UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO INSTITUTO DE LINGUAGENS COORDENAÇÃO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ESTUDOS DE LINGUAGEM SELEÇÃO 2012 ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: ESTUDOS LITERÁRIOS Nome do(a) candidato(a): ___________________________________ INSTRUÇÕES 1. Use caneta de tinta azul ou preta. 2. Identifique-se de forma legível nesta folha de rosto. 3. Considerando que, para a correção, esta prova será desidentificada, não assine e nem faça, no espaço destinado às respostas definitivas, qualquer marca que possa identificá-lo(a). 4. A prova terá a duração de 04 (quatro) horas, não havendo tempo adicional para transcrição das respostas definitivas. 5. Se quiser, utilize as folhas de rascunho. 6. Todo o material da prova será recolhido. ATENÇÃO: Dentre as questões abaixo, escolha DUAS e responda-as. 1. Angel Rama, no subcapítulo sobre Subculturas regionais e classistas (In: AGUIAR e VASCONCELOS, 2001, p. 288-289), dialogando com outros estudiosos da literatura e a historia de América Latina, discute a fundação das cidades latinoamericanas pelos espanhóis, o projeto de modernização que criaram para a Região e sua produção cultural. Com base no fragmento abaixo, discorra sobre as consequências literárias e ideológicas que este projeto teve para a América Latina. “Theodore Caplow havia assinalado que “há mais variação cultural dentro das cidades latinoamericanas do que na maioria das cidades dos Estados Unidos e da Europa”, característica arrancada das próprias origens da cidade fundada pelos conquistadores; mais pelos espanhóis do que pelos lusitanos, já que puseram em prática um desígnio civilizador para se opor a essa variação cultural que se aninhava inclusive dentro do recinto fortificado e que se estendia para além de seus limites. Esse desígnio para o qual Romero (1976, p.13) (...), criou a fórmula “cidade ideológica”, é o que vai estabelecer a profunda marca hispânica no continente [...]. (...) à cidade cabe a tarefa de modelar o espaço circundante a partir de uma concepção centralista e autoritária do projeto que é levado adiante por uma monarquia absoluta. O projeto começa a amadurecer nos fins do século XIX e triunfa no século XX, o que resulta no comentado choque da modernização, que então se apóia em outras metrópoles e não somente Madri, com as culturas tradicionais internas. Essa modernização é exercida ainda mais fortemente sobre a heteróclita composição cultural da própria cidade, mediante um rígido sistema hierárquico. Para que este se pudesse consolidar no campo cultural, aplica-se o padrão aristocrático, o mais vigoroso modelador das culturas latinoamericanas ao longo de toda sua história, incumbindo essa tarefa a uma elite intelectual cuja importância na época colonial é exagerada e, apesar das vicissitudes da vida americana, continua sendo até nossos dias. É o que em outro lugar chamei de “cidade letrada”, que foi a que, com exclusivismo confiscatório, apropriou-se do exercício da literatura e impôs as normas que a definiam, fixando quem podia praticá-la. Salvo em poucos momentos, posteriores a fortes comoções sociais (a Emancipação, a revolução mexicana, a violência imigratória no sul, a maciça emigração rural para as cidades), é a “cidade letrada” que conserva ferreamente a condução intelectual e artística, a que instrumenta o sistema educativo e que estabelece o Parnaso de acordo com seus valores culturais”. 2. No livro A ascensão do romance: estudos sobre Defoe, Richardson e Fielding (1990), Ian Watt procura identificar os fatores que favoreceram o aparecimento do romance na Inglaterra. Destaque aqueles que influenciaram na mudança da composição do público leitor e discorra sobre sua importância para a consolidação do novo gênero. 3. Discorra sobre as particularidades fundamentais apontadas por Mikhail Bakhtin, em Questões de Literatura e estética: a teoria do romance (2002), que distinguem a epopeia do romance e dos gêneros sério-cômicos que o precederam. 4. Em Signos em Rotação (2003), Octavio Paz traz reflexões profícuas relacionadas à arte, sobretudo ao poema. No capítulo “Imagem”, por exemplo, Paz procura distinguir o ato poético (a poesia) de outras experiências limítrofes. Dentre as reflexões que faz sobre a palavra “imagem”, ele afirma que ela se sustenta numa pluralidade de significados sem quebrar a unidade formal da frase ou conjunto de frases, aproximando ou conjugando realidades opostas. A imagem submete a unidade à pluralidade do real, pois “cada imagem – ou cada poema composto de imagens – contém muitos significados contrários ou díspares, aos quais abarca ou reconcilia sem suprimi-los” (p.38). Com base em tais reflexões, discorra analiticamente sobre a imagem poética no poema que segue. XIX O rio que fazia uma volta atrás de nossa casa era a imagem de um vidro mole que fazia uma volta atrás de casa. Passou um homem depois e disse: Essa volta que o rio faz por trás de sua casa se chama enseada. Não era mais a imagem de uma cobra de vidro que fazia uma volta atrás de casa. Era uma enseada. Acho que o nome empobreceu a imagem. (BARROS, Manoel de. In: O Livro das ignorãças. 10ed. Rio de Janeiro – São Paulo: 2001, p.25)