UNESC - UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS - BACHARELADO ARIANA DE BONA TOXICIDADE DAS ÁGUAS DO RIO CARVÃO, MUNICÍPIO DE URUSSANGA-SC, ANTES E APÓS O SEU TRATAMENTO COM REJEITO PIRITOSO CALCINADO, UTILIZANDO-SE ORGANISMOS BIOINDICADORES CRICIÚMA, NOVEMBRO DE 2010 2 ARIANA DE BONA TOXICIDADE DAS ÁGUAS DO RIO CARVÃO, MUNICÍPIO DE URUSSANGA-SC, ANTES E APÓS O SEU TRATAMENTO COM REJEITO PIRITOSO CALCINADO, UTILIZANDO-SE ORGANISMOS BIOINDICADORES Trabalho de Conclusão de Curso, apresentado para obtenção do grau de bacharel no Curso de Ciências Biológicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC. Orientadora: Prof.ª MSc. Miriam da Conceição Martins CRICIUMA, NOVEMBRO DE 2010 3 ARIANA DE BONA TOXICIDADE DAS ÁGUAS DO RIO CARVÃO, MUNICÍPIO DE URUSSANGA-SC, ANTES E APÓS O SEU TRATAMENTO COM REJEITO PIRITOSO CALCINADO, UTILIZANDO-SE ORGANISMOS BIOINDICADORES Trabalho de Conclusão de Curso aprovado pela Banca Examinadora para obtenção do Grau de bacharel no Curso de Ciências Biológicas da Universidade do Extremo Sul Catarinense, UNESC, com Linha de Pesquisa em Ecotoxicologia Criciúma, 26 de novembro de 2010 BANCA EXAMINADORA _______________________________________________ Prof.ª MSc. Miriam da Conceição Martins - Bióloga - (UNESC) - Orientadora _______________________________________________ Dr. Reginaldo Geremias - Bioquímico - UFSC _______________________________________________ MSc. Jacira Silvano – Bióloga – (IPAT/UNESC) 4 Dedico este trabalho aos meus pais Rodolfo e Janaina, sem o esforço deles eu não teria a oportunidade de realizar este trabalho com sucesso. 5 AGRADECIMENTOS A Deus que me deu sabedoria para conduzir este trabalho. Aos meus pais Rodolfo Henrique De Bona e Janaina Teixeira De Bona e ao meu namorado Pablo Polo Martins pelo apoio, carinho, compreensão, paciência, e amor para comigo durante todo este percurso e principalmente por todos os valores que me passaram. Obrigada, amo vocês incondicionalmente. Ao professor Claus Tröger Pich por permitir a realização desse trabalho e pela oportunidade de aprendizado. Ao professor Reginaldo Geremias sempre atencioso, me ajudou muito em projetos e duvidas no laboratório. A professora Miriam da Conceição Martins que aceitou ser minha orientadora. Obrigada pela atenção. Aos professores Jacira Silvano e mais uma vez ao Reginaldo Geremias, membros dessa banca, por terem aceitado o convite para a defesa da tese. Aos colegas do Grupo de Pesquisa em Imunologia e Genética: Rosana Antonio Madeira, Tamires Manganelli Defaveri, Eduardo Netto e Wagner Ariati pela ajuda sempre que necessária. A minha querida amiga Fernanda Zanette da Silveira (Nan) que me ajudou desde o começo deste trabalho, sempre tirando minhas duvidas e resolvendo meus problemas, obrigada Nan, I Love you. Em especial a minha grande amiga Maiara da Silva Francisconi (Mi) que esteve comigo desde o começo da faculdade, me apoiando em qualquer decisão, sou muito grata pela tua amizade e quero levar ela para a vida toda. “Se certos amigos nos mostram que o mundo ainda é bom”. Mi, i ti imi! A todas as “amegas” que mesmo nos momentos de desânimo sempre me trouxeram alegria e divertimento. O meu muito obrigada a todas as pessoas citadas a cima que cruzaram o meu caminho e me fizeram mais feliz. 6 "Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim." Chico Xavier. 7 RESUMO O rejeito de mineração é caracterizado como mineral pirítico e é a principal fonte de poluição da extração de carvão, pois contém grande quantidade de metais pesados. Este, por processo de lixiviação, dá origem à drenagem ácida de mina (DAM) que pode alterar os ambientes hídricos de seu entorno. O objetivo deste trabalho foi determinar a eficiência da utilização de rejeitos de mineração de carvão calcinado no tratamento das águas do Rio Carvão contaminadas por DAM avaliando este processo através de ensaios de toxicidade em organismos bioindicadores. Para tanto foram coletadas amostras de água do Rio Carvão sendo determinado os valores de pH,e feito ensaios ecotoxicológico com Artemia salina e Allium cepa L. antes e após o tratamento com rejeito piritoso calcinado. Para o teste de toxicidade aguda em Artemia salina, indivíduos foram expostos em concentrações de 0 a 100% para posterior cálculo da CL50 através do método Trimmed Spearman-Karber. A. cepa (n=6) foram expostas às amostras na concentração de 100%, por 7 dias, à temperatura ambiente e ao abrigo da luz, utilizando-se água mineral como controle negativo (CN). A fitotoxicidade foi avaliada através da inibição do crescimento das raízes e da biomassa média. A análise estatística foi efetuada pelo teste ANOVA (Student-Newman-Keulls). Os resultados permitem demonstrar que as amostras de águas não tratadas (NT) apresentaram baixos valores de pH (3.70). Já na amostra tratada (T) foi observada a elevação do pH (8.59). Foi observada elevada toxicidade aguda em Artemia salina (CL50= 22,61%) sendo que após o tratamento não houve mortalidade para nenhuma concentração não sendo possível o calculo da CL50. No teste de fitotoxicidade em Allium cepa L. foi observada diferença significativa (p<0,001) no comprimento de raízes comparando o NT (0,41±0,26 cm) e o T (3,01±1,15 cm) com o CN. (7,41±1,16 cm). E uma diferença significativa (p<0,001) comparando o NT com o T. Para a biomassa média de raízes comparando-se ao CN (0,0507±0,0820 mg), o NT (0,0021±0,0014 mg) e o T (0,0057±0,0019 mg) apresentaram diferença significativa (p<0,01). Pode-se sugerir que o tratamento das amostras de água do Rio Carvão utilizando o rejeito piritoso calcinado foi eficaz na eliminação da toxicidade para Artemia salina. Porém para uma melhor avaliação da fitotoxicidade em Allium cepa L. seria necessário a realização de outros parâmetros físico-químicos. Palavras-chave: Rio Carvão. Drenagem ácida de mina. Rejeito de Mineração de Carvão. Artemia salina, Allium cepa L.. 8 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1: Microcrustáceo Artemia sp. Fonte: Kribensis ............................................. 19 Figura 2: Rio Carvão - Município de Urussanga. (FOTO: autor) ............................... 22 Figura 3: Esquema simplificado da preparação e execução do Teste de toxicidade aguda com Artemia sp. Fonte: Adaptado de BORTOLOTTO, 2007. ......................... 24 Figura 4: Esquema simplificado da preparação e execução Teste de inibição do crescimento de raízes em Allium cepa L. Fonte: Adaptado de BORTOLOTTO, 2007 .................................................................................................................................. 25 Figura 5: Toxicidade aguda em Artemia sp. expostos a diferentes concentrações de amostra de água do Rio Carvão não tratado (NT) e tratado (T) com rejeito piritoso calcinado. .................................................................................................................. 27 Figura 6: Comprimento de Raiz (cm) em controle negativo (CN), não tratado (NT) e tratado (T) com rejeito piritoso calcinado. ***(p<0,001), Diferença significativa comparada ao controle negativo. ###(p<0,001), diferença significativa comparada ao NT. ....................................................................................................................... 28 Figura 7: Biomassa média em controle negativo (CN), não tratado (NT) e tratado (T) com rejeito piritoso calcinado. **(p<0,01), Diferença significativa comparada ao controle negativo. ...................................................................................................... 28 9 LISTA DE TABELA Tabela 1: Resultado da análise do pH antes e após tratamento com rejeito piritoso calcinado. .................................................................................................................. 26 10 LISTA DE ABREVIATURA E SIGLAS Al – Alumínio ANOVA – Análise de Variância CL50 – Concentração Letal Média Cu – Cobre CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente DAM – Drenagem ácida de Mina Fe – Ferro Mn – Manganês NT – Não tratado Pb – Chumbo T- Tratado UNESC- Universidade do Extremo Sul Catarinense Zn – Zinco 11 Sumário 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 13 2 OBJETIVOS ........................................................................................................... 15 2.1 Objetivo geral ...................................................................................................... 15 2.2 Objetivos Específicos .......................................................................................... 15 3.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ................................................................................... 16 3.1 Atividades de mineração de carvão e geração de contaminantes ambientais .... 16 3.2 Uso do rejeito de mineração de carvão para a remediação das águas contaminadas por drenagem acida de mina ............................................................. 17 3.3 Bioindicadores ..................................................................................................... 18 3.3.1 Artemia sp. ....................................................................................................... 19 3.3.2 A. cepa ............................................................................................................. 20 3.4 Efeitos Biológicos ................................................................................................ 20 3.4.1 Toxicidade Ambiental ....................................................................................... 21 4 METODOLOGIA..................................................................................................... 22 4.1 Coleta de água do Rio Carvão ............................................................................ 22 4.2 Coleta e Calcinação do rejeito piritoso ................................................................ 22 4.3 Tratamento da água do Rio Carvão .................................................................... 23 4.4 Análise do pH ...................................................................................................... 23 4.5 Toxicidade aguda em microcrustáceos Artemia sp. ............................................ 24 4.6 Avaliação da fitoxicidade em Allium cepa L......................................................... 24 4.7 Análise estatística ............................................................................................... 25 5 RESULTADOS ....................................................................................................... 26 5.1 Análise do pH ...................................................................................................... 26 5.2 Toxicidade aguda em microcrustáceos Artemia sp. ............................................ 26 5.3 Avaliação da fitoxicidade em Allium. cepa L........................................................ 27 6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 29 12 7 CONCLUSÃO......................................................................................................... 32 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 33 13 1 INTRODUÇÃO Uma das principais atividades econômicas da região Sul do Estado de Santa Catarina é a exploração do carvão mineral. Provocando assim sérios problemas ambientais principalmente por gerar contaminantes potencialmente tóxicos. Dentre os contaminantes provenientes da atividade carbonífera, encontramse as drenagens ácidas de mina de carvão (DAM), as quais possuem acidez elevada e uma grande concentração de metais (GOULARTI-FILHO, 2002; GEREMIAS; PEDROSA; BENASSI, 2003). Estes compostos químicos provocam toxicidade em sistemas biológicos, o que pode comprometer o ecossistema exposto aos mesmos, havendo, por isso a necessidade de se implementarem processos de tratamento destas fontes de contaminação ambiental (ANTONELLI, 2005). Outro fator de impacto ambiental relacionado com a mineração do carvão é a poluição dos mananciais hídricos, das regiões próximas às minas de carvão, onde o mineral é explorado. Já no solo os impactos podem ser vistos pela destruição da biota local, erosões e deposição de rejeitos (BITAR, 1997). Sendo fundamental para a sobrevivência humana, a água pode ser citada como um dos mais importantes recursos existentes, necessária para a realização de inúmeros afazeres cotidianos. As atividades humanas exigem uma utilização cada vez maior dos recursos hídricos, tornando estes vulneráveis à degradação (MOTA, 1995; KNIE; LOPES, 2004). Apesar de ser uma atividade geradora de lucros, a exploração ilimitada do carvão no passado, resultou em preocupação para os sistemas ambientais. A exploração do carvão ocasionou uma redução da qualidade de vida e prejuízos ecológicos tanto para a região carbonífera quanto para as regiões vizinhas (CREPALDI, 1992). A região do extremo sul de Santa Catarina é conhecida como Bacia Carbonífera, nela encontra-se a Bacia Hidrográfica do Rio Urussanga. Esta bacia estende-se por 9 municípios (Criciúma, Cocal do Sul, Içara, Jaguaruna, Morro da Fumaça, Pedras Grandes, Sangão, Treze de Maio e Urussanga), totalizando uma superfície de 580 Km2. É considerada a menor bacia da região do extremo sul 14 catarinense, sendo formada pela junção do Rio Carvão e Rio Maior. (Disponível em http://hidroweb.ana.gov.br/cd3/sc.doc). Atualmente, a região é considerada uma das mais críticas ambientalmente, em vista do avanço da extração de carvão mineral, cuja atividade vem comprometendo a qualidade de suas águas, tornando-as impróprias para uso, além de danos ambientais decorrentes da deposição inadequadas de rejeitos de mineração de carvão (GEREMIAS, 2009). Um corpo hídrico muito afetado, mas pouco estudado é o Rio Carvão localizado no município de Urussanga-SC, onde sua poluição é resultante principalmente, da carga de acidez lançada no rio, através das drenagens ácidas de mina e consequentemente contaminação por metais pesados e por compostos orgânicos. Trabalhos na literatura têm descrito o uso do rejeito de mineração para o tratamento de DAM, tendo-se sugerido que o rejeito poderia ser utilizado como uma alternativa de remediação da drenagem e de águas atingidas por efluentes da atividade carbonífera. Sabe-se que o rejeito piritoso é depositado no ambiente de forma inadequada (GEREMIAS et al., 2008). É importante o uso de ensaios de toxicidade dos danos gerados pela mineração ao Rio Carvão, bem como, o resultado do tratamento da água com o rejeito piritoso calcinado. Tem-se indicado ensaios de toxicidade aguda usando organismos bioindicadores como microcrustáceos Artemia sp. por ser um ensaio simples, de baixo custo e de curta duração. Toxicidade aguda ocorre quando os efeitos tóxicos são gerados por uma única ou por várias exposições a uma substância, por um determinado tempo, sendo que os resultados ocorrem em um breve período. Este teste demonstra ser muito eficaz para determinação da ecotoxicidade (GEREMIAS et al., 2008). O vegetal Allium cepa L., tem sido empregado em ensaios ecotoxicológicos, uma vez que é um teste simples, rápido e de fácil verificação dos resultados. Trabalhos na literatura têm descrito o uso de A. cepa. em ensaios de toxicidade em que são avaliados, a fitotoxicidade (inibição de crescimento de raízes e biomassa média) quando expostas a efluentes (BENASSI, 2004). 15 2 OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral Avaliar a toxicidade das águas do Rio Carvão antes e após o seu tratamento com rejeito piritoso calcinado, utilizando-se organismos bioindicadores. 2.2 Objetivos Específicos Determinar o pH das águas do Rio Carvão antes e após o tratamento com rejeito piritoso calcinado. Avaliar a toxicidade aguda das águas do Rio Carvão, antes e após tratamento com rejeito piritoso calcinado, utilizando microcrustáceo Artemia salina. Avaliar a fitotoxicidade, antes e após tratamento com rejeito piritoso calcinado, utilizando o organismo bioindicador Allium cepa L. Avaliar a possível utilização do rejeito piritoso calcinado como uma alternativa de tratamento para as águas do Rio Carvão. 16 3.REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 3.1 Atividades de mineração de carvão e geração de contaminantes ambientais O inicio das atividades carboníferas no estado de Santa Catarina deu-se no final do século XIX sendo que hoje o Estado é considerado, um dos maiores produtores de carvão mineral do Brasil (SIECESC, 2002). O carvão é um mineral originado da carbonização de restos vegetais (INAMPS, 1988). Sua extração pode ser feita no subsolo ou a céu aberto, ocasionando problemas ambientais, pois, ambos os processos alteram a estrutura natural do meio (CAMPOS, 2003). Com a exploração do carvão a região teve um avanço no desenvolvimento sócio-econômico. Contudo o meio ambiente sofreu grandes impactos, comprometendo a qualidade de vida na região gerando contaminantes ambientais como a drenagem ácida de mina e rejeitos de mineração, os quais comprometem o solo e a qualidade hídrica do meio próximo a estas mineradoras afetando a fauna e a flora presentes neste local (CASSEMIRO, 2004). Impacto ambiental pode ser definido como qualquer mudança das propriedades biológicas, físicas e químicas do meio ambiente resultante de atividades humanas que, de qualquer forma, afetem a biota; a saúde da população e a qualidade dos recursos ambientais (Resolução do CONAMA n.º 01 de 23/01/86). Um dos maiores problemas ambientais da indústria de mineração a nível mundial (com poluição de solos e águas) é a Drenagem Ácida de Mina (DAM), ela é gerada pela oxidação da pirita e a formação de ácido sulfúrico, sulfato e íons ferroso e férrico, catalisados principalmente pelas espécies bacterianas Thiobacillus ferrooxidans e Thiobacillus denitrificans (RUBIO, 1998a, 1998b). A geração mensal de rejeitos oriundos da extração de carvão são altamente poluidores do ambiente, uma vez que são descartados em pilhas de rejeito de forma inadequada, e quando entram em contato com água e ar provocam a lixiviação das pilhas, gerando a DAM (MADEIRA et al., 2005). 17 A poluição hídrica causada pela drenagem ácida é o impacto mais significativo das operações de mineração e beneficiamento do carvão mineral na região carbonífera de Santa Catarina. Essa poluição ocorre através da infiltração da água de chuva sobre dos rejeitos gerados nas atividades de lavra e beneficiamento, que alcançam os corpos hídricos superficiais e/ou subterrâneos. Essas águas adquirem baixos valores de pH (< 3), altos valores de ferro total, sulfato total e vários outros elementos tóxicos que impedem a sua utilização para qualquer uso, destruindo a biota aquática (IBAMA, 2006). Na primeira etapa da reação de formação da drenagem, quando exposta ao ar e à água, a pirita é oxidada e dissociada, liberando Fe2+ e ácido sulfúrico. A segunda etapa envolve a oxidação de Fe2+ para Fe3+, o qual depende do pH. Posteriormente, o terceiro passo está relacionado com a hidrólise do Fe3+ em presença de água, formando um precipitado de hidróxido férrico e conseqüentemente acidez adicional, promovida pela reação dependente do pH. Por fim a reação é caracterizada pela oxidação adicional da pirita promovida pelo Fe3+ (RIOS, WILLIAMS, ROBERTS, 2008). Não só o ferro, mas outros metais como zinco, cobre, manganês e chumbo, quando associados a minerais com alta massa vulcânica e em minerais sulfetados, são capazes de serem solubilizados e lixiviados nas DAM, em virtude dos baixos valores de pH do meio, com alta concentração destes elementos nas mesmas (SASOWSKY et al., 2000). 3.2 Uso do rejeito de mineração de carvão para o tratamento das águas contaminadas por drenagem acida de mina Não só a drenagem ácida, mas os rejeitos de mineração também constituem um dos principais impactos decorrentes da atividade carbonífera. Dentre as alterações ambientais ocasionadas pelos rejeitos pode-se citar o impacto visual, erosão, emissão de gases no ar, aumento da turbidez de corpos d’água, geração de drenagem ácida, contaminação dos recursos hídricos e comprometimento da qualidade de vida da população que vive perto da região mineradora (BITAR, 1997). 18 Trabalho na literatura tem descrito o uso de óxidos de metais obtidos pela calcinação do rejeito piritoso para o tratamento da DAM, sendo observado que o rejeito calcinado provocou a redução da acidez da DAM, removendo os metais presentes no meio. Sendo proposto que os óxidos de metais seriam capazes de atuar como adsorvente de H3O+, o qual provoca a elevação do pH com a precipitação e remoção de metais, além de os mesmos poderem ser adsorvidos em decorrência da presença de cargas superficiais (GEREMIAS et al., 2008). Desta forma pode-se observar que um destino apropriado para o rejeito de mineração e o tratamento da DAM é de grande importância para as águas do Rio Carvão, sendo este bastante contaminado. 3.3 Bioindicadores Bioindicador é aquele organismo animal ou vegetal sensível à poluição. Estes indivíduos ou comunidades biológicas, quando expostos a alguma alteração no ambiente, podem reagir alterando seus processos vitais, fornecendo respostas do tipo bioquímica, fisiológica, genética entre outras. Sua indicação também pode ser feita através do acúmulo do poluente no seu sistema (LARCHER, 2000). Com o conhecimento da toxicidade é possível controlar a exposição do homem e outros organismos a agentes químicos contaminantes, protegendo-os dos riscos potenciais. Para melhor avaliar a qualidade das águas do Rio Carvão e a eficácia da remedição, foram feitos testes de toxicidade. Os testes de toxicidade aquática têm sido cada vez mais utilizados para a determinação de efeitos nocivos em virtude do risco da transferência de poluentes do ambiente para os organismos. Para este propósito, tem-se indicado testes de toxicidade aguda em microcrustáceos (ex: Artemia sp. (SVENSSON et al., 2005) e subaguda em vegetais (ex: Allium cepa L.), (ARAMBASIC; BJELIC; SUBAKOV, 1995) além de outros organismos. 19 3.3.1 Artemia salina Este bioindicador da classe Crustácea e família Artemiidae, é um microcrustáceo zooplanctônico de águas salgadas que vive em praticamente todos os ambientes marinhos da Terra. (GRINEVICIUS, 2006). A Artemia sp.(Figura 1) é reconhecida como organismo-teste e é amplamente indicada para testes toxicológicos pois possui uma elevada sensibilidade, gerando resposta biológica rápida. É também um organismo de fácil manutenção, eclosão e boa reprodução em laboratório e seus procedimentos são simples e de baixo custo. Seu ciclo de vida se inicia pela eclosão de cistos, estes, podem permanecer no estado dormente por longos anos, desde que mantidos longe da umidade. Quando os cistos entram em contato com a água salgada, eles se hidratam reassumindo o seu desenvolvimento. (VILLARROEL et al., 2003; GRINEVICIUS, 2006, GOMES, 1986). Este ensaio de letalidade permite uma rápida avaliação da toxicidade ambiental, no qual é verificada a morte ou a vida dos náuplios através da sua imobilidade. O teste dos efeitos causados sobre o organismo é feito através da exposição do organismo-teste ás várias concentrações do efluente ou substância potencialmente tóxica a ser estudada, por um curto espaço de tempo (AZEVEDO; CHASIN, 2003). Figura 1: Microcrustáceo Artemia sp. Fonte: Kribensis 20 3.3.2 Allium cepa L. A espécie Allium cepa L., popularmente conhecida como cebola, pertence à ordem Liliales e família Alliaceae (SOUZA; LORENZI, 2005). Esta planta tem sido muito utilizada como organismo bioindicador em ensaios ecotoxicológicos na avaliação da toxicidade de diversos ambientes (ARAMBASIC; BJELIC; SUBAKOV, 1995; JARDIM, 2004). A vantagem da escolha deste organismo vegetal deve-se ao baixo custo, fácil cultivo, grande disponibilidade durante todo o ano e possibilidade de ser usado tanto em testes de toxicidade aguda quanto crônica, em condições laboratoriais ou mesmo em campo (FISKEJO, 1985). O parâmetro mais analisado é a fitotoxicidade, onde se observam a inibição do crescimento da raiz ou a não germinação de suas sementes, quando expostas a uma substancia poluente. Este teste é rápido e de fácil execução e tem como principio determinar a qualidade ambiental. (BENASSI, 2004). 3.4 Efeitos Biológicos O biomonitoramento é realizado principalmente através da aplicação de diferentes protocolos de avaliação, índices biológicos e multimétricos, tendo como base a utilização de bioindicadores de qualidade de água e hábitat. Uns dos principais métodos envolvidos abrangem o levantamento e avaliação de modificações na riqueza de espécies e índices de diversidade; perda de espécies sensíveis; sensibilidade a concentrações de substâncias ecotoxicológicos), entre outros (BARBOUR et al., 1999). tóxicas (ensaios 21 3.4.1 Toxicidade Ambiental Toxicologia ambiental é definida como a ciência que estuda os efeitos adversos causados aos organismos vivos pelas substâncias químicas no ambiente. Ultimamente utiliza-se a expressão toxicologia ambiental somente para os estudos dos efeitos diretos das substâncias químicas sobre os seres humanos (HODGSON; LEVI, 1997). Dentro da toxicologia, tem-se a ecotoxicologia que detecta a ação de substâncias nocivas ou tóxicas para os diversos organismos de um ecossistema (KNIE; LOPES, 2004). A toxicologia ambiental tem como objetivo detectar a concentração entre organismos biológicos e as complexas misturas de poluentes aos quais estão expostos. A exposição do organismo ao agente químico implica em efeitos adversos que podem ser: alteração no consumo de alimentos, variação do peso corpóreo, de órgãos ou de níveis enzimáticos, ou a letalidade (BARROS; DAVINO, 2003). Os testes de toxicidade podem ser classificados como agudos ou crônicos baseados na diferença da duração e das respostas do teste proposto. Os testes agudos são utilizados para avaliar os efeitos de agentes tóxicos sobre espécies aquáticas em um curto período, em relação ao tempo de vida do organismo bioindicador. Esses testes demonstram a concentração do tóxico capaz de causar respostas específicas mensuráveis do organismo (GHERARDI-GOLDSTEIN et al, 1990). Segundo a Resolução do CONAMA nº 357 (BRASIL, 2005) esses testes podem ser aplicados como, por exemplo, para o monitoramento de efluentes liquido sendo uma avaliação, contínua ou periódica, de parâmetros de qualidade de água. 22 4 METODOLOGIA 4.1 Coleta de água do Rio Carvão As amostras de água (5L) foram coletadas em frascos de polietileno no município de Urussanga/SC em específico no Rio Carvão (Figura 2), as quais foram mantidas sob refrigeração (4°C) para posteriores ensaios de toxicidade sobre tratamento e os organismos bioindicadores. Figura 2: Rio Carvão - Município de Urussanga. (FOTO: autor) 4.2 Coleta e Calcinação do rejeito piritoso O rejeito em estudo classifica-se como Carbonoso, conforme informação prestada pela mineradora, este, foi coletado em pilhas de rejeitos presentes em empresa mineradora da região carbonífera de Criciúma, resguardando-se em sigilo o nome da mineradora. As amostras foram peneiradas, para a obtenção do rejeito mais homogêneo. Os rejeitos foram calcinados em mufla a 800oC por uma hora e 23 posteriormente armazenados em frascos de polietileno, em temperatura ambiente até os ensaios. 4.3 Tratamento da água do Rio Carvão Cada 50mL de amostra de água do Rio Carvão, foi tratada com 2g de rejeito piritoso calcinado, sob agitação, por 48 horas, em temperatura ambiente. Ao final do tratamento, a amostra foi decantada depois filtrada e armazenada sob refrigeração para posteriores ensaios. Antes a após o tratamento é determinado o pH da amostra. 4.4 Análise do pH A avaliação do pH da amostra foi realizada no laboratório de Bioquímica da UNESC. O pH foi determinado por potenciometria utilizando um pHmetro previamente calibrado com soluções padrões de pH 4,0 e 7,0. Os dados obtidos foram comparados entre si, com ensaios de toxicidade e com os valores máximos permitidos pela legislação Ambiental de Santa Catarina – Decreto nº 14250 de 05 de junho de 1981, Art. 19 – Emissão de Efluentes Líquidos (SANTA CATARINA, 1981). 24 4.5 Toxicidade aguda em microcrustáceos Artemia sp. Foram incubados cistos de microcrustáceo Artemia salina durante 24 horas em solução de sal marinho sintético (30g/L), com iluminação e aeração constante. Após a eclosão foram expostos 40 microcrustáceos por 24 horas a 2mL de amostra de água diluída em solução de sal marinho sintético, em placas mulltiwel, a 25oC e ao abrigo da luz. As concentrações testadas variam de 0 a 100%. Ao final da exposição, foi realizada a contagem de indivíduos mortos e determinada a concentração letal média (CL50), definida como a concentração na qual ocorre a mortalidade em 50% dos organismos (SVENSSON et al., 2005). Figura 3: Esquema simplificado da preparação e execução do Teste de toxicidade aguda com Artemia sp. Fonte: Adaptado de BORTOLOTTO, 2007. 4.6 Avaliação da fitoxicidade em Allium cepa L. Os bulbos de cebola foram adquiridos comercialmente em supermercados e mantidos em local livre de umidade e ao abrigo da luz. 25 Foram removidas as raízes envelhecidas do A. cepa. L. com um bisturi, logo após foi feita a exposição a 50 mL de água do Rio Carvão não tratada e tratada com o rejeito piritoso calcinado, tendo à água mineral como controle negativo, em tubos falcon, por sete dias, em temperatura ambiente, sendo que estas amostras foram completadas diariamente. Ao final da exposição, foi determinado comprimento das raízes e a biomassa média das raízes. Figura 4: Esquema simplificado da preparação e execução Teste de inibição do crescimento de raízes em Allium cepa L. Fonte: Adaptado de BORTOLOTTO, 2007 4.7 Análise estatística Para o cálculo da CL50 do teste de toxicidade aguda em Artemia salina foi empregado o método matemático Trimmed Spearman-Karber (HAMILTON et al., 1977), utilizando-se programa Probitos., e para a construção dos gráficos foi utilizado o software GraphPad Prism 5.0 (GraphPad Inc. San Diego, CA, USA). Para o teste de fitotoxicidade em A. cepa a análise dos resultados foram efetuadas através de Análise de Variância (ANOVA), completada pelo teste StudentNewman-Keuse, também utilizando-se o software GraphPad Prism 5.0 (GraphPad Inc. San Diego, CA, USA), admitindo-se um nível de significância de *(p<0,05), **(p<0,01) e ***(p<0,001). 26 5 RESULTADOS 5.1 Análise do pH Resultados obtidos na análise do pH das amostras NT e T, em comparação com os níveis máximos estabelecidos pela Legislação Ambiental de Santa Catarina – Decreto nº 14250 de 05 de junho de 1981, Art. 19 – Emissão de Efluentes Líquidos (Estado de Santa Catarina, 1981), no qual determina que o pH deve estar entre 6,0 a 9,0 para ser lançado nos corpos de água. Observou-se que após o tratamento com rejeito piritoso calcinado, o pH da amostra de água do Rio Carvão aumentou de 3,70 (NT) para 8,59 (T) estando dentro do intervalo sugerido pela legislação ambiental. Sendo constatado que o tratamento com rejeito piritoso calcinado foi eficaz para a elevação do pH da amostra. Tabela 1: Resultado da análise do pH antes e após tratamento com rejeito piritoso calcinado. pH da amostra Não tratada (NT) Tratada (T) 3,70 8,59 5.2 Toxicidade aguda em microcrustáceos Artemia sp. Os resultados referentes aos testes de toxicidade aguda com Artemia sp. expostos às diferentes diluições (12.5; 14.5; 16.5; 18.5; 20.5; 25; 35; 45; 50; 100%) das amostras de água não tratadas e tratadas, são apresentados na figura 5. Para o controle negativo utilizou-se apenas água salina (sal marinho sintético a 30 g.L-1), na qual todos microcrustáceos sobreviveram durante a realização do experimento. Na toxicidade em Artemia salina observou-se que a partir da concentração 25% NT, o índice de mortalidade chegou a 100%, mantendo-se constante até o final das concentrações testadas. Através do método de Trimmed 27 Spearman-Karber calculou-se a CL50 do NT, que foi estimada em 22,61%. Sendo que após o tratamento com rejeito piritoso calcinado não houve mortalidade para nenhuma das concentrações não sendo possível o calculo da CL 50. Figura 5: Toxicidade aguda em Artemia sp. expostos a diferentes concentrações de amostra de água do Rio Carvão não tratado (NT) e tratado (T) com rejeito piritoso calcinado. 5.3 Avaliação da fitoxicidade em Allium cepa L. O resultado obtido no ensaio fitotoxicológico utilizando o bioindicador Allium cepa L. no parâmetro inibição do crescimento de raiz (Figura 6) mostrou que o não tratado apresentou diferença significativa (p<0,001) em relação ao CN. Porém, após o tratamento as águas também apresentaram diferença significativa (p<0,001) em relação ao CN. Ao comparar o T com o NT houve uma diferença significativa de (p<0,001). Portanto para esse parâmetro pode-se observar que houve uma suposta redução na toxicidade. 28 Figura 6: Comprimento de Raiz (cm) em controle negativo (CN), não tratado (NT) e tratado (T) com rejeito piritoso calcinado. ***(p<0,001), Diferença significativa comparada ao controle negativo. ###(p<0,001), diferença significativa comparada ao NT. Para o resultado da biomassa média de raízes (Figura 7) obtidos através do teste de fitotoxicidade, indica que comparando-se ao controle negativo, o não tratado e o tratado apresentaram diferença significativa (p<0,01). Figura 7: Biomassa média em controle negativo (CN), não tratado (NT) e tratado (T) com rejeito piritoso calcinado. **(p<0,01), Diferença significativa comparada ao controle negativo. 29 6 DISCUSSÃO Estudo feito na região carbonífera de Criciúma/SC, foi constatado expressiva mortalidade em Artemia sp. expostas à DAM de subsolo (CL50 = 3,1%), a efluente de infiltração de bacias de decantação (CL50 = 6,7%), e também, às águas de rio atingidas pelos efluentes de mineração de carvão (CL 50 = 2,5%), sendo sugerido que a toxicidade seria decorrente da acidez e da grande presença de íons de metais como Fe, Zn, Cu, Pb e Mn nas amostras (GEREMIAS et al., 2003). Em estudo realizado por Hadjispyrou e colaboradores (2001) também foi constatada toxicidade de metais observando mortalidade em Artemia franciscana quando expostas à solução de cádmio e cromo hexavalente. Silva (2002) realizou testes de toxicidade aguda em amostras de percolado do Aterro Metropolitano de Gramacho (RJ) em duas amostragens, utilizando o organismo Artemia sp. Foi observada toxicidade aguda nas duas amostragens (CL50 25,58 % e CL50 11,89 %), respectivamente). O autor sugeriu que a alta concentração da amônia e a alcalinidade seriam um dos fatores mais importantes que contribuíram para a toxicidade do percolado, além da presença de metais pesados. Ambientes aquáticos de baixo pH e com grande concentração de metais são capazes de provocar efeitos deletérios e até a morte da biota local (RIDGE, 1998). Sugerindo que, a toxicidade das amostras de água em estudo poderia estar associada à sua expressiva acidez e elevada concentração de metais. Portanto pode-se observar que o tratamento das amostras de água provocou a elevação do pH além da suposta remoção dos metais comumente encontrados em efluentes de mineração no caso a DAM, o que possivelmente resultou na eliminação da toxicidade sobre o organismo Artemia salina. Mesmo que o valor da CL50 seja vantajoso, as concentrações não tóxicas do teste de toxicidade aguda podem se tornar tóxicas quando houver um período maior de exposição a outro tipo de bioindicador, como em Allium cepa L. (JARDIM, 2004). Para Jardim (2004), avaliar o crescimento das raízes de plantas tornou-se vantajoso para a detecção de fontes poluidoras do solo e da água, já que as raízes 30 são os primeiros órgãos a ficarem expostos aos contaminantes dispersos. Fiskesjö (1993) apresentou resultados referentes à inibição do crescimento de A. cepa quando expostas a amostra de rio a montante e a jusante de atividade industrial, e nitidamente ocorreu a redução das raízes no ponto a jusante. Teixeira et al. (2006) também demonstraram em seus estudos que os resíduos industriais e provenientes da mineração causaram uma diminuição do crescimento das raízes expostas, demonstrando uma redução significativa do crescimento em relação ao controle. Smaka-Kincl e colaboradores (1996) utilizaram o teste de inibição do crescimento de raiz, para avaliar sete amostras de água com diferentes níveis de poluição. Os resultados mostraram que as cebolas expostas à amostra de água com maior toxicidade apresentaram inibição no crescimento de raiz maior que 50%. Ao analisarem a inibição do crescimento de raiz de cebolas expostas a amostras com diferentes contribuições, Smaka-Kincl e colaboradores (1996) encontraram uma boa semelhança entre o grau de inibição do crescimento e o tipo de poluente que o corpo d’água recebe. Rank e Nielsen (1998) analisaram a inibição do crescimento de raiz de cebolas expostas a diferentes concentrações de lodo de esgoto doméstico obtido de 3 estações de tratamento. Após exposição de cinco dias foi determinada a concentração de lodo capaz de inibir em 50% o crescimento das raízes. Os autores encontraram uma boa analogia entre o grau de inibição do crescimento e a concentração de metais. Neste caso, a maior inibição do crescimento de raiz ocorreu na amostra que apresentava a maior concentração de metais pesados. Trabalho na literatura com drenagem ácida de mina (DAM) de lixiviação de carvão, também avaliado o potencial de inibição de crescimento de raiz em A. cepa, gerando inibição de 90% na concentração de 100% de DAM e inibição de 10% na concentração de 29%, quando comparados ao controle negativo. Este resultado foi gerado pela exposição à DAM sem o tratamento. Após o tratamento com microesferas de quitosana o processo foi revertido, obtendo-se resultados até melhores que os expostos ao controle negativo. (BENASSI, 2004). Oliveira e colaboradores (2006) citam que elevadas concentrações de metais em efluentes podem ocasionar sintomas de contaminação e provocar a inibição do crescimento do vegetal exposto, esta afirmação pode também estar relacionada com a elevada fitotoxicidade apresentada neste trabalho. 31 Pode-se observar que os óxidos de metais obtidos pela calcinação do rejeito piritoso foram capazes de atuar como adsorvente de H 3O+, o qual provoca a elevação do pH. Com o aumento do pH ocorreu a precipitação dos metais pesados presente no meio, favorecendo a diminuição da toxicidade (GEREMIAS et al., 2008). Portanto, pode-se sugerir que a fitotoxicidade encontrada para a inibição do crescimento de raízes e biomassa média antes do tratamento, pode estar associada à elevada acidez e a suposta presença de metais pesados. Porém o tratamento reduziu a fitotoxicidade, mas não a eliminou completamente como no teste de toxicidade aguda. Havendo a necessidade da avaliação de outros parâmetros físico-químicos para analisar a eficácia do rejeito piritoso calcinado como tratamento das águas atingidas por efluentes de mineração. 32 7 CONCLUSÃO . O pH das amostras de água do Rio Carvão aumentou após o tratamento com rejeito piritoso calcinado, confirmando sua eficácia. . Os resultados de toxicidade aguda utilizando Artemia salina no NT demonstraram alta toxicidade a após o tratamento houve a eliminação da toxicidade. . A toxicidade das amostras de água NT mostrou-se extremamente elevada para Allium cepa, porem após o tratamento as águas também apresentaram diferença significativa em relação ao CN, sendo necessária a avaliação de outros parâmetros físico-químicos. . Os bioindicadores utilizados se mostraram apropriados para caracterizar a toxicidade das amostras avaliadas. O estudo demonstrou, porém, haver uma sensibilidade diferenciada entre os modelos. Neste caso, o teste de fitotoxicidade em Allium cepa L., mostrou uma sensibilidade que a Artemia salina não apresentou após o tratamento. . A partir dos resultados, pode-se sugerir novos estudos com rejeito piritoso calcinado como alternativa de tratamento das águas contaminadas por efluentes de mineração, e também uma utilidade econômica a ele. 33 REFERÊNCIAS ANTONELLI, P. J. Avaliação da toxicidade de efluentes de mineração de carvão antes e após a sua remedição, utilizando-se parâmetros físico-químicos e bioindicadores. Criciúma, SC: UNESC, 2005. 35 f. ARAMBASIC, M. B.; BJELIC, S.; SUBAKOV, G. Acute toxicity of heavy metals (copper, lead, zinc), phenol and sodium on Allium cepa L., Lepidium sativum L. and Daphnia magna St.: comparative investigation and the practical applications. Water Research, v. 29, n. 2, p. 497-503, 1995. AZEVEDO, F. A.; CHASIN, A. A. M. da. As bases toxicológicas da ecotoxicologia. São Carlos: Rima, 2003. 340p. BARBOUR, M. T.; GERRITSEN, J.; SNYDER, B. D. & STRIBLING, J. B. Rapid Bioassessment Protocols for Use in Streams and Wadeable Rivers: Periphyton, Benthic Macroinvertebrates and Fish. 2ª Ed. Washington, DC: Environmental Protection Agency, 1999 BARROS, S. B. M. DAVINO, S. C. Avaliação da toxicidade; IN: OGA, S. organizador. Fundamentos de toxicologia. 2 ed. São Paulo: Atheneu Editora, 2003. BENASSI, J.C. O uso de bioindicadores e biomarcadores na avaliação do processo de remediação de percolado de lixiviação de carvão mineral utilizando microesferas de quitosana. 2004. 106 f. Dissertação (Mestrado) Universidade Federal De Santa Catarina, Florianópolis, 2004. BITAR, O.Y. Avaliação da recuperação de áreas degradadas por mineração na região metropolitana de São Paulo. Tese de Doutorado em Engenharia Mineral, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, São Paulo, 1997. 193 f. BORTOLOTTO, T. Avaliação da atividade tóxica e genotóxica de percolados do aterro sanitário municipal de sombrio, Santa Catarina, utilizando Artemia sp. e Allium cepa L. 2007. 79 f. Trabalho de Conclusão de Curso, Universidade do Extremo Sul Catarinense, Criciúma, 2007. BRASIL-CONAMA, CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE. Resolução nº 357, de 17 de março de 2005. Dispõe sobre a classificação dos corpos de água e diretrizes ambientais para o seu enquadramento, bem como estabelece as condições e padrões de lançamento de percolados, e dá outras providências, 2005. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res05/res35705.pdf>. Acesso em: agosto 2010. CAMPOS, M. L. et al. Avaliação de três áreas de solo construído após mineração de carvão a céu aberto em Lauro Muller, Santa Catarina. Revista Brasileira de Ciência do Solo, v. 27, p. 1123-1137, 2003. 34 CASSEMIRO, E; ROSA, L; CASTRO NETO, L. J. O Passivo Ambiental da Região Carbonífera do Sul de Santa Catarina. In: ENCONTRO NAC. DE ENG. DE PRODUÇÃO, 24, 2004, Florianópolis. Anais do XXIV Encontro Nacional de Engenharia de Produção Florianópolis: Núcleo Editorial da Associação Brasileira de Engenharia de Produção ABEPRO (NEA), 2004. p.7. CREPALDI, M. Degradação ambiental pela extração do carvão em Siderópolis, SC que pensam os alunos. Criciúma, SC: FUCRI, 1992. 42 p. CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: http://www.mma.gov.br/port/conama/res/res86/res0186.html. Acesso em: 20 jun. 2010. FISKESJÖ, G. The Allium test as a standard in environmental monitoring. Hereditas, v. 102, p. 99-112, 1985. FISKESJÖ, G. The Allium test. In: wastewater monitoring. Environ Toxicol Water Qual 8: 291-298, 1993. GEREMIAS, R; PEDROSA, R.C; BENASSI, J.C; FAVERE, V.T; STOLBERG, J; MENEZES, C.T.B; LARANJEIRA, M.C.M. Remediation of coal mining wastewaters using chitosan microspheres. Environ Technol. v. 24, p.1509-15, 2003. GEREMIAS, R.; LAUS, R.; MACAN, J.M; PEDROSA, R.C; LARANJEIRA, M.C.M; SILVANO, J.; FAVERE, V.T Use of Coal Mining Waste for the Removal of Acidity and Metal Ions Al (III), Fe (III) And Mn (II) in Acid Mine Drainage. Environmental Technology, Vol. 29. pp 863-86, 2008. GEREMIAS, R. Utilização de rejeito de mineração de carvão como adsorvente para redução da acidez e remoção de íons de metais em drenagem ácida de mina de carvão. 2009, 121 p. Tese (Doutorado em Química), Programa de Pós Graduação em Química da Universidade Federal de Santa Catarina, Florianópolis. GHERARDI-GOLDSTEIN, E. et al. Procedimentos para Utilização de Testes de Toxicidade no Controle de Efuentes Líquidos. Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (CETESB): São Paulo, 1990. GOES, R.C. Toxicologia industrial: um guia prático para prevenção e primeiros socorros. 250 p. ISBN 8573091339 GOMES, L. A. O Cultivo de crustáceos e moluscos. São Paulo: Nobel, 1986. 226 pág. GOULARTI-FILHO, A.; Formação Econômica de Santa Catarina. Florianópolis: Cidade Futura, 2002. 500 f. GRINEVICIUS, V. M. A. de S. Avaliação da remediação de efluentes de uma indústria têxtil utilizando bioindicadores e biomarcadores. 2006. 179 f. Dissertação (Mestrado) - Universidade Federal De Santa Catarina, Florianópolis, 2006. 35 HADJISPYROU, S.; KUNGOLOS, A.; ANAGNOSTOPOULON, A.; Toxicity, bioacumulation, and chromiun on artemia franciscana. Ecotoxicol. Environ. Saf. v. 49, p.179-86, 2001. HAMILTON, M. A. et al. Trimmed Sperman-Karber: Method for estimating median lethal concentrations in toxicity biossays. Environmental Science Technology, v. 11, p. 714-719, 1977. HODGSON, E.; LEVI, P. E. A Textbook of Modern Toxicology. 2.ed. Stamford: Appleton & Lange. 496 p. 1997. IBAMA. O estado dos subsolos. Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, 2006. Disponível em: http://www2.ibama.gov.br/~geobr/Livro/cap2/subsolos.pdf. Acesso em: 30 ago 2010. INAMPS - Instituto Nacional de Previdência Social. Impacto do processo produtivo da extração do carvão mineral na saúde humana e ambiental no município de Criciúma. Criciúma, SC:, 1988. 158 p. JARDIM, G. M. Estudos ecotoxicológicos da água e do sedimento do Rio Corumbataí, São Paulo. 2004. 138 f. Dissertação (Mestrado) - Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, Universidade de São Paulo, Piracicaba, 2004. KNIE, J. L. W.; LOPES, E. W. B. Testes ecotoxicológicos: métodos, técnicas e aplicações. Florianópolis: FATMA, 2004. 288 p. KRIBENSIS. Foto de Artemia sp. Disponível <http://www.kribensis.kit.net/conteudo/artemia.jpg> Acesso em: 10 set. 2010. em LARCHER, W. Ecofisiologia vegetal. São Carlos: RIMA. Trad. Carlos Henrique B. A. Prado. 2000. 531 p. MADEIRA, et al. Redução de sulfato na drenagem ácida de mina através de tratamento anaeróbio com bactérias redutoras de sulfato, In: XXI ENCONTRO NACIONAL DE TRATAMENTO DE MINÉRIOS E METALURGIA EXTRATIVA. Anais... Natal, 2005. MOTA, S. Preservação e conservação de recursos hídricos. 2. ed Rio de Janeiro: ABES, 1995. 187 p. OLIVEIRA, D. M. et. al. Fitorremediação: O estado da arte. Série Tecnologia Ambiental, Rio de Janeiro, v. 39, p. 49, 2006. RANK, J.; NIELSEN, M. H. Genotoxicity testing of wastewater sludge using the Allium cepa anaphase-telophase chromosome aberration assay. Mutation Research, v. 418, p. 113-119, 1998. 36 RIDGE, T.; SEIF, J.M. Coal mine drainage predicition an pollution prevention in Pennsylvania. Pennsylvania: Pennsylvania Department of Environmental Protection, 1998, 398 p. RÍOS, C.A., WILLIAMS C.D., ROBERTS, C.L.. Removal of heavy metals from acid mine drainage (AMD) using coal fly ash, natural clinker and synthetic zeolites. Journal of Hazardous Materials. v. 156, p. 23–35, 2008. RUBIO, J. Aspectos ambientais no setor minero-metalúrgico. Em: Capítulo 13 do livro “Tratamento de Minérios”; A.B. da Luz, M.V. Possa e S. L. de Almeida (Eds), CETEM-CNPq-MCT, p.537-570, 1998a. RUBIO, J. Environmental applications of the flotation process. Em: Effluent Treatment in the Mining Industry. 389 p. (S.H.Castro, F. Vergara and M. Sanchez, Eds), University of Concepción-Chile, Chapter 9, p.335-364, 1998b. SANTA CATARINA. Decreto n° 14.250 de 5 de junho de 1981. Regulamenta dispositivos da Lei nº 5.793, de 15 de outubro de 1980, referentes à proteção e a melhoria da qualidade ambiental. Lex: Diário oficial do Estado 09 de junho de 1981, Santa Catarina. SASOWSKY, I.D.; FOOS, A.; MILLER, C.M. Lithic controls on the removal of iron and remediation of acidic mine drainage. Water Res. v. 34, p. 2742-2746, 2000. SIECESC - SINDICATO DAS INDÚSTRIAS DA EXTRAÇÃO DE CARVÃO DO ESTADO DE SC. Carvão mineral: Dados estatísticos ano 2002. Disponível em: <http://www.siecesc.com.br/estatisticas/>. Acesso em: 30 ago 2010. SILVA, A. C. Tratamento do Percolado de Aterro Sanitário e Avaliação da Toxicidade. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ/COPPE. Rio de Janeiro, 79 p. 2002. SMAKA-KINCL, V. et al. The evaluation of waste and ground water quality using the Allium test procedure. Mutation Research, v. 368, p. 171-179, 1996. SOUZA, V. C.; LORENZI, H. Botânica sistemática: guia ilustrado para identificação das famílias de Angiospermas da flora brasileira, baseado em APG II. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2005. 640 p. SVENSSON, B.M.; MATHIASSON, L; MÅRTENSSON, L; BERGSTRÖM, S. Artemia salina as test organism for assessment of acute toxicity of leachate water from landfills. Environ Monit Assess. v. 102, p. 309-21, 2005. TEIXEIRA, G. et al. Utilização de organismos bioindicadores: Daphnia magna, Artemia sp e Allium Cepa para a avaliação da toxicidade aguda e subaguda de chorume domiciliar de aterro sanitário. In: VI Congresso da OIUDSMA: Organização Internacional de Universidades para o Desenvolvimento Sustentável e Meio Ambiente, 2006, Curitiba. Caderno de Resumos do VI Congresso da OIUDSMA, 2006. 37 VILLARROEL, M. J. et al. Acute, chronic and sublethal effects of the herbicide propanil on Daphnia magna. Chemosphere, v. 53, n. 8, p. 857-864, 2003.