Sistemas de Optimização de Equipamentos Portuários J. Dores Costa 2009 ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 2/42 Índice Índice...........................................................................................................................................2 1. Enquadramento....................................................................................................................3 2. Objectivos............................................................................................................................3 3. Programa sumário ...............................................................................................................4 4. Introdução............................................................................................................................5 5. Promoção da eficiência energética ....................................................................................12 6. Sistemas de produção e transporte de energia eléctrica ....................................................16 7. Introdução aos sistemas de energia eléctrica.....................................................................19 8. Utilização eficiente da energia eléctrica............................................................................31 9. Microredes.........................................................................................................................40 10. Bibliografia....................................................................................................................41 ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 3/42 Optimização da utilização da energia eléctrica 1. Enquadramento A sustentabilidade económica das empresas, a competitividade comercial, a empregabilidade e o progresso económico requerem uma atitude activa e consciente na procura de soluções criadoras de valor. Um dos factores que conduzem ao aumento do ganho das empresas é a eficiente gestão dos recursos energéticos. Para isso, torna-se necessário racionalizar os custos, minimizar os consumos e optimizar a utilização dos recursos. É hoje evidente que o desenvolvimento sustentável está associado à minimização da dependência dos combustíveis fósseis, como fonte das energias convencionais, procurando combater a desperdício e ao subaproveitamento de recursos energéticos disponíveis, e procurando novas fontes de energia mais amigas do ambiente. A formação de profissionais com competências decisórias na área da gestão energética deve basear-se no conhecimento técnico-científico actualizado. Porque as actividades portuárias e dos transportes, em geral, requerem largos consumos de energia, representando mesmo uma parcela considerável do consumo energético do país, o estudo da optimização da utilização da energia eléctrica nas vertentes técnicocientífica e económica, sem esquecer o seu enquadramento histórico, é de grande actualidade. 2. Objectivos Este módulo pretende contribuir para a formação de profissionais capazes de participarem, activamente, no apoio à decisão em questões relacionadas com o ambiente e a gestão de energia. No final, o aluno deve ser capaz de compreender o problema do consumo não racional de energia, de identificar recursos energéticos disponíveis e seu possível aproveitamento e de implementar mecanismos de gestão energética conducentes à racionalização de todos os consumos na empresa e no sector em que se insere. São focados os conceitos físicos de energia e de potência, e referem-se os sistemas de produção, transporte e distribuição de energia eléctrica. Referem-se as actuais preocupações no campo da utilização racional da energia e especial relevo com as metodologias, as técnicas e o suporte legal na utilização das energias renováveis e de co-geração. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 4/42 3. Programa sumário O desenvolvimento industrial e as fontes de energia. O mercado energético. A energia eléctrica em Portugal. Desenvolvimento do sistema eléctrico português. A utilização da energia, o progresso e a cultura energética dominante. Mudança de paradigma energético. Vectores de política energética. A dependência dos combustíveis fósseis e o impacto ambiental. Conceitos físicos de energia e potência, das grandezas eléctricas e as suas unidades. Sistemas de produção e distribuição de energia eléctrica. Perdas de energia. Caracterização dos principais consumidores industriais e domésticos. Potência activa e reactiva. Compensação do factor de potência. Utilização eficiente da energia. Factor de utilização de energia. Tarifário da energia eléctrica. Conceitos sobre o comportamento térmico dos edifícios. Custos de combustível e análise económica. Normas nacionais e internacionais referentes ao uso de energia. Análise da procura global de energia. Produção centralizada e descentralizada da energético nacional. Sistema eléctrico nacional. energia eléctrica. Planeamento Fontes de energia alternativas: solar, térmica, eólica, biomassa, biogás, hídrica e energia das ondas, entre outras, e equipamentos associados. Princípio de funcionamento e características técnicas destes sistemas. Integração em edifícios. Análise económica. Aplicação aos sistemas portuários e de transporte intermodal. O mercado e as barreiras; custos internos e externos; custos da energia útil; legislação e políticas de incentivos de utilização das fontes renováveis de energia. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 5/42 4. Introdução A revolução industrial, iniciada no século XVIII, caracteriza-se pela invenção, e uso, de máquinas que substituem a força muscular humana e animal, e a substituição da produção familiar pela produção fabril. A produção fabril apoiada em máquinas exigiu uma fonte de energia barata e a primeira a ser usada industrialmente em larga escala foi o vapor de água. E este obtinha-se, principalmente, através da queima do carvão. Desde meados do século XIX, a procura de fontes de energia baratas e o desenvolvimento de sistemas de transformação e de distribuição eficientes tornaramse factores decisivos para o progresso e o desenvolvimento económico dos países industrializados. Sem energia barata, o bem-estar, o progresso e a prosperidade, tal como a concebemos actualmente, não são possíveis. A luta pelo poder no mundo está associada ao controlo das fontes de energia. Inicialmente, as fontes de energia utilizadas foram os combustíveis fósseis como o carvão e o petróleo, e também a energia hídrica. As duas primeiras são potencialmente poluidoras e não são renováveis (embora a consciência desta realidade seja mais recente) e a terceira está limitada por problemas orográficos e, também, ambientais. Após a segunda guerra mundial, com a independência dos países produtores de petróleo e a procura crescente de energia por parte dos países industrializados, estes foram forçados a diversificar as suas fontes de energia, não só para aumentar a independência em relação aos produtores de petróleo mas, também, para precaver o esgotamento dessas fontes. Assumiu então maior importância o estudo de outras fontes de energia como a energia nuclear, outros combustíveis fósseis como o gás natural, e combustíveis biológicos como o álcool e o metano. A procura de fontes alternativas de energia existiu sempre e, como exemplo, referese o americano Charles Brush que, cerca de 1890, propôs a utilização do vento como fonte de energia, tendo construído uma turbina eólica que accionava um dínamo de 12 kW para carregar baterias. Razões de ordem técnica, mas também políticas e económicas, atrasaram o desenvolvimento industrial de sistemas de grande potência baseados em recursos renováveis. A título de exemplo, refira-se que só depois da crise do petróleo de 1973 é que se assistiu ao financiamento de actividades de I&D destinadas à construção de sistemas eólicos de potência superior a 100kW. Actualmente, já é vulgar a instalação de sistemas eólicos para a produção de electricidade com a potência de 2MW e estão programadas unidades de maior potência. Paralelamente, também o desenvolvimento de sistemas foto-voltaicos sofreu grande incremento. Testemunho disso, é a instalação da maior central solar de painéis fotovoltaicos do mundo no Alentejo, na Amareleja, que se estima que irá produzir uma energia anual de 93 GWh, que é suficiente para abastecer cerca de 35000 habitações. O sistema centralizado de produção de energia eléctrica, tal como existe actualmente ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 6/42 nos países industrializados, deve-se em grande parte às ideias desenvolvidas por Nicola Tesla nos USA há mais de 100 anos, e a um grupo de investidores a ele associados, como Westinghouse e J.P. Morgan. O sistema baseia-se na utilização de geradores de corrente alternada sinusoidal, de transformadores de tensão, e na distribuição da energia eléctrica através duma rede de condutores eléctricos que se estendem desde as centrais de produção até aos grandes centros de utilização. Este sistema centralizado de produção de energia eléctrica, esquematizado na Fig. 1, mantém-se até aos nossos dias. Nicolas Tesla foi engenheiro e nasceu na Croácia em 1856. Estudou nas Universidade de Gratz, Áustria, e na de Praga, Republica Checa. Em 1884 emigrou para os EUA onde trabalhou para Thomas Edison. Três anos depois, desavindo com Edison, criou o seu próprio laboratório onde inventou o motor de indução com corrente alternada. Trabalhou para Westinghouse impulsionando o uso da corrente alternada em vez da corrente contínua defendida por Edison. O sistema de corrente alternada acabaria por se impor no mundo industrializado e Tesla registou inúmeras patentes entre as quais se destacam a bobina de Tesla, uma lâmpada precursora das lâmpadas fluorescentes actuais, motores e alternadores polifásicos de corrente alterna, e a invenção da rádio, depois de em 1943 ter ganho o processo no Supremo Tribunal dos EUA contra Marconi. Grande parte da sua obra centrou-se na área da electricidade e do electromagnetismo, mas também se dedicou à robótica. Conviveu com grandes figuras da ciência e da arte do seu tempo. Sobrevivendo com uma pequena pensão do governo Jugoslavo, morreu pobre em Nova York em 1943. Fig. 1: Esquema da distribuição de energia eléctrica. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 7/42 A primeira central hidroeléctrica para produção de energia eléctrica em corrente alternada foi instalada em Oregon, EUA, em 1889 e, em meados de 1890, foi construída a primeira central hidroeléctrica nas cataratas do Niágara, totalmente projectada por Tesla. Muitas outras centrais hidroeléctricas, cada vez mais potentes, foram construídas nos EUA, na Europa e na antiga USSR durante as primeiras décadas do século XX. Em Portugal, a introdução de sistemas de iluminação eléctrica parece ter ocorrido em Setembro de 1878, com a exibição na Cidadela de Cascais, por ocasião do 15º aniversário do Rei D. Carlos, de seis candeeiros de arco voltaico importados de Paris, idênticos aos que iluminavam a Praça da Ópera. O equipamento era alimentado por um dínamo e foi encomendado pelo rei D. Luís. Em 1886, o Teatro São Carlos em Lisboa dispõe de uma central eléctrica privativa para a sua iluminação e, em 1887, o mesmo acontece com o Arsenal da Marinha. Em 1889, a Companhia do Gás fornece energia eléctrica para a iluminação da Avenida da Liberdade (o Posto de Luz Eléctrica da Avenida). A partir de 1902, as Companhias Reunidas de Gás e Electricidade (CRGE), que haviam sido criadas em 1891, começam a alargar a rede de iluminação eléctrica a toda a cidade de Lisboa. Todavia, em 1955 o Bairro de Santa Catarina ainda tinha iluminação pública a gás. A Real Fábrica de Fiação em Tomar é electrificada a partir de 1884; Braga foi iluminada em 1893 e, no ano seguinte, Vila Real tem a primeira rede de iluminação pública com recurso a um aproveitamento hídrico (do rio Corgo). No campo dos transportes públicos, no Porto (Arrábida, 1985) e Lisboa (Santos, 1901) foram construídas centrais termoeléctricas que alimentavam os veículos com tracção eléctrica das respectivas empresas Carris. Dum modo geral, Portugal também acompanhou a evolução mundial no que diz à utilização da electricidade, com a concessão governamental de licenças de produção e distribuição de energia eléctrica um pouco por todo o país: por alvará régio de 14 de Fevereiro de 1907, o Governo concede o aproveitamento da água do Rio Lima no do Concelho de Ponte da Barca; no ano seguinte, foi dada a primeira concessão da bacia hidrográfica do rio Alva à Empresa Hidroeléctrica da Serra da Estrela; em 1919 concluiu-se em Lisboa a Central Tejo, central termoeléctrica, que atingiria a potência de 10000 CV; no Porto, em 1915 foi construída a central termoeléctrica de Massarelos equipada com dínamos e alternadores com a potência total de 15000 CV. Criado sem planeamento, o sistema de produção eléctrica nas primeiras décadas do século XX caracterizava-se por uma grande pulverização de empresas que não permitiam a optimização de recursos. Em 1943 existiam em Portugal continental 674 centrais, sendo 110 hidroeléctricas e 564 termoeléctricas, que produziam cerca de 460 MWh [1]. Em 1944 foi publicada a Lei de Electrificação Nacional que definiu as grandes linhas de desenvolvimento da rede eléctrica nacional: centralização da produção e criação da rede de transporte; prioridade à produção hidroeléctrica; estabelecimento de centrais termoeléctricas para apoio em anos de seca queimando preferencialmente carvão nacional. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 8/42 Com a publicação na década de 1940 do Plano Hidroeléctrico Nacional, foram criadas as empresas hidroeléctricas do Cávado, do Zêzere e do Douro, e cujos empreendimentos foram projectados por engenheiros portugueses. Iniciou-se deste modo a criação dum know-how que prestigiaria a engenharia nacional nas décadas seguintes, tanto em hidráulica, engenharia civil e electrotécnica. Paralelamente, foram construídas as redes de distribuição em alta tensão com as tensões de 150 kV e 220 kV. Entre 1971 e 1974 foram construídas as barragens do Douro nacional, Tâmega, Mondego e Tejo (Fratel) [1, 2, 3]. Na década de 1960, em virtude da queda acentuada do preço do petróleo, a produção termoeléctrica tornou-se mais barata e, também por permitir uma resposta mais rápida às variações de carga, programou-se a construção das grandes centrais térmicas do Carregado e Setúbal com a queima de fuel. A central do Carregado dispõe actualmente de seis grupos de 125 MW cada: os dois primeiros grupos foram instalados em 1969, e os restantes em 1974 e 1976; os grupos 5 e 6 podem utilizar gás também natural. A Central Termoeléctrica de Setúbal dispõe de 4 grupos geradores de 250 MW cada; os grupos são accionados por turbinas a vapor, actualmente produzido a partir da queima de fuel, e a partir de 2012 prevê-se a utilização de gás natural. A Central Termoeléctrica de Sines é uma central termoeléctrica convencional que utiliza como combustível fóssil o carvão betuminoso e é considerada uma das mais poluentes da Europa. Está localizada a 6 km do único porto português de águas profundas e dispõe de 4 grupos geradores de 314 MW cada: o primeiro grupo entrou ao serviço em 1985 e os restantes entre 1986 e 1989. Esta central tem a maior potência instalada em todo o país, cabendo-lhe cerca de 22 % da energia eléctrica produzida. Em 30 de Junho de 1976, é criada a EDP - Electricidade de Portugal - em resultado da nacionalização e fusão das então principais empresas do Sector Eléctrico Português. A EDP constituía-se como uma empresa verticalizada, responsável pelo transporte e distribuição de energia eléctrica em Portugal. Tinha como objectivos a electrificação do País, a modernização e extensão das redes de transporte e distribuição de energia eléctrica, o planeamento e construção do parque electroprodutor nacional e o estabelecimento de um tarifário único para todos os clientes. Em meados da década de 1980 a rede de distribuição da EDP cobria 97% do território de Portugal Continental e assegurava 80% do fornecimento de energia eléctrica em baixa tensão. Em 1994 é criada a REN - Rede Eléctrica Nacional, S.A., como subsidiária da EDP. Actualmente, a REN tem como missão “garantir o fornecimento ininterrupto de electricidade e gás natural, ao menor custo, satisfazendo critérios de qualidade e de segurança mantendo o equilíbrio entre a oferta e a procura em tempo real, assegurando os interesses legítimos dos intervenientes no mercado e conjugando as missões de operador de sistema e de operador de rede que lhe estão cometidas”. Resultante da liberalização das indústrias de electricidade e de gás natural, as duas áreas de negócio principais da REN são: (i) o transporte de electricidade em muito alta tensão e a gestão técnica global do Sistema Eléctrico Nacional em Portugal Continental; (ii) o transporte e armazenamento de gás natural em alta pressão e a gestão técnica global do Sistema Nacional de Gás Natural. Está também presente no Mercado Ibérico de Energia (Pólo Português). ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 9/42 A evolução tecnológica dos sistemas de produção, conversão e transporte de energia eléctrica pode ser aferida comparando os 7,4 MW da Central Tejo, construída em 1919, com os 1176 MW instalados na Central Termoeléctrica do Ribatejo (TER) construída entre 2001 e 2004. A TER integra o Sistema Eléctrico Não Vinculado, e dispõe de três grupos de ciclo combinado a gás natural, com 392 MW de potência cada. Construída pelo consórcio Siemens/Koch com um orçamento global de 590 milhões de euros, esta central tem a capacidade de produzir 9 mil milhões de kWh, ou seja, o equivalente a 18% do consumo de energia eléctrica no país em 2006. Concluindo esta muito breve resenha histórica do desenvolvimento da electrificação de Portugal continental, que pode ser aprofundada, por exemplo, em [1-3], apresenta-se na Fig. 2 a evolução do consumo da energia eléctrica, de acordo com dados retirados de [1] e da ERSE. Aproximadamente, de 1940 a 2007, o consumo passou de 400 GWh para 46000 GWh, ou seja, em 67 anos o consumo em Portugal continental aumentou mais de 100 vezes. Todavia, é ainda o país com menor consumo/habitante/ano na EU, Fig. 3. Consumo de energia eléctrica 50000 45000 40000 35000 GWh 30000 25000 20000 15000 10000 5000 2010 2000 1990 1980 1970 1960 1950 1940 1930 0 ano Fig. 2: Evolução do consumo de energia eléctrica em Portugal continental. De acordo com dados da ERSE apresentados na Fig. 3, o consumo de energia eléctrica per capita regista uma grande disparidade entre países da EU (União Europeia), mas observa-se que Portugal regista o menor valor de todos. No entanto, Portugal é o país que apresenta o maior aumento entre os anos de 1970 e 2006 (cerca de 6,3 vezes). ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 10/42 Fig. 3: Consumo de energia eléctrica per capita na UE. Reconhecendo que os grandes consumos estão associados ao maior desenvolvimento industrial, o consumo de 4516 kWh/habitante em Portugal, no ano de 2006, sendo o menor da EU, demonstra a pequena dimensão da indústria portuguesa. Talvez por isso, procurando condições para o incremento da industria, precavendo o esgotamento das fontes fósseis e porque Portugal só explora 46% do seu potencial hídrico, fala-se hoje na necessidade de criar um novo Plano Nacional de Barragens com a identificação de locais para a construção de dez novos empreendimentos até 2020. O objectivo deste novo plano é aproveitar até 70% do potencial hídrico português instalando mais 2000 MW de potência. Com este plano, Portugal seria colocado no terceiro lugar na Europa em termos de energias renováveis, depois da Suécia e da Áustria. De acordo com a Fig. 4, com a construção das novas barragens, Portugal atingiria em 2020 os 7000 MW de potência hidroeléctrica instalada. Esta situação constituiria uma correcção ao crescimento da produção eléctrica principalmente baseada em combustíveis fósseis que se verificou a partir da década de 1990. Entre 2000-2007, a potência instalada em Portugal continental cresceu cerca de 50%, passando de 10,8 GW para 14,7 GW. Para este acréscimo contribuíram as centrais de produção de energia eléctrica a partir de gás natural, as que utilizam fontes renováveis, nomeadamente as eólicas e as grandes hídricas. Na Fig. 5, verifica-se que a produção de energia eléctrica é principalmente suportada pelas centrais térmicas. Esta situação não decorre apenas do mau planeamento ou de mau aproveitamento dos recursos renováveis. As centrais termoeléctricas permitem uma resposta mais rápida e melhor ajuste da produção à variação do consumo. Perante as flutuações do mercado consumidor, o equilíbrio entre a potência produzida e consumida consegue-se mais rapidamente através das centrais termoeléctricas. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 11/42 Fig. 4: Potência instalada em Portugal. Fig. 5: Produção de energia eléctrica quanto à origem. As preocupações quanto ao ambiente, a procura da diversificação das fontes de energia e de menor dependência dos combustíveis fósseis levaram à incorporação de outras fontes renováveis no tecido produtivo da electricidade. É este o caso da energia eólica e da solar fotovoltaica. Em 2008, a energia eléctrica produzida por parques eólicos representou cerca de 11% da potência consumida e em 2012 pretende-se duplicar esta capacidade. Mas, porque a energia eléctrica não é facilmente acumulável, e porque o consumo eléctrico é variável no tempo, é necessário que o sistema produtivo possua fontes controláveis que rapidamente ajustem a produção à procura. O recurso eólico, apesar de maior disponibilidade do ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 12/42 que o hídrico, não é controlável e o fotovoltaico não funciona durante a noite. Desta forma, a utilização de centrais térmicas e hidroeléctricas para repor o equilíbrio da potência não pode ser desprezada. A integração dos diferentes sistemas produtivos e a estabilização da produção da energia eléctrica constituem importantes desafios face à penetração das energias renováveis. Paralelamente, estudam-se soluções para o armazenamento de energia recorrendo à bombagem de água para níveis mais elevados e à compressão de ar. E estuda-se também a utilização do hidrogénio em larga escala. Portugal tem uma grande dependência de recursos energéticos. As importações de petróleo em 1998 representavam 6% das importações totais e em 2004 aumentaram para 11%. Para além da utilização fontes de energia renováveis e métodos de controlo eficientes, é hoje inquestionável que a racionalização do consumo e o aumento da eficiência energética são factores importantes para o crescimento sustentável. 5. Promoção da eficiência energética Considerando o custo da energia como um factor de competitividade e o impacto das emissões de CO2 nas alterações climáticas, a procura da eficiência energética é um tópico de grande actualidade. As perspectivas de escassez petrolífera, a liberalização do sector energético, e a necessidade de contabilizar o custo do carbono nas actividades económicas, impulsionam a procura de soluções energéticas mais eficientes, quer do lado da oferta, quer do lado da procura, e exigem o aumento da responsabilidade social das empresas face ao Protocolo de Quioto. Pela importância, transcreve-se integralmente o texto da responsabilidade da ERSE (Entidade Reguladora dos Serviços Eléctricos) sobre o Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica [4]: “A nível internacional, ao abrigo do Protocolo de Quioto e do compromisso comunitário de partilha de responsabilidades, Portugal assumiu o compromisso de limitar o aumento das suas emissões de gases de efeito de estufa (GEE) em 27% no período de 2008-2012 relativamente aos valores de 1990. Neste contexto, o Programa Nacional para as Alterações Climáticas (PNAC), adoptado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 119/2004, de 31 de Julho, e mais recentemente o PNAC de 2006, aprovado pela Resolução do Conselho de Ministros n.º 104/2006, de 23 de Agosto, quantifica o esforço nacional das emissões de GEE, integrando um vasto conjunto de políticas e medidas que incide sobre todos os sectores de actividade. A eficiência energética do lado da procura tem estado na agenda do legislador sendo de referir a Estratégia Nacional para a Energia, aprovada através da Resolução do Conselho de Ministros n.º 169/2005, de 24 de Outubro, e a Directiva 2006/32/CE, de 5 de Abril de 2006, relativa à eficiência na utilização de energia e aos serviços energéticos. Ainda no âmbito do enquadramento legislativo salienta-se o Decreto-Lei n.º ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 13/42 29/2006 de 15 de Fevereiro que estabelece como uma das Obrigações de Serviço Público “A promoção da eficiência energética, a protecção do ambiente e a racionalidade de utilização dos recursos renováveis e endógenos”. E estabelece como uma das atribuições da regulação “Contribuir para a progressiva melhoria das condições técnicas e ambientais das actividades reguladas, estimulando, nomeadamente, a adopção de práticas que promovam a eficiência energética e a existência de padrões adequados de qualidade de serviço e de defesa do meio ambiente”. O mesmo diploma estabelece ainda os princípios aplicáveis ao cálculo e à fixação das tarifas sendo de destacar a “Contribuição para a promoção da eficiência energética e da qualidade ambiental”. A evolução na regulação e liberalização dos mercados da electricidade e do gás natural tem levado a uma maior eficiência no lado da oferta de energia. No entanto, no que respeita ao lado da procura, continuam a existir inúmeras barreiras ao aumento da eficiência no consumo de energia, nomeadamente quanto à participação das empresas de energia em actividades de eficiência energética. A definição de tarifas que permitam, por um lado, recuperar os custos associados a cada actividade e, por outro, apresentem variáveis de facturação que traduzam os custos efectivamente causados por cada consumidor e, por último, que apresentem estruturas e preços aderentes à estrutura de custos marginais ou incrementais, induz a uma utilização racional da energia eléctrica e dos recursos associados. Nestas circunstâncias, considera-se que a actual metodologia de cálculo das tarifas de energia eléctrica estabelecida no Regulamento Tarifário, que consagra os três requisitos referidos anteriormente, promove a eficiência no consumo de energia eléctrica. Adicionalmente, o reconhecimento da existência de diversas barreiras à adopção de equipamentos e hábitos de consumo mais eficientes por parte dos consumidores, bem como a eventual existência de externalidades ambientais não reflectidas nos preços, justifica a implementação de medidas de promoção da eficiência no consumo. Estas barreiras ou falhas de mercado dificultam ou impedem a tomada de decisões eficientes pelos agentes económicos. Entre as várias barreiras de mercado à eficiência no consumo citam-se alguns exemplos: período de retorno alargado, diferença entre preços de fornecimento ou das tarifas aplicáveis e os custos marginais de curto prazo, externalidades, falta de informação e elevados custos de transacção associados, desalinhamento de interesses entre os agentes ou restrições financeiras dos consumidores. Reconhecendo esta situação, a ERSE tem procurado que a regulamentação do sector dinamize acções que contribuam para a promoção da eficiência energética nesta área. Em particular, no Regulamento Tarifário do sector eléctrico estabelecese um mecanismo competitivo de promoção de acções de gestão da procura, a implementar pelos comercializadores, operadores de redes e associações e entidades de promoção e defesa dos interesses dos consumidores, designado por Plano de Promoção da Eficiência no Consumo de energia eléctrica (PPEC). No PPEC de energia eléctrica são atribuídos incentivos para a promoção de medidas que visem melhorar a eficiência no consumo de energia eléctrica, através de acções empreendidas pelos comercializadores, operadores de redes e entidades ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 14/42 de promoção e defesa dos interesses dos consumidores de energia eléctrica de Portugal Continental e das Regiões Autónomas, e destinadas aos consumidores dos diferentes segmentos de mercado. As acções resultam de medidas específicas propostas, sujeitas a um concurso de selecção, cujos critérios estão definidos nas Regras do Plano de Promoção da Eficiência no Consumo. Este concurso permite seleccionar as melhores medidas de eficiência energética a implementar pelos promotores anteriormente referidos, tendo em conta o montante do orçamento anual do PPEC disponível, sendo este aprovado no início de cada período de regulação para cada um dos seus anos. As medidas de eficiência no consumo de energia eléctrica que poderão vir a ser contempladas pelo PPEC devem promover a redução do consumo de energia eléctrica ou a gestão de cargas, de forma permanente, que possam ser claramente verificáveis e mensuráveis, não devendo o respectivo impacto na poupança de energia ter sido já contemplado noutras medidas específicas. Por gestão de cargas entendem se as medidas que permitam uma redução dos custos de fornecimento, sem que isso envolva necessariamente a redução de consumos, nomeadamente a transferência de consumos em períodos de horas de ponta e/ou cheias para os períodos de vazio. Apenas as medidas que suportam estes objectivos serão abrangidas pelo PPEC. São igualmente consideradas medidas de informação e de divulgação que, muito embora não tenham impactos directos mensuráveis, são indutoras de comportamentos mais racionais e permitem a tomada de decisão mais consciente pelos visados no que diz respeito à adopção de soluções mais eficientes no consumo de energia eléctrica. Do ponto de vista do Regulamento Tarifário são elegíveis as acções que promovam a eficiência do lado da procura de energia eléctrica. As várias acções são valorizadas e hierarquizadas consoante os custos de implementação e os benefícios que produzam. Entre os benefícios são considerados, por um lado, benefícios na óptica do sector eléctrico associados a reduções de custos do lado da oferta e, por outro, benefícios ambientais associados à diminuição das emissões de gases poluentes, em particular gases com efeito de estufa como CO2. A promoção da eficiência do lado da procura, por parte da regulação, fazendo incidir nas tarifas reguladas os custos dos programas, torna imprescindível a quantificação, por um lado, dos custos de implementação das medidas e dos impactes tarifários observados pelos consumidores de electricidade e por outro, dos correspondentes benefícios alcançados com a sua implementação. A ERSE promoverá a divulgação de informação junto dos consumidores de energia eléctrica sobre a implementação das medidas de promoção da eficiência no consumo em particular sobre os resultados alcançados. “ [4] Para além dos aspectos económicos, a poupança de energia é a forma mais rápida e eficaz de reduzir as emissões de gases com efeito estufa e de melhorar a qualidade do ar. Alguns dos estudos realizados na UE sugerem que o consumo de energia mais eficiente permitiria: (i) a poupança de 200 a 1000 euros numa família europeia média; (ii) a UE poderia economizar cerca de 20% do actual consumo anual de energia, aproximadamente 60 mil milhões de euros por ano. Para além disto, o reforço de ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 15/42 políticas e práticas de eficiência energética poderiam criar um milhão de novos postos de trabalho [5]. O sector eléctrico contribui actualmente com 40% do total de emissões de CO2 a partir da queima de combustíveis e, sem mudanças, estima-se que estas emissões dupliquem em 2030. Para evitar as piores previsões quanto às alterações climáticas, as emissões globais em 2050 terão que ser limitadas aos níveis actuais. Por outro lado, a produção de energia eléctrica também necessita de água para refrigeração e produção de vapor, o que tem implicações com a previsível escassez de recursos hídricos [6]. Para obstar à situação descrita torna-se necessário investir em melhores tecnologias no que diz respeito à produção, transporte, distribuição e utilização final da energia eléctrica. Na agenda proposta em [6] para garantir a sustentabilidade dos recursos energéticos, exige-se: 1. 2. 3. 4. 5. 6. Garantir investimentos em infra-estruturas; Levar mais energia a mais pessoas; Utilizar a eficiência como recurso final; Diversificar e descarbonizar o mix de combustíveis; Acelerar a Investigação e Desenvolvimento (I&D); Reforçar e modernizar as redes. E quanto a investimentos, convém ter presente que, de acordo com a Agência Internacional de Energia [7], só o transporte e a distribuição de energia representam cerca de metade do investimento total no sector da electricidade, Fig. 6. Fig. 6: Investimento no sector eléctrico mundial [7]. Para reduzir o consumo energético e combater o efeito dos gases de estufa, é importante estimular a eficiência no consumo, melhorar o aproveitamento de novos recursos energéticos e investir internamente em I&D na área da energia. Para este propósito, têm sido propostas diversas medidas das quais se salientam: ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 1. 2. 3. 4. 5. 16/42 Certificação do desempenho energético dos edifícios (directiva 2002/91/CE); Limitação do consumo de combustíveis nos veículos privados; A optimização da gestão do tráfego; Constituição dum mercado de transportes não poluentes; Sensibilização do público sobre energia sustentável. Para o bom cumprimento destas medidas é importante sensibilizar os consumidores domésticos e os técnicos cuja actividade profissional seja determinante para a promoção da eficiência energética. No lado da produção é importante aumentar a eficiência dos processos de conversão da energia primária e reduzir as perdas no transporte e distribuição da energia eléctrica; no lado dos consumidores é importante aumentar a eficiência da utilização dos equipamentos. Se do lado da oferta a melhoria depende grandemente dos investimentos e da componente de I&D em áreas da engenharia, do lado do consumo há que investir na formação e sensibilização para modificar o comportamento dos utilizadores. Outros aspectos complementares compreendem a utilização de novas tecnologias para a utilização racional dos equipamentos de iluminação e de climatização e a disseminação de sistemas de monitorização energética em edifícios (sistemas vulgarmente incluídos nos designados edifícios inteligentes). As acções de formação e de sensibilização são importantes porque os consumidores desconhecem as tecnologias disponíveis no mercado que são mais eficientes e os seus potenciais benefícios. A isto acrescenta-se a reconhecida aversão à introdução de novas tecnologias, quer pelo risco técnico associado quer pelo maior investimento inicial que essas tecnologias mais eficientes exigem. O capital necessário para realizar os investimentos, as limitações no acesso ao crédito e a ausência de incentivos são também factores limitativos a ter em consideração, tanto mais que o retorno do investimento é relativamente longo (alguns anos), e depende do tipo da instalação e da potência em causa. 6. Sistemas de produção e transporte de energia eléctrica A sociedade industrializada em que vivemos não teria sido possível sem a energia eléctrica. Do século XIX para o século XX passou-se de sistemas de produção de energia eléctrica locais e não estandardizados para a produção centralizada com características comuns. A centralização da produção permitiu a electrificação dos países e a interligação de redes eléctricas continentais. A energia eléctrica tornou-se um bem comercializável essencial ao bem-estar das sociedades. A maior parte da energia eléctrica é produzida em centrais que são localizadas tendo em conta a proximidade das fontes primárias de energia (ou da sua disponibilização) e os grandes centros de consumo. Nestas centrais, converte-se energia mecânica, obtida a partir de fontes de energia primária, em energia eléctrica. As fontes de energia primária são combustíveis fósseis (carvão, fuel, gás natural), água (com ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 17/42 energia potencial gravítica ou cinética), biomassa, vento, sol, marés, energia das ondas e de marés, fissão nuclear, etc. Em geral, as fontes primárias dão origem a energia mecânica (por exemplo, a queima de carvão dá origem a vapor de água que acciona turbinas) e geradores eléctricos convertem a energia mecânica em energia eléctrica. O conjunto turbina-gerador é designado por grupo gerador, ou mais simplesmente por grupo. Portugal tem uma forte dependência energética e em 2008 importou cerca de 83% da energia primária consumida. Apesar dos investimentos na área dos recursos endógenos e renováveis (é importante constatar o aumento da produção eólica no últimos anos, Fig. 5), a factura energética tem crescido e o impacto negativo na balança comercial agravou-se com as recentes oscilações dos preços dos combustíveis fósseis. Para além das centrais hidroeléctricas e termoeléctricas convencionais, existem actualmente sistemas que aproveitam energias renováveis: eólico, solar térmico e fotovoltaico, biomassa, energia das ondas, etc. No caso da grande produção, estes sistemas estão electricamente interligados através duma rede de condutores eléctricos (rede eléctrica). Os consumidores, que electricamente são designados por cargas, obtêm energia a partir da rede eléctrica. Na Fig. 7 apresenta-se o corte simplificado duma central hidroeléctrica. A energia cinética da água no canal de escoamento é transformada nas turbinas em energia mecânica que é transformada em energia eléctrica pelo gerador. Fig. 7: Esquema duma central hidroeléctrica. Nas centrais com albufeira (reservatório) o caudal de água é regularizado. As centrais a fio de água aproveitam directamente o caudal do rio que é variável. Os aproveitamentos a fio de água são normalmente de pequena potência. Na Fig. 8 apresenta-se o esquema duma turbina eólica destinada à produção de ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 18/42 energia eléctrica. O vento é provocado pela diferença de pressões devidas ao diferente aquecimento da superfície da Terra e, na tentativa de igualar as pressões, a massa de ar circula das pressões mais altas para as pressões mais baixas. A energia cinética da massa de ar em movimento (vento) acciona a turbina eólica (1, 2) e a energia mecânica resultante é convertida em energia eléctrica pelo gerador (9). Fig. 8: Esquema duma central eólica (nacelle). Os geradores dos exemplos anteriores podem ter características eléctricas diferentes mas, para serem interligados com o sistema de produção eléctrica, a tensão e a frequência têm que ser adequados aos valores da rede eléctrica. O sistema eléctrico industrial utiliza tensões trifásicas alternadas sinusoidais com a frequência de 50 Hz. Para permitir o transporte da energia eléctrica a grandes distâncias usam-se tensões elevadas de 400kV ou 220 kV. A adequação das tensões é feita através de transformadores. Na Fig. 1 apresentou-se o esquema de uma rede eléctrica constituída a partir de uma única central. A produção de energia eléctrica com a interligação de várias centrais é esquematizada na Fig. 9. Os transformadores, com os seus interruptores e órgão de protecção (disjuntores e fusíveis) são colocados em subestações ou postos de transformação, sendo estes últimos que abastecem directamente os consumidores de baixa tensão (BT) através de redes aéreas ou subterrâneas. Os geradores mais utilizados nas redes eléctricas produzem tensões alternadas (sinusoidais) e por isso se designam frequentemente por alternadores. A potência gerada tem que igualar, em cada instante, a soma da potência consumida com as perdas de transporte e de transformação. Os conceitos de potência, energia, tensão e corrente são referidos no parágrafo seguinte. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 19/42 Fig. 9: Esquema do sistema de produção e transporte. O sistema representado na Fig.9 constitui a base dos sistemas de produção e de transporte de energia centralizado que é utilizado nos países industrializados há mais de 100 anos. Os geradores são actualmente máquinas de grande potência que procuram aproveitar, com o melhor rendimento possível, as fontes de energia primária de que necessitam. Todavia, existem pequenas povoações e concentrações industriais que possuem a sua própria rede eléctrica e um sistema de produção independente. Esta situação não se verifica só em países menos desenvolvidos, e acontece em aglomerados populacionais situados em zonas remotas para as quais é técnica ou economicamente inviável ligá-las às redes principais. 7. Introdução aos sistemas de energia eléctrica Uma rede eléctrica simples, que se representa na Fig. 10, é um circuito eléctrico composto por uma fonte de energia (fonte de alimentação ou gerador) que fornece energia eléctrica à carga através dos condutores que os interligam. A fonte de energia gera, por qualquer processo electromecânico, electroquímico, electrónico, ou outro, uma diferença de potencial (ddp), designada por u, aos seus terminais, sem a qual não existe a circulação de cargas eléctricas nos condutores entre a fonte e a carga. Chama-se tensão eléctrica à diferença de potencial entre dois pontos. No sentido convencional, as cargas eléctricas dirigem-se do terminal com potencial mais elevado para o terminal com potencial mais baixo, e a circulação das cargas faz-se através da carga, condutores e fonte. À circulação das cargas eléctricas chama-se corrente eléctrica e é quantificada pela sua intensidade, i. A corrente eléctrica tende a anular a diferença de potencial entre os terminais da fonte e, para que isso não aconteça, a fonte necessita de uma fonte de energia primária (W - carvão, fuel, gás, sol, vento, marés, etc) para manter a ddp aos seus terminais constante. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 20/42 Fig. 10: Circuito eléctrico fonte-carga. A energia da fonte primária é convertida em energia eléctrica na fonte que é por sua vez transferida para a carga com uma dada taxa de variação no tempo. Chama-se potência à taxa de variação da energia com o tempo. Matematicamente falando, a potência, p, é a derivada da energia, W, em ordem ao tempo: p= dW dt (1) No sistema internacional, a unidade da energia é o joule (J) e a da potência é o watt (W). De acordo com (1), 1 W é igual à variação de energia de 1J num segundo (1J=1W/s). Electricamente, a potência é igual ao produto da tensão u, que pode variar no tempo, pela intensidade da corrente i, que também pode variar com o tempo: p (t ) = u (t ).i (t ) (2) A equação (2) representa o valor instantâneo da potência, isto é, o valor da potência em função do tempo. Pelo princípio da conservação da energia, a potência à saída da fonte, PG, é igual à soma da potência da carga, PC, com a potência das perdas da transmissão, PP: PG= PP,+ PC (3) A tensão eléctrica pode ser constante ou variável com o tempo. Se for constante, dizse tratar-se duma tensão contínua, e os circuitos eléctricos alimentados com fontes de tensão constante são designados por circuitos de corrente contínua. Geralmente, as tensões das redes eléctricas industriais são variáveis no tempo segundo uma lei sinusoidal: u (t ) = U .sen (ω.t ) (4) ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 21/42 em que U é amplitude da tensão, ω é a pulsação, e t é a variável tempo. A forma de onda de (4) está representada na Fig. 11. Fig. 11: diagrama temporal de u (t ) = U .sen (ω.t ) . A frequência da rede eléctrica europeia é 50 Hz. A pulsação, ω, é constante e igual a ω=2.π.f = 100π rad/s. O período da tensão, T, é o inverso da frequência: 1 f 2π T= ω T= (5a) (5b) Para a rede de 50 Hz, o período das tensões e correntes sinusoidais é T=20 ms (Fi. 11), e a pulsação é ω=314,16 rad/s. Uma outra grandeza importante para as tensões e correntes variáveis no tempo é o valor eficaz. Matematicamente, o valor eficaz é o valor quadrático médio duma função periódica. Por exemplo, o valor eficaz da tensão u (t ) = U .sen (ω.t ) é dado por (6). T U ef 1 = u (t ) 2 dt T ∫0 (6) Para grandezas sinusoidais, deduz-se de (6) que o valor eficaz é igual à sua amplitude a dividir por raiz quadrada de 2: U ef = U 2 (7) ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 22/42 No sistema internacional de unidades, o valor instantâneo da tensão, a sua amplitude ou o seu valor eficaz medem-se em volt (V). Igualmente, para a corrente sinusoidal definem-se o valor instantâneo, a amplitude e o seu valor eficaz que, no sistema internacional, têm como unidade o ampére (A). Se uma fonte de tensão é ligada a uma carga de modo a estabelecer-se um caminho fechado, o que se representa na Fig. 12(a), existirá uma corrente eléctrica que circula nesse caminho fechado. Se a tensão é sinusoidal, a corrente eléctrica também o será mas, dependendo da característica eléctrica da carga, as duas ondas sinusoidais poderão estar desfasadas. A desfasagem entre as duas sinusóides, é o ângulo φ, está representada na Fig. 12(b). Fig. 12: (a) circuito; (b) diagramas temporais da tensão, u(t), e da corrente, i(t). A desfasagem entre tensão e corrente é imposta pela carga; em regime sinusoidal, a carga é caracterizada pela sua impedância, Z; a impedância é um número complexo e tem como unidade o ohm (Ω). O módulo de Z é o cociente da divisão da amplitude U da tensão pela amplitude da corrente I; o argumento de Z é a diferença entre as fases de u(t) e i(t). Seja u (t ) = U .sen (ωt + α u ) e i (t ) = I .sen (ωt + α i ) : Z= U U ef = I I ef φ = αu − αi (8.a) (8.b) De acordo com (2) p (t ) = u (t ).i (t ) , por substituição e tendo em conta que cos(a-b) cos(a+b) = 2sen(a)sen(b), obtém-se: p (t ) = U .I .sen (ωt + α u ).sen (ωt + α i ) = U .I ⋅ [cos(α u − α i ) − cos(2ωt + α u + α i )] (9) 2 Chama-se potência activa, P, ao valor médio num período da potência instantânea p(t); calculando o valor médio num período, T, de (9), obtém-se: ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica P= 1 T T ∫ 0 p (t ) dt = U .I ⋅ [cos(α u − α i )] = U ef I ef cos(φ) 2 23/42 (10) Conclui-se de (10) que a potência activa (cuja unidade é W) depende fortemente da desfasagem entre a tensão e a corrente (o ângulo φ). Chama-se potência reactiva, Q, ao valor calculado através de (11): Q = U ef I ef sen (φ) (11) A potência reactiva tem como unidade o VAr (volt-ampére-reactivo) e quantifica a taxa de variação da energia electromagnética trocada entre as fontes e as cargas e que não produz “trabalho útil”. Finalmente, chama-se potência aparente ao produto U ef I ef : S = U ef I ef = P 2 + Q 2 (12) A potência aparente tem como unidade o VA (volt-ampére) e corresponde ao valor máximo da potência activa quando φ=0, isto é, quando a tensão e a corrente estão em fase. Chama-se factor de potência à razão entre a potência activa e a potência aparente: P = cos φ S (13) Quanto maior for a razão (13) tanto maior é o factor de potência; se cos φ=1 (factor de potência unitário), P é numericamente iguala a S; se cos φ=0 (a desfasagem entre os valores instantâneos da tensão e da corrente é 90º) a potência activa é nula, mas a aparente não. Quer isto dizer que, apesar de não haver “trabalho útil” a ser desenvolvido pela instalação, existe circulação de corrente nos condutores que alimentam a instalação, corrente este que tem que ser produzida pelo sistema eléctrico produtivo. Tendo em conta as equações (10) a (13), é usual representar-se as potências aparente, activa e reactiva segundo o triângulo de potências representado na Fig. 13. Fig. 13: triângulo de potências. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 24/42 De (12) e da Fig. 13, conclui-se que para uma potência activa, P, constante, quanto menor for a potência reactiva, Q, menor será a potência aparente, S, e maior será o factor de potência (cos φ). Como a tensão da rede é constante, de (12) conclui-se que a redução de S conduz à redução do valor eficaz da corrente, Ief. De acordo com (1), verifica-se que W=P.t, isto é, a energia (em joule) é igual ao produto da potência (em watt) pelo tempo (em segundo). Industrialmente, a unidade de tempo utilizada é a hora, pelo que a energia é quantificada em W×h, ou watthora. Normalmente usam-se múltiplos destas unidades como kWh=1000Wh e kVA=1000VA. Exemplo 7.1 Uma lâmpada de 60W está acesa continuamente durante 5 horas. Calcular a energia consumida em (a) Wh e (b) em J. (a) E=60×5=300 Wh (b) E=60×5×3600=1080000 J Nas facturas da EDP pode-se ler a potência contratada (a potência máxima que se considera instalada) em kVA, e a energia consumida num dado período em kWh. Esta situação é ilustrada com a Fig. 14. Como nota, registe-se que a tarifa seria em 2009 igual a 0,1221€/kWh. Fig. 14: pormenor duma factura EDP. Como se referiu, a potência activa corresponde ao desenvolvimento dum “trabalho útil”; todavia, existe uma parcela da energia que é armazenada nas redes e nas cargas eléctricas e que é trocada periodicamente com a fonte, sem produzir trabalho útil. A taxa média de variação desta energia de trocas num período corresponde à potência reactiva. O aumento da potência reactiva corresponde a um aumento da intensidade da corrente eléctrica sem o correspondente aumento na potência activa. Assim, os grandes consumidores de energia eléctrica são penalizados pela energia reactiva que “consomem” e, para além dos contadores de energia activa, são também instalados pelo distribuidor os contadores de energia reactiva. Esta energia pode ser adquirida ao distribuidor, ou pode ser compensada pelo consumidor através da instalação de baterias de condensadores. O custo da energia reactiva, se fornecida pelo distribuidor, é actualmente cerca de 0,02€/kVArh, mas existe um limite mínimo permitido para o factor de potência da instalação. O investimento nos condensadores compensa o proprietário e, também porque reduz a corrente eléctrica, melhora a exploração das redes eléctricas. A instalação de ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 25/42 baterias de condensadores permite aumentar o factor de potência e reduzir a factura energética. Para além disso, promove uma utilização mais eficiente de recursos económicos com poupanças significativas de energia. Exemplo 7.2 Uma instalação tem uma potência activa de 60 kW com cos φ=0,89. Qual é a redução da energia reactiva ao compensar o factor de potência para 0,98? Solução: da Fig. 13 conclui-se que Q=P×tg φ. Para cos φ=0,89, resulta φ=29,5º e Q1= 30,74 kVAr; para cos φ=0,98, resulta φ=11,5º e Q2= 12,18 kVAr. A redução da potência reactiva é Q1- Q2=18,56 kVAr. Exemplo 7.3 A instalação do exemplo 7.2 funciona, em média, 10 h/dia e 320 dias por ano. Qual é a poupança anual permitida pela compensação do factor de potência? (Admita a tarifa de 0,02€/kVArh). Solução: a poupança anual será C=18,56×3200×0,02= 1187,84 €. Um circuito como o da Fig. 12(a), alimentado por uma única fonte de tensão alternada sinusoidal, é um circuito monofásico. Os sistemas de produção e transporte de energia eléctrica de grande potência são sistemas trifásicos porque, devido à sua construção, os alternadores comportam-se como se fossem três fontes de tensão alternadas sinusoidais, funcionando simultaneamente, incluídas na mesma máquina. A Fig. 15 esquematiza o princípio de funcionamento e a constituição dum alternador trifásico: por um processo de indução electromagnética são criadas três tensões sinusoidais (u1, u2, u3) e, desprezando as perdas, a potência mecânica no veio, PMec, fornecida por qualquer tipo de motor, é convertida na potência eléctrica aos terminais do alternador, PE; a potência eléctrica total pode ser repartida por três circuitos eléctricos diferentes, cada um deles sendo alimentado pelas tensões u1, u2, u3; estas três tensões, representadas na Fig. 16, têm a mesma amplitude e frequência, mas são desfasadas entre si de 120º. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 26/42 Fig. 15: alternador trifásico. Fig. 16: tensões trifásicas; (a) diagrama temporal; (b) representação vectorial. Os circuitos do estator do alternador podem ser construídos, e ligados, de forma a terem um terminal comum às três tensões e a este terminal comum chama-se neutro. Cada um dos três enrolamentos (fases) do alternador poderá alimentar um circuito monofásico independente (fase-neutro), como se representa na Fig. 17. As tensões nas cargas, u1, u2 e u3, formam um sistema trifásico de tensões que pode também ser representado por um diagrama vectorial semelhante ao da Fig. 16(b). A Fig. 17, representa um circuito a quatro condutores - três fases e um neutro (OO’): o alternador dispõe de três fases independentes (1, 2, 3) e um condutor do neutro entre O e O’. Os nós O e O' são os pontos neutros do alternador e da carga, respectivamente. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 27/42 I1 1 U1 O 3' 1' iO Z1 O' 2' 3 2 I2 U2 Z2 Z3 U3 I3 Fig. 17: Sistema trifásico com condutor de neutro. A repartição da potência eléctrica total pelos três circuitos monofásicos permite utilizar condutores de menor secção e melhorar as características construtivas e de funcionamento do alternador. Num sistema de quatro condutores as tensões podem ser medidas dos dois modos representados na Fig. 18: as tensões entre fase e neutro são designadas por tensões simples e as tensões entre as fases são designadas por tensões compostas. As amplitudes complexas das três tensões compostas (u12, u23 e u31) são também representadas por três vectores com o mesmo comprimento e desfasados entre si de 120º. Da Fig. 18(a) resulta: r r r U12 = U1 − U 2 r r r U 23 = U 2 − U 3 r r r U 31 = U 3 − U1 (14) A relação entre as amplitudes (ou entre os valores eficazes) das tensões simples e das tensões compostas pode ser determinada a partir da Fig. 18(b), tendo em conta o seguinte triângulo: U12 = U1 cos 30º 2 do que resulta U1 30º 60º U 12 = 3 U 1 U2 U12 ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 1 28/42 U12 U12 2 U31 U1 U23 30º 3 U1 U2 120º U3 0 U3 U23 120º U2 U31 a) b) Fig. 18: tensões simples e compostas; (a) referencial; (b) diagrama vectorial. Generalizando o resultado anterior, a relação entre as amplitudes (ou os valores eficazes) das tensões simples e compostas é dada por U c = 3U s (15) Este é o motivo pelo qual a tensão entre duas fases (tensão composta) da rede industrial em Portugal é Uc=380 V e a tensão entre fase e o neutro (tensão simples) é Us=220 V ou, mais recentemente, 230V e 400V, respectivamente. Além da ligação em estrela representada na Fig. 18, também se utiliza a ligação em triângulo na qual não existe um ponto comum entre as três fases. Esta é o caso da Fig. 15 em que não existe um ponto neutro e as tensões entre cada enrolamento do alternador são as tensões compostas. A potência activa total do sistema trifásico será dada pela soma das potências activas de cada uma das fases. Pt = P1 + P2 + P3 (16) No caso de um sistema de tensões simétricas e com cargas equilibradas a potência activa trifásica será o triplo da potência activa monofásica: Pt = 3U s I l cos φ = 3U c I l cos φ (17) em que Us representa a tensão simples, Uc representa a tensão composta e Il é a corrente na linha. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 29/42 Num sistema trifásico, as potências totais reactiva Qt e aparente St são respectivamente, Qt = 3U s I l senφ = 3U c I l senφ (18) S t = 3U s I l = 3 U c I l A potência posta em jogo numa carga trifásica com as impedâncias ligadas em triângulo é tripla da potência posta em jogo nas mesmas impedâncias se elas forem ligadas em estrela. Para os consumidores de maior potência (usualmente para potências superiores a 13,8 kVA) a alimentação é trifásica. Neste caso, a distribuição das cargas pelas três fases é feita no quadro eléctrico da instalação. A distribuição das potências é feita de modo mais ou menos equitativo e segundo os cálculos do projectista e os circuitos de saída do quadro eléctrico podem ser monofásicos ou trifásicos de acordo com as cargas a alimentar. Exemplo 7.4 Numa instalação eléctrica trifásica de baixa tensão a potência contratada é 69 kVA. Quais são as potências activa e reactiva máximas se o factor de potência for 0,9? Solução: a potência aparente S=69 kVA e cos φ=0,9; de acordo com (17) e (18) a potência activa é P=S.cos φ e a potência reactiva é Q=S.sen φ. Então, P= 62,1 kW e Q= 30,1 kVAr. A tensão de alimentação das instalações eléctricas pode variar, embora dentro de valores padronizados, e serem monofásicas ou trifásicas, conforme a potência instalada. Por exemplo, quanto ao valor da tensão e à potência contratada, as instalações são classificadas por escalões de acordo com a tabela seguinte: Baixa tensão normal (BTN) Uef mínimo [kV] 0,23 Uef máximo [kV] 1 1,15 kVA≤ S ≤ 41,4 kVA Baixa tensão especial (BTE) 0,23 1 S≥41,4 kVA Média tensão (MT) 1 45 Alta tensão 45 110 Escalões do tarifário (AT) Muito Alta tensão (MAT) 110 Potência contratada ≥6 MW ≥25 MW Para a generalidade das instalações residenciais, lojas, escritórios e pequenas empresas, a instalação será monofásica ou trifásica e alimentada em baixa tensão (BTN). Para pequenos negócios como restauração, panificação, lavandarias, hotelaria, carpintarias, escritórios, etc, com potências contratadas superiores a 41,4kVA, a ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 30/42 instalação será trifásica e em baixa tensão (BTE). Para a indústria em geral e grandes empresas de serviços e de hotelaria, as instalações são alimentadas em média tensão. As instalações industriais de grande porte como siderurgias, os grandes hospitais, as indústrias da celulose, plásticos, adubos, grandes instalações portuárias e serviços energéticos, são alimentados em alta tensão. A muito alta tensão é reservada para os transportes ferroviários, extracção mineira e em geral para instalações de elevada potência. Normalmente, as máquinas eléctricas, equipamentos de iluminação, telefónicos, computadores e outros, são alimentados em baixa tensão. Por isso, as instalações de MT, AT e MAT necessitam de transformadores que reduzem as tensões de alimentação até à baixa tensão que alimenta finalmente aqueles equipamentos. Os transformadores de tensão são instalados em subestações e postos de transformação conforme os níveis da tensão e a localização das cargas a alimentar. A Fig. 19 esquematiza um posto de transformação que, a partir de uma entrada em média tensão (MT) de 10 kV, alimenta o quadro geral da instalação em baixa tensão (QGBT) a partir do qual se alimentam os circuitos de iluminação, tomadas, força motriz e demais equipamentos em BT quer sejam monofásicos (230V) ou trifásicos (400V) e cuja potência aparente máxima total não ultrapassa 100 kVA. Fig. 19: posto de transformação (PT). Exemplo 7.5 Para o esquema unifilar da figura e as potências indicadas, determine: a) a potência activa total; b) a potência aparente total; c) a potência reactiva total. PA=25 kW, cosφ=0,82; PC=40 kW, cosφ=0,90 PB=12 kW, cosφ=0,87 Solução: (a) P= 77 kW; (b) S= 88,7 kVA; (c) Q= 44,1kVAr ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 31/42 A potência contratada é a potência que os distribuidores colocam à disposição do cliente. Normalmente, a potência contratada em MT, AT ou MAT não poderá ter um valor, em kW, inferior a 50% da potência instalada, em kVA, e que corresponde à soma das potências nominais dos transformadores relativos ao ponto de entrega. Por exemplo, numa instalação como a da Fig. 19, a potência instalada seria 100 kVA e a potência contratada não poderia ser inferior a 50 kW. Todavia, nos fornecimentos em MAT, AT, MT e BTE a potência contratada é actualizável tendo em conta a máxima potência activa média, em kW, registada em qualquer intervalo ininterrupto de 15 minutos, durante os últimos 12 meses. Finalmente, é importante referir que nos fornecimentos em BTN não há lugar à facturação da energia reactiva, mas que nos restantes casos, a energia reactiva consumida (indutiva) pelos clientes, nas horas fora de vazio do período a que a factura respeita, que exceda 40% da energia activa consumida no mesmo período, pode ser objecto de facturação, desde que já tenham decorrido oito meses após o início do fornecimento. 8. Utilização eficiente da energia eléctrica Com a independência dos países produtores de petróleo e o aumento da sua capacidade reivindicativa, derivada da forte dependência que os países industrializados tinham do petróleo, tido então como fonte de energia barata, adivinhava-se o aproximar duma crise energética. Não é por acaso que se verificou então o ressurgimento do carvão como fonte de energia primária e o grande investimento na construção de centrais nucleares. Como consequência do maior custo das novas centrais, acrescido dos custos associados à protecção ambiental e das pessoas, e do aumento do custo dos combustíveis fósseis, o custo da produção da energia eléctrica aumentou. Em finais de 1973, com o eclodir da crise do petróleo, as preocupações com o uso racional e eficiente da energia eléctrica ganham maior relevo e consciência social. A necessidade crescente de energia para o desenvolvimento e bem-estar das populações e a consciência que os combustíveis fósseis são finitos, impuseram o uso eficiente da energia e o investimento em recursos energéticos alternativos. Em Portugal, a partir da década de 1990, é publicada legislação que acaba com o monopólio da EDP no sector da produção de energia eléctrica. Procura-se então liberalizar parcialmente este sector, permitindo que empresas privadas produzam electricidade, criar condições para o auto-financiamento e aliciar o investimento em novos recursos. Do lado do consumidor, pretendeu-se acabar com as assimetrias regionais ao uniformizar os preços e protegem os consumidores domésticos. É de referir o decreto-lei 182/95 de 27 de Julho que estabelece as bases organizativas do Sistema Eléctrico Nacional (SEN) que passou a compreender o Sistema Eléctrico Independente (SEI) e o Sistema Eléctrico de Abastecimento Público (SEP). Integram o SEI o Sistema Eléctrico não Vinculado (SENV), a produção hidroeléctrica até 10 MVA, a produção de energia eléctrica a partir de energias renováveis não hídricas e de cogeração. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 32/42 No SENV, é livre o acesso às actividades de produção e de distribuição em Média Tensão e Alta Tensão, (artigo 44.º do Decreto-Lei n.º 182/95) e os clientes não vinculados têm direito de acesso às redes do SEP mediante o pagamento de tarifas regulamentadas. O decreto-lei 313/95 de 24 de Novembro regula a produção integrada no SEI. Em 2004 completou-se a abertura do mercado português de energia eléctrica com a publicação do Decreto-Lei n.º 36/2004, de 26 de Fevereiro, que estende a elegibilidade aos clientes em BTE, e com o Decreto-Lei n.º 192/2004, de 17 de Agosto, que considera os clientes em BTN. A possibilidade de escolha do fornecedor, para todos os clientes eléctricos, tornou-se efectiva em Setembro de 2006. A Rede Nacional de Transporte (REN), explora a Rede Nacional de Transporte em regime de concessão exclusiva. A REN, enquanto operador do sistema, é também responsável pelo planeamento e gestão técnica global do SEN, pela gestão global do SEP e pelo planeamento, projecto, construção, exploração e desactivação das infraestruturas que integram a RNT de energia eléctrica, e pelo despacho das centrais de produção. Com a actual legislação, o Sistema Eléctrico Nacional passou a ter a constituição da Fig. 20. Fig. 20: O sistema Eléctrico Nacional. As componentes que integram o SEN são: - Sistema Eléctrico Público (SEP) que assegura o fornecimento de energia eléctrica em Portugal. - Sistema Eléctrico Independente (SEI) que efectua entregas às redes do SEP ao ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 33/42 abrigo de legislação específica e que integra o Sistema Eléctrico Não Vinculado (SENV) - produtores em regime especial (energias renováveis e cogeradores) – e o Sistema Eléctrico Não Vinculado (SENV) que funciona segundo uma lógica de mercado, podendo cada cliente não vinculado escolher o seu comercializador de electricidade. - Produção Vinculada que está sujeita a planeamento centralizado, sendo a licença de novos centros electroprodutores atribuída por concurso público. Os produtores vinculados relacionam-se comercialmente com a REN mediante os Contratos de Aquisição de Energia (CAE's) a longo prazo e em regime de exclusividade. - Produção Não Vinculada que é exercida em regime de livre concorrência mediante a atribuição de licença por parte da DGGE. Em Dezembro de 2006, o Grupo EDP era o único produtor não vinculado a operar no sistema com 1.420 MW de capacidade instalada (Mini-hídricas - 244 MW; CCGT Ribatejo - 1.176 MW). Em Dezembro de 2006, o Grupo EDP tinha 7.164 MW de capacidade instalada a operar no SEP. Para além da EDP, operam ainda no sistema vinculado a Tejo Energia (central a carvão com 584 MW - 11% EDP) e a Turbogás (CCGT com 990 MW - 40% EDP). - Produção em Regime Especial que inclui parques eólicos, mini-hídricas (até 10MW), autoprodutores, cogeradores e outros produtores que gerem electricidade a partir de fontes de energia renováveis. A REN é obrigada a adquirir electricidade a estes produtores a um preço regulado. - Distribuição Vinculada que transfere electricidade dos sistemas de transmissão para o cliente final, quer do SEP quer do SENV, através de uma rede de distribuição, com as tarifas e segundo as condições regulamentarmente estabelecidas. - Comercialização Vinculada que engloba os procedimentos comerciais inerentes à venda a retalho de energia eléctrica aos clientes vinculados (contratação, facturação e cobrança). A actividade de comercializador regulado é assegurada pelo operador da rede de distribuição da área geográfica onde se situa a instalação do cliente. A área autorizada de distribuição da EDPD abrange a totalidade do território de Portugal continental, sendo assim o único comercializador regulado existente no território. As tarifas e preços praticados pelos comercializadores regulados são aprovados pela ERSE. - Comercialização Não Vinculada que consiste na contratação de energia eléctrica para fornecimento aos clientes não vinculados. Requer a atribuição, por parte da DGGE, de uma licença sem limite temporal. O Grupo EDP exerce a actividade de comercialização não vinculada através da EDP Comercial, S.A. (subsidiaria a 100% detida pela EDP, S.A.). - Clientes Vinculados que optaram por contratar o fornecimento de energia eléctrica com o comercializador regulado, no sistema vinculado, a uma tarifa regulada, aprovada pela ERSE. ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 34/42 - Clientes Não Vinculados que podem escolher livremente o seu fornecedor de energia eléctrica, tendo o direito a mudar de fornecedor até 4 vezes em cada período de 12 meses consecutivos, sem qualquer custo adicional. Mediante o pagamento de tarifas reguladas têm direito de acesso às redes do SEP. O acesso ao SENV pressupõe a obtenção do estatuto de Cliente Não Vinculado, implicitamente atribuído a todos os que verifiquem as condições de elegibilidade estabelecidas no Regulamento das Relações Comerciais. O estatuto de cliente não vinculado só produz efeitos a partir da data de celebração de um contrato de fornecimento de energia eléctrica com um fornecedor. A constituição do SEN foi concebida para optimizar a produção e distribuição de electricidade num mercado livre e concorrencial de energia eléctrica, e dotar o sistema eléctrico dos recursos económicos públicos e privados necessários para a melhoria da produção e para o financiamento de empreendimentos que utilizem energias renováveis. Uma outra possibilidade foi introduzida com o Decreto-Lei n.º 68/2002, de 25 de Março, que prevê a instalação eléctrica de microprodução com autoconsumo e regula o exercício da actividade de produção de energia eléctrica em baixa tensão. Esta legislação cria a figura do produtor-consumidor que pode entregar à rede pública uma potência máxima até 150 kW, desde que o consumo próprio, ou o fornecimento a terceiros, seja pelo menos 50% da energia eléctrica produzida. A microgeração é potencialmente interessante para os consumidores domésticos ou empresas porque permite a produção de electricidade para auto-consumo e a venda do excedente à rede eléctrica pública. A produção recorre, nomeadamente, a painéis fotovoltaicos e mini-turbinas eólicas, embora também se preveja a utilização de outras micro unidades, como a cogeração a biomassa, mini-hídricas ou pilhas de hidrogénio. A medida pretende reduzir a dependência energética nacional, as perdas e os investimentos em redes de distribuição, e estima-se obter 165 MW de potência instalada em sistemas de microgeração em 2015. O Decreto-Lei n.º 363/2007, de 2 de Novembro de 2007, veio simplificar o processo de licenciamento das instalações e estabeleceu a criação dum regime bonificado com base na tarifa de referência de € 650/MWh nos primeiros cinco anos. Apesar do investimento inicial poder não ser recuperável a muito curto prazo (com os equipamentos mais vulgares existentes no mercado) a evolução tecnológica e a redução previsível no custo dos equipamentos, tornam esta medida economicamente interessante sobretudo para os consumidores localizados em zonas de grande potencial eólico. Saliente-se que a figura do produtor-consumidor altera o paradigma da produção centralizada e impõe-se o recurso de medidas de gestão e controlo das redes que, em grande parte, ainda são objecto de I&D [9-11]. Nas últimas décadas a maior parte dos países industrializados iniciaram a abertura dos seus mercados de energia eléctrica e os monopólios estatais foram reduzidos e parcialmente privatizados. Estas mudanças, e a consequente competição do mercado, deram origem a profundas mudanças na concepção centenária da indústria de produção e transporte de energia. A contribuição de investidores privados e estatais ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 35/42 tende a criar uma rede descentralizada de produção e de distribuição de energia eléctrica, cujas consequências técnicas e económicas não estão ainda totalmente apreendidas [12]. As medidas tomadas pelos governos portugueses inserem-se naquela tendência e a descentralização e o desenvolvimento de rede interactivas, entre consumidores e produtores (smart-grids), são ainda um capítulo em aberto, com futuros desenvolvimentos técnico-científicos e cuja análise dos benefícios para o mercado e a sociedade em geral está na ordem do dia [10, 13]. Entretanto, do lado do consumidor, para reduzir o consumo energético e combater o efeito dos gases de estufa, é importante estimular a eficiência do consumo e melhorar a eficiência da conversão energética. A utilização mais eficiente da energia eléctrica por parte dos consumidores deve basear-se nos seguintes tópicos: - consciencialização de que a energia é um bem com custos elevados; - consciencialização de que as fontes convencionais de energia são finitas e que o aproveitamento dos recursos renováveis tem também custos elevados; - sensibilização para a necessidade do uso racional da energia eléctrica; - divulgação de tecnologias mais eficientes; - é necessário investir na formação dos técnicos profissionalmente envolvidos nesta área. Os custos da utilização da energia eléctrica numa instalação dependem do regime de funcionamento da empresa e de opções quanto aos seguintes itens: - tensão de alimentação; - potência instalada; - potência a contratar; - tarifa mais adequada. Estes itens estão de certa forma interligados e a opção final consiste na escolha da combinação que proporciona o menor custo. O custo da energia eléctrica depende, em geral, da hora e do dia a que se verifica o consumo. Por isso, um conceito importante a ter em conta são os ciclos de carga que correspondem à forma como o consumo de electricidade se distribui ao longo das 24 horas e os 7 dias da semana. A ERSE define, para os consumidores ligados em Baixa Tensão Normal (BTN), dois ciclos distintos: Ciclo Diário: caracteriza-se por uma definição (duração e localização) dos períodos horários igual para todos os dias da semana, não fazendo distinção entre os dias úteis e os fins-de-semana, nem para períodos de Verão e Inverno. Ciclo Semanal: caracteriza-se por uma definição dos períodos horários em três categorias - dias úteis, sábados e domingos. Inclui ainda a distinção dos dois períodos de hora legal (verão e inverno). ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 36/42 Por exemplo, em Portugal continental, para os consumidores em BTN com tarifa bihorária, consideram-se os seguintes períodos diários: Para efeitos contratuais, a opção normal é o ciclo diário com a distribuição das horas cheias, vazias e de ponta sempre igual em qualquer dia da semana. A cada um dos períodos corresponde um custo diferente, sendo o período de vazio aquele que tem a tarifa menor. No ciclo semanal consideram-se os dias úteis, o sábado e o domingo. A opção pelo ciclo semanal pode ser mais económica para uma empresa que labore continuamente nos sete dias da semana com uma carga praticamente constante. Entende-se por horas de vazio, o período em que a potência pedida à rede é mínima. Como se pode verificar no quadro acima, o período de vazio corresponde ao intervalo nocturno entre as 22 horas e as 8 horas da manhã do dia seguinte. Nalguns casos também se definem horas de super vazio que correspondem ao intervalo compreendido entre as 2h e as 6 horas (da manhã). As horas de ponta são aquelas em que a rede tem que fazer face potência máxima, e as horas cheias correspondem ao fornecimento duma potência entre aquelas duas. Os períodos de vazio e fora de vazio considerados para as tarifas de energia subdividem-se do seguinte modo: Horas fora de vazio Horas de vazio Horas de ponta Horas cheias Horas de vazio normal Horas de super vazio Para 2009, como exemplo, a ERSE estabeleceu os seguintes períodos para os consumidores em BTN [8]: ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 37/42 Nos fornecimentos em BTN a potência contratada é disponibilizada por escalões de potência aparente em kVA. A energia reactiva só é facturada para consumidores em BTE, MT, AT e MAT. Em Portugal continental, o ciclo semanal bi-horário comporta os seguintes períodos: O custo da energia eléctrica é o somatório dos custos dos consumos em cada um dos períodos considerados. Por este facto, a escolha do tipo de tarifação mais adequada ao funcionamento duma empresa, ou a adequação do seu modo de funcionamento, são factores importantes para a redução dos custos da energia eléctrica. Por exemplo, a transferência de parte do consumo para as horas de vazio pode significar uma razoável poupança para o consumidor. A disseminação de tecnologias mais eficientes é um outro factor importante para a poupança na facturação e para a redução das emissões de poluentes atmosféricos e causadores do efeito de estufa (óxidos de azoto, NOx, monóxido de carbono, CO, dióxido de carbono, CO2, e hidrocarbonetos, HC). Este problema está associado à formação técnico-científica de quadros, à mudança de mentalidades e à sensibilização da população em geral, e requer um investimento não desprezável. Um dos métodos para controlar as emissões dos navios, enquanto um navio está acostado é o fornecimento de electricidade a partir de terra para alimentar os circuitos de iluminação, tomadas, aquecimento, ar condicionado e água quente para a tripulação. Os armadores e as autoridades portuárias são cada vez mais pressionados para melhorarem a qualidade do ar nos portos, sobretudo nos localizados em áreas densamente povoadas. A alimentação eléctrica dos navios acostados que é feita através de tomadas de terra é não só economicamente vantajosa mas, também, menos poluente do que a obtida através dos alternadores de bordo. Adicionalmente, a poluição atmosférica poderia ser reduzida drasticamente se fossem utilizados sistemas baseados em energias renováveis. No entanto, para racionalizar o fornecimento de energia a partir de terra (onshore power supply – OPS), é necessário ter em conta a tensão, a frequência e a ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 38/42 potência necessária. A escolha da tensão e frequência das instalações eléctricas a bordo é decidida na fase de projecto tendo em conta, nomeadamente, a tensão e a frequência das redes de distribuição existentes nos portos a que o navio é previsto operar. Em sistemas trifásicos de baixa tensão, os valores eficazes das tensões podem variar entre 120V e 500V, com a frequência de 50Hz ou 60Hz. Refira-se que, nos modernos sistemas de propulsão eléctrica, podem ser instalados a bordo circuitos de média tensão até 11 kV. Para compatibilizar a tensão das instalações do navio à de terra podem-se instalar transformadores de tensão, quando a frequência é a mesma, ou conversores electrónicos de potência que adequam quer o valor eficaz quer a frequência. Tendo em conta as limitações de espaço a bordo e a idade de boa parte dos navios, a compatibilização das tensões pode ser feita através de conversores electrónicos instalados em terra. Este investimento pode trazer vantagens económicas, porque permite que um maior número de navios seja alimentado a partir de terra, e ambientais porque reduz a libertação de gases poluentes. Uma situação potencialmente interessante acontece quando é possível utilizar recursos renováveis para o fornecimento de energia eléctrica às instalações portuárias. São várias as propostas neste sentido que têm sido desenvolvidas por fabricantes de equipamento eléctrico. Um destes exemplos, retirado de [14] é apresentado na Fig. 21. Fig. 21: Alimentação de terra com recurso a fontes renováveis. A alimentação eléctrica a partir de terra, em BT ou MT, pode ter impacto considerável na rede eléctrica existente e a solução a adoptar carece de estudos técnicos das instalações, ponderados pela viabilidade económica e pelo efeito atractivo de novos navios. Em alternativa, os recentes avanços na electrónica de potência permitem a instalação de conversores estáticos a bordo que permitem a interligação a qualquer rede eléctrica de terra. A instalação destes equipamentos é suportada pelo armador, mas depende do espaço existente a bordo e do tipo de navio. Por exemplo, os porta-contentores não necessitam de equipamento instalado no navio para as operações de carga e descarga, ao passo que os navios tanque podem necessitar das suas próprias bombas que são accionadas por turbinas a vapor internas. São conhecidas instalações portuárias que utilizam já sistemas electrónicos para alimentação de terra. Um dos exemplos, é o porto de Los Angeles que em 2007 ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 39/42 anunciava [15]: “Port of Los Angeles, CA - NYK Line and the Port of Los Angeles are pleased to announce the first successful implementation of a "direct" shoreside electric power connection to a container vessel at berth. The 6.6 KV Alternative Maritime Powered (AMP) NYK Atlas arrived at Yusen Terminals on Saturday afternoon, November 10th and was connected to shoreside power a few hours after docking. The vessel continued utilizing the shoreside power until its departure three days later. Components of the AMP™ system at the Port of Los Angeles include a shore side power source, a conversion process to transform the shore side power voltage to match the vessel power systems, and a container vessel that is fitted with the appropriate technology to utilize electrical power while at dock. The City of Los Angeles Department of Water and Power manages the electrical system and supplies power. Depending on the size of the ship, estimates are that AMP will reduce NOx by one ton and take more than half a ton of sulfur oxides (SOx) out of the air each day the ship is at berth and plugged in.” O investimento das empresas do sector marítimo portuário em sistemas de produção na óptica do produtor-consumidor, na racionalização dos consumos e em novos métodos para o fornecimento de energia eléctrica aos navios acostados, é uma questão actual [14-16]. Embora as soluções técnicas possam ser difíceis de implementar, face à potência eléctrica necessária e as infra-estruturas e os recursos renováveis disponíveis, a redução da poluição ambiental, a redução do ruído, o menor custo, a atracção de novos fretes e a possibilidade de manutenção dos grupos dieseleléctricos enquanto os navios estão acostados, são vantagens imediatas da modernização dos sistemas de alimentação eléctrica a partir de terra. Para além do recurso eólico, presente em muitas zonas portuárias, o aproveitamento das coberturas de edifícios e de parques de estacionamento para a instalação de painéis fotovoltaicos, numa óptica de produtor-consumidor em que parte da energia é consumida e a excedentária é vendida à rede, pode revelar-se economicamente interessante. As utilizações possíveis vão desde a alimentação de circuitos de iluminação à carga dos acumuladores de veículos eléctricos ou de embarcações com motores eléctricos para portos urbanos, etc. A redução da poluição das zonas portuárias é uma preocupação importante porque o fuel utilizado pelos navios causa uma poluição superior aos automóveis que circulam nas cidades próximas. Por esse facto, a UE aprovou a Directiva 2005/33/EG que determina que os estados membros adoptem medidas para reduzir a quantidade de enxofre nos combustíveis para uso marítimo para 0,1% em todos os portos da EU a partir de 1 de Janeiro de 2010, [17]. Concluindo, as preocupações quanto à poluição ambiental e às alterações climáticas, provocadas pela actividade humana, são indissociáveis das preocupações quanto à utilização racional da energia. A consciencialização de que a energia é um bem com ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 40/42 custo ambiental elevado e que as fontes convencionais de energia, com origem em combustíveis fósseis, são finitas e poluentes, exige a adopção de medidas com vista à sensibilização dos consumidores para o uso racional da energia eléctrica. Paralelamente, é necessário investir em fontes renováveis, em tecnologias mais eficientes e na formação dos profissionais envolvidos nesta área. Tudo isto representa um esforço económico considerável, cujo impacto pode ser minimizado com o estudo das opções tarifárias mais convenientes, por vezes, acompanhadas com mudanças na produção, e com a integração na rede eléctrica de sistemas que aproveitem os recursos renováveis intermitentes e aleatórios. Esta situação atingirá também os transportes marítimos e as actividades portuárias em geral, sendo previsível que, a curto prazo, sejam adoptadas medidas inovadoras que aproveitem as possibilidades criadas pela legislação vigente e pelo desenvolvimento do SEN, tendo em vista o aumento da competitividade num mercado concorrencial em termos de preços e serviços. 9. Microredes ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica 41/42 10. Bibliografia [1] Francisco de Almeida e Sousa, Subsídios para a História da Electrificação Portuguesa, CLC-FLUP, 1998. (http://ler.letras.up.pt/uploads/ficheiros/5285.pdf). [2] Jaime Alberto do Couto Ferreira, João José Monteiro Figueira, “A electrificação do centro de Portugal no século vinte”, EDP Distribuição – Energia, SA, 2001 (Centro de Documentação do Museu da Electricidade). [3] Barragens de Portugal, http://cnpgb.inag.pt/gr_barragens/gbportugal/. [4] ERSE- Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica, http://www.erse.pt/pt/eea/planodepromocaodaeficiencianoconsumoppec/Pagin as/default.aspx. [5] Sustentabilidade, Publicação BCSD Portugal, nº 5, Novembro 2005. [6] Energia para um futuro sustentável, Publicação BCSD Portugal-REN, Fevereiro 2008. [7] Hiroyuki Kato, World Energy Investment Outlook, International Energy Agency, October 2003. [8] http://www.erse.pt/consumidor/electricidade/querosercliente/ [9] http://www.smartgrids.eu/documents/New-ERA-for-Electricity-in-Europe.pdf [10] The Development of Smart Grids in Europe - 1st Edition, 2007 http://www.researchandmarkets.com/reports/ [11] Robert Galvin, Kurt Yeager, Jay Stuller, Perfect Power: How The Microgrid Revolution Will Unleash Cleaner, Greener, And More Abundant Energy, Ed. McGraw-Hill, 2009. [12] François Lévêque, Competitive Electricity Markets and Sustainability, Edward Elgar Publishing, 2006. [13] The Intelligent Grid and Renewable Integration: Technology Developments, Key Costs and the Future Outlook, http://www.researchandmarkets.com/ [14] High Voltage Shore Connection – green onshore electricity, ABB brochure 2008. [15] http://greentechnolog.com/2008/08/ /port_of_los_angeles_pollution_reduction_program.html http://www.portoflosangeles.org/environment/alt_maritime_power.asp ENIDH - Mestrado em Gestão Portuária Optimização da utilização da energia eléctrica [16] http://www.terasaki.co.jp/tj/05products/pdf/terasaki_amp_system.pdf [17] http://eur-lex.europa.eu/LexUriServ/site/en/oj/2005/l_191/ /l_19120050722en00590069.pdf 42/42