UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE – UNESC CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL MARIANI BONGIOLO DE NEZ ANÁLISE DA VIABILIDADE DO APROVEITAMENTO DA ÁGUA PLUVIAL EM AGROINDÚSTRIA. ESTUDO DE CASO: AGROVÊNETO INDÚSTRIA DE ALIMENTOS S.A. CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2010 2 MARIANI BONGIOLO DE NEZ ANÁLISE DA VIABILIDADE DO APROVEITAMENTO DA ÁGUA PLUVIAL EM AGROINDÚSTRIA. ESTUDO DE CASO: AGROVÊNETO INDÚSTRIA DE ALIMENTOS S.A. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Engenheira Ambiental no curso de Engenharia Ambiental, da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC. Orientador: Prof. Dr. Álvaro José Back CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2010 3 MARIANI BONGIOLO DE NEZ ANÁLISE DA VIABILIDADE DO APROVEITAMENTO DA ÁGUA PLUVIAL EM AGROINDÚSTRIA. ESTUDO DE CASO: AGROVÊNETO INDÚSTRIA DE ALIMENTOS S.A. Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de Engenheira Ambiental no curso de Engenharia Ambiental, da Universidade do Extremo Sul Catarinense – UNESC, com linha de Pesquisa em Gerenciamento e Planejamento Ambiental. Criciúma, 29 de Novembro de 2010. BANCA EXAMINADORA Prof. Álvaro José Back - Doutor - (UNESC) – Orientador Prof. (a) Marta Valéria Guimarães de Souza Hoffmann – Mestra – UNESC Prof.(a) Nadja Zim Alexandre – Mestre - UNESC 4 Dedico este trabalho aos meus pais por terem me motivado durante a vida acadêmica e acreditado em mim como profissional. 5 AGRADECIMENTOS Gostaria de agradecer, primeiramente, aos meus pais, por terem incentivado e custeado minha vida acadêmica. E também pela paciência e amor durante minha vida. Ao Felipe, meu namorado, pela compreensão e carinho nos momentos enérgicos. Ao professor Álvaro por ter aceitado o convite de me orientar e por sua significativa ajuda neste estudo. À Engenheira Daiane, por ter confiado em minha competência nas vezes em que me oportunizou na realização de trabalhos em seu nome na empresa e por ter retribuído a todos meus porquês. Aos professores que contribuíram de alguma forma para elaboração deste trabalho, em especial ao professor Mário Ricardo Guadagnin, que sempre se dispôs a ajudar. Aos colegas e amigos que colaboraram por meio de empréstimo de algum livro ou com uma palavra de incentivo. Enfim, a Deus que possibilitou eu encontrar todas estas pessoas. Muito obrigada! 6 "A natureza pode suprir todas as necessidades do homem, menos a sua ganância." Mahatma Gandhi 7 RESUMO O presente trabalho apresenta um estudo de viabilidade técnica e econômica para o aproveitamento das águas pluviais na Agrovêneto Indústria de Alimentos S.A. O sistema de captação e aproveitamento de água pluvial pode ser além de uma alternativa sustentável, que contribui para conservação dos recursos hídricos, também um meio de reduzir custos que hoje acontecem desnecessariamente. Foram realizadas análises de qualidade da água da chuva, a fim de reconhecer em quais fins esta água poderia ser utilizada. A mesma enquadrou-se em Classe 2, conforme Resolução CONAMA nº 357/2005, sabendo que poderá ser aplicada em fins potáveis após tratamento convencional. Então se estudou a possibilidade de captá-la e armazená-la juntamente com a água utilizada hoje na empresa, que fica em um reservatório com grande capacidade volumétrica. O estudo da viabilidade técnica foi realizado in loco com ajuda de funcionários da empresa, através da identificação de componentes presentes, ou não, nas edificações que seriam fundamentais para a instalação do sistema. Utilizando-se de dados referentes à intensidade pluviométrica da localidade, bem como determinação da demanda a ser atendida e a área de coleta da edificação, pode-se dimensionar o sistema e assim determinar os materiais necessários para sua implantação. E através de uma pesquisa de mercado, foram levantados seus custos relativos, possibilitando uma análise da viabilidade econômica. Foi verificado que o sistema contribuirá com aproximadamente 3% da demanda de água, devido ao alto consumo que decorre deste setor produtivo. No entanto, comparando-se os custos que serão evitados e os investimentos necessários, previu que a empresa terá um retorno financeiro em apenas dez meses. Embora seja relativamente baixa a quantidade de água que será atendida, vale ressaltar que o investimento é pouco, e o período em que se estará captando a água da chuva, poderá ser o tempo necessário para os mananciais estarem recompondo suas reservas de água. É bom salientar que a partir do momento que a empresa tiver o retorno financeiro de investimento, terá uma economia mensal mínima de R$ 781,83. Palavras-chave: Aproveitamento da água pluvial. Qualidade da água da chuva. Retorno financeiro. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Vista panorâmica da Agrovêneto Ind. de Alimentos S.A. Fonte: (Agrovêneto, 2003).................................................................................................... 20 Figura 2: Tipo de manancial que abastece os municípios do Brasil. Fonte: EMBRAPA (1994, apud MACÊDO, 2004, p. 82). ...................................................... 31 Figura 3: Distribuição relativa dos recursos hídricos do planeta. Fonte: Banco Mundial e WRI (2003, apud FIESP, 2009). ............................................................... 31 Figura 4: Distribuição relativa dos recursos hídricos, da população e do território brasileiro. Fonte: UNIAGUA (2007 apud FIESP, 2009). ............................................ 32 Figura 5: Procedimentos para coleta da água da chuva: A – Reservatório utilizado; B – Reservatório completo com água da chuva; C – Frascos utilizados para enviar água para o laboratório; D – Enchimento dos frascos............................................... 48 Figura 6: Procedimento da coleta da água do açude: A – Açude; B – Balde usado para coleta; C – Maneira como foi feita a coleta; D – Enchendo o frasco com a água para ser enviando para análise. ................................................................................ 48 Figura 7: Calha de seção retangular para cálculo do raio hidráulico. Fonte: NBR 10844 (1989, p. 5). .................................................................................................... 53 Figura 8: localização do abastecimento e tratamentos de água da Agrovêneto Ind. de Alimentos S.A. Fonte: Google Earth (2010). ............................................................. 61 Figura 9: Localização do Rio São Bento em relação à Agrovêneto. Fonte: Google Earth (2010). ............................................................................................................. 61 Figura 10: Médias pluviométricas mensais, com base nos anos de 1987 até 2009. . 64 9 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Consumo de água em cada tipo de atividade industrial. .......................... 26 Tabela 2 - Parâmetros de qualidade da água da chuva para usos restritivos não potáveis. .................................................................................................................... 40 Tabela 3 - Constantes da equação de intensidade, ajustada para cidade de Nova Veneza. ..................................................................................................................... 49 Tabela 4 - Coeficiente de escoamento para cada tipo de superfície. ........................ 51 Tabela 5 - Coeficiente de rugosidade. ....................................................................... 53 Tabela 6 - Diâmetros dos condutores verticais, de acordo com as vazões. .............. 54 Tabela 7 - Capacidade de condutores horizontais de seção circular (vazões em L/min). ....................................................................................................................... 55 Tabela 8 - Resultado da análise da qualidade da água da chuva, comparada aos padrões estabelecidos para cada Classe, na Resolução CONAMA n° 357/2005. .... 62 Tabela 9 - comparativo entre a qualidade da água da chuva e água do açude. ....... 63 Tabela 10 - Resultados da análise da água da chuva, comparada aos padrões estabelecidos na Portaria MS 518/2004. ................................................................... 64 Tabela 11 - Mínimas e máximas de dias sem chuva em um mês, para os respectivos anos. ......................................................................................................................... 65 Tabela 12 - Oferta da água de chuva dos telhados de cada prédio existente no parque industrial da Agrovêneto................................................................................ 66 Tabela 13 - Consumo de água mensal na Agrovêneto. ............................................ 67 Tabela 14 - Quantidade da demanda que será atendida com a captação da água da chuva. ........................................................................................................................ 68 Tabela 15 - Dimensões das calhas para o telhado da casa de máquinas. ............... 69 Tabela 16 - Dimensões das calhas para o telhado da casa de máquinas. ............... 69 Tabela 17 - Dimensão dos condutores verticais do telhado da Casa de Máquinas. . 70 Tabela 18 - Condutores horizontais para a Casa de Máquinas................................. 70 Tabela 19: Condutores horizontais para o Frigorífico. ............................................... 71 10 Tabela 20 - Gastos mínimos que serão evitados com a implantação do sistema. .... 73 Tabela 21 - Componentes para implantação do sistema, e suas respectivas quantidades e preços. ............................................................................................... 74 11 LISTA DE QUADROS Quadro 1 - Usos múltiplos da água. .......................................................................... 24 Quadro 2: Grau de limpeza da água da chuva e respectivos fins de utilização, conforme local de coleta. .......................................................................................... 39 Quadro 3: Vantagens e desvantagens do aproveitamento da água da chuva. ......... 43 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ANA – Agência Nacional das Águas CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente DBO – Demanda Bioquímica de Oxigênio ETA – Estação de Tratamento de Água ETE – Estação de Tratamento de Efluentes MS – Ministério da Saúde PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento 13 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO ................................................................................................... 15 2. JUSTIFICATIVA ................................................................................................. 17 3. OBJETIVOS ....................................................................................................... 19 3.1 Objetivos Gerais .................................................................................................. 19 3.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 19 4. REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 20 4.1 Agrovêneto Indústria de Alimentos S.A. .............................................................. 20 4.2 Disponibilidade da Água ...................................................................................... 21 4.2.1 Consumo de Água ............................................................................................ 23 4.2.2 Qualidade da Água ........................................................................................... 28 4.3 PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS ................................................ 30 4.4 PROBLEMÁTICA AMBIENTAL ......................................................................... 34 4.5 APROVEITAMENTO DA ÁGUA PLUVIAL ......................................................... 37 4.5.1 Qualidade da Água da chuva ........................................................................... 38 4.5.2 Vantagens e Desvantagens do Sistema........................................................... 42 4.5.3 Dimensionamento do Sistema.......................................................................... 44 4.6 LEGISLAÇÕES E NORMAS REFERENTES ..................................................... 44 5. METODOLOGIA ................................................................................................... 46 5.1 Caracterização da Área de Estudo ...................................................................... 46 5.2 Análise da Qualidade da Água da Chuva ............................................................ 47 5.3 Estudo dos Dados Pluviométricos ....................................................................... 49 5.4 Determinação da Área de Coleta da Água da Chuva .......................................... 50 5.5 Determinação do Coeficiente de Escoamento .................................................... 51 5.6 Análise da Demanda e Oferta ............................................................................. 51 5.7 Dimensionamento dos Componentes do Sistema ............................................... 52 5.7.1 Calhas .............................................................................................................. 52 5.7.2 Condutores Verticais ........................................................................................ 54 14 5.7.3 Condutores Horizontais .................................................................................... 54 5.7.4 Conexões ......................................................................................................... 55 5.7.5 Rede de Drenagem .......................................................................................... 56 5.7.6 Reservatório ..................................................................................................... 56 5.8 Viabilidade Técnica e Financeira ......................................................................... 57 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES .......................................................................... 58 6.1 Levantamento dos Dados da Área de Estudo ..................................................... 58 6.2 Qualidade da Água da Chuva ............................................................................. 62 6.3 Estudo dos Dados Pluviométricos ....................................................................... 64 6.4 Área de Coleta da Água da Chuva ...................................................................... 66 6.5 Coeficiente de Escoamento................................................................................. 67 6.6 Demanda e Oferta ............................................................................................... 67 6.6.1 Demanda .......................................................................................................... 67 6.6.2 Oferta.................................................................................................................68 6.7 Dimensionamento dos Componentes do Sistema............................................... 68 6.7.1 Calhas .............................................................................................................. 68 6.7.2 Condutores Verticais ........................................................................................ 70 6.7.3 Condutores Horizontais .................................................................................... 70 6.7.4 Conexões ......................................................................................................... 71 6.7.5 Rede Drenagem ............................................................................................... 71 6.7.6 Reservatório ..................................................................................................... 72 6.8 Viabilidade do Sistema ........................................................................................ 72 6.8.1 Viabilidade Técnica .......................................................................................... 72 6.8.2 Viabilidade Financeira ...................................................................................... 73 7. CONCLUSÃO ....................................................................................................... 75 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 77 APÊNDICE A - Médias Pluviométricas para a Cidade de Nova Veneza ................... 83 APÊNDICE B – Planta Altimétrica ............................................................................. 85 APÊNDICE C – Planta Casa de Máquinas ............................................................... 86 ANEXO A - Laudos das Análises de Água ................................................................ 88 15 1. INTRODUÇÃO Com a industrialização, ocorreu o uso desenfreado dos recursos naturais para atender a demanda proveniente do crescimento populacional em áreas urbanas e atender suas necessidades de consumo. Hoje, em tempos de globalização, a exploração e o esgotamento dos recursos naturais, juntamente com o aquecimento global são temas de grande preocupação para a comunidade científica e a sociedade em geral, principalmente em relação à escassez da água, que causa sofrimento às populações afetadas, limita as atividades econômicas e retarda o progresso (GONÇALVES, 2006). A visão de abundância que sempre tivemos, em relação à água, é o principal fator para sua atual escassez, pois a exploração e uso deste recurso de maneira irresponsável aliado a poluição de rios e outras fontes de água levaram muitas regiões a apresentar um quadro de escassez de água parra atender as necessidades da população. O ciclo hidrológico, que esse compreende o movimento da água em suas várias formas, e que até então, mantinha um fluxo regular com o volume inalterado, atualmente encontra-se alterado, devido à ocupação desordenada das bacias hidrográficas, ao desmatamento, ao consumo irracional e a poluição e a degradação dos recursos hídricos (MACÊDO, 2004). No Brasil, o consumo de água encontra-se distribuído entre as diversas atividades que mais demandam água sendo que a agricultura representa 85% do consumo, a indústria 10% e o uso doméstico 5%. (DOWBOR e TAGNIN, 2005). No entanto esta problemática é agravada pelo consumo elevado aliado ao desperdício, e também da poluição dos mananciais (GONÇALVES, 2006). Como a demanda por água é cada vez maior, e à medida que as populações crescerem a situação tende a se agravar. Segundo Coimbra; Rocha e Beekman (1999, p.11) “a tendência é a diminuição da disponibilidade média de água renovável por habitante, repercutindo sobre a saúde e padrões de qualidade de vida.” Para atender esta demanda será necessária a utilização de fontes alternativas de captação, uma vez que os mananciais de água superficial e subterrânea não 16 mais suprem estas necessidades. Como alternativas tem-se a captação e utilização de água da chuva, de águas salinas e a reutilização de água (UFSC, 2005). O aproveitamento da água da chuva é uma técnica bastante simples que já vem sendo aplicada há anos em todo o mundo. Sua aplicação envolve a captação da água da chuva dos telhados de residências e edificações, reaproveitando-a, na maioria das vezes, em fins não-potáveis e quando tratada, também, para fins potáveis. Esta técnica visa reduzir o consumo de água potável, minimizar alagamentos, enchentes, racionamentos de água e preservar os recursos hídricos. O presente estudo tem como finalidade analisar a viabilidade de se implantar um sistema de aproveitamento da água da chuva em uma indústria de abate de frango, a fim de reduzir custos com tratamentos e contribuir para manutenção dos recursos hídricos. Dar-se-á ênfase às análises de viabilidade técnica e econômica do projeto, utilizando-se dos equipamentos necessários já instalados nas edificações. 17 2. JUSTIFICATIVA A Agrovêneto Indústria de Alimentos S.A. demanda uma grande quantidade de água, a fim de atender atividades que vão desde o abate, funcionamento de caldeira e bombas a vácuo, e fins sanitários. Toda água utilizada é captada em dois rios de pequeno porte, sendo tratada antes de ser utilizada, para se tornar potável, pois a maior demanda é decorrente do processo produtivo, e como se trata do setor alimentício deve atender os padrões de potabilidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde, conforme Portaria 518/2004. Como as bacias de contribuição dos rios que abastecem a estação de tratamento têm pequena área de contribuição, a vazão disponível varia diretamente com o regime pluviométrico e com muita freqüência observa-se que a demanda total de água supera o volume de água disponível pelos mananciais utilizados, ocasionando alteração do seu volume nos períodos de estiagem e, também, como conseqüência a degradação de seus ambientes externos e alteração da qualidade de suas águas. É importante ressaltar que parcelas adequadas de água devem ser reservadas para manter os ecossistemas saudáveis. No planejamento e gerenciamento tradicionais, as necessidades do ambiente natural muitas vezes não são consideradas de modo satisfatório. Em alguns países a legislação tem protegido os rios, estabelecendo padrões de vazão e qualidade mínimas, bem como tem realocado, ao ambiente natural, águas que antes seriam destinadas a grandes projetos e usuários (COIMBRA; ROCHA e BEEKMAN, 1999, p.18). Alternativas como o aproveitamento da água da chuva, devem ser avaliadas como possível meio de remediar os impactos decorrentes da utilização dos recursos hídricos e diminuir e evitar despesas financeiras com consumo de água. A chuva é uma fonte de água que se pode conseguir facilmente. Não vale a pena jogá-la na rede de drenagem; o seu armazenamento e infiltração no 18 solo fazem parte da medida contra as enchentes. Aproveitar a água da chuva será uma das medidas contra o racionamento, entende-se que, o aproveitamento da água da chuva é uma prescrição para a crise do mundo (GROUP RAINDROPS, 2002, p. 7). As águas de chuva que escoam dos telhados dos prédios da Agrovêneto, tem ido para a rede de drenagem juntamente com os efluentes gerados. E como todo efluente, antes de ser descartado, no meio ambiente, passa por tratamento, na Estação de Tratamento de Efluentes (ETE), para que fiquem de acordo com o estabelecido na Resolução CONAMA nº 357 de 2005, a água da chuva também tem sido tratada desnecessariamente. Como os prédios da empresa abrangem uma ampla área, as águas de chuvas que estão sendo tratadas compõem grandes volumes e sequer são utilizadas, resultando em gastos adicionais para empresa. Avaliação da implantação de um sistema de captação da água de chuva para ser utilizada torna-se importante na busca de alternativas que visem diminuir a exploração dos recursos hídricos, reduzir custos com tratamento que, atualmente, são desnecessários e prevenir que a empresa, futuramente próximo, tenha que adquirir água das companhias de abastecimento com custo relativamente alto. Neste sentido será necessário estudar o regime pluviométrico do local, a área de captação e a demanda real de utilização de água, sendo estes itens importantes na viabilização ou não do projeto técnico a ser elaborado para captação, condução e tratamento de água pluvial. Também é importante realizar o dimensionamento e quantificação das estruturas e materiais complementares necessários para o sistema de captação, condução e armazenamento, como calhas, condutores e reservatórios, principalmente para avaliar a questão econômica do sistema. Os resultados deste estudo serão apresentados à direção da empresa e auxiliarão na decisão de se adotar ou não o sistema na empresa. 19 3. OBJETIVOS 3.1 Objetivos Gerais Estudar a viabilidade do aproveitamento da água pluvial na Agrovêneto Indústria de Alimentos S.A. 3.2 Objetivos Específicos - Caracterizar a atual fonte de abastecimento de água na Agrovêneto, volume utilizado, modo de captação, qualidade da água e tratamento necessário; - realizar análise laboratorial da qualidade da água da chuva, e fazer um comparativo com a qualidade da atual fonte de abastecimento, a fim de comprovar se a água pluvial poderá ser utilizada para fins potáveis, após tratamento convencional; - estudar os dados pluviométricos da localidade de Nova Veneza – SC; - analisar a possibilidade de utilizar o atual reservatório para armazenar, também, a água pluvial; - dimensionar um sistema de captação da água pluvial na empresa; - analisar a viabilidade técnica e financeira para se implantar este sistema. 20 4. REFERENCIAL TEÓRICO 4.1 Agrovêneto Indústria de Alimentos S.A. A Agrovêneto Indústria de Alimentos S.A., está localizada em área urbana no município de Nova Veneza, no sul de Santa Catarina. Seu conjunto de instalações é dividido em áreas específicas de administração, abatedouro e demais prédios, totalizando 14.073,48 m², como mostra a Fig.1. A área territorial que pertence à empresa é de 8,29 ha, sendo que desta área 2,55 ha são áreas de Reserva Legal. A empresa tem como atividade o abate de frango, contando com 1790 funcionários diretos. O regime de trabalho da empresa é de 24 horas por dia, trabalhando de segunda a sábado, abatendo 140.000 frangos por dia. Figura 1: Vista panorâmica da Agrovêneto Ind. de Alimentos S.A. Fonte: (Agrovêneto, 2003). 21 Para evitar possíveis danos ao Meio Ambiente, decorrentes de sua atividade industrial, foi implantado um Sistema de Gestão Ambiental, dentro do qual são adotadas medidas que minimizem os impactos ambientais negativos decorrentes das atividades na empresa. Dentre as quais se relacionam: Programa de Gerenciamento dos Resíduos Sólidos; Estação de Tratamento de Efluentes; Tratamento e Controle das Emissões Atmosféricas; Controle do Consumo de Água; Projetos de Educação Ambiental na Empresa e Comunidade. 4.2 Disponibilidade da Água A água é um recurso natural renovável de suma importância para o desenvolvimento dos ecossistemas, e considerada um fator vital para toda a população terrestre (TELLES e COSTA, 2007). Sabe-se que a superfície terrestre é composta por aproximadamente 75% de água, por isso tem-se a visão de presença abundante deste bem. Contudo, 97,5% desta água é salgada e os outros 2,5% são doce, e desta apenas 0,26% pode ser encontrada em rios, lagos e lençóis subterrâneos, pois o restante encontra-se congelado nas calotas polares. (SDS, 2006). Estas diversas formas como encontra-se a água em nosso planeta se dá devido ao ciclo hidrológico, sendo este o [...] movimento e à troca de água nos seus diferentes estados físicos, que ocorre na Hidrosfera, entre os oceanos, as calotes de gelo, as águas superficiais, as águas subterrâneas e a atmosfera. Este movimento permanente deve-se ao Sol, que fornece a energia para elevar a água da superfície terrestre para a atmosfera (evaporação), e à gravidade, que faz com que a água condensada se caia (precipitação) e que, uma vez na superfície, circule através de linhas de água que se reúnem em rios até atingir os oceanos (escoamento superficial) ou se infiltre nos solos e nas rochas, através dos seus poros, fissuras e fraturas (escoamento 22 subterrâneo). Nem toda a água precipitada alcança a superfície terrestre, já que uma parte, na sua queda, pode ser interceptada pela vegetação e volta a evaporar-se (CARVALHO e SILVA, 2006, p. 11). Percebe-se que o ciclo hidrológico é influenciado por características topográficas, climáticas, vegetais, e geológicas, resultando na distribuição desigual de água no planeta. O Brasil sendo um país beneficiado quanto a estes fatores, conta com aproximadamente 12% da água doce do mundo, disponibilizando a cada um de seus habitantes 35.732 m³ água/ano, o que significa que é um país privilegiado. São considerados países críticos em disponibilidade de água aqueles que teriam índices de distribuição menores que 500m³/hab./ano (TOMAZ, 2001). A classificação dos países quanto à riqueza ou pobreza de água não depende apenas das disponibilidades efetivas dos seus recursos hídricos renováveis, mas principalmente, da disponibilidade destes mesmos recursos para o consumo da população. Sendo assim, um país não pode ser considerado mais rico em água que outro apenas por apresentar um potencial de recursos hídricos maior que aquele. A sua riqueza em água será determinada pela disponibilidade hídrica anual per capita, ou seja, quanto maior essa disponibilidade, mais rico é o país em termos de água. E esta depende principalmente da densidade populacional e da distribuição dos recursos por área (VAITSMAN E VAITSMAN, 2005, p. 55). Mesmo com bons índices, nosso país não está livre da ameaça de uma crise, pois a maior parte dos recursos hídricos está nas regiões Norte e CentroOeste, onde a densidade populacional é relativamente pequena em comparação com as outras regiões (GONÇALVES, 2006). Além de que atualmente o fluxo do ciclo hidrológico encontra-se alterado, devido “à apropriação do homem sobre a água, utilizando este bem como se a sua existência fosse renovada a cada dia sem nenhum custo para o meio ambiente” (MACÊDO, 2004, p. 54). Outro fator aliado a falta de água, além da má distribuição, é a contaminação dos mananciais. Em muitos países em desenvolvimento, o curso dos rios a jusante das grandes cidades se transformou no que se pode chamar de esgotos a céu aberto. As indústrias lançam seus efluentes sem se preocupar com os peixes dos cursos d´água, os animais ou os seres humanos. As águas de superfície e subterrâneas foram contaminadas tanto por poluentes orgânicos como por nutrientes empregados na agricultura. A irrigação deixa milhões de hectares de terras salinizadas. O desmatamento despiu as encostas, acarretando em enchentes 23 mais graves e repentinas. Hoje, nos países industrializados, a água encanada tem de passar por um tratamento tão intenso antes de ser utilizada que o cloro nela contido muitas vezes a torna imprópria para o consumo (CLARKE e KING, 2005). De acordo com a UNESCO (2003, apud Ciência Hoje, 2010, p. 1) [...] a água está atualmente no centro de uma crise sem precedentes que tem por principais fatores o aumento da população, a poluição, a insuficiente gestão dos recursos hídricos, alterações climáticas, entre outros fatores. Mas também como é sublinhado no Relatório Mundial sobre a Água publicado em 2003 sobre a escassez da água no mundo, esta crise deve-se também à inércia política e à falta de uma tomada de consciência das populações. Em 2000, 500 milhões de pessoas viviam em países com escassez crônica de água, e outras, 2,4 bilhões moravam em países onde o sistema hídrico estava ameaçado. Em 2050, talvez quatro bilhões de pessoas vivam em países com escassez crônica de água (CLARKE e KING, 2005). 4.2.1 Consumo de Água O consumo de água doce do planeta é distribuído em vários tipos de utilização, como apresenta o Quadro 1. Estes múltiplos usos da água podem ser agrupados como consuntivo (quando a água utilizada não retorna imediatamente ao local de captação, como abastecimento urbano, industrial e irrigação), e não consuntivo, quando não existe consumo de água na atividade, como produção de energia elétrica, lazer, navegação e usos ecológicos (FIESP, 2009). 24 Quadro 1 - Usos múltiplos da água. Utilização Função Agricultura Irrigação e outras atividades relacionadas Abastecimento público Utilização doméstica Hidroeletrecidade Geração de energia Usos industriais diversos Água para resfriamento, caldeira, etc Recreação Turismo Pesca Produção de ictiofauna comercial e pesqueira Aqüicultura Cultivo de peixes, moluscos, crustáceos de água doce. Reserva de água doce para futuros empreendimentos e conseqüente uso múltiplo. Transporte e navegação Mineração Usos estéticos Recreação, turismo e paisagem Fonte: Tundisi (2003, apud MACÊDO, 2004, p. 133). Segundo Farmweb (2002, apud BORGHETTI; BORGHETTI e ROSA FILHO, 2004, p. 78), “o consumo global de água dobra a cada 20 anos, mais de duas vezes a taxa de crescimento populacional, enquanto que a poluição e a sobreexplotação em muitas regiões do mundo tem reduzido a disponibilidade de água”. Além da alta demanda proveniente das atividades relacionadas acima, ocorre que 25 algumas delas são responsáveis pela poluição dos recursos hídricos, acarretando na perda de disponibilidade de água de boa qualidade. A maior parte da água do mundo é consumida na agricultura, que demanda 69%, os fins industriais consomem 21% e os domésticos 10%. (CLARKE e KING, 2005). Em âmbito nacional as demandas não são muito diferentes. Conforme a Folha de São Paulo, (1999 apud MACÊDO, 2004) o setor agrícola, é o que mais consome água, com demanda de 70%, seguido do industrial 22% e doméstico 8%. Decorrente da demanda alimentícia proveniente do aumento populacional, a atividade agrícola está no patamar do consumo de água. Sendo que a irrigação é fundamental neste processo, pois intensifica a produção, já que a umidade requerida para o crescimento das plantas não é suprida naturalmente através de chuvas (CARRERA-FERNANDEZ e GARRIDO, 2002). “Segundo o relatório do PNUD, são necessários 3,5 mil litros de água, em média, para produzir alimentos que forneçam um mínimo de três mil calorias” (OLIVEIRA, 2009, p. 38). Outro fator resultante da atividade de irrigação, através do qual se perde água de boa qualidade refere-se ao uso intensivo de produtos químicos no processo de cultivo. Estes escoam para os rios e lagos, provocando a lixiviação do solo e a contaminação da água que poderia ser consumida (CLARKE e KING, 2005). A busca por produtos industrializados faz do setor industrial a segunda atividade com maior demanda de água, onde sua função [...] pode ser tanto de matéria-prima incorporada ao produto final, como um composto auxiliar na preparação de matérias-primas, fluido de transporte, fluido de aquecimento e/ou refrigeração ou nos processos de limpeza de equipamentos etc. (MIERZWA e HESPANHOL, 2005, p. 14). No entanto, para cada segmento industrial o consumo de água é diferenciado, como mostra a Tabela 1. 26 Tabela 1 - Consumo de água em cada tipo de atividade industrial. TIPO DE INDÚSTRIA CONSUMO Laminação de Aço 83 m³/tonelada Refinaria de Petróleo 290 m³/barril Indústria Têxtil 100 m³/tonelada Curtumes 55 m³/tonelada Papel 250 m³/tonelada Saboarias 2 m³/tonelada Usina de Açúcar 75 m³/tonelada Fábrica de Conservas 20 m³/tonelada Laticínios 2 m³/tonelada Cervejaria 20 m³/m³ Lavanderia 10 m³/tonelada Matadouros 3 m³/animal Fonte: Barth (1987 apud MACÊDO, 2004, p. 64). Macêdo (2004) ressalta o crescimento industrial, alertando que a demanda deste setor por água, só poderá ser atendida se alguns aspectos forem considerados, entre eles está o aperfeiçoamento dos processos que utilizam água, tornando-os mais eficientes ou adotando novas tecnologias para que seu consumo seja reduzido. Vale ressaltar que a indústria, além de usar a água para suas atividades, também utiliza os mananciais para fins de descarte de seus efluentes, acarretando na diminuição dos recursos hídricos com boa qualidade. Mota (1995) destaca como as indústrias mais poluidoras dos recursos hídricos no Brasil, as fábricas de papel e 27 celulose, indústria química, açúcar e álcool, aços e metais, têxtil, alimentícia, curtumes, matadouros e petroquímicas. A água designada ao abastecimento humano envolve desde suas necessidades metabólicas, sua utilização nas atividades diárias de higiene, limpeza doméstica e preparo de alimentos, sendo que a água ingerida pelo homem deve ser potável, atendendo os padrões de qualidade estabelecidos pelo Ministério da Saúde. No entanto, apenas 0,147% da água doce do mundo está apta ao consumo, podendo ser encontrada em lagos, nascentes e lençóis subterrâneos (RAINHO e GALETI, apud MACÊDO, 2004). Se formos comparar, a água que as pessoas bebem ou usam na higiene pessoal ou para fazer a limpeza de roupas, louças e de suas casas, é relativamente insignificante. No mundo todo, o consumo doméstico perfaz uma média de aproximadamente 170 litros por pessoa, todos os dias. Esse número, porém, é mantido artificialmente baixo devido à dificuldade de muitas pessoas no mundo em desenvolvimento para obter água para uso doméstico (CLARKE e KING, 2005, p. 24). Os gastos significativos de água resultantes das atividades domésticas são, na maioria, decorrentes de vazamentos em tubulações, desperdícios devido ao mau uso dos equipamentos, consumo em maiores quantidades do que as necessárias e quase 30% simplesmente se perdem nas descargas dos vasos sanitários (CLARKE e KING, 2005). Pode-se perceber que a utilização da água serve para os mais variados fins, alguns usos refletem anseios ou pretensões da humanidade, enquanto outros significam necessidades básicas das populações (COIMBRA, ROCHA e BEEKMAN, 1999). Em quaisquer que for seu uso deve-se ater a preservação deste bem, deixando de lado a visão de abundância. Atitudes simples podem ser adotadas, como a otimização do uso da água nas indústrias, reuso de água e efluentes, tratamentos de efluentes, controle de vazamentos, racionalização do uso, utilização da água da chuva, conscientização, etc. 28 4.2.2 Qualidade da Água De toda a água existente no mundo, apenas 3% é água doce própria para consumo. Desta porção, apenas 0,03% são de fácil acesso, em rios, lagos e subsuperfícies. Porem com o uso intensivo e poluição de rios, lagos e lençóis freáticos este número diminui muito (BERTUOL e GONÇALVES, 2009). Para Mota (1995) a água pura, praticamente, não existe na natureza. De modo geral, ela contém impurezas, as quais podem estar presentes em maior ou menor quantidade, dependendo de sua procedência e dos usos que se faz da mesma. Alguns compostos químicos são indispensáveis à água destinada ao consumo humano, enquanto outras atividades como, por exemplo, irrigação, uso pastoril e preservação da fauna e flora, necessitam de outros constituintes. São as características físicas, químicas e biológicas da água que determinam a concentração de compostos presentes nela ou não. As características físicas envolvem cor, turbidez, sabor e odor, estas quando presentes em altas concentrações, [...] podem prejudicar alguns usos da água, como por exemplo: a cor e a turbidez podem tornar a água imprópria ao consumo humano, pelo aspecto estético ou por manchar roupas e aparelhos sanitários; a cor pode tornar o líquido indesejável para uso em indústrias de produção de bebidas e de outros alimentos ou de fabricação de louças e papéis, ou, ainda, em indústrias têxteis; águas com sabor e odor acentuados são rejeitadas para consumo doméstico ou podem causar problemas ao organismo humano, dependendo dos compostos químicos presentes, a turbidez acentuada em águas de mananciais impede a penetração dos raios solares e a conseqüente fotossíntese, podendo causar problemas ecológicos ao meio aquático (MOTA, 1995, p. 5). As características químicas influenciam mais precisamente na qualidade da água, e o efeito de cada uma difere-se conforme a atividade de utilização (RICHTER e AZEVEDO NETTO, 1991). Dentre elas pode-se destacar: “Dureza – resulta da presença, principalmente, de sais alcalinos terrosos (cálcio e magnésio), ou de outros íons metálicos bivalentes em menor intensidade. Sua presença em grau elevado produz incrustações nas tubulações e caldeiras. 29 Salinidade – resulta do excesso de sais dissolvidos na água, tornando seu sabor salino e conferindo-lhe propriedade laxativa. Ferro e Manganês – suas presenças em excesso causam coloração avermelhada no caso do ferro, ou marrom, devido ao manganês, produzindo manchas em roupas ou em outros produtos; sabor metálico; e em doses elevadas podem ser tóxicos. Alcalinidade – quando contém quantidade elevada de bicarbonatos de cálcio e magnésio, carbonatos ou hidróxidos de sódio, potássio, cálcio e magnésio. Resulta na salinidade da água e influência no processo de tratamento. Compostos de Nitrogênios – estes podem estar na forma de amônia, nitritos ou nitratos. São originários de esgotos domésticos e industriais ou da drenagem de áreas fertilizadas. Resultam no desenvolvimento de algas nos mananciais e quando em teores muito elevados pode ser responsável por uma doença infantil chamada cianose. Cloretos – sua presença pode ser natural ou pode ser conseqüente da poluição da intrusão da água do mar, de esgotos sanitários ou industriais. Quando em quantidades elevadas causam sabor acentuado, provocam reações fisiológicas e aumentam a corrosividade da água. Fluoretos – a presença de flúor é benéfica, quando em quantidades adequadas. Caso contrário, pode ser prejudicial ao homem, pois provoca alterações ósseas e ocasiona fluorose dentária. Oxigênio Dissolvido (OD) – teores baixos de OD indicam que a água está contaminada com matéria orgânica. Demanda Bioquímica de Oxigênio (DBO) – é a quantidade de oxigênio molecular necessária à estabilização da matéria orgânica decomponível aerobicamente por via biológica.” (MOTA, 1995). E por fim as características biológicas, representadas pela presença de organismos na água, como por exemplo, as bactérias, vírus e protozoários, sendo estes de origem patogênica podendo provocar doenças e causar epidemias. Outros organismos como as algas, podem originar sabor e odores desagradáveis (RICHTER e AZEVEDO NETTO, 1991). 30 Portanto a definição da qualidade da água dependerá de seus usos específicos, pois para cada fim ela deverá apresentar características apropriadas. Antes de sua utilização, é necessário fazer uma análise qualitativa, realizar um comparativo entre os resultados obtidos e os padrões mínimos exigidos para cada tipo de aplicação. Os padrões de qualidade para diversas finalidades da água devem ser embasados em suporte legal, através de legislações que estabeleçam e convencionem os requisitos, em função do uso previsto para a água (TELLES e COSTA, 2007). Em casos de consumo humano, através da ingestão direta ou indireta, a água deverá ser [...] pura e saudável, isto é livre de matéria suspensa visível, cor, gosto e odor, de quaisquer organismos capazes de provocar enfermidades e de quaisquer substâncias orgânicas e inorgânicas que possam produzir efeitos fisiológicos prejudiciais (RICHTER e AZEVEDO NETTO, 1991, p. 25). Neste caso o Ministério da Saúde é o órgão responsável por estabelecer o padrão de potabilidade da água. Na Resolução CONAMA nº 357/2005, encontrase a classificação das águas de acordo com a qualidade requerida para seus usos preponderantes. Já na Resolução CONAMA de nº 274/2000, são definidos os padrões de balneabilidade (GONÇALVEZ, 2006). 4.3 PRESERVAÇÃO DOS RECURSOS HÍDRICOS “Os recursos hídricos são compreendidos como fontes de valor econômico essencial para a sobrevivência e desenvolvimento dos seres vivos. Eles são abundantes na natureza e, por isso, durante muitos anos se pensou que a falta de água potável era impossível” (KOBIYAMA; MOTA e CORSEUIL, 2008, p. 9). A sua ocorrência se dá de duas maneiras; superficial, aparecendo na natureza nas formas, de córregos, ribeirões, rios, lagos e represas, ou então 31 subterrânea, quando se apresentam como lençóis d’água ou aquíferos. Na Fig.2 podemos observar quais tipos abastecem as populações brasileiras. Figura 2: Tipo de manancial que abastece os municípios do Brasil. Fonte: EMBRAPA (1994, apud MACÊDO, 2004, p. 82). No entanto, a sua ocorrência é determinada pelo ciclo hidrológico, o qual é responsável pela distribuição e disponibilidade de água no planeta, e como a ocorrência deste não é homogênea em todos os lugares, acaba por influenciar na distribuição desigual dos recursos hídricos, como mostra a Fig.3 (TUNDISI, 2003). Figura 3: Distribuição relativa dos recursos hídricos do planeta. Fonte: Banco Mundial e WRI (2003, apud FIESP, 2009). 32 Os recursos hídricos superficiais gerados no Brasil representam 50% do total dos recursos da América do Sul e 11% dos recursos mundiais, totalizando, 168.870 m³/s. Tornando nosso país privilegiado no que diz respeito à quantidade de água. Mas como já foi dito, a distribuição desses recursos no País (Fig.4), e no mundo, durante o ano não é uniforme (TUCCI, HESPANHOL e CORDEIRO NETTO, 2001). Figura 4: Distribuição relativa dos recursos hídricos, da população e do território brasileiro. Fonte: UNIAGUA (2007 apud FIESP, 2009). A região Norte do Brasil, justamente a de mais baixa densidade populacional, conta com a maior abundância de águas. As regiões Sul e Sudeste apresentam recursos hídricos relativamente abundantes, mas o elevado grau de urbanização, a densidade populacional e os usos múltiplos da água estão levando à escassez em alguns pontos, porque a poluição derivada compromete a disponibilidade e aumenta os custos de tratamento. Na região Nordeste, há escassez de águas superficiais, o que é agravado por problemas como falta de saneamento básico e contaminação por transmissores de doenças tropicais. A região Centro-Oeste conta com uma área de ecossistemas aquáticos de grande biodiversidade, o Pantanal matogrossense, com cerca de 200 mil km², mas se encontra altamente ameaçada por elementos diversos: criação de gado, agricultura, hidrovias, atividades turísticas inadequadas, pesca predatória e urbanização (CLARKE e KING, 2005, p. 93). 33 Outro fato preocupante refere-se às altas demandas provenientes das atividades humanas, comprometendo a qualidade e quantidade de suas águas (BRANDLI, CIOTTI e BRANDLI, 2006). “Especialistas tem alertado que, se o consumo continuar crescendo como nas últimas décadas, todas as águas superficiais do planeta estarão comprometidas por volta do ano 2100, caracterizando uma situação de estresse hídrico” (FIESP, 2009, p. 27). O tempo de recirculação das águas dos rios é de, aproximadamente, 13 dias, dependendo do tamanho do manancial. Porém, atividades como a de superexploração dos mananciais interfere neste tempo, podendo torná-lo lento ou nulo (KOBIYAMA, MOTA e CORSEUL, 2008). O aumento da retirada de água tem significado para muitos países perdas substanciais e desequilíbrio no ciclo hidrológico. As retiradas para irrigação, abastecimento público e usos industriais sobrepujam a quantidade reposta pela precipitação e recarga, logo ocorre um desequilíbrio, que leva a falta de água, podendo isso ocorrer em águas superficiais e subterrâneas (MACÊDO, 2004, p. 119). Além dos impactos quantitativos, há aqueles decorrentes de atividades que alteram a qualidade das águas dos recursos hídricos, como por exemplo, os poluentes atmosféricos que acarretam nas chuvas ácidas e conseqüentemente alteram a composição dos rios e lagos. A construção de represas, diques, canais que resultam na alteração do fluxo dos rios interferindo na reprodução dos peixes e transporte de nutrientes. Outro impacto bastante comum em zonas industrializadas e urbanizadas são as águas residuárias de origem doméstica, esgotos não tratados e provenientes de processos industriais, acarretando na diminuição da biodiversidade e disponibilidade dos mananciais, e podendo ser um risco à saúde humana (TUNDISI, 2003). Segundo a revista Meio Ambiente (2008, p. 102) no Brasil “em apenas, quatro décadas, o volume de esgoto e resíduos sólidos jogados nas reservas de água doce deu um salto. E quase nada foi feito para reverter esse processo”. Tendo em vista estas problemáticas desde 1934, no Brasil, foi criado o Código de Águas, que passou a ser o marco disciplinador do uso das águas, dispondo sobre a classificação e utilização dos recursos hídricos, com ênfase ao aproveitamento do potencial hidráulico, mas com princípios para o uso múltiplo da 34 água, com preocupação com a sua qualidade e valor econômico. Atualmente, o país tenta preservar a água por meio de um sistema de gestão baseado em comitês de bacias hidrográficas, que é coordenado pela Agência Nacional das Águas (ANA). Sistema este criado por meio da Política Nacional dos Recursos Hídricos, instituída pela Lei nº 9433 de 8 de janeiro de 1997, a qual em seu Art. 2º defini como objetivos: [...] I – assegurar à atual e às futuras gerações a necessária disponibilidade de água, em padrões de qualidade adequados aos respectivos usos; II – a utilização racional e integrada dos recursos hídricos, incluindo o transporte aquaviário, com vistas ao desenvolvimento sustentável; III – a prevenção e a defesa contra eventos hidrológicos críticos de origem natural ou decorrentes do uso inadequado dos recursos naturais. No entanto, esta política completou mais de dez anos, e ainda encontramse obstáculos na prática, devido a dificuldades técnicas, estruturais e que parecem sombrear este quadro. Falta também engajamento: as equipes de análise dos pedidos de outorga geralmente são formadas por gente descompromissada com o órgão, demonstrando a falta de um vínculo efetivo (ASSIS e LORENTZ, 2009). 4.4 PROBLEMÁTICA AMBIENTAL O volume de água doce na superfície da Terra pode ser considerado constante enquanto que a demanda é crescente. Desse modo, à medida que a população cresce e as aspirações dos indivíduos aumentam, há cada vez menos água disponível por pessoa. Estima-se que em 2050 mais de 4 bilhões de pessoas estarão vivendo em países com carência crônica de água (CLARKE e KING, 2005). O mundo pode não estar exatamente ficando sem água, mas está ficando sem água limpa. Noventa por cento da água residual produzida no Terceiro Mundo é lançada, sem tratamento, em rios, riachos e águas costeiras locais. Além disso, os seres humanos agora estão usando mais da metade da água de escoamento acessível, deixando pouco para o ecossistema ou outras espécies (BARLOW, 2009). 35 A aparente abundância de água no Brasil tem sustentado uma cultura de desperdícios. Os problemas de abastecimento na atualidade ainda estão restritos a poucas áreas e decorrem da combinação de vários fatores, entre eles: da irregularidade das condições climáticas (Sertão do Nordeste); do crescimento exagerado do consumo; e da degradação ambiental (FIESP, 2009, p. 33). No entanto, esta falta de água não vai restringir-se ao Nordeste e grandes centros urbanos. Segundo Macêdo (2004, p. 79), “em dez anos, o desabastecimento irá atingir toda região da grande São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, além da maioria das áreas metropolitanas do país – em função da poluição dos mananciais, do uso sem planejamento e do desperdício”. Portanto, as alterações dos recursos hídricos, se devem não somente a super exploração dos mananciais e ao alto consumo de água, mas também às deposições inadequadas de resíduos provenientes de diversas atividades, modificando a qualidade das águas e tornando-as impróprias para utilização. Vaitsman e Vaitsman (2005, p. 7) também citam, os seguintes fatores como responsáveis pela diminuição da disponibilidade de água potável em algumas regiões do planeta, § [...] administração inadequada dos recursos hídricos; § contaminação das águas superficiais e subterrâneas causada por despejo de resíduos químicos e biológicos que dificultam seu aproveitamento; § crescimento desordenado de cidades e grandes obras civis que diminuem as áreas de recarga dos reservatórios de águas doces; § desperdício incontrolável nas cidades, indústria e na agricultura; § ecossistemas fragilizados nas regiões de mananciais devido a desmatamentos desenfreados que, dificultando a infiltração das águas, permitem seu rápido escoamento provocando enchentes nas cidades e no campo; § explosão demográfica; § menor quantidade de chuvas devido a fenômenos climáticos globais e fatores capazes de afetar o ciclo hidrológico; § sistema de saneamento insuficiente e, muitas vezes, ineficiente. Devido a estas problemáticas, que “a água passou de elemento essencialmente natural para industrializado, pois são raras as situações em que o homem pode utilizar dela sem nenhuma forma de tratamento” (BATALLHA e PARLATORE, 1977, p. 27). 36 Os impactos nos recursos hídricos do Brasil são variados e característicos de cada região do Brasil – deve-se em grande parte, ao processo de urbanização, aos usos agrícolas e industriais. O grande problema está na disposição inadequada dos resíduos (sólidos e líquidos), ou seja, resíduos não tratados que alcançam os mananciais e no consumo excessivo dos recursos hídricos – como resultado do constante aumento do volume de água utilizado para as diversas finalidades: i) nas residências; ii) nas indústrias (MACÊDO, 2004, p. 83). A indústria, por exemplo, embora tenha sua demanda limitada em termos de quantidade, quase tudo que ela utiliza é, de fato, consumido; e o resultado é que a água fica tão poluída que não poder ser reutilizada facilmente. Estima-se que o uso de água pelas indústrias tende a crescer nos próximos 25 anos, à medida que os países se industrializem, podendo tornar-se um sério agravante para o problema de disponibilidade de água de boa qualidade (CLARKE e KING, 2005). O conhecimento da distribuição do consumo de água por atividade industrial é essencial para o gerenciamento de águas na indústria. Se associados ao grau de qualidade específico, eles possibilitam formular a melhor estratégia para o desenvolvimento de um sistema de tratamento de água para uso industrial, com as técnicas mais adequadas para obtenção de água na qualidade e quantidade necessárias (MIERZWA e HESPANHOL, 2005, p. 41). Na agricultura, o uso da água é determinante para a produtividade, gerando além de impactos ambientais, também os sócio-econômicos. Dentre os quais se podem citar, a salinização do solo, a exaustão dos recursos hídricos em função do excesso de demanda, a contaminação dos recursos superficiais e subterrâneos, a intensificação de doenças de veiculação hídrica e outras conseqüências (MACÊDO, 2004). Para o Brasil o grande desafio é garantir o suprimento de água para os municípios de até 20 mil habitantes, e para grandes regiões metropolitanas, onde, além da escassez, os recursos hídricos estão ameaçados pela contaminação. Para tanto são necessários a otimização dos usos múltiplos da água e aproveitamento integral dos recursos hídricos disponíveis – incluindo o re-uso, o tratamento adequado e de baixo custo e a economia das águas (CLARKE e KING, 2005). A situação de má distribuição dos recursos hídricos somada aos desperdícios, poluição de nossas águas e falta de engajamento social e político, compõem um triste cenário que revela a urgente necessidade de campanhas de 37 educação ambiental para que se modifique a forma como a sociedade tem tratado esta questão. 4.5 APROVEITAMENTO DA ÁGUA PLUVIAL O sistema de captação da água da chuva é uma alternativa tecnológica que tem ganhado destaque nas últimas décadas, embora seja uma pratica adotada há mais de 2000 anos por diferentes civilizações. Uma das referências mais remotas que se tem com relação ao uso da água da chuva, se encontra em uma das inscrições mais antigas do mundo, conhecida como Pedra Maobita, que foi encontrada no Oriente médio e é datada de 850 a.C, nela o rei Mescha dos Maobitas sugere que seja feita uma cisterna em cada casa para o aproveitamento da água da chuva (TOMAZ, 1998 apud UFSC, 2005, p. 34). No Brasil esta prática tem sido adotada nos últimos anos, mas Clarke e King (2005) ainda consideram esta alternativa pouco aproveitada quando comparada a abundante pluviometria do país. De acordo com UFSC (2005), a chuva é um recurso hídrico acessível a todos, independente de condição social ou econômica. Sistemas para sua captação podem coletar a água dos telhados de construções, superfícies de terras pavimentadas e terrenos naturais, para suprir as demandas do uso doméstico, industrial e agrícola. A utilização da água da chuva depende de condições locais e visa seu aproveitamento no próprio local de captação. Por isso cada sistema possui suas características próprias e individualizadas e atende ao princípio do saneamento ecológico, já que se promove a auto-suficiência e ainda contribui para a conservação da água (GONÇALVES, 2006). 38 Um sistema de coleta da água pluvial é baseado na combinação seletiva de várias técnicas funcionais, até formar um conjunto ótimo de estruturas e propósitos de utilização (FENDRICH e OLIYNIK, 2002). Para Gonçalves (2006), o sucesso ou fracasso de um sistema de aproveitamento de água de chuva, depende, primeiramente, da quantidade de água captável, que é influenciada por vários fatores, como pluviometria do local, área de captação e local de captação. O autor considera o reservatório um componente indispensável e o seu dimensionamento requer cuidados para não tornar o sistema inviável. Sua capacidade deve ter relação direta com a demanda a ser atendida. A qualidade da água também deve ser considerada, a fim de atender os padrões para cada fim de uso, e se necessário adotado um modo de tratamento. “A metodologia básica para o projeto de sistemas de coleta, tratamento e uso de água pluvial envolve as etapas: § Determinação da precipitação média local (mm/mês); § determinação da área de coleta; § determinação do coeficiente de escoamento superficial; § caracterização da qualidade da água pluvial; § projeto do reservatório de descarte; § projeto do reservatório de armazenamento; § identificação dos usos da água (demanda e qualidade); § estabelecimento do sistema de tratamento necessário” (GOULART, 2008, p. 20). 4.5.1 Qualidade da Água da chuva Para Pio (2005, p. 61) [...] a água da chuva pode ser utilizada desde que haja controle de sua qualidade e verificação da necessidade de tratamento específico, de forma que não comprometa a saúde de seus usuários, nem a vida útil dos sistemas envolvidos. Conforme Tomaz (1998, apud UFSC, 2005, p. 44), a qualidade da água da chuva varia de acordo com a localização geográfica do ponto de amostragem, 39 com as condições meteorológicas, com a presença ou não de vegetação e também com a presença de carga poluidora no ar local. No Quadro 2, está determinado o grau de limpeza da água proveniente de cada tipo de telhado e para os tipos de atividade que poderá ser utilizada, onde se observa que é possível utilizar a água da chuva para fins potáveis, quando a mesma estiver com uma qualidade relativamente alta e passar por um tratamento. Quadro 2: Grau de limpeza da água da chuva e respectivos fins de utilização, conforme local de coleta. Grau de Limpeza Regiões de Coleta da água da Usos da água da chuva chuva A Telhados (lugares não Lavar banheiros, regar as freqüentados por animais) plantas, a água filtrada é potável. B Telhados (lugares freqüentados Lavar banheiros, regar as por pessoas e animais) plantas, não pode ser usada para beber. C Pisos e estacionamentos. Necessita de tratamento. D Estradas, vias férreas elevadas Necessita de tratamento. Fonte: GROUP RAINDROPS (2002, p. 99). Até o momento a única norma que estabelece padrões de qualidade para utilização da água de chuva é a NBR 15527 (ABNT, 2007), a qual define os parâmetros e padrões de qualidade para sua utilização em fins não potáveis. Nesta mesma norma, consta que “os padrões de qualidade devem ser definidos pelo projetista de acordo com a utilização prevista”, no entanto alguns parâmetros, conforme Tabela 2, devem ser seguidos em casos de usos restritivos não potáveis. 40 Tabela 2 - Parâmetros de qualidade da água da chuva para usos restritivos não potáveis. Parâmetro Análise Valor Coliformes Totais Semestral Ausência em 100 mL Semestral Ausência em 100 mL Mensal 0,5 a 3,0 mg/L Mensal < 2,0 uTb, para usos menos Coliformes Termotolerantes Cloro residual livre a Turbidez restritivos < 5,0 uT Cor aparente (caso não Mensal seja utilizado < 15 uHc nenhum corante, ou antes de sua utilização) Deve prever ajuste de pH Mensal pH de 6,0 a 8,0 no caso de para proteção das redes de tubulação de aço carbono distribuição, ou galvanizado caso necessário NOTA Podem ser usados outros processos de desinfecção além do cloro, como a aplicação de raio ultravioleta e aplicação de ozônio. a No caso de serem utilizados compostos de cloro para desinfecção. b é a unidade de turbidez. c é a unidade de Hazen. Gonçalves (2006, p. 86) refere-se à definição dos padrões da qualidade da água da chuva, da seguinte forma, [...] Na ausência de uma legislação específica para o aproveitamento da água da chuva de maneira a estabelecer os padrões de qualidade que esta água deva atender em função dos diferentes usos, torna-se necessário adotar, mesmo em caráter temporário, a legislação disponível atualmente. Portanto, quanto à qualidade da água de chuva para se utilizar em fins potáveis, deve-se utilizar a legislação que, atualmente, define os parâmetros de potabilidade, que no caso é o Ministério da Saúde, na sua Portaria nº 510 de 2004, é 41 o órgão responsável por estabelecer o padrão de potabilidade da água, através da definição de parâmetros microbiológicos, físicos, químicos e radioativos que devem ser atendidos a fim de evitar riscos à saúde humana. Outro instrumento legal que pode ser de utilidade para fins comparativos é a Resolução CONAMA nº357/2005, onde se encontra a classificação das águas de acordo com a qualidade requerida para seus usos preponderantes. No Art. 4º, da Seção I, desta Resolução, as águas doces são classificadas em: [...] I - classe especial: águas destinadas: a) Ao abastecimento para consumo humano, com desinfecção; b) À preservação do equilíbrio natural das comunidades aquáticas; e c) À preservação dos ambientes aquáticos em unidades de conservação de proteção integral. II – classe 1: águas que podem ser destinadas: a) Ao abastecimento para consumo humano, após tratamento simplificado; b) À proteção das comunidades aquáticas; c) À recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho conforme Resolução CONAMA Nº274, de 2000; d) À irrigação de hortaliças que são consumidas cruas e de frutas que se desenvolvam rente ao solo e que sejam ingeridas cruas sem remoção de película; e e) À proteção das comunidades aquáticas em Terras Indígenas. III – classe 2: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional; b) à proteção das comunidades aquáticas; c) à recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, conforme Resolução CONAMA nº274, de 2002; d) à irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto; e e) à aqüicultura e à atividade de pesca. IV – classe 3: águas que podem ser destinadas: a) ao abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado; b) à irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras; c) à pesca amadora; d) à recreação de contato secundário; e e) à dessedentação de animais. V- classe 4: águas que podem ser destinadas: a) à navegação; e b) à harmonia paisagística. Esta mesma Resolução define as condições e padrões de qualidade, para o enquadramento das águas em cada classe anteriormente definidas. 42 4.5.2 Vantagens e Desvantagens do Sistema A água da chuva pode servir para atender a demanda de diversos fins, desde que sejam atendidos os níveis de qualidade necessários. Como exemplo, temos a cidade de Tóquio, que sofria com a impermeabilização de seus solos, devido aos concretos e asfaltos, acarretando em problemas com escassez dos recursos hídricos e ambientais urbanos. Hoje esta cidade procura resolver seus problemas com a captação da água da chuva, aplicando-a de diferentes modos, como, utilizá-la para beber, apagar incêndios, formação de córregos e rios, em vasos sanitários, fontes de abastecimento em comunidades, para lazer nos parques da cidade, etc. (GROUP RAINDROPS, 2002). Nas residências e nas indústrias, a água da chuva pode vir a substituir a água potável, de forma a gerar um menor gasto com a cobrança pelo uso desta água, sendo que, para a utilização da água da chuva, ainda não se encontrou uma forma para se cobrar. Também pode atender as demandas de usos não potáveis, como vasos sanitários, regas de jardim, lavação de carro e calçada, etc. Em regiões onde existem ou que não existem praias, as águas da chuva podem servir de lazer para a população local, através da sua utilização em piscinas públicas, em parques aquáticos, na alimentação de lagoas artificiais, para abastecer chafarizes em praças públicas, entre outros usos. A sua captação também pode resolver problemas como enchentes, resolver problemas de infiltração do solo, contribuindo para fatores como recarregar aqüíferos, regularizar as vazões de rios e temperaturas do solo (UFSC, 2005). O que pode tornar o sistema desvantajoso refere-se ao custo inicial de investimento dependendo da tecnologia empregada. As bombas tem um alto custo, e também alto consumo de energia para o bombeamento da água. Ainda assim, o reservatório é o componente de mais elevado valor, por isso é muito importante que seu dimensionamento seja feito de maneira precisa (GONÇALVES, 2006). Segundo UFSC (2005, p. 56), 43 [...] o custo tende a diminuir pelo aumento da produção dos equipamentos específicos, como os filtros e demais acessórios, pela concorrência dos fabricantes e pelo surgimento de tecnologias mais simples. Também o gasto com energia elétrica pode não ocorrer, se a topografia do terreno permitir e se na concepção do sistema se buscar desenvolver o sistema de modo a funcionar no todo ou em parte por gravidade. Ainda, de acordo com UFSC (2005, p. 56) as vantagens e desvantagens do aproveitamento da água da chuva, podem ser simplificadas levando em consideração os aspectos econômicos, sociais e ambientais, conforme apresentado no Quadro 3. Quadro 3: Vantagens e desvantagens do aproveitamento da água da chuva. VANTAGENS ECONÔMICA SOCIAL DESVANTAGENS Dependendo da tecnologia Redução com gasto empregada pode ter alto mensal de água e esgoto. custo inicial. Aumento da renda familiar Pode aumentar o gasto mensal, após retorno do com energia elétrica. investimento inicial. Garantia da qualidade de vida pela certeza da não Não apresenta. falta d’água e seus inconvenientes. Melhora da imagem perante a sociedade, órgãos ambientais, etc. MEIO AMBIENTE Preservação dos recursos hídricos, principalmente dos mananciais superficiais. Não apresenta. Contribui na contenção de enxurradas que provocam alagamentos e enchentes. Fonte: UFSC (2005, p. 56). 44 4.5.3 Dimensionamento do Sistema Para a instalação de um sistema de aproveitamento da água da chuva, são necessários alguns componentes, como calhas, condutores verticais e/ou horizontais, bombas para condução da água, conectores entre os condutores e reservatório (GONÇALVES, 2006). O dimensionamento destes componentes é citado por vários autores, sendo que os métodos abordados por eles são baseados nas normas NBR 10844 (ABNT, 1989) - Instalações prediais de águas pluviais; que rege a instalação do sistema, estabelecendo exigências e critérios a fim de garantir níveis aceitáveis de funcionalidade, segurança, higiene, conforto, durabilidade e economia. Também a NBR 15527 (ABNT, 2007) – “Água de chuva: Aproveitamento de coberturas para fins não potáveis”, que além de tratar das instalações necessárias, cita sobre a qualidade que a água deve apresentar para fins de uso não potáveis. 4.6 LEGISLAÇÕES E NORMAS REFERENTES O desejo de gerenciar os Recursos Hídricos no Brasil teve início com o Código das Águas, estabelecido pelo Decreto Federal nº 24.643, de 10 de julho de 1934. No entanto, este código tinha como principal objetivo, regulamentar a apropriação das águas, com vistas à sua utilização para gerar energia elétrica (CAUBET, 1994). A dificuldade de regulamentação do Código das Águas resultou na concepção da Lei nº 9433, promulgada em 1997, que instituiu a Política Nacional dos Recursos Hídricos, seus fundamentos, objetivos, diretrizes e instrumentos. As diferenças entre esta Lei e o Código das Águas, é que esta distingue a água como 45 bem de valor econômico, institui a gestão por bacia hidrográfica e determina a participação da sociedade na gestão hídrica (SOUSA JÚNIOR, 2004). A partir de então foi criada a ANA, entidade responsável pela implementação desta nova política. Em conseqüência foram surgindo novas legislações referentes à água, sua qualidade para determinados fins e penalidades para atividades poluidoras. Na Resolução CONAMA nº357/2005, os corpos d’água foram definidos em classe conforme seus fins de uso, bem como foram estabelecidos padrões de qualidade para o lançamento de efluentes. O Decreto Federal nº 5440/2005 estabelece padrões e procedimentos sobre o controle e qualidade da água de sistemas de abastecimento. Mas, é a Portaria nº 518/2004 do Ministério da Saúde, que define padrões de qualidade da água para consumo humano. A adoção de tecnologia alternativa no país é incentivada a fim de racionalizar o consumo de água, no entanto ainda não existem legislações que mencionem a aplicação das mesmas. No caso, dos Sistemas de Aproveitamento da Água Pluvial existem normas da ABNT que tratam da aplicação e dimensionamento deste sistema. A primeira, NBR 10844, criada em 1989, trata das instalações necessárias para o funcionamento deste sistema, enquanto a NBR 15527 de 2007, além de mencionar os métodos de dimensionamento do sistema, citam a qualidade da água para finalidades não potáveis. 46 5. METODOLOGIA A metodologia deste estudo foi baseada na citada por Gonçalves (2006, p. 94), a qual envolve as seguintes etapas: § § § § § § § § § Determinação da precipitação média local (mm/mês); determinação da área de coleta; determinação do coeficiente de escoamento; projeto dos sistemas complementares (grades, filtros, tubuluções, etc.); projeto do reservatório de descarte; escolha do sistema de tratamento necessário; projeto da cisterna; caracterização da qualidade da água pluvial, e identificação dos usos da água (demanda e qualidade). Como se pretende obter um sistema com menor custo possível, e “o custo do reservatório pode variar entre 50% a 85% do custo total de um sistema de aproveitamento da de água da chuva” (TOMAZ apud GONÇALVES, 2006, p. 114), ao invés de dimensionar um reservatório, estudou-se a possibilidade de utilizar o atual reservatório para armazenamento, também para a água da chuva, considerando este com grande capacidade e preparado com comporta para casos de vazões maiores que sua capacidade. 5.1 Caracterização da Área de Estudo No primeiro momento, preocupou-se em caracterizar a área de estudo, com o auxilio dos funcionários, projetos bibliográficos da própria empresa que foram utilizados em processos de licenciamentos, plantas arquitetônicas e verificação in loco. 47 Foram reunidas informações, principalmente, referentes à água utilizada na empresa; modos de captação e armazenamento, meios de tratamento, sua demanda, seus fins de uso, custo para obtenção da mesma e seu descarte. 5.2 Análise da Qualidade da Água da Chuva O objetivo de analisar a qualidade da água da chuva foi avaliar seus parâmetros, conforme estabelecidos em legislação para cada finalidade de uso. Após a análise da água realizou-se um comparativo com os padrões estabelecidos na Resolução CONAMA n° 357/2005, a fim de uso da a água da chuva conforme as Classes definidas por esta resolução. Também foi realizada a comparação com os padrões estabelecidos na Portaria n° 518/2004 do Ministério da Saúde, somente para fins comparativos, já que a água da chuva passará por tratamento, para se tornar potável, antes de ser utilizada. Considerou-se relevante fazer um estudo comparativo entre os laudos, em Anexo A, da análise da água da chuva e da água do açude, a fim de deixar evidente que por ser água da chuva não a torna imprópria, após tratamento convencional, para os fins que se deseja utilizá-la e, também, que o tratamento já utilizado na empresa será suficiente para torná-la, potável. Para tanto foram selecionados os piores valores resultantes dos laudos analisados da água da chuva e comparados com o laudo da análise da qualidade da água do açude. Para realização da coleta da água da chuva, como mostra a Fig.5, foi preparado um reservatório com capacidade de 15 litros, disposto abaixo de um dos tubos verticais existentes no prédio do abate da empresa. Foram realizadas três coletas com intervalos de, aproximadamente, 20 dias, conforme ocorrência de chuva, sendo que as amostras foram coletadas, após descarte aproximadamente, 20 mm e enviadas para análise em laboratório externo. de, 48 Figura 5: Procedimentos para coleta da água da chuva: A – Reservatório utilizado; B – Reservatório completo com água da chuva; C – Frascos utilizados para enviar água para o laboratório; D – Enchimento dos frascos. Enquanto a coleta da água do açude, Fig.6, foi realizada uma única vez, e enviada para análise em laboratório terceirizado. Figura 6: Procedimento da coleta da água do açude: A – Açude; B – Balde usado para coleta; C – Maneira como foi feita a coleta; D – Enchendo o frasco com a água para ser enviando para análise. 49 Os parâmetros analisados, tanto para a água da chuva como do açude, foram os citados por Moruzzi e Nakada (2009, p. 53), coliformes termotolerantes, coliformes totais, DBO, Dureza total, Nitratos, Ortofosfato total, Oxigênio Dissolvido, pH, Sólidos totais, Temperaturas e Turbidez. 5.3 Estudo dos Dados Pluviométricos Para a caracterização do regime pluviométrico foram usados os dados da estação pluviométrica Serrinha (código 02849029) da ANA, localizada em Siderópolis, distante 40 km do local em estudo. As informações analisadas referemse à série histórica de precipitação entre 1987 a 2009, possibilitando a realização da média mensal e anual da ocorrência de chuvas, conforme Apêndice A, e também análise de ocorrência máxima e mínima de dias sem chuvas, considerando os meses que não apresentaram falhas nas informações. Nesta etapa, também foram realizados os cálculos de intensidade da chuva através da Equação [1] proposta por Back (2002, p. 33), Eq.[1] O mesmo autor definiu as constantes para algumas cidades brasileiras, onde constam as utilizadas para Nova Veneza (Tabela 3), para o tempo de duração da chuva considerado. Tabela 3 - Constantes da equação de intensidade, ajustada para cidade de Nova Veneza. Para t120min K = 767,9 m = 0,2242 b = 8,1 n = 0,6646 Fonte: BACK (2002, p. 58). Para 120൏t1440min K = 1427,2 m = 0,2241 b = 21 n = 0,7874 50 Para a decisão do período de retorno (T) utilizou-se a NBR 10844, que estabelece: T = 1 ano, para áreas pavimentadas, onde empoçamentos possam ser tolerados; T = 5 anos, para coberturas e/ou terraços; T = 25 anos, para coberturas e áreas onde empoçamento ou extravasamento não possa ser tolerado. E para a duração de precipitação (t) utilizou-se a mesma norma, onde diz que se deve sempre considerar t = 5 minutos. 5.4 Determinação da Área de Coleta da Água da Chuva Determinou-se quais seriam as áreas de coleta da água pluvial, considerando os prédios instalados numa cota superior a do açude, a fim de fazer a condução da água pluvial somente por gravidade, dispensando o uso de sistemas de recalque com emprego de bombas hidráulicas. Para tanto foram analisadas as plantas altimétricas, em Apêndice B, do parque industrial da empresa. Juntamente com uma boa altimetria, considerou-se as vazões de água proveniente de cada prédio. A vazão máxima de escoamento superficial da cobertura dos diferentes prédios foram obtidas a partir da área do telhado e de intensidade da chuva aplicadas à Equação 2, dada por: Eq.[2] Em que: Q = vazão (L/minutos); A = área do telhado (m²); C = Coeficiente de escoamento; i = intensidade pluviométrica (mm/h); 51 5.5 Determinação do Coeficiente de Escoamento Este coeficiente, também conhecido como “coeficiente de Runoff”, foi importante nos cálculos da quantidade de água de chuva que escoa em determinado telhado. “Seu valor é resultante da quantidade de água que escoa superficialmente pelo total da água precipitada” (GONÇALVES, 2006, p. 97). Para Baptista (2003, apud CITADIN, 2010) o valor deste coeficiente varia de acordo com as características da superfície de coleta, conforme Tabela 4. Tabela 4 - Coeficiente de escoamento para cada tipo de superfície. Características da superfície Coeficiente de Escoamento – C Telhados 0,75 à 1,00 Pavimentação asfáltica 0,70 à 0,95 Pavimentação com paralelepípedo 0,70 à 0,85 Pavimentação em concreto 0,80 à 0,95 Gramados – terrenos arenosos 0,05 à 0,20 Gramados – terrenos argilosos 0,13 à 0,35 Fonte: Baptista (2003, apud CITADIN, 2010, p. 26). Tomaz (2003, apud GONÇALVES, 2006, p. 112) salienta que “o melhor coeficiente de escoamento superficial a ser adotado no Brasil é C=0,80.” 5.6 Análise da Demanda e Oferta Como este estudo visa atender as demandas de todas as atividades, e a empresa tem um controle mensal do seu consumo de água, realizou-se a média mensal consumida durante os meses deste ano na empresa. Em sequência, com as médias pluviométricas de cada mês, que podem ser consultadas no Apêndice A, foi possível avaliar a quantidade, aproximada, da 52 demanda total que poderá ser atendida com a coleta da água da chuva dos telhados escolhidos para o estudo. Para tanto se utilizou a Equação 3. Eq.[3] Onde, A=área do telhado de coleta (m²); C=coeficiente de escoamento; i= intensidade pluviométrica de cada mês (mm); Q=vazão de água captada (m³/mês); 5.7 Dimensionamento dos Componentes do Sistema O dimensionamento das calhas e dos condutores verticais foi realizado somente para o prédio da casa de máquinas, pois o prédio do frigorífico já provia destes componentes. 5.7.1 Calhas Foram dimensionadas cinco calhas para o prédio da casa de máquinas, as quais foram nomeadas de C1, C2, C3, C4 e C5, conforme apresentado no Apêndice C. O cálculo de suas dimensões foi possível através da equação de Manning (Equação 4). Para tanto foram utilizados valores de dimensões disponíveis no mercado. Eq.[4] 53 Onde: K = 60000; n = coeficiente de rugosidade, conforme material da calha (Tabela 5); Rh = raio hidráulico (Equação 5); S = área da seção molhada (Equação 6); Tabela 5 - Coeficiente de rugosidade. MATERIAL Coeficiente n Plástico, fibrocimento, aço, metais não-ferrosos 0,011 Ferro fundido, revestida 0,012 concreto alisado, alvenaria Cerâmica, concreto não-alisado 0,013 Alvenaria de tijolos não revestida 0,015 Fonte: NBR 10844 (1989, p. 6). O cálculo da seção molhada se dá substituindo os valores na Equação 5, e tendo como base a Figura 7. Eq.[5] O cálculo do Raio Hidráulico obtém-se dividindo a área molhada pelo perímetro molhado, através da seguinte equação: Eq.[6] Figura 7: Calha de seção retangular para cálculo do raio hidráulico. Fonte: NBR 10844 (1989, p. 5). 54 5.7.2 Condutores Verticais Os condutores verticais foram dimensionados para o prédio da casa de máquinas e identificados de CV01 a CV05, conforme mostrado na planta do Apêndice C. A obtenção de seu diâmetro interno se deu através da aplicação da Tabela 6, seguinte. Tabela 6 - Diâmetros dos condutores verticais, de acordo com as vazões. Diâmetro (mm) Vazão (L/s) 50 0,57 75 1,76 100 3,78 125 7,00 150 11,53 200 25,18 Fonte: Botelho e Ribeiro Jr. (2006, p. 214). Segundo a NBR 10844 (1989, p. 6) “o diâmetro interno mínimo dos condutores verticais de seção circular é 70 mm.” 5.7.3 Condutores Horizontais De acordo com a NBR 10844 (1989, p. 7) “os condutores horizontais devem ser projetados, sempre que possível, com declividade uniforme, com valor mínimo de 0,5%.” A mesma norma ainda diz que, o escoamento dos condutores circulares deve ser feito em lâmina de altura igual a 2/3 do diâmetro interno. Para o dimensionamento deste componente, seguiu-se a Tabela 7. 55 Tabela 7 - Capacidade de condutores horizontais de seção circular (vazões em L/min). Diâmetro Interno (D) (mm) 50 75 100 125 150 200 250 300 n= 0,011 n= 0,012 0,50% 1% 2% 4% 0,50% 1% 2% 4% 32 45 64 90 29 41 59 83 95 133 188 267 87 122 172 245 204 287 405 575 187 264 372 527 370 521 735 1040 339 478 674 956 602 847 1190 1690 552 777 1100 1550 1300 1820 2570 3650 1190 1670 2360 3350 2350 3310 4660 6620 2150 3030 4280 6070 3820 5380 7590 10800 3500 4930 6960 9870 Fonte: NBR 10844 (1989, p. 9). O dimensionamento dos condutores com vazões superiores as constantes na Tabela 7, foram realizados com o programa Hidrom (BACK, 2006). 5.7.4 Conexões Segundo a NBR 10844 (1989), a ligação entre condutores verticais e horizontais deve sempre ser feita por curva de raio longo, com inspeção ou caixa de areia, estando o condutor horizontal aparente ou enterrado. Sempre que houver mudanças de declividade, mudança de direção e a cada trecho de vinte metros com percursos retilíneos, recomenda-se a instalação de caixas de areias. Borges (1992) ressalta que as caixas de areia devem ser feitas de concreto, alvenaria de tijolo maciço ou blocos de concreto. Deverão ter seção circular de 0,6 metros de diâmetro ou quadrada de 0,6 metros de lado, no mínimo, com profundidade de no máximo 1 metro e distâncias entre si de 20 metros. 56 5.7.5 Rede de Drenagem Estudou-se a possibilidade de se manter a atual rede de drenagem para canalizar a água da chuva para o açude. Para tanto verificou-se se o material e dimensões teriam capacidade de drenar esta água, por meio da Equação 7. Eq.[7] Onde: D= diâmetro (mm); K=1,603 N=0,6648 I= declividade (%) Q = vazão (m³/s) 5.7.6 Reservatório A fim de verificar-se se o reservatório seria capaz de receber as quantidades máximas de chuva, fez-se um comparativo entre a capacidade volumétrica do açude e as possíveis máximas pluviométricas que podem ocorrer no local. 57 5.8 Viabilidade Técnica e Financeira Para análise de viabilidade financeira considerou-se, os gastos que serão evitados com a implantação do sistema, sendo estes, os custos para bombeamento da água dos rios e o tratamento na ETE. Como os custos foram realizados levando em consideração a menor oferta mensal de água da chuva, conforme Tabela 14, para que se pudesse obter o valor mínimo que será economizado. Em seguida, listaram-se todos os materiais necessários para implantar o sistema de captação da água da chuva, os quais foram dimensionados nas etapas anteriores. Após foi feito um levantamento de seus valores no comércio de Nova Veneza. Com os dados anteriores, pode-se calcular o período de retorno do investimento, utilizando a seguinte equação: Tempo de retorno do investimento = Total investido ൊ Economia anual. 58 6. RESULTADOS E DISCUSSÕES 6.1 Levantamento dos Dados da Área de Estudo A agroindústria Agrovêneto necessita de uma grande quantidade de água, a fim de atender atividades que vão desde o abate, que requer água potável, até o funcionamento de equipamentos (lavador de gases, bombas a vácuo, caldeira), e fins sanitários, que não requerem água de qualidade tão nobre. No entanto, toda a água utilizada na indústria encontra-se em estado de potabilidade, já que as maiores demandas são provenientes do processo de abate. A empresa tem como fontes de abastecimento de água o Rio Dândalo, que fica bem próximo à empresa (Figura 8), e Rio São Bento (Figura 9) localizado há cinco quilômetros. A água captada é bombeada para o reservatório da empresa com capacidade aproximada de 32000 m³. Toda água captada antes de ser utilizada passa por tratamento convencional na ETA, localizada na própria indústria, a fim de tornar a água própria para consumo, de acordo com os padrões de potabilidade estabelecidos pela Portaria 518, do Ministério da Saúde, de 25 de março de 2004. Este tratamento é composto pelas seguintes etapas: Captação de água: A água para o abastecimento da ETA é proveniente de dois pontos, do rio Dândalo e da lagoa da empresa. A água do último é oriunda do rio São Bento que está situado a uma distância da ETA de 4800m e também do rio Dândalo que está distante a 180m. Provetas: Na ETA há sete provetas, sendo que a água é bombeada para a primeira e nesta recebe um tratamento químico, adição do sulfato de alumínio e hipoclorídrico de sódio. Posteriormente a água é encaminhada para as outras cinco provetas a fim de decantar os sólidos em suspensão e por último é encaminhado para a última proveta que assim vai para os filtros. É realizada a descarga das 59 provetas hora em hora durante 24hs e estas vão uma parte para o rio e a outra para a lagoa. Filtros: Após as provetas a água é encaminhada para os filtros, no total são 19 filtros. A retrolavagem destes são realizada nos seguintes horários às 5:00hs, 10:00hs, 14:00hs, 19:00hs e 1:00h, e o tempo de duração é de em média 7 a 10 minutos. Caixa d’água externa: Após os filtros a água vai para duas caixas d’água externa, com capacidade de 15000l. Caixa d’água sobre o abatedouro: Este tem capacidade também para 15000l e serve para distribuir água para o abatedouro O custo do tratamento da água é de aproximadamente R$0,50 por m³. Atualmente, a empresa Agrovêneto consome, aproximadamente, 83000 m³ de água/mês, distribuídos nos seguintes usos: caldeira, esgoto sanitário e processo industrial de abate. Portanto são gastos mensalmente em torno de R$ 41500,00 para tornar a água potável. Todo efluente gerado, antes de ser descartado no meio ambiente passa por um tratamento para que seus padrões de qualidade fiquem de acordo com o estabelecido pela Resolução CONAMA n°357 de 2005. Na mesma canalização dos efluentes desembocam as águas de chuva que escoam dos telhados dos prédios da empresa, e caem nas bocas de lobo. Portanto toda esta água também está sendo tratada como efluente. Para o tratamento do efluente na ETE são utilizados polímero aniônico orgânico e sulfato férrico aluminoso, e o tratamento ocorre da seguinte forma: Entrada de efluente na ETE: A vazão do efluente que entra na ETE é de aproximadamente 150m³/h; Calha Parshall: está calha possui um diâmetro de 4” polegadas para verificar a vazão horária, da entrada da ETE. Tanque de recalque: construído em concreto, escavado no solo e volume de 30m³, terá um tempo de residência mínimo de 10 minutos, para recalcar o efluente bruto ao tanque de equalização, através de um sistema de recalque. O sistema de bombeamento terá duas bombas centrífugas de multi-estágio, com potência de 20CV/1750 RPM e tubulação de 150mm. 60 Tanque de equalização: volume útil de 420m³ e tempo de residência do efluente em 3 horas, para homogeneizar as cargas de DBO, DQO60 e unidade de pH do efluente bruto. Tanque de eletrólitos: construído em polietileno, sobre uma base de concreto e volume de 20m³, receberá sazonalmente solução de cloreto férrico a 40% dissolvido em água. A dosagem de cloreto férrico no efluente é de 250mg/L; Tanque de flotação: recebe 140m³/h de efluente bruto, mais 30 m³/h de efluente clarificado do mesmo, totalizando uma vazão de 170m³/h. Tem um sistema de injeção de ar dissolvido na forma de microbolhas e dosagem de eletrólitos (cloreto férrico) e polieletrólitos (catiônico), para coagular, flocular e flotar a carga orgânica poluidora, com índices de redução de DBO5 maior e igual a 80% da carga do efluente bruto, em relação ao efluente tratado. Tem um sistema de raspadores superficiais para retirar o lodo. Sistema de microbolhas: Pela parte inferior do vaso de pressão, é injetado, através do difusor, ar comprimido que em grande parte é dissolvido no liquido, e em parte perde-se na atmosfera. Quando o nível de efluente atingir a válvula bóia, ela se fecha automaticamente e o passar a ficar sobre a superfície do liquido. A pressão exercida pela camada de ar formada sobre a superfície do fluido passa, então, a contribuir com sua pressão para transferir o efluente o misturadorejetor de micro-bolhas. Tanque do lodo flotado: Recebe o lodo flotador com volume de 5m³ e tempo de resistência de 2,5 horas, para que o mesmo sofra deságüe. Tem um conjunto de bombas, para recalcar o lodo ao adensador centrifugo de lodo. Adensador do lodo: consta de duas centrífugas de alta rotação, formato cilíndrico, com sistema de separação dos sólidos da água do lodo do flotador. É adicionado o polímero aniônico que tem a função de deixar o lodo mais denso e assim separar por diferença de densidade entre os sólidos e água do lodo. A centrifuga é limpo com água quente durante 45minutos e três vezes ao dia, um a cada turno. Aterro da empresa: a ETE gera em média 9 t/dia de lodo e este é encaminhado para o aterro da própria empresa, localizado na estrada Geral, s/n°Picadão, município de Nova Veneza. 61 O custo do tratamento do efluente é de R$ 1,05 por m³, resultando em um gasto mensal de, aproximadamente, R$ 87150,00. Figura 8: localização do abastecimento e tratamentos de água da Agrovêneto Ind. de Alimentos S.A. Fonte: Google Earth (2010). Figura 9: Localização do Rio São Bento em relação à Agrovêneto. Fonte: Google Earth (2010). 62 6.2 Qualidade da Água da Chuva Através da correlação dos valores dos laudos das analises da água da chuva, em Anexo A, com os padrões estabelecidos na Resolução CONAMA nº 357/2005 para cada Classe, observa-se que a água da chuva apresenta condição de uso de Classe 2, e como tal poderá ser utilizada para abastecimento humano, após tratamento convencional ou avançado. Tabela 8 - Resultado da análise da qualidade da água da chuva, comparada aos padrões estabelecidos para cada Classe, na Resolução CONAMA n° 357/2005. PARÂMETROS Água da Chuva Coliformes Termotolerantes (UFC/100 mL) 45 Coliformes totais (UFC/100 mL) 249 DBO (mg DBO5/L) Dureza Total (mg CaCO3/L) Nitrato (mg N-NO3/L) Ortofosfato Total (mg P/L) Ph 5 23,6 4,65 0,05 6,92 CONAMA Classe 1 2 3 ≤ 200 < 1000 < 2500a < 1000b < 4000c ≤200 < 1000 < 2500a < 1000b < 4000c ≤3 5 10 10 0,025 6a9 Sólidos Totais (mg ST/L) 442 500 Turbidez (NTU) 25,9 ≤ 40 a Para uso em recreação de contato secundário. b Para dessedentação de animais criados confinados. c Para os demais usos. 10 0,050 6a9 10 0,15 6a9 500 ≤ 100 500 ≤ 100 4 6a9 Analisando a Tabela 9, um comparativo feito entre os laudos das análises da água da chuva e do açude, percebe-se que alguns dos valores encontrados para os parâmetros da água da chuva são melhores do que aqueles da água do açude, 63 evidenciando que o tratamento da água utilizado na empresa será suficiente para tornar a água da chuva, também, potável. Também, levando em consideração os resultados das análises, não haverá interferência significativa na qualidade da água do açude, pois ocorrerá a diluição dos parâmetros, portanto o processo de tratamento na ETA não terá interferência quanto a necessidade de utilização de mais reagentes. Tabela 9 - comparativo entre a qualidade da água da chuva e água do açude. PARÂMETROS Água da Chuva Açude Coliformes Termotolerantes (UFC/100 mL) 45 100 Coliformes totais (UFC/100 mL) 249 370 5 ൏2 DBO (mg DBO5/L) Dureza Total (mg CaCO3/L) 23,6 32,1 Nitrato (mg N-NO3/L) 4,65 Ortofosfato Total (mg P/L) 0,05 ൏ 0,20 pH 6,92 ൏ 0,02 7,01 Sólidos Totais (mg ST/L) 442 96,0 Turbidez (NTU) 25,9 10,1 Comparando-se os resultados do laudo da análise da água da chuva com os padrões estabelecidos na Portaria do MS n° 518/2004 (Tabela 10) percebe-se que alguns parâmetros, mesmo antes da água passar por tratamento, encontram-se dentro dos limites estabelecidos. No entanto, assim mesmo a água precisará passar por tratamento convencional antes de ser utilizada, já que será utilizada na industrialização de alimentos, devendo ser potável, atendendo todos os parâmetros analisados à legislação vigente. Os parâmetros que não estão em conformidade com a Portaria MS 518/04 serão corrigidos em estação de tratamento de água convencional. 64 Tabela 10 - Resultados da análise da água da chuva, comparada aos padrões estabelecidos na Portaria MS 518/2004. PARÂMETROS Água da Chuva PORTARIA MS nº 518/04 45 Ausente 249 5 23,6 4,65 0,05 6,92 442 25,9 Ausente NA 500 10 NA 6,0 – 9,5 1000 5 Coliformes Termotolerantes (UFC/100 mL) Coliformes totais (UFC/100 mL) DBO (mg DBO5/L) Dureza Total (mg CaCO3/L) Nitrato (mg N-NO3/L) Ortofosfato Total (mg P/L) pH Sólidos Totais (mg ST/L) Turbidez (NTU) NA – Não Apresenta 6.3 Estudo dos Dados Pluviométricos Na Figura 10 estão representados os valores médios mensais de precipitação na estação Serrinha, onde se observa que a precipitação média mensal varia de 257,9 mm para o mês de janeiro a 81,4 mm para o mês de junho, com média anual de 1892,22 mm. Figura 10: Médias pluviométricas mensais, com base nos anos de 1987 até 2009. 65 A intensidade máxima de chuva para dimensionamento das calhas e demais estruturas para captação e condução da água da chuva foi obtida substituindo na Equação 1 o período de retorno de cinco anos, duração de cinco minutos e dados da Tabela 3 obtendo-se o resultado da intensidade pluviométrica de 199.28 mm/h. Na Tabela 11, pode-se observar o mínimo e máximo de dias consecutivos sem chuva durante um ano. Observa-se que o período máximo de dias consecutivos sem chuva foi de 30 dias, o que da uma indicação do período de estiagem. Tabela 11 - Mínimas e máximas de dias sem chuva em um mês, para os respectivos anos. Ano 1987 1988 1989 1990 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2008 2009 Mínimo de dias consecutivos sem chuva em um mês 4 3 5 7 5 4 5 4 4 3 4 3 3 4 5 5 5 4 4 3 3 Máxima de dias consecutivos sem chuva em um mês 10 21 22 15 17 30 22 30 14 14 16 13 11 12 12 21 18 12 14 24 12 66 6.4 Área de Coleta da Água da Chuva Os prédios onde se encontram o frigorífico e o prédio da casa de máquinas, foram definidos como ideais para captação da água da chuva, pois além de ofertarem uma boa quantidade de água pluvial, conforme Tabela 12, estes se encontram em uma área com cota maior que o açude, não havendo necessidade de bombas para condução da água, ocorrendo escoamento por gravidade. Tabela 12 - Oferta da água de chuva dos telhados de cada prédio existente no parque industrial da Agrovêneto. Número na Planta Prédio Área (m²) Q (L/min) 10 Box Caminhões 263,20 699,34 21 Caldeira 600 1594,24 24 Construção Civil 142,87 379,15 23 ETE 315,27 837,69 22 Fábrica de Farinha 880,66 2339,72 12 Manutenção 587,47 1560,95 20 Laboratório 60,53 160,83 05 Frigorífico 10246,76 27226,32 08 Casa de Máquinas 671,5 1784,22 29 Compressor 96,67 256,86 01 Fomento 280,57 745,49 67 6.5 Coeficiente de Escoamento O coeficiente de escoamento (C) foi definido 0,80 para o telhado do Frigorífico, sendo este revestido por telhas galvanizadas. Enquanto para o prédio da Casa de Máquinas considerou-se 0,90, já que seu telhado do tipo concretado. 6.6 Demanda e Oferta 6.6.1 Demanda Com base no levantamento do consumo de água mensal (Tabela 13), obteu-se como consumo médio mensal de água, aproximadamente, 83000 m³. Tabela 13 - Consumo de água mensal na Agrovêneto. MÊS (2010) CONSUMO (m³) Janeiro 75124 Fevereiro 72533 Março 81182 Abril 77577 Maio 82657 Junho 88455 Julho 91160 Agosto 90794 Setembro 77971 Outubro 90102 68 6.6.2 Oferta Na Tabela 14 constam os valores médios mensais de precipitação, os volumes de água produzidos, calculados pela Equação 3, e o percentual de atendimento, considerando a demanda mensal de 83000 m³. Observa-se que a água da chuva pode contribuir com 0,86% a 2,72% da demanda, com média mensal de 1,67%. Estes valores em percentuais são relativamente baixos, devido principalmente a alta demanda de água da empresa. Tabela 14 - Quantidade da demanda que será atendida com a captação da água da chuva. Mês Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Média Precipitação (mm) 257,9 244,6 192,4 109,5 128,6 81,4 93,4 91,8 185,1 166,1 174,4 167,1 157,7 Atendimento Volume de água gerado (m³) (%) Casa de Máquinas Frigorífico 2,72 147,97 2114,11 2,58 140,33 2005,09 2,03 110,39 1577,18 1,16 62,82 897,62 1,36 73,78 1054,19 0,86 46,70 667,27 0,99 53,59 765,64 0,97 52,67 752,52 1,96 106,20 1517,34 1,75 95,30 1361,59 1,84 100,06 1429,63 1,76 95,87 1369,79 90,5 1292,7 1,67 6.7 Dimensionamento dos Componentes do Sistema 6.7.1 Calhas Na Tabela 15 constam o resumo dos cálculos de vazões máximas para o dimensionamento das calhas dos telhados da casa de máquinas, obtidas com as 69 Equação 2. Na Tabela 16 constam as dimensões das calhas obtidas com as equações 4 a 6. Tabela 15 - Dimensões das calhas para o telhado da casa de máquinas. Dados do telhado Calha Vazão máxima Comprimento (m) Largura (m) Área (m²) (L/min) (m³/s) 15,62 20,43 8,00 15,62 20,43 7,765 7,755 9,420 7,755 7,755 121,29 158,43 75,36 121,13 161,27 362,38 473,36 225,16 361,91 481,83 0,0060 0,0079 0,0038 0,0060 0,0080 C1 C2 C3 C4 C5 C = 0,90; i = 198,18 mm/h Tabela 16 - Dimensões das calhas para o telhado da casa de máquinas. Calha C1 C2 C3 C4 C5 b - (m) a -(m) 0,15 0,15 0,13 0,15 0,15 0,06 0,06 0,04 0,05 0,06 A - (m²) 0,009 0,009 0,0052 0,0075 0,009 P - (m) 0,27 0,27 0,21 0,25 0,27 RH (m) Q- (m³/s) 0,033 0,033 0,0247 0,030 0,033 0,0085 0,0085 0,0040 0,0066 0,0085 Diferença (%) 40,309 7,413 7,020 9,134 5,526 n = 0,011; I = 1% b = largura; a = altura; A = área; P = Perímetro; Rh = raio Hidráulico Q= vazão Como as calhas são comercializadas em chapas e suas dimensões variam de 20 cm a 60 cm de largura, conforme resultados da Tabela 15 serão necessárias chapas de 30 cm para todas as situações. 70 6.7.2 Condutores Verticais Na tabela 17 consta o dimensionamento dos condutores verticais do telhado da casa de máquinas, onde se observa que o diâmetro dos condutores variam de 100 a 150 mm. Tabela 17 - Dimensão dos condutores verticais do telhado da Casa de Máquinas. Condutor CV01 CV02 CV03 CV04 CV05 Vazão - (L/s) 6,03 7,89 3,75 6,03 8,03 Diâmetro (mm) 125 150 100 125 150 6.7.3 Condutores Horizontais Na Tabela 18 consta o resumo do dimensionamento dos condutores horizontais da casa de máquinas da Agrovêneto e na Tabela 19 do frigorífico. Tabela 18 - Condutores horizontais para a Casa de Máquinas. Vazão Diâmetro I – declividade n – Coeficiente Comprimento Condutor (l/min) (mm) (%) de rugosidade (m) CH1 362,1 125 0,5 0,011 20,43 CH2 835,7 150 1 0,011 15,29 CH3 225,3 100 1 0,011 15,62 CH4 587,4 125 2 0,011 20,43 CH4/dreno 1905,2 200 2 0,011 5,00 71 Tabela 19: Condutores horizontais para o Frigorífico. Condutor CH1 CH2 CH3 CH3/dreno Vazão (l/min) 1527,8 2390,0 1743,0 13062,1 Diâmetro (mm) 200 200 200 325 I – declividade n – Coeficiente Comprimento (%) de rugosidade (m) 1 0,011 46,83 2 0,011 62,89 1 0,011 21,42 4 0,011 20 6.7.4 Conexões As conexões serão feitas por meio de caixas de inspeção de concreto, com dimensão quadrática 0,6 x 0,6 metros. São necessárias sete para o prédio do frigorífico e quatro para o prédio da casa de máquinas. 6.7.5 Rede Drenagem Conforme Tabela 18 e Tabela 19, em casos de chuvas intensas, a rede de drenagem deverá estar preparada para receber uma vazão de, aproximadamente, 14967,3 L/min (0,249 m³/s), total que escoará dos prédios em questão. Sabendo que o atual tubo de drenagem é de material PVC, tem diâmetro de 300 mm e declividade de 4%, a vazão máxima obtida é de 0,246 m³/s. Observase assim que o dreno hoje existente atende no limite a vazão estimada porém em casos de chuvas com intensidade superior a adotada no projeto a vazão escoada pelo dreno será inferior a vazão coletada pelo sistema. Aplicando a Equação 7, obtém-se um diâmetro de 0,34m ou o tubo comercial de 350 mm de diâmetro. Assim recomenda-se acrescentar um dreno de no mínimo 150 mm, como segurança, podendo aumentar a vazão em até 0,040 m³/s. 72 6.7.6 Reservatório Considerando a capacidade do reservatório de 32000m³ e a demanda mensal de 83000 m³, verifica-se que são necessários volumes equivalentes a 2,6 açudes completos por mês para atender a demanda da empresa, ou o volume de um açude a cada 12 dias aproximadamente. Considerando a oferta do mês de maior pluviometria, com base nos dados de chuvas intensas, será possível obter em média 2262,08 m³ de água da chuva no mês. Este volume representa 7% do volume do reservatório, portanto sendo possível de se armazenar toda água da chuva captada neste reservatório. 6.8 Viabilidade do Sistema 6.8.1 Viabilidade Técnica O sistema mostrou-se viável sendo que a empresa já contava com uma estrutura apropriada para instalação, havendo necessidade de acréscimo de apenas alguns componentes. O fato de a empresa possuir um reservatório com alta capacidade volumétrica viabilizou ainda mais o sistema, pois foram dispensados investimentos em tal. Também abriu possibilidades para a utilização da água da chuva em atender os fins potáveis, já que a empresa possui um sistema de tratamento de água bastante avançado. A instalação de caixas coletoras entre os condutores se deu para facilitar a desobstrução e limpeza das canalizações em casos de acúmulo de sujeiras maiores. A exclusão dos outros prédios se deu devido à necessidade de bombas para levar as águas que escoariam deles até o açude, o que acarretaria em altos 73 investimentos, e como suas áreas não eram tão consideráveis optou-se por excluílos do estudo. No entanto, estes prédios já compõem uma estrutura com calhas e condutores verticais, havendo necessidade apenas dos condutores horizontais possibilitando uma futura inclusão destes no sistema. 6.8.2 Viabilidade Financeira Na Tabela 20 constam os valores de redução nos custos com o bombeamento e tratamento de água devido ao aproveitamento da água da chuva. Observa-se que é possível obter, em média, uma economia mensal de R$ 781,83. Tabela 20 - Gastos mínimos que serão evitados com a implantação do sistema. Tratamento na ETE Bombeamento Custo (R$/m³) 1,05 0,045 Oferta (m³) 714 714 Total (R$) 749,7 32,13 Economia (R$/mês) 781,83 Na Tabela 21 constam os valores dos custos de cada componente necessário para a implantação do sistema de captação de água da chuva na indústria Agrovêneto. O custo total foi estimado com R$ 7757,21, sendo que os condutores horizontais foram componentes com maior custo. 74 Tabela 21 - Componentes para implantação do sistema, e suas respectivas quantidades e preços. Componente Dimensão (mm) Material Quantidade (m) Valor (R$) Custo Total (R$) Chapas de calha 300 Alumínio 80,1 7,5 600,75 100 125 150 100 125 150 200 325 150 600x600 PVC PVC PVC PVC PVC PVC PVC PVC PVC Concreto 6,5 13 13 15,62 40,86 15,29 136,14 20 50 11 5,4 10,2 14,2 5,4 10,2 14,2 22,3 40,7 14,2 66 35,1 132,6 184,6 84,348 416,772 217,118 3035,922 814 710 726 800 Condutor Vertical Condutor Horizontal Dreno Conexões Mão de Obra TOTAL 7757,21 Considerando o investimento inicial para a instalação do sistema nos prédios da casa de máquinas e frigorífico será de, aproximadamente, R$ 7757,21 e a economia mensal de R$ 781,83, pode-se observar que o retorno do investimento se dá em praticamente 10 meses, sem considerar os custos financeiros. Essa análise demonstra que a captação da chuva, além de ser uma prática ambientalmente recomendada, possui viabilidade técnica e econômica. Ressalta-se novamente que o retorno relativamente curto do investimento se deve em grande parte ao fato de que já existia parte das calhas e condutores no frigorífico e, principalmente, pela não necessidade de construir o sistema de armazenamento. Diversos trabalhos, (FONTANELA, 2010; PEREIRA, 2003 e BORGES, 2009) mostraram que o reservatório é o elemento de maior custo no sistema de aproveitamento de água da chuva, tornando na maioria das vezes o sistema inviável. 75 7. CONCLUSÃO Este estudo mostra que a empresa em questão demandan uma grande quantidade de água, o que torna o aproveitamento da água pluvial uma alternativa viável nos pontos de vista econômico, técnico e, também, em relação às questões ambientais. Primeiramente, este estudo mostrou que a qualidade da água da chuva foi considerada apropriada para se utilizar em fins potáveis, já que sua qualidade, conforme Resolução CONAMA nº357/2005, enquadrou-se como efluente Classe 2, a qual pode ser utilizada para fins potáveis após tratamento convencional ou avançado. A quantidade da oferta de água proveniente dos prédios estudados atenderá 3% da demanda. Embora pareça uma quantidade baixa, ela é significativa já que o consumo de água neste processo industrial é bastante alto. Porém este estudo considerou os investimentos e ofertas da água de chuva somente de dois prédios, o que não exclui a possibilidade de implantação em todos os outros, para tanto os investimentos irão aumentar de vido à necessidade de bombas. Em termos econômicos, a implantação do sistema sugerido, considerando suas perdas, representa uma economia mínima de R$ 9381,96 por ano, tendo como tempo de amortização do investimento o período de 10 meses. A partir deste momento a empresa terá um lucro, mínimo, mensal de R$ 781,83. A adoção de componentes já existentes na empresa poupou investimentos, como foi o caso da utilização do açude para armazenar a água da chuva, a escolha dos prédios em cotas que possibilitam o bombeamento da água da chuva somente por gravidade e a utilização do atual método de tratamento de água. O estudo realizado propõe a adoção do sistema, também, como uma forma de contribuir na redução do consumo dos recursos hídricos, diminuindo a extração de água e desta forma dando tempo para que os mananciais retornem seus regimes de vazão de água. 76 Portanto, observou-se que a aplicação deste sistema na empresa, além de resultar em um investimento com rápido retorno financeiro, também terá grande relevância ambiental em relação aos recursos hídricos, sendo que o esgotamento de suas águas será prevenido. Outro fato relevante condiz com a imagem que a empresa terá diante a comunidade local, mostrando que as questões ambientais são relevantes para a empresa. 77 REFERÊNCIAS A água está atualmente. CIÊNCIA HOJE. Portugal, n.44283, jul., 2010. Disponível em: <http://www.cienciahoje.pt/index.php?oid=44283&op=all> Acessado em: 14 de setembro de 2010. AGROVÊNETO. Averbação Florestal. Nova Veneza: 2003. 215 p. ASSIS, Alexandre Camanho de; LORENTZ, Juliana Ferreira. Os Dez Anos da Política Nacional de Recursos Hídricos: Esperando em Vão. GTÁGUAS. local, ago. 2009. Disponível em: <http://revistadasaguas.pgr.mpf.gov.br/edicoes-darevista/revista5/materias/dez_anos/> Acesso em: 30 out. 2010. ABNT - ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 10844: Instalações prediais de águas pluviais. Rio de Janeiro, 1989. ______. NBR 15527: Água de Chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis: requisitos. Rio de Janeiro, 2007. BACK, Álvaro José. 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Rio de Janeiro: Interciência, 2005. 219 p. 83 APÊNDICE A - Médias Pluviométricas para a Cidade de Nova Veneza 338,6 357,7 1988 1989 279,5 161,3 54,8 149,6 155,7 282,4 2001 2002 2003 2004 2005 2006 192,4 109,5 128,6 81,4 29 93,4 54,7 91,8 185,1 428,8 166,1 89,5 174,4 179,6 244,6 28,9 257,9 67,3 165 416,2 146,7 175,9 122,7 223,7 220,8 MÉDIA MENSAL 259,7 177 131,5 328 86,4 177,4 240,7 174,6 168,7 140,5 320,7 265,1 18,4 27,2 231,6 252,6 104,5 86,1 263,9 209,7 149,4 359,2 174,7 191,3 12,3 88,5 66,3 251 65,9 24,2 170,5 448,9 84,8 95,5 285,4 31,5 26 82,1 35,4 202,9 58,4 182,9 188,4 97,6 134,3 110 9,4 82 169,3 252,6 2009 196,2 80,4 68,2 74,9 57,5 71,7 164,8 46,1 45,9 124,5 242,9 289,1 275,2 40,1 318 118,8 116,4 201,8 188,7 137,4 335,2 128,6 69,9 56,1 95,1 93,4 173,4 50,5 54,6 173,1 101,8 184,4 158 30,6 12,8 23,5 60,4 71,7 14,5 192,3 199,8 88,3 147,9 272 28,9 122,1 132,3 82,7 68,5 59,4 59 153,7 127,7 41,9 48,2 27,2 212,1 2008 99,6 94,1 244,3 164,9 122 138,2 55,1 70,3 73,6 37 137,2 110,1 117,2 0 49,1 76,9 111,1 167,3 304,7 197,6 220,2 169,5 260,9 172 71,2 87,5 103,1 81 35,2 501 121,8 65,2 258,3 2007 190,2 258,2 119,8 158,6 199,1 587,5 196,9 324,7 2000 407,7 188,3 220,5 1999 205,7 232,1 73,2 1998 459,1 99,2 421,8 256 1997 259,3 388,1 1996 113,4 0 201,3 61,9 191 225,8 165,8 162,6 134,4 107,5 164,4 1995 301,1 1993 146,5 55,5 189,9 162 157,6 25,7 159,4 1992 116,8 204,2 69,4 329,9 1994 68,7 1991 1990 338,2 1987 167,1 173,2 184,4 106,2 183,1 219,2 149 179,7 181,1 203,5 140,1 116,7 165,4 73,7 274 16,2 231,4 119 196,1 APÊNDICE B – Planta Altimétrica 86 APÊNDICE C – Planta Casa de Máquinas 86 87 APÊNDICE D – Planta Frigorífico 87 88 ANEXO A - Laudos das Análises de Água 88 89 89 90 90 91 91 92 92 93 93 94 94 95 95