PO 06: Uma historiografia da Escola Normal Paraense
na ótica da disciplina Matemática
Cibele Borges de Sousa
UFPA
[email protected]
Maria Lúcia Pessoa Chaves Rocha
IFPA
[email protected]
RESUMO
Este artigo é parte da pesquisa que vem se desenhando no campo da Educação Matemática a respeito de uma
historiografia da Escola Normal em Belém do Pará e sobre a ótica da disciplina Matemática em meados do
século XX. Iniciamos o estudo a partir da década de 1950; para o término do período investigado a década
de 1970, visto que em 1971 há a promulgação da Lei 5.692/71 que extingue as escolas normais brasileiras.
Esta temática foi problematizada a partir dos vestígios do passado. Tais como: as documentações existentes
no arquivo da escola. Dessa forma questionamos: Qual e como a matemática daquela época era mobilizada?
Então, fomos à busca de elementos que possibilitassem nossa escrita, inicialmente, utilizando as fontes
documentais existentes na instituição: os decretos-lei, as fichas individuais, relação nominal dos alunos, listas
nominais de professores. O percurso da pesquisa é permeado por outras indagações como: Quais eram as
disciplinas, na escola normal, que faziam parte do currículo? Quais eram os conteúdos? Como eram
mobilizados estes conteúdos? Objetivando construir uma historiografia da Educação Matemática da escola
normal de Belém em meados do século XX e, assim, escrever e revelar nuance da formação das normalistas
entre as décadas de 1950 a 1670 e assim contribuir com a historiografia da educação matemática brasileira.
Em momento posterior será realizada a audição de pessoas que fizeram parte da cultura escolar da escola
normal em Belém nas décadas aqui mencionadas, além de entrecruzamentos com os referenciais teóricos
como: Certeau (2011); Chartier (2002); Chervel (1990); Thompson (1992) e autores brasileiros como
Valente. A historiografia da Escola Normal vem se constituindo à luz de referenciais ora apontados e por
outros que serão apresentados ao logo da pesquisa.
Palavras-chave: Historiografia. Escola Norma. Matemática.
Introdução
As seleções feitas inicialmente de pesquisas correlatas ao tema deste estudo revelaram a
existência de textos que versam sobre as Escolas Normais a respeito de diversas óticas,
dentre elas podemos ressaltar aquelas que o enfoque recai sobre os currículos e sobre a
disciplina Matemática. Esta disciplina integrada ao currículo com sua gama de conteúdos
distribuídos em três séries do ensino secundário. No Pará o Instituto Paraense de Educação,
até 1942, foi um instituto formador de normalistas e apresentava elementos ímpares da
cultura escola, pois era um instituto que tinha seu currículo e conteúdos das disciplinas
com ênfase na formação de professors pré-primário e primário, como eram denominados à
época. A disciplina Matemática pertencia a todos os anos do ensino secundário normal até
1960. Destacamos o interesse na escrita daquela cultura escolar a partir dos vestígios do
passado.
De inicio assumimos a História Cultural para a Dimensão; como Abordagem será realizada
a observação a partir da História Local e Regional; com relação ao tratamento das fontes
será utilizada a História Documental e a Memórias; com base no Domínio, será feita a
relação dos objetos a partir da História da Instituição e com relação aos agentes históricos
o diálogo se dará a partir da História da Disciplina.
Como questões norteadoras apresentaram-se: 1. Quais eram as disciplinas, na Escola
Normal, que faziam parte do currículo? 2. Quais eram os conteúdos? 3. Como eram
mobilizados estes conteúdos? Tais questões vem nos conduzindo para a compreensão do
cenário na escola normal àquela época.
Para responder a estas buscamos estabelecer como objetivo principal: escrever uma
historiografia da Escola Normal em Belém do Pará em meados do século XX. E como
objetivos específicos: Estabelecer um panorama a partir da literatura referente à temática;
Localizar documentos no arquivo da Escola Normal e na Coordenação de Documentação
Escolar (CODOE); Selecionar dentre os documentos localizados aqueles que poderão ser
utilizados como fontes históricas; Contrastar os fatos históricos com a literatura
estabelecida; Escrever uma historiografia da Escola Normal a partir das fontes encontradas
e/ou produzidas sob o enfoque da matemática que era mobilizada à época, além de ter a
possibilidade de ouvir um ou dois professores(as) que trabalharam no instituto naquele
momento.
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Os Referênciais Adotados
Os referenciais foram elencados a partir das questões norteadoras e dos objetivos
mencionados anteriormente. Constituímos um referencial que embasa nossa escrita. A
pesquisa vem sendo construída no âmbito da História da Educação e traz como conceitos
fundamentais: 1. História segundo Certeau; 2. Educação Matemática, educação matemática
e da História da Educação Matemática, segundo Wagner Valente; e 3. Historia Cultural de
Roger Chartier.
Na perspectiva da construção historiográfica o livro: A escrita da história, Certeau vem
contribuindo, no sentido de nos esclarecer, a cerca do fazer historiográfico. Segundo o mesmo:
Toda pesquisa historiográfica se articula com um lugar de produção
socioeconômico, político e cultural. Implica um meio de elaboração circunscrito
por determinações próprias: uma profissão liberal, um posto de observação ou
de ensino, uma categoria de letrados etc. Ela está, pois, submetida a
imposições, ligada a privilégios, enraizada em uma particularidade. É em função
desse lugar que se instauram os métodos, que se delineia uma topografia de
interesses, que os documentos e as questões, que lhes serão propostas, se
organizam. (2011, p.47)
O autor menciona caminhos e nos provoca reflexões a respeito do fazer história, do lugar de
produção, dos métodos a serem utilizados e sobre as condições que são e/ou serão impostas no
percurso da investigação.
A seguir, apresentamos o conceito de História Cultural a partir de Chartier:
A história cultural, tal como a entendemos, tem por principal objeto identificar
o modo como em diferentes lugares e momentos uma determinada realidade
social é constituída, pensada, dada a ler. Uma tarefa desse tipo supõe vários
caminhos. O primeiro diz respeito às classificações, divisões e delimitações que
organizam a apreensão do mundo social como categorias fundamentais de
percepção e de apreciação do real. Variáveis consoante as classes sociais ou os
meios intelectuais, são produzidas pelas disposições estáveis e partilhadas,
próprias do grupo. São esses esquemas intelectuais incorporados que criam as
figuras graças às quais o presente pode adquirir sentido, o outro torna-se
inteligível e o espaço ser decifrado. (2002, p.16-17)
O sentido de assumir um referencial conceitual para a historiografia, ora sendo construída,
conduziu nosso olhar, a partir de considerações organizadas por Chartier, acerca das
"categorias fundamentais de percepção e apreciação do real”. As categorias criadas pelo
autor no sentido de evidenciar sua metodologia se aportam em três noções: representação,
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prática e apropriação.
Os referenciais ora apontados vem embasando nosso fazer e de certa forma, (re) conduzir
nosso olhar para uma escrita mais atenciosa de uma historiografia da Escola Normal de
Belém do Pará.
Um Panorâma do Percurso Metodológico
Vem se constituindo a partir das localizações e seleções dos documentos nos seguintes
lócus: Escola Normal e Secretaria de Educação do Estado do Pará (SEDUC-PA). Esta
pesquisa documental é realizada no arquivo do Instituto de Educação do Pará – antiga
Escola Normal –, hoje denominado de Instituto de Educação do Estado do Pará (IEEP); o
arquivo da Coordenação de Documentação Escolar (CODOE), situado no prédio em anexo
a SEDUC-PA, na cidade de Belém.E, sempre, com a expectativa de encontrar novas fontes
documentais primárias e enriquecer com maiores detalhes o estudo. A respeito dos
depoimentos orais, com ex-aluno e ex-funcionários do instituto.
Resultados Preliminares
Em visitas feitas aos arquivos da Escola Normal e CODOE foram encontradas fontes
primárias como: certificados, lista de professores e pastas de alunos. Tais
documentosforam selecionados e estão em boas condições de manuseio. Atualmente
estamos em busca dos manuais que foram utilizados pelas normalistas. Localizamos puma
lista nominal de ex-professores de matemática da época e estamos investigando como
contact-los e dessa forma trazer suas possíveis contribuições de suas memórias e assim
enriquecer nossa escrita. Assim que fizermos as audições, de um ou dois professores
devemos passar a transcrevê-las e as mesmas comporão o corpo de nosso texto.
Considerações Finais
Um trabalho desta natureza, em Belém do Pará, vem para agregar valor a História da
Educação Matemática Brasileira, pois a Escola Normal formou àquela época normalistas
que se dedicaram na formação das próximas gerações. Puma historiografia da Escola
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Normal, instituição esta que por mais de cem anos, sob a ótica da disciplina Matemática
em meados do século XX ainda está por ser revelada. A Escola Normal paraense foi uma
instituição, como outras no Brasil, que preparou professores primários em prol da
educação. Hoje as fontes encontradas, por exemplo, na instituição, vem nos revelando um
pouco desta história, e em específico, da disciplina Matemática.
Contrastando os fatos históricos com os referenciais adotados buscamos por construindo
uma historiografia da Escola Normal em meados do século XX e assim, revelar um pouco
da História da Matemática Brasileira.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto nº. 4.024, de 9 de abril de 1942 Dispõe sobre o ensino secundário.
CERTEAU, Michel de. A Escrita da História; tradução de Maria de Lourdes Menezes; revisão
técnica Arno Vogel. – 3.ed. – Rio de Janeiro: Forense, 2011.
CHARTIER, Roger. A história cultural entre práticas e representações. Col. Memória e Sociedade.
Trad. Márcia Manuela Galhardo. Ed. 2. DIFEL, 2002.
CHERVEL, R. A história das disciplinas escolares: Reflexões sobre um campo de pesquisa. Teoria &
Educação. Porto Alegre. N.2, 1990.
GOMES, M. L.M. História do ensino da matemática: Uma introdução. Belo Horizonte. Ed. CAEDUFMG 2012.
SILVA, Maria Célia Leme da; VALENTE, W. R. Na oficina do historiador da educação matemática:
Cadernos de alunos como fontes de pesquisa/ Maria Célia Leme da Silva; Wagner Rodrigues
Valente; Organizado por Iran Abreu Mendes e Miguel Chaquiam – Belém: SBHMt, 2009. (Coleção
História da Matemática para Professores, 19).
THOMPSON, Paul, 1935- A voz do passado: história oral/ Paul Thompson; tradução Lólio Lourenço
de Oliveira. – Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1992.
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