Jornal do Comércio - Porto Alegre Terça-feira, 3 de março de 2015 7 Violência contra a mulher Casos de feminicídio vão ao Tribunal do Júri Iniciativa faz parte do projeto do STF chamado Semana da Justiça pela Paz em Casa Jessica Gustafson [email protected] O Tribunal do Júri de Porto Alegre, aderindo à iniciativa do Supremo Tribunal Federal (STF) pela resolução de casos de violência doméstica, denominada Semana da Justiça pela Paz em Casa, julgará na próxima semana dois casos de feminicídio. Além de dar resolutividade às duas situações, a utilização do termo pelo Judiciário é de extrema importância, pois este entendimento, de assassinato por razões de gênero, ainda não existe no Código Penal. O titular da Coordenadoria das Mulheres em Situação de Violência Doméstica e Familiar do Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul (TJRS), juiz-corregedor José Luiz Leal Vieira, explica que a mobilização foi deflagrada pela ministra do STF Carmen Lúcia. “Ela propôs que realizássemos essa ação para tratar de um assunto muito preocupante devido aos dados sobre a violência contra as mulheres no Brasil. Se denominou assim porque pretende transmitir uma ideia de cultura da paz, que começa dentro de casa”, explica. Vieira afirma que o feminicídio não tem penas maiores do que o homicídio, mas existe uma circunstância agravante. “A pena é praticamente a mesma, mas com um agravante que o juiz pode fixar. Hoje, varia de 6 a 12 anos ou de 12 a 30 anos, dependendo das circunstâncias”, relata. Um dos casos a ser julgado diz respeito a uma tentativa de homicídio realizada em 2013. O réu é acusado de golpear a esposa, com uma facada na axila. Na época da denúncia, ambos corroboraram a versão dos desentendimentos domésticos. Em maio de 2014, a juíza Cristiane Busatto Zardo decidiu que o acusado iria a julgamento pelo Tribunal do Júri, apesar de réu e vítima estarem afirmando que o ocorrido fora um acidente, tendo a esposa tropeçado e caído sobre a faca que ele portava. A juíza afirmou que a materialidade do delito ficou provada pelo auto de apreensão da faca, boletim de atendimento médico e os depoimentos policiais colhidos na ocasião. O caso vai a júri no dia 12 de março, a partir da 9h, no Foro Central da Capital. O juiz-corregedor comenta que, em tese, em crimes como esse de tentativa de homicídio, a vontade da vítima não é preponderante no julgamento. “A ideia de que a vítima pode ir na delegacia e retirar a queixa não existe nesse tipo de processo. Se a juíza tomou essa decisão é porque as demais provas contidas no processo indicam isso. O feminicídio é um crime diferenciado e essas questões são levadas em conta, pois envolvem relações afetivas entre as pessoas, não necessariamente entre marido e esposa, mas irmãos, mãe e filho etc.”, argumenta. O outro caso que irá ser julgado pelo Tribunal do Júri será o da jovem morta na Estrada das Furnas, em Porto Alegre, no ano de 2009. A vítima foi atingida com 17 facadas. Segundo a denúncia, quando foi MARCO QUINTANA/JC Juiz-corregedor José Luiz Leal Vieira coordena as ações do Tribunal de Justiça na área atacada, ela estaria caminhando na companhia de Denise e da acusada Andréia quando houve uma discussão entre elas. Denise e Andréia, então com 18 e 19 anos, eram namoradas, e o crime teria sido motivado pelo ciúmes que a ré Andréia sentia de Denise. Em julho do ano passado, Denise foi absolvida pelo Júri. Andréia será julgada em processo pautado para o dia 13 de março. “Existe um entendimento mais moderno que a Lei Maria da Penha pode ser aplicada também nas relações homoafetivas. Isso quando o fato que deflagra a situação de violência se dá por uma questão de gênero”, comenta Vieira. Durante o período da campanha, o Estado também terá a instalação de três Juizados da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher nas comarcas de São Leopoldo, Rio Grande e Pelotas. Além desses, já existem dois Juizados em Porto Alegre, um em Novo Hamburgo, um em Canoas e um em Caxias do Sul. De acordo com o juiz-corregedor, estes dois casos serão julgados pelo Júri por se referir a crime contra a vida. “São quatro juízes em Porto Alegre que trabalham exclusivamente com a matéria de violência doméstica. Somente um deles pautou 92 audiências para esta semana”, completa. Uso do termo possibilita o reconhecimento das razões de gênero Está em tramitação na Câmara dos Deputados, o Projeto de Lei 8305/14 que modifica o Código Penal para incluir entre os tipos de homicídio qualificado o feminicídio, definido como o assassinato de mulher por razões de gênero. Segundo a proposta, há razões de gênero quando o crime envolve violência doméstica e familiar ou menosprezo e discriminação contra a condição de mulher. O projeto prevê ainda o aumento da pena em 1/3 se o crime ocorre durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; contra menor de 14 anos, maior de 60 ou pessoa com deficiência; e na presença de descendente ou ascendente da vítima. Ana Lúcia Keunecke, diretora jurídica da Artemis, organização comprometida com a promoção da autonomia feminina e prevenção e erradicação de todas as formas de violência contra as mulheres, considera de grande importância caracterizar este crime específico. “Temos no Código apenas homicídio e isso faz com que essa situação especificamente de gênero acabe não indo para as estatísticas e também não mapear os casos. “Além da punição, é importante que o Judiciário reconheça como é grave a questão de gênero e da violência contra a mulher. O que o homicídio fere é o bem da vida, mas o feminicídio fere o bem da vida porque a vítima é mulher. E isso envolve toda uma questão ligada à posse e ao poder de uma cultura patriarcal”, ressalta. agenda adVocacia Dal Agnol é suspenso pela OAB Por decisão do Tribunal de Ética e Disciplina (TED) da OAB/RS, transitada em julgado, o advogado Maurício Dal Agnol está com registro profissional suspenso em todo o território nacional. A decisão é da 7ª Turma Julgadora do TED, que aplicou a pena por descumprimento do Estatuto da Advocacia e da OAB, art. 34, incisos XX (locupletar-se, por qualquer forma, à custa do cliente ou da parte adversa, por si ou interposta pessoa) e XXI (recusar-se, injustificadamente, sendo tratado numa perspectiva educativa. No Judiciário, quando chega este tipo de crime, ele é definido como homicídio comum, quando o agravante da motivação é uma questão muito mais profunda”, afirma Ana Lúcia. De acordo com ela, é um grande avanço para o problema da violência contra a mulher incluir este termo, porque possibilita a prestar contas ao cliente de quantias recebidas dele ou de terceiros por conta dele). Na metade da semana passada, Dal Agnol havia recuperado o direito de exercer a advocacia depois de ter o registro suspenso por um ano. De acordo com a Polícia Federal, a suspeita é de que a quadrilha comandada por ele chegou a desviar cerca de R$ 100 milhões de clientes que recebiam indenizações de empresas, principalmente de telefonia. ¶ Estão abertas as inscrições para a cerimônia do casamento coletivo que ocorrerá em 11/6 na Galeria dos Casamentos do Palácio da Justiça, localizado na praça Marechel Deodoro, 55, no Centro de Porto Alegre. Para a inscrição, o casal deve ser natural do Rio Grande do Sul, residir na Capital e não ter condições de arcar com os custos. Informações pelo telefone (51) 3210.7221. ¶ Começam em 17/3 os encontros do grupo de estudos de Direito de Família do Instituto dos Advogados do Rio Grande do Sul (Iargs). A entrada é franca. O evento contará com palestra da advogada Liane Bestetti e terá como tema Provas Virtuais no Direito de Família. ¶ A Fundação Escola Superior de Direito Municipal (ESDM) realiza, no dia 27/3, das 8h30min às 12h e das 13h30min às 17h, o Curso de Atualização em Processo Civil, com ênfase no novo CPC. A atividade ocorre no auditório Cloé Gomes Rodrigues da ESDM, localizado na rua Siqueira Campos, 1.184/909, no Centro de Porto Alegre. Os procuradores municipais Rafael Ramos e Hélio Fagundes Medeiros são os coordenadores da palestra. A atividade tem o apoio da Faculdade de Direito da Pucrs, da Associação dos Procuradores do Município de Porto Alegre e da Associação Nacional dos Procuradores Municipais, sendo válida como 8h/aula. ¶ A OAB/SC promove, no dia 9/3, o curso de Gerenciamento de Escritório. O evento abordará Gestão e Software Jurídico, Processo Eletrônico e Aspectos Práticos do PJE e contará com a presença do advogado Gustavo Rocha. O curso será realizado no Hotel Sollis, na avenida Nereu Ramos, 987, em Itapema. Mais informações no site www.oab-sc.org.br.