UMA LÍNGUA EM MILHÕES DE VOZES:
A CONSTRUÇÃO DE UM REPOSITORIO ACESSÍVEL DE
VARIANTES GEOGRÁFICAS DO ESPANHOL
Angelise Fagundes da Silva, Marcus Vinicius Liessem Fontana
Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS)
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
[email protected] ,
[email protected]
Abstract: This paper outlines the steps of preparing the accessible institutional
repository from the Federal University of Santa Maria, VOCES (Repository of
Geographical Variants of Spanish), in addition to cover the next steps of the
project, which aims to gather samples of variants of all countries that have
Spanish as official language. VOCES is a repository that was born from the
need to create conditions for the awakening of the phonetic conscience of
students of Spanish course in Distance Education for people with visual
impairment (PVI), in Além da Visão Project (UFSM), in order to empower
learners for the improvement of their pronunciation in Spanish.
Resumo: Este artigo aponta as etapas de elaboração do repositório institucional
acessível da Universidade Federal de Santa Maria, o VOCES (Repositório de
Variantes Geográficas do Espanhol), além de abarcar os próximos passos do
projeto, que pretende reunir amostras de variantes de todos os países que têm o
espanhol como língua oficial. O VOCES é um repositório que nasceu da
necessidade de criar condições para o despertar da consciência fonética dos
alunos do Curso de Espanhol EaD para Pessoas com Deficiência Visual
(PDVs), do projeto Além da Visão (UFSM), a fim de dar condições aos
aprendizes para a melhora de suas pronúncias em língua espanhola.
1. Introdução
Ver o mundo. Enxergar além das aparências. Ampliar horizontes... Essas são expressões
tão usuais do nosso cotidiano que muitas vezes sequer nos damos conta de que estão
todas intimamente ligadas ao sentido da visão, o precioso sentido que nos alimenta com
imagens, cores, movimento. Por ser tão simples e natural para nós, pessoas que
enxergam, raramente nos questionamos sobre as possibilidades da pessoa cega. Como
ela “vê” o mundo? O que são aparências para ela? Alguém cego consegue ampliar
horizontes? Em que sentido?
O grupo de pesquisas Além da Visão, registrado na Universidade Federal de
Santa Maria, desenvolve investigações científicas e atividades tendentes a abrir portas
para que pessoas cegas tenham melhores condições de inserção social e profissional. Os
cursos de braile nas cidades em que há polos de Educação a Distância da universidade,
as oficinas de audiodescriação (NUNES, FONTANA e VANZIN, 2011) e de
sensibilização para a cegueira são algumas das iniciativas que buscam fazer a
comunidade em geral entender as peculiaridades da cegueira e das pessoas cegas. Muito
especialmente, o Curso de Língua Espanhola EaD Além da Visão tem sido uma meta
perseguida pelo grupo desde 2010.
Do curso, o grupo já conta com muito material preparado, em texto e áudio, e
pretende iniciar uma turma piloto em breve. Concomitantemente à elaboração do
material, algumas necessidades foram surgindo, abrindo-se novas trilhas para a
inclusão. Um desses casos é a Audioteca Virtual, com obras de grandes autores lidas e
gravadas em formato MP3 para que pessoas cegas de todo o mundo tenham acesso
online (FONTANA, 2010). Outro é o Repositório VOCES. Uma página que reúne
gravações de nativos da língua espanhola de diferentes países, criada para que os futuros
aprendizes cegos de espanhol conheçam as diferentes variantes geográficas da língua
estrangeira estudada. Este acesso deve possibilitar um despertar para a consciência
fonética dos alunos do curso, melhorando com isso suas pronuncias em língua
espanhola, à medida que vão avançando em seus estudos (MORENO, 2000).
Neste artigo, vamos nos deter a tratar deste braço específico das pesquisas do
Além da Visão, o Repositório VOCES. O primeiro aspecto a tratar quando se discute
um repositório que deve ser acessível é justamente a acessibilidade. Frente a tantos
avanços de ordem tecnológica, metodológica, pedagógica, ainda hoje não conseguimos
encontrar uma real inserção por parte de pessoas com deficiência visual em âmbito
comunicacional, isto é, mesmo com estes avanços ainda encontramos nas instituições de
ensino, por exemplo, barreiras de acesso enfrentadas por estas pessoas quanto a
materiais didáticos de toda ordem. Fazer, portanto, um repositório levando em conta a
diminuição ou apagamento destas barreiras, mesmo que direcionado a uma língua em
especial, no caso, o espanhol, foi uma das considerações iniciais para a construção do
objetivo do projeto (CULAU e FONTANA, 2012) .
Além destas considerações postas em pauta, consideramos, ainda, a importância
deste repositório para os Curso de Letras Espanhol EaD e Presencial da Universidade
Federal de Santa Maria. Tanto os professores quanto os alunos poderiam, com a criação
deste repositório institucional, beneficiar-se em suas práticas docentes e acadêmicas.
Afora isso, foi considerado, também, que, abarcando todas estas possibilidades de
acesso livre, o VOCES seria, de fato, um repositório acessível, cumprindo assim com o
objetivo para ele proposto.
Afinal, como aponta a redação do documento sob o número 025885, registrado
no Gabinete de Projetos do Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa
Maria, o objetivo geral do VOCES é elaborar um repositório online totalmente acessível
a pessoas com deficiência visual, reunindo gravações em formato de áudio com
informantes do maior número possível de países de língua espanhola, a fim de que seja
possível reconhecer as variações diatópicas próprias dessa língua.
Diante do objetivo geral do projeto, parece-nos significativo, então, neste
trabalho, colocar como foram as etapas de elaboração do VOCES, bem como os
resultados que obtivemos até o momento. Além disto, apontaremos, também, os
próximos passos a serem executados no desenvolvimento do projeto.
2. As etapas de elaboração
A elaboração do Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol, o VOCES, seguiu,
basicamente, seis etapas. Estas foram: 1ª) elaboração da ficha do informante; 2ª)
elaboração da página web acessível; 3º) busca por informantes; 4ª) recebimento e
arquivamento dos áudios; 5º) edição dos áudios; 6º) publicação dos áudios.
A primeira destas etapas, restrita as atividades do grupo, foi a elaboração da
ficha do informante e a criação da página do repositório. Sob a orientação dos
professores Vanessa Ribas Fialho e Marcus Fontana, a ficha foi criada levando em conta
dados que pudessem marcar a origem da variante e o registro das possíveis influências
do informante em sua língua materna. Estas informações possibilitariam ao aluno,
aprendiz de espanhol, situar o local da variante em estudo. Afora estas questões,
pensou-se, também, no futuro da pesquisa, pois os dados presentes nesta ficha
garantiriam outras investigações acerca do repositório.
Por isso, a ficha considerou, fundamentalmente, os dados gerais do informante:
nome completo, sexo, nome dos pais, estado civil, data de nascimento, país, estado e
cidade de nascimento, além do país, estado e cidade de nascimento dos pais, do cônjuge,
caso o informante fosse casado. Foi considerado nesta ficha, também, dados que
pudessem apontar qualquer contato do informante com outra língua estrangeira ou
variante de seu idioma materno. Por isso, há presente, na ficha, perguntas sobre viagens
para outros países, tempo de permanência fora do país de origem, recorrência de
viagens, etc..
Afora isso, há, na ficha, uma declaração de autorização para o uso do áudio
como parte constituinte do Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol. Nesta,
além do nome completo do informante que autoriza o uso do áudio, há o número de seu
documento nacional de identificação, bem como a data e a assinatura do documento.
Estes cuidados são tomados como regra nas ações do grupo Além da Visão.
Desde a elaboração da Audioteca Virtual Hispânica, que é uma biblioteca literária de
áudios acessível para pessoas com deficiência visual, temos o cuidado de garantir não só
a autoria dos áudios, mas também a transparência do nosso trabalho. Afinal de contas, o
grupo pertence a umas das instituições mais respeitadas do país e tem um objetivo
muito significativo na esfera educacional, na esfera social como um todo: construir
espaços acessíveis para o ensino e a aprendizagem de Espanhol como Língua
Estrangeira para pessoas com deficiência visual.
É importante mencionar, também, que adjunto a ficha do informante há um
tutorial descritivo que orienta a elaboração e a gravação dos áudios. Neste, há a
indicação de uma ordem possível, jamais fechada, para o desenvolvimento da atividade.
Esta ordem segue as seguintes etapas:
1º) Escolher um programa de computador ou um aparelho que grave áudio em
mp3, como o Audacity , GTS Studio Recorder, celular, iPod, etc..
2º) Gravar a leitura do texto indicado;
3º) Gravar um áudio de expressão livre, algo de interessante sobre o país de
origem, sobre a cultura, gastronomia, tradições, etc.;
4º) Assinar a autorização de uso do áudio para a elaboração do Repositório de
Variantes Geográficas do Espanhol, da Universidade Federal de Santa Maria;
5º) Enviar a autorização e os áudios para o email de Angelise Fagundes,
professora responsável pela organização dos áudios, através do email
[email protected] .
Vale destacar, em meio a estas orientações, o texto1 escrito para o registro das
variantes. De autoria do professor Marcus Fontana, o texto busca provocar ao máximo
os fenômenos mais evidentes das variações do espanhol, como o “yeísmo”, a distinção
entre “s” e “z” (seseo / ceceo), a pronunciação das fricativas “j-g”, o betacismo (“b-v”),
a pronunciação do “x”, além de aspiração e pronunciação do “s” e de outros fenômenos
linguísticos que podem ser percebidos através dos áudios.
A partir da elaboração da ficha do informante, com todos os dados que achamos
pertinentes ao registro, foi o momento da criação do espaço online que serviria para
hospedar o repositório digital de variantes do espanhol. Esta etapa do processo ficou sob
a responsabilidade do professor Marcus Fontana. Professor da Universidade Federal de
Santa Maria, com uma longa caminhada de pesquisa em meio às tecnologias e à
educação, conhecedor da linguagem html e programador, coube a ele, como coautor do
projeto, requerer junto ao CPD da UFSM (Centro de Processamento de Dados) a
hospedagem do repositório no servidor da universidade. Além disso, coube também ao
professor Marcus Fontana elaborar a página do VOCES, seguindo as normas
1
TEXTO PARA LECTURA: Ayer por la tarde llovió muchísimo en la Isla de Mallorca. Yo estaba
caminando por la playa y tuve que llamar un taxi para volver rápidamente al hotel. Por suerte, cuando la
noche llegó, la lluvia paró y yo pude caminar por las calles del centro de la ciudad de Palma, la capital.
Por fin, llegué a la casa de una amiga que estaba dando una fiesta, donde conocí a mucha gente
interesante: un boxeador extravagante de Extremadura, experto en laxantes; un cazador excéntrico de
Zaragoza, gran campeón de ajedrez; un científico escocés con centenas de publicaciones sobre la vida de
las cebras; una valiente aviadora venezolana que viaja por varios lugares raros; un viejo caballero
uruguayo que domó a los más famosos caballos de ayer; dos hermanos budistas que dicen usar poderes
espirituales para encontrar tesoros escondidos… en fin, una gente de la que jamás me olvidaré. Hoy
vuelvo a mi casa. Llevo muchos recuerdos, pero la nostalgia no me deja estar aquí por más tiempo.
internacionais de acessibilidade, normas estas já utilizadas para a composição da página
do projeto Além da Visão.
Vencidas
estas
etapas,
coube-nos
ir
atrás
dos
informantes.
Depois de buscá-los, coube-nos organizar o recebimento e o arquivamento das
respostas, além da edição dos áudios recebidos e publicação destes na web.
O processo de busca de áudios foi bastante interessante. Como no grupo Além
da Visão há participantes que realizaram intercâmbio através do Convênio AUGM
(Asociación de Universidades Grupo Montevideo) – UFSM, estes têm muitos
conhecidos nativos em língua espanhola. Portanto, recorrer a estes conhecidos foi o
bastante para fazer deles os primeiros informantes no projeto VOCES.
Neste sentido, coube às Redes Sociais o papel de veículo de mediação entre a
investigação, a busca pelos áudios representativos de cada variante geográfica e a
efetivação da ação com a gravação e arquivamento destas variantes. O Facebook, em
especial, foi o canal de comunicação entre os participantes do grupo e informantes.
Através desta Rede Social foi possível conseguir a maioria das vinte e duas amostras
linguísticas que já estão online na página do repositório.
Outro elemento online de fundamental importância para a organização e
execução do projeto foi o Dropbox. Este software armazena, em nuvem, os arquivos, ou
seja, os arquivos são colocados na internet, online, evitando o preenchimento de espaço
no computador e, além disso, são acessíveis na medida em que, em nuvem, podem ser
acessados e compartilhados, através da internet, de qualquer lugar e com qualquer
grupo. O arquivamento dos áudios e fichas de informante no Dropbox foi a primeira
etapa de organização do projeto e, automaticamente, seu “backup”.
A edição dos áudios, última etapa antes da postagem no endereço eletrônico do
VOCES, passou por pelo menos quatro fases. A primeira, da chegada do áudio, foi a
verificação da qualidade deste. Como são arquivos destinados a alunos com deficiência
visual, estes áudios não podem ter muito ruído, pois isto dificultaria a apreensão dos
conteúdos por parte destes aprendizes. Após a verificação dos áudios, há a inclusão de
uma vinheta. A vinheta marca o áudio como a capa e a contracapa identificam o início e
o final de um livro. A última etapa para a elaboração do repositório é a postagem destas
amostras linguísticas na página do projeto. Esta, de suma importância, é realizada e
verificada pelos professores da instituição. Isso acontece como forma de dar a segurança
necessária a um repositório institucional da importância do VOCES.
3. A página
A página do projeto foi criada seguindo critérios básicos de acessibilidade para a web.
Isto foi levado em conta a fim de minimizar as barreiras encontradas, de modo geral,
pelos usuários cegos ou com baixa visual na utilização da internet e seus respectivos
recursos. Portanto, é significativo considerar que, segundo o Decreto-lei 5.296, de 2 de
dezembro de 2004, que regulamenta a lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que
estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade,
acessibilidade e barreiras são:
I - acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total
ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das
edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de
comunicação e informação, por pessoa portadora2 de deficiência ou com
mobilidade reduzida;
II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a
liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as
pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação, classificadas em:
a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso
público;
b) barreiras nas edificações: as existentes no entorno e interior das
edificações de uso público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso
comum
nas
edificações
de
uso
privado
multifamiliar;
c) barreiras nos transportes: as existentes nos serviços de transportes; e
d) barreiras nas comunicações e informações: qualquer entrave ou obstáculo
que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens
por intermédio dos dispositivos, meios ou sistemas de comunicação, sejam ou
não de massa, bem como aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso à
informação. (BRASIL, 2000)
Quando foi elaborada a página do projeto VOCES, foi considerada,
fundamentalmente, esta questão das barreiras e da acessibilidade que são, por lei, direito
dos usuários, neste caso, alunos aprendizes de Espanhol como língua Estrangeira. Por
isso, a página foi planejada e executava com o intuito de minimizar ao máximo as
barreiras em torno da comunicação, que pudessem impedir, de alguma forma, o acesso
dos alunos ao material organizado em repositório. Imagens, então, não compõem o
nosso repositório, pois estas, a não ser com o auxílio de audiodescrição, não são
acessíveis a pessoas com deficiência visual.
Se por um lado, o avanço da tecnologia nos possibilita, hoje, dar mais acesso a
este público, por outro, o próprio progresso neste campo gerou barreiras
comunicacionais. Com linguagens de computação cada vez mais sofisticadas, é possível
criar webs mais rebuscadas, aplicativos de toda ordem e com forte apelo visual. Frente a
este universo com suportes cada vez mais tecnológicos e interativos, com frames,
vídeos sem descrição, tabelas, gráficos e imagens, etc., as pessoas com deficiência
visual, que necessitam de leitores de tela e sintetizadores de voz, não conseguem ter
acesso a estes recursos. É a acessibilidade inacessível, redundância necessária para a
compreensão do fato.
2
Esta nomenclatura já está desatualizada e aqui é utilizada somente por tratar-se de um texto Lei.
A página do VOCES, assim, buscou, dentro de seu planejamento, criar o acesso
a todas as pessoas – PDVs ou videntes. Seguindo, também, as orientações do Manual de
Acessibilidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul3, o professor
Marcus Fontana elegeu um modelo de página acessível (Figura 1), modelo este já
utilizado para a página do Projeto Além da Visão, ao qual o VOCES está vinculado.
Figura 1. Modelo 7
A partir deste modelo, a página passou pelas adaptações necessárias para tornarse o repositório que pretendíamos para o projeto. Escolha de letras, fontes, etc., além da
criação de uma logomarca para o projeto, levando em conta seu caráter simples e direto,
sem criar barreiras para o público ao qual ele, primeiramente, foi destinado.
No sítio do projeto (figura 2), encontramos três links principais na página de
abertura: variação, variantes e equipe e publicações. O ícone “Variação”, ainda em
elaboração, trará explicações de ordem teórica sobre o tema, em especial no que se
refere à língua espanhola. Já o ícone “Equipe e publicações” abarca a equipe que tem se
dedicado ao projeto, bem como publicações feitas a partir desta pesquisa. O ícone
“Variantes”, por fim, reúne as amostras linguísticas com variantes da língua espanhola.
Estas amostras estão divididas por países e, abaixo de cada link de país, o nome da
cidade e região a que pertence o informante, com seu respectivo nome. Para cada
informante, há dois áudios. O primeiro deles é a leitura de um texto, texto este já
referido neste trabalho. O outro áudio trata-se de uma produção livre, em fala natural,
em geral sobre algum aspecto interessante, do ponto de vista do participante, a respeito
de seu país.
3
Manual disponível em http://www.inf.pucrs.br/~infee/manual/, acesso em 1 de julho de 2013.
Figura 2. Páginas do VOCES
4. Das amostras
O VOCES tem uma projeção de cinco anos para a realização do objetivo do projeto, que
é reunir todas as variantes geográficas da língua espanhola em um repositório acessível
para pessoas com deficiência visual. No entanto, no primeiro semestre de sua criação, já
reúne vinte e duas amostras significativas, com representações da Argentina, Chile,
Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Espanha, México, Paraguai, Uruguai e
Venezuela.
Das amostras argentinas, é possível contemplar ao menos três regiões. Além da
capital Buenos Aires, há áudios da província de Entre Rios e Santa Fé. As amostras
chilenas também abarcam variantes da capital e do interior, mais precisamente, de
Santiago e Valvídia, assim como as mexicanas, que contém amostras da capital, México
distrito Federal, bem como de Aguascalientes, Salamanca, Monterrey e Hermosillo. Nas
amostras do Uruguai também encontramos registro da capital, Montevidéu, e do
interior, Artigas.
Já com os informantes da Venezuela e Paraguai, até o momento, conseguimos
amostras apenas das respectivas capitais. Assim como com informantes da Colômbia,
Costa Rica, El Salvador e Equador, apenas amostras representativas de cidades do
interior.
É interessante observarmos em meio a estes áudios, os referentes à Espanha. Há
duas amostras e nenhuma delas é da capital do país. Uma delas é da província de
Valencia, cidade de La Vall d'Uixó, e a outra é da Galícia, cidade de Lugo. Esta última
amostra, em especial, conta, também, com registros em galego, o que aponta para as
influencias que uma língua pode abarcar mesmo dentro de seu território.
O galego espanhol é falado na região da Galícia, sendo esta uma segunda língua
falada especificamente nesta região espanhola. Segundo a Real Academia Galega4, o
galego é uma língua oficial, própria da Galícia e de zonas limítrofes do país, e, devido a
sua importância no panorama local, o Parlamento da Galícia aprovou, em 1983, a lei
que de Normatização Linguística do Galego.
Dessa forma, podemos mensurar a importância do projeto VOCES, que neste
primeiro ano de atividades já reúne amostras tão significativas. Podemos, ainda, refletir
sobre quanto os recursos de informática podem ser utilizados como alternativas aos
recursos usados no cotidiano escolar - imerso em cadernos, livros, lápis, borracha, e
proporcionar aos alunos “acesso facilitado pela configuração de hardwares e softwares,
além de recursos de tecnologia assistiva” (MELO, 2010, p. 7). Podemos, por fim,
refletir sobre o ensino de espanhol para pessoas com deficiência visual e o acesso que é
proporcionado a estas pessoas tanto em âmbito arquitetônico como em âmbito
comunicacional.
Neste sentido, O VOCES é um projeto pioneiro, pois além de reunir variantes
geográficas da língua espanhola que são de interesse de todos aqueles que estudam ou
investigam academicamente a língua, possibilita àqueles que ao buscar aprimorar seus
conhecimentos com o estudo do Espanhol, não têm, na grande maioria das vezes,
condições de irem muito além, pois enfrentam barreiras de toda ordem, em especial no
que se refere a adaptação de livros e acesso a materiais didáticos variados. Afora isso, o
VOCES possibilita o apagamento da fronteira entre acesso para videntes e acesso para
não videntes, pois constrói um repositório que pode ser utilizados por todo aquele que
quer conhecer, investigar e aprofundar seu estudo acerca das Variantes Geográficas da
Língua Espanhola.
5. Considerações Finais
É significativo apontar, por fim, as próximas ações do projeto VOCES, visto que temos
como objetivo maior elencar amostras dos vinte e um países que têm a língua espanhola
como idioma oficial. Portanto, para alcançar este intento, precisamos, ainda, conseguir
informantes dos seguintes países: Bolívia, Cuba, Guatemala, Guiné Equatorial,
Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico e República Dominicana. A fim de
obter este objetivo, dividimos nossas tarefas e cada colaborador do projeto ficou
responsável por um determinado número de amostras. O processo para a obtenção
destas segue sendo o de buscas através das Redes Sociais, bem como através de contato
por meio de emails com universidades destes países.
Outro passo importante será a interinstitucionalização do VOCES. Com a
inserção da professora Angelise Fagundes no quadro efetivo da Universidade Federal da
4
Real Academia Galega, disponível em http://www.realacademiagalega.org/, acesso em 1 de julho de
2013.
Fronteira Sul (Campus Cerro Largo – RS), pretende-se que esta instituição também seja
parceira na elaboração e ampliação das atividades que giram em torno da acessibilidade
e do ensino de espanhol para pessoas com deficiência visual.
Diante do exposto, é fundamental apontar, também, sobre o importante trabalho
social desenvolvido pelo grupo de pesquisa Além da Visão, trabalho ao qual o
Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol, o VOCES, está vinculado. A
idealização e o trabalho desenvolvido pelo projeto são pioneiros no país e proporcionam
às pessoas com deficiência visual uma possibilidade muito significativa de apagar
barreiras espaciais e comunicacionais, sobretudo proporcionando a estas pessoas a
autonomia na busca pela aprendizagem de espanhol como língua estrangeira e
estimulando-as na ampliação de seus horizontes.
6. Referência Bibliográfica
BRASIL (2013) “Decreto-lei 5.296”, de 2 de dezembro de 2004, que regulamenta a lei
10.098,
de
19
de
dezembro
de
2000,
http://www.acessobrasil.org.br/index.php?itemid=43, julho.
CULAU, J. I.; FONTANA, Marcus Vinícius Liessem. Revelando barreiras invisíveis na
UFSM: o papel das Tecnologias Assistivas no auxílio à acessibilidade de pessoas com
deficiência visual. In: XII Seminário Internacional em Letras - Língua e literatura na
(pós-)modernidade, Santa Maria, 2012. Seminário Internacional em Letras Unifra.
Santa Maria: Unifra, 2012. v. 2.
FONTANA, Marcus Vinícius Liessem. Mais que apenas ver: a leitura on-line em língua
espanhola por deficientes visuais. Signum: Estudos Linguísticos, Londrina, n. 13/1, p.
161-179, jul. 2010.
MELO, Amanda Meincke. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar :
livro acessível e informática acessível / Amanda Meincke Melo, Deise Tallarico Pupo. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial ; [Fortaleza] :
Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 8. (Coleção A Educação Especial na
Perspectiva da Inclusão Escolar)
MORENO, Francisco. Qué español enseñar. Madrid: Arco Libros, 2000.
NUNES, Elton Luiz Vergara; FONTANA, Marcus Vinícius Liessem; VANZIN,
Tarcísio. Audiodescrição no ensino para pessoas cegas. In: CONAHPA - Congresso
Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem, 2011, Pelotas.
Anais:5º Conhapa: Congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem,
2011.
Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, RS (2013) “MANUAL DE
UTILIZAÇÃO
DOS
MODELOS
DE
PÁGINAS
ACESSÍVEIS”,
http://www.inf.pucrs.br/~infee/manual/, julho.
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UMA LÍNGUA EM MILHÕES DE VOZES: A CONSTRUÇÃO