1 Sistema de Informação Gerencial para Avaliação Econômica da Cadeia de Valor Autoria: Clóvis Luís Padoveze, Gideon Carvalho de Benedicto, José Eduardo Rodrigues de Sousa Resumo: A adoção do conceito da cadeia de valor para análise dos processos empresariais é considerada um favor crítico de sucesso para obtenção da estratégia competitiva. Para dar consistência à esta análise, é necessário um modelo de mensuração econômica que complemente a avaliação do planejamento operacional e da cadeia de valor. Contudo, além dos segmentos da cadeia de valor, a empresa também desenvolve uma série de atividades para apoio ao processo de desenvolvimento, produção e entrega dos produtos e serviços aos clientes. Considerando também que todas as atividades dentro de uma empresa são financiadas, o modelo de mensuração deve contemplar, além da avaliação econômica dos segmentos da cadeia de valor, a avaliação econômica das atividades de apoio e do custo de capital envolvido em todo o processo. Este trabalho apresenta os fundamentos teóricos, e a partir dos conceitos existentes, propõe, dentro de uma abordagem sistêmica, um modelo de avaliação econômica da cadeia de valor. Introdução A Contabilidade Gerencial fornece informações para os gestores, ou seja, aqueles que estão dentro da organização e que são responsáveis pelo processo de gestão empresarial. Neste sentido, a Contabilidade Gerencial é parte integral do processo de gestão, pois procura adicionar valor por meio da investigação contínua sobre a efetividade da utilização dos recursos das organizações - na criação de valor para os proprietários, clientes, entre outros. Partindo da premissa básica que os gestores são responsáveis pelo lucro das atividades sob sua responsabilidade, cabe à Controladoria oferecer o suporte necessário para mensurar e avaliar os resultados do processo de gestão empresarial. O foco desta mensuração é o conceito de gestão econômica, isto é, baseada em resultados econômicos, lucro ou prejuízo. A proposta de apresentar um modelo de avaliação econômica da cadeia de valor significa segmentar a empresa nas suas partes geradoras de resultado. Neste aspecto é necessário identificar os segmentos e apurar os seus resultados, possibilitando a avaliação de desempenho de cada gestor desses segmentos. Na empresa, cada gestor setorial tem uma responsabilidade delegada e deve ser avaliado conforme essa responsabilidade atribuída. No conceito de gestão econômica o lucro gerado das atividades é de responsabilidade de cada gestor. A avaliação de desempenho do gestor deve ser feita pela Controladoria em relação aos resultados esperados das atividades de cada elo da cadeia de valor sob o comando de um gestor. O processo de avaliar desempenho é um fator importante para se tomar decisões corretas. Para isso, é preciso informações adequadas para julgar corretamente a eficiência e eficácia do processo de gestão. Portanto, a avaliação de desempenho contempla o controle dos resultados das atividades, bem como a mensuração ou quantificação de um desempenho realizado comparativamente com o planejado. A informação gerencial tem como característica principal a mensuração econômica, ou seja, expressar as atividades em valor econômico. Além disso, a informação gerencial deve fornecer apoio ao processo de gestão, tendo como característica: conteúdo, precisão, freqüência, adequação à decisão, confiabilidade, oportunidade, entre outros fatores. 2 Partindo do pressuposto que os relatórios gerenciais devem ser apresentados dentro de modelos decisórios, questiona-se: qual a importância de avaliar economicamente a cadeia de valor da empresa? Este artigo tem como objetivo geral discutir, analisar e propor uma forma alternativa para efetuar a avaliação econômica da cadeia de valor empresarial. O estudo é uma pesquisa bibliográfica. A pesquisa bibliográfica tem por finalidade conhecer as diferentes formas de contribuição científica que se realizaram sobre determinado assunto ou fenômeno. Desta forma, em primeiro lugar, para a caracterização do problema da pesquisa realizou-se, inicialmente, a coleta de material bibliográfico. Em seguida procedeu-se uma leitura de reconhecimento do material coletado, a fim de escolher aquele que trata dos fatores relacionados na situação-problema. Foi feita uma análise das várias abordagens dos autores que, tratam do assunto, explorando os aspectos conceituais, estabelecendo opiniões e argumentos pessoais. Cadeia de Valor Toda empresa tem uma estrutura de atividades. Uma atividade pode ser definida como a menor unidade organizacional que produz internamente um produto ou serviço. Os produtos ou serviços têm um valor econômico representado pelas receitas e custos. Desta forma todas as atividades têm seus custos e também sua receita, que pode ser medida pelo valor econômico de seus produtos ou serviços. Portanto, o modelo de gestão econômica, para fins de avaliação de desempenho, é o modelo de apuração do resultado de cada atividade da cadeia de valor. Bourgerois (1980, p. 36 e 37) no início da década de 80, ao abordar a integração conceitual da relação da estratégia com o ambiente e as escolhas estratégicas daí decorrente, lembrava do papel do administrador na escolha das opções estratégicas que lhe são apresentadas, ao trabalhar o alinhamento entre os recursos organizacionais com as condições ambientais, mister facilitado por quem sabe trabalhar a cadeia de valor da empresa. Para enfrentar a concorrência é preciso estabelecer alguma estratégia. Porter (1989, p. 1) menciona que “a concorrência está no âmago do sucesso ou do fracasso das empresas, determinando a adequação das atividades que podem contribuir para seu desempenho, como inovações, uma cultura coesa ou uma boa implementação.” Entendemos que a vantagem competitiva está relacionada com a criação de valore que a criação de valor em uma empresa exige um exame detalhado de suas atividades. Porter (1989, p. 31), afirmou, a esse respeito, que “a cadeia de valores desagrega uma empresa nas suas atividades de relevância estratégica para que se possa compreender o comportamento dos custos e as fontes existentes e potenciais de diferenciação.” Assim o valor criado pela empresa seria o fator de análise da competitividade, conforme já preconizava Porter (1989, p. 34), ao enfatizar esse aspecto ao dizer que “o valor e não o custo, deve ser usado na análise da posição competitiva.” Porter (1989, p. 44), ressalta ainda que “a vantagem competitiva freqüentemente provém de elos entre atividades, da mesma forma que provém das próprias atividades individuais.” Ainda, o autor menciona que “elos podem resultar em vantagem competitiva de duas formas: otimização e coordenação”, para mais adiante defender (1989, p. 58) a idéia que “o comportamento dos custos de uma empresa e a posição dos custos relativos provêm das atividades de valor por ela executadas na concorrência em uma indústria.” É necessário efetuar uma análise significativa dos custos. Neste sentido, a analise deve ser dos custos 3 dentro destas atividades, e não somente os custos da empresa como um todo. Cada atividade de valor tem sua própria estrutura de custos e o comportamento de seu custo pode ser influenciado por elos e inter-relações com outras atividades do ambiente interno e externo da empresa. Nesse sentido a definição da cadeia de valor para análise de custos e resultado revelase importante para uma empresa, pois conforme as idéias de Porter (1989, p. 59) o ponto de partida para a análise dos custos seria “definir a cadeia de valores de uma empresa e atribuir custos operacionais e ativos às atividades de valor. Cada atividade na cadeia de valores envolve custos operacionais e ativos na forma de capital de giro ou fixo.” Quando a empresa decide estabelecer a estratégia competitiva, ela procura firmar sua posição sustentável para enfrentar as forças atuantes da concorrência. Para Ansoff (1990, p.95), estratégia é um dos vários conjuntos de regras de decisão para orientar o comportamento de uma organização. Posteriormente Porter (1991, p. 61) vem reafirmar que a estratégia competitiva envolve o posicionamento de um negócio de modo a maximizar o valor das características que o distinguem de seus concorrentes. Em conseqüência, um aspecto central da formulação da estratégia é a análise detalhada da concorrência. Saloner et al (2003, p. 153) lembra que a forma como “o valor é captado é o âmago da análise industrial porque afeta a parcela que as empresas titulares de uma indústria são capazes de reter”, ressaltando ainda que o problema das empresas reside em maximizar a captação das parcelas de valor, de forma a reduzir a captação por parte de outras empresas, uma vez que a mesma se encontra, normalmente, sob o fogo do poder de negociação dos fornecedores e dos compradores, levando a que, em muitas das vezes, a organização, como nos lembra Hitt et al (2002, p. 125) tenha que reconfigurar ou recombinar, partes de sua cadeia de valor de forma única no mercado, na busca da geração de maior valor para seus clientes e, conseqüentemente, vir a desempenhar suas atividades de forma superior que seus competidores. No entendimento de Horngren, Datar e Foster (2004, p. 8), “cadeia de valor refere-se à seqüência de funções do negócio em que são adicionadas utilidades aos produtos e serviços de uma empresa.” Trabalhando com essas idéias encontramos Assis e Affonso Netto (2005, p. 14), os quais ao considerarem os resultados de uma pesquisa com dirigentes de empresas incubadas, destacam que a capacitação desses dirigentes deve contemplar a “análise dos recursos competitivos da cadeia de valor” envolvendo todas as suas atividades primárias e secundárias, em razão dos desconhecimentos desses ao trabalharem suas funções gerenciais, necessitando de um melhor embasamento conceitual da própria cadeia de valor. Empresa como seqüência de atividades ou cadeia de valores e enfoque sistêmico De acordo com Atkison et al (2000, p.77-78) “pode-se pensar na empresa como uma seqüência de atividades cujo resultado é um bem ou serviço entregue a seu cliente”. Esses autores classificam as atividades desenvolvidas pelas empresas em quatro grupos, considerando o enfoque sistêmico, conforme visualizado na Figura 1. 1. Atividades de entrada, ou atividades relacionadas à preparação para se fabricar um produto. 4 2. Atividades de processamento, ou atividades relacionadas a fabricação de um produto. 3. Atividades de saída, ou atividades relacionadas à negociação com o cliente. 4. Atividades administrativas, ou outras atividades que apóiam as três primeiras atividades. (4) Atividades Administrativas Pessoal, finanças, contábil. (1) (2) (3) Atividades de Entrada Atividades de Processamento Atividades de Saída Fazendo, estocando. Vendendo serviço Desenho do produto, processo, compras, contratação Figura 1 – Elemento-chave da cadeia de valores Caracterizando também as atividades do sistema empresa dentro do enfoque sistêmico, Pereira in Catelli (1999) apresenta uma visão sistêmica da empresa, considerando as atividades desenvolvidas internamente e o ambiente externo, bem como os conceitos de competitividade, eficiência, eficácia e resultado econômico. Na Figura 2 extraída do mesmo trabalho, fica mais uma vez evidente a empresa como um complexo de atividades, que produzem bens e serviços, e, portanto, tem valor econômico. Mercado Fornecedor Recursos Recursos materiais materiais Recursos Recursos humanos humanos Recursos Recursos financeiros financeiros Acionistas, concorrentes, governo, sindicatos, etc . Mercado Consumidor Empresa Compras de recursos Estocagem de materiais Produção Produtos Produtos ee serviços serviços Serviços de apoio Manutenção Estocagem de produtos Finanças Transportes Vendas de produtos Recursosde de Recursos tecnologia tecnologia Recursosde de Recursos informação informação Valores econômicos Eficiência Figura 2 – Visão sistêmica da empresa Resultado econômico Continuidade Valores econômicos Comprometimento da Missão Eficácia 5 Ressalta-se claramente nesta visão, que, além das atividades consideradas operacionais e do núcleo da cadeia de valor, as empresas têm que desenvolver uma série de outras atividades de apoio às atividades operacionais. Ponto fundamental de importância é a associação do conceito estratégico de competitividade, com o conceito de atividades internas. Pereira afirma (1999, p.45) “sob tal abordagem, podemos caracterizar a competitividade de uma empresa como o grau em que ela é capaz de concorrer com as condições e alternativas oferecidas pelo mercado. A competitividade de uma empresa pode ser caracterizada, portanto, tanto sob a ótica do mercado consumidor (ou cliente) de seus produtos, quanto sob a ótica do mercado fornecedor dos recursos necessários às suas atividades. Sob esse enfoque, as atividades internas de uma empresa, como compras, produção, vendas, finanças, embora voltadas ao atendimento das atividades internas, encontram-se permanentemente concorrendo com fornecedores/clientes alternativos. Uma empresa, como um conjunto de atividades interligadas, possui mercados alternativos não apenas para seus produtos finais, mas também – e talvez, principalmente – para os produtos e serviços demandados ou produzidos internamente, nas diversas áreas e atividades da organização”. Modelo de Gestão de Apropriação de Valor Agregado O valor da cadeia de valor é a somatória do valor de cada elo que a compõe. Como todo o produto ou serviço oferecido à sociedade tem um valor, expresso pelo seu preço de venda de mercado, podemos dizer que também cada elo ou componente da cadeia de valor tem seu preço de mercado. Nesse sentido, ciente da recomendação de Saloner et al (2003, p. 164) de que “um gerente que pensa em estabelecer qualquer contrato de relação deve primeiro refletir sobre porque ele adicionará valor”, Padoveze (2004, p. 568) apresenta um modelo de gestão, baseado na apropriação do valor agregado de cada atividade desenvolvida internamente. Custos Fornecedores Preço de Mercado Valor Agregado Agregado Valor do Produto/Serviço do Produto/Serviço 40 60 Venda Clientes Preço de Mercado 100 Desenvolvimento de Atividades Internas Ativ. 1 Ativ. 2 Ativ. 3 Custo + VA Custo + VA Custo + VA Apropriação de VA Criação de Valor Figura 3 – Processo de apropriação de valor Para produzir e entregar produtos e serviços, a empresa necessita de desenvolver uma série de atividades internas, que, por sua vez, também tem um preço de venda e, portanto, um valor agregado. Dessa maneira, a máxima eficiência e eficácia obtida no desenvolvimento de todas as atividades do sistema empresa é que permite, à empresa, a possibilidade de criação de 6 valor, que se traduz no lucro operacional. Denominamos este processo de apropriação de valor agregado (VA), que pode ser visto resumidamente conforme apresentado na figura 3. Sistema de Informação Gerencial que Cria Valor Muito embora Saloner et al (p. 156-163) lembrem que “a competição limita o poder do comprador e do fornecedor”, ressaltam adiante que “o valor que uma cadeia cria depende dos investimentos feitos pela empresa na cadeia”, o que dependeria de um sistema de informações eficiente para saber das necessidades desses fornecedores e compradores, como forma de se poder criar valor junto a esses. Nesse sentido a informação gerencial constitui-se em fonte indispensável na gestão de negócios, tomada de decisão e controle nas empresas. Contudo, para o acompanhamento do negócio, são necessárias informações, do ambiente externo, tais como dados dos concorrentes, da conjuntura econômica, que, em nosso entendimento, devem fazer parte de um rol mínimo para essa finalidade. Um sistema de informação bem estruturado pode contribuir para a empresa alcançar seus objetivos econômicos e sociais. Na opinião de Padoveze (2003, p. 43), o sistema de informação “pode ser definido como um conjunto de recursos humanos, materiais, tecnológicos e financeiros agregados segundo uma seqüência lógica para o processamento dos dados e tradução em informações, para com o seu produto, permitir às organizações o cumprimento de seus objetivos.” Atkinson et al (2000, p. 65-66), mencionam que a contabilidade gerencial tornou-se uma disciplina relevante para refletir o novo ambiente desafiador que empresas no mundo inteiro enfrentam. Por isso, informações precisas, oportunas e pertinentes sobre a economia e o desempenho de empresas são cruciais ao sucesso organizacional. Dessa maneira por meio da função da Contabilidade Gerencial a criação de valor torna-se um conceito objetivo, pois pode ser mensurado economicamente. A criação do valor fundamenta-se na geração do lucro empresarial, que, por sua vez, é transferido para os proprietários da entidade. Cadeia de Valores e Descentralização A desagregação da cadeia de valor de uma empresa, mencionado por Porter (1989, p. 31), objetiva a compreensão de seus potenciais, custos e benefícios, faz com que a empresa seja conduzida naturalmente para adotar um modelo de gestão caracterizado pela descentralização. De acordo com Atkinson et al (2000, p. 586) “a maioria das empresas, hoje, encara um ambiente dinâmico que requer uma tomada de decisão responsável, chamada de descentralização ou autorização do funcionário”. Ainda conforme os autores, a adoção deste sistema implica necessariamente na necessidade de avaliação de resultados e desempenho: “a descentralização requer o apoio de um sistema de controle por resultados. O sistema deveria prover os funcionários de um scorecard, que serve tanto para avaliar os tipos de mudanças necessárias quanto para avaliar seu próprio desempenho”. Esta afirmativa é fundamental, pois fica claro que um sistema de avaliação de resultados e desempenho, considerando os conceitos de cadeia de valor e descentralização, faz a ligação necessária entre a estratégia e as operações. 7 Fundamentos para o Sistema de Informação para Avaliação Econômica da Cadeia de Valor A maior parte dos autores, como Iudícibus (1987), Horngren et al (1994), Atkinson et al (2000,. 2001), entre outros, consideram a apuração de resultados por segmentos da empresa sob o tema de Contabilidade por Responsabilidade, onde, partindo da segmentação da empresa em departamentos ou centros de custos e despesas, evolui-se para os conceitos de centros de lucros ou de resultados, centros de investimento e unidades de negócio. Catelli (1999) desenvolve esta ferramenta gerencial sob a terminologia de Contabilidade por Atividades. A metodologia proposta por Brimson (1996), em tese, não se enquadra no conceito de apuração da cadeia de valor, uma vez que, sua base, o Custeio ABC (Custeamento Baseado em Atividades), não apresenta metodologia consistente para apuração de resultados, apurando apenas os custos. Considerando que as empresas, além dos segmentos da cadeia de valor, também necessitam de atividades de apoio, um sistema de avaliação econômica não pode ficar restrito aos segmentos da cadeia de valor, devendo incorporar, necessariamente e dentro dos mesmos conceitos, todas as demais atividades internas. Isto significa, portanto, que além da interligação entre os elos dos segmentos da cadeia de valor, há também um interrelacionamento operacional e econômico com as atividades de apoio. Adicionalmente, tendo em vista que todas as atividades são financiadas, por recursos próprios ou de terceiros, elas devem proporcionar uma rentabilidade que remunere o custo médio ponderado de capital. Este fundamento de avaliação é apresentado por Horngren et al (1994) e Atkinson et al (2000) no conceito de Lucro Residual, ou seja, o lucro que excede a um custo de capital predeterminado aplicado sobre o investimento do segmento da empresa em consideração. Esses mesmos autores reconhecem que o conceito de EVA (Economic Value Added) recupera o conceito de lucro residual, e, portanto, é similar. Catelli (1999) trata do assunto como custo de oportunidade de capital e é enfático em considerar que, a adoção deste conceito, num sistema de contabilidade por segmento ou área da empresa, é fundamental para a correta avaliação dos resultados e desempenho. Essas considerações constituem-se em premissas fundamentais para o desenvolvimento de um sistema de informação gerencial de avaliação econômica da cadeia de valor e podem ser visualizadas dentro do enfoque sistêmico. Considerando o enfoque sistêmico adotado e as premissas fundamentais já apresentadas, os demais conceitos básicos para o sistema de avaliação econômica da cadeia de valor são os seguintes: 1. Todas os segmentos da cadeia de valor e as atividades de apoio devem ser mensurados em termos de receitas e custos, para obtenção dos resultados gerados por cada segmento da cadeia e atividade internadas. 2. Para mensuração da receita dos segmentos da cadeia de valor e das atividades de apoio que fornecem produtos ou serviços internamente, o preço de transferência, que será sua receita e custo da atividade ou segmento da cadeia recebedora, deve ser baseado em mercado, não se admitindo mensuração da receita com base em custo. 3. Os resultados operacionais devem ser separados dos resultados financeiros contemplados nos eventos econômicos das transações de cada segmento ou atividade, ou seja, a mensuração dos resultados operacionais deve ser na condição 8 à vista, e os resultados do financiamento dessas operações devem ser destacados como resultados financeiros originados das operações. 4. Cada segmento da cadeia ou atividade de apoio deve responder pelo custo de oportunidade de capital dos investimentos necessários a sua operação. 5. A atividade de financiamento para os investimentos operacionais deve ser isolada num segmento de atividade específica, para apurar o resultado do custo de capital das operações em relação ao custo de captação das fontes de recursos de capital. No Quadro 1 apresentamos o modelo básico de relatório gerencial que evidencia as premissas básicas e fundamentais do sistema de avaliação econômica da cadeia de valor e atividades de apoio. Os números estão colocados apenas para visualizar o processo geral de transferência e apuração dos valores, sem qualquer preocupação de representar algum negócio, empresa ou cadeia de valor específica. Os primeiros segmentos da empresa são os representativos da cadeia de valor. Verifica-se que desde o elo da cadeia de Pesquisa e Desenvolvimento até o elo Distribuição, há transferências internas que vão acumulando valor. Supõe-se que os preços aplicados nas Receitas de Transferências da Cadeia de Valor estejam a preços de mercado. Essas transferências são suficientes (ou deveriam ser) para cobrir os custos das transferências internas dos serviços recebidos das atividades de apoio e o custo de capital. Apenas o último elo da cadeia de valor, Serviços aos Clientes, é que não fizemos menção de transferência para outros segmentos. O valor final transferido para os clientes consta da linha Vendas para Terceiros. Convém ressaltar também que alguns segmentos da cadeia de valor podem ser subdivididos. Por exemplo, é bem possível que o segmento de Produção contemple vários processos, fábricas ou unidades industriais, que, inclusive, podem transferir valor entre si. O mesmo pode acontecer com o segmento Distribuição, onde, em uma empresa, pode existir mais de um setor responsável por este processo e mereça uma apuração em separado. As unidades de apoio recebem uma receita por Transferência de Atividades de apoio dos segmentos da cadeia de valor. É importante ressaltar que, no mundo real, as atividades de apoio também prestam serviços para as outras atividades de apoio. Por exemplo, a atividade de Tecnologia de Informação presta serviços para Finanças e Controladoria, Recursos Humanos, entre outras. Estas transferências não foram contempladas no quadro do exemplo, para simplificação. Todos os segmentos da cadeia de valor e atividades de apoio podem transacionar à vista e a prazo, razão porque podem existir resultados financeiros que devam ser destacados dos resultados operacionais, onde os valores são mensurados na condição de transações à vista. O custo de oportunidade de capital, para incorporar o conceito de Lucro Residual ou do EVA, deve ser debitado em cada atividade, pois todas elas recebem investimentos e devem remunerar a empresa por meio do custo médio ponderado de capital. A Atividade de Financiamento, neste exemplo, assume o papel dos fornecedores de capital e, portanto, recebe como receita de transferência todos os valores debitados a título de custo de capital nos segmentos da cadeia de valor e nas atividades de apoio. 100 (20) Administração Geral RESULTADO OPERACIONAL Resultados Financeiros (30) 50 (20) 30 Custo de Capital RESULT. ANTES DOS IMPOSTOS Impostos sobre o Lucro RESULTADO LÍQUIDO 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 100 100 100 100 100 100 600 1.200 500 0 1.700 0 2.400 0 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 100 100 100 100 100 100 600 2.400 500 2.000 4.900 0 5.600 0 5.600 Produção 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 100 100 100 100 100 100 600 5.600 500 0 6.100 0 6.800 0 6.800 Marketing Cadeia de Valor 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 100 100 100 100 100 100 600 6.800 500 0 7.300 0 0 8.000 8.000 Disribuição 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 100 100 100 100 100 100 600 0 500 300 800 0 0 1.500 1.500 Cliente ao Serviços 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 0 0 0 0 0 0 0 0 500 0 500 600 0 0 600 Informação da Tecnologia 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 0 0 0 0 0 0 0 0 500 0 500 600 0 0 600 Humanos Recursos 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 0 0 0 0 0 0 0 0 500 0 500 600 0 0 600 Ambiental Gestão Finanças e 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 0 0 0 0 0 0 0 0 500 0 500 600 0 0 600 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 0 0 0 0 0 0 0 0 500 0 500 Geral 30 (20) 50 (30) 80 (20) 100 0 0 0 0 0 0 0 0 500 0 500 600 0 0 600 Administração 600 . 0 0 600 Manutenção Controladoria Atividades de Apoio Quadro 1 – Modelo de Sistema de Informação Gerencial para Avaliação Econômica da Cadeia de Valor 80 RESULTADO TOTAL (Receitas - Despesas ) 100 100 Finanças e Controladoria 100 100 100 Recursos Humanos Manutenção 100 Gestão Ambiental 600 Tecnologia de Informação 0 ATIVIDADES DE APOIO Transferencias - Cadeia de Valor 500 0 Despesas do Setor 500 Materiais 0 1.200 0 2.400 e Processos vimento 1.200 de Produtos Desenvol- CUSTOS Transferências - Atividades de Apoio Transferências - Cadeia de Valor Vendas para Terceiros RECEITAS Discriminação Planejamento Pesquisa e 30 (20) 50 0 50 (310) 360 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 360 0 0 360 ciamento de Finan- Atividade 390 (260) 650 (360) 1.010 (550) 1.560 600 600 600 600 600 600 3.600 16.000 6.000 2.300 24.300 3.960 16.000 9.500 29.460 TOTAL 9 10 Considerações finais Os conceitos, fundamentos, premissas e demonstrações apresentadas fornecem um quadro geral para o processo de avaliação econômica da adoção da estratégia da cadeia de valor para promover a competitividade por meio da análise dos processos empresariais. Possivelmente, a questão que enseja mais dificuldade na implantação deste modelo é a avaliação da receita das transferências, tanto dos segmentos da cadeia de valor, quanto das atividades de apoio. O modelo trabalha sempre com a possibilidade de fornecedores alternativos no mercado, de maneira que a empresa possa optar por transferir algum segmento da cadeia ou atividade de apoio para serem executados por terceiros, fora da empresa. Entendemos que a questão da avaliação econômica das transferências internas, apesar de algumas dificuldades de mensuração, não apresenta motivos suficientes para impedir a adoção deste modelo de avaliação econômica, uma vez que pode ser tratado de várias maneiras, viabilizando a utilização deste sistema de informação gerencial. Bibliografia ANSOFF, Igor. A Nova Estratégia Empresarial. São Paulo: Editora Atlas, 1990. ASSIS, Simone de Araújo; AFFONSO NETTO, Annibal. 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