06 ENTREVISTA www.jhoje.com.br Cascavel, 14 e 15 de setembro de 2013 TRIBUNAL DO JÚRI Por falta de estrutura, pena de homicídio é igual a de roubo Hoje - Porque escolheu trabalhar como promotor de acusação de julgamentos? Daiha - Sempre busquei atuar no Tribunal do Júri. É a parte que mais gosto. Queria pegar casos de infanticídios, de aborto, de investigação de suicídio, mas infelizmente não conseguimos investigar de forma correta, por falta de provas. Hoje - Qual a visão que você tem em relação aos crimes no Estado, existe uma característica de outros estados? Daiha - Os crimes no interior têm uma repercussão social muito maior que na Capital, porque nas cidades menores as pessoas se conhecem mais. Mas Cascavel é uma cidade de médio porte e o nível de criminalidade aqui é bem alto. Hoje - Como a polícia está desempenhando a função no quesito segurança pública? Daiha - A polícia tem trabalhado na elucidação dos casos, só que falta gente. A defasagem não só de policial, mas de promotor e juiz. Se você pegar a corporação da Polícia Militar, se não estiver errado, ela era inferior em 2012, ao que a gente tinha em 1985, isso foi um oficial que me passou. Não sei agora com esses novos concursos já melhorou, mas que há defasagem, isso há. A Polícia Militar e a Civil fazem milagres aqui no Paraná. Hoje - Faça uma análise das duas cidades em que trabalhou sobre os crimes contra a vida? PERFL Eduardo Labruna Daiha é promotor da 5ª Promotoria de Cascavel. Nasceu em 1982, no Rio de Janeiro. Entrou na Universidade Cândido Mendes aos 17 anos. Começou a estudar para concursos e em 2004 foi aprovado. Trabalhou por um ano e oito meses no Fórum de São Miguel do Iguaçu e desde abril de 2013 assumiu como promotor de acusação do Tribunal do Júri de Cascavel. Daiha - A redução dos crimes contra a vida só ocorre da seguinte forma: primeiro tendo um policiamento mais ostensivo, e em segundo, com o promotor [nos julgamentos] dando uma resposta à sociedade. A certeza de que o autor ou autores irão para a cadeia. mesmo processo do júri. Se a sociedade entender que aquela pessoa tem que ser absolvida, tudo bem. Porque um promotor sozinho vai recorrer? Hoje - Quantos processos o senhor acompanha atualmente? Daiha - Em torno de 1,8 mil criminais e 1,6 mil policiais. Fora os plenários do Tribunal do Júri que são realizados às terças e quintas. Nos outros dias fico em função das audiências. Cascavel não tem a Vara Privativa do Júri. É um absurdo, acho que a sociedade tinha que se mobilizar e criar uma vara somente do júri, assim teríamos um promotor e um juiz só para o júri. O promotor que só atua no júri, ele tem um feeling melhor daquele que não atua. Hoje - E como isso ocorre? Daiha - Através de julgamento pelo Tribunal de Júri. Acredito que uma absolvição mal feita tem um efeito muito Hoje - Sem a Vara Privativa, danoso à sociedade, principalmente como funciona o trabalho no Fónas zonas mais carenrum de Cascavel? tes em que vivem os Daiha - O processo jovens com baixa escodo júri é bifásico. A gen“CASCAVEL NÃO TEM A laridade. Eles veem no te tem quatro varas crimundo do crime uma minais na cidade. Elas VARA PRIVATIVA DO JÚRI. forma de sobrevivência fazem o sumário de que a gente sabe que É UM ABSURDO” culpa que é a primeira é errado. fase do tribunal do júri. Hoje - E o que falar sobre os índices de condenação de Cascavel? Daiha - Isso é muito relativo porque depende do processo criminal. O promotor não se preocupa com a condenação ou absolvição. A gente quer que a lei seja aplicada. Inúmeras vezes, pedi a absolvição do réu, desde que eu tenha certeza de que aquela pessoa não matou, não causou o mal pelo qual é acusada. Se eu tiver a convicção de que ela cometeu o crime, pleiteio aos jurados que deem resposta pela condenação. Hoje - O senhor costuma recorrer das sentenças dos julgamentos? Daiha - Não recorro. Em Cascavel temos uma pauta do júri muito apertada. Costumo dizer que não tem como se perder dois dias no Feito isso, se o réu for pronunciado, ele vai para plenário. Só que quem faz plenário sou eu, da 5ª Promotoria. Porque reclamo tanto de não conseguir realizar todas as instruções, porque não colho a prova que vou ouvir em plenário, e às vezes o colega que acompanha em determinada vara, tem outra visão do crime, diferente da minha não qualificando o crime. No julgamento de um homicídio simples, a pena do acusado é quase igual a pena de um roubo, ou seja, tem que dar uma condenação ínfima para uma vida que foi retirada. Por isso, que a sociedade como um todo, tem que lutar por essa Vara Privativa do Tribunal do Júri que já existe em outras cidades do Paraná. Hoje - É característico o promotor manter um contato com os policiais? Daiha - O promotor de Justiça exerce o controle externo da função policial. Cabe ao Ministério Público, nas promotorias criminais, efetuar esse controle. Busco sempre conversar com o delegado e saber o que está acontecendo. Graças ao trabalho deles, de ir até o local e colher provas que o promotor pode efetivamente acusar uma pessoa. No Brasil a gente tem aquela mania de generalizar sobre a polícia corrupta, eu não acho certo. Quando você diz isso, está ofendendo aquelas pessoas que não são. Sabe toda a profissão tem o seu lado ruim. Hoje - Como que funciona a segurança pessoal de um promotor? Daiha - Tenho porte de arma de fogo, mas não acredito em represália porque faço o meu papel de promotor. Quando eu me sinto inseguro, eu comunico à Procuradoria Geral de Justiça para análise de colocar algum policial de apoio, tomando algumas precauções. Há ameaças para intimidar e tentar medir a febre do promotor e vê-lo se acovardar, mas nada grave. Hoje - Porque tem a rotatividade dos cargos de promotores e juízes? Daiha - É por interesse pessoal e da administração pública. Essa remoção é natural e também necessária, principalmente em cidades menores, onde existe um promotor e um juiz. Quando ele fica muito tempo no mesmo local, ele perde a imparcialidade. LORENA MANARIN Em torno de 1,8 mil processos criminais e 1,6 mil processos policiais são acompanhados pelo promotor público Eduardo Labruna Daiha. Ele está em Cascavel há apenas cinco meses e lida diariamente com a defasagem da Justiça. Uma reivindicação é a implantação da Vara Privativa do Júri, para dar maior respaldo nos julgamentos. Ele faz duras críticas a falta de policiais para afrontar a demanda de crimes, considerada alta na Capital do Oeste do Paraná. (Jaques Moreira)