UMA LÍNGUA EM MILHÕES DE VOZES: A CONSTRUÇÃO DE UM REPOSITORIO ACESSÍVEL DE VARIANTES GEOGRÁFICAS DO ESPANHOL Angelise Fagundes da Silva, Marcus Vinicius Liessem Fontana Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) [email protected] , [email protected] Abstract: This paper outlines the steps of preparing the accessible institutional repository from the Federal University of Santa Maria, VOCES (Repository of Geographical Variants of Spanish), in addition to cover the next steps of the project, which aims to gather samples of variants of all countries that have Spanish as official language. VOCES is a repository that was born from the need to create conditions for the awakening of the phonetic conscience of students of Spanish course in Distance Education for people with visual impairment (PVI), in Além da Visão Project (UFSM), in order to empower learners for the improvement of their pronunciation in Spanish. Resumo: Este artigo aponta as etapas de elaboração do repositório institucional acessível da Universidade Federal de Santa Maria, o VOCES (Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol), além de abarcar os próximos passos do projeto, que pretende reunir amostras de variantes de todos os países que têm o espanhol como língua oficial. O VOCES é um repositório que nasceu da necessidade de criar condições para o despertar da consciência fonética dos alunos do Curso de Espanhol EaD para Pessoas com Deficiência Visual (PDVs), do projeto Além da Visão (UFSM), a fim de dar condições aos aprendizes para a melhora de suas pronúncias em língua espanhola. 1. Introdução Ver o mundo. Enxergar além das aparências. Ampliar horizontes... Essas são expressões tão usuais do nosso cotidiano que muitas vezes sequer nos damos conta de que estão todas intimamente ligadas ao sentido da visão, o precioso sentido que nos alimenta com imagens, cores, movimento. Por ser tão simples e natural para nós, pessoas que enxergam, raramente nos questionamos sobre as possibilidades da pessoa cega. Como ela “vê” o mundo? O que são aparências para ela? Alguém cego consegue ampliar horizontes? Em que sentido? O grupo de pesquisas Além da Visão, registrado na Universidade Federal de Santa Maria, desenvolve investigações científicas e atividades tendentes a abrir portas para que pessoas cegas tenham melhores condições de inserção social e profissional. Os cursos de braile nas cidades em que há polos de Educação a Distância da universidade, as oficinas de audiodescriação (NUNES, FONTANA e VANZIN, 2011) e de sensibilização para a cegueira são algumas das iniciativas que buscam fazer a comunidade em geral entender as peculiaridades da cegueira e das pessoas cegas. Muito especialmente, o Curso de Língua Espanhola EaD Além da Visão tem sido uma meta perseguida pelo grupo desde 2010. Do curso, o grupo já conta com muito material preparado, em texto e áudio, e pretende iniciar uma turma piloto em breve. Concomitantemente à elaboração do material, algumas necessidades foram surgindo, abrindo-se novas trilhas para a inclusão. Um desses casos é a Audioteca Virtual, com obras de grandes autores lidas e gravadas em formato MP3 para que pessoas cegas de todo o mundo tenham acesso online (FONTANA, 2010). Outro é o Repositório VOCES. Uma página que reúne gravações de nativos da língua espanhola de diferentes países, criada para que os futuros aprendizes cegos de espanhol conheçam as diferentes variantes geográficas da língua estrangeira estudada. Este acesso deve possibilitar um despertar para a consciência fonética dos alunos do curso, melhorando com isso suas pronuncias em língua espanhola, à medida que vão avançando em seus estudos (MORENO, 2000). Neste artigo, vamos nos deter a tratar deste braço específico das pesquisas do Além da Visão, o Repositório VOCES. O primeiro aspecto a tratar quando se discute um repositório que deve ser acessível é justamente a acessibilidade. Frente a tantos avanços de ordem tecnológica, metodológica, pedagógica, ainda hoje não conseguimos encontrar uma real inserção por parte de pessoas com deficiência visual em âmbito comunicacional, isto é, mesmo com estes avanços ainda encontramos nas instituições de ensino, por exemplo, barreiras de acesso enfrentadas por estas pessoas quanto a materiais didáticos de toda ordem. Fazer, portanto, um repositório levando em conta a diminuição ou apagamento destas barreiras, mesmo que direcionado a uma língua em especial, no caso, o espanhol, foi uma das considerações iniciais para a construção do objetivo do projeto (CULAU e FONTANA, 2012) . Além destas considerações postas em pauta, consideramos, ainda, a importância deste repositório para os Curso de Letras Espanhol EaD e Presencial da Universidade Federal de Santa Maria. Tanto os professores quanto os alunos poderiam, com a criação deste repositório institucional, beneficiar-se em suas práticas docentes e acadêmicas. Afora isso, foi considerado, também, que, abarcando todas estas possibilidades de acesso livre, o VOCES seria, de fato, um repositório acessível, cumprindo assim com o objetivo para ele proposto. Afinal, como aponta a redação do documento sob o número 025885, registrado no Gabinete de Projetos do Centro de Artes e Letras da Universidade Federal de Santa Maria, o objetivo geral do VOCES é elaborar um repositório online totalmente acessível a pessoas com deficiência visual, reunindo gravações em formato de áudio com informantes do maior número possível de países de língua espanhola, a fim de que seja possível reconhecer as variações diatópicas próprias dessa língua. Diante do objetivo geral do projeto, parece-nos significativo, então, neste trabalho, colocar como foram as etapas de elaboração do VOCES, bem como os resultados que obtivemos até o momento. Além disto, apontaremos, também, os próximos passos a serem executados no desenvolvimento do projeto. 2. As etapas de elaboração A elaboração do Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol, o VOCES, seguiu, basicamente, seis etapas. Estas foram: 1ª) elaboração da ficha do informante; 2ª) elaboração da página web acessível; 3º) busca por informantes; 4ª) recebimento e arquivamento dos áudios; 5º) edição dos áudios; 6º) publicação dos áudios. A primeira destas etapas, restrita as atividades do grupo, foi a elaboração da ficha do informante e a criação da página do repositório. Sob a orientação dos professores Vanessa Ribas Fialho e Marcus Fontana, a ficha foi criada levando em conta dados que pudessem marcar a origem da variante e o registro das possíveis influências do informante em sua língua materna. Estas informações possibilitariam ao aluno, aprendiz de espanhol, situar o local da variante em estudo. Afora estas questões, pensou-se, também, no futuro da pesquisa, pois os dados presentes nesta ficha garantiriam outras investigações acerca do repositório. Por isso, a ficha considerou, fundamentalmente, os dados gerais do informante: nome completo, sexo, nome dos pais, estado civil, data de nascimento, país, estado e cidade de nascimento, além do país, estado e cidade de nascimento dos pais, do cônjuge, caso o informante fosse casado. Foi considerado nesta ficha, também, dados que pudessem apontar qualquer contato do informante com outra língua estrangeira ou variante de seu idioma materno. Por isso, há presente, na ficha, perguntas sobre viagens para outros países, tempo de permanência fora do país de origem, recorrência de viagens, etc.. Afora isso, há, na ficha, uma declaração de autorização para o uso do áudio como parte constituinte do Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol. Nesta, além do nome completo do informante que autoriza o uso do áudio, há o número de seu documento nacional de identificação, bem como a data e a assinatura do documento. Estes cuidados são tomados como regra nas ações do grupo Além da Visão. Desde a elaboração da Audioteca Virtual Hispânica, que é uma biblioteca literária de áudios acessível para pessoas com deficiência visual, temos o cuidado de garantir não só a autoria dos áudios, mas também a transparência do nosso trabalho. Afinal de contas, o grupo pertence a umas das instituições mais respeitadas do país e tem um objetivo muito significativo na esfera educacional, na esfera social como um todo: construir espaços acessíveis para o ensino e a aprendizagem de Espanhol como Língua Estrangeira para pessoas com deficiência visual. É importante mencionar, também, que adjunto a ficha do informante há um tutorial descritivo que orienta a elaboração e a gravação dos áudios. Neste, há a indicação de uma ordem possível, jamais fechada, para o desenvolvimento da atividade. Esta ordem segue as seguintes etapas: 1º) Escolher um programa de computador ou um aparelho que grave áudio em mp3, como o Audacity , GTS Studio Recorder, celular, iPod, etc.. 2º) Gravar a leitura do texto indicado; 3º) Gravar um áudio de expressão livre, algo de interessante sobre o país de origem, sobre a cultura, gastronomia, tradições, etc.; 4º) Assinar a autorização de uso do áudio para a elaboração do Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol, da Universidade Federal de Santa Maria; 5º) Enviar a autorização e os áudios para o email de Angelise Fagundes, professora responsável pela organização dos áudios, através do email [email protected] . Vale destacar, em meio a estas orientações, o texto1 escrito para o registro das variantes. De autoria do professor Marcus Fontana, o texto busca provocar ao máximo os fenômenos mais evidentes das variações do espanhol, como o “yeísmo”, a distinção entre “s” e “z” (seseo / ceceo), a pronunciação das fricativas “j-g”, o betacismo (“b-v”), a pronunciação do “x”, além de aspiração e pronunciação do “s” e de outros fenômenos linguísticos que podem ser percebidos através dos áudios. A partir da elaboração da ficha do informante, com todos os dados que achamos pertinentes ao registro, foi o momento da criação do espaço online que serviria para hospedar o repositório digital de variantes do espanhol. Esta etapa do processo ficou sob a responsabilidade do professor Marcus Fontana. Professor da Universidade Federal de Santa Maria, com uma longa caminhada de pesquisa em meio às tecnologias e à educação, conhecedor da linguagem html e programador, coube a ele, como coautor do projeto, requerer junto ao CPD da UFSM (Centro de Processamento de Dados) a hospedagem do repositório no servidor da universidade. Além disso, coube também ao professor Marcus Fontana elaborar a página do VOCES, seguindo as normas 1 TEXTO PARA LECTURA: Ayer por la tarde llovió muchísimo en la Isla de Mallorca. Yo estaba caminando por la playa y tuve que llamar un taxi para volver rápidamente al hotel. Por suerte, cuando la noche llegó, la lluvia paró y yo pude caminar por las calles del centro de la ciudad de Palma, la capital. Por fin, llegué a la casa de una amiga que estaba dando una fiesta, donde conocí a mucha gente interesante: un boxeador extravagante de Extremadura, experto en laxantes; un cazador excéntrico de Zaragoza, gran campeón de ajedrez; un científico escocés con centenas de publicaciones sobre la vida de las cebras; una valiente aviadora venezolana que viaja por varios lugares raros; un viejo caballero uruguayo que domó a los más famosos caballos de ayer; dos hermanos budistas que dicen usar poderes espirituales para encontrar tesoros escondidos… en fin, una gente de la que jamás me olvidaré. Hoy vuelvo a mi casa. Llevo muchos recuerdos, pero la nostalgia no me deja estar aquí por más tiempo. internacionais de acessibilidade, normas estas já utilizadas para a composição da página do projeto Além da Visão. Vencidas estas etapas, coube-nos ir atrás dos informantes. Depois de buscá-los, coube-nos organizar o recebimento e o arquivamento das respostas, além da edição dos áudios recebidos e publicação destes na web. O processo de busca de áudios foi bastante interessante. Como no grupo Além da Visão há participantes que realizaram intercâmbio através do Convênio AUGM (Asociación de Universidades Grupo Montevideo) – UFSM, estes têm muitos conhecidos nativos em língua espanhola. Portanto, recorrer a estes conhecidos foi o bastante para fazer deles os primeiros informantes no projeto VOCES. Neste sentido, coube às Redes Sociais o papel de veículo de mediação entre a investigação, a busca pelos áudios representativos de cada variante geográfica e a efetivação da ação com a gravação e arquivamento destas variantes. O Facebook, em especial, foi o canal de comunicação entre os participantes do grupo e informantes. Através desta Rede Social foi possível conseguir a maioria das vinte e duas amostras linguísticas que já estão online na página do repositório. Outro elemento online de fundamental importância para a organização e execução do projeto foi o Dropbox. Este software armazena, em nuvem, os arquivos, ou seja, os arquivos são colocados na internet, online, evitando o preenchimento de espaço no computador e, além disso, são acessíveis na medida em que, em nuvem, podem ser acessados e compartilhados, através da internet, de qualquer lugar e com qualquer grupo. O arquivamento dos áudios e fichas de informante no Dropbox foi a primeira etapa de organização do projeto e, automaticamente, seu “backup”. A edição dos áudios, última etapa antes da postagem no endereço eletrônico do VOCES, passou por pelo menos quatro fases. A primeira, da chegada do áudio, foi a verificação da qualidade deste. Como são arquivos destinados a alunos com deficiência visual, estes áudios não podem ter muito ruído, pois isto dificultaria a apreensão dos conteúdos por parte destes aprendizes. Após a verificação dos áudios, há a inclusão de uma vinheta. A vinheta marca o áudio como a capa e a contracapa identificam o início e o final de um livro. A última etapa para a elaboração do repositório é a postagem destas amostras linguísticas na página do projeto. Esta, de suma importância, é realizada e verificada pelos professores da instituição. Isso acontece como forma de dar a segurança necessária a um repositório institucional da importância do VOCES. 3. A página A página do projeto foi criada seguindo critérios básicos de acessibilidade para a web. Isto foi levado em conta a fim de minimizar as barreiras encontradas, de modo geral, pelos usuários cegos ou com baixa visual na utilização da internet e seus respectivos recursos. Portanto, é significativo considerar que, segundo o Decreto-lei 5.296, de 2 de dezembro de 2004, que regulamenta a lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, que estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade, acessibilidade e barreiras são: I - acessibilidade: condição para utilização, com segurança e autonomia, total ou assistida, dos espaços, mobiliários e equipamentos urbanos, das edificações, dos serviços de transporte e dos dispositivos, sistemas e meios de comunicação e informação, por pessoa portadora2 de deficiência ou com mobilidade reduzida; II - barreiras: qualquer entrave ou obstáculo que limite ou impeça o acesso, a liberdade de movimento, a circulação com segurança e a possibilidade de as pessoas se comunicarem ou terem acesso à informação, classificadas em: a) barreiras urbanísticas: as existentes nas vias públicas e nos espaços de uso público; b) barreiras nas edificações: as existentes no entorno e interior das edificações de uso público e coletivo e no entorno e nas áreas internas de uso comum nas edificações de uso privado multifamiliar; c) barreiras nos transportes: as existentes nos serviços de transportes; e d) barreiras nas comunicações e informações: qualquer entrave ou obstáculo que dificulte ou impossibilite a expressão ou o recebimento de mensagens por intermédio dos dispositivos, meios ou sistemas de comunicação, sejam ou não de massa, bem como aqueles que dificultem ou impossibilitem o acesso à informação. (BRASIL, 2000) Quando foi elaborada a página do projeto VOCES, foi considerada, fundamentalmente, esta questão das barreiras e da acessibilidade que são, por lei, direito dos usuários, neste caso, alunos aprendizes de Espanhol como língua Estrangeira. Por isso, a página foi planejada e executava com o intuito de minimizar ao máximo as barreiras em torno da comunicação, que pudessem impedir, de alguma forma, o acesso dos alunos ao material organizado em repositório. Imagens, então, não compõem o nosso repositório, pois estas, a não ser com o auxílio de audiodescrição, não são acessíveis a pessoas com deficiência visual. Se por um lado, o avanço da tecnologia nos possibilita, hoje, dar mais acesso a este público, por outro, o próprio progresso neste campo gerou barreiras comunicacionais. Com linguagens de computação cada vez mais sofisticadas, é possível criar webs mais rebuscadas, aplicativos de toda ordem e com forte apelo visual. Frente a este universo com suportes cada vez mais tecnológicos e interativos, com frames, vídeos sem descrição, tabelas, gráficos e imagens, etc., as pessoas com deficiência visual, que necessitam de leitores de tela e sintetizadores de voz, não conseguem ter acesso a estes recursos. É a acessibilidade inacessível, redundância necessária para a compreensão do fato. 2 Esta nomenclatura já está desatualizada e aqui é utilizada somente por tratar-se de um texto Lei. A página do VOCES, assim, buscou, dentro de seu planejamento, criar o acesso a todas as pessoas – PDVs ou videntes. Seguindo, também, as orientações do Manual de Acessibilidade da Pontifícia Universidade Católica do Rio grande do Sul3, o professor Marcus Fontana elegeu um modelo de página acessível (Figura 1), modelo este já utilizado para a página do Projeto Além da Visão, ao qual o VOCES está vinculado. Figura 1. Modelo 7 A partir deste modelo, a página passou pelas adaptações necessárias para tornarse o repositório que pretendíamos para o projeto. Escolha de letras, fontes, etc., além da criação de uma logomarca para o projeto, levando em conta seu caráter simples e direto, sem criar barreiras para o público ao qual ele, primeiramente, foi destinado. No sítio do projeto (figura 2), encontramos três links principais na página de abertura: variação, variantes e equipe e publicações. O ícone “Variação”, ainda em elaboração, trará explicações de ordem teórica sobre o tema, em especial no que se refere à língua espanhola. Já o ícone “Equipe e publicações” abarca a equipe que tem se dedicado ao projeto, bem como publicações feitas a partir desta pesquisa. O ícone “Variantes”, por fim, reúne as amostras linguísticas com variantes da língua espanhola. Estas amostras estão divididas por países e, abaixo de cada link de país, o nome da cidade e região a que pertence o informante, com seu respectivo nome. Para cada informante, há dois áudios. O primeiro deles é a leitura de um texto, texto este já referido neste trabalho. O outro áudio trata-se de uma produção livre, em fala natural, em geral sobre algum aspecto interessante, do ponto de vista do participante, a respeito de seu país. 3 Manual disponível em http://www.inf.pucrs.br/~infee/manual/, acesso em 1 de julho de 2013. Figura 2. Páginas do VOCES 4. Das amostras O VOCES tem uma projeção de cinco anos para a realização do objetivo do projeto, que é reunir todas as variantes geográficas da língua espanhola em um repositório acessível para pessoas com deficiência visual. No entanto, no primeiro semestre de sua criação, já reúne vinte e duas amostras significativas, com representações da Argentina, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, Espanha, México, Paraguai, Uruguai e Venezuela. Das amostras argentinas, é possível contemplar ao menos três regiões. Além da capital Buenos Aires, há áudios da província de Entre Rios e Santa Fé. As amostras chilenas também abarcam variantes da capital e do interior, mais precisamente, de Santiago e Valvídia, assim como as mexicanas, que contém amostras da capital, México distrito Federal, bem como de Aguascalientes, Salamanca, Monterrey e Hermosillo. Nas amostras do Uruguai também encontramos registro da capital, Montevidéu, e do interior, Artigas. Já com os informantes da Venezuela e Paraguai, até o momento, conseguimos amostras apenas das respectivas capitais. Assim como com informantes da Colômbia, Costa Rica, El Salvador e Equador, apenas amostras representativas de cidades do interior. É interessante observarmos em meio a estes áudios, os referentes à Espanha. Há duas amostras e nenhuma delas é da capital do país. Uma delas é da província de Valencia, cidade de La Vall d'Uixó, e a outra é da Galícia, cidade de Lugo. Esta última amostra, em especial, conta, também, com registros em galego, o que aponta para as influencias que uma língua pode abarcar mesmo dentro de seu território. O galego espanhol é falado na região da Galícia, sendo esta uma segunda língua falada especificamente nesta região espanhola. Segundo a Real Academia Galega4, o galego é uma língua oficial, própria da Galícia e de zonas limítrofes do país, e, devido a sua importância no panorama local, o Parlamento da Galícia aprovou, em 1983, a lei que de Normatização Linguística do Galego. Dessa forma, podemos mensurar a importância do projeto VOCES, que neste primeiro ano de atividades já reúne amostras tão significativas. Podemos, ainda, refletir sobre quanto os recursos de informática podem ser utilizados como alternativas aos recursos usados no cotidiano escolar - imerso em cadernos, livros, lápis, borracha, e proporcionar aos alunos “acesso facilitado pela configuração de hardwares e softwares, além de recursos de tecnologia assistiva” (MELO, 2010, p. 7). Podemos, por fim, refletir sobre o ensino de espanhol para pessoas com deficiência visual e o acesso que é proporcionado a estas pessoas tanto em âmbito arquitetônico como em âmbito comunicacional. Neste sentido, O VOCES é um projeto pioneiro, pois além de reunir variantes geográficas da língua espanhola que são de interesse de todos aqueles que estudam ou investigam academicamente a língua, possibilita àqueles que ao buscar aprimorar seus conhecimentos com o estudo do Espanhol, não têm, na grande maioria das vezes, condições de irem muito além, pois enfrentam barreiras de toda ordem, em especial no que se refere a adaptação de livros e acesso a materiais didáticos variados. Afora isso, o VOCES possibilita o apagamento da fronteira entre acesso para videntes e acesso para não videntes, pois constrói um repositório que pode ser utilizados por todo aquele que quer conhecer, investigar e aprofundar seu estudo acerca das Variantes Geográficas da Língua Espanhola. 5. Considerações Finais É significativo apontar, por fim, as próximas ações do projeto VOCES, visto que temos como objetivo maior elencar amostras dos vinte e um países que têm a língua espanhola como idioma oficial. Portanto, para alcançar este intento, precisamos, ainda, conseguir informantes dos seguintes países: Bolívia, Cuba, Guatemala, Guiné Equatorial, Honduras, Nicarágua, Panamá, Peru, Porto Rico e República Dominicana. A fim de obter este objetivo, dividimos nossas tarefas e cada colaborador do projeto ficou responsável por um determinado número de amostras. O processo para a obtenção destas segue sendo o de buscas através das Redes Sociais, bem como através de contato por meio de emails com universidades destes países. Outro passo importante será a interinstitucionalização do VOCES. Com a inserção da professora Angelise Fagundes no quadro efetivo da Universidade Federal da 4 Real Academia Galega, disponível em http://www.realacademiagalega.org/, acesso em 1 de julho de 2013. Fronteira Sul (Campus Cerro Largo – RS), pretende-se que esta instituição também seja parceira na elaboração e ampliação das atividades que giram em torno da acessibilidade e do ensino de espanhol para pessoas com deficiência visual. Diante do exposto, é fundamental apontar, também, sobre o importante trabalho social desenvolvido pelo grupo de pesquisa Além da Visão, trabalho ao qual o Repositório de Variantes Geográficas do Espanhol, o VOCES, está vinculado. A idealização e o trabalho desenvolvido pelo projeto são pioneiros no país e proporcionam às pessoas com deficiência visual uma possibilidade muito significativa de apagar barreiras espaciais e comunicacionais, sobretudo proporcionando a estas pessoas a autonomia na busca pela aprendizagem de espanhol como língua estrangeira e estimulando-as na ampliação de seus horizontes. 6. Referência Bibliográfica BRASIL (2013) “Decreto-lei 5.296”, de 2 de dezembro de 2004, que regulamenta a lei 10.098, de 19 de dezembro de 2000, http://www.acessobrasil.org.br/index.php?itemid=43, julho. CULAU, J. I.; FONTANA, Marcus Vinícius Liessem. Revelando barreiras invisíveis na UFSM: o papel das Tecnologias Assistivas no auxílio à acessibilidade de pessoas com deficiência visual. In: XII Seminário Internacional em Letras - Língua e literatura na (pós-)modernidade, Santa Maria, 2012. Seminário Internacional em Letras Unifra. Santa Maria: Unifra, 2012. v. 2. FONTANA, Marcus Vinícius Liessem. Mais que apenas ver: a leitura on-line em língua espanhola por deficientes visuais. Signum: Estudos Linguísticos, Londrina, n. 13/1, p. 161-179, jul. 2010. MELO, Amanda Meincke. A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar : livro acessível e informática acessível / Amanda Meincke Melo, Deise Tallarico Pupo. Brasília : Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial ; [Fortaleza] : Universidade Federal do Ceará, 2010. v. 8. (Coleção A Educação Especial na Perspectiva da Inclusão Escolar) MORENO, Francisco. Qué español enseñar. Madrid: Arco Libros, 2000. NUNES, Elton Luiz Vergara; FONTANA, Marcus Vinícius Liessem; VANZIN, Tarcísio. Audiodescrição no ensino para pessoas cegas. In: CONAHPA - Congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem, 2011, Pelotas. Anais:5º Conhapa: Congresso Nacional de Ambientes Hipermídia para Aprendizagem, 2011. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, RS (2013) “MANUAL DE UTILIZAÇÃO DOS MODELOS DE PÁGINAS ACESSÍVEIS”, http://www.inf.pucrs.br/~infee/manual/, julho.