Educação Nutricional Em Uma Creche Municipal de Viçosa/MG
Daniane Campos de Oliveira, graduanda em nutrição, DNS/UFV, Rua Gomes Barbosa, n.
180, Centro, Viçosa, [email protected]; Cristiane Alves de Oliveira, graduanda
em
nutrição,
DNS/UFV,
Alojamento
Novo,
apt.
532,
Campus
UFV,
Viçosa,
[email protected]; Kely Raspante Teixeira, graduanda em nutrição, DNS/UFV,
Av. PH. Rolfs, n. 425, apt. 907, Centro, Viçosa, [email protected]; Aline Aparecida
Oliveira Campos, graduanda em nutrição, DNS/UFV, Av. Joaquim Lopes de Faria, n. 810,
Bairro Santo Antonio, Viçosa, [email protected]; Kátia Melita João Mangujo,
graduanda de nutrição, DNS/UFV, Rua Milton Bandeira, n. 176, apt, 103, Centro, Viçosa,
[email protected]; Letícia Aparecida Fidelis, graduanda em nutrição, DNS/UFV,
Rua dos Passos, n. 19, apt. 302, Centro, Viçosa, [email protected]; Denise Félix
Quintão, Mestranda em Ciências da nutrição, DNS/UFV, Rua Gomes Barbosa, n. 180,
Centro, Viçosa, [email protected]; Silvia Eloiza Priore, Professora, DNS/UFV, Rua
Horacio Borgues, n. 31, Viçosa, [email protected].
Resumo: O presente trabalho teve por objetivo promover atividades de educação nutricional e
de boas práticas de fabricação, estimulando, assim, hábitos alimentares saudáveis. A fim de
assegurar o crescimento e desenvolvimento satisfatórios das crianças assistidas por uma
creche municipal de Viçosa-MG. Realizou um diagnóstico do estado nutricional das crianças,
que, a partir do mesmo, foram colocadas em prática estratégias, de educação nutricional,
plausíveis de intervenção, com vista a difundir conhecimentos básicos de nutrição. As
crianças participaram de forma ativa, em todas as atividades efetuadas. Ficou evidente o
envolvimento e o sentimento de felicidade, em certos momentos as crianças demonstravam
muito carinho, mostrando que as atividades lúdicas despertam emoções reais nas mesmas, e
possibilitam resultados muito proeminentes em relação às atividades sem este caráter. As
funcionárias apontaram uma boa aceitação pelo trabalho realizado, ressaltaram a necessidade
de mais treinamentos para torná-las aptas a tomar decisões corretas diante das limitações do
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dia-a-dia. Assim, este estudo nos remete a importância da inserção do nutricionista nesta área
de atuação, de forma continua. A fim de se viabilizar o crescimento e desenvolvimento
adequado da criança, através da formação de hábitos alimentares saudáveis.
Palavras Chave: Educação Nutricional, Pré-escolares, Alimentação Saudável
Objetivo
O presente trabalho teve por objetivo promover atividades de educação nutricional e
de boas práticas de fabricação, estimulando, assim, hábitos alimentares saudáveis. A fim de
assegurar o crescimento e desenvolvimento satisfatórios das crianças assistidas por uma
creche municipal de Viçosa-MG.
Referências Teóricas
Cada fase da infância corresponde a mudanças no comportamento alimentar, e isso
acontece devido aos fatores biológicos, sociais e psíquicos (MARTINS, 2004). Na fase préescolar ocorre redução da velocidade de ganho de peso e estatura o que condiciona uma
redução do apetite, sendo que este pode ser também irregular, apresentando flutuações diárias
e até mesmo de uma refeição para outra (ACCIOLY et al , 2002).
Segundo Quaioti (2006), o comportamento alimentar do pré-escolar é influenciado
pelo meio em que este se encontra inserido, que pode ser representado pela família e pela
instituição de ensino. Este, também, afirma que com o ingresso à creche/escola, a criança
passa a conviver com horários e adquire conhecimento de alimentos diferentes daqueles já
habitualmente conhecidos no meio familiar. Se nesta faixa etária a alimentação saudável não
for instituída, corre-se o risco da criança iniciar o estabelecimento de hábitos alimentares
incorretos com sérios prejuízos para sua saúde no futuro. Portanto, tais instituições podem ser
consideradas como um meio facilitador para se fazer a prevenção de doenças e a promoção da
saúde das crianças (XIMENES, 2004).
Educação Nutricional segundo Boog (2004) consiste em um conjunto de estratégias
sistematizadas para impulsionar a cultura e a valorização da alimentação, concebidas no
reconhecimento da necessidade de respeitar, mas também de modificar crenças, valores,
atitudes, representações, práticas e relações sociais que se estabelecem em torno da
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alimentação, visando o acesso econômico e social de todos os cidadãos a uma alimentação
quantitativa e qualitativamente adequada, que atenda aos objetivos de saúde, prazer e
convívio social.
Metodologia
No presente estudo participaram 33 crianças, sendo que a idade variou de 2 a 4 anos e
com relação à distribuição por sexo 19 (57,6%) eram do sexo feminino e 14 (42,4%) do sexo
masculino. As crianças permaneciam na creche por 8 horas ao dia, onde recebiam 4 refeições
e participavam de atividades recreativas e educativas. O quadro de profissionais da instituição
era composto por 3 professoras, 2 cantineiras e duas auxiliares. Aplicou-se um termo de
consentimento livre e esclarecido com os pais ou responsáveis, guardando todos os princípios
éticos necessários nos trabalhos que envolvem seres humanos.
Para diagnóstico do estado nutricional fez-se a aferição das medidas de peso e estatura
das crianças, com base nas recomendações de Jelliffe (1968), além da dosagem de
hemoglobina pelo aparelho de fotometria portátil (Hemocue). Outros fatores avaliados foram
o cardápio e a disponibilidade de gêneros alimentícios oferecidos pela creche.
Por meio das avaliações supracitadas, foram colocadas em prática estratégias
plausíveis de intervenção, com vista a difundir conhecimentos básicos de nutrição para os pais
e funcionários. Além de criar uma postura consciente para a implantação de hábitos
alimentares condizentes com um bom estado nutricional; desmistificar tabus e falsos
conceitos e capacitar multiplicadores de condutas adequadas de alimentação.
Após a análise dos dados das crianças, as que apresentaram inadequação em qualquer
um dos parâmetros avaliados foram encaminhadas a unidades de Saúde da Família de sua área
de abrangência. Sendo que, as que não tinham acesso a cobertura foram encaminhadas ao
Centro de Atenção a Saúde da Mulher e da Criança.
Tendo conhecimento da necessidade de se oferecer uma alimentação nutricionalmente
equilibrada as crianças da referida instituição de ensino, foi elaborado um cardápio
qualitativo, com base na pirâmide alimentar, para o serviço de alimentação em questão.
Durante o processo de elaboração, optou-se por uma proposta de cardápio que contemplasse
as exigências nutricionais, permanecesse dentro do custo estimado e pudesse ser utilizado
para modificação dos hábitos alimentares e promoção da saúde. Optou-se ainda por manter
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um cardápio com as mesmas refeições que já eram previstas na alimentação dos usuários da
creche, sendo elas desjejum, almoço, lanche e jantar.
Foi promovida uma reunião com os pais, na qual foi disponibilizada para os mesmos
uma cartilha educativa, sendo que todos os tópicos contemplados por esta foram brevemente
abordados durante a reunião. Este material foi confeccionado com linguagem simples, e
possuía o título: “Os dez passos para a alimentação saudável de seu filho”, sendo a mesma
uma adaptação da cartilha “Dez passos para uma alimentação saudável” do Ministério da
Saúde (Ministério da saúde, 2008). Este recurso educativo continha também dicas para se
obter sucesso nas estratégias propostas pela cartilha.
As duas atividades de educação nutricional direcionadas as crianças foram realizadas
por 5 educadores, na própria instituição. Estas foram efetuadas em quatro encontros, sendo os
mesmos compreendidos em um período de quatro semanas e com duração média de trinta
minutos.
O tema da primeira atividade foi o estímulo ao conhecimento e consumo de diferentes
frutas e possuía o título: “Brincando com as Frutas”. Primeiramente as frutas foram
apresentadas às crianças, em seguida os olhos das crianças foram vendados e estas tentaram
adivinhar qual fruta foi colocada em suas mãos. Para isto, as mesmas foram estimuladas pelos
educadores, a explorar os 5 sentidos, o tato, o olfato, a audição e ao final, após terem sido
desvendados os seus olhos, elas também visualizaram o alimento. Tendo a criança usado
vários sentidos, à mesma foi permitido o consumo do alimento, possibilitando assim a
utilização do paladar. Das frutas adquiridas, uma parte foi destinada à realização da dinâmica
e, portanto, mantidas íntegras e o restante compôs uma salada de frutas. Após pré-preparadas,
as frutas foram armazenadas sob refrigeração em recipientes separados, e só foram misturadas
na presença das crianças para que estas estivessem em contato direto com a preparação da
salada de frutas e visualizassem cada fruta separadamente.
A segunda atividade de educação nutricional foi abordada de forma lúdica, onde duas
histórias com o tema alimentação saudável foram encenadas através de um teatro de
fantoches, com o título: “Aprendendo com os Alimentos”. Cada educador representou vários
personagens que abordaram variedade, estímulo à ingestão de frutas e hortaliças. Os
personagens foram representados por alimentos saudáveis, frutas e hortaliças, os mesmos
foram construídos de alimentos in natura, porém ornamentados de forma a dar vida aos
mesmos. Além desses personagens, houve também dois fantoches, os quais conduziram a
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história. Os personagens foram dispostos em um palco em forma de janela construído de
papel colorido.
Para garantir melhor aprendizagem, as atividades não foram sobrecarregadas de
informações, utilizou-se de uma linguagem compreensível, sendo transmitidas de forma
divertida e permitindo a participação de maneira dinâmica.
Outra atividade foi realizada com as funcionarias da creche, na qual foi abordado de
forma resumida os tópicos sobre “alimentação saudável”, com a utilização da Pirâmide
Alimentar; “aproveitamento integral dos alimentos”, nesse tema foram distribuídas receitas
de preparações com o melhor aproveitamento dos alimentos; “ boas práticas de fabricação”,
com a auxilio de um folder higiene em geral e manipulação dos alimentos, elaborado pela
equipe; além disso, foram discutidos os cuidados que se deve ter ao receber e armazenar os
alimentos, as formas de organizar os armários e a geladeira e sobre a limpeza periódica
desses.
Quando foi falado sobre a higiene pessoal, foi feita uma dinâmica na qual uma
voluntária, com os olhos vendados, lavou as mãos com tinta guaxe (pensando que era sabão).
Com essa dinâmica, elas puderam perceber a importância da lavagem correta das mãos e
comentaram que essa atividade as ajudou muito a reconhecer tal importância. Também foi
fornecido às funcionárias um esquema, colorido e plastificado, com desenhos demonstrativos
sobre a correta higienização das mãos para que as mesmas colocassem em um local perto da
pia para lavar as mãos e que todas pudessem ver.
Resultados
Para a avaliação da aprendizagem e fixação do conteúdo da atividade “Brincando com
as Frutas” e do espetáculo teatral “Aprendendo com os Alimentos”, as crianças participaram
de uma atividade educativa em sala de aula, ainda monitoradas pelos educadores. Nesta
atividade cada criança recebeu uma folha com 11 desenhos, sendo que nove deles
representavam frutas e hortaliças e os demais, outros tipos de desenhos. A criança deveria
optar por colorir as frutas ou hortaliças apresentadas pelos educadores, sem qualquer tipo de
indução ou ajuda na escolha, verificando assim, a assimilação dos conhecimentos
transmitidos. Para análise dos resultados, foi utilizada uma classificação baseada em uma
pontuação, apresentada no quadro 1.
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Pontuação
Classificação da assimilação
0-4
de conhecimentos
Insatisfatório
5–7
Bom
8–9
Muito bom
Quadro 1: Classificação da assimilação de conhecimentos
Para contagem dos pontos, foram contabilizados como acertos, os desenhos de frutas e
hortaliças pintados e após, o resultado foi subtraído do total de erros.
Durante a realização da peça teatral, as crianças participaram de forma ativa,
interagindo o tempo todo com os personagens da história. Ficou evidente o envolvimento e o
sentimento de felicidade, em certos momentos as crianças demonstravam muito carinho pelos
personagens, querendo até mesmo tocar, beijar e abraçar, mostrando que as atividades lúdicas
despertam emoções reais nas crianças, e possibilitam resultados muito proeminentes em
relação às atividades sem este caráter.
Na segunda atividade “Brincando com as Frutas”, a participação das crianças e dos
professores também foi intensa, evidenciando a curiosidade e o entusiasmo revelado acerca
dos alimentos, principalmente aqueles os quais eles não conheciam. Observou-se, ainda, uma
ótima aceitação da salada de frutas.
Ao se avaliar a assimilação dos conhecimentos, notou-se um percentual de 54, 3 % de
assimilação classificada como Muito Bom, 37 % como Bom e apenas 8,7 % como
Insatisfatório. Tal resultado demonstrou um ótimo aproveitamento do conteúdo transmitido
(Quadro 2).
Pontuação
Número de
Percentual
Classificação da assimilação
0–4
crianças
4
8,7 %
de conhecimentos
Insatisfatório
5–7
17
37 %
Bom
8–9
25
54,3 %
Muito bom
Quadro 2: Classificação percentual da assimilação de conhecimentos
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Ao se primar por atividades dinâmicas, lúdicas e interativas, assim como, na maioria
dos programas pedagógicos das creches que incorporam um esquema diário de brincadeiras,
atividades externas ativas e grupais (jogos, períodos de alimentação e repouso), obtêm-se um
quadro extremamente benéfico (ARAÚJO et al, 2006).
Há evidências de que os padrões característicos de saúde e doença na criança são
determinados pelo meio ambiente, que é permeado pelas condições econômicas e pelo acesso
aos serviços de saúde e educação. Porém de acordo com Castro et al (2005), os pré-escolares
do Brasil constituem o grupo populacional mais carente de atendimento. Além disso, observase que ainda é tímido o lugar ocupado pela criança com menos de 7 anos nas políticas
públicas, apesar de ser esse o segmento populacional mais afetado pelas condições de pobreza
e desigualdade e representar uma parcela importante na estrutura etária do país (BARRETO,
2003). Portanto, tal trabalho vem contribuir para melhorar o acesso dos pré-escolares as
atividades educativas, neste caso a educação nutricional.
Para ter conhecimento da aceitação das ações desenvolvidas com as funcionárias, ao
final de toda a atividade, foi feita a avaliação das mesmas pelas participantes. Essa foi
realizada por meio de uma caixa e de fichas nas cores vermelho (ruim), amarelo (regular) e
verde (ótimo). Tais fichas foram distribuídas às profissionais da creche, elas avaliaram
colocando a ficha que representava sua opinião sobre a atividade na caixa. Vale ressaltar que
as mesmas permaneceram sozinhas na sala, a fim de evitar constrangimento ou intimidação.
As três que participaram de tudo colocaram, na caixa, fichas da cor verde, o que demonstra
que as mesmas consideraram ótimo o trabalho desenvolvido.
Os resultados apontaram uma boa aceitação pelo trabalho realizado. As funcionárias
ressaltaram a necessidade de mais treinamentos para torná-las aptas a tomar decisões corretas
diante das limitações do dia-a-dia. Vale lembrar que a creche, que está vinculada ao
município, apresenta muita restrição financeira, o que reflete em suas condições físicas e nos
recursos disponíveis para promover melhorias no local. Tal situação nos faz refletir sobre a
necessidade de maior atenção a esse serviço, principalmente pelo fato de ser freqüentado por
crianças mais carentes da cidade. Maior conscientização por parte das autoridades é requerida
para que haja maiores investimentos nessa área.
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