Repensar a Prática Profissional em Educação Física Escolar: Uma Necessidade Emergente Prof. Edvaldo de Farias, MSc. Especialista em Educação Física Escolar Especialista em Gestão de Pessoas e Pedagogia Empresarial Mestre em Educação Professor e Pesquisador na Universidade Estácio de Sá/RJ Sócio-Diretor da Movimento Humano Treinamento & Desenvolvimento Quando dizemos que é necessário buscar uma linha filosófica de ação diante da prática pedagógica em Educação Física no contexto escolar não falamos da mera filosofia distanciada da realidade, mas sim de uma busca constante por uma prática profissional coerente com nossas convicções e com a realidade concreta de nossos alunos. Sabemos, pois, que é através da assunção de uma postura filosófica e politicamente coerente do professor que o aluno pode, em maior ou menor medida, desenvolver suas potencialidades em todas as dimensões humanas. Buscar uma postura coerente passa, ao nosso entender, por ter bem claro em nossos corações, mentes e em nossas práticas cotidianas qual perspectiva de mundo idealizamos, que projeto de sociedade desejamos ter e o quanto queremos contribuir para formar homens e mulheres, profissionais e cidadãos, numa sociedade da qual ele é ao mesmo tempo ator e autor, sendo assim ao mesmo tempo produto e agente de transformação. Mas de nada adianta ter tudo isso na cabeça, racionalmente estruturado, se no dia-a-dia das quadras e salas de aula, no contato direto com nossos alunos, não transformarmos esse desejo em realidade. Sabemos que educamos muito mais pelas ações que pelos discursos, embora infelizmente ainda pratiquemos muito pouco nosso discurso. Ainda assim estes alunos, sujeitos adultos deste novo século, com tudo o que tiver de positivo e negativo, continuam a nos observar, nos dando sempre (mas não eternamente!) a oportunidade de mostrá-los um “como, o que, pra que e porque fazer” já que estão em busca de referências que dêem direção ao seu agir pessoal e profissional, num momento brasileiro onde referências positivas já são por demais escassas. É necessário, por isso mesmo, despertar neles a necessidade de assumirem uma postura ao mesmo tempo pró-ativa, crítica e ética diante dos fatos e do mundo, pois o pleno exercício de suas opções pessoais e profissionais futuras, somente se transformará em realidade se puder contribuir para a formação de uma sociedade melhor. Desejamos em síntese, que este nosso aluno de hoje, homem ou mulher do amanhã, seja sujeito da transformação da realidade na qual estará inserido além da própria transformação como pessoa gerando ganhos qualitativos e quantitativos para uma sociedade evoluída tanto tecnologica quanto socialmente. Prof. Edvaldo de Farias, MSc. - CREF/RJ 2665 [email protected] - www.edvaldodefarias.com 1 Considerando a atividades corporais em sua perspectiva histórica, observa-se que o trabalho com o corpo esteve sempre subjacente a uma postura política e economicamente autoritária da sociedade brasileira. Esta perspectiva gerou, ao longo do tempo, um homem fragmentado, condicionado e conseqüentemente alienado do processo de construção da própria realidade. Formaram-se e formam-se ainda em nossas universidades atores ao invés de autores sociais providos, no máximo, de altos níveis de destreza operacional e performance técnica. Como educadores, que têm no movimento humano sua estratégia-chave de intervenção, somos obrigados hoje, mais do nunca, a romper este círculo vicioso que tem contribuído, via de regra, para uma ação reprodutora desta sociedade e de todas as suas mazelas, onde o resultado imediato é sempre mais importante do que o vir-a-ser, onde o descobrir-se e crescer na troca com o outro são peça de ficção. Dessa forma entendemos que é preciso transmitir aos nossos alunos, e com isso nos comprometermos, a resgatar o lado humano, social, lúdico e sadio das atividades corporais, para que incorporem as suas vidas, tanto dentro quanto fora da escola, de modo a criar uma percepção do movimento humano como fator de prazer e construção de uma outra realidade, diferente daquela onde somente os melhores têm o direito a continuar em um “jogo” que é excludente da maioria. Esta forma de expressão, dinâmica e mutidimensional por excelência, precisa ocorrer por intermédio do pleno exercício das emoções, num ambiente que lhes permita estabelecer relações de troca com a vida de maneira apaixonada, contribuindo assim para a formação do seu caráter e preparando-o para um convívio social tanto ético quanto saudável, no qual as pessoas sejam sempre o princípio e a medida de todas as coisas. No que diz respeito à relação professor/aluno entendemos que na interdependência no ato educativo, onde ambos estão inseridos no mesmo contexto de aprendizagem, o diálogo apresenta-se como a forma mais democrática de concretizar a prática pedagógica, sempre baseada na autoridade e não na superioridade. Ambos, professor e aluno precisam co-habitar um ambiente sadio, onde honestidade, respeito mútuo e compromisso social co-existam harmoniosamente, tendo como objetivo maior o crescimento de todas as pessoas envolvidas neste contexto. Portanto, entendemos que cabe ao professor, orientador e desencadeador da construção do saber, propiciar um ambiente agradável e capaz de favorecer não somente a assimilação de conteúdos mas também, e principalmente, o crescimento, a satisfação e a estimulação das pessoas para a auto-superação. No caso da Educação Física, atividade eminentemente ligada ao prazer e alegria, carecemos de uma reflexão sobre estratégias, métodos e posturas do professor que, ao descuidar-se, pode proporcionar ao aluno, mesmo de forma involuntária, situações frustrantes, ambientes hostis, autoritários e discriminadores. Estas Prof. Edvaldo de Farias, MSc. - CREF/RJ 2665 [email protected] - www.edvaldodefarias.com 2 sensações criam condições totalmente adversas à experimentação de movimentos livres e espontâneos e que assim sendo dificilmente fazem com que alunos sintam-se atraídos por vencer a complexa tarefa da aprendizagem pelo movimento, onde a cada momento temos que superar a nós mesmos em nossas limitações. Além de uma redefinição das posturas político-filosóficas do professor quem merece uma análise igualmente crítica são os conteúdos desse saber sistematizado e dos quais a escola é incumbida de preservar e transmitir, pois da mesma forma que as relações sociais sofrem constantes mudanças em função de diferentes determinantes, o conhecimento produzido pela humanidade encontra-se em constante transformação, a ponto da ciência ter como única certeza a mutabilidade e inconstância das coisas. Tal fato remete-nos à conclusão de que o homem, enquanto síntese de múltiplas possibilidades, constitui-se como arquiteto desse mundo por vir, portanto, arquiteto de sua própria história. Assim, é nossa função, enquanto educadores, facilitar ao aluno oportunidades capazes de proporcionar seu encontro com o mundo e consigo mesmo, tomando consciência do seu papel ativo no processo na construção da realidade, visando a transformação do que considera inadequado, em favor de novas necessidades individuais e coletivas. Este sujeito, que convive agora com uma estrutura de pensamento fundamentada na informática como recurso de aquisição e produção de conhecimento, nas múltiplas possibilidades da tecnologia da informação e na comunicação digital como ferramenta de poder, precisa estar inserido nesse contexto de forma verdadeiramente humana para que não se coisifique e perca a essência do ser humano que é. Precisamos, enquanto profissionais incumbidos de viabilizar a produção de conhecimento, oferecer ao nosso aluno um ensino que não se mostre fragmentado, em conteúdo ou em forma, estático e sem perspectiva de transformação. Em termos de atividades físicas entendemos ser de fundamental importância a abordagem corporal do movimento como um espaço de libertação do homem, onde realize e desenvolva suas potencialidades de criação e recriação a cada gesto, seja desportivo, seja simplesmente lúdico. Em síntese, a atitude de repensar as próprias posturas passa, necessariamente, pelo repensar da própria vida. O trabalho com educação não pode, sob o risco de ser banalizado em seus objetivos, ser encarado como sacerdócio. Deve ser visto como atividade de formação de consciências, delineamento de conceitos, visões de mundo e principalmente de um posicionamento claro diante da realidade. Na medida em que assumimos como nosso o papel de facilitar a aquisição dos conhecimentos historicamente produzidos pela humanidade, precisamos continuar simultaneamente sintonizados com a melhoria desta humanidade. Prof. Edvaldo de Farias, MSc. - CREF/RJ 2665 [email protected] - www.edvaldodefarias.com 3 Seja na Educação Física, ou em qualquer outra área do conhecimento, o trabalho docente precisa ser discutido não sob a ótica da vocação, mas sim da missão social. Esta missão, que não deve ser confundida com ação religiosa, somente tem sentido na medida em que o trabalho docente tenha sentido na vida de quem o pratica. É a sintonia entre os projetos de vida e profissional. É a disponibilidade corporal em falar de corpo e movimento ao mesmo tempo em que trabalha com o corpo e movimento dos alunos. É a necessidade de manter relações de afeto, respeito e sinceridade dentro de um acervo de múltiplas competências humanas, fazendo com que todas elas sejam visíveis a cada encontro entre professor e alunos. Conclusivamente, é a necessidade emergente da atividade docente constituir-se em um meio de celebração, realização e compromisso, consigo mesmo e com o mundo, a partir do qual, acreditamos, tudo fica muito mais fácil e dá mais sentido à vida. Novembro/2012 Prof. Edvaldo de Farias, MSc. - CREF/RJ 2665 [email protected] - www.edvaldodefarias.com 4