnetismo pessoal, o charme e a personalidade vencedora; § Auxilia no combate ao estresse e ansiedade, bem como afasta a tristeza e a depressão; § É uma atividade relaxante e prazerosa podendo ser praticada como lazer e com o exercício para aumentar a capacidade física e cognitiva; 109 § Eleva a autoconfiança e o auto-respeito aumentando a auto-estima, a auto-aceitação e o amor-próprio; § Estimula exteriorização de diversas qualidades femininas, tais como a delicadeza, a elegância, a beleza, a sutileza, a leveza, a suavidade, a sensibilidade e a graciosidade; § Reduz a timidez e a insegurança; § Trabalha todos os pontos de energia do corpo (Chacras e plexos), desbloqueando, descongestionando e harmonizando, fazendo a energia fluir. (ATON, 2000; BENCARDINI, 2002; FAIRUZA E YASMIN 2002; MARTINS, 2005). Toda mulher não importa a sua idade, quando se veste com as roupas orientais da dança do ventre e maquia-se de forma orientalizada, permite-se entrar em contato com o que há de mais feminino. Portanto este é o Arquétipo da “Odalisca” ou da dançarina do ventre, que todas as mulheres trazem dentro de si. O misticismo e o mistério das “Mil e Uma Noites” encantam e mexem com o imaginário das mulheres e dos homens, através dos tempos. Na dança do ventre os movimentos ondulatórios, sinuosos, espalhados por todo o corpo de forma hipnótica mexem, não só com a alma de quem dança, mas com o corpo também. (...) Dizer que ela traz benefícios aos órgãos sexuais não é um exagero, mas também não é uma receita padronizada. Dependerá dos objetivos e dos métodos de quem ensina e aprende em conjunto (ATON, p. 126, 2000). 110 3.5 O Ensino dos Movimentos Básicos da Dança do Ventre numa Visão Psicomotora e da Filosofia Oriental Porque e para que praticar a dança do ventre? Essa pergunta deveria ser feita para todas as iniciantes dessa arte. Com certeza as respostas serão as mais variadas. Um dos maiores aperfeiçoamento técnico benefícios como desta forma dança de é o estudo do autoconhecimento e desenvolvimento pessoal, ou seja, a busca pela perfeição em vários aspectos da vida humana. Este é um conceito oriental antigo e existe na Yoga, no Sufismo, em várias artes marciais e correntes filosóficas do Oriente. É o ser humano tentando superar seus limites. Primeiro as limitações físicas, depois as mentais e as emocionais e num estágio bastante superior, até as espirituais (BENCARDINI, p. 75, 2002). O processo de aprendizado é lento, porque alcança diferentes etapas de aquisição motora, neurológica e psicológica. Se a mulher estiver preocupada ou ansiosa em assimilar o que está aprendendo, terá mais dificuldades, pois seu foco de atenção está em outra direção. Através da repetição os movimentos serão incorporados, tornando-se automático, mas sempre prevalecerá o movimento voluntário. Cada mulher ao dançar deixa transparecer o seu ritmo interior. Isto é muito importante, tanto em termos de conscientização de suas características, quanto de respeitar o ritmo individual de cada um, antes de impor um ritmo padrão. A dança do Ventre possui um contexto muito profundo quando trabalhado de maneira terapêutica e para grupos personalizados (ATON, 2000). O homem antes de desenvolver a escrita desenvolveu uma linguagem ligada às figuras geométricas. Esses registros estão nas cavernas do período primitivo e histórico dos homens da caverna. Essas formas geométricas representavam nessas culturas e também nas culturas da 111 Antiguidade e Medievais, representavam muito mais do que palavras, mas também eram signos de teorias filosóficas e de magia. Sendo os símbolos conceitos de difícil definição e compreensão, são imagens do inconsciente e muitas vezes seu entendimento ultrapassa o raciocínio lógico e analítico. A dança, especialmente a dança do ventre é uma espécie de símbolo. Gestos e movimentos possuem um significado que está implícito no contexto desse baile (BENCARDINI, 2002). No ensino dos movimentos é necessário que se saiba seccioná-los, assim se dá ciência às alunas de cada passo da estruturação que formou todo o movimento. Outra maneira é fazer com que a aluna entenda o movimento, procurando desenhá-lo com o próprio corpo. Todos os movimentos devem ser executados com o mais preciso domínio do tônus muscular, além de estar com o corpo equilibrado com a força da gravidade. Após o estudo de cada movimento básico da Dança do Ventre separado, parte-se para a junção de um com outro, de maneira simultânea ou consecutiva. O início do aprendizado de uma aluna de dança do ventre é a forma do quadrado. No início a maioria dos movimentos executados fica “quadrados”, ou seja, dividido em quatro tempos (que é o compasso de muitas músicas árabes) e como vetores na direção para o seu deslocamento. O quadrado é a figura geométrica que representa a matéria, a realização e está ligada a lógica e ao pensamento analítico, tem quatro lados articulados por quatro ângulos de 90°. O quadrado serve como aprimoramento e desenvolvimento técnico da bailarina; pode ser aplicado a movimentos de quadril, cabeça, tronco e mãos. Ajuda a desenvolver a consciência corporal da mulher. O triângulo é uma das formas geométricas mais apreciadas desde a Antiguidade. São três retas unidas por três ângulos fechados. A letra grega delta é representada por um triângulo. Simboliza o conteúdo, a essência e representa o tempo. O triângulo eqüilátero simboliza a divindade, a harmonia, a proporção. O triângulo com a ponta para cima simboliza o fogo e o sexo masculino; com a ponta para baixo simboliza a água e o sexo 112 feminino. Na alquimia é o símbolo do fogo; e também o símbolo do coração (CHEVALIER E GHEEERBRANT, 2009). Dentro do contexto da dança: Quando a bailarina dança, está na verdade utilizando o seu corpo para desenhar várias figuras geométricas no espaço. Se o triângulo representa a bailarina, então um dos símbolos da dança seria o triângulo contido dentro de um círculo. Este é um signo antigo e que também pode representar o ser humano (BENCARDINI, p. 87, 2002). A pirâmide é composta por quatro triângulos e uma base quadrada. Utilizando o símbolo da pirâmide e o conceito Delta para a figura da bailarina, os quatro triângulos representados dentro da pirâmide, podem ser divididos no corpo da bailarina nas seguintes partes, sendo que cada parte corresponde a um triângulo: primeira parte – do umbigo até os pés corresponde aos movimentos de quadril e a toda força que as pernas desenvolvem para execução dos mesmos, esse triângulo é representado com a base na altura da cintura, passando pelo umbigo e o vértice no chão, simbolizando os pés e o quanto eles são importantes na manutenção do equilíbrio corporal. Simboliza a ligação material, a terra e a fertilidade; segunda parte – do umbigo até a clavícula – os triângulos tem dupla representação, o vértice pode ser para cima ou para baixo, esses dois triângulo formam o desenho de uma estrela estão associados aos movimentos do tronco e dos braços. O que está com o vértice para baixo representa as emoções e o vértice para cima a mente. Os dois triângulos são considerados a ligação entre o céu e a terra, a ponte entre matéria e espírito. Os braços na dança do ventre possuem um ritmo contínuo e hipnótico. As mãos possuem uma postura, elas sobem sempre voltando o punho para cima e descem com o punho voltado para baixo; a terceira parte – pescoço e cabeça – a base do triângulo encontra-se na altura dos ombros e o vértice fica cerca de um palmo acima da cabeça. Simboliza a ligação espiritual, o despertar da consciência, o céu, a criatividade e o desenvolvimento das potencialidades (BENCARDINI, 2002). 113 O quadril é uma das mais importantes ferramentas de trabalho para a dança do ventre, serve para marcar o ritmo, mas principalmente por estar conectado com a pelve e todos os músculos aí envolvidos. Essa região está ligada aos instintos primários ou primitivos do ser humano, inicia-se assim a elevação da energia vinda da Terra. Os movimentos ondulatórios relacionados ao quadril estão simbolicamente relacionados ao ato da criação e da fertilização, representa o equilíbrio, a vitalidade, a força, a alegria, a decisão e o autoconhecimento e desenvolvimento do potencial interior. Esta região do corpo está ligada ao Chacra Raiz ou Básico, no sânscrito Muladhara, situado na base da espinha dorsal. Envolve os Plexos coccígeo, pélvico e solar; o Chacra esplênico, sobre o baço, que se dedica a especializar, subdividir e distribuir a vitalidade que chega do sol e o Chacra do umbigo sobre o plexo solar, no sânscrito Manipura, situado exatamente no umbigo. No projeto dos movimentos básicos da Dança do Ventre para mulheres da Terceira Idade ou na Idade da Luz, vamos iniciar intercedendo diretamente por esta região ou a primeira parte do corpo da bailarina (segundo o conceito da pirâmide e do delta) como resgate da força, da vitalidade e da energia adormecida devido ao processo natural e biológico de envelhecimento. Num ritmo lento e vagaroso, pode-se sentir o movimento mais tempo para percorrer o trajeto e memorizá-lo melhor, pois quanto mais rápido, menor é o movimento. Como o trabalho envolve não só os movimentos básicos da dança, mas também, os Arquétipos, os Símbolos, os Campos Energéticos do corpo dentro da filosofia oriental e os Elementos da Natureza, o primeiro movimento ondulatório, a ser estudado, são os OITOS: Para o povo Egípcio, o número oito representa o olhar, a eternidade e o infinito. Universalmente, o oito é o número do equilíbrio cósmico e da renovação. O signo matemático do infinito é um “oito deitado”, na dança do ventre um dos movimentos é conhecido dessa forma. Para os nativos americanos é o número das leis naturais. No Budismo, o oito está relacionado com o dharmachakra, ou a roda da vida de oito rosas, oito pétalas da flor de lótus, representando os oito caminhos para a perfeição espiritual. Os Taoístas reverenciam os Oito Imortais e as Oito Coisas 114 Preciosas; o deus hindu Vishnu tem oito braços que corresponde aos oito guardiões do espaço. Na crença africana, entre o povo Dogon, existem oito criadores heróis e oito ancestrais principais; o oito está associado à água e ao sêmen (O’ CONNELL E AIREY, 2011). O símbolo “oito” apresenta-se em várias partes do corpo da bailarina, com o movimento dos dedos, das mãos, seios e principalmente, quadril. Na dança, os movimentos ondulatórios dos oitos recebem vários nomes, conforme a cultura e a classificação das Instrutoras de Dança. Sempre com os joelhos flexionados e pernas unidas, sendo a postura mais correta e o quadril bem encaixado, os oitos denominados mais conhecidos são: o Egípcio, Americano, Maia, Maia ao contrário e Oito de Lateral. À medida que os quadris vão sendo desbloqueados, esses movimentos fluem com mais soltura, podendo desenvolvê-los com mais rapidez. O CÍRCULO: Para ATON (2000), bailarina, coreógrafa e pesquisadora todos os movimentos da Dança do Ventre, fazem parte de uma única figura geométrica, que é exposta de diversas maneiras pelo corpo: o Círculo. Para ela, até mesmo os movimentos que parecem secos e retos, partem de um círculo. Os movimentos lentos da dança estão geralmente relacionados à representação do círculo. Ligado à idéia de perfeição, representa a espiritualidade, a totalidade do ser. Significa ainda a área de trabalho da bailarina, quando ela dança está contida dentro de um círculo invisível de proteção, onde executa seus movimentos (BENCARDINI, 2002). O círculo simboliza o céu cósmico, particularmente em suas relações com a Terra. É o signo da Unidade de princípio e também o do Céu. Em primeiro lugar o círculo é um ponto estendido; participa da perfeição do ponto. O movimento circular é perfeito, imutável, sem começo nem fim, nem variações: o que o habilita a simbolizar o tempo. No zen budismo encontra-se muitas vezes desenhos de círculos concêntricos, que simbolizam as etapas de aperfeiçoamento interior, a harmonia progressiva do espírito. Combinado com outras formas geométricas como, por exemplo: quadrado ou triângulo, passa a ter outros significados (CHEVALIER E GHEERBRANT, 2009) 115 Os Redondos de quadril, que são movimentos lunares, desenham um círculo nos sentidos horários e anti-horários. Podem ser feitos Redondos amplos com macro movimentos e Redondinhos com micro movimentos. No Redondo grande, fazendo um grande círculo com o corpo, utiliza-se a movimentação do tronco inversa à do quadril ou com o tronco estável, neste caso sempre com joelhos flexionados e pernas ligeiramente afastadas, se imagina quatro pontos distantes a serem ligados pelo quadril. Os Redondos pequenos com os joelhos sempre flexionados e as pernas juntas, se desenha um círculo na horizontal com o quadril. Os movimentos relativos ao chacra umbilical traduzem as fases da lua, pois todos os movimentos da dança do ventre são redondos, serpentíneos e em forma de oito, levando a harmonia geral do corpo. Relacionam-se com a fertilidade e a energia lunar. (...) Lua Cheia – são os movimentos redondos e oitos. Lua Crescente – movimentos laterais de meia lua. Lua Nova – são os movimentos dos oito Lua Minguante – os camelos que dinamizam a Kundalini, embora a subida seja lenta. Movimento da Terra – as batidas fortes, shimmins e balanços. Esses movimentos nos envolvem com o elemento água, que rege o chacra umbilical (LYS, p.47, 1999). Passos ou Ondulações do Camelo, baseado no movimento ondulatório produzido no corpo durante o caminhar do camelo, animal típico do deserto. Existem várias denominações para esses passos, mas os mais comuns são: Camelo Frontal Completo e Camelo Pélvico. As melhores referências para a execução da contração abdominal desta ondulação seguem as seguintes direções: para trás, para dentro, de baixo para cima, subindo puxando. Recebendo energia do universo. As ondulações crescentes do camelo fazem com que a Kundalini se eleve pela coluna 116 energizando todos os Chacras, soltando e limpando as energias de todos os Chacras do corpo. As ondulações Abdominais, ou seja, o Movimento do Ventre. Podem ser feitas de cima para baixo e de baixo para cima. Inspirando e expirando profundamente, até sentir que a musculatura abdominal está descontraída podendo executar uma ondulação perfeita. Esse movimento acende o elemento fogo no corpo, como um gerador de energia que traz o poder de realização. As Batidas de Quadril tem uma série de variações: os Shimmies (tremidos), que podem ser feitos também com o abdômen, busto e quadris; Básico Egípcio, passo básico da dança do ventre, com batida de quadril, e feito de diversas modalidades, girando, para trás ou para frente, de dois pontos, meia-lua e quadradinho. Esse passo utiliza as pernas de forma alternada. Os movimentos dos oitos: maia, vertical e horizontal; abertura da articulação coxofemoral e movimentos de Lua; batida pélvica, camelo, respiração na faixa umbilical e shimmins de barriga. Todos esses movimentos são exercícios pélvicos que massageiam e fazem mobilizar as energias de intestinos, rins, supra-renais e bexiga. Os movimentos da dança do ventre relacionados ao chacra Cardíaco (no sânscrito Anahata), Chacra do coração, situado no coração, segunda parte do corpo da bailarina, são os oito de busto e as ondulações do camelo. Através deste Chacra expressamos nossas emoções e sentimentos. Para a terceira parte do corpo da bailarina, onde ficam os Chacras: Laríngeo (no sânscrito Vishuddha) situado na frente da garganta, os movimentos recomendados são os ondulantes e circulares de pescoço, pois propiciam a abertura da comunicação e da criatividade, existe a união dos lados esquerdos e direito do cérebro (emocional e racional). Ajuda a mulher a se tornar mais harmoniosa, com melhor expressão verbal, a voz mais melodiosa, aprendendo quando falar e calar para ouvir. São movimentos conhecidos como Cabeça Egípcia, Cabeça Circular e Giratória e a Cabeça Árabe muito usada na dança saudita; Frontal, situado entre as sobrancelhas (no sânscrito Ajna), Chacra do Frontal, representa a terceira visão, o 117 desequilíbrio deste chacra causa problemas de falta de coordenação muscular e motora, de lateralidade, tonturas e labirintite. Movimentos de expressão facial e com os olhos, devem refletir a alma da mulher que dança sua alegria e energia. Exercícios de Elefante como estender o braço e deitar o pescoço sobre o ombro do braço estendido e descrever o oito com o braço e a mão, pode ser feito com lado direito e esquerdo. Esse movimento ajuda a limpar esse Chacra; Coronário (no sânscrito, Sahasrara), situado no alto da cabeça. Para que o Chacra Coronário fique completamente ativo é necessário que a mente, o corpo e o espírito estejam em equilíbrio, este é o tripé da psicomotricidade. Com os movimentos da mão, dos movimentos harmoniosos de rotação de pulsos, a postura e a beleza dos cotovelos, rotação e flexibilidade dos ombros são requisitos exigidos para levar a bailarina a alcançar boas energias. Utilizar o instrumento de mão, como os snujs (címbalos de metal, tipo castanhola), embora seu aprendizado não seja muito fácil, pois requer muita noção de cadência e ritmo da aluna, é um ótimo exercício de alinhamento para as nossas mãos captar energias. Posicionados na base da unha dos dedos médios e polegar de cada mão, seus toques metálicos fazem que sua vibração mística afaste do ambiente a negatividade e atraia energias positivas. Algumas danças folclóricas e alguns elementos usados na dança são muito recomendados para atividades com mulheres na terceira idade: Véu, simbolizando a riqueza é um elemento importante para a soltura e a evolução da bailarina, é necessário possuir o tamanho, a cor e a forma correta para a manipulação exata de cada da aluna. O manuseio do véu estimula de forma grandiosa a coordenação motora e trabalha todos os músculos do tronco. O véu serve também de adorno, proteção e poses para a figura da bailarina; Dança Milaya-Lâff, tipo de véu oriental que foi moda muito popular nos grandes centros urbanos do Egito, Cairo e Alexandria. A dança faz parte do folclore egípcio. Milaya é lenço e Lâff é enrolado. Dança sensual e provocante, usada para flertar e paquerar. Os gestos são típicos da cultura Baladi. O véu é preto pesado e sem transparência, a bailarina entra com ele enrolado sobre o corpo e o rosto e durante a dança movimenta suas pontas 118 de forma circulares par dentro e para fora. Movimentos com caminhadas, ondulações e shimmies; Bastão e Bengala, tipicamente folclóricos, provenientes dos países árabes, é uma dança de habilidade, agilidade e energia. Na Índia o bastão simboliza a posição da coluna vertebral ereta, e por ela flui a Kundalini (energia da serpente), os movimentos executados são circulares na vertical, horizontal para frente e para trás, para as laterais e Hélice; Dança das Taças, dança antiga pertence ao folclore egípcio. São duas taças com velas acesas e a bailarina segura cada uma em uma mão: iluminando, cruzadas, desenhadas no ar e em posições de equilíbrio. O corpo acompanha com muitas ondulações. É o ritual do fogo para purificar o ambiente e a chama simboliza a paixão ardente que a mulher traz no seu coração; Dança Khaleege (Racks AL Nashs’at), dança saudita feminina que faz parte do folclore do Golfo Pérsico e área da Península Arábica. Feita por mulheres nômades que dançavam em roda. Muito usada nas celebrações, as mulheres usam um grande vestido em tecido fino, rico de bordados, chamado “Thobe AL nasha’at”. O ritmo da música é um ritmo alegre e intenso chamado Soudi ou Saldita. Seu maior encanto é o trabalho intenso com os cabelos jogando-os de forma circular, desenhando oitos e jogandoos para frente e para trás e de um lado para o outro. É uma dança bastante gestual e expressiva de muita alegria. A gesticulação típica das mãos, a singeleza dos gestos tem expressões culturais. As mangas do vestido são largas e podem ser usadas para criar um visual exótico, dentro delas podemos apoiar seu tecido sobre a cabeça de forma graciosa e abusar dos movimentos de pescoço. O molejo é no deslocamento dos pés, com peso alternado, com o quadril sendo projetado para frente e para trás. Os deslocamentos são laterais ou em giros. No Oriente as mulheres idosas são muito reverenciadas neste tipo de dança. Na dança existem elementos primordiais ao seu desenvolvimento, como por exemplo: o andamento e a dinâmica (em relação ao movimento – velocidade e força); o ritmo (estimulo sonoro); expressão (interpretação e olhar); noção tempo (troca de movimentos conforme as frases musicais); 119 criatividade (em relação à utilização dos passos); braços (sua utilização com técnica, delicadeza e coordenação dissociada do resto do corpo); postura (colocação devida do corpo); técnica (limpeza dos movimentos); estilo (personalidade da bailarina) e desenvolvimento da dança (começo, meio e fim). “Somente um grande pesar ou um grande júbilo poderá revelar tua verdade. Se queres ser revelado, deves dançar desnudo ao sol ou carregar tua cruz”. Gibran Khalil Gibran (1883 – 1931. Artista, Poeta e Escritor libanês) E você, mulher da Idade da Luz, que se esconde no casulo, desejas ser revelada como borboleta ou mariposa? Tânia Bravo (2013) 120 CONCLUSÃO Como se diz: “Feliz de quem vive como se não devesse morrer”. Ninguém é tão velho que não acredite que se possa viver ao menos mais um ano. A vida a Deus pertence, mas somos nós quem a vivemos! E viver é não fazer distinção de idade. A alegria e o prazer deveriam ser regras gerais para a vida e pertence a todos os seres jovens e velhos. O estado da velhice não é sinônimo de tristeza e depressão. O envelhecimento é um processo biológico, natural e necessário, assim como a morte. Assim como ninguém pensa em nascer, é o que normalmente dizemos não se deveria pensar em morrer. Mas, estes conceitos biológicos não são aceitos pelos seres humanos, principalmente na civilização ocidental. Numa sociedade que pensa o envelhecimento como declínio, os sinais da velhice não são bem vindos e o avançar da idade não é muito valorizado. Mas o desempenho de uma pessoa adulta da terceira idade significa maior capacidade de ponderação e serenidade. Essas qualidades são importantíssimas em várias áreas de atuação. Se nem todos os idosos estão sadios, para isso existe tratamento e prevenção. Com o processo de envelhecimento orgânico surgem as doenças, mas o medo das doenças nos apavora tanto que acaba gerando reações psicológicas muito negativas que podem afetar ainda mais as doenças, principalmente as mais assustadoras como câncer. O estado psicológico e o equilíbrio emocional são à base da sustentação de nossa saúde. O conteúdo da nossa Psique é o manancial de energias do nosso corpo. Uma boa qualidade de vida, com alimentação saudável e atividade física, aliadas a um estado psicológico sadio, é um tripé da longevidade. O processo de envelhecimento é um processo ativo, sendo de certa maneira imposto pelo próprio organismo, segundo um programa localizado dentro de nosso patrimônio genético e que também recebe influência do meio ambiente. A movimentação do corpo é crítica durante o envelhecimento, o consumo de oxigênio diminui, o sistema nervoso fica mais lento e três registros se tornam mutantes para o declínio: o corpo orgânico (saúde e 121 capacidade física), a aparência e a energia. Mas é possível melhorar o condicionamento físico com treinamento. Através da psicomotricidade, é possível trabalhar para educar e reeducar a pessoa que apresenta distúrbios que exprimem, por meio de perturbações psicomotoras: debilidade, inabilidade, atrasos, instabilidade e inibição motora. O treinamento através da psicomotricidade vai auxiliar a idosa na sua autonomia, na aquisição de conhecimentos com esse novo corpo e se adequar as novas circunstâncias de vida. A conexão com outras pessoas vai auxiliar a idosa a viver com mais qualidade de vida e confiança em sua autonomia. Vai inspirar a mulher idosa a se sentir mais borboleta do que mariposa. A segregação e o isolamento é o que existe de pior na velhice, esses dois fatores roubam-lhe o centro. É quando a idosa perde o próprio Ser e fica sem esperanças, vivendo nas trevas, em profunda depressão. Esses sentimentos na verdade são contraditórios, porque se analisarmos racionalmente o envelhecimento é um caminho para a Luz! As mulheres que logo serão um grande contingente de terceira idade duvidam da sua capacidade criadora, pois falta a maioria delas informação e treinamento, para que se descubra que a força da vida não acaba com a chegada da menopausa e com um corpo em mutação estética da boa aparência. Essa informação e treinamento podem ser adquiridos através da milenar arte da Dança do Ventre. Mas, por concentrar grande parte de sua técnica nos quadris, como já foi citada nos capítulos dois e três e pela languidez dos movimentos de braços e ombros, a dança do ventre é considerada um código corporal de forte apelo erótico. Portanto esse conceito incomoda o grupo de mulheres que praticam ou que intencionam praticar essa dança, como lazer ou atividade física. Sentem vergonha e receiam o deboche das pessoas que vivem no seu ambiente. Essa noção acontece principalmente com as mulheres mais idosas, que acabam excluindo o senso de sexualidade de suas vidas, pois ao manifestar essas questões passam a ser criticadas pelos familiares e pela comunidade. Como já foi explicada no capítulo III, essa imagem erótica da dança foi motivada pelas apropriações midiáticas, em primeira mão no século XIX, 122 com a reprodução artística das artes plásticas, pelos artistas e orientalistas franceses e ingleses. Essa abordagem erótica continuou para o ocidente em todos os meios possíveis, como em capa de discos, esquetes cômicos de programas de TV, comércio sexual e pornográfico, exaltando para este fim o Arquétipo da Odalisca, divulgando a idéia da dança como arte da sedução para alcançar um objetivo material ou apenas libidinoso, esvaziando assim os verdadeiros e genuínos sentidos da Dança do Ventre, que são artísticos, religiosos, culturais, terapêuticos e pedagógicos. Ou seja, a Dança do Ventre por si só já é uma atividade psicomotora. A mulher contemporânea se insere numa rotina atribulada composta por tarefas envolvendo vida profissional, filhos, netos e atividades domésticas e muitas vezes academias de ginástica. Com tudo isso acaba por se sentir frustrada por se ver tomada pelo cansaço do esforço cotidiano e ainda por cima ser cobrada a se apresentar socialmente com o frescor feminino que as modelos da mídia exibem. A Dança do Ventre como arte conhecida em promover a feminilidade pela delicadeza, complexidade e sinuosidade de seus movimentos, torna-se a bóia de salvação para o feminino ameaçado. Quando a mulher se veste e se caracteriza como as bailarinas orientais, entra em contato com o que há de mais feminino: adornos, maquiagens, roupas ousadas e ricamente bordadas, elementos que nunca são usados no cotidiano. Além disso, a dança do ventre permite que a mulher encarne vários papéis femininos, conforme o ritmo e estilos de dança e os acessórios que usa na dança. Se dançar um Baladi vai incorporar os trejeitos e sentimentos de uma mulher popular; com uma música eletrônica com nuances oriental, pode desempenhar uma sacerdotisa ou uma deusa no templo; ao dançar uma música clássica cantada por Umm Kalthoum, pode se sentir uma rainha ou uma figura muito importante da corte oriental; se dança com uma espada ou bengala, inspirase como uma guerreira e se sente poderosa e se toca snujs, por exemplo, se sente realizada e diferenciada por saber tocar um instrumento. Todas essas expressões do feminino são experenciadas nas salas de aula de Dança do Ventre, por ser uma atividade muito lúdica estimula o imaginário das alunas de todas as idades. Este é, portanto, o arquétipo da bailarina do ventre. Ela 123 é a própria representação do feminino em toda sua forma e força. O que acaba sendo um resgate por que tudo isso está enterrado no interior das mulheres. Seja devido ao ritmo de vida, ou em relação às repressões ou porque estão envelhecendo e por isso se sentem menos MULHER! Com a Dança do Ventre todos os medos e inseguranças são dissolvidos, porque o maior ensinamento desta dança é aprender a se amar, se aceitar e ter consciência integral do seu ser; viver com toda plenitude do corpo ao espírito. Essa dança oferece a praticante uma possibilidade de se inscrever artisticamente no mundo e de subverter os padrões de comportamento e beleza tradicionais, todos os corpos femininos são capacitados para absorver o repertório da Dança do Ventre e também de elaborar construções poéticas dançantes. A dança acontece quando flui, o conhecimento intrínseco de si mesma isso é autoconhecimento. O processo de libertação através da dança do ventre acontece à medida que isso vai sendo trabalhado e desenvolvido. Quanto mais informação a mulher tem sobre si mesma, mais controle ela adquire. Ganha mais poder, administrando melhor sua vida cotidiana. Sente-se livre mesmo que viva sob rígidas regras de conduta social. A dança também traz à luz outros conhecimentos importantes para que a mulher se sinta mais segura. É muito importante que junto às aulas dos movimentos da dança, a praticante adquira conhecimentos de anatomia, da música que dança e da história da própria Dança do Ventre e todos os conceitos relacionados a essa arte. A Dança do Ventre atravessou muitas culturas e não podemos afirmar seu surgimento, quer geograficamente, quer cronologicamente, e até hoje, mesmo com todas as fusões que foram feitas em sua arte, ainda é uma linguagem única em suas especificidades. O Egito passou a ser o difusor da Dança, porque foi à conexão entre o mundo oriental e ocidental, e dele partiram os conhecimentos, as experiências artísticas e os estudos sobre a Dança do Ventre. Assim como a própria dança, a mulher que aprendeu a conquistar a si mesma é livre e feliz, como uma borboleta. Sente-se realizada em si mesma. Mesmo vivendo em organizações repressoras, tem melhor preparo para 124 superar as diversas situações da vida: doenças, envelhecimento, perdas e abandono familiar, pois essa mulher aprendeu a conquistar a verdadeira força interior. Esta é a força do real poder feminino, da deusa interior. À medida que se pratica a antiga forma da Dança do Ventre ou suas novas formas, surge o despertar da Consciência, que tanto se precisa na Idade da Luz! Se tudo pudesse ser dito, não haveria dança para expressar nossos tremendos vazios. Dança do Ventre. Uma dança que em seu cerne abriga a mais rebelde cigana, jamais será dominada, Jamais será massacrada. Estará sempre guardada em nosso coração (ATON, p. 231, 2000). 125 BIBLIOGRAFIA AGUS, David B. A Vida sem Doenças. Rio de Janeiro, RJ: Intrínseca, 2013. ALVES, Fátima (organizadora). Como Aplicar a Psicomotricidade: Uma Atividade Multidisciplinar com Amor e União. Rio de Janeiro, RJ: Wak Editora, 2011. ALVES, Fátima. A Psicomotricidade e o Idoso: uma Educação para a Saúde. Rio de Janeiro, RJ: Wak Editora, 2013. ALVES, Fátima. Psicomotricidade: Corpo, Ação e Emoção. Rio de Janeiro, RJ: Wak Editora, 2012. ANDERSON, Benedict. Comunidades Imaginadas. Reflexões sobre a Origem e a Expansão do Nacionalismo. Lisboa: Edições 70, 2005. ARMSTRONG, Karen. Em Nome de Deus: o Fundamentalismo no Judaísmo, no Cristianismo e no Islamismo. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 2009. ARRUDA, José Jobson de A. e PILETTI, Nelson. Toda a História Geral e História do Brasil. São Paulo: Editora Ática, 2003. ATON, Merit. Dança do Ventre, Dança do Coração: Estudos. São Paulo: Editora Espírita Radhu Ltda., 2000. AUGUSTO, Aureo. Liberte-se da Prisão de Ventre: Causas e Tratamento Clínico-Dietético e Psicossomático. São Paulo, SP: Editora Cultrix Ltda., 1995. AZEVEDO, Dr. João Roberto. Ficar Jovem Leva tempo: Um Guia para Viver Melhor. São Paulo, SP: Saraiva 1998. 126 BAINES, John e JAROMÍR, Málek. O Mundo Egípcio: Deuses, Templos e Faraós. Volumes I e II. Madrid: Edições del Prado, 1996. BARCELLOS, Gustavo. Psique e Imagem: Estudos de Psicologia Arquetípica. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. BENCARDINI, Patrícia. Dança do Ventre: Ciência e Arte. São Paulo, SP: Textonovo, 2002. BERTHERAT, Thérèse. O Correio do Corpo: Novas Vias da Antiginástica. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1986. CARVALHO, Dr. Celso de Souza. Maturidade Saudável: Métodos Ortodoxos e Heterodoxos de Manutenção da Saúde na Terceira Idade. Rio de Janeiro, RJ: UniverCidade Editora, 1999. CARVALHO, Yara Maria de Carvalho. O “Mito” da Atividade Física e Saúde. São Paulo, SP: Editora HUCITEC, 1995. CENCI, Claudia. A Dança da Libertação. São Paulo, SP: Vitória Régia, 2001. CHEVALIER, Jean & GHEERBRANT, Alain. Dicionário de Símbolos: (mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números). Rio de Janeiro, RJ: Editor José Olympio Ltda., 2009. COUTO, Sérgio Pereira. Desvendando o Egito. São Paulo, SP: Universo dos Livros, 2008. CREMA, Roberto. Introdução à Visão Holística. São Paulo, Summus Editorial, 1989. DEL PRIORE, Mary e AMANTINO, Marcia (orgs.). História do Corpo no Brasil. São Paulo, SP: Editora UNESP, 2011. EDWARDS, Gill. Crescendo e Evoluindo com Alegria: Uma Nova Visão da Realidade. São Paulo, SP: Editora Cultrix, 1991. 127 EHRENFRIED, L. Da Educação do Corpo ao Equilíbrio do Espírito. São Paulo, SP: Summus, 1991. ENCICLOPÉDIA Vida na Terra. Insectos e Aracnídeos. São Paulo, SP: Editor Euro Impala, Séc. XXI. FAIRUZA e YASMIN. Curso Prático de Dança do Ventre. São Paulo, SP: Madras Editora, 2002. FERREIRA, Carlos Alberto de Mattos & HEINSIUS, Ana Maria (Orgs.). Psicomotricidade na Saúde. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2010. FONSECA, Vitor. Manual de Observação Psicomotora: Significação Psiconeurológica dos Fatores Psicomotores. 2. Ed. Rio de Janeiro, RJ: Wak Editora, 2012. FONTANA, David. A Linguagem dos Símbolos: Um Compêndio Visual para os Símbolos e seus Significados. São Paulo, SP: Madras, 2010. GAIARSA, José Ângelo. A Estátua e a Bailarina. São Paulo, SP: Ícone, 1995. GAIARSA, José Ângelo. Como Enfrentar a Velhice. São Paulo, SP: Ícone: Campinas: UNICAMP, 1986. GERALDI, Ana Cristina e THIERS, Solange (orgs). Corpo e Afeto: Reflexões em Ramain-Thiers. Rio de Janeiro, RJ: Wak Ed., 2009. GOLDENBERG, Mirian. Corpo, Envelhecimento e Felicidade. Rio de Janeiro, RJ: Civilização Brasileira, 2011. GOLDMAN, Sara & PAZ, Serafim Fortes. Cabelos de Neon. Niterói, RJ: Talento Brasileiro, 2001. GRANDES CIVILIZAÇÕES DO PASSADO. A História Cotidiana às Margens do Nilo. Egito 3050-30 a.C. Barcelona: Folio 2007. 128 GRÜN, Anselm. A Sublime Arte de Envelhecer. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. GRÜN, Anselm. Desenvolver a Auto-Estima: Superar a Incapacidade: Caminhos espirituais para o Espaço Interior. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. GUIDI, Maria Laís Mousinho e MOREIRA, Maria Regina de Lemos Prazeres (orgs.). Rejuvenescer a Velhice: Novas Dimensões da Vida. Brasília, DF: Ed. Universidade de Brasília, 1996. HEINZ-MOHR, Gerd. Dicionário dos símbolos: Imagens e Sinais da Arte Cristã. São Paulo, SP: Paulus, 1994. HERMÓGENES. Saúde na Terceira Idade: Ser Jovem é uma Questão de Postura. 19ª Ed. Rio de Janeiro, RJ: Nova Era 2012. HOUAISS, Antonio & VILLAR, Mauro de Salles. Minidicionário da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, RJ: Objetiva, 2008. HOURANI, Albert. Uma Historia dos Povos Árabes. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1994. JAMISON, Kay R. Quando a Noite Cai: entendendo a Depressão e o Suicídio. Rio de Janeiro: Gryphus, 2010. JUNG, Carl G (Concepção e Organização). O Homem e seus Símbolos. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2008. KNOPLICH, José. Prevenindo a Osteoporose: Orientações para Evitar Fraturas. São Paulo, SP: Robe Editorial, 2001. LE BOULCH, Jean. O Desenvolvimento Psicomotor: do Nascimento aos 6 anos. Porto Alegre: Artes Médicas, 1982. LEADBEATER, C. W. Os Chacras. Limeira, SP: Editora do Conhecimento, 2010. 129 LELOUP, Jean-Yves. O Corpo e seus Símbolos: Uma Antropologia Essencial. Petrópolis, RJ: Vozes, 2012. LYS, Sueli. Dança do Ventre: Descobrindo sua Deusa Interior. São Paulo: Berkana Editora, 1999. MARQUES, Mario M. Preparo para o Parto Processo Psicoprofilático. Rio de Janeiro, RJ: Cultura Médica, 2007. MARTINS, Luciana Ferraz do Amaral. Ventre que Encanta. São Paulo, SP: Ed. Do Autor, 2005. MATOS, Oslei de. Avaliação Postural e Prescrição de Exercícios Corretivos. São Paulo, SP: Phorte, 2010. MEIRELLES, Cecília (org.). Antologia Poética. São Paulo, SP: Global, 2013. MOHAMED, Shokry. La Mujer y La Danza Oriental: La Danza Mágica Del Vientre (II). Madrid: Mandala Ediciones, 1998. MONTET, Pierre. A Vida Quotidiana NO EGIPTO no Tempo dos Ramsés. (Sécs. XIII – XII a.C). Lisboa: Edição Livros do Brasil, Séc. XX. MORAN, Beth e SCHULTZ, Kathy. Cura Intuitiva: Um Guia para a Mulher Descobrir a Cura Interior. São Paulo, SP: Editora Cultrix, 1998. NETTO, Matheus Papaléo. Gerontologia: A Velhice e o Envelhecimento em Visão Globalizada. São Paulo: Editora Atheneu, 2002. NIEUWKERK, Karin Van. A Trade like any Other: Female Singers and Dancers in Egypt. Austin, EUA: University of Texas Press, 1995. NOWEN, Henri J. M. Envelhecer: A Plenitude da Vida. São Paulo, SP: Paulinas, 2000. O’CONNELL, Mark & AIREY, Raje. Almanaque Ilustrado Símbolos. São Paulo, SP: Livros Escala, 2010. 130 OSHO. Desvendando Mistérios: Chacras, Kundalini, os Sete Corpos e outros Temas Esotéricos. São Paulo, SP: Alaúde Editorial, 2011. PAULING, Linus. Como Viver Mais e Melhor. São Paulo, SP: Best Seller, 1988. PENNA, Lucy Coelho. Dance e Recrie o Mundo. São Paulo, SP: Summus, 1993. PERERA, Sylvia Brinton. Caminho para a Iniciação Feminina. São Paulo, SP: Ed. Paulinas, 1985. PINTO, Jeferson Machado. Psicanálise, Feminino, Singular. Belo Horizonte, MG: Autêntica Editora, 2008. PORTINARI, Maribel. História Dança. Rio de Janeiro, RJ: Nova Fronteira, 1989. PÓVOA, Helion. A Chave da Longevidade. Rio de Janeiro, RJ:Editora Objetiva Ltda., 2000. REVISTA SHIMMIE. Nº 08. Ano 2. Vox Editora, Dezembro/ Janeiro, 2012. RIBEIRO, Alda. Quebrando os Tabus da Velhice. São Paulo, SP: EGRASA, 1995. ROSS, Colin A. Campos de Energia Humanos: Uma Nova Ciência e uma Nova Medicina. São Paulo, SP: Cultrix, 2012. SAID, Edward. Orientalismo. São Paulo, SP: Companhia das Letras, 1990. SEIXAS, Ana Maria Ramos. Sexualidade Feminina. História, Cultura, Família – Personalidade & Psicodrama. São Paulo, SP: Editora SENAC, 1998. SPALDING, Tassilo Orpheu. Dicionário da Mitologia Greco-Latina. Belo Horizonte, MG: Editora Itatiaia Limitada, 1965. 131 TREVISAN, Lauro. Os Segredos da Terceira Idade. Santa Maria: Editora da Mente, 2012. VALCAPELLI & GASPARETTO. Metafísica da Saúde: Sistemas Circulatório, Urinário e Reprodutor. São Paulo: Centro de Estudos Vida & Consciência Editora, 2001. WAUTERS, Ambica. Como Trabalhar as Energias dos Chacras e dos Arquétipos. São Paulo, SP: Editora Cultrix, 1996. WHITMONT, Edward C. O Retorno da Deusa. São Paulo: Summus, 1991. WWW.hossamramzy.com/dance/dance been2.htm. Setembro. 2012 ZURITA, José Estêvão. O Carisma da Velhice. São Paulo, SP: Editora Salesiana Dom Bosco, 1984. 132 ANEXO 1 TOCADORAS DE INSTRUMENTOS E DANÇARINAS - 18ª DINASTIA EGÍPCIA (BAINES E MÁLEK, VOL.II 1996) 133 ANEXO 2 A PONTE DANÇA EGÍPCIA, SÉC. XIV A.C. 134 ANEXO 3 AFRESCO DA ÉPOCA DOS RAMSÉS INSTRUMENTOS EGÍPCIOS (BAINES e MÁLEK, VOL. I 1996) 135 ANEXO 4 DANÇA DE ALMEH Desenho de Jean-Léon Gérôme, Séc. XIX 136 ANEXO 5 DANÇAS DE ALMEH Jean-Léon Gérôme. Séc. XIX 137 ANEXO 6 JEAN-LÉON GÉROME. DANÇA DA ALMEH. 1863. DAYTON ART INSTITUT 138 ÍNDICE FOLHA DE ROSTO 02 AGRADECIMENTOS 03 DEDICATÓRIA 04 RESUMO 05 METODOLOGIA 06 SUMÁRIO 07 INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I 11 A DIFERENÇA ENTRE MARIPOSAS E BORBOLETAS 11 1.1 O Segredo da Crisálida 11 1.2 O Simbolismo da Borboleta 16 1.3 A Borboleta e a Psique 20 1.4 Os Arquétipos e o Retorno da Deusa 21 CAPÍTULO II 32 139 O HÁBITO DA SAÚDE: SÓ PARA MULHERES 32 2.1 Além da Menopausa 32 2.2 O Envelhecimento Feminino e suas Patologias 42 2.3 A Imagem Corporal da Mulher na Idade da Luz 54 2.4 A Psicomotricidade Desenvolvendo Borboletas 59 CAPÍTULO III 66 O ESPÍRITO DA DANÇA DO VENTRE: CIÊNCIA E ARTE 66 3.1 O Ventre, O Centro do Corpo e Equilíbrio da Vida 66 3.2 Racks El Sharqi, A Dança do Leste 77 3.3 A Dança do Ventre no Brasil e as Bailarinas Brasileiras 99 3.4 Os Benefícios da Arte Milenar da Dança do Ventre ao Corpo e a Mente Feminina 104 3.5 O Ensino dos Movimentos Básicos da Dança do Ventre numa Visão Psicomotora e da Filosofia Oriental 110 CONCLUSÃO 120 BIBLIOGRAFIA 125 ANEXOS 132 ÍNDICE 138