ANÁLISE COMPARATIVA ENTRE CISALHAMENTO DIRETO E TILT TESTE PARA OBTENÇÃO DO ÂNGULO DE ATRITO INTERNO BÁSICO EM ESTUDO DE CASO DO XISTO Henrique Ramalho Souza Silva* Rodrigo Figueiredo Costa** Michel Melo Oliveira*** Andréia Bicalho Henriques **** Resumo A estabilidade de escavações em mineração sofre grande influência das descontinuidades presentes no maciço rochoso. As intercessões dessas descontinuidades com a superfície aberta pelas escavações podem formar blocos que estão sujeitos a quedas. Este trabalho analisa duas metodologias para obtenção do ângulo de atrito interno (φb) e identificar a presença de possíveis diferenças. O cisalhamento direto tem um custo elevado e é de difícil execução já o tilt teste é barato e de fácil execução. A comparação se torna necessária para diminuir custos no empreendimento mineiro. Palavras-chave: Cisalhamento direto. Tilt teste. Ângulo de atrito interno básico. Descontinuidade. Abstract Stability of mining excavations is greatly influenced by discontinuities present in the rock mass. The intersections of these discontinuities when opened to the surface by excavation can form blocks that are subject to falls. This study analyzes two methods for obtaining internal friction angle (φb) and identify the presence of possible differences. Direct shear has a high cost and is difficult to implement, however, the tilt test is cheap and easy to perform. A comparison of these methods is needed to reduce costs in mining ventures. Keywords: Direct shear. Tilt test. Basic internal friction angle.Discontinuity. ________________________ *Aluno do curso de Engenharia de Minas - Faculdade Kennedy – [email protected] **Aluno do curso de Engenharia de Minas - Faculdade Kennedy [email protected] ***Professor Orientador Mestre em Engenharia de Minas – UFMG – [email protected] ****Professora OrientadoraDoutora em Engenharia de Minas – UFMG – [email protected] Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 1 INTRODUÇÃO Na mineração é essencial realizar uma avaliação segura do maciço rochoso, principalmente da descontinuidade da rocha. De acordo com Hu e Cruden (1992) o ângulo de atrito interno básico é essencial na avaliação da estabilidade do talude. Combinações de descontinuidades com a superfície aberta da galeria podem formar blocos que podem apresentar instabilidade. A forma de analisar a possibilidade de quedas desses blocos também necessita do ângulo de atrito interno básico. O ensaio de cisalhamento direto de superfície retificada (utilizado para a estimação do ângulo de atrito básico) é de difícil preparação e de grande consumo de tempo. O fato de termos que chumbar a amostra em um cilindro de concreto justifica a afirmação anterior. O tilt teste é um teste para obtenção do ângulo de atrito interno básico de fácil preparação de amostras e rápida execução, porém teoricamente de baixa precisão. Não se sabe a relação entre os ângulos de atritos obtidos diretamente e aqueles obtidos pelo tilt teste. Comparando os valores em ambos os testes pode-se verificar se há discrepâncias entre eles. A possibilidade de ter o resultado do tilt teste como um resultado confiável diminuirá o custo na obtenção experimental das variáveis utilizadas na estabilidade das escavações. 2REFERENCIAL TEORICO 2.1MACIÇOS ROCHOSOS O maciço rochoso pode ser descrito como uma estrutura constituída por duas parcelas, um meio sólido que é a m a t r i z r o c h o s a e a s descontinuidades que dividem o maciço. Sendo um conjunto de blocos de rocha, justapostos e articulados, o material que o constitui é a matriz do maciço rochoso, também denominada rocha intacta. De acordo com Oliveira e Brito (1998) os maciços são essencialmente heterogêneos, anisotrópicos e descontínuos, e a sua complexidade resulta da evolução geológica a que foram submetidos. A escala da porção do maciço analisado, em relação à escavação considerada, que define a validade de se admitir o meio homogéneo ou heterogéneo, isotrópico ou anisotrópico, contínuo ou descontínuo, no âmbito de um estudo qualquer. O maciço pode reagir de maneiras diferentes dependendo das situações aplicadas, estas reações dependem do tipo e das dimensões da escavação. Tendo isso como base para a previsão do comportamento do maciço tem que se ter como base as características da escavação relacionada. Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 De um modo geral, as características mais visadas no estudo do comportamento dos meios rochosos dizem respeito à deformabilidade, à resistência, à permeabilidade (em especial, no caso de obras hidráulicas e certas obras de escavação), e ao estado de tensões naturais (sobretudo, no caso de obras subterrâneas profundas). Tais características compreendem as feições geológicas e os parâmetros geotécnicos - obtidos através da caracterização geológico-geotécnica do maciço rochoso – e os índices e propriedades físicas – determinados por meio de ensaios in situ e laboratoriais. 2.2DESCONTINUIDADES De acordo com Hudson e Harrison (2007), na engenharia as descontinuidades podem ser o único ou maior fator que rege a deformabilidade, resistências e permeabilidade do maciço rochoso. A palavra descontinuidade denota qualquer separação na rocha, tendo efetivamente zero de resistência à tração. Figura 1 -Exemplo da descontinuidade no maciço rochoso - Hudson e Harrison (2007) verdade Na figura 1 e ilustrado um exemplo de maciço rochoso descontínuo, na todos os maciços rochosos são fraturados. Em casos muito Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 rarosespaçamentos entre as descontinuidades são maiores do que o projeto de engenharia da rocha. Figura 2– Esquemática das propriedades geométricas primárias das descontinuidades nas rochas- Hudson e Harrison (2007) Na figura 2 é representado um diagrama esquemático que demonstra as principais características do maciço rochoso com a geometria em particular os parâmetros ilustrados: Espaçamento e frequência:espaçamento é a distância entre a descontinuidade adjacente de uma mesma família. Frequência o número de descontinuidade por unidade de distância. Orientação: é a atitude da sua camada e a direção definida pelo ângulo de mergulho. Persistência: é medida pelotamanho, forma e a extensão na descontinuidade. Rugosidade: embora descontinuidades sejam consideradas planas para fins de análise de persistência, a superfície da própria descontinuidade podem conter ondulações em suas paredes denominadas rugosidade, que pode ser definida por gráficos ou matematicamente. Abertura: é a distância medida entre a rocha adjacente da superfície da descontinuidade. Família das descontinuidades: consiste em um conjunto de descontinuidades paralelas ou subparalelas, é conveniente considerar que as descontinuidades não ocorrem aleatoriamente, ocorre geralmente em uma zona de menor resistência da rocha. Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 Tamanho do bloco: como está ilustrado na figura 2, depende das características descritas anteriormente, é estimada a distribuição dos blocos para avaliar possíveis blocos soltos. 3 METODOLOGIA 3.1 AMOSTRAS As amostras foram adquiridas da mina Cuiabá nível 11 da empresa Anglo Gold, totalizando 24 amostras, 34,06Kg, da parte estéril da mina. Um fato importante para a análise é que o diâmetro das amostras é de 30 mm, para ensaio de cisalhamento está em desacordo com as normas técnicas da International Society of Rock Mechanics (ISRM) (1974) que é de 54 mm. Portanto um dos objetivos deste trabalho é verificar a influência do diâmetro das amostras no resultado comparativo. Cada amostra foi identificada com um código de (HR-01 até o HR24),adescrição visual básica de cada corpo de amostra foi realizada, identificando as amostras e as suas dimensões e características geológicas e possíveis imperfeições, para determinar as principais dimensões de cada amostra utilizou uma régua e um paquímetro. Para aprofundar na descrição mineralógica das amostras iniciou a preparação da amostra para a caracterização mineralógica que foi realizada no corpo de amostra HR – 08, Porém uma preparação da amostra para a análise através do aparelho (PA Nalytical modelo empyrean), é necessário obter a granulometria ideal para a leitura no difratômetro de Raios X, para a utilizaçãodo aparelho e colocar a amostra pulverizadano porta amostra do aparelho. Este aparelho utiliza a difração do raio-x para medir as distância entre as camadas cristalizadas, que são únicas para cada elemento, que gerou o gráfico abaixo. Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 Gráfico 01 – Difratograma da amostra HR-08. Realizou uma análise visual com difratograma acima com as informações dos minerais em um banco de dados da UFMG. Para a interpretação do difratograma, é necessário dois passos, sendo o primeiro passo da análise do difratograma foi identificar todos os picos relevantes no gráfico eo segundo passo foi comparar os picos identificados com os picos dos minerais de um banco de dados a fim de classificar quais picos pertencem a quais minerais. Por exemplo, o pico 14,1666 é característico da clorita, o pico de 9,98067 é característico da mica, o pico de 6,37684 é característico do Feldspato já o pico de 2,56015 pertence aos minerais de Feldspato, Dolomita, Clorita e Mica ao mesmo tempo. Ao utilizar o banco de dados da UFMG foi possível identificar os seguintes minerais:Feldspato, Dolomita, Clorita, Mica e Quartzo. 3.2 TILT TESTE O método consiste em colocar as amostras em cima da mesa de madeira representada na figura 3 que foi construída especialmente para realizar os ensaios, que vai sendo erguida lentamente até que uma rocha deslizasse sobre a outra, podendo assim determinar o ângulo de atrito interno básico. Os experimentos de foram realizados no laboratório de tecnologia de rocha do departamento de engenharia de minas da UFMG, com o auxílio do dispositivo da figura 3. Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 Figura 3 – Ensaio de Tilt Teste – Foto do laboratório de tecnologia de rochas da UFMG Como o critério adotado neste trabalho para determinar o ângulo formadocom auxílio de um paquímetro sendo a hipotenusa do triangulo formado de acordo com a figura 3 que é um valor fixo independente do ângulo da mesa, dessa maneira é possível calcular o ângulo de atrito interno básico das amostras pela equação 1. (Eq.1) Onde o cateto adjacente é pode ser obtido pela projeção horizontal da hipotenusa. Para que o ensaio seja realizado é necessário preparar as amostra que consiste em cortar e retificar a superfíciedas amostras selecionadas para que o experimento possa ser executado.Foram realizados 30 ensaios para cada amostra sendo 9 amostras que foram utilizadas totalizando 270 ensaios. 3.3 CISALHAMENTO DIRETO O ensaio de cisalhamento direto pode ser descrito pela aplicação constante de uma tensão normal constante no corpo de prova e de uma tensão cisalhante, a um ângulo de aproximadamente 36° relativo ao eixo horizontal, Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 crescente. Este ângulo contribui com uma parcela na tensão normal e evita um possível deslocamento indesejável nas amostras. Segundo Brady e Brown (2005) o ângulo de atrito básico (φb) é uma variável fundamental para a compreensão da resistência ao cisalhamento das superfícies das descontinuidades. De acordo com Viecili (2003) o ensaio de cisalhamento direto é o mais antigo procedimento usado para se determinar a resistência ao cisalhamento e baseia - se no critério de Mohr Coulomb representado pela equação 2. (eq.2) Onde ϲ é a força de coesão da superfície eɸ é o ângulo de atrito. Para a realização do ensaio é necessário preparar as amostras para o ensaio que consiste em moldas os corpos de provas com grout de secagem rápida em um molde de plástico ideal para o quadro de cisalhante. Assim que os corpos são moldados, são levados ao quadro cisalhante para realização do ensaio. Figura 4 – Esquema do ensaio de cisalhamento direto– Hudson e Harrison(2007) Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 Figura 5 - Esquema de resultados esperados em um ensaio de cisalhamento direto -Hudson e Harrison (2007) O fato de retificar as paredes da descontinuidade serve para reduzir à coesãoda matriz rochosa a zero. No caso onde a coesão é zero a relação entre (φr) e (σn)pode ser representadapela equação 3: (eq.3) Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 Onde φr é o ângulo de atrito residual.Oφbtem módulo aproximadamente igual ao ângulo de atrito residual (φr.) justificando assim a utilização da equação 3 no presente trabalho. Figura 6 – Ensaio de cisalhamento direto – Foto do laboratório de tecnologia de rochas da UFMG O ensaio foi realizado para 6 amostras selecionadas, para obter o ângulo de atrito interno básico utilizou uma regressão linear. Para isto,cada ensaio de cisalhamento direto foi utilizado um valor diferente para a tensão normal. Sendo os valores escolhidos foram 6,37; 7,35; 3,92; 5,40; 5,88; 8,33 Mpa. 4 RESULTADOS Conforme descrito na metodologia foram realizados 30 ensaios de tilt teste para cada amostra selecionada. Os resultados obtidos dos ângulos de atrito interno básico para cada uma das amostras estão apresentados na tabela a seguir.Pode-se notar que a média dos resultados do tilt teste são semelhantes entre si. Chama a atenção a amostra AHR 15 mostra o resultado um pouco discrepante dos outros 5. Isto pode ocorrer devido a imprecisão do método do tilt teste. Essa amostra eleva a variância total dos ensaios, mas esse resultado será considerado para a análise. Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 TABELA 1 – Resultado do tilt teste RESULTADO TILT TESTE ENSAIO AHR1 AHR13 AHR14 AHR15 AHR7 1-1 AHR2 MÉDIA 20,60° 21,14° 21,49° 16,32° 20,90° 22,24° DESVIO PADRÃO 1,77° 2,50° 1,85° 2,73° 4,56° 2,77° MÉDIA GERAL 20,45° DESVIO PADRÃO GERAL 3,40° Em seguida as mesmas amostras utilizadas no ensaio de tilt teste, foram moldadas e utilizadas no ensaio de cisalhamento direto. Conforme descrito na metodologia foram utilizadas cinco tensões diferentes para que seja possível traçar a linha de regressão linear, e assim obter o ângulo de atrito interno básico. Após os ensaios foram realizados alguns gráficos para traçar a linha de regressão linear. Gráfico 2 – Regressão linear para o ensaio de cisalhamento direto O gráfico acima representa a resultante dos seis ensaios realizados de cisalhamento direto. O valor do ângulo de atrito interno básico pode ser encontrado pelo arco tangente da inclinação da reta, que no caso o valor obtido foi de 26,78°. O valor de 26.78° sugere uma diferença razoável, já encontrada em trabalhos semelhantes para outros tipos de litologias como Leite (2012). Acredita-se poder achar um fator médio entre os resultados do tilt teste podem estimar o resultado do ensaio de cisalhamento direto, para isso mais estudos deverão ser realizados em várias litologias. Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS E SUGESTÕES Foi observado que o ensaio de cisalhamento direto é mais complexo, dispende mais tempo e custo para a sua realização do que o ensaio do tilt teste. Os resultados finais do tilt teste encontrados apresentam baixa variabilidade entre eles, mostrando que é um ensaio com uma boa reprodutibilidade. O resultado do ensaio de cisalhamento direto mostra um índice de correlação R² = 0,6399 apresentando uma correlação moderada a alta. Sugere-se então que apesar da ISRM determinar no mínimo 5 ensaios para caracterizar o maciço rochoso, esse número pode ser insuficiente para a confiabilidade do resultado. A média geral dos ensaios de tilt teste, foi de 20,45° com o desvio padrão de 3,40° já o resultado do cisalhamento direto encontrado foi de 26,78°. Essa diferença de 6,33° permite, estatisticamente, concluir que os resultados são semelhantes, mas esse valor pode ter como causa o diâmetro da amostra que não obedece a ISRM (54 mm) ou algum problema operacional durante aos ensaios. Para o diâmetro é importante ressaltar o resultado de Leite (2012) que encontrou diferença de 5,42° e 8,12° pra o diâmetro (54 mm). Sugere-se está análise seja realizada para o máximo de litologias possíveis, pois pode-se encontrar uma relação média entre o resultado do tilt teste e o resultado do cisalhamento direto. Sugere-se também a análisecom a amostra da mesma litologia em vários diâmetros diferentes REFERÊNCIAS HU, X. Q., CRUDEN, D.M.A portable tilting table for on-site tests of the friction angles of discontinuities in rock masses.International Association of Engineering Geology. Paris, 1992. ISRM.Suggested method for laboratory determination of direct shear strength, 1974. BRADY, B.H. G.,BROWN E.T. 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Revista Pensar Engenharia, v.2, n. 2, Jul./2014