apresentação Este livro é dedicado aos professores de Língua Portuguesa interessados na variedade brasileira, aos alunos de Letras e Pedagogia, aos alunos do ensino médio e a todos os brasileiros que queiram refletir sobre a língua que falamos. Afinal, nossa língua é a oitava mais falada no mundo. Sobre ela assenta a nossa identidade como povo. Três eixos articulam a obra: a observância dos Parâmetros Curriculares Nacionais, Língua Portuguesa, elaborados em 2000, a incorporação das pesquisas desenvolvidas nos últimos trinta anos sobre o português brasileiro, agora trazidas à sala de aula, e a convicção de que o ensino da língua portuguesa é muito mais uma reflexão sobre ela do que outra coisa. Os Parâmetros Curriculares apresentam uma orientação básica: O caráter sociointeracionista da linguagem verbal aponta para uma opção metodológica de verificação do saber linguístico do aluno, como ponto de partida para a decisão daquilo que será desenvolvido, tendo como referência o valor da linguagem nas diferentes esferas sociais. (grifos nossos) E mais adiante: O trabalho do professor centra-se no objetivo de desenvolvimento e sistematização da linguagem interiorizada pelo aluno, incentivando a verbalização da mesma e o domínio de outras utilizadas em diferentes esferas sociais. (grifos nossos) 14 Pequena gramática do português brasileiro Essas afirmações resolvem o que poderia parecer um paradoxo: como vamos ensinar uma língua que os alunos já conhecem bem, pelo menos na modalidade falada? O fato é que não vamos ensinar essa língua do mesmo modo como ensinaríamos uma língua estrangeira. O que faremos é desvendar o conhecimento que temos sobre ela, conhecimento que está guardado em nossas mentes. O trabalho do professor de Português é caminhar junto com seus alunos nesse percurso de descobertas. É evidente que podemos e devemos ensinar a modalidade escrita, e também como se deve manejar o idioma em sua modalidade culta, padrão. Essa é a língua do Estado, de que devemos nos apropriar, pois ela promove socialmente seus usuários. Não deixamos isso de lado, pelo contrário: estamos convencidos de que a reflexão sobre a língua abre um caminho de maior eficiência nessa direção. Ao mesmo tempo que expressamos nosso conhecimento sobre o português brasileiro, reconhecemo-nos como falantes do português brasileiro. Esta não é uma gramática tradicional, de uma língua supostamente engessada. Não oferecemos aqui, como é usual nos manuais de língua portuguesa, respostas a perguntas que os alunos não formularam. No lugar disso, invertemos o jogo, começando pela formulação de perguntas, para as quais juntos buscaremos as respostas. O tratamento da língua materna tem esse objetivo maior entre seus falantes: provocar a indagação, desenvolver o espírito crítico que se espera de cidadãos de uma democracia. Para atingir esses objetivos, começamos por mostrar o que se entende por uma língua natural, formulando no capítulo 1 uma teoria sobre o português brasileiro. Com base nessa teoria, partimos para a aventura de identificar e explicar a estrutura de nossa língua, desenvolvendo um percurso que parte da organização fonológica e morfológica das palavras, no capítulo 2, passa pelo exame de suas classes, nos capítulos 3 a 7, desembocando na estrutura da sentença e do texto, nos capítulos 8 e 9. Fomos dos domínios linguísticos menores para os domínios maiores. Para concluir, repassamos questões relevantes sobre a formação histórica do português brasileiro. Se quiserem, professores e alunos podem inverter esse percurso, começando pelo texto, passando pela sentença, depois pelas classes de palavras, chegando finalmente à sua estrutura fonológica e morfológica. Nesse caso, eles terão caminhado dos domínios linguísticos maiores para os domínios menores. Um conjunto de informações cruzadas, espalhadas pelos capítulos, facilitará a caminhada dos estudantes, qualquer que seja o percurso escolhido. Essa estratégia deu a esta gramática uma caracterização toda especial. Em lugar de apresentar a língua como uma espécie de “prato feito”, em que tudo Apresentação 15 é previsível, sem graça, optamos por raciocinar, pensar, analisar e revelar o conhecimento que temos sobre a nossa língua. Perguntamos a nós mesmos e aos nossos leitores como nossa mente tem elaborado continuamente o português brasileiro. Uma indagação dessas não tem nada de trivial. Trocamos as chatices do dia a dia pelo prazer do desafio e da descoberta, estabelecendo com professores e alunos um diálogo continuado, em que perguntas são formuladas, respostas são buscadas, as quais inevitavelmente nos levarão a novas perguntas, pois é assim que se faz ciência. O objetivo desse comportamento é muito claro: procuramos desenvolver o raciocínio científico em nossos alunos, arrastando-os para o prazer da descoberta. Todos os capítulos são providos de propostas de atividade, organizadas de forma a fixar os achados, ampliando-os. Afinal, a matéria-prima para essas indagações é barata e abundante, pois todos nós trazemos o português brasileiro em nossas cabeças. No final de cada capítulo, são indicados trabalhos que servirão ao aprofundamento dos temas versados, ao sabor dos interesses de cada classe. Sejam bem-vindos! Ataliba T. de Castilho Vanda Maria Elias Este livro tem sua origem na Nova gramática do português brasileiro, em que foram estabelecidas as bases gramaticais da língua falada em nosso país por quase 200 milhões de cidadãos. Já esta versão não tem caráter acadêmico, como necessariamente a outra possui, e ganhou um viés operacional, prático, que pode ser verificado pela vastidão de exemplos apresentados, assim como pelas sugestões de atividades apresentadas ao longo de cada capítulo. A configuração final da obra não é fruto apenas do trabalho dos autores, mas de todo um círculo de leitores críticos, professores universitários e do ensino médio, assim como de nossos editores. Embora a responsabilidade final do livro seja nossa, as sugestões, observações e críticas feitas no decorrer do ano que levamos para redigir esta obra foram fundamentais para torná-la a gramática que gostaríamos de ter conhecido, quando estudantes, e depois, como professores. Os autores