A colheita poética de Ricardo Anísio
Poeta lança Florilégio, nova obra literária, e diz que
ansiedade prejudica na hora de produzir poemas
Florilégio tanto pode ser uma coleção de flores escolhidas, como
uma coletânea de trechos literários. As duas definições se aplicam
ao mais novo livro de poemas do jornalista e poeta Ricardo Anísio,
que traz na capa justamente este título. Afinal, os poemas da obra
são como se fossem flores colhidas pelo poeta nos jardins de seu
paideuma, trechos literários, é verdade, que se unem para mostrar
o amadurecimento literário do autor. A obra, que vem referendada
por nomes como Mirabeau Dias, Graça Santiago e Sônia van Djeck,
será lançada na próxima terça-feira, dia 17, às 20 horas, no Terraço
Brasil, em João Pessoa.
Com o selo da editora Idéia, Florilégio traz um Ricardo Anísio
romântico, sem ser piegas, erótico, sem ser pornográfico,
tradicional, sem ser arcaico. Para Ricardo, em comparação com
obras anteriores sua - como Canção do Caos e Simulacro Florilégio traz uma poesia maturada, que não teve pressa na
gestação. "Isso não quer dizer que seja boa ou ruim, mas queeu
amadureci", completa. Sua expectativa, inclusive, é que a crítica
receba esta obra melhor do que as anteriores. Se bem que,
ressalta, "acho que os críticos até foram bondosos com meus
livros". E compara: "Aprendi que o poema é como cachaça, que
para ficar melhor deve passar um tempo em barris de carvalho".
Esta sinceridade surpreende, porque funciona como uma autocrítica
de Ricardo. Tanto que ao fazer uma auto-avaliação como poeta, se
define como "totalmente irregular". "Meu grande problema nas
obras anteriores foi sempre a ansiedade de publicar e a falta de
disciplina para ir construindo os versos com paciência. Fiz como um
repentista, e não sou nenhum Oliveira de Panelas ou Daudeth
Bandeira. Por isso os livros são fracos", reconhece.
Ricardo diz receber as críticas como uma orientação para que haja
uma evolução em sua poética. " No "Florilégio" claro que haverá
coisas a serem criticadas. Mas certamente muito menos do que
havia nos trabalhos passados. E isso é natural. Eu não misturo as
coisas. O críticonão passa a ser meu inimigo pelo fato de criticar
uma obra minha".
Dividido entre a poesia e a crítica musical, Ricardo acredita que as
duas atividades se completam em seu interior. "Para mim fica difícil
ter um distanciamento bastante para que eu determine de forma
pragmática quem supera quem. Eu acho que sou conhecido e
respeitado a nível nacional como crítico de música, e na poesia eu
certamente não teria projeção assim. Poesia me encanta, música
me provoca".
Suas influências literárias são o que se pode chamar de salada de
talentos. E ai pontuam nomes como Manoel de Barros, Thiago de
Mello, Augusto dos Anjos, Manuel Bandeira, Garcia Lorca,
Fernando Pessoa e de Patativa do Assaré. 'Vê como é uma salada
das grandes, de estilos distintos?! No meu entendimento a Poesia é
das artes a mais complexa de se ranquear porque as linguagens
têm muito a ver com a vivência de cada país, de cada tempo. Por
isso acho horrível quando se valem do comparativismo entre
poetas. A valoração muitas vezes é meramente pessoal, efalha".
Biografias de Genival Lacerda e de Geraldo Vandré
Nos intervalos de sua produção poética, Ricardo não esquece de
investir em sua carreira de crítico e de jornalista ligado ao mundo da
música.
O livro que está na agulha, agora, é a biografia do compositor
Genival Lacerda. Ricardo foi contratado por uma produtora de
Recife para escrever a biografia do músico. "Topei de cara. Já
mantive contato com o cantor e ele ficou feliz que fosse eu o
escolhido para escrever sobre a sua história. Já comecei a trabalhar
nesta obra, a coletar material e entabular entrevista com artistas
ligados ao universo do Genival".
E a famosa biografia de Geraldo Vandré? Esta não deve mesmo
sair tão cedo. "Pense em uma coisa que tem me cansado",
desabafa. Cobram muito que ele finalize esse livro sobre vida e
obra do paraibano Geraldo Pedrosa de Araújo Dias, conhecido
mesmo por Geraldo Vandré. "Tenho um livro pronto, mas não
aquela biografia que todos esperam. Andei me desentendendo com
ele e tenho tido pouco contato. Sei que lançarei um livro sobre ele.
Se será "a biografia" eu não sei.Creio que não. Ele tem um
comportamento bipolar que inviabiliza certas coisas".
Ricardo ainda colhe os louros pelo sucesso do seu livro "MPB de A
a Z", que está esgotado. "Na verdade vendeu muito e eu não pensei
que fosse repercutir tanto. Pessoas de todos os lugares do Brasil
mantêm contato comigo e buscam essa obra, mas eu não consigo
patrocínio, sou terrivelmente incompetente nessa coisa de buscar
apoio etc. Tenho a maior vontade de reeditá-lo. Até hoje recebo emails da Saraiva e da Cultura fazendo pedido. Quem sabe aparece
patrocínio". É, quem sabe? Só assim, seus florilégios musicais
continuam ecoando também Brasil afora.
(Publicado no jornal O Norte, em maio de 2011)
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