Postura investigativa no ensino superior1 Dagmar E. Estermann Meyer – UFRGS – PPGEDU e PPGCol Vou começar minha fala com uma sobreposição desordenada de fragmentos de textos muito diferentes entre si, porque a mistura que resulta dessa sobreposição me ajuda a situar, em um dado tempo e contexto, o tema que me foi proposto, com a abordagem que dele consegui fazer para a fala desta noite. 1) Partes da letra de uma música O homem chega, já desfaz a natureza Tira gente, põe represa, diz que tudo vai mudar O São Francisco lá pra cima da Bahia Diz que dia menos dia vai subir bem devagar E passo a passo vai cumprindo a profecia do beato que dizia que o Sertão ia alagar O sertão vai virar mar, dá no coração O medo que algum dia o mar também vire sertão (sobradinho – Sá e Guarabira) 2) Uma frase que tem ilustrado cartazes nas recentes manifestações que sacodem as ruas das cidades brasileiras Não estamos em ordem, mas estamos em progresso! 3) Trecho da crônica “Sobre o humanismo” de Luiz Fernando Veríssimo, publicada no Caderno Donna de 21 de julho “O que significa ser um humanista hoje? Ao contrário dos canibais, que sabem do que gostam, não temos muita certeza que a humanidade nos apeteça, depois de tudo que ela aprontou. Continuamos preferindo a lógica e a razão a qualquer tipo de superstição ou pensamento mágico, mas com a consciência de que cada vez mais humanos preferem o contrário. A divisão entre ricos e pobres aumenta, uma superprodução de alimentos convive com a fome endêmica no mesmo planeta há anos, a intransigência e o fanatismo religioso conflagram regiões inteiras. Tudo prova que o humanismo está 1 Conferência proferida no dia 31/07/13 na Capacitação para Professores e Tutores 2013/2: Postura Investigativa no Ensino Superior na Unisinos, São Leopoldo RS. 1 longe das sedes do poder e dos princípios da maioria. E muito longe de ser uma doutrina viável, ou mesmo um sonho para outro tempo”. Um excerto de um texto acadêmico sobre metodologias de pesquisas (pós-críticas) “... este nosso tempo vive mudanças significativas na educação porque mudaram as condições sociais, as relações culturais, as racionalidades. Mudaram os espaços, a política, os movimentos sociais e as desigualdades. Mudaram também as distâncias, as geografias, as diferenças e as identidades. Mudaram as pedagogias e as formas de ensinar e de aprender. Mudaram as estratégias de colonizar, de educar e de governar. Nesses novos mapas políticos e culturais” (Silva, 2003), mudaram as formas como vemos, ouvimos, sentimos, fazemos e dizemos o mundo. Mudaram nossas perguntas [...]. Mudaram os outros e mudamos nós” (Marlucy Paraíso, 2012, p. 26). Com estes excertos tento desenhar um pouco desse contexto histórico “em mudança” que estamos vivendo, no qual a universidade se insere, e ao qual pretende dar respostas e soluções. Para nós que habitamos as universidades, não é novidade ouvir, falar, ler e discutir esses cenários de crise do mundo atual: cenários de crises políticas, institucionais, organizacionais, epistemológicas, identitárias, morais, éticas, de autoridade, financeiras, do meio ambiente, do sistema de produção e dos processos de trabalho, de persistentes desigualdades sociais.... “não temos mais muita certeza se o que ai se definiu como humanismo ainda nos apetece’’... ecoa Veríssimo. Tais cenários estão intrinsecamente associados com um desenvolvimento espantoso das tecnologias de ponta, com modalidades de conforto sem precedentes, com possibilidades de consumo cada vez mais amplas e mais aceleradas de bens e serviços, também crescentemente descartáveis e substituíveis por outros muito mais atraentes, úteis e poderosos. Sob muitos aspectos, uma parcela da população do mundo, da qual nós aqui fazemos parte, está vivendo mais e está vivendo melhor. E todos almejam viver ainda mais e ainda melhor... parecia impossível mas “O humano chega, tira gente, põe represa, muda rio de lugar... diz que o sertão vai virar mar...” ecoa a música. Nesse contexto de crise, e naquilo que nos diz respeito, aqui, hoje, estão fortemente incluídos a crítica aos pressupostos da neutralidade da ciência, ao poder de verdade que se atribui ao conhecimento científico e sua superioridade relativamente a outros tipos de conhecimento, acentuando-se sua historicidade, sua parcialidade, sua 2 contingência, bem como as relações intrínsecas e constitutivas entre saber e poder. Está em crise, portanto, a nossa crença nos pressupostos científicos, políticos e éticos que sustentaram algumas das lutas, e também, algumas das transformações sociais mais importantes que vivenciamos no século XX. “dá no coração o medo que algum dia o mar também vire sertão”... Isso tudo é necessariamente ruim ou desanimador? Eu diria que não, pode ser inclusive muito promissor e profundamente desafiador. E, com certeza, tais cenários tornam muito mais complexa a tarefa de traduzir o lugar e a função social da universidade no que se refere à produção e transmissão de conhecimento socialmente útil, politicamente responsável e eticamente defensável. Porque a instituição universidade, e dentro dela sua pós-graduação – emerge e se organiza, no Brasil, nesse mesmo século XX, comprometida justamente com o ideário positivista da ordem e do progresso científico e tecnológico, alargado pelas promessas de desenvolvimento econômico e de inclusão social que tem se mostrado insuficientes e esgotados na vigência mesmo do processo de sua implementação. Não estamos em ordem e, se estamos em progresso, que progresso é esse em que estamos? Ecos das manifestações. Nesse contexto amplo e complexo, rapidamente delineado, as universidades brasileiras contemporâneas, exatamente porque se definem, no âmbito do sistema educacional vigente, como instituições direcionadas para a produção e transmissão do conhecimento e que sustentam seu trabalho (ou deveriam fazê-lo) no tripé ensino, pesquisa e extensão, estão, a meu ver, comprometidas, em primeira linha, com pelo menos, três grandes e diversas modalidades de formação: 1) em nível de graduação, elas estão, hoje, comprometidas com habilitação profissional qualificada que deve responder, de forma criativa e inovadora, aos complexos e abrangentes problemas e desafios que nos são colocados pela configuração multifacetada da sociedade brasileira que ai está; uma habilitação ao mesmo tempo abrangente e flexível para viabilizar um amplo leque de possibilidades de inserção no mercado de trabalho; essa tem sido, inclusive, a face mais visível do trabalho universitário, dentre outras razões porque é a mais volumosa de suas demandas; 2) para responder por seu compromisso de produzir, sistematizar e transmitir conhecimento novo e/ou socialmente relevante, elas formam profissionais com diversas habilitações como pesquisadores, em diferentes áreas e com diferentes inserções paradigmáticas, sobretudo em nível da pós-graduação strictu sensu; e 3) e, para dar conta dessas duas modalidades de formação, elas tem precisado investir fortemente na formação docente de profissionais e de pesquisadores para compor seu 3 quadro de professores/as e na formação de docentes-profissionais, que já integram seu quadro, como pesquisadores/as e formadores de novos pesquisadores/as. Estamos falando, então, de três diferentes e intrinsecamente articuladas posições de sujeito, que não se reduzem uma à outra e que tem diferentes necessidades de formação e, também, algumas atribuições específicas: sujeito profissional, sujeito pesquisador e sujeito docente. Com as demandas sociais que se fazem às universidades, e pelas características dessas diferentes formações, o eixo articulador dessas 3 modalidades de formação entre si, a partir do qual se viabilizaria a relação precípua entre ensino, pesquisa e extensão, deveria ser a pesquisa e não o ensino, como em geral se supõe. É a pesquisa que pode nos dar balizas e nos apontar os rumos do que, como e para que ensinar. Como bem alerta Severino, no mesmo texto ao qual o folder do evento remete, isso não significa igualar universidades a institutos de pesquisa. Porque, no processo mesmo de produção e transmissão de conhecimento a universidade se compromete com a formação tanto de pesquisadores/as quanto, sobretudo, de profissionais capazes de pensar e agir criativa e responsavelmente no mundo em que vivem. É para viabilizar essa formação profissional, esse modo de se colocar no mundo, que o desenvolvimento disso que chamamos genericamente de postura investigativa é hoje indispensável. E é por isso que o exercício da docência, na universidade, tanto requer habilitação profissional, quanto formação científica e formação pedagógica. E há que se investir, pesadamente, na articulação dessas diferentes modalidades de formação. O que estou pontuando aqui tem implicações institucionais e curriculares importantes e complexas. Do ponto de vista institucional, implica materializar em sua estrutura e organização a visão de mundo (ou o paradigma, se quisermos nos aproximar mais da linguagem acadêmica) que dá sustentação ao projeto político institucional da Universidade. Nele se explicita, por exemplo, como a universidade pretende estar se conectando com os segmentos sociais que atende e a sociedade de que faz parte. Explicita-se, também, o que, nela, se define como conhecimento válido – de ser produzido e ser transmitido e o que está incluído em, e portanto também o que fica excluído do, ensino, pesquisa e extensão que nela se faz. Do ponto de vista da produção de conhecimento, especificamente, a pesquisa precisa ser tão institucionalizada, organizada e fomentada na universidade quanto o ensino: 1) com uma política concreta de incentivo (linhas próprias de financiamento, destinação de horas remuneradas para pesquisa não só para docentes da pós-graduação, ampliação de programas de incentivo à Iniciação Científica, iniciação científica validada como atividade curricular, etc 2) uma 4 política de incremento e consolidação da pós-graduação strictu sensu, que incentive e viabilize, fortemente e ao mesmo tempo, formas de integração com a graduação; 3) uma política de formação (de docentes e também de técnicos) para a pesquisa, na pósgraduação (integrando-a ao plano de carreira e com liberação de encargos e manutenção de salário que a viabilize); 4) uma política de formação e atualização pedagógica de seus docentes, balizada pela pesquisa – sempre que possível, mas não só, também pela pesquisa realizada na própria instituição. Do ponto de vista curricular, e aqui estarei me referindo mais ao curricular dos cursos de graduação, onde se concentra a necessidade de maior investimento no desenvolvimento de competências investigativas, os projetos político-pedagógicos precisam prever e viabilizar o ensino mediado pela pesquisa.Esse é um trabalho coletivo e os/as docentes, nas diferentes disciplinas em que atuam, e considerando suas especificidades, precisam se organizar prevendo efetivamente essa mediação. Severino refere-se a isso indicando que tais projetos deveriam articular, “de forma simultânea e equilibrada, uma legitimação político-educacional do conhecimento, sua fundamentação epistemológica, uma estratégia didático-metodológica e uma metodologia técnica aplicada”. O que eu traduziria como: a formação para a pesquisa demanda uma formação com contribuições consistentes da filosofia e das ciências sociais e humanas, para além dos conhecimentos específicos de cada área, e demanda também, a prática da pesquisa. E isso em todas as áreas. Ou seja, a gente aprende a pesquisar apre(e)ndendo e manejando, de forma articulada, referenciais teórico-metodológicos e ético-políticos, por meio de exercícios de pesquisa. E o currículo precisa viabilizar, de forma gradativa e consistente, esses exercícios. Em grande medida, e até por exigência das diretrizes curriculares, os desenhos curriculares atuais, visibilizam muito mais fortemente tais disciplinas, prevêem seminários integradores em cada semestre, também porque, diferentemente do que acontecia há uma década, demandam a realização de monografias para a conclusão dos cursos. É claro que eu não estou dizendo nada novo, ao contrário. Estamos carecas de ouvir e de repetir essas coisas. Mas ainda escrevemos muitas coisas nos projetos e planos de ensino que permanecem apenas lá. Ainda é muito difícil, para professores e estudantes, dar sentido às disciplinas das áreas das ciências sociais e humanas nos currículos das ciências da saúde e das ciências exatas, por exemplo. E pesquisas tem demonstrado, também, que o objetivo de desenvolver a postura investigativa dos estudantes está presente na maioria dos projetos políticos pedagógicos mas se materializa pouco naquilo que efetivamente se propõe nas salas de 5 aula. Entretanto, é preciso reconhecer que há muitos avanços e hoje, nas universidades consolidadas do país, isso que chamei aqui de institucional e de curricular se contempla de muitas formas. De forma muito concreta, meu filho e seu pai se graduaram na área da administração nesta universidade, e não há como comparar o que cada um vivenciou como universidade e como currículo em sua formação, no espaço dos 30 e poucos anos que separam um processo formativo do outro. Eu mesma me graduei em enfermagem, no final dos anos 70, tempos de ditadura militar, em uma universidade do centro do país, num curso focado no ensino/transmissão de conhecimento técnico-científico e direcionado para o fazer técnico. Não vivenciei nada parecido com iniciação científica durante a graduação, não fiz trabalho de conclusão e inexistia uma cultura instalada de incentivo para a formação pós-graduada e/ou para o fomento da pesquisa entre o corpo docente. Tornei-me professora universitária, em um curso de enfermagem, numa universidade pública do interior do Brasil, meio ano depois de formada. Não tinha formação pedagógica e nem formação para a pesquisa e pouquíssima experiência profissional estrito senso. Fui “me fazendo” em tudo isso, como diz a gurizada, em serviço. As reformas educacionais do ensino superior, a implementação de uma carreira acadêmica pautada pelo que veio a ser chamado de regime jurídico unificado, facultadas pelos movimentos que deram sustentação à reforma constitucional aprovada em 1988, bem como minha inserção em uma universidade pública, foi inserindo a pós-graduação strictu sensu e a competência para a prática da pesquisa, como necessidade e como desejo, em meu horizonte profissional. Apoiada pelo então PICD/CAPES, vim fazer mestrado acadêmico na Faculdade de Educação da UFRGS. Traduzindo: uma universidade do chamado centro do país, com políticas institucionais de ensino em nível de pós-graduação e de estrutura orientada para a pesquisa muito mais visíveis e consolidadas do que eu tinha vivenciado até então, numa área fortemente orientada pelas ciências sociais e humanas, em um curso cujo currículo evidenciava as marcas da disputa epistemológica e política que dividia o corpo docente, basicamente e em grandes linhas, em positivistas e marxistas, com várias outras derivações, e que sofreu uma importante reformulação nesse contexto. Terminei o mestrado no início da década de 90, tornei-me professora da Faculdade de Educação da UFRGS, no departamento de ensino e currículo para trabalhar com didática e prática de ensino, em 1992 e em 1994 ingressava no curso de doutorado em educação da mesma UFRGS para completar a formação que então já 6 figurava como exigência para a carreira acadêmica. Eu já me reconhecia e me nomeava como pesquisadora identificada com os estudos de gênero e iniciava minha inserção na perspectiva teórico-metodológica que orienta meu trabalho, na docência e na pesquisa, desde então. É importante dizer para além disso, que a década de 1990, segundo Regina Hostins (2013), caracterizou-se no Brasil, em especial no que se refere à pós-graduação, por importantes mudanças nos modelos de financiamento, pela exigência de eficiência controlada por meio de sistemas avaliativos e pela demanda por uma formação e por uma produção científica e tecnológica mais focada em necessidades geradas pelas transformações no mundo do trabalho e no setor produtivo que as décadas finais do século XX já sinalizavam. Tal cenário só vem se aprofundando desde os anos 2000, e ele marca, também, o meu ingresso e o meu fazer como professora e pesquisadora na pós-graduação, desde então. Minha formação, assim como a de muitas de vocês que aqui estão, se processa e se torna possível, pois, nesses períodos e contextos históricopolíticos, em duas áreas bem demarcadas – a da saúde e a da educação, em 3 instituições diferentemente situadas no sistema de ensino superior brasileiro e em currículos com orientações paradigmáticas nem sempre explicitadas mas bem distintas. “Para o bem e para o mal”, como eu gosto de dizer brincando, ter me tornado capaz de olhar para essa trajetória reconhecendo suas interfaces com essas marcas contextuais, compartilhadas em grande medida com professores e professoras de minha geração, me ensinou e me lembra, cotidianamente, de pelo menos duas coisas: 1) que aquilo que gostamos de narrar como sendo minha trajetória, minhas opções e minha decisão, vem marcado e limitado pelos tempos e lugares em que nos movimentamos; 2) que as condições macro históricas e políticas bem como a conformação institucional e curricular que antes destaquei são fundamentais para a efetivação do trabalho universitário que podemos realizar; e se o queremos sustentado pela articulação pesquisa-ensino-extensão, sua congruência se torna fator constitutivo e limitante das possibilidades institucionais e individuais de dar conta de tal pretensão. Passei quase 5 anos no Comitê Assessor da Área de Educação do CNPq e pude constatar, em cada edital que julgamos, que docentes pesquisadores de universidades consolidadas do eixo centro sul do País, atingem, via de regra e com maior probabilidade, os critérios de avaliação estabelecidos. E que mudanças nesse padrão de distribuição de recursos são muito lentas, apesar de estratégias de discriminação positiva como a garantia de destinação de 30% dos recursos para instituições das regiões NO, NE e CO do país. É 7 importante reafirmar isso para que escapemos de uma, dentre muitas outras armadilhas, qual seja, a de acreditar que tudo isso depende, apenas e tão somente, da competência, do compromisso e da boa vontade do indivíduo que exercita a docência. Dito isto, vou dar um salto, e me deslocar então para o nível micropolítico da sala de aula tentando sistematizar um pouco do que aprendi, e continuo aprendendo, sobre postura investigativa com as pesquisas e com as relações pedagógicas e de orientação em que me envolvo. Nesse sentido, penso que é importante pontuar que, para mim, considerar a sala de aula como espaço de produção de conhecimento e investir no desenvolvimento de uma postura investigativa nos cursos de graduação não é sinônimo de expandir e universalizar, por exemplo, o programa de iniciação científica para aquele contexto e nem, como já afirmei anteriormente, pensar a graduação como instância de formação de pesquisadores. Também não é adentrar a sala de aula da mesma forma que a pesquisadora em seu campo de investigação. A relação pedagógica mediada pela pesquisa deveria possibilitar formação para interagir de forma criativa e inovadora, com os complexos problemas e desafios colocados pela configuração da sociedade em que se vive. Para isso, em meu entender, desenvolver competências (conhecimentos, habilidades e atitudes para usar a gramática que subsidia o exercício da docência nesta universidade) e constituir uma postura investigativa é indispensável para discentes e docentes, tanto para fazer frente aos desafios do trabalho propriamente dito, quanto para constituir um modo de ser e de estar no mundo e de agir nele, e sobre ele. E como é na sala de aula, e mediado por uma proposta curricular e por uma política institucional, que esse encontro pedagógico entre sujeitos de diferentes culturas e com expectativas diversas se materializa, na direção de apropriar-se e mobilizar determinados conhecimentos e desenvolver certas atitudes e habilidades, é que a sala de aula pode e deve ser vista, pensada e analisada como um espaço de produção de diferentes tipos de conhecimento, para todos que nela se encontram. Das coisas que aprendi, e foram muitas, sistematizei e selecionei 4 pressupostos teóricos que para mim funcionam como ferramentas metodológicas, porque efetivamente procuro trabalhar com eles em meu fazer pedagógico, e crio mecanismos de reflexão/avaliação para dimensionar se, como, e quando consigo fazê-lo. Então, ao explicitar estes pressupostos não estou sugerindo que eles devam ser assumidos por quem me ouve, e nem que sejam úteis para todos. Estou sinalizando que o exercício de refletir sobre, e tentar sistematizar os princípios e pressupostos que, efetivamente, mobilizam o nosso fazer, reconstruindo os nexos entre tais princípios e as estratégias 8 didático-pedagógicas em que eles se desdobram, se e como repercutem e funcionam nas salas de aula, na interação pedagógica, pode ser tomado como um exercício-pesquisa que produz conhecimento sobre a docência que pensamos estar fazendo e/ou que efetivamente fazemos, porque elas nem sempre são, e podem ser, coincidentes. As várias oficinas programadas neste evento de capacitação podem, pois, se constituir como momentos interessantes para isso. Por que, para mim, a preparação para esta conferência se constituiu numa oportunidade - demorada e não muito fácil - para essa reflexão. Vamos aos pressupostos, então: 1 “Todo discurso é situado e o coração tem suas razões...” afirma Stuart Hall (1997, p.51). Somos sujeitos de, e em, determinadas culturas. Estas afirmações sinalizam que nós pensamos, aprendemos, ensinamos e pesquisamos a partir de determinados lugares, que precisamos reconhecer, nomear e explicitar. Sinalizam, também, que os lugares em que nos inserimos e posicionamos se delineiam pela tessitura entre referenciais teóricos com posições e interesses éticos e políticos, exigências acadêmicas e emoções. Reconhecê-los em suas particularidades, tornar-se capaz de delimitá-los e explicitá-los é importante porque indica, de saída, um campo teórico, político e ético no qual o fazer docente e o fazer pesquisa se conecta com determinadas escolhas, com algumas possibilidades de elaborar perguntas, planos de ensino e projetos de pesquisa, com possibilidades de movimentar-se no processo de sua implementação e de analisar e avaliar o que neles fazemos. Estamos delimitando um território (impreciso, provisório, movente, mas ainda assim território) e indicando que é nele que nos localizamos e desejamos nos movimentar. Em segundo lugar, e de forma mais importante, esse anúncio implica considerar que, ao assinalar e assumir esse lugar estamos também fazendo opções que inscrevem marcas visíveis em todas as ações constitutivas desses processos que nomeamos ensinar e pesquisar: marcas teóricometodológicas e marcas ético-políticas. E é desse lugar, e com essas lentes, que nos tornamos capazes de ver o que vemos e dizer o que dizemos, é dele que ensinamos, pesquisamos e escrevemos. Nesse sentido, é importante delimitar o lugar de onde estou falando, aqui e hoje: professora das áreas da educação e da saúde e pesquisadora que trabalha a problemática das relações de gênero e de sexualidade nesses campos, abordando-as na perspectiva de teorizações pós-críticas, com ênfase nos campos dos estudos de gênero e culturais e do pós-estruturalismo foucaultiano. 9 2 O que significa dizer que somos sujeitos de determinadas culturas (profissionais, docentes, científicas, por exemplo)? O que entendo e assumo como cultura, aqui? Tomo-a como conjunto dos processos com e por meio dos quais se produz um certo consenso acerca do mundo em que se vive. É o partilhamento desse consenso que permite aos diferentes indivíduos se reconhecerem como membros de determinados grupos e não de outros. Cultura não se reduz, pois, ao conjunto de significados compartilhados, mas envolve, também, os sistemas de significação que os seres humanos (diferencialmente situados em redes de poder) utilizam para definir o que significam as coisas e para codificar, organizar e regular sua conduta uns em relação aos outros (HALL, 1997a, 1997b; Kathryn WOODWARD, 2000; VEIGA-NETO, 2003b). O que supõe, também, entender a cultura como um processo arbitrário, uma vez que cada grupo pode viver de forma diferente, ou atribuir um significado diferente, a um mesmo fenômeno ou objeto. São esses sistemas e códigos de significação que permitem atribuir sentido, por exemplo, aos corpos generificados e sexuados que vamos (com)formando e com os quais nos defrontamos nos mundos em que vivemos e nos movimentamos. Nesse sentido, Hall (1997b) indica que assumir esse conceito de cultura demanda considerar tanto seus aspectos substantivos quanto seus aspectos epistemológicos. Com a referência a aspectos substantivos, Hall remete ao lugar da cultura naquilo que reconhecemos e chamamos de mundo real, ou seja, em como ela atravessa e modela a organização das atividades, as instituições e as relações culturais cotidianas, em determinado momento histórico. Os aspectos epistemológicos remetem à posição da cultura relativamente às questões de conhecimento e conceituação, ao como ela é usada para transformar nossa compreensão, explicação e modelos teóricos do mundo, e, nesse sentido, ele aponta para as importantes articulações que se estabelecem entre cultura, conhecimento e poder, e também para a historicidade destas articulações. 3 – Como nos tornamos sujeitos de determinadas culturas? Em convergência com o lugar de onde falo, tenho assumido e trabalhado com a noção de que é pela educação que somos transformados e/ou nos transformamos em sujeitos de uma cultura. Nessa perspectiva, o que chamamos de educação envolve um conjunto de processos e relações que permeiam diferentes espaços/instituições do mundo contemporâneo, sendo a escola e a universidade apenas um deles. Tornar-se sujeito de uma cultura, por meio da educação, envolve complexos processos de ensino e de aprendizagem que podem, grosso modo, ser divididos em intencionais e não intencionais, sendo que quase tudo 10 que definimos como educação enquanto prática específica e deliberada de transmissão de conhecimentos, e também, o que se privilegia discutir como objeto próprio do campo educacional pode ser incluído nessa categoria. Os processos educativos não intencionais têm sido muito pouco reconhecidos, visibilizados e problematizados, mas sua importância tem sido ressaltada por estudos e pesquisas como as que se desenvolvem nos campos dos estudos de gênero e culturais que discutem e problematizam processos de produção de diferenças culturais e de desigualdades sociais. Tem-se destacado que a produção dessas e de outras diferenças resulta na maioria das vezes, de pedagogias culturais que envolvem estratégias sutis, refinadas e naturalizadas, exaustivamente repetidas e atualizadas, que quase não percebemos como tais (MEYER, 2012). Nessa direção, educar supõe, então, processos de ensino e processos de aprendizagem e ambos – ensinar e aprender – compõem nossa educação como sujeitos de determinadas culturas, nossa apreensão e nosso manejo das linguagens e dos códigos constitutivos delas. E ambos os processos – ensinar e aprender – estão estreitamente imbricados com o – e no –, processo de construção, manutenção e transformação dos sujeitos no contexto das culturas em que nos (des)constituímos como mulheres e homens de determinados tipos. 4 – O encadeamento destes 3 pressupostos encaminha para um quarto: assumir que todo conhecimento – termo aqui usado em sentido bem amplo – é histórico, parcial e interessado: sua produção está conectada a determinadas condições de possibilidade que o tornam possível e necessário. Isso inclui os conhecimentos científicos, tanto os que produzimos nas pesquisas que fazemos, quanto aqueles que selecionamos para sustentar, majoritariamente, os processos de ensino e aprendizagem nas instituições educativas. Os conhecimentos científicos são conhecimentos intencionalmente produzidos em certas condições históricas, culturais, econômicas e políticas, dentro de determinadas matrizes disciplinares, obedecendo a certos conjuntos de regras metodológicas, operando com conceitos que precisamos admitir e assumir para falar desses objetos, submetendo-os a determinados critérios de validação, e que permitem definir o que é que conta como verdade, em um determinado tempo e contexto (MEYER, 2006). Os conhecimentos científicos integram e constituem, então, o que Foucault (1979) chamou de regimes de verdade. E um dos mais poderosos regimes de verdade de nossa época é, exatamente, a Ciência, com C maiúsculo. Mas ela não é o único regime de verdade. E os regimes de verdade não são unívocos, não são fixos e 11 nem internamente homogêneos. São campos de disputa e de exercício de poder, para além de campos de produção de saber e de legitimação de verdades. É nos regimes de verdade que se constitui o que é dizível e, portanto, também pensável e compartilhável, em cada época, em cada lugar. É muito interessante a gente se dar conta, também, que usualmente mobilizamos determinados conhecimentos para perguntar e explorar o que ele nos permitem conhecer. Mas, indo ao encontro de Débora Britzman, exatamente porque os conhecimentos são parciais, históricos e interessados importa dar-se conta, também, que cada conhecimento contém, em si, determinadas formas de ignorância: aquilo que ele não permite conhecer e não permite pensar. Essa relação constitutiva – entre ignorar e conhecer – dimensiona os limites dos conhecimentos que assumimos e veiculamos e, também, daqueles que produzimos: o que se pode, o que se quer e o que se suporta conhecer desde esse lugar? Britzman sugere que esta pode ser uma dimensão interessante para se pensar, por exemplo, a relação entre conhecimento e pedagogia. Pergunta a autora: "o que faz alguma coisa pensável?" (BRITZMAN, 1995, p.156) ou o que é – ou se torna – legítimo, ou não, como objeto de investigação? Perguntas como essas nos remetem a pensar e a problematizar as políticas de conhecimento, a questionar a estabilidade das categorias que eles produzem (como masculinidade, feminilidade, heterossexualidade, cultura, cidadania e outras que são constitutivas das práticas sociais); e, nos levam, sobretudo, a questionar as hierarquias que elas sustentam e que se tornaram centrais para sustentar a lógica binária que, historicamente, tem constituído as relações entre conhecimento e poder nas culturas ocidentais. Trata-se, então, de investir na discussão das formas de conhecer e das políticas que elas informam e colocam para funcionar, inclusive nas nossas pesquisas e salas de aula. Para encaminhar a conclusão desta fala, proponho então a indicação de algumas possibilidades de tradução destas reflexões para pensar modos de incrementar a postura investigativa no ensino superior. Assumindo, portanto, os pressupostos apresentados como balizas, o que me disponho a fazer com elas como professora-pesquisadora implicada com uma formação com a qual pretendo investir no desenvolvimento de uma postura investigativa? Procuro, sistematicamente, localizar e reconhecer as marcas teóricometodológicas e ético-políticas nos currículos dos cursos em que tenho sido professora, delimitando o que se quer e o que eu posso/desejo fazer com e nas disciplinas que neles 12 assumo, a partir desse lugar. Explicito essas posições no plano de ensino e as negocio na sala de aula; e opero com esse plano, renegociando-o sempre que necessário. Para mim, ler, escrever, sistematizar ideias, posicionar-se diante delas, e, sobretudo, explorar esse repertório de ideias confrontando-o com a própria experiência e com outros pontos de vista são disposições necessárias para qualificar-se para o mundo do trabalho e são indispensáveis para a pesquisa. Elas demandam aprender a estudar, no sentido profundo e rigoroso desse termo. E, por incrível que pareça, tem sido preciso investir muito nisso. Por isso, utilizo, com bastante frequência, 6 “pequenas” estratégias didático-pedagógicas que tem-me ajudado a trabalhar essas disposições e a explorar seus pontos de tensão: indico sempre, pelo menos um texto como leitura prévia à aula e proponho uma pequena tarefa para essa leitura. Pergunto, por exemplo: destaque um aspecto do texto que te permitiu pensar algo que nunca havias pensado antes. Ou, dentre aqueles aspectos/questões com que já vens te ocupando, destaque um que te permitiu ampliar ou acrescentar elementos novos ao que já conhecias; ou, destaque um argumento do texto com o qual concordas e que te ajuda a reforçar e a defender melhor tua posição; ou ainda, destaque um aspecto com o qual não concordas, ou que te parece irrelevante e explica as razões de tua discordância. Em geral, peço que façam isso por escrito e os convido a ler o que escreveram no início da aula. Procuramos, em conjunto, sistematizar essas contribuições em grandes focos e trabalho com elas no decorrer da aula. Ao final, sugiro que retomem o que haviam escrito e que pensem se escreveriam outra coisa ou de forma diferente. Isso tem contribuído para produzir uma certa forma de aproximação aos textos; contribui para retomar e reforçar que estudar é indispensável para a formação profissional e que não há como abrir mão disso. Contribui, sobretudo, para abrir o texto, visibilizando a multiplicidade de leituras, e de perguntas, que se pode fazer a partir dele e como estas leituras se ancoram nas diferentes expectativas e vivências de cada um. Para a professora este exercício produz indícios importantes de quem são meus alunos, como e o que pensam, o que já sabem e pelo que se interessam e, em conjunto, isso indica como posso e devo conduzir a aula, a disciplina e o/ou curso de forma que faça sentido e dê prazer para a maioria de nós e, ao mesmo tempo, dê conta daquilo que se espera no currículo. O fato de que trabalho com uma perspectiva teórica bem demarcada não implica que só vamos ler e estudar autores e teorias que convergem com ela. Sobretudo na graduação isso não é possível e nem desejável. Se o que se deseja é explorar a multiplicidade de formas possíveis de abordar e de intervir, por exemplo, sobre o que se 13 nomeia como fracasso escolar, na conexão entre a educação e a saúde, é preciso trabalhar o tema, abrindo-o, justamente, nessa direção. Procuro trabalhar tanto com textos de autores clássicos quanto com aqueles que reconhecemos como autoridades, neste tempo, no campo e no tema. Mas associo a estes, leituras de textos escritos a partir de pesquisas produzidas por estudantes na própria faculdade, no nosso programa de pósgraduação, na nossa linha de pesquisa, como teses, como dissertações, mas também como TCC e como pesquisas de IC. E sempre que possível, procuro trazer estudantes autores e autoras para participar da discussão. Penso que, concretamente, essa é uma das formas de materializar a articulação entre ensino e pesquisa, entre pós-graduação e graduação e de pautar o ensino pela pesquisa, explorando-a como processo e não apenas como resultado. Do ponto de vista político, dá visibilidade ao que se faz e contribui para desconstruir a noção, ainda bastante presente, de que cientistas e intelectuais seriam seres especiais. Invisto muito no exercício de situar os textos e autores com que trabalhamos, demarcando teorias e conceitos que os inspiram, fundamentam e subsidiam, colocandoos em relação, discutindo seus limites e possibilidades – ou seja: com que perguntas/problemas seus autores e autoras estão lidando, com que quadro conceitual operam, o que nos permitem ver com ele, o que sugerem fazer, e como essas posições afetam/ interagem com aquelas que assumimos (ou pensamos estar assumindo)? Dentre outras coisas, isso implica mobilizar conteúdos trabalhados em outras disciplinas, no mesmo semestre ou em semestres anteriores, abre necessidades diferentes, para cada estudante, em termos de leituras complementares, por vezes de outras áreas do conhecimento, implica explorar e trabalhar com e a partir das experiências das estudantes relativamente àquele tema/problema (o que permite que eles digam o que dizem?), a tornar visíveis a multiplicidade de pontos de vista, os silêncios e espaços vazios que habitam o entorno de determinados temas em que parecia haver consenso ou que pareciam “já sabidos” em uma mesma sala de aula. Trata-se ainda, como sugere Maria Cláudia Dal’Igna, de um exercício “de questionamentos das evidências, das familiaridades, dos modos de pensar sobre o tema no tempo em que vivemos.” (2011, p.151). Nesse movimento de situar, nossa leitura e nossa relação com o conhecimento se qualificam porque aprendemos, como grupo e no grupo, que no processo de conhecer, precisamos fazer algumas escolhas, abrir mão de outras, mudar de lugar, experimentar modos de fazer teoricamente fundamentados, construir argumentos para defendê-los 14 e/ou justificá-los, e que precisamos nos capacitar para isso. De forma muito concreta, isso possibilita explorar a historicidade, a parcialidade, a instabilidade e a dimensão interessada dos conhecimentos em foco. Ao modo da pesquisa, tenho procurado pautar o ensino por perguntas, ao invés de pautá-lo por respostas que, de tanto serem repetidas do mesmo modo, já se descolaram das perguntas que as motivaram. Tomando como referência nossa humanidade tão distinta, tão multifacetada e tão plural, tenho trabalhado com artefatos culturais que permitam acessar outras versões sobre nossas formas de vida, de modo que se torne possível entender que este modo de “vida atual não é o único, não é necessariamente o melhor e nem é inevitável” (PACKER, 2011). Com o recurso de outras linguagens, como a do cinema, da literatura, da arte e da poesia, tenho tentado produzir espaços para tornar o impensável pensável, forçando os limites do conhecimento instituído sobre alguns temas e sujeitos que abordo nessas salas de aula,– por exemplo, o uso de substâncias psicoativas e a proposta da redução de danos; tipos de configurações familiares e as relações que se estabelecem usualmente entre família e escola e entre família e serviços de saúde; atravessamentos de gênero e de sexualidade nos currículos escolares, nos programas de saúde e nas ações pedagógicas e de cuidado que eles informam. Nessa direção, e sobretudo na pós-graduação, em função dos temas com os quais trabalho, tenho procurado investir em movimentos intensos e extensos de descrição e de redescrição, descrição do outro e redescrição de si tanto nas pesquisas que faço quanto nas que oriento. Descrever desigualdades sociais que atingem diferentes grupos e sujeitos, modalidades de sofrimento e também de prazeres, de dores e também de alegrias, de humilhações e também de afirmações, de subtração de vida e também de sua invenção, suportados por pessoas e grupos – habitantes do inabitável ou das margens do habitável - dos quais costumamos nos aproximar apenas com o “olhar da falta”. Redescrever a nós próprios detalhando com pormenores as faltas que nós, e nossas instituições, abrigamos e os tipos de sofrimento e desigualdade que, com elas e por meio delas, contribuímos para implementar e manter. Formas de ver produzem formas de ver-se... Descrever e redescrever, com essas nuances, significa abandonar a tentativa de captar todos os lados dessas vidas – as que designamos como Outro e as que designamos como Nós – numa única perspectiva e com uma única linguagem, como sinaliza Rorty (1994). Significa investir na educação de nossas formas de ver, criando e 15 recriando sensibilidades epistemológicas, políticas e éticas que permitam “investir em outras disposições epistemológicas e outras possibilidades de nos constituirmos [sujeitos profissionais, pesquisadores e docentes]. [Esse investimento] pode nos propiciar travessias instigantes, que não só provocam o pensamento como complexificam e (re)dimensionam os limites da própria vida ou, mais simplesmente, dos nossos olhares e [das nossas ações]” (Meyer e Soares, 2005). Certamente, ainda haveria muitas outras coisas a dizer e uma infinidade de outras que eu não saberia dizer. Nesse sentido, e de forma coerente com a perspectiva que assumo, constato que não há como fechar um tema como esse e convido cada um e cada uma que aqui está a reescrevê-lo nos seus próprios termos e em outras direções. Referências citadas BRITZMAN, Deborah. Is there a queer pedagogy?: or, stop reading straight. Educational Theory, v. 45, n. 2, p. 151-165, 1995. DAL‟IGNA, Maria Cláudia. Família S/A: um estudo sobre a parceria família-escola. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Educação, Faculdade de Educação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2011. FOUCAULT, Michel. Verdade e poder. In: Machado R, organizador. Microfísica do poder. 7ª ed. Rio de Janeiro (RJ): Ed. Graal; 1979. p. 1-14 HALL, Stuart. A centralidade da cultura: a dimensão global. Educação & Realidade, Porto Alegre, v. 22, n. 2, p. 15-46, jul./dez. 1997b. HALL, Stuart. The work of representation. In: ______. (org.) 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