Português
Atividades Adicionais
Módulo 4
1.(PAS-UPE)
Nada na língua é por acaso
Tudo o que acontece numa língua viva, falada por
seres humanos, tem uma razão de ser. E essa razão de
ser não tem nada a ver com a preguiça, o descaso, a
corrupção moral, a falta de inteligência, a mistura de
raças, e outras alegações preconceituosas que vêm
sendo repetidas desde antes de Cristo.
A língua é uma instituição social, ela é parte integrante da vida em sociedade; por isso as mudanças que
ocorrem na língua resultam da ação coletiva de seus
falantes, uma ação impulsionada pelas necessidades
que esses falantes sentem de se comunicar melhor, de
dar mais precisão ao que querem dizer, de enriquecer
as palavras já existentes com novos sentidos (principalmente os sentidos figurados, metafóricos), de criar novas palavras para dar uma ideia mais precisa de seus
desejos de interação, de modificar as regras gramaticais da língua para que novos modos de pensar e de
sentir, novos modos de interpretar a realidade sejam
expressos por novos modos de dizer.
A mudança linguística é resultado da interação entre
fatores internos – os mecanismos cognitivos que processam a linguagem dentro de nosso cérebro – e fatores
externos à língua, ou seja, fatores sociais e culturais.
As mudanças linguísticas não ocorrem aleatoriamente. (...)
Quando as pessoas sem conhecimento específico
dos processos de mudança falam de “erro”, na verdade
o que elas estão chamando de “erro” é algum fenômeno de transformação pelo qual a língua está passando.
Uma transformação que nada tem de fortuito, de casual,
nem de aleatório. E que é fruto, insisto, da ação dos falantes sobre a língua.
Marcos Bagno. Não é errado falar assim.
São Paulo: Parábola, 2009, p. 44-45. Adaptado.
Considerando o material linguístico com que se constitui o texto em análise, podemos fazer as observações explicitadas a seguir.
I. O texto fala em: “alegações preconceituosas que vêm
sendo repetidas desde antes de Cristo”. O verbo sublinhado, em outro contexto, também estaria corretamente conjugado em: ‘alegações preconceituosas
que vierem repetidas’.
II.Em: “desejos de modificar as regras gramaticais da
língua para que novos modos de pensar sejam
expressos”, o segmento sublinhado poderia ser
corretamente substituído por ‘para que hajam novos
modos de pensar’.
III. Observe a regência verbal em: “Uma transformação
que nada tem de fortuito”. Desconsiderando o sentido
do texto, também estariam corretas as regências em:
“Uma transformação a que nada corresponde”. Ou:
“Uma transformação a que ninguém se submete”.
IV.Em: “as mudanças que ocorrem na língua resultam
da ação coletiva de seus falantes”, o verbo sublinhado também poderia estar no singular para
concordar com o sujeito posposto ‘ação coletiva’.
V. A afirmação do autor em: “Uma transformação que
nada tem de fortuito, de casual, nem de aleatório”, é
taxativa. Pode revelar a condição de ‘certeza’ que o
autor admite para sua afirmação.
Estão corretas as afirmações que constam apenas
nos itens:
a)I, III e V.
b)I, II e V.
c)II, IV e V.
d)II, III e IV.
e)I, III, IV e V.
2.(PAS-UFAM) Assinale a opção em que falta o acento
indicativo da crase da preposição a com o demonstrativo a:
a)Das miniaturas que coleciono, esta coruja é a que
mais aprecio.
b)Esta camisa é muito parecida a que ganhei de aniversário.
c)Esta história infantil foi a que sua professora recomendou?
d)Das cirandas que se apresentaram, a primeira é a
que merece ser campeã.
e)Esta pasta é a que perdeste na semana passada?
3.(PAS-UFAM) Assinale a opção em que falta o acento
indicativo de crase:
a)Uma a uma, as candidatas a modelo desfilaram na
passarela.
b)Para obter a informação, dirigi-me a várias pessoas
da cidade.
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1
c)Os torcedores se levantaram a uma para comemorar
o gol.
d)Fui a Campina Grande no mês passado.
e)Contei o sucedido a uma moça muito supersticiosa.
4.(PAS-UFAM) Assinale a opção em que o acento indicativo de crase é indevido:
a)Isto me cheira à negociata entre as partes.
b)A cidade de Manaus está ligada à de Itacoatiara
por meio de rodovia.
c)Plantou laranjeiras em seu sítio, às quais muito carinho dedica.
d)À que melhor trabalho fizer, oferecerei o Novo
Aurélio.
e)O ideal é sempre aliar a teoria à prática.
5.(PAS-UFAM) Assinale a opção em que o objeto direto
vem preposicionado para assegurar a clareza da frase, isto é, para evitar que seja tomado como sujeito:
a)Temos amigos a quem muito prezamos.
b)Observe sempre o primeiro mandamento: Amai a
Deus sobre todas as coisas.
c) No último festival, venceu o Caprichoso ao Garantido.
d)Que bom seria se todos cumprissem com o seu dever.
e)A quantos o destino trai!
6.(PAS-UFAM) Assinale a opção em que o acento indicador de crase foi indevidamente colocado:
a)A criação de santuários ecológicos salva a floresta,
mas acaba com a fonte de renda das pessoas ligadas às madeireiras.
b)A Turquia ainda não conseguiu ser integrada à
União Europeia, como pleiteia, por falta de identidade cultural com a Europa.
c)Para combater a exploração ilegal de madeira na
Amazônia, é necessário criar mecanismos que garantam renda efetiva à população.
d)O número de mortos em ataques terroristas aumentou de modo alarmante em relação à década
passada.
e)Como o mundo é movido à petróleo e o petróleo
abunda no Oriente Médio, buscam-se hoje aceleradamente novos combustíveis, a fim de neutralizar o poder dos xeques.
b)“ela não incorpora à motivação mais importante
do cientista”.
c) “encontra-se uma pessoa tentando transcender às
barreiras imediatas da vida diária”.
d)“capacidade da razão humana de poder entender
o mundo à sua volta”.
e)“Talvez isso venha à chocar muita gente”.
8.(PAS-UPE) Fixando-nos em padrões sintáticos da
concordância e da regência verbal e nominal do português, analise os seguintes comentários:
I.Em: “Podem haver línguas que mudem mais que
outras, a concordância verbo-nominal apresenta
problemas, pois se trata de uma locução, cujo verbo
principal é impessoal.
II. O segmento: “São várias as razões para que não se
perceba a constante alteração da língua” também
apresentaria uma formulação sintática correta em:
“São várias as razões as quais não se percebe a constante alteração da língua”.
III.No trecho: “Os sons, a gramática, o vocabulário:
tudo pode mudar na língua”, o verbo fica no singular, pois o pronome indefinido ‘tudo’ tem um valor
resumitivo.
IV.Em: “basta pegar textos antigos”, também estaria
correta a formulação “Bastam pegar textos antigos”,
uma vez que o núcleo do sujeito do verbo ‘bastar’
é ‘textos antigos’.
V. O trecho “a escrita, [...] serve de referência para a imagem que o falante tem da língua” poderia ser corretamente parafraseado por: “a escrita, [...] serve de referência para a imagem o qual o falante tem da língua”.
Estão corretos:
a)I e II.
b)I e III.
c)II e IV.
d)III, IV e V.
e)I e V.
9.(PAS-UFVJM) Analise esta tirinha:
7.(PAS-UPE) De acordo com a norma-padrão, o uso do
acento grave indicativo da crase é facultativo em algumas construções. Assinale o trecho no qual, sem
comprometer o sentido, o referido acento também
poderia ser utilizado.
a)“um grupo de pessoas que corrompe à beleza da
Natureza ao analisá-la matematicamente”.
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2
De acordo com essa tirinha, é correto afirmar que:
a)as personagens utilizaram a forma culta da linguagem o que se pode confirmar, principalmente, no
segundo quadro.
b)uma personagem utilizou “torcer” como verbo
transitivo direto o que foi entendido pela outra
personagem como verbo transitivo indireto.
c)a confusão relacionada ao sentido do verbo só
aconteceu porque a linguagem oral não nos permite esclarecer a nossa intenção ao utilizar as palavras.
d)a tirinha representa uma personagem que desconhece a língua e não consegue dar sentido à fala
das pessoas.
10. (PAS-UFAM) Assinale a opção correspondente à frase
cuja lacuna não pode ser preenchida pela preposição entre parênteses:
a)Há pessoas
quem é melhor que sejamos
amigos. (de)
b)Há pessoas
cujas ideias não é possível concordar. (com)
c)Há pessoas
cuja orientação devemos divergir. (de)
d)Há pessoas
cuja vida podemos sem receio
espelhar-nos. (em)
e)Há pessoas
cuja autoridade nos insurgimos. (a)
11. (PAS-UFAM) Assinale a opção em que não há erro
de qualquer natureza:
a)Entrou no gabinete recem pintado. O cheiro de
tinta fresca lhe fez espirrar.
b)Lembrei-me que, certa vez, me disseste que a
agitação das grandes cidades preferias a paz dos
campos. Confirmas?
c) Recomendei-lhes que deixassem bem fechadas a
porta e as janelas.
d)Ele sempre trazia as unhas o mais aceadas possível.
e)Anexo a presente, segue a relação dos títulos em
duplicata em nossa biblioteca.
12. (FUVEST) Assinale a alternativa em que a crase é
obrigatória:
a)Referiu-se a V. Exa.
b)O trem partia as nove da noite.
c)Este ano muitos brasileiros irão a Roma.
d)Não tenho tempo de ir a casa para almoçar.
e)Foi a ela que deste a notícia.
13. (UERJ) “Mas a decisão sobre quais conhecimentos a
sociedade ou os cientistas devem concentrar seus esforços implica a consideração de outros valores.”
O trecho destacado apresenta um problema de regência. Esse problema seria corrigido se fosse feita
a seguinte alteração:
a)“... implica a consideração sobre outros valores.”
b)“... implica com a consideração de outros valores.”
c)“... a decisão sobre os conhecimentos nos quais a
sociedade...“
d)“Mas a decisão de quais conhecimentos a sociedade ou os cientistas...”
14. (MACK) Indique a letra correspondente à alternativa
que completa, com as preposições adequadas, as
lacunas do seguinte período:
“Pareci muito aflita
tua mudança inexplicável, porque não me encontrava apta
nova situação, nem sou imune
choques emocionais.
Confesso-te que estou ansiosa
ver-te com
os pensamentos situados
esferas mais tranquilas.”
a)para com – a – a – de – entre
b)por – a – à – por – nas
c)para – à – à – de – em
d)com – à – a – para – em
e)sobre – a – aos – por – entre
15. (PUC) Assinale a alternativa que preencha, pela ordem, corretamente as lacunas a seguir:
I.A espécie nova
borboleta.
II.A espécie nova
borboleta.
III.A espécie nova
uma borboleta.
IV.A espécie nova
borboleta.
se referia Meyer era uma
Meyer tratava era uma
Meyer se maravilhava era
Meyer descobriu era uma
a)que – de que – com que – que
b)a que – de que – que – de que
c)a que – que – com que – a que
d)a que – de que – com que – que
e)de que – a que – que – a que
16. (ITA) Assinalar a alternativa que corretamente preenche as lacunas:
Quando
dois dias disse
ela que ia
Itália para concluir meus estudos, pôs-se
a chorar.
a)a – a – a – a
b)há – à – à – a
c)a – à – a – à
d)há – a – à – a
e)há – a – a – à
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17. (FATEC) Segundo os princípios da norma culta, a
passagem em que falta preposição é:
Texto 2
Evocação do Recife
a)... aquele malvado de operário que viera, cachorro! dizer que estava com má sorte.
b)... Eu corri pra chorar (...), abafando os soluços no
travesseiro sozinho.
c)... era impossível saber o que havia em mim.
d)... um gosto maltratado (...) que eu sofria arrependido.
e)... justamente a que eu gostava.
“A vida não me chegava pelos jornais nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada...”
18. (ITA) Assinale a alternativa correta:
“O garoto, não dando
mínima
admoestação dos pais, agarrou-se
caixa destinada
decoração do pinheirinho e
jogou contra
menina que o provocara, na escola,
hora do recreio.”
BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2007.
a)à – à – à – à – a – à – a
b)a – à – à – a – a – à – a
c)a – à – à – à – a – a – à
d)a – à – a – à – à – à – à
e)a – a – a – à – a – à – à
19. (FCC) Assinale a alternativa correta:
O professor pediu
mim e
colega que trabalhássemos também
noite.
a)à – à – à
b)à – à – a
c)a – à – à
d)a – a – à
e)a – a – a
20. (PUC)
a)Explique o uso da crase em:
“Se estátuas em voo
à beira de um mar;”
b)Use a crase, quando necessário, nas orações a
seguir:
I. Não vai a festas nem a reuniões.
II.Chegamos a Universidade as oito horas.
21. (PAS-UPE)
Texto 1
Pronominais
Dê-me um cigarro
Diz a gramática
Do professor e do aluno
E do mulato sabido
Mas o bom negro e o bom branco
Da Nação Brasileira
Dizem todos os dias
Deixa disso camarada
Me dá um cigarro.
SCHWARTZ, Jorge (Org.). Literatura Comentada Oswald de
Andrade. São Paulo, Nova Cultural, 1985.
Considerando os textos 1 e 2, analise as afirmativas
a seguir:
I.Os textos tratam da mesma questão: um jeito
brasileiro de falar mais autêntico; livre da rigidez
normativa, que advém da tradição do idioma imposto desde a época da colonização. Em ambos
os casos, é explícita a exaltação à fala coloquial
defendida por outros modernistas, como Mário
de Andrade.
II.“Me dá um cigarro” é “língua errada”, mas é a representação da “língua certa do povo”, que se
opõe à “sintaxe lusíada”, referida por Bandeira,
poeta modernista, praticante da irregularidade
métrica e do lirismo repleto de cenas do cotidiano,
que oscilava entre a vida e a morte.
III.Em: “É macaquear / A sintaxe lusíada...”, há o que
se pode compreender como oposição à forma
exigida pela gramática normativa de “Dê-me um
cigarro”, de Oswald de Andrade, cuja produção
poética vai do penumbrismo simbolista à ironia e
ao humor do Movimento Pau-Brasil e da Antropofagia.
IV.“Ao passo que nós / O que fazemos / É macaquear
/ A sintaxe lusíada” são versos que expressam a
opinião do eu lírico sobre as diferenças existentes
entre o português falado pelo povo no Brasil e o
português falado pelos lusitanos. Isso deixa explícita a posição do eu lírico quando da comparação
entre os dois modos de perceber a língua.
V.“Porque ele é que fala gostoso o português do Brasil”
é um verso que traduz a ironia presente na literatura de Manuel Bandeira, fazendo notar que a
acidez do poeta o distancia do lirismo, já não
muito relevante em sua poesia densa e propensa
à crítica social.
Está correto o que se afirma em:
a)I, II e III.
b)I, II e IV.
c)II, III e IV.
d)II, III e V.
e)III, IV e V.
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22. (PAS-UPE) O projeto literário do Modernismo, inaugurado em 1922, com a Semana de Arte Moderna,
tinha como objetivo criar uma arte libertária, representativa da identidade nacional e da espontaneidade criativa. Os primeiros títulos, inspirados nos
princípios defendidos no Teatro Municipal de São
Paulo, em a Semana, foram Pauliceia Desvairada
(1922), de Mário de Andrade; Memórias Sentimentais de João Miramar (1923), de Oswald de Andrade,
e Ritmo Dissoluto (1924), de Manuel Bandeira, os
quais mostravam a conciliação da arte erudita com
a popular. Assinale a alternativa abaixo que apresenta um texto modernista, porém não produzido
pelos três autores citados.
a)“Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Abaixo os puristas
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis”
b)“Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena! Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português”
c)“Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...”
d)“Aprendi com meu filho de dez anos
Que a poesia é a descoberta
das coisas que nunca vi”
e)“Quando hoje acordei, ainda fazia escuro
(Embora a manhã já estivesse avançada)
Chovia
Chovia uma triste chuva de resignação
Como contraste ao calor tempestuoso da noite.
Então me levantei,
Bebi o café que eu mesmo preparei,
Depois me deitei novamente, acendi um cigarro e
[fiquei pensando...
– Humildemente, pensando na vida e nas mulheres
[que amei.”
23. (PAS-UNIUBE) Fräulein engole quase um remorso porque se apanha a divagar. Queixumes do deus encarcerado (...): a profissão dela se resume a ensinar primeiros
passos, a abrir olhos, de modo a prevenir os inexperientes da cilada das mãos dos rapaces. E evitar as doenças,
que tanto infelicitam o casal futuro. Profilaxia. (...). Mas
porém deverá parolar, quando mais chegadinho o convívio, sobre essas “meretrizes” que chupam o sangue do
corpo sadio. O sangue deve ser puro. Vejam por exemplo a Alemanha, que-dê raça mais forte? Nenhuma. E
justamente porque mais forte e indestrutível neles o
conceito da família. Os filhos nascem robustos. As mulheres são grandes e claras. São fecundas. O nobre destino do homem é se conservar sadio e procurar esposa
prodigiosamente sadia. De raça superior, como ela,
Fräulein. Os negros são de raça inferior. Os índios também. Os portugueses também.
Mas esta última verdade Fräulein não fala aos alunos. Foi decreto lido a vez em que um trabalho de
Reimer lhe passou pelas mãos: afirmava a inferioridade dos latinos. Legítima verdade, pois quem
é Reimer? Reimer é um grande sábio (...) É coisa
que se ensine o amor? Creio que não. Ela crê que
sim. (...). Quer mostrar que o dever supera os prazeres da carne, supera.
ANDRADE, Mário de. Amar, Verbo Intransitivo – Idílio.
16. ed. Belo Horizonte: Villa Rica, 1995.
Com base no fragmento acima, assinale a alternativa
incorreta:
a)A narrativa, nesse fragmento, é feita na terceira
pessoa, por um narrador onisciente (sabe de
tudo) e onipresente (está sempre presente).
b)Percebe-se claramente, nesse fragmento, que o
autor não se coloca dentro do livro para fazer
suas numerosas observações marginais (comentar, criticar, expor ideias, concordar ou discordar).
c)Andrade usa uma linguagem cheia de elipses que
obrigam o leitor a ligar e completar os pensamentos. Ao invés de dizer e de explicar tudo, apenas
sugere em frases curtas, mínimas.
d)Há uma referência ao racismo alemão, principalmente depois que Fräulein leu um trabalho de
Reimer, em que se afirmava a inferioridade da
raça latina.
e)Fräulein irá dirigir a sexualidade do rapaz contra
os perigos da cidade (corporificado no preconceito e na forma estereotipada com que Elza se
refere às prostitutas) e salvaguardar a pureza moral do corpo físico e social da nova geração da
burguesia.
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Senhoras:
24. (PAS-UNIUBE)
“Boião de leite
que a noite leva
com mãos de treva
pra não sei quem beber.
E que embora levado
bem devagarinho
vai derramando
pingos brancos
pelo caminho.”
Cassiano Ricardo
Em “... que a noite leva com mãos de treva” há a
mesma figura de linguagem presente em:
a)Os edifícios dançavam ao longe, sob a chuva
cinzenta.
b)Na escuridão da noite todos choravam rios de
lágrimas.
c)“Deus, ó Deus, onde estás que não respondes?”
d)“Sua boca era um pássaro escarlate.”
e)“Amor morto motor da saudade...”
25. (PAS-UNIUBE) Os primeiros modernistas dedicaram-se
especialmente à revisão da cultura brasileira e, em
uma perspectiva nacionalista e crítica, retomaram
momentos decisivos da história do Brasil. Ao mesmo
tempo, em suas obras, representaram o impacto da
cultura européia na dinâmica da vida urbana brasileira, nas primeiras décadas do século XX.
Marque a alternativa correta.
Em Brás, Bexiga e Barra Funda, Alcântara Machado:
a)desenvolve um estudo histórico e étnico-social
da raça italiana e seus descendentes no Brasil.
b)faz uma sátira aos costumes dos imigrantes italianos e alemães que trabalhavam no Brasil.
c) representa o sentimento nacionalista e xenófobo
de seus contemporâneos que não admitiam dividir a terra brasileira com os novos imigrantes
europeus.
d)representa aspectos da vida íntima, familiar e cotidiana dos novos mestiços brasileiros.
e)faz um alerta às autoridades políticas sobre o risco da hegemonia da cultura européia, em decorrência da imigração italiana, no Brasil.
26. (PAS-UNIUBE) Leia um trecho do capítulo IX da obra
Macunaíma, “Carta pras Icamiabas”.
“Às mui queridas súbditas nossas, Senhoras Amazonas.
Trinta de Maio de Mil Novecentos e Vinte e Seis,
São Paulo.
Não pouco vos surpreenderá, por certo, o endereço e a
literatura dessa missiva. Cumpre-nos, entretanto, iniciar estas linhas de saudade e muito amor, com desagradável nova. É bem verdade que na boa cidade de
São Paulo – a maior do universo, no dizer de seus prolixos habitantes – não sois conhecidas por “icamiabas”,
voz espúria, sinão que pelo apelativo de Amazonas; e
de vós, se afirma, cavalgardes ginetes belígeros e virdes
da Hélade clássica; e assim sois chamadas. Muito nos
pesou a nós, Imperator vosso, tais dislates da erudição
porém heis de convir conosco que, assim, ficais mais
heróicas e mais conspícuas, tocadas por essa plátina
respeitável da tradição e da pureza antiga”.
ANDRADE, Mário de. Macunaíma. Belo Horizonte:
Villa Rica Editoras Reunidas, 2000, p. 71.
A leitura do fragmento nos permite considerar corretas todas as alternativas, exceto:
a)Mário de Andrade utiliza-se da paródia, ora misturando português clássico (dos cronistas quinhentistas) com a linguagem falada, ora cometendo
erros gramaticais intencionalmente.
b)Mário de Andrade liberta a linguagem literária,
aproveitando termos indígenas, africanos e regionais, cria neologismos, para superar os galicismos e lusitanismos que proliferavam na literatura
brasileira.
c)Neste capítulo, Macunaíma escreve, às amigas
icamiabas, uma carta em português clássico, dando
notícias sobre a recuperação da muiraquitã.
d)O trecho lido é, na verdade, uma colagem de outro
livro feita pelo autor, para demonstrar sua indignação com a literatura que se fazia na época no Brasil.
27. (PAS-UNIUBE) Considere as seguintes afirmações
sobre a literatura brasileira no século XX:
I.O interesse pela paisagem nacional e pelos temas
ligados ao cotidiano, o verso livre e a linguagem
coloquial são procedimentos comuns à poesia
dos modernistas.
II.A Semana de Arte Moderna foi uma reação aos
ataques de poetas parnasianos que consideravam a obra dos primeiros poetas modernistas um
tanto incipiente.
III.Definem a poética de João Cabral de Melo Neto: a
elaboração de uma linguagem concisa, elíptica,
de acentuada economia de meios e a preocupação de fazer da imagem o núcleo do poema.
Está correto o que se afirma:
a)apenas em I.
b)apenas em I e III.
c)apenas em I e II.
d)em I, II e III.
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28. (PAS-UFSM) Manuel Bandeira relembra seu tempo de
menino e a profissão que seu pai escolhera para ele.
Criou-me, desde eu menino,
Para arquiteto meu pai.
Foi-se-me um dia a saúde...
Fiz-me arquiteto? Não pude!
Sou poeta menor, perdoai.
Em Manuel Bandeira, como o poema indica,
I.a questão biográfica, frequentemente, transforma-se em matéria poética.
II.o problema de saúde gera melancolia, decorrendo
daí as amarras simbolistas que caracterizam o
conjunto de sua obra.
III.‘‘poeta menor’’ é uma autodenominação de Bandeira, que tinha preferência pelo cotidiano e pelos gestos simples da existência.
Considerando os textos 1 e 2, assinale a alternativa
incorreta.
a)De acordo com o texto 1, o processo de colonização brasileira deixou marcas no português falado
daquela época, o que acontece até os dias atuais.
b)O texto 2 apresenta a possibilidade que os falantes têm de modificar a língua quando a utilizam.
c)O texto 1 aponta a colonização como o principal
fator que influi no sotaque de uma região, desconsiderando a possibilidade de modificação da
língua, temática presente no texto 2.
d)De acordo com os textos 1 e 2, a língua falada
pode ser modificada a todo momento e sofre diversas influências, como o modo de falar de pessoas de outros lugares ou a necessidade de comunicar dos falantes.
30. (PAS-UNIUBE)
Está(ão) correta(s)
Poética
a)apenas I e II.
b)apenas I e III.
c)apenas II.
d)apenas III.
e)I, II e III.
Estou farto do lirismo comedido
Do lirismo bem comportado
Do lirismo funcionário público com livro de ponto
[expediente protocolo e manifestações de apreço
[ao Sr. Diretor.
29. (PAS-UFVJM)
Texto 1
Colonização interferiu na fala do brasileiro.
Por que o sotaque muda conforme
as diferentes regiões do país?
O principal fator que influi no sotaque de uma região é a língua falada pelos nativos e por aqueles que
migraram pra lá. No Brasil, os colonizadores vieram de
muitos lugares, alterando a forma de falar em diferentes partes do país. Algumas influências foram fortes e
mais ou menos homogêneas, como é o caso dos negros, principalmente os bantos. Na língua banto não
há palavras com duas consoantes. Graças a essa influência, muitas vezes pneu transforma-se em “peneu”
e advogado vira “adevogado”.
Fonte: Revista Superinteressante, Nov. de 1996; Fragmento.
Texto 2
Neologismo
Manuel Bandeira
Beijo pouco, falo menos ainda.
Mas invento palavras
Que traduzem a ternura mais funda
E mais cotidiana.
Inventei, por exemplo, o verbo teadorar.
Intransitivo:
Teadoro, Teodora.
Estou farto do lirismo que para e vai averiguar no
[dicionário o cunho vernáculo de um vocábulo.
Abaixo os puristas.
Todas as palavras sobretudo os barbarismos universais
Todas as construções sobretudo as sintaxes de exceção
Todos os ritmos sobretudo os inumeráveis
Estou farto do lirismo namorador
Político
Raquítico
Sifilítico
De todo lirismo que capitula ao que quer que seja fora
[de si mesmo.
De resto não é lirismo
Será contabilidade tabela de co-senos secretário do
[amante exemplar com cem modelos de cartas e
[as diferentes maneiras de agradar às mulheres, etc.
Quero antes o lirismo dos loucos
O lirismo dos bêbados
O lirismo difícil e pungente dos bêbados
O lirismo dos clowns de Shakespeare.
– Não quero mais saber do lirismo que não é libertação.
BANDEIRA, Manuel. Libertinagem & Estrela da manhã.
Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2000. p. 32.
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7
Este poema pode ser considerado como um verdadeiro manifesto da estética defendida pelos modernistas. Relacionando o poema ao estilo de época a
que pertence, julgue (V) verdadeiras ou (F) falsas as
alternativas:
( ) Privilegia a contenção lírica, o vocábulo requintado e o culto da forma.
( )Satiriza o lirismo praticado por velhas escolas
literárias.
( ) Defende a subversão das regras gramaticais e a
espontaneidade do discurso.
( ) Caracteriza-se pela ironia, sarcasmo e irreverência.
Assinale a alternativa que contém a sequência correta:
a)F – V – V – V
b)V – F – F – F
c)V – F – F – V
d)F – V – V – F
31. (PAS-UNIUBE) Manuel Bandeira escreve:
A vida não me chegava pelos jornais
(nem pelos livros
Vinha da boca do povo na língua errada
(do povo
Língua certa do povo
Porque ele é que fala gostoso o português
(do Brasil.
Ao passo que nós
O que fazemos
É macaquear
A sintaxe lusíada.
Evocação do Recife. (in: Libertinagem)
Haroldo de Campos escreve:
“Defesa da inventividade popular (‘o povo é o inventa-línguas’, Maiakóvski) contra os burocratas da
sensibilidade, que querem impingir ao povo, caritativamente, uma arte oficial, de ‘boa consciência’, ideologicamente retificada, dirigida”.
E acrescenta:
“Mas o povo cria, mas o povo engenha, mas o povo
cavila. O povo é o inventa-línguas, na malícia da mestria, no matreiro da maravilha. O visgo do improviso,
tateando a travessia, azeitava o eixo do sol... O povo é
o melhor artífice”.
Circuladô de Fulô (in: Isto não é um livro de viagem)
Manuel Bandeira, no fragmento de Evocação do Recife, e Haroldo de Campos, no fragmento de Circuladô
de Fulô, enfocam a espontaneidade da “língua do
povo” e aspectos da inventividade presentes na
arte popular. Com base na leitura dos fragmentos,
analise as afirmativas a seguir e marque a opção
incorreta.
a)“Língua certa do povo/ Porque ele é que fala o
português do Brasil”, expressões de Manuel Bandeira, reforçam aspectos positivos da linguagem
popular. A crítica ao descaso por essa linguagem aparece mais nitidamente em “Ao passo
que nós/ O que fazemos/ é macaquear/ A sintaxe
lusíada”.
b)Haroldo de Campos dá mais ênfase à sua crítica,
enquanto se coloca em “defesa da inventividade
popular (...) contra os burocratas da sensibilidade, que querem impingir ao povo, caritativamente, uma arte oficial”. E elogia a inventividade da
linguagem popular quando afirma que “o povo é
o melhor artífice”.
c)Manuel Bandeira, como em geral todos os modernistas, criticou e denunciou as formas livres de
expressão, valorizando enormemente a chamada
“literatura oficial”, que chegava pelos jornais e livros, contrapondo a linguagem escrita à oral.
d)Nas afirmações “mas o povo cria, mas o povo
engenha, mas o povo cavila. O povo é o inventa-línguas, na malícia da mestria”, Haroldo de
Campos destaca a qualidade do falante que cria e
improvisa.
32. (PAS-UFSM) Macunaíma, de Mario de Andrade, é
considerado um livro revolucionário, porque compõe o perfil de um herói multifacetado e inspira-se
no folclore indígena da Amazônia, embora o espaço da narrativa não possa ser resumido à região
amazônica. Macunaíma:
I.é o símbolo do povo brasileiro e corresponde à
imagem do herói apresentada nos romances indianistas.
II.não tem caráter e, durante a narrativa, não há nenhuma referência a uma característica positiva da
personagem.
III.transforma-se durante a narrativa, assumindo as
feições das diferentes raças que deram origem ao
povo brasileiro (índio, negro e europeu).
Está(ão) correta(s):
a)apenas I.
b)apenas I e II.
c)apenas I e III.
d)apenas II e III.
e)apenas III.
33. (PAS-UFSM) Com as estéticas realista e naturalista,
que negavam a idealização romântica, inaugura-se
um novo olhar sobre o Brasil. Essa nova forma de
conhecer o país vai-se intensificar no pré-Modernismo
e culminará com a necessidade de resgatar a verdadeira alma nacional. No Modernismo,
201
8
a)os artistas concordavam com a ideia de que a
arte cristalizada e conservadora, baseada em antigos padrões, era coisa do passado.
b)as vanguardas surgem, no início do século XIX,
sem apresentarem um projeto próprio e sem
uma intenção em comum.
c) a produção artística se mostra, em 1922, de modo
ruidoso, enquanto o público rejeita as propostas,
que, no entanto, não rompiam com a tradição.
d)os artistas estavam mais preocupados em questionar as elites do que em professar uma autêntica
brasilidade.
e)todas as características do Romantismo voltam,
principalmente a idealização da mulher.
34. (PAS-UFAM) A respeito do Surrealismo, um dos movimentos de vanguarda relacionados ao Modernismo
brasileiro, pode-se afirmar:
a)Pierre Garnier, que o sistematizou, declarava que
as profundezas de nosso espírito abrigam forças
capazes de superar o aparente equilíbrio da superfície.
b)Sua história se confunde com a de seu líder,
Marinetti, que, em 1909, lançou em Paris o manifesto do movimento.
c)Teve como líder o romeno Tristan Tzara, que privilegiava a exploração do inconsciente, as narrações dos sonhos, as experiências hipnóticas.
d)Tendo como referência o pintor Picasso, seus
adeptos pregavam a deformação dos objetos naturais, privilegiando a subjetividade do artista.
e)André Breton, que lançou o manifesto do movimento em 1924, considerava o racionalismo
absoluto como algo absolutamente desprezível.
35. (PAS-UnB)
Com as Memórias Sentimentais de João Miramar,
Osvaldo de Andrade se incorporou praticamente ao
grupo dos modernistas brasileiros. Afinal, Os Condenados eram mais uma contemporização. No fundo
obra realista. Na forma, o discurso corria lento, arreado de bugingangas sonoras. (...) Com as Memórias
dentro da roupa, o corpo é já moderno. Subsiste, é certo, a formação analítico-realista. No fundo o eterno
sentimentalismo. Não faz mal. Sentimental é o brasileiro. Realista é Joyce.
Osvaldo de Andrade permitiu ao prefaciador das
Memórias Sentimentais que expusesse algumas intenções do escritor. Francamente construtivas. O livro
saiu a mais alegre das destruições. Quase dada. Pretendeu a “volta ao material”. Isso indicava respeitar o
material e trabalhá-lo. Ou pelo menos a apresentação
do material literário puro, em toda a sua infante virgindade.
Mário de Andrade. In: Oswald de Andrade. Memórias
Sentimentais de João Miramar. São Paulo: Globo, 2004, p. 8-9.
À guisa de prefácio
João Miramar abandona momentaneamente o
periodismo para fazer sua entrada de homem moderno na espinhosa carreira de letras. E apresenta-se
como o produto improvisado, e portanto imprevisto e
quiçá chocante para muitos, de uma época insofismável de transição. Como os tanks, os aviões de bombardeio sobre as cidades encolhidas de pavor, os gases asfixiantes e as terríveis minas, o seu estilo e a sua
personalidade nasceram das clarinadas caóticas da
guerra.
Porque eu continuarei a chamar guerra a toda
esta época embaralhada de inéditos valores e clangorosas ofensivas que nos legou o outro lado do Atlântico
com as primeiras bombardas heroicas da tremenda
conflagração europeia.
Machado Penumbra. In: Oswald de Andrade. Memórias
Sentimentais de João Miramar. São Paulo: Globo, 2004, p. 69.
Entrevista entrevista
— Com que então o ilustre homem pátrio de letras
não prossegue suas interessantíssimas memórias?
— Não.
— Seria permitido ao grosso público ledor não
ignorar as razões ocultas da grave decisão que prejudica assim a nossa nascente literatura?
— Razões de estado. Sou viúvo de D. Célia.
— Daí?
— Disse-me o dr. Mandarim que os viúvos devem
ser circunspectos.
— O dr. Mandarim, com perdão da palavra, é uma
besta!
— Engano seu. (...) Adoto-o.
Oswald de Andrade. Memórias Sentimentais
de João Miramar. São Paulo: Globo, 2004, p. 69.
Considerando os fragmentos acima bem como o
romance Memórias Sentimentais de João Miramar,
de Oswald de Andrade, julgue os itens a seguir:
( ) No que se refere à estrutura linguística, o prefácio de Machado Penumbra apresenta crítica à
linguagem parnasiana, o que permite afirmar
que, nesse caso, há coincidência entre as opiniões de João Miramar, Machado Penumbra e
Oswald de Andrade.
201
9
( ) Machado Penumbra parte da premissa de que
o romance prefaciado é criação singular de um
indivíduo dotado de genialidade, razão pela
qual estaria aterrorizando a sólida tradição
clássica.
( ) Da análise da situação de fala que envolve o entrevistador e João Miramar, depreende-se a
orientação ideológica oswaldiana no sentido de
crítica a determinada concepção de língua portuguesa em que prevaleciam padrões de correção e erudição.
36. (PAS-UNIUBE) “Voltou à alcova. Luísa permanecia na
sua modorra; a manga do chambre arregaçada descobria o braço mimoso, com a sua penugem loura; a face
escarlete reluzia; as pestanas longas pousavam pesadamente, no adormecimento das pálpebras finas; um
anel do cabelo caíra-lhe sobre a testa, e pareceu a Jorge
adorável e tocante com aquela cor, a expressão de febre. Pensou, sem saber por que, que outros a deveriam
acha linda, desejá-la, dizer-lho, se pudessem... Para que
lhe escreviam da França? Quem?”
QUEIRÓS, Eça de. O Primo Basílio, São Paulo:
Editora Martin Claret, 2002, p. 351.
O discurso indireto livre é um dos aspectos importantes do estilo de Eça de Queirós e do Realismo.
Assinale a alternativa em que ocorre esse tipo de
discurso:
a)“Voltou à alcova.”
b)“... a face escarlete reluzia...”
c)“... um anel do cabelo caíra-lhe sobre a testa...”
d)“Para que lhe escreviam da França”?
37. (PAS-UNIUBE)
Conversinha mineira
– É bom mesmo o cafezinho daqui, meu amigo?
– Sei dizer não senhor: não tomo café.
– Você é dono do café, não sabe dizer?
– Ninguém tem reclamado dele não senhor.
– Então me dá café com leite, pão e manteiga.
– Café com leite só se for sem leite.
– Não tem leite?
– Hoje, não senhor.
– Por que hoje não?
– Porque hoje o leiteiro não veio.
– Ontem ele veio?
– Ontem não.
[...]
SABINO, Fernando. Conversinha Mineira In: Para Gostar de Ler.
Crônicas. v. 5. São Paulo: Ática. p. 28.
Após a leitura do fragmento, analise as afirmativas a
seguir. Marque V para verdadeiro e F para falso:
( )O discurso indireto é usado para caracterizar a
forma de falar dos mineiros.
( )O dono do estabelecimento restringe-se em
responder as perguntas do cliente, mostrando
ser uma pessoa comedida e reservada.
( )As respostas curtas e objetivas, do dono do estabelecimento, remetem-nos à mineiridade.
( ) O dono do estabelecimento tenta enganar o
cliente, com respostas curtas.
Em seguida, assinale a afirmativa correta:
a)V – V – V – V
b)V – V – F – F
c)F – V – V – F
d)F – V – V – V
e)F – F – V – V
(PAS-UNIUBE) O fragmento de texto, a seguir, pertence ao livro Quarto de despejo, escrito por Carolina de Jesus. Leia-o para responder à questão 38.
“20 DE MAIO, O dia vinha surgindo quando eu deixei
o leito. A Vera despertou e cantou. E convidou-me
para cantar. Cantamos. O João e o José Carlos tomaram parte.
Amanheceu garoando. O Sol está elevando-se. Mas o
seu calor não dissipa o frio. Eu fico pensando: tem epoca
que é o Sol que predomina. Tem epoca que é a chuva.
Tem epoca que é o vento. Agora é a vez do frio. E entre
eles não deve haver rivalidades. Cada um por sua vez.
Abri a janela e vi as mulheres que passam rapidas
com seus agasalhos descorados e gastos pelo tempo.
Daqui a uns tempos estes palitol que elas ganharam de
outras e que de há muito devia estar num museu, vão
ser substituidos por outros. É os politicos que há de nos
dar. Devo incluir-me, porque eu tambem sou favelada.
Sou rebotalho. Estou no quarto de despejo, e o que está
no quarto de despejo ou queima-se ou joga-se no lixo.
... As mulheres que eu vejo passar vão nas igrejas
buscar pães para os filhos. Que o Frei Luiz lhes dá, enquanto os esposos permanecem debaixo das cobertas. Uns porque não encontram emprego. Outros porque estão doentes. Outros porque embriagam-se.
... Eu não preocupo-me com os homens delas. Se
fazem bailes eu não compareço porque não gosto de
dançar. Só interfiro-me nas brigas onde prevejo um
crime. Não sei a origem desta antipatia por mim. Com
os homens e as mulheres eu tenho um olhar duro e
frio. O meu sorriso, as minhas palavras ternas e suaves,
eu reservo para as crianças.”
JESUS, Carolina Maria de. Quarto de Despejo.
8 ed. São Paulo: Ática, 2001. p. 33-34.
201
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38. Identifique dois traços característicos da escrita de
Carolina que se encontram presentes nesse fragmento e marque a alternativa correta.
a)Aproveitamento da escrita de outros; emprego do
discurso indireto;
b)Utilização de gírias; predomínio de marcas temporais;
c)Predomínio de descrição; emprego de neologismos;
d)Alternância entre língua culta e língua coloquial;
aproximação de contrastes;
e)Ausência de comparações; uso intenso de intertextualidade.
(PAS-UNIUBE) Leia com atenção o fragmento para
responder à questão 39.
Sempre fui de muito ler, não por virtude, mas porque em nossa casa livro era um objeto cotidiano,
como o pão e o leite. Lembro de minhas avós de livro
na mão quando não estavam lidando na casa. Minha
cama de menina e mocinha era embutida em prateleiras. Criança insone, meu conforto nas noites intermináveis era acender o abajur, estender a mão, e ali
estavam os meus amigos. Algumas vezes acordei minha mãe esquecendo a hora e dando risadas com a
boneca Emília, de Monteiro Lobato, meu ídolo em
criança: fazia mil artes e todo mundo achava graça.
Lya Luft . Brasileiro não gosta de ler? Revista Veja, 12/08/09.
39. De modo geral, os textos apresentam certas especificidades que nos permitem um imediato reconhecimento de sua tipologia. Assim, é correto dizer que
o fragmento de Lya Luft trata-se de:
a)um texto descritivo que caracteriza pessoas da
mesma família e faz uso de uma linguagem objetiva e denotativa.
b)um texto narrativo que envolve personagens,
tempo e espaço, com uso de discurso indireto.
c)um texto dissertativo expositivo com informações
sobre a vida de crianças leitoras e seus brinquedos.
d)um texto dissertativo argumentativo em que se
apresentam opiniões que tentam convencer o
leitor sobre a importância da leitura.
e)um texto injuntivo que orienta e aconselha as mães
a respeito de bonecas, livros e amigos dos filhos.
40. (PAS-UNIUBE)
Texto A
“Retórica dos namorados, dá-me uma comparação exata e poética para dizer o que foram aqueles
olhos de Capitu. Não me acode imagem capaz de
dizer, sem quebra da dignidade do estilo, o que eles
foram e me fizeram. Olhos de ressaca? Vá, de ressaca.
É o que me dá ideia daquela feição nova. Traziam não
sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro, como a vaga que se retira da
praia nos dias de ressaca. Para não ser arrastado,
agarrei-me às outras partes vizinhas, às orelhas, aos
braços, aos cabelos espalhados pelos ombros; mas
tão depressa buscava as pupilas, a onda que saía delas vinha crescendo, cava e escura, ameaçando envolver-me, puxar-me, tragar-me.”
ASSIS, Machado de. Dom Casmurro,
São Paulo: Scipione, 1997, p. 37.
Texto B
“Não, ele não sabia a que comparar aqueles olhos
de Capitu. Olhos de ressaca? Isso mesmo, de ressaca: é
o que lhe dava ideia aquela feição nova. Traziam não
sabia que fluido misterioso e enérgico, uma força que
arrastava para dentro, como a onda que se retira da
praia, nos dias de ressaca. Para não ser arrastado, ele
se agarrou às partes vizinhas, às orelhas, aos braços,
aos cabelos espalhados pelos ombros.
Tão logo, porém, voltava aos olhos, a onda que
saía deles vinha crescendo, cava e escura, ameaçando
envolvê-lo, puxá-lo e tragá-lo”.
SABINO, Fernando. Amor de Capitu,
São Paulo: Ática, 1998, p. 53.
Relacionando os dois textos, todas as alternativas
estão corretas, exceto:
a)O texto A, narrado em primeira pessoa, mostra-se
mais intenso na descrição, demonstrando a emoção do narrador diante dos olhos da amada.
b)O texto B, narrado em terceira pessoa, recorre ao
discurso indireto livre para expressar a sensação
da personagem diante dos olhos da amada.
c)Os dois textos apresentam semelhança quanto
ao foco narrativo, indicando alterações apenas
na forma de contar o fato.
d)O texto A revela uma preocupação do narrador
quanto ao estilo, enquanto o texto B apenas narra,
sem preocupar-se com originalidade.
41. (PAS-UnB)
Tibério estava de tal modo entusiasmado com a
vitória de seu candidato que, para pasmo geral da família e dos amigos, resolveu “dar um pulo” a Brasília
para assistir à posse do presidente que ajudara a eleger. Passou três dias na chamada “nova capital”.
Quando voltou para Antares, um dos filhos lhe perguntou:
— Que tal Brasília?
— Uma bosta. Não sei por que escolheram aquele
lugar pra essa tal de Novacap. Decerto muita gente
201
11
andou ganhando dinheiro por baixo do poncho da
transição. Não vi nada que justificasse a escolha. Naquelas paragens, só existem arbustos minguados, nenhuma árvore de mérito. Terra porosa. É como se Brasília tivesse sido construída em cima dum cupim. E sabem
duma coisa? Naquele deserto, nem passarinho tem!
— E que nos diz do Jânio?
— Temos que primeiro esperar, para ver o que o
homem faz.
(...)
No dia 25 de agosto de 1961, exatamente sete anos
e um dia do suicídio de Getúlio Vargas, chegou a Antares a notícia de que Jânio Quadros acabava de apresentar ao Congresso Nacional a sua renúncia ao cargo
de presidente da República. Dona Briolanja Vacariano,
com palpitações de coração, fez o que nunca jamais
fizera em toda a sua vida de esposa exemplar: acordou o marido da sesta vinte minutos antes da hora
marcada e deu-lhe a notícia.
(...)
Tibério Vacariano estava perturbado. “Agora temos
de engolir Jango Goulart como presidente”, pensava. “É
o fim da picada! É o fim da picada!” E, repetindo esta frase, ele atravessou a praça em diagonal e entrou na sede
do diretório do PSD, onde só encontrou caras alarmadas
e interrogativas. Um dos seus correligionários disse: —
Segundo a Constituição, o Jango tem de assumir.
— A Constituição que vá pro diabo!
Érico Veríssimo. Incidente em Antares.
São Paulo: Círculo do Livro, p. 113-14.
Tendo como referência os trechos acima, extraídos
da obra Incidente em Antares, de Érico Veríssimo, julgue o item seguinte.
( ) Nos fragmentos apresentados da obra Incidente
em Antares, verifica-se o emprego do discurso
direto, recurso que permite presentificar a fala e
as opiniões do personagem Tibério Vacariano,
as quais, embora não totalmente em favor da
eleição, expressam o ponto de vista da classe
dominante da cidade de Antares.
42. (PAS-UnB)
Bonitão (autoritário) — Marli, me obedeça!
Marli — Está querendo bancar o machão na frente dela?
(...)
Bonitão (segura Marli por um braço, violentamente)
— Vamos para casa!
Marli — Não! Primeiro quero tirar isso a limpo. Quero
que essa vaca saiba que você é meu. (com orgulho)
Meu! (grita para Rosa) Esta roupa foi comprada com o
meu dinheiro! Esta e todas que ele tem!
Bonitão (perde a paciência, ameaçador) — Se você
não for para casa imediatamente, nunca mais eu deixo você me dar nada!
Marli (deixando-se arrastar por ele na direção da direita) — Ele é meu, ouviu? Fique com seu beato e deixe
ele em paz! É meu homem! É meu homem!
Dias Gomes. O pagador de promessas. Rio de Janeiro,
Ediouro, 2005, p. 59.
A partir do fragmento acima, julgue o item a seguir.
( ) Predominam, no fragmento acima, as seguintes
funções da linguagem: função emotiva, evidenciada na alta expressividade dos personagens; e
função apelativa, manifesta por meio do emprego do modo imperativo e da segunda pessoa do discurso.
43. (PAS-UnB)
Quando em 1934 o Brasil adotou uma nova Constituição e Getúlio Vargas foi eleito Presidente da República pela Assembleia Constituinte, por um período de
quatro anos, Tibério Vacariano fez sua primeira visita
ao Rio de Janeiro. Teve um rápido colóquio com o Presidente, que o recebeu com afabilidade, no Palácio do
Catete, declarando-lhe: “O senhor, coronel, é o meu
homem de confiança em Antares”. Tibério aproveitou
a oportunidade para conseguir com o chefe da nação
bons empregos em repartições públicas federais para
alguns de seus parentes e amigos. Fez esses pedidos
como quem quer dar a entender que ele, Vacariano,
não queria nada para si mesmo, pois “Deus me livre,
Presidente, de abusar duma amizade...”.
Érico Verissimo. Incidente em Antares.
São Paulo: Globo, 1991, p. 43.
Considerando o fragmento de texto acima e o romance Incidente em Antares, do qual ele faz parte,
bem como a amplitude do tema que ele aborda,
julgue o item a seguir.
( )A frase em discurso direto ao final do texto foi
recurso produtivo para o efeito de ironia.
44. (PAS-UFU) Texto para as questões 44 e 45.
Texto 1
Caboclo é bão de enxada
"Entre as raças de variado matiz, uma existe a
vegetar de cócoras, incapaz da evolução. Feia e
sorna, nada a põe de pé." Jeca Tatu, de Monteiro
Lobato, um caipira dito atrasado e cheio de vadia5 gem, resolveu garrar na enxada, cuspir na palma
da mão e vir espiar o que andam espalhando a respeito da sua pessoa por aí. O caipira é do jeito que
é, assim meio quietão, e tem lá suas razões. O so201
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ciólogo José de Souza Martins rebate as palavras de
Lobato: ”O caipira preguiçoso estereotipado contrasta radicalmente com a profunda valorização do
trabalho entre as populações caipiras do Alto Paraíba,
nas vizinhanças da mesma região montanhosa em
que Lobato trabalhou“. Ou seja, quem enxerga o
caipira como quem não tem o que fazer deve estar é
ruim das vistas. Nunca vi, que nem o sitiante, sujeito
tão ligeiro pra carpir uma roça e cuidar dos bichos,
nem tão disposto a ajudar a vizinhança num mutirão pra colheita. Cheio de honra na sua palavra, o
Jeca recebe de bom grado a mesma ajuda que, a
troco de serviço, retribui no sítio dos parceiros. Porque na roça é tudo assim: trabalho é o que não falta
e o que se recebe é pra Deus.
Nada de vadiagem pra quem abriu esse Brasil na
enxada e na coragem. O professor Antonio Candido
explica melhor: “Da formação histórica de São Paulo
resultou uma sociedade cujo tipo humano ideal foi o
aventureiro, [...] irmanando-se na vida precária imposta pela mobilidade [...] que deixou no caipira
certa mentalidade de acampamento”. Na beira dos
desbravadores do tempo das Bandeiras, o lavrador
desbandeirizado foi ficando pelas veredas, capengando no ócio. Marginalizados, se tornariam agregados dos afazendados na cana, fincando pé como
sitiantes nas roças de toco, cuidando só do de comer
e lavrando assim a raiz da cultura caipira.
BRASIL – Almanaque de Cultura Popular – TAM.
Ano 10, no 110, Junho – 2008. p. 20.
De acordo com o Texto 1, marque para as alternativas
abaixo (V) Verdadeira, (F) Falsa ou (SO) Sem Opção.
1.( )O texto dialoga com o estereótipo negativo
do caipira de modo a contestá-lo; para tanto,
o autor do texto, ao atribuir ao caipira características positivas, estabelece uma relação
de sinonímia entre as designações Jeca Tatu,
caipira, caboclo e sitiante.
2. ( ) No texto, a expressão “ou seja” (linha 14), além
de estabelecer uma relação de equivalência
de sentido entre dizeres, expande o que é
dito no enunciado anterior, por meio de um
exemplo generalizante.
3. ( ) A mesma opinião sobre o caipira é apresentada no texto, por meio do uso de discursos diretos atribuídos a diferentes autores.
4.( )No texto, usam-se os dois-pontos (linha 22)
para indicarem a introdução de discurso direto
e para explicarem um termo antecedente e se
usam reticências entre colchetes (linha 28) para
indicarem a supressão de trechos no texto.
45. Texto 2
As mariposa
As mariposa quando chega o frio
fica dando vorta em vorta da lâmpida pra si isquentá
Elas roda, roda, dispois si senta
Em cima do prato da lâmpida pra discansá
5 Eu sou a lâmpida
E as muié é as mariposa
Que fica dando vorta em vorta de mim
Todas as noites, só pra mi beijá
− Boa noite, lâmpida!
10 − Boa noite, mariposa!
− Pelmita-me oscular-lhe as alfácias?
− Pois não, mas rápido porque daqui a pouco eles mi
[apaga.
Adoniran Barbosa. As mariposa.
In: Série Bis: Adoniran Barbosa. São Paulo, 2005.
Compare o Texto 1 com o Texto 2 e, em seguida,
marque para as alternativas abaixo (V) Verdadeira,
(F) Falsa ou (SO) Sem Opção.
1.( ) A temática dos Textos 1 e 2 permite levar para
espaços reservados (o do texto jornalístico e o
do texto poético), principalmente, à norma padrão, uma variedade linguística estigmatizada,
o que é uma forma de valorá-la positivamente.
2.( ) Há nos Textos 1 e 2 a alternância de uso das
variedades linguísticas padrão e não-padrão.
Como exemplo de uso da variedade padrão,
tem-se no Texto 1: “Nunca vi, que nem o sitiante, sujeito tão ligeiro pra carpir [...]” (linhas
16-17) e, no Texto 2: “Todas as noites, só pra
mi beijá” (linha 08). Como exemplo de uso da
variedade não-padrão, tem-se no Texto 1:
“Jeca Tatu [...] resolveu garrar na enxada [...]”
(linhas 03-05) e, no Texto 2: “E as muié é as
mariposa.” (linha 06)
3.( ) Embora os autores empreguem nos dois textos o discurso direto com a mesma intenção
comunicativa, esses são marcados diferentemente: no Texto 1, pelo uso das aspas e, no
Texto 2, pelo uso do travessão.
4.( ) O Texto 1 e o 2 apresentam como tema grupos sociais marginalizados. Esses grupos são
descritos a partir de uma perspectiva positiva.
No entanto, a descrição dos mesmos se faz
de forma diferente: enquanto no Texto 1, o
caipira é descrito a partir da comparação de
duas imagens antagônicas atribuídas a ele,
no Texto 2, as meretrizes são descritas a partir
do uso de metáfora.
201
13
46. (PAS-UFU)
Os seres humanos são muito diferentes. Variam na
cor da pele, na altura, na forma dos olhos, no cabelo, no
sexo e em muitas outras características físicas. Nós diferimos também em nossas crenças religiosas, nossos valores, nossos modos de estabelecer os laços familiares,
no modo como assumimos os papéis de homem e mulher e em tantos outros aspectos da organização da
vida em sociedade. Também somos diversos nas características de nosso mundo subjetivo. Dentro de uma
sociedade, ainda, o acesso às riquezas materiais e simbólicas resulta em diferentes possibilidades de organizar a vida. Isso sem falar naquelas diferenças que existem entre povos que vivem dentro de uma mesma
nação e naquelas que existem entre nações.
Nesse sentido, uma questão bastante intrigante
surge: por que nós, humanos, embora sejamos uma
única espécie biológica, desenvolvemos modos de
vida tão diferentes e conflitantes? Ao se explorar algumas possibilidades de explicação, pode-se pensar também nas formas de convívio com as diferenças humanas para o desenvolvimento de nosso modo de viver.
Nós não nascemos inteiramente prontos para viver.
Ao contrário, só nos tornamos de fato humanos na medida em que convivemos e aprendemos com outras
pessoas em uma dada cultura. Por meio desse aprendizado na vida social, formamos nossa personalidade e
elaboramos nossos planos de vida, nossos sentimentos
e desejos. Nossa vida só pode acontecer verdadeiramente se participarmos de um mundo cultural, se partilharmos um conjunto de referências sociais.
Todas as culturas humanas criaram modos de viver
coletivamente, de organizar sua vida política, de se relacionar com o meio ambiente, de trabalhar, distribuir
e trocar as riquezas que produzem. Mais ainda, todos
os povos desenvolveram linguagens, manifestações
artísticas e religiosas, mitologias, valores morais, vestuários e moradias. Portanto, a pluralidade cultural
indica, antes de tudo, um acúmulo de experiências humanas e das conquistas humanas que é patrimônio de
todos nós, pois pode enriquecer nossa vida ao nos ensinar diferentes maneiras de existir socialmente e de
criar o futuro. No entanto, nem todas as diferenças são
positivas. Quando elas se transformam em desigualdades precisam ser encaradas criticamente.
Dentro das sociedades e entre povos há relações
de desigualdade e dominação em que alguns grupos
sociais acumulam bens materiais, saberes, prestígio e
poder ao mesmo tempo em que impedem o amplo
acesso de outros grupos a essas riquezas. Essa desigualdade é nefasta, porque, se alguns grupos em uma
sociedade ou algumas culturas se afirmam em detrimento de outras, é sinal de que uma parcela dessa diversidade está sendo reprimida, constrangida ou até
mesmo eliminada.
A importância de imperativos éticos válidos mundialmente e que assegurem o direito à manifestação
da diversidade cultural fica ainda mais clara se levarmos em conta que nenhuma cultura humana se desenvolveu sem estabelecer relações de troca, aproximação e diferenciação com seus vizinhos. Muitas
mudanças nos modos de viver de um grupo não ocorreram a partir de alguma necessidade do próprio grupo, mas, sim, da necessidade de imitação ou de diferenciação em relação a outro grupo. Entretanto, além
de proporcionar o intercâmbio de valores, línguas,
conhecimentos, instrumentos e artes, esse convívio
pode, muitas vezes, se manifestar de forma violenta,
com uso de dominação e marcada por preconceitos.
Uma das fontes de tratamento preconceituoso e
discriminatório para outras culturas é a crença de que
as sociedades que tiveram um maior desenvolvimento
técnico e econômico são superiores às outras. Essa
crença se baseia na ideia de que o progresso tecnológico e o crescimento econômico são sinônimos de
desenvolvimento civilizatório e um salto evolutivo da
humanidade. É verdade que o aprimoramento das
técnicas e das relações econômicas aumentou sem
dúvida a nossa capacidade de ação sobre a natureza.
Há que se questionar, no entanto, se esse desenvolvimento representa, por si só, um avanço qualitativo da
vida humana.
Salta aos olhos a evidente contradição entre as
enormes possibilidades de vida geradas pelo progresso
tecnológico e econômico e a miséria em que vive parte
expressiva da humanidade. Ao longo da história ocidental, embora a invenção de novas tecnologias respondesse às necessidades humanas que surgiam, ela
tem sido associada prioritariamente ao aumento da
eficiência na produção de mercadorias.
Além disso, o desenvolvimento tecnológico e econômico que se verifica em alguns países capitalistas responde apenas à parte das necessidades humanas. Se
considerarmos critérios diferentes, observamos que outros povos, em alguns campos, atingiram graus de
desenvolvimento indiscutivelmente mais sofisticados do
que as sociedades ocidentais. As civilizações do Oriente
e do Extremo-Oriente desenvolveram conhecimentos
extremamente complexos sobre o corpo humano. Os
povos indígenas do Brasil Central e da Amazônia detêm
conhecimentos valiosos sobre a floresta e seus mistérios. Constata-se, assim, que não há um único modo de
organizar a existência nem de fazer a história.
A pluralidade cultural é também um foco constante
de conflitos, pois traz consigo concepções que questionam profundamente nossas crenças e valores. Por
esse motivo, a realização das possibilidades de desenvolvimento humano depende do enfrentamento de
um desafio: como reconhecer o direito à diversidade
quando há discordância de condutas e pensamentos?
201
14
Para dar conta disso, tem havido um esforço grande
para se desenvolver uma ética universal que afirme
valores morais para a regulação do comportamento
entre os diversos grupos culturais e as pessoas que
manifestam essas diferenças.
A formação histórica brasileira é marcada pela
atuação de muitos povos, culturalmente muito diversos. Somos um povo que se vê como pertencente a uma
nação e a um Estado, é verdade. Entretanto, há uma
vasta pluralidade cultural entre nós, que se expressa,
por exemplo, nas diferenças entre os modos de viver do
Norte e do Sul, do litoral e do Centro-Oeste, entre os grupos originários de outros continentes, entre as populações rurais e urbanas, entre os jovens e os adultos, entre
os meios letrados e as manifestações da tradição oral.
Existe entre nós uma riqueza de experiências humanas que constitui um dos maiores patrimônios nacionais. Entretanto, o predomínio da discriminação,
as imensas desigualdades sociais, políticas e econômicas, os preconceitos e a intolerância reduzem muito
as possibilidades de essa pluralidade se manifestar.
Por isso criar condições para a afirmação da pluralidade que marca nossa formação cultural é a melhor
maneira de compartilhar esse acervo de experiências
humanas, esse patrimônio cultural existente no Brasil.
Assim podemos encontrar respostas inesperadas aos
limites e às potencialidades do presente e abrir novos
caminhos para o nosso futuro.
Disponível em: <http://www.educarede.org.br/educa/index.
cfm?pg=oassuntoe.interna&id_tema=10&id_subtema=1>.
Acesso em: 12 de set. 2010. (Texto modificado)
Marque, para as afirmativas abaixo, (V) Verdadeira,
(F) Falsa ou (SO) Sem Opção.
1.( ) No texto, há a adesão explícita à ideia de que
por meio da ética é possível respeitar, aceitar
e valorizar as diferenças culturais.
2.( ) A noção semântica de proporcionalidade está
presente no seguinte trecho: “[...] só nos tornamos de fato humanos na medida em que
convivemos e aprendemos com outras pessoas em uma dada cultura.” (Parágrafo 3o)
3. ( ) Pelo uso do discurso na 1a pessoa do plural, o
autor evita o tom impositivo e muito pessoal
e confere distanciamento entre autor e leitor.
4.( )O último parágrafo do texto se desenvolve
como ilustração da opinião do autor, desenvolvida no parágrafo anterior.
47. (PAS-UFPB) A questão abaixo pode apresentar mais
de uma afirmativa correta.
1
Casa de Pensão (fragmento)
Às oito horas, quando entrou em casa tinha já
resolvido não ficar ali nem mais um dia. − Era fazer
as malas e bater quanto antes a bela plumagem!
Mas também, se por um lado não lhe convinha
ficar em companhia do Campos; por outro, a ideia
de se meter na república do Paiva não o seduzia
absolutamente. Aquela miséria e aquela desordem
lhe causavam repugnância. Queria liberdade, a
boêmia, a pândega − sim senhor! tudo isso, porém,
10 com um certo ar, com uma certa distinção aristocrática. Não admitia uma cama sem travesseiros,
um almoço sem talheres e uma alcova sem espelhos. Desejava a bela crápula, − por Deus que desejava! mas não bebendo pela garrafa e dormindo
15 pelo chão de águas-furtadas! − Que diabo! − não
podia ser tão difícil conciliar as duas coisas! ...
Pensando deste modo, subiu ao quarto. Sobre a
cômoda estava uma carta que lhe era dirigida;
abriu-a logo:
5
20
“Querido Amâncio.
Desculpe tratá-lo com esta liberdade; como,
porém, já sou seu amigo, não encontro jeito de
lhe falar doutro modo. Ontem, quando combinamos no Hotel dos Príncipes a sua visita para do25 mingo, não me passava pela cabeça que hoje era
dia santo e que fazíamos melhor em aproveitá-lo;
por conseguinte, se o amigo não tem algum compromisso, venha passar a tarde conosco, que nos
dará com isso grande prazer. Minha família, depois
30 que lhe falei a seu respeito, está impaciente para
conhecê-lo e desde já fica à sua espera.”
Assinava “João Coqueiro” e havia o seguinte
post-scriptum: “Se não puder vir, previna-mo por
duas palavrinhas; mas venha. Resende n ... ”
Amâncio hesitou em se devia ir ou não. O Co35
queiro, com a sua figurinha de tísico, o seu rosto
chupado e quase verde, os seus olhos pequenos e
penetrantes, de uma mobilidade de olho de pássaro,
com a sua boca fria, deslabiada, o seu nariz agudo, o
40 seu todo seco egoísta, desenganado da vida, não
era das coisas que mais o atraíssem. No entanto,
bem podia ser que ali estivesse o que ele procurava,
− um cômodo limpo, confortável, um pouquinho de
luxo, e plena liberdade. Talvez aceitasse o convite.
45
− Esta gente onde está? perguntou, indicando o
andar de cima a um caixeiro que lhe apareceu no
corredor, com a sua calça domingueira, cor de alecrim, o charuto ao canto da boca.
− Foram passear ao Jardim Botânico, respon50 deu aquele, descendo as escadas.
− Todos? ainda interrogou Amâncio.
− Sim, disse o outro entre os dentes, sem voltar o
rosto. E saiu.
201
15
− Está resolvido! pensou o estudante. − Vou à
casa do Coqueiro. Ao menos estarei entretido durante esse tempo!
E voltando ao quarto:
− Não! É que tudo ali em casa do Campos já lhe
cheirava mal!... Olhassem para o ar impertinente
60 com que aquele galeguinho lhe havia falado! ... E
tudo mais era pelo mesmo teor. − Uma súcia d'asnos!
Começou a vestir-se de mau humor, arremessando a roupa, atirando com as gavetas. O jarro
vazio causou-lhe febre, sentiu venetas de arrojá-lo
65 pela janela; ao tomar uma toalha do cabide, porque ela se não desprendesse logo, deu-lhe tal empuxão que a fez em tiras.
− Um horror! resmungava, a vestir-se furioso,
sem saber de quê.
70
− Um horror!
E, quando passou pela porta da rua, teve ímpetos de esbordoar o caixeiro, que nesse dia estava de
plantão.
55
AZEVEDO, Aluísio. Casa de Pensão.
São Paulo: Ática, 2009, p. 59-60.
No fragmento “– Era fazer as malas e bater quanto antes a bela plumagem!” (linhas 2-3), o narrador faz uso
do discurso indireto livre. Identifique os fragmentos
em que ocorre essa mesma forma de discurso:
I.“Aquela miséria e aquela desordem lhe causavam
repugnância.” (linhas 7-8)
II.“Queria liberdade, a boêmia, a pândega – sim senhor! tudo isso, porém, com um certo ar, com uma
certa distinção aristocrática.” (linhas 8-11)
III.“Desejava a bela crápula, – por Deus que desejava!
mas não bebendo pela garrafa e dormindo pelo
chão de águas-furtadas!” (linhas 13-15)
IV.“Sobre a cômoda estava uma carta que lhe era dirigida; [...]” (linhas 17-18)
V.“– Foram passear ao jardim Botânico, respondeu
aquele, descendo as escadas.” (linhas 49-50)
48. (PAS-UFS)
Poema I
Lira XVIII
Não vês aquele velho respeitável,
Que, à muleta encostado,
Apenas mal se move, e mal se arrasta?
Oh! quanto estrago não lhe fez o tempo,
O tempo arrebatado,
Que o mesmo bronze gasta.
Enrugaram-se as faces e perderam
Seus olhos a viveza;
Voltou-se o seu cabelo em branca neve
Já lhe treme a cabeça, a mão, o queixo,
Não tem uma beleza
Das belezas que teve.
Assim também serei, minha Marília,
Daqui a poucos anos,
Que o ímpio tempo para todos corre.
Os dentes cairão e os meus cabelos,
Ah! sentirei os danos,
Que evita só quem morre.
Poema II
A Maria de Povos, sua futura esposa
Discreto e formosíssima Maria,
enquanto estamos vendo a qualquer hora,
em tuas faces a rosada Aurora,
em teus olhos e boca, o Sol e o dia;
enquanto com gentil descortesia,
o ar, que fresco Adonis te namora,
te espalha a rica trança brilhadora,
quando vem passear-te pela fria;
goza, goza da flor da mocidade,
que o tempo trata a toda ligeireza,
e imprime em cada flor a sua pisada.
Oh não aguardes que a madura idade
te converta essa flor, essa beleza,
em terra, em cinza, em pó, em sombra, em nada.
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
1.( ) A função da linguagem predominante em
ambos os poemas é a apelativa, pois os poetas se dirigem diretamente às suas amadas,
valendo-se da segunda pessoa do discurso.
2.( )O Poema II trata de tema recorrente na poesia, que é o carpe diem, ou seja, o incitamento
a aproveitar o momento presente, pois a passagem do tempo tudo destrói.
3.( )A linguagem e os recursos linguísticos presentes nos dois poemas indicam serem eles
de autores de mesmo estilo de época.
4.( )A mesma figura literária está presente nos versos Voltou-se o seu cabelo em branca neve (Poema I) e enquanto estamos vendo a qualquer hora,
/ em tuas faces a rosada Aurora (Poema II).
5.( ) A expressão aquele velho respeitável (Poema I)
tem sentido idêntico à madura idade, que
aparece no Poema II.
201
16
49. (PAS-UFS) A questão baseia-se no texto a seguir.
Chegando a seu aposento, Seixas nem teve tempo
de sentar-se.
Arrimou-se como um ébrio à cômoda que estava
próxima ao corredor, e ali ficou no estupor da alma,
violentamente subvertida pela crise tremenda. Parecia uma criatura fulminada, na qual arqueja apenas
um último sopro. Sua respiração angustiada sibilava-lhe nos lábios, como as vascas do moribundo. E era
este o único sinal de vida, nessa organização jovem e
rica de seiva.
De repente saiu daquele torpor, mas foi preciso um
esforço supremo para arrancar-se à insânia que o invadia. Em seu rosto desenhou-se o pavor que dele se
havia apoderado com a ideia de que a vida o abandonava, ou pelo menos que a luz da alma ia apagar-se.
– Deus! Não me tires a vida neste momento. Agora
mais do que nunca preciso de minha razão.
Seixas arrojou-se pelo aposento a passos precípites,
esbarrando-se nos trastes, batendo de encontro às paredes, alucinado e ao mesmo tempo impelido pelo desejo de arrebatar-se à obsessão que o aniquilara.
Correu pela casa um olhar ansiado, buscando algum objeto a que seu espírito se agarrasse, como o
náufrago que trava do menor fragmento no meio das
ondas em que se debate. O rico toucador, esclarecido
por duas arandelas de cristal com velas cor-de-rosa,
ostentava os primores do luxo. (...)
Seixas aproximou-se do toucador, levado por indefinível impulso; e entrou a contemplar minuciosamente
os objetos colocados em cima da mesa de mármore:
lavores de marfim, vasos e grupos de porcelana fosca,
taças de cristal lapidado, joias do mais apurado gosto.
José de Alencar. Senhora.
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
1.( )“Seixas pediu a Deus que não lhe tirasse a
vida naquele momento em que mais do que
nunca precisava de sua razão” – é a transposição para discurso indireto da fala de Seixas.
2.( ) ... que o aniquilara – o emprego da forma verbal grifada indica uma ação passada, anterior
a outra, também passada.
3.( ) ... sibilava-lhe nos lábios – o pronome pessoal
átono oblíquo está empregado com sentido
possessivo, sendo essa frase equivalente a sibilava nos seus lábios.
4.( ) ... para arrancar-se à insânia que o invadia.
As três palavras grifadas na frase acima classificam-se como pronomes.
5.( ) O rico toucador, esclarecido por duas arandelas de cristal ...
O vocábulo grifado está empregado com o
sentido de enfeitado.
50. (PAS-UFS)
1. “Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai à porta
do Ateneu. Coragem para a luta.”
2. Bastante experimentei depois a verdade deste aviso,
que me despia, num gesto, das ilusões de criança educada exoticamente na estufa de carinho que é o regime do amor doméstico, diferente do que se encontra
fora, tão diferente, que parece o poema dos cuidados
maternos um artifício sentimental, com a vantagem
única de fazer mais sensível a criatura à impressão
rude do primeiro ensinamento, têmpera brusca da vitalidade na influência de um novo clima rigoroso.
Lembramo-nos, entretanto, com saudade hipócrita,
dos felizes tempos; como se a mesma incerteza de
hoje, sob outro aspecto, não nos houvesse perseguido
outrora e não viesse de longe a enfiada das decepções
que nos ultrajam.
3. Eufemismo, os felizes tempos, eufemismo apenas,
igual aos outros que nos alimentam, a saudade dos
dias que correram como melhores. Bem considerando,
a atualidade é a mesma em todas as datas. Feita a
compensação dos desejos que variam, das aspirações
que se transformam, alentadas perpetuamente do
mesmo ardor, sobre a mesma base fantástica de esperança, a atualidade é uma. Sob a coloração cambiante
das horas, um pouco de ouro mais pela manhã, um
pouco mais de púrpura ao crepúsculo − a paisagem é
a mesma de cada lado beirando a estrada da vida.
4. Eu tinha onze anos.
5. Frequentara como externo, durante alguns meses, uma escola familiar do Caminho Novo, onde algumas senhoras inglesas, sob a direção do pai, distribuíam educação à infância como melhor lhes parecia.
Entrava às nove horas, timidamente, ignorando as lições com a maior regularidade, e bocejava até às
duas, torcendo-me de insipidez sobre os carcomidos
bancos que o colégio comprara, de pinho e usados;
lustrosos do contato da malandragem de não sei
quantas gerações de pequenos.
Raul Pompéia. O Ateneu. São Paulo:
Melhoramentos, 1997, p. 11.
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
1.( ) A 1a frase do texto, por reproduzir uma fala,
está redigida em linguagem estritamente coloquial.
201
17
2.( ) A fala inicial do texto está corretamente transposta para o discurso indireto em: Disse-me
meu pai, à porta do Ateneu, que eu ia encontrar
o mundo. Que tivesse coragem para a luta.
3.( ) Bastante experimentei depois a verdade deste
aviso ...
Bastantes anos depois, experimentei a verdade deste aviso ...
Era o Vidigal um homem alto, não muito gordo,
com ares de moleirão; tinha o olhar sempre baixo, os
movimentos lentos, e voz descansada e adocicada.
Apesar deste aspecto de mansidão, não se encontraria por certo homem mais apto para o seu cargo, exercido pelo modo que acabamos de indicar.
Manuel Antônio de Almeida. Memórias de um sargento de
milícias. São Paulo: Klick, O Estado de S. Paulo, 1997. p. 26.
O emprego das palavras grifadas está correto
em ambas as frases, pois classificam-se, respectivamente, como advérbio e adjetivo.
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
4.( ) ... e não viesse de longe a enfiada das decepções. (final do 2o parágrafo)
1.( ) − O Vidigal! disseram todos a um tempo, tomados do maior susto.
Da mesma maneira que o verbo VIR da frase
acima, conjuga-se o verbo VER.
A correta transcrição da frase acima para discurso indireto é: Todos, tomados do maior susto, disseram a um tempo que era o Vidigal.
5.( ) ... que é o regime do amor doméstico ... (início
do 2o parágrafo)
Observe o significado do verbete: Regime. S. m.
1. Regimento. 2. Sistema político pelo qual é
regido um país. 3. Modo de viver, de exercer
uma atividade. 4. Dieta.
No texto, o sentido da palavra regime está
mais próximo ao de número 3.
51. (PAS-UFS)
De repente sentiram bater levemente na porta de
fora, e uma voz descansada dizer:
− Abra a porta.
− O Vidigal! disseram todos a um tempo, tomados
do maior susto.
O som daquela voz que dissera “abra a porta” lançara entre eles, como dissemos, o espanto e o medo. E
não foi sem razão; era ela o anúncio de um grande
aperto, de que por certo não poderiam escapar. Nesse
tempo ainda não estava organizada a polícia da cidade,
ou antes estava-o de um modo em harmonia com as
tendências e idéias da época. O Major Vidigal era o rei
absoluto, o árbitro supremo de tudo que dizia respeito
a esse ramo de administração; era o juiz que julgava e
distribuía a pena, e ao mesmo tempo o guarda que
dava caça aos criminosos; nas causas da sua imensa
alçada não havia testemunhas, nem provas, nem razões, nem processo; ele resumia tudo em si; a sua justiça era infalível; não havia apelação das sentenças
que dava, fazia o que queria, e ninguém lhe tomava
contas. Exercia enfim uma espécie de inquisição policial. Entretanto, façamos-lhe justiça, dados os descontos necessários às ideias do tempo, em verdade
não abusava ele muito de seu poder, e o empregava
em certos casos muito bem empregado.
2.( ) ... lançara entre eles, como dissemos, o espanto
e o medo.
Os substantivos grifados acima estão empregados como sinônimos, considerando-se o
contexto.
3.( ) O som daquela voz que dissera “abra a porta” ...
... era ela o anúncio de um grande aperto ...
Os verbos grifados acima estão, ambos, flexionados nos mesmos tempo e modo verbais.
4.( ) Criminosos escondidos na mata foram caçados
pela polícia.
Vários políticos tiveram seus direitos cassados
no regime militar.
Os vocábulos grifados acima classificam-se
como homônimos, que são homófonos, mas
não homógrafos.
5.( ) ... e o empregava em certos casos muito bem
empregado.
As palavras acima classificam-se corretamente da seguinte maneira:
e e em são preposições; o é artigo definido
masculino singular; certos e muito são pronomes indefinidos; bem é advérbio.
(PAS-UFS) Texto para as questões 52 e 53.
Mas naquela noite ela estava tão mal! Doía-lhe
tudo. Que tinha? Por que lhe deram de beber tantos
remédios diferentes...?
[...]
E por que lhe aplicaram aquelas coisas chamadas
sinapismos, que no dia seguinte lhe deixavam tamanha bolha um pouco acima dos calcanhares?
201
18
E por que não adiantava nada a ternurinha ciciosa
de Dentinho de Arroz, que lhe mostrava figuras muito
coloridas, muito cheirosas de tinta, figuras lustrosas de
moças de olhos pretos, saídas das caixas de passas?
Por que era também inútil a voz grossa de Maria
Maruca: “Trata de ficares boa! Anda, fica boa depressa,
que te dão uma boneca! Fica boa, para chupares bala
de coco: chegou agora mesmo um cartuchão!”?
Por que era vã, completamente, a presença de Boquinha de Doce, pensativa e serena, acendendo uma
vela diante do Senhor Santo Cristo?
E por que veio Có, e lhe falou baixinho, e lhe levantou da testa o cabelo tão suado, e lhe consertou o travesseiro, e lhe apalpou por baixo das cobertas o corpinho mole, magro e ardente, e lhe sorriu com a sua boca
muito sinuosa, de lábios largos, e girando os olhos para
o lado lhe perguntou quase sem voz: “Mas cadê ela?”
E por que a fez sorrir doridamente, naquele abatimento triste, longe dos bichos, das plantas, do sol...?
E por que lhe pediu que dormisse, com tão bom
modo, e diminuiu a luz, e sentou-se à beira da cama, e
tomou nas suas a mãozinha sem força, gasta de tanto
calor...?
Cecília Meireles. Olhinhos de gato. São Paulo:
Moderna, 2003, p. 94-95.
52. Assinale como verdadeiras as frases que fazem
uma afirmação correta e como falsas aquelas em
que isso não ocorre.
1.( ) A repetição insistente da conjunção e no 6o e
no último parágrafos aponta para o desconforto e as dúvidas de Olhinhos de Gato.
2.( )O reiterado emprego do pronome lhe no 6o
parágrafo refere-se ao Senhor Santo Cristo,
marcando o sentimento religioso presente
nas relações familiares de Olhinhos de Gato.
3.( ) ... e lhe consertou o travesseiro ... (6o parágrafo)
Considerando-se a forma consertar, no sentido
de restaurar, recompor e a forma concertar, que
significa estar em harmonia, concordar, é correto identificá-las como palavras homônimas.
4.( ) ... a ternurinha ciciosa de Dentinho de Arroz ...
(3o parágrafo)
O emprego do sufixo diminutivo no vocábulo
ternurinha imprime conotação à frase, caracterizando afetividade.
5.( ) ... a voz grossa de Maria Maruca: Trata de ficares boa! ... que te dão uma boneca!
A frase acima está corretamente transposta
para discurso indireto em: A voz grossa de
Maria Maruca lhe dizia que tratasse de ficar
boa, que lhe dariam uma boneca!
53. Assinale como verdadeiras as frases que fazem
uma afirmação correta e como falsas aquelas em
que isso não ocorre.
1. ( ) Os verbos que aparecem no 3o parágrafo, flexionados no pretérito imperfeito do indicativo, denotam fatos ocorridos num tempo determinado e concluído no passado.
2.( ) “Mas cadê ela?” (6o parágrafo)
O emprego do pronome pessoal do caso reto
sugere que se trata de transcrição da língua
falada.
3.( ) Anda, fica boa depressa, que te dão uma boneca!
(4o parágrafo)
De acordo com a norma culta, a frase está incorreta, devido à mistura de pessoas do discurso,
entre a flexão verbal e o pronome de 2a pessoa.
4.( ) ela estava tão mal! − ela estava tão bem!
naquele abatimento triste − naquela prostração melancólica
Nas alterações havidas nos pares acima identificam-se, respectivamente, antônimos e sinônimos.
5.( ) com tão bom modo
As palavras acima classificam-se, na sequência, como preposição, advérbio, adjetivo e
substantivo.
54. (PAS-UFS)
Fosse como fosse, certo é que, com os bilhetes de
boa nota, comprava-se uma saída, e isso era o importante, como nos países de más finanças: desde que o
papel tem curso, de que vale o valor?
Inútil é dizer que me não chegavam nunca as saídas de prêmios. Tanto melhor me sabiam as outras.
Durante a primeira quinzena de colégio, o pensamento de um feriado e regresso à família inebriou-me
como a ansiedade de um ideal fabuloso. Quando tornei a ver os meus, foi como se os houvesse adquirido
de uma ressurreição milagrosa. Entrei em casa desfeito em pranto, dominado pela exuberância de uma
alegria mortal. Surpreendia-me a ventura incrível de
mirar-me ainda nos olhos queridos, depois da eternidade cruel de duas semanas. Não! A magnanimidade
do cataclismo temido favorecera o meu teto. Deus
permitira, na largueza pródiga da suma bondade,
que eu revisse a nosa casa sobre os alicerces, o nosso
tão lembrado teto e a chaminé tranquila a fumar o
spleen infinito das coisas imóveis e elevadas.
Com o tempo habituei-me à feliz probabilidade de
achar na mesma os prezados lares, e ousei nos momentos da cisma colegial fundamentar projetos de
201
19
divertimento sobre a esperança de que, abusando a
minha ausência e só para me atormentar o coração, a
terra se não havia de abrir e devorar exata e exclusivamente o que me era mais caro.
*spleen – palavra inglesa que significa tédio, melancolia.
Raul Pompéia. O Ateneu. São Paulo: Klick, 1997, p. 60.
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
1.( ) O ponto de vista narrativo, em 1a pessoa, reproduz sentimentos e percepções da personagem
principal, Sérgio, nos anos vividos num internato.
2.( )A linguagem do trecho se aproxima da que
se observa no estilo romântico, pela emotividade e subjetividade nele assinaladas.
3.( ) A frase Entrei em casa desfeito em pranto configura, dentro do 3o parágrafo, o clímax de
uma situação que vem sendo narrada.
4.( )A questão colocada no 1o parágrafo do texto,
corretamente transposta para discurso indireto,
deverá ser: de que valeria o valor, desde que o
papel tivesse curso, era o que ele perguntava?
5.( )As referências a determinados aspectos da
casa, como alicerces, teto e chaminé, permitem afirmar que há elementos descritivos
marcantes em todo o trecho.
55. (PAS-UFS)
Capítulo XXXI
Tal era aquele casal de políticos. Um filho, se eles
tivessem um filho varão, podia ser a fusão das suas
qualidades opostas, e talvez um homem de Estado.
Mas o céu negou-lhes essa consolação dinástica.
Tinham uma filha única, que era tudo o contrário
deles. Nem a paixão de D. Cláudia, nem o aspecto governamental de Batista distinguia a alma ou a figura
da jovem Flora. Quem a conhecesse por esses dias, poderia compará-la a um vaso quebradiço ou à flor de
uma só manhã, e teria matéria para uma doce elegia.
Já então possuía os olhos grandes e claros, menos sabedores, mas dotados de um mover particular, que
não era o espalhado da mãe, nem o apagado do pai,
antes mavioso e pensativo, tão cheio de graça que faria amável a cara de um avarento. Põe-lhe o nariz
aquilino, rasga-lhe a boca meio risonha, formando
tudo um rosto comprido, alisa-lhe os cabelos ruivos, e
aí tens a moça Flora.
Nasceu em agosto de 1871. A mãe, que datava por
ministérios, nunca negou a idade da filha:
− Flora nasceu no ministério Rio Branco, e foi sempre tão fácil de aprender, que já no ministério Sinimbu
sabia ler e escrever corretamente.
Era retraída, modesta, avessa a festas públicas, e
dificilmente consentiu em aprender a dançar. Gostava de música, e mais do piano que do canto. Ao piano,
entregue a si mesma, era capaz de não comer um dia
inteiro. Há aí o seu tanto de exagerado, mas a hipérbole é deste mundo, e as orelhas da gente andam já
tão entupidas que só à força de muita retórica se pode
meter por elas um sopro de verdade.
Até aqui nada há que extraordinariamente distinga esta moça das outras, suas contemporâneas, desde que a modéstia vai com a raça, e em certa idade é
tão natural o devaneio como a travessura. Flora, aos
quinze anos, dava-lhe para se meter consigo. Aires,
que a conheceu por esse tempo, em casa de Natividade, acreditava que a moça viria a ser inexplicável.
− Como diz? inquiriu a mãe.
− Verdadeiramente não digo nada, emendou
Aires; mas, se me permite dizer alguma coisa, direi que
esta moça resume as raras prendas de sua mãe.
− Mas eu não sou inexplicável, replicou D. Cláudia
sorrindo.
Machado de Assis, Esaú e Jacó. Rio de Janeiro:
Jackson, 1961. p. 122-124.
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
1.( ) – Mas eu não sou inexplicável, replicou D. Cláudia sorrindo.
A frase acima está corretamente transposta
para discurso indireto da seguinte forma:
D. Cláudia replicou sorrindo que ela, porém,
não era inexplicável.
2.( ) ... e dificilmente consentiu em aprender a dançar.
O significado original da frase acima está corretamente reproduzido em “foi com muita
dificuldade que aprendeu a dançar”.
3.( ) Aires, que a conheceu por esse tempo...
O pronome grifado na frase acima substitui
corretamente, considerando-se o contexto, o
substantivo próprio Flora.
4.( ) − Verdadeiramente não digo nada, emendou
Aires.
Por tratar-se de uma conversa descompromissada, entre amigos, a frase é exemplo de
língua falada.
201
20
5.( ) ... que só à força de muita retórica se pode
meter por elas um sopro de verdade.
Tocar piano sempre foi um prazer para aquela moça que vivia muito só.
As palavras grifadas nas frases acima apresentam o mesmo significado e classificam-se
na mesma categoria gramatical.
56. (PAS-UFPI) Leia o trecho a seguir e assinale o que é
correto afirmar.
“Nunca ouvira com tanta nitidez a voz de sua mulher. Ela estava ali na cela ao seu lado, apontando-lhe
o dedo acusador – para que se importar com os outros
se já vivemos com tanta dificuldade? Jeremias, você
não pode se lamentar pelos outros.
Não pode, não pode, não pode.
Sim, não posso sem tirar de mim mesmo”. (p. 119)
1. ( ) O trecho, todo construído em discurso indireto,
narra, em terceira pessoa, o drama do personagem Jeremias.
2. ( ) No trecho, observam-se as vozes do narrador
onisciente, do personagem Jeremias e da
mulher dele.
3.( )O discurso direto estrutura todo o trecho
como um diálogo entre os personagens.
4.( ) O trecho inicia-se com a voz do narrador onisciente e termina com a fala do personagem.
57. (PAS-UFS)
11 de novembro de 1855
Estou decidido a não escrever hoje a minha revista,
e como os meus leitores não quererão dispensar o seu
folhetim dos domingos, não há remédio; vou fazer um
romance.
Um romance!
Não é qualquer coisa, é uma história dividida em
capítulos, que principia rindo e acaba chorando, ou
vice-versa; e na qual devem entrar necessariamente
um namorado, uma moça bonita, um homem mau, e
diversas outras figurinhas de menos importância.
Um romance só pode começar de manhã ao romper do dia, de tarde ao rugido da tempestade, e de noite
ao despontar da lua; excetuam-se os romances domésticos que não têm hora certa, e que se regulam
pelo capricho do autor.
Ora, o romance que eu pretendo fazer está inteiramente fora da regra, porque não tem começo, nem fim; e
quanto aos personagens limitam-se a dois unicamente.
Enfim, sem mais preâmbulo, vou contá-lo aos meus
leitores, que lhe darão o apreço que entenderem.
Foi há muito tempo.
A Malibran, a bela e poética Malibran, cismava sozinha, com a cabeça indolentemente caída sobre o
ombro, e os grandes olhos negros e melancólicos vagando no espaço.
A noite estava límpida e serena; as estrelas cintilavam
no azul do céu; o vento que suspirava na ramagem das
árvores mal quebrava o silêncio das horas mortas.
De repente os lábios da artista se entreabriram num
sorriso, e um gorjeio sonoro, um trilo brilhante começou
a brincar nas covinhas da boca, e por fim foi aninhar-se
no cálice de uma margarida que crescia num vaso.
Um momento depois, o olhar da Malibran animou-se, a graça e a faceirice do sorriso desapareceram com a expressão ardente e apaixonada que iluminou o seu semblante.
A voz desprendeu-se vibrante e profunda do seio
que palpitava, e soltou-se numa dessas volatas magníficas, num desses gritos d‘alma que não se exprimem.
A nota pairou um momento nos ares; depois oscilou ao sopro da brisa, e caiu entre as folhas de um botão de rosa, como uma gota do orvalho da noite.
Até aqui o meu romance é muito simples e nada
tem que admire.
José de Alencar. Ao correr da pena. 2. ed. São Paulo:
Melhoramentos. p. 298-299.
Obs: A transcrição segue as normas ortográficas
vigentes.
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
1.( ) Está inteiramente irregular a divisão do texto
em parágrafos, considerando-se que, por tratar-se de uma dissertação, deveria apresentar
apenas três deles: o 1o, tal como está; o 2o,
que abrangeria toda a sequência relativa ao
romance; e o 3o, a partir de Foi há muito tempo.
2.( ) Todo o 1o parágrafo, em que o autor se dirige
diretamente ao público leitor, está vazado
nos moldes da língua falada, para garantir
perfeito entendimento do que é exposto.
3.( ) Estou decidido a não escrever hoje a minha
revista.
Transposta corretamente para o discurso indireto, a frase deverá ser: O romancista afirmou que estava decidido a não escrever naquele dia a sua revista.
4.( ) ... a graça e a faceirice do sorriso desapareceram ...
Um sorriso faceiro grassa em seu semblante.
As palavras grifadas constituem exemplo de
homonímia, porque soam de modo idêntico,
apesar da grafia e do sentido diferenciados.
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21
5.( ) A linguagem do parágrafo 10 apresenta sentido predominantemente conotativo, com emprego de personificação, figura que se encontra em um trilo brilhante começou a brincar nas
covinhas da boca, e por fim foi aninhar-se no
cálice de uma margarida que crescia num vaso.
58. (PAS-UFPI) Leia o trecho a seguir.
“Assim, concluiu: era noite, e como o frio apertava
na espinha agora, concluiu: era madrugada, e como o
cheiro do ar entrava em suas narinas, filtrado através
do que quer que fosse, concluiu: a manhã estava próxima, e como o estômago reclamava o vazio estertor,
concluiu: faz mais de vinte e quatro horas que não me
alimento”. (p. 12)
Sobre o trecho acima, pode-se dizer que:
1.( )como muitos escritores modernistas, o autor
faz uso do discurso indireto livre.
2.( ) na sequência, o uso da terceira pessoa e o da
primeira pessoa são, respectivamente, marcas formais dos discursos direto e indireto.
3.( )a liberdade na estruturação sintática desse
tipo de discurso promove uma narrativa mais
fluente.
4.( )a ausência de sinais de pontuação para marcar a passagem de discurso indireto para discurso direto tem como efeito uma aproximação psicológica com o personagem.
59. (PAS-UFS)
A sede da fazenda estava no alto, num descampado.
A visão para os quatro cantos. Era assim que se sentia
protegido. Seu Leobino, daquela bodega da estrada
de Nossa Senhora da Glória, resolveu visitá-lo um dia.
À noite. Num faça outra besteira desta, compadre,
que, no escuro, a gente não sabe de quem é o carro.
Venha pelo dia, mandando avisar antes. O compadre
adivinha o motivo, indivíduos ruins que existem muito
por estas bandas. A gente tem de estar prevenido, porque o medo de lhe fazerem o que mandava operar nos
outros não desgrudava de sua cabeça um só instante.
Tudo girava em seus olhos, de frente para trás, de trás
para frente, as imagens tão quentes como o sol que
impregnava suas terras. O cavalo andando, ao sabor
do comando que dava, já acostumado às veredas de
que se utilizava. Evitava a mata fechada onde, atrás
de uma croá, podia estar alguém escondido. Ou podia
lhe aguardá-lo no galho de um juazeiro, o rifle apontado para sua cabeça. Não. Ainda derrubaria o matagal que lhe dava medo, para plantar capim. Livrar-se-ia
daquela mata escura, onde as folhas dos cajazeiros se
entrelaçavam com as da jurema preta, o gravatá em
cada tronco se misturando à bola de cupim que também lhe causava arrepio. O umbuzeiro regurgitava de
umbu, mas não ia, com desculpa de não gostar da fruta, melhor deixar para o boi comer, justificava-se, mudando de assunto. O olhar não pairava sobre aquele
mundão de quebra-faca, de imburana-de-cambão,
de aroeira, de unha-de-gato, de quina-quina, de mucunã. Deixasse o diabo quieto na mata e no capoeirão.
E, ia chegando. Suado. O chapéu encardido. O vaqueiro se encarregaria de tirar a sela do cavalo, que
era de seu ofício. A bota fazendo barulho na varanda
da casa. A mulher do vaqueiro solícita à espera. Meu
senhor, que tristeza, na dispensa só tem farinha. Aqui,
em casa, feijão velho com toucinho requentado, que
sei que o senhor não come. Nem um pedaço de carne
para se mastigar com a farinha que nois têm. Que desgraça! O senhor quer que eu mate uma galinha? Em
uma hora, o prato tá na mesa. O senhor quer? Tem
galinha gorda no pasto. Quer que eu pegue uma?
Pensou. Tirou o chapéu. Olhou para a mulher com
os seios caídos, o vestido sujo, os pés no chão. A voz
lenta, devagar, se arrastando, medindo as palavras:
− Não, minha fia. Matar uma galinha, não. Puxar o
pescoço da bichinha, não. Me dá um aperto no coração. Para ser sincero, me dá uma pena. Eu como a farinha com ovo, que ovo deve ter por aí. Não tem problema. Deixe as bichinhas aí no terreiro que elas não
fizeram mal a ninguém.
Vladimir Souza Carvalho. Piedade. In: Água de cabaça.
Curitiba: Juruá, 2006. p. 20-21).
Assinale como verdadeiras as frases que fazem uma
afirmação correta e como falsas aquelas em que isso
não ocorre.
1.( ) Considere as frases:
O vaqueiro deveria selar o cavalo.
Após selar a carta, colocou-a na caixa dos
Correios.
As palavras grifadas em ambas constituem
exemplos de homonímia.
2.( ) Por seu significado, os vocábulos mata e matagal são percebidos como sinônimos no texto.
3.( ) só tem farinha − que nois têm
O acento circunflexo nas formas verbais diferencia singular e plural, respectivamente, do
presente do indicativo do verbo ter.
4.( ) Tem galinha gorda no pasto. Quer que eu pegue uma?
Todas as palavras grifadas acima incluem-se
na mesma classe de palavras.
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22
5. ( ) Ele respondeu para a mulher que não havia problema. Que ela deixasse as bichinhas lá no terreiro, que elas não tinham feito mal a ninguém.
Lê-se acima a correta transposição para discurso
indireto das duas últimas frases do texto.
60. (PAS-UFS)
Seguiu-se um alto silêncio, durante o qual estive a pique de entrar na sala, mas outra força maior, outra emoção... Não pude ouvir as palavras que tio Cosme entrou a
dizer. Prima Justina exortava: “Prima Glória! prima Glória!” José Dias desculpava-se: “Se soubesse, não teria falado, mas falei pela veneração, pela estima, pelo afeto,
para cumprir um dever amargo, um dever amaríssimo!”
José Dias amava os superlativos. Era um modo de dar
feição monumental às ideias; não as havendo, servir a
prolongar as frases. Levantou-se para ir buscar o gamão,
que estava no interior da casa. Cosi-me muito à parede, e
vi-o passar com as suas calças brancas engomadas, presilhas, rodaque e gravata de mola. Foi dos últimos que
usaram presilhas no Rio de Janeiro, e talvez no mundo.
Trazia as calças curtas para que lhe ficassem bem esticadas. A gravata de cetim preto, com um aro de aço por
dentro, imobilizava-lhe o pescoço; era então moda. O
rodaque de chita, veste caseira e leve, parecia nele uma
casaca de cerimônia. Era magro, chupado, com um princípio de calva; teria os seus cinqüenta e cinco anos.
Levantou-se com o passo vagaroso do costume, não
aquele vagar arrastado dos preguiçosos, mas um vagar
calculado e deduzido, um silogismo completo, a premissa antes da consequência, a consequência antes da
conclusão. Um dever amaríssimo!
Machado de Assis. D. Casmurro.
Transpondo-se corretamente para o discurso indireto a fala de José Dias, obtém-se:
1.( )José Dias desculpava-se, que se eu soubesse,
não teria falado, mas eu falara pela veneração...
2.( ) Levantou-se com o passo vagaroso do costume.
Seu costume era de chita, mas parecia de cerimônia.
O emprego da palavra costume nas frases
acima assinala um caso de polissemia.
3.( ) Amaríssimo é a forma de superlativo do adjetivo
amargo, havendo na língua outros sufixos de
origem culta, como em paupérrimo, de pobre.
4.( ) ... imobilizava-lhe o pescoço.
O pronome pessoal grifado está empregado
com sentido possessivo.
5.( ) O rodaque de chita, veste caseira e leve – os termos grifados são, respectivamente, expressão adjetiva e dois adjetivos.
61. (PAS-UFPI) Leia o trecho a seguir.
“Hoje é meu aniversário, tenho quarenta e dois
anos, estou ficando velho, faço exercícios pela manhã e
à noite, nada de exagero, olhe o coração, vou ao ginásio uma vez por semana, Tudinha gosta de nadar, ela
está uma moça, uma bela moça, no fim do ano levo os
alunos para o ar livre, Sócrates fazia assim, não queremos saber de seus amigos ou de sua família”. (Assis
Brasil. Os que bebem com os cães, p. 149)
Sobre o trecho, é correto afirmar que:
1.( ) a sequência de orações justapostas, sem elos
formais reproduz a recuperação da memória
de Jeremias a partir da lembrança de imagens
desconexas.
2.( ) todas as orações da sequência constituem-se
de predicados atribuídos ao mesmo referente
– o personagem Jeremias.
3. ( ) a sequência de orações do trecho se caracteriza
pela manutenção e desenvolvimento de um
mesmo tópico.
4. ( ) não há uma pontuação específica que registre
a passagem para o discurso direto na introdução do enunciado no imperativo.
62. (PAS-UFPI)
Quem foi a primeira pessoa a passar no
vestibular no Brasil?
Não houve uma primeira pessoa, mas, sim, uma
primeira leva, com os vários candidatos que se deram
bem no concurso de 1911, ano em que o vestibular foi
criado por um decreto do governo. Nessa data, o teste
5 passou a ser adotado pelas escolas federais, como as
Faculdades de Medicina do Rio e da Bahia e a Faculdade de Direito de São Paulo. Até então, só tinham
acesso ao ensino superior os alunos aprovados nos
cursos preparatórios realizados pelas faculdades ou
10 os que tinham passado nos exames de madureza, espécie de prova feita ao final do ensino médio. “Quando foi criado, contudo, o vestibular não causou grande
impacto junto aos estudantes, pois, além de a faculdade ser algo ao alcance de poucos, já havia um con15 junto de exames de admissão que continuaram valendo até 1925”, diz Tatiana Tessye, professora da
Universidade Metropolitana de Santos (Unimes-SP) e
autora de tese de doutorado sobre o acesso à educação superior no Brasil. Aliás, foi devido a seu caráter
20 de “peneira” exclusivista que, com o tempo, o exame
ganhou o apelido de vestibular – trata-se de uma referência à palavra vestíbulo, pequeno espaço entre a
rua e a porta de entrada de um prédio, numa alusão
ao fato de ser um local reservado e restrito a poucos...
Fonte: Revista Mundo Estranho. Disponível em:
http://mundoestranho.abril.com.br/historia/pergunta_425029.shtml.
201
23
Sobre os aspectos semânticos relativos ao emprego
dos sinais de pontuação no texto, é incorreto afirmar que:
a)em “– trata-se de uma referência à palavra vestíbulo” (linha 22), o travessão foi usado para indicar
mudança de interlocutor, esclarecendo que as
sentenças posteriores a ele correspondem ao discurso de Tatiana Tessye, e não do autor do texto.
b)em “foi devido a seu caráter de ‘peneira‘ exclusivista” (linhas 19-20), as aspas foram usadas para
por em evidência o caráter elitista do vestibular.
c)em “numa alusão ao fato de ser um local reservado
e restrito a poucos...” (linhas 23-24), as reticências
foram usadas no fim de um período gramaticalmente completo para sugerir certo prolongamento
de ideias.
d)em “...passou a ser adotado pelas escolas federais, como as Faculdades de Medicina do Rio e da
Bahia e a Faculdade de Direito de São Paulo” (linhas 05-07), a vírgula foi usada para separar uma
oração de valor explicativo.
e)em “...sim, uma primeira leva” (linhas 01-02), a vírgula foi usada para separar a forma “sim”, denotando ênfase.
63. (PAS-UFPB)
Estava hospedado há dois dias em casa do Campos;
esse tempo levara ele a entregar cartas e encomendas. À
noite, fatigado e entorpecido pelo calor, mal tinha ânimo para dar uma vista de olhos pelas ruas da cidade.
Entretanto, a vida externa o atraía de um modo desabrido; estalava por cair no meio desse formigueiro,
desse bulício vertiginoso, cuja vibração lhe chegava aos
ouvidos, como os ecos longínquos de uma saturnal.
Queria ver de perto o que vinha a ser essa grande Corte,
de que tanto lhe falavam; ouvira contar maravilhas a
respeito de cortesãs cínicas e formosas, ceias pela madrugada, passeios ao Jardim Botânico, em carros descobertos, o champanha ao lado, o cocheiro bêbado; – e
tudo isso o atraía em silêncio, e tudo isso o fascinava, o
visgava com o domínio secreto de um vício antigo.
– Mas, por onde havia de principiar?... Não tinha
relações, não tinha amigos que o encaminhassem!
Além disso, o Campos estava sempre a lhe moer o juízo
com as matrículas, com a entrada na academia, com
um inferno de obrigações a cumprir, cada qual mais
pesada, mais antipática, mais insuportável!
– Olhe, seu Amâncio, que o tempo não espicha –
encolhe!... É bom ir cuidando disso!... repetia-lhe o negociante, fazendo ar sério e comprometido. – Veja
agora se vai perder o ano! Veja se quer arranjar por aí
um par de botas!...
Amâncio fingia-se logo muito preocupado com os
estudos e falava calorosamente na matrícula.
Mexa-se então, homem de Deus! bradava o outro.
– Os dias estão correndo! ...
Afinal, graças aos esforços do Campos, conseguiu
matricular-se na academia, duas semanas depois de
ter chegado ao Rio de Janeiro.
O medo às matemáticas levara-o a desistir da Marinha e agarrar-se à Medicina, como quem se agarra a
uma tábua de salvação; pois o Direito, se bem que, para
ele, fosse de todas as formaturas a mais risonha, não
lhe servia igualmente, visto que Amâncio não estava
disposto a deixar a Corte e ir ser estudante na província.
A Medicina, contudo, longe de seduzi-lo, causava-lhe
um tédio atroz. Seu temperamento aventuroso e frívolo não se conciliava com as frias verdades da cirurgia e com as pacientes investigações da terapêutica.
Pressentia claramente que nunca daria um bom médico, que jamais teria amor à sua profissão.
Esteve a desistir logo nos primeiros dias de aula: o
cheiro nauseabundo do anfiteatro da escola, o aspecto
nojento dos cadáveres, as maçantes lições de Química,
Física e Botânica, as troças dos veteranos, a descrição
minuciosa e fatigante da osteologia, a cara insociável
dos explicadores; tudo isso o fazia vacilar; tudo isso
lhe punha no coração um duro sentimento de má
vontade, uma antipatia angustiosa, um não querer
doloroso e taciturno.
Às vezes, no entanto, pretendia reagir: atirava-se
ao Baunis Bouchard1, e ao Vale2, disposto a ler durante
horas consecutivas, disposto a prestar atenção, a
compreender; mal, porém, ele se entregava aos compêndios, o pensamento, pé ante pé, ia-se escapando
da leitura, fugia sorrateiramente pela janela, ganhava
a rua, e prendia-se ao primeiro frufru de saia que encontrasse.
E Amâncio continuava a ler a estranha tecnologia
da ciência, a repetir maquinalmente, de cor, os caracteres distintos das vértebras, ou a cismar abstrato nas
propriedades do cloro e do bromo, sem todavia conseguir que patavina daquilo lhe ficasse na cabeça.
– Não haver uma academia de Direito no Rio de
Janeiro! lamentava ele, bocejando, a olhar vagamente
a sua enfiada de vértebras, que havia comprado no
dia anterior.
Porque, no fim de contas, tudo que cheirasse a ciência de observação o enfastiava: “Deixassem lá, que a
tal osteologia e a tal Química nada ficavam a dever às
matemáticas!..”
Ah! o Direito, o Direito é que, incontestavelmente,
devia ser a sua carreira. Preferia-o por achá-lo menos
áspero, mais tangível, mais dócil, que outra qualquer
201
24
matéria. E esse mesmo... Valha-me Deus! tinha ainda
contra si o diabo do latim, que era bastante para o
tornar difícil.
E lembrar-se Amâncio de que havia por aí criaturas
tão dotadas de paciência, tão resignadas, tão perseverantes, que se votavam de corpo e alma ao cultivo
das artes!... das artes, que, segundo várias opiniões,
exigiam ainda mais constância e mais firmeza do que
as ciências!... Com efeito! Era preciso ter muita coragem, muito heroísmo, porque as tais belas-artes, no
Brasil, nem sequer ofereciam posição social, nem davam sequer um titulozinho de doutor!
1Baunis Bouchard: Parece ser um compêndio de medicina de autoria do médico francês Bouchard, nascido em 1837 e morto
em 1915, professor da Faculdade de Medicina de Lion. (N.E.)
2Vale: Parece referir-se a um compêndio de medicina de autoria
de Antônio Gomes do Vale, médico português nascido em
1819. (N.E.)
AZEVEDO, Aluisio. Casa de Pensão. 14a ed. São Paulo:
Ática, 2009, p. 35-36.
Considerando os recursos estilísticos desse texto,
identifique as afirmativas corretas:
I.A narração apresenta-se em primeira pessoa,
sendo o narrador o protagonista da história.
II.O narrador recorre ao discurso direto, para dar
realce aos personagens.
III.A narrativa enquadra-se no estilo naturalista,
enfocando um protagonista de temperamento
aventureiro e fascinado pela vida boêmia.
IV.A narrativa utiliza a linguagem figurada para caracterizar ambientes e personagens.
V.O protagonista assume traços do herói romântico,
graças à coragem com que enfrentava as dificuldades da vida.
64. (PAS-UFPB)
Essa mocidade de hoje...
Realmente não está fácil educar filhos hoje em dia.
Não ouvem nossos conselhos e seguem caminhos estranhos, geralmente perigosos. Coisas do fim de século,
explicam. Meu filho mais velho, por exemplo. Deu de
cheirar. Não entendo onde pegou esse vício terrível.
Acredito que foi na leitura de velhos romances portugueses, ele, um apaixonado por primeiras edições.
Minha mulher o defende. Diz que não faz mal. Brigamos muito por causa disso. Um cunhado, médico,
também assegura que não prejudica a saúde. É quando
muito um mal social, insiste. Pode até ser, concordo,
afinal milhares de jovens estão fazendo o mesmo em
todo o mundo, mas quem aguenta uma pessoa espirrando o tempo todo? Até nas igrejas ele abre sua caixa
(que não sei como chama) e aspira o rapé. Tento proibir:
– Meu filho, você vive molhando os outros, pregando
sustos, irritando. Abandone esse vício espalhafatoso,
incômodo. Seria melhor fumar charuto.
Ele nem liga, sempre espirrando, em conduções,
velórios, conferências, teatros, em toda parte. Não
consegue se livrar desse pó maldito. É um dependente.
Quando vai pedir emprego, para desinibir, cheira.
– Estou me apresentando para... atchim!.
– O senhor está resfriado?
– Não. – Atchim, atchim, atchim etc.
Sai, claro, desempregado como entrou. Espirro
não é forma de comunicação, não é argumento, não
vale como currículo.
Apaixonou-se e foi pedir a mão da moça em casamento. Disseram-me que foram onze atchins consecutivos. Uns altos, outros baixos, uns fragmentados,
outros explosivos, mas tudo muito monótono. O futuro
sogro até que se conteve a princípio, mas quando o
viu tirar automaticamente do bolso a caixa de rapé,
perguntou:
– O senhor é viciado nisso?
– Sou – ele confessou de cabeça baixa.
E o sogro disse não.
Outro filho meu também está se desviando. Evita
pais e parentes. Não gosta de estudar, de ler, mora no
mundo da Lua. Noite alta, salta a janela de casa e desaparece. Descobrimos isso e o forçamos a contar o
que faz na rua até madrugada. Negou-se peremptoriamente. Ameaçou até suicidar-se com gás se insistíssemos. Mas não recuamos e procuramos descobrir o
que leva esse insensato a sumir dessa maneira.
– Pra mim tem música nisso – suspeitou a mãe.
– Música? É, pode ser – admiti. – Ele anda tão
alheio a tudo...
Tinha razão. Descobrimos. O maroto anda fazendo
serenata! Meu filho, seresteiro! Comprou um violão às
escondidas! Agora vive fazendo barulho ao pé de janelas, nas madrugadas, despertando pessoas que
precisam acordar cedo para o trabalho. E exposto alucinado ao sereno, à garoa, ao chuvisqueiro, que tão
mal fazem aos pulmões. Muitos seresteiros, sabe-se,
morrem de pneumonia, isso quando – eles que se cuidem – não são abatidos por tiros de garrucha por
pais, irmãos e namorados das moças que pretendem
agradar. Ou mesmo por vizinhos furiosos. As gazetas
sempre trazem casos assim.
E por fim tem o menorzinho. Esse se viciou nessa
tal de lanterna mágica. Conhecem, não? Chegou recentemente da Europa e está à venda nas lojas do
centro. É um aparelho óptico que amplia e projeta
imagens iluminadas. O menino fica numa sala escura
com amiguinhos o dia inteiro vendo essas imagens.
201
25
Jaulas de macacos, parques de diversões, trens, balões, banquetes, caras de reis e navios. Imagens coloridas que parecem ter dimensões e movimento. A impressão é que os garotos esquecem o lar, se afastam
do mundo, rompem com a realidade. Podem imaginar uma coisa assim? O aparelho causa hipnose, fixação mórbida, idiotiza, e talvez possa cegar. Li que a
lanterna mágica, projetando cerca de dez imagens
por minuto, acaba causando sérias perturbações no
cérebro dos jovens, levando inclusive ao enlouquecimento. Sim, ao enlouquecimento!
Pó que vicia, ritmos antissociais, máquinas diabólicas. Caluda!
Este fim de século ameaça destruir nossos jovens.
São Paulo de Piratininga, 1893.
REY, Marcos. Essa mocidade de hoje... In:
O coração roubado e outras crônicas. São Paulo:
Ática, 2003, p. 50-53. (Para Gostar de Ler, v. 19).
Considerando o modo como o narrador conduz o
relato, identifique as afirmativas corretas:
I.Recorre a sequências narrativas para justificar a
sua opinião acerca da educação dos filhos.
II.Faz uso de expressões próprias da língua falada.
III.Utiliza-se do discurso direto para dar mais expressividade à sua narração.
IV.Estabelece diálogo com seu leitor, sobretudo,
através de frases interrogativas.
V.Limita-se a narrar os fatos, sem emitir juízo de valor.
65. (PAS-UFPB) Leia:
“Simão Bacamarte explicou-lhe que D. Evarista reunia
condições fisiológicas e anatômicas de primeira ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava assim apta
para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes.”
ASSIS, Machado de. O alienista. In: Os melhores contos
de Machado de Assis/Seleção Domício Proença Filho.
14 ed. São Paulo: Global, 2002, p. 93-95.
Passando esse fragmento para o discurso direto,
obtém-se:
a)Simão Bacamarte explicou-lhe: – D. Evarista reúne
condições fisiológicas e anatômicas de primeira
ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava
assim apta para dar-me filhos robustos, sãos e inteligentes.
b)Simão Bacamarte explicava-lhe: – que D. Evarista
reunia condições fisiológicas e anatômicas de
primeira ordem, digeria com facilidade, dormia
regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista;
estava assim apta para dar-lhe filhos robustos,
sãos e inteligentes.
c)Simão Bacamarte explicou-lhe: – D. Evarista reúne
condições fisiológicas e anatômicas de primeira
ordem, digere com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava
assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes.
d)Simão Bacamarte explicava-lhe: – D. Evarista reunia
condições fisiológicas e anatômicas de primeira
ordem, digeria com facilidade, dormia regularmente, tinha bom pulso, e excelente vista; estava
assim apta para dar-lhe filhos robustos, sãos e inteligentes.
e)Simão Bacamarte explicou-lhe: – D. Evarista reúne
condições fisiológicas e anatômicas de primeira
ordem, digere com facilidade, dorme regularmente, tem bom pulso, e excelente vista; está
assim apta para dar-me filhos robustos, sãos e inteligentes.
(PAS-UFAL) Texto para as questões 66 a 68.
Sujeito, interação e sentidos
Ao longo das últimas décadas, os estudiosos da
linguagem verbal passaram a considerar fundamental entendê-la como uma prática social humana, que
envolve interação entre sujeitos. A palavra prática,
aqui, indica uma ação que é feita com regularidade.
Já a palavra sujeito remete a um indivíduo marcado
por uma história, por crenças, valores, conhecimentos. A palavra interação indica ação que se realiza na
relação com um outro. Pois bem: os sujeitos em interação produzem linguagem e, ao mesmo tempo, são
constituídos por ela. O que isso significa?
Mais do que a simples expressão do pensamento
ou instrumento de comunicação, a linguagem expressa
e cria a identidade dos falantes. (...)
A linguagem, portanto, não pode ser separada dos
sujeitos, e vice-versa. Ela está inserida no universo das
relações humanas, no embate entre sujeitos, que, a
todo momento, reavaliam posições, ideias, emoções e
intenções.
Interação viva entre sujeitos em constante transformação, a linguagem cria sentidos e, até mesmo,
sentidos pouco previsíveis. Por isso, é insuficiente
aquele esquema tradicional dos Elementos da Comunicação, segundo o qual um “remetente” emite
uma mensagem pronta, uma espécie de “pacote” a
ser recebido por um “destinatário”, como se esses sujeitos não se modificassem durante a interação, e os
sentidos daquilo que eles dizem já estivessem prontos.
Assim, em vez de remetentes e destinatários, falemos em interlocutores, ou seja, em sujeitos constituídos
na interação pela linguagem, sujeitos que produzem
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efeitos de sentido em um contexto social e histórico específico. Além disso, admitamos uma linguagem que
se vai fazendo nesses contextos sociais de interação.
Em suma, a linguagem – que está sempre em movimento e constituindo-se – é uma prática social
humana de interação entre sujeitos. Por meio dela
os interlocutores constroem e expressam sua identidade, em situações de uso ocorridas em contextos
sócio-históricos determinados.
Ricardo Gonçalves Barreto. Português – ser protagonista.
São Paulo: Edições, 2010, p. 217. (Adaptado).
66. A análise dos componentes linguísticos do texto –
palavras e constituintes morfossintáticos – nos permite chegar a algumas conclusões. Por exemplo:
1)em: “a linguagem expressa e cria a identidade dos
falantes”, pode-se admitir mais de uma função
para a linguagem; a conjunção ‘e’ autoriza essa
interpretação.
2)no trecho: “em vez de remetentes e destinatários,
falemos em interlocutores”, com base na expressão sublinhada, percebe-se a proposta de uma
outra concepção do fenômeno em análise.
3)a partir do trecho: “os sujeitos em interação produzem linguagem e, ao mesmo tempo, são constituídos por ela”, pode-se dizer que a linguagem se
realiza em um movimento simultâneo de dupla
direção.
4)os travessões usados em: “a linguagem – que está
sempre em movimento e constituindo-se – é uma
prática social humana” separam um trecho explicativo.
5)o trecho “O que isso significa?” tem uma função,
de fato, interrogativa, uma vez que a resposta esperada é desconhecida pelo autor e é essencial
para a compreensão do texto.
Estão corretas:
a)1, 2, 3, 4 e 5
b)1, 2, 3 e 4 apenas
c)2, 3, 4 e 5 apenas
d)1 e 5 apenas
e)2, 3 e 5 apenas
67. A compreensão de um texto deriva, sobretudo, de
sua inserção em um contexto social de interação.
Isso não significa que seja irrelevante o material linguístico que o constitui. Assim, articulando os elementos contextuais e o material linguístico do texto,
podemos afirmar que:
1)o discurso indireto é, neste caso, mais adequado
ao tipo e ao gênero de texto escolhido do que o
discurso direto, por exemplo.
2) existem na palavra ‘interlocutores’ marcas morfológicas que expressam a compreensão da linguagem como uma atividade social.
3)a palavra ‘interação’, que é uma palavra-chave
para a coerência do texto, pode ser vista como
resultado de uma prefixação.
4)o termo ‘sujeito’, conforme a concepção expressa
no texto, designa um ser homogêneo, unívoco,
inteiramente autônomo.
5)uma espécie de “movimentos contrários” pode ser
vista nas palavras sublinhadas no seguinte trecho:
“Por meio dela (da linguagem) os interlocutores
constroem e expressam sua identidade.”
Estão corretas:
a)1, 2, 3 e 5 apenas
b)2, 3 e 4 apenas
c)3 e 5, apenas
d)1, 2 e 4, apenas
e)1, 2, 3, 4 e 5
68. Segundo o texto, o esquema tradicional dos Elementos da Comunicação é insuficiente, porque:
a)não permite a percepção da linguagem como
algo dinâmico e incompleto.
b)privilegia apenas o destinatário na criação dos
sentidos expressos na mensagem.
c)permite a criação de novos sentidos, por vezes,
sentidos imprevisíveis.
d)compromete a recepção de mensagens que se
deseja sejam entendidas sem modificação.
e)concebe as mensagens como algo que se pode
modificar durante a sua transmissão.
(PAS-UFAL) Texto para as questões 69 a 71.
Entrevista com Evanildo Bechara
Jornalista. É fato que o português está sendo invadido por expressões inglesas ou americanizadas –
como background, playground, delivery, fastfood,
dowload... Isso o preocupa?
Bechara. Não. É preciso diferenciar língua e cultura.
O sistema da língua não sofre nada com a introdução
de termos estrangeiros. Pelo contrário, quando esses
termos entram no sistema têm de se submeter às regras de funcionamento da língua, no caso, o português. Um exemplo: nós recebemos a palavra xerox.
Ao entrar na língua, ela acabou por se submeter a
uma série de normas. Daí surgiram xerocar, xerocopiar, xerografar, enfim, nasceu uma constelação de
palavras dentro do sistema da língua portuguesa.
Jornalista. Então esse processo não é ruim?
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Bechara. É até enriquecedor, pois incorpora palavras. Não há língua que tenha seu léxico livre dos estrangeirismos. A língua que mais os recebe, curiosamente, é o
inglês, por ser um idioma voltado para o mundo.
Hoje, fala-se “delivery”, mas poderíamos dizer “entrega a domicílio”. E há quem diga que o correto é
“entrega em domicílio”. Será? Na dúvida, há quem
fique com o “delivery”.
A palavra inglesa delivery não chegou a entrar
nos sistemas da nossa língua, pois dela não resultam
outras palavras. Apenas entrou no vocabulário do dia
a dia no contexto dos alimentos. Agora deram de falar
que “entrega em domicílio” é melhor do que “entrega
a domicílio”. Não sei de onde isso saiu, porque o verbo
entregar normalmente se constrói com a preposição a.
Fulano entregou a alma a Deus. De qualquer modo, a
língua se enriquece quando você tem dois modos de
dizer a mesma coisa.
Jornalista. E por que usar “delivery”, se temos uma
expressão própria em português? Não é mais um badulaque desnecessário?
Bechara. Não sei se é badulaque, o fato é que a língua, que não tem vida independente, também admite
modismos, além de refletir todas as qualidades e os
defeitos do povo que a fala. Estrangeirismos aparecem, somem e podem ser substituídos por termos nossos. Foi o que aconteceu com a terminologia clássica e
introdutória do futebol no Brasil, quando se falava em
goalkeeper, off side e corner. Com a passar do tempo,
e sem nenhuma atitude controladora, os termos estrangeiros do futebol foram dando lugar a expressões
feitas no Brasil, como goleiro, impedimento, escanteio.
Entrevista de Evanildo Bechara. Disponível em
http.//www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=.
Acesso em 30 de março de 2008. Adaptado.
69. Considerando alguns aspectos que, globalmente, caracterizam o texto, analise as seguintes observações.
1)No texto predomina a função referencial, uma
função centrada no contexto de produção e de
circulação do texto.
2)Do ponto de vista da tipologia textual, podemos
reconhecer no texto um exemplar dos textos narrativos.
3) Por se tratar de uma entrevista, o texto apresenta,
entre outras, formulações próprias do diálogo oral.
4)O fato de não se tratar de um texto literário leva a
que o entrevistado não use palavras em sentido
figurado.
5)O professor entrevistado apresenta seus argumentos, mas se omite quanto à apresentação de
exemplos que pudessem reforçá-los.
Estão corretas:
a)1, 2, 3, 4 e 5
b)1 e 2 apenas
c)1 e 3 apenas
d)1 e 5 apenas
e)4 e 5 apenas
70. A compreensão global do texto – que resulta da articulação entre os elementos contextuais e o material
linguístico presente – nos leva a reconhecer como
afirmações principais do texto as seguintes:
1)“o português está sendo invadido por expressões inglesas ou americanizadas”.
2)“Não há língua que tenha seu léxico livre dos estrangeirismos”.
3)“a língua se enriquece quando você tem dois
modos de dizer a mesma coisa”.
4)“O sistema da língua não sofre nada com a introdução de termos estrangeiros”.
5)“os termos estrangeiros do futebol foram dando
lugar a expressões feitas no Brasil”.
Estão corretas:
a)1, 2, 3 e 5 apenas
b)2, 3 e 4 apenas
c)3 e 5, apenas
d)1, 2 e 4 apenas
e)1, 2, 3, 4 e 5
71. Segundo o texto, a entrada na língua de palavras
estrangeiras:
a)constitui um processo que favorece a decadência
da língua, pois deixa em desuso muitas palavras
do vocabulário da língua que importa.
b)representa um sinal de que diferentes línguas e
culturas estão em constante contato, além de
que as línguas são sistemas contextualizados.
c)constitui um fato a ser regulado por normas controladoras, a fim de que não implique ameaça à
identidade da língua importadora.
d)descaracteriza a identidade morfossintática da
língua uma vez que possibilita a derivação de palavras segundo outros critérios.
e)é um fato cultural pouco significativo, pois os estrangeirismos não são afetados pelas imposições
gramaticais e lexicais da língua.
(PAS-UFPB) Para responder às questões de 72 a 74,
leia o texto.
Em que se declara o modo e a linguagem
dos tupinambás
Ainda que os tupinambás se dividiram em bandos, e
se inimizaram uns com outros, todos falam uma língua que é quase geral pela costa do Brasil, e todos
têm uns costumes em seu modo de viver e gentilida5 des; os quais não adoram nenhuma coisa, nem têm
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nenhum conhecimento da verdade, nem sabem
mais que há morrer e viver; e qualquer coisa que
lhes digam, se lhes mete na cabeça, e são mais bárbaros que quantas criaturas Deus criou. Têm muita
10 graça quando falam, mormente as mulheres; são
mui compendiosas na forma da linguagem, e muito
copiosos no seu orar; mas faltam-lhes três letras
das do ABC, que são F, L, R grande ou dobrado, coisa
muito para se notar; porque, se não têm F, é porque
15 não têm fé em nenhuma coisa que adorem; nem os
nascidos entre os cristãos e doutrinados pelos padres da Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor,
nem têm verdade, nem lealdade a nenhuma pessoa que lhes faça bem. E se não têm L na sua pro20 nunciação, é porque não têm lei alguma que guardar, nem preceitos para se governarem; e cada um
faz lei a seu modo, e ao som da sua vontade; sem
haver entre eles leis com que se governem, nem
têm leis uns com os outros. E se não têm esta letra R
25 na sua pronunciação, é porque não têm rei que os
reja, e a quem obedeçam, nem obedecem a ninguém, nem ao pai o filho, nem o filho ao pai, e cada
um vive ao som da sua vontade; para dizerem
Francisco dizem Pancico, para dizerem Lourenço
30 dizem Rorenço, para dizerem Rodrigo dizem Rodigo;
e por este modo pronunciam todos os vocábulos
em que entram essas três letras.
SOUSA, Gabriel Soares de. Tratado descritivo do Brasil
em 1587 - Capítulo CL – Em que se declara o modo e a
linguagem dos tupinambás. In: VILLA, Marco Antonio e
OLIVIERI, Antonio Carlos. Cronistas do Descobrimento.
São Paulo: Ática, 1999, p. 144.
Glossário:
Gentilidades: paganismo, religião dos gentios.
Compendiosas: resumidas, sintáticas.
Copiosos: abundantes, grandes, extensos.
72. (UFPB-2007) Em seu texto, Gabriel Soares de Sousa
a)limita-se à descrição dos costumes indígenas,
sem emitir nenhum juízo de valor.
b)destaca apenas qualidades negativas dos índios
tupinambás, a quem chama de “bárbaros”.
c)exalta à liberdade em que vivem os índios, reconhecendo-a, indiscutivelmente, como um valor
intocável.
d)reconhece a inferioridade da cultura dos tupinambás, ao compará-la com a de outros índios
do Brasil.
e)tece considerações críticas a respeito da liberdade excessiva dos índios.
73. Leia o fragmento.
“[...] nem os nascidos entre os cristãos e doutrinados
pelos padres da Companhia têm fé em Deus Nosso Senhor, nem têm verdade, nem lealdade a nenhuma
pessoa que lhes faça bem.” (linhas 15 a 19)
A leitura desse fragmento permite afirmar que o autor
a)considera eficaz a ação dos jesuítas na conversão
dos indígenas.
b)mostra surpresa diante do fato de os índios não
terem fé em Deus, mesmo sendo doutrinados no
cristianismo.
c)defende, em princípio, que não se deve cobrar
dos índios a fé em Deus.
d)reconhece a obediência dos tupinambás à conversão cristã.
e)ressalta a presença das doutrinas cristãs nas práticas religiosas dos índios.
74. A ausência das letras F, L, R na linguagem dos tupinambás é comentada pelo autor do texto para
a)justificar a natureza mais simples da linguagem
dos índios.
b)denotar apenas a diferença entre a língua dos
brancos portugueses e a dos índios.
c)enfatizar, sobretudo, a criatividade na expressão
linguística dos povos indígenas.
d)criticar, principalmente, a inexistência da fé, da
lei e do rei na cultura tupinambá.
e)revelar somente os aspectos pitorescos na maneira de falar dos índios.
75. O que é literatura? É uma pergunta complicada
justamente porque tem várias respostas. E não se trata de respostas que vão se aproximando cada vez
mais de uma grande verdade, da verdade-verdadeira.
Cada tempo e, dentro de cada tempo, cada grupo social tem sua resposta, sua definição.
Afinal, pensadores, escritores, artistas e demais envolvidos em teorias e práticas de literatura discutem,
escrevem, polemizam (antigamente às vezes até duelavam!) e modulam conceitos de literatura que correspondem ao contexto de produção de seu tempo, aos
horizontes dos leitores, às práticas de leitura em vigor.
Por isso parecem explicar de forma convincente o que
é literatura. Mas só temporariamente.
Quando surgem novos tipos de poemas, de romances e de contos e outras multidões de leitores entram em cena, aquela livralhada toda passa a ser lida
de forma diferente. Os novos leitores piscam os olhos
e limpam os óculos, engatam novas discussões, formulam novas teorias, propõem novos conceitos até
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que a poeira assenta para, de novo, levantar-se em
nuvem tempos depois.
Ou seja, há relação profunda entre as obras escritas num período – e que, portanto, são a literatura
desse período – e a resposta que esse período dá à
questão o que é literatura?
Marisa Lajolo, Literatura: leitores & leitura. Adaptado.
De acordo com o texto, a definição de “literatura”
vincula-se, necessariamente,
a)à quantidade de livros publicados de tempos em
tempos.
b)ao gosto das pessoas envolvidas nas práticas de
leitura.
c) ao conjunto de obras elaboradas em determinada
época.
d)aos conceitos estabelecidos por escritores de
prestígio.
e)às decisões tomadas por artistas, críticos e escritores.
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Respostas das Atividades Adicionais
Português
1.a
11.c
56.F – F – V – V – V
2.b
12.b
57.V – F – V – V
3.c
13.c
58.V – V – V – F – V
4.a
14.d
59.F – V – F – V – V
5.c
15.d
6.e
16.d
7.d
17.e
8.b
18.c
9.b
19.c
10.e
20.a) à beira: locução adverbial feminina.
b) I) Não vai a festas nem a reuniões.
II) Chegamos à Universidade às oito horas.
21.b
34.e
22.c
35.F – F –V
23.b
36.d
24.a
37.c
25.d
38.d
26.c
39.b
27.b
40.c
28.b
41.Correto
29.c
42.Correto
30.a
43.Correto
31.c
44.V – V – F – F
32.e
45.V – F – F – V
33.a
46.V – F – V – V
47.Estão corretas as afirmativas II, IV e V.
48.V – V – F – V – F
49.V – V – V – V – F
50.F – V – V – F – V
51.V – F – F – V – F
52.V – F – V – V – V
53.V – V – V – F – F
54.V – F – V – F – F
55.F – V – F – V
60.F – V – V – V – V
61. V – F – F – V
62.a
63.Estão corretas as afirmativas I, II e IV.
64.Estão corretas as afrimativas I, II, III e IV.
65.e
66.b
Justificativa:
a) Correta. De fato, a presença da conjunção ‘e’ autoriza a
interpretação de que a linguagem tem mais de uma
função.
b)Correta. A palavra ‘interlocutores’ já indica que a concepção de linguagem em foco supera os esquemas da
mera transmissão mecânica de informações.
c)Correta. A expressão ‘ao mesmo tempo’ é uma pista
para a interpretação de que a linguagem se realiza em
um movimento simultâneo; a conjunção ‘e’ autoriza a
conclusão de que ela se realiza em uma dupla direção.
d)Correta. A função dos travessões usados no trecho é a
de separar um trecho explicativo.
e) Incorreta. A interrogação em questão constitui apenas
uma estratégia retórica de aguçar o interesse do leitor.
67.a
Justificativa:
a)Correto. Realmente, o discurso indireto é, neste caso,
mais adequado ao tipo e ao gênero de texto escolhido
do que o discurso direto, que seria mais apropriado, por
exemplo, em um texto narrativo ou numa entrevista.
b)Correto. Tanto o prefixo presente na palavra quanto o
sinal de plural indiciam a compreensão de que a linguagem é uma atividade social.
c) Correto. A palavra ‘interação’ constitui uma palavra chave para a coerência desse texto. Além disso, ela pode ser
vista como resultado de uma prefixação (inter + ação).
d)Incorreto. O sujeito pensado para a visão conceitual em
apreço é aquela de um sujeito que “produze efeitos de
sentido em um contexto social e histórico específico”.
Logo, ele não é homogeneo nem tampouco autônomo.
e) Correto. De fato, ‘construir‘ e ‘expressar’ implicam movimentos contrários: o que está indicado nos sentidos
dos próprios prefixos.
201
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68.a
Justificativa:
a)Correto. De fato, a insuficiência do tradicional esquema
da comunicação deriva do fato de ele não permitir a percepção da linguagem como algo dinâmico e incompleto.
b)Incorreto. No esquema em questão, o destinatário não
é contemplado na criação de novos sentidos.
c) Incorreto. A inflexibilidade na criação de novos sentidos é
exatamente a maior insuficiência do esquema em análise.
d) Incorreto. A recepção de mensagens que se prevê neste
esquema é aquela da transmissão exata.
e) Incorreto. Como já foi apontado, a flexibilidade na transmissão da mensagem não é prevista neste esquema.
69.c
Justificativa:
1) Correta. De fato, a função que predomina no texto é a
função referencial, centrada no contexto de produção
e de circulação do texto.
2)Incorreta. O texto em análise não constitui um exemplar dos textos narrativos. Faltam os elementos típicos
do esquema narrativo, como espaço, personagens,
conflito, desfecho do conflito etc.
3)Correta. Podem ser vistas no texto várias marcas do
que caracteriza um diálogo oral (ver o início da primeira resposta do entrevistado).
4)Incorreta. O uso da linguagem figurada não é exclusivo da linguagem literária.
5)Incorreta. O entrevistado apresenta vários exemplos
que podem ilustrar seus argumentos (ver o que ele diz
acerca dos estrangeirismos que entraram no vocabulário do futebol).
70.b
Justificativa:
1)Incorreta. A afirmação constitui apenas uma constatação.
2)Correta. Trata-se de uma observação relevante pois
traz uma generalização que respalda o ponto de vista
defendido.
3)Correta. Igualmente: a observação feita apoia o argumento de que os estrangeirismos enriquecem o léxico
da língua.
4)Correta. Outra vez, um argumento reforça a ideia de
que a língua não está ameaçada pela entrada de palavras estrangeiras.
5)Incorreta. Não constitui informação principal, neste
texto, evocar a importação de palavras para o léxico
do futebol.
71.b
Justificativa:
a)Incorreta. Nada põe a língua em risco de decadência;
seu vocabulário é apenas enriquecido.
b)Correta. Como afirma o entrevistado, os estrangeirismos
são decorrência do próprio contato em que vivem os
povos e suas culturas.
c) Incorreta. As condições de subsistência das línguas não
são reguladas por mecanismos de controle.
d)Incorreta. A identidade morfossintática de uma língua
não se descaracteriza com a entrada de palavras estrangeiras. Pelo contrário, estas é que se ajustam às
regras da língua importadora.
e) Incorreta. De fato, os estrangeirismos são um fato cultural pouco significativo; no entanto, todos eles são
afetados pelas imposições gramaticais e lexicais da língua que os recebe.
72.e
73.b
74.d
75.c
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