Serra do Japi Malota A partir da capital paulista, percorre-se menos de 60 quilômetros até a serra do Japi. Quem passa pelas rodovias dos Bandeirantes e Anhangüera a caminho da capital ou do interior passa ao lado dessa serra, que é também margeada pela estrada que liga Jundiaí a Itu e depois pela que vai de Itu a Santana do Parnaíba. Apesar das estradas que existem no entorno, a srra do Japi guarda uma boa porção de área florestada. Segundo a Secretaria de Planejamento de Jundiaí, são 10.000 hectares de mata protegida, o que garante, além da preservação da floresta, a proteção da água, outro precioso recurso natural. Na região, rica em mananciais e nascentes que compõem a bacia do rio Tietê, há dezenas de cachoeiras. Parte da água da serra, gelada e cristalina, é utilizada para o abastecimento. A serra do Japi, um resquício de floresta nativa, fica entre São Paulo e Campinas, as duas maiores cidades do estado, e próxima à região mais povoada do 2 país. São cerca de 350 km de área dividida entre as cidades de Jundiaí, Cabreúva, Pirapora do Bom Jesus e Cajamar, com altitudes que variam de 700 a 1.300 metros. 52 Verde Perto 53 Malota Na terra das borboletas Ao longo da caminhada até a Cachoeira do Paraíso, a grande variedade de espécies de borboletas chama nossa atenção. Já foram identificadas na região mais de 900 espécies, três vezes o número de espécies encontradas em outras matas da região Sudeste. Com áreas que apresentam diferentes altitudes e grande diversidade de ambientes, no Japi podem ser encontradas até algumas espécies nativas de outras regiões, como a Amazônia e os Andes, raras no interior do estado de São Paulo. Uma das borboletas mais vistosas é a capitão-do-mato (Morpho achilles), que pode chegar a medir até 14 cm. Durante o vôo, os machos exibem suas asas azuis cintilantes, o que os torna atraentes para as fêmeas, além de colorir o caminho. Uma outra borboleta encontrada na região é a "monarca-verde" (Siproeta stelenes) que possui um desenho semelhante à borboleta monarca de cores laranja e preto. Espécie migratória, ocorre na serra no período do outono. Podemos encontrar 54 Verde Perto 55 também a borboleta estaladeira (Hamadryas epinome) assim denominada pelo som que produz em vôo. Sua estratégia de camuflagem, além do padrão de desenhos da asa, é seu pouso diferente. Fica imóvel de asas abertas sobre a superfície dificultando a sua visualização. Fotografamos também a borboleta-coruja (Caligo arisbe), que tem nas asas desenhos grandes que se assemelham a olhos, provavelmente uma estratégia para inibir predadores. Outra estratégia de sobrevivência interessante é a apresentada pela borboleta de asas negras (Mimoides lysithous) cujo padrão de cor imita o de outras espécies que tem gosto ruim para os predadores. Há ainda uma borboleta que bem poderia se chamar “asa de vidro” (Pseudoscada erruca). Suas asas, transparentes, com bordas pretas e alaranjadas, constituem uma forma de defesa, pois a transparência interrompe a continuidade do corpo, fazendo com que o predador veja linhas, mas não o animal. Uma borboleta de asas transparentes pode nos parecer estranha, mas na verdade as borboletas constituem uma exceção entre os insetos, na medida em que a grande maioria deles possue asas transparentes. As borboletas desenvolveram sobre as asas escamas que trabalham como painéis solares, aquecendo a musculatura, para garantir maior agilidade no batimento delas. Uma das diversas teorias que explica a diversidade de insetos, entre eles as borboletas da região, é o fato de a serra do Japi estar numa área de transição entre a Mata Atlântica que cobre a Serra do Mar e as matas mais secas do interior do estado de São Paulo, além de interação com o cerrado. As teias de aranha podem ser vistas em grande quanti56 Verde Perto 57 dade às margens das trilhas. São freqüentes as aranhas-de-teia-dourada (Nephilla clavips), que constroem a maior teia do mundo, com até 2 metros de raio. Originárias da África, vieram para as Américas a bordo dos navios negreiros e têm esse nome em função dos resistentes fios amarelados com os quais constroem suas teias. Esta aranha costuma capturar presas grandes. Pernilongos que eventualmente caem em sua teia são ignorados. Flagramos uma aranha-de-teia-dourada que havia capturado uma esperança verde e fazia dela sua refeição. Esse inseto se assemelha a gafanhotos e grilos, mas pertencem a outro grupo. Os “estragos” causados pelo serra-pau Nos meses de dezembro a março, podemos encontrar ao longo das trilhas da serra do Japi um grupo de besouros chamados cerambicídeos ou serra-paus. Estes insetos, geralmente pequenos nas matas de São Paulo, são capazes de derrubar uma árvore de 6 cm de diâmetro. Na época da procriação, a fêmea procura uma árvore adequada à postura dos ovos e à posterior alimentação das larvas. Depois de medir o diâmetro da árvore com suas antenas, como se usasse um paquímetro, escolhe um ponto de corte e serra o tronco com o maxilar durante aproximadamente três dias, até que a copa caia. Algumas espécies de serra-pau preferem árvores da família das mirtáceas, como a goiabeira (Psidium guajava), o araçazeiro (Psidium cattleianum) e a pitangueira (Eugenia uniflora). Na parte da copa que foi derrubada, os machos competem quanto ao tamanho de suas antenas e, durante a luta, podem até cortar as antenas do adversário. A fêmea leva mais três dias botando seus ovos ao longo do tronco, a distâncias regulares. Ela marca um ponto no tronco, faz um furo, põe nele o ovo e tampa o buraco, repetindo sucessivamente a operação. Pode-se ver na região o mané-magro, que, pertencente à fa58 Verde Perto 59 60 Verde Perto 61 mília Proscopiidae, é um falso bicho-pau. O bicho- observar as abelhas que usufruem os arbustos floridos aí pau é um gafanhoto com patas saltadoras e ante- presentes. na curta, enquanto o mané-magro não pula, tem Um local agradável para um piquenique e um bom antenas bem definidas, a cabeça parece perpendi- banho é a Cachoeira do Paraíso. Descendo uma curta cular ao corpo, mas utiliza-se do mesmo recurso - picada que sai da trilha, se chega à cachoeira, que forma o mimetismo – para se defender dos predadores, um lago não muito grande cercado de árvores. O fundo enquanto se alimenta de folhas sobre os arbustos. do lago é coberto de areia, o que facilita caminhar até a queda d’água e se deliciar com uma ducha de água fria Banho na Cachoeira do Paraíso Durante essa caminhada, pode-se escolher en- Verde Perto suado e com calor. Ótima pedida. tre dois pontos para descansar. O primeiro é o mi- Esses detalhes fazem o caminhar pela serra do Japi rante, onde está localizado um antigo observatório, uma imersão no mundo de belos insetos, entre muitas hoje abandonado. Do alto é possível avistar a cidade outras gratas surpresas que nos permitem treinar um olhar de Jundiaí, e no local há uma área plana e aberta, onde se pode fazer um lanche e 62 nas costas, principalmente no verão, em que se chega mais atento sobre a natureza. 63