2005 International Nuclear Atlantic Conference - INAC 2005 Santos, SP, Brazil, August 28 to September 2, 2005 ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE ENERGIA NUCLEAR - ABEN ISBN: 85-99141-01-5 PROPOSTA DE PROTOCOLO PARA DETERMINAÇÃO DE kVp ATRAVÉS DE MEDIDOR DE TENSÃO INVASIVO Samanda C. A. Correa1, Jaime L. Ludwig2, Ricardo T. Lopes1, Márcia T. Carlos2 e Paulo H. B. Becker3 1 2 Programa de Engenharia Nuclear (COPPE / UFRJ – RJ) Samanda C. A.Correa: [email protected] Ricardo T. Lopes: [email protected] Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD / CNEN - RJ) Jaime L. Ludwig: [email protected] Marcia T. Carlos: [email protected] 3 International Atomic Energy Agency (IAEA) Paulo H. B. Becker: [email protected] RESUMO A proposta deste trabalho é um protocolo para determinação das grandezas potencial de pico máximo, potencial de pico absoluto, potencial de pico médio, potencial de pico prático, ripple e tempo de exposição a partir da análise das curvas de tensão obtidas através de medidas invasivas de equipamentos de raios X com retificações diferentes. Para obter as curvas de tensão ao longo do tempo de exposição foi utilizado um divisor de alta tensão conectado entre o gerador de alta tensão e o tubo de raios X. Um resumo do procedimento desenvolvido para determinar essas grandezas e os resultados obtidos aplicando essa metodologia em equipamentos de raios X com retificação de alta freqüência, retificação de média freqüência e retificação monofásica são apresentados. 1. INTRODUÇÃO O controle de qualidade em radiologia diagnóstica vem sendo implementado em diversos paises. No Brasil, esta atividade foi regulamentada através da portaria 453 de 1998 do Ministério da Saúde. Em função disto, a demanda por calibração de equipamentos para medições de parâmetros indicadores do funcionamento dos equipamentos de raios X, tais como o kVp, o ripple, o tempo de exposição e outros, vem aumentando. A norma IEC 61676 [1] recomenda que esta calibração seja feita através de curvas de tensão obtidas ao longo do tempo de exposição por divisores de tensão colocados entre o gerador de alta tensão e o tubo de raios X. Apesar desta técnica de medição, também conhecida como técnica de medição invasiva, ser considerada uma referência para a determinação de grandezas associadas ao kVp tais como o potencial de pico máximo (kVpmáx), potencial de pico absoluto (kVpabs) [2], potencial de pico médio (kVpmed), potencial de pico prático (PPP) e etc., são encontrados poucos trabalhos publicados que descrevam uma metodologia para determinação destas grandezas através da curva de tensão. Outro aspecto pouco estudado é a influência do tipo de retificação do gerador de tensão do equipamento de raios X na determinação das grandezas associadas ao kVp, visto que equipamentos com retificações distintas possuem a forma das curvas de tensão e corrente completamente diferente. A partir destes questionamentos, este trabalho propõe um protocolo para determinação das grandezas potencial de pico máximo, potencial de pico absoluto, potencial de pico médio, potencial de pico prático, ripple e tempo de exposição a partir da análise das curvas de tensão obtidas através de medidas invasivas de equipamentos de raios X com retificação de alta freqüência, retificação de média freqüência e retificação monofásica. Este protocolo foi desenvolvido baseado na norma IEC61676 [1], na publicação de Ranallo [2] e no Report N0 14 da AAPM [3]. 2. MATERIAIS E MÉTODOS Foram avaliados equipamentos de raios X com gerador de alta freqüência (fabricado pela VMI, modelo Plus 800), de média freqüência (fabricado pela Siemens, modelo Polimat 30/50) e monofásico de onda completa (fabricado pela Siemens, modelo Neo-heliophos). As curvas de tensão foram obtidas utilizando um divisor de alta tensão Dynalyser III, fabricado pela Radcal Corporation, acoplado entre o gerador e o tubo de raios-X, como mostra a Figura 1. Este sistema dispõe de uma placa de aquisição de dados modelo PCI-MIO-16E-4 da National Instruments (de 12 bits e 500000 amostragens por segundo) e um programa desenvolvido utilizando o software Labview, que possibilita a obtenção da Figura 1. Diagrama do sistema de tensão com uma taxa de aquisição de até 250000 aquisição de dados. amostragens por segundo por canal. A taxa de aquisição utilizada para obter a curva de tensão foi de 100000 amostras por segundo. A Figura 2 mostra as curvas de tensão obtidas através do sistema de aquisição de dados para os três equipamentos de raios X avaliados. overshoot overshoot v (A) (B) (C) Figura 2. Curvas de tensão obtidas nas seguintes condições: A) equipamento de alta freqüência com 90kV, 100mA e 100ms, B) equipamento de média freqüência com 90kV, 100mA e 100ms, C) equipamento monofásico com 89kV, 100mA e 135ms. Observa-se que as curvas de tensão dos equipamentos de raios X com retificação de alta freqüência e monofásica apresentam instabilidade de tensão no início da exposição (overshoot). Entretanto, após a região de overshoot, os equipamentos de raios X apresentam curvas de tensão estáveis ao longo do tempo de exposição. Determinação das incertezas: As incertezas das medidas de tensão foram calculadas considerando os seguintes fatores [4]: Incerteza do tipo A: - desvio padrão da média de três medidas obtidas pelo divisor de alta tensão Dynalyser III. Incerteza do tipo B: - incerteza do divisor de alta tensão Dynalyser – 0,3 % (95%) - incerteza da placa de conversão A/D – 0,2% (95%) - incerteza na resposta de freqüência – (ripple)*2%(resposta de freqüência em 50 kHz). INAC 2005, Santos, SP, Brazil. A resposta de freqüência foi obtida considerando o caso extremo, onde a variação do sinal é igual a variação do ripple medido, relativo a cada kV, com um erro de 2% devido a resposta de freqüência do Dynalyser. As incertezas do tempo de exposição foram calculadas considerando os seguintes fatores: Incerteza do tipo A: - desvio padrão da média de três medidas. Incerteza do tipo B: - incerteza do divisor de alta tensão Dynalyser – 0,3 %(95%) - incerteza da placa de conversão A/D – 0,2%(95%) 2.1 Métodos: Para estimar as grandezas kVpmax, kVpabs, kVpmed, PPP, ripple e tempo de exposição foi desenvolvido um programa de tratamento de dados utilizando o software Labview. Os itens que seguem descrevem o protocolo para determinação destas grandezas. A. Determinação do Potencial de pico máximo, potencial de pico absoluto, potencial de pico médio e potencial de pico prático: 1) Potencial de pico máximo (kVpmax): Foi atribuído o maior valor de tensão ao longo do tempo de exposição, excluindo a região de overshoot. 2) Potencial de pico absoluto (kVpabs): Foi atribuído o maior valor de tensão ao longo do tempo de exposição. Obs.: Esta grandeza não deve ser utilizada nos testes de reprodutibilidade ou de exatidão de equipamentos de raios X, uma vez que sua finalidade é evitar danos ao tubo ocasionados por valores altos de tensão que ocorrem principalmente na região de overshoot. 3) Potencial de pico médio (kVpmed) : Foi calculado através da média aritmética de todos os picos que ocorram durante um intervalo específico de tempo de exposição, excluindo a região de overshoot. 4) Potencial de pico prático (PPP): O potencial de pico prático foi calculado exatamente como recomendado pela IEC61676 [1]. A estimativa do PPP foi feita através da Equação 1. n U = ∑U i i =1 n ∑ i =1 w (U i ) (1) w (U i ) onde Ui são os valores de tensão ao longo do tempo de exposição, U é o valor do PPP e w(Ui) é um fator de peso dado para a faixa de 20 kV ≤ Ui < 36 kV, calculado pela Equação 2: w ( U i ) = exp{ − 8 , 646855 x 10 −3 U 2 i + 0 , 8170361 U i − 23 , 27793 } (2) e para a faixa de 36 kV ≤ Ui ≤ 150 kV pela Equação 3: w(U i ) = 4,310644 x10 −10 U i4 − 1,662009 x10 −7 U i3 + 2,30819 x10 −5 U i2 + 1,03082 x10 −5U i − 1,747153 x10 −2 (3) B. Determinação do ripple: O cálculo do ripple foi feita através da Equação 4: R (%) = 100 * [(kV max − kV min ) / (kV max )] (4) onde: kVmax é o valor de tensão máxima e kVmin é o valor de tensão mínima obtidos no intervalo de tensão analisado. INAC 2005, Santos, SP, Brazil. O intervalo de tensão utilizado para calcular o ripple não inclui a região de overshoot. A Figura 3 mostra o intervalo de tensão utilizado para estimar o ripple da curva de tensão do equipamento de raios X de alta freqüência obtida utilizando a técnica de 90kV, 100mA e 100ms. C. Determinação do tempo de exposição: Para o equipamento de raios X com retificação monofásica o tempo efetivo de exposição foi calculado considerando o Intervalo de tensão utilizado para estimar o ripple intervalo de tensão compreendido entre os valores de tensão iguais a 20 % do valor de kVpmed e para o equipamento de raios X de média freqüência e de alta freqüência foi calculado considerando o intervalo de tensão Figura 3: Intervalo de tensão utilizado para compreendido entre os valores de tensão estimar o ripple. iguais a 75 % do valor de kVpmed [3]. Como a taxa de aquisição de amostragens para obter a curva de tensão é constante (100000 amostras por segundo) o tempo de exposição foi estimado pelo programa de tratamento de dados através da Equação 5. (5) Tempo de exposição = ( N / Taxa de Aquisição de dados ) x 1000 [ms] onde, N é o número de amostras do intervalo de tensão considerado para estimar o tempo. 3. RESULTADOS Em seguida, são apresentados os resultados obtidos com a aplicação do protocolo para os três equipamentos de raios X avaliados. A. Potencial de pico máximo, potencial de pico absoluto, potencial de pico médio e potencial de pico prático: As Figuras 4 e 5 mostram o comportamento do kVpmax, kVpabs, kVpmed e PPP para os equipamentos de raios X avaliados. 100 80 60 40 kVpmax kVpabs PPP kVpmed 120 100 40 Equipamento de Raios X de média freqüência - 100mA 100 80 kVpmax kVpabs PPP kVpmed 60 40 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) 120 140 120 80 60 40 80 60 40 kVpmax kVpabs PPP kVpmed 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) kVpmax kVpabs PPP kVpmed 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) Equipamento de Raios X de média freqüência - 200mA 100 Equipamento de Raios X de alta freqüência - 300mA 100 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) kVp (kV) kVp (kV) 120 kVpmax kVpabs PPP kVpmed 60 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) 140 80 140 140 kVp (kV) kVp (kV) 120 Equipamento de Raios X de alta freqüência - 200mA 140 kVp (kV) Equipamento de Raios X de alta freqüência - 100 mA kVp (kV) 140 120 Equipamento de Raios X de média freqüência - 320mA 100 80 60 40 kVpmax kVpabs PPP kVpmed 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) Figura 4. Comportamento do kVpmax, kVabs, PPP e kVmed em função da tensão nominal para os equipamentos de raios X de alta freqüência e média freqüência. INAC 2005, Santos, SP, Brazil. Equipamento de Raios X monofásico - 100mA kVp (kV) 120 100 80 kVpmax kVpabs PPP kVpmed 60 40 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) Equipamento de Raios X monofásico - 200mA 140 kVp (kV) 140 120 100 80 kVpmax kVpabs PPP kVpmed 60 40 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) Figura 5. Comportamento do kVpmax, kVabs, PPP e kVmed em função da tensão nominal para o equipamento de raios X monofásico. Através das curvas apresentadas nas Figuras 4 e 5, pode-se constatar que os valores de kVpmax e kVpmed são aproximadamente iguais para os três equipamentos de raios X avaliados, mostrando que a curva de tensão é estável ao longo do tempo de exposição, como observado na Figura 2. Como os equipamentos de raios X de alta freqüência e monofásico apresentaram overshoot durante as medidas, os valores de kVpabs foram maiores que os valores de kVpmax e kVpmed. Para o equipamento de média freqüência que não apresentou overshoot, os valores dessas grandezas foram próximos. A diferença do PPP em relação as grandezas kVpmax e kVpmed cresce com o aumento do ripple do equipamento de raios X. Isto é conseqüência da definição do PPP, que é calculado através de uma média ponderada, onde se considera toda curva de alta tensão. B. Ripple: A Figura 6 mostra o comportamento do ripple em função da tensão nominal (kV) aplicada para diferentes valores de corrente (mA) e equipamentos de raios X. Pode-se observar que a variação do ripple é uma característica de cada tipo de gerador, além de depender da potência aplicada (P = βmAkV/1000, onde β é uma constante que depende do tipo do gerador). Verifica-se que o ripple cresce com o aumento da corrente para os equipamentos de alta freqüência e monofásico. Entretanto, para o equipamento de média freqüência o ripple decresce com o aumento da corrente. 100m A 200m A 300m A 12 8 Ripple (%) Ripple (%) 16 100mA 200mA 320mA 16 12 4 (A ) Equipamento de raios X de média freqüência 20 8 108 Ripple (%) Equipam ento de raios X de alta freqüência 20 104 100 60 80 100 120 T ensão N om inal (kV ) (B) Foco Fino Foco Grosso 96 92 4 40 Equipamento de raios X monofásico 40 60 80 100 120 Tensão Nominal (kV) (C) 40 50 60 70 80 90 Tensão Nominal (kV) Figura 6. Variação do ripple com a tensão nominal para diferentes correntes nas seguintes condições: A) equipamento de alta freqüência com 100 ms, B) equipamento de média freqüência com 100 ms, e C) equipamento monofásica com 135 ms. C. Tempo de exposição: Na Figura 7, são mostrados os valores do tempo de exposição em função da tensão nominal, para diferentes valores de corrente (mA) e equipamentos de raios X. Na avaliação do tempo de exposição, a repetitividade apresenta um desvio inferior a 0,5% para o equipamento de alta freqüência, 0,6% para o equipamento de média freqüência e 3,5% para o equipamento monofásico. Ao se avaliar a diferença entre o valor nominal e o valor medido do tempo, encontra-se uma diferença máxima absoluta de 1,8% para o equipamento INAC 2005, Santos, SP, Brazil. de alta freqüência, de 3,1% para o equipamento de média freqüência e de 2,1% para o equipamento monofásico. Equipamento de raios X de alta freqüência 100 95 100mA 200mA 300mA 90 85 80 (A) 40 60 80 100 120 Tensão nominal aplicada (kV) 110 105 100 95 90 85 80 (B) 155 Equipamento de raios X de média freqüência 100mA 200mA 300mA 150 Tempo (ms) Tempo (ms) 105 Tempo (ms) 110 145 Equipamento de raios X monofásico Foco Fino Foco Grosso 140 135 130 125 40 60 80 100 120 140 40 50 60 70 80 90 100 (C) Tensão nominal aplicada (kV) Tensão nominal aplicada (kV) Figura 7. Tempo de exposição para diferentes valores de corrente calculado nas seguintes condições: A) equipamento de alta freqüência com 100 ms, B) equipamento de média freqüência com 100 ms, e C) equipamento monofásico com 135 ms. 4. CONCLUSÕES Para o equipamento de média freqüência as grandezas kVpmax, kVpmed e kVpabs apresentaram valores próximos em função da tensão nominal, mostrando que a curva de tensão deste equipamento é estável e não apresenta overshoot. Para os equipamentos de raios X de alta freqüência e monofásico, as grandezas kVpmax e kVpmed apresentaram valores próximos, no entanto, os valores do kVpabs foram superiores, o que indica a presença de overshoot. Na avaliação do PPP, observa-se que diferença desta grandeza em relação ao kVpmax e kVpmed cresce com o aumento do ripple do equipamento de raios X. O ripple apresentou um comportamento característico do tipo de gerador e da potência aplicada. Para o tempo de exposição, observou-se que a maior variação ocorreu para o equipamento monofásico. Neste caso, ocorreu uma diferença máxima absoluta de 1,8% entre o valor obtido e o valor nominal, e um desvio máximo 3,5% para a repetitividade das medidas. A partir dos resultados obtidos para os equipamentos de raios X pode-se concluir que o conjunto das grandezas kVpmax, kVpmed, kVpabs, PPP, ripple e tempo de exposição descrevem o comportamento da curva de tensão aplicada. Portanto, para avaliação de um controle de qualidade para um equipamento de raios X é importante que se análise todas essas grandezas. AGRADECIMENTOS Agradecemos a Doutora Simone K. Dias e ao Instituto de Radioproteção e Dosimetria (IRD/CNEN) pela colaboração na realização do presente trabalho. REFERÊNCIAS 1. 2. 3. 4. International Electrotechnical Commission, “Medical Electral Equipment – Dosimetric Instruments for Non-Invasive Measurements of X-Ray Tube Voltage in Diagnostic Radiology”, IEC 61676 (1998). F. N. Ranallo, “The invasive measurement of x-ray tube potential,” University of Wisconsin-Madison, Thesis (1993). American Association of Physics in Medicine (AAPM), “Performance Specifications and Acceptance Testing for X-ray Generators and Automatic Exposure Control Devices”, Report N0 14 (1985). P. H. B. Becker, M. A. L. Peres, J. L. Ludwig, C. C. Chernicaro, “Calibração de Medidores de kV com a Grandeza Potencial de Pico Prático (IEC 61676)”. Proceedings of the IV ENAN (2002). INAC 2005, Santos, SP, Brazil.