CONGRESO CONAMET/SAM 2004 MODIFICAÇÃO DO ÂNGULO DE CONTATO DE AMOSTRAS DE BORRACHA NATURAL SUBMETIDA A TRATAMENTO POR DESCARGA CORONA Fabricio A. Buzeto, João S. C. Campos Departamento de Tecnologia de Polímeros / FEQ / UNICAMP / Campinas – SP – C.P. 6066, 13083-970 – [email protected] - [email protected] RESUMO A borracha natural foi exposta a descarga corona em diferentes tempos e alturas, sendo estudadas posteriormente o ângulo de contato formado por uma gota de água depositada na sua superfície. Após a analise foi observado a diminuição do ângulo de contato. Esses experimentos foram realizados seguindo um planejamento fatorial 22 utilizando-se pontos axiais. Os resultados obtidos foram representados num gráfico de superfície, sendo visualizado o aumento da molhabilidade da superfície da borracha natura. Palavras-Chaves: Descarga Corona, Borracha Natural, Ângulo de contato, Planejamento Experimental, Molhabilidade. 1. INTRODUÇÃO A modificação da superfície dos polímeros vem se tornando uma importante área de pesquisa na indústria de polímeros. Muitos desses polímeros possuem boas propriedades mecânicas e apresentam baixos custos, no entanto, muitas das aplicações industriais requerem propriedades superficiais especiais, bem como compatibilidade com cargas. Os tratamentos superficiais são capazes de alterar as propriedades físicas e químicas das superfícies poliméricas sem afetar suas propriedades mecânicas e convertem o material, a priori, de baixo custo a um elevado valor agregado. Os tratamentos de superfície mais utilizados são: Tratamento químico, tratamento térmico ou por chama, tratamento por irradiação de fótons, tratamento por feixe de íons, tratamento por plasma e tratamento por descarga corona. 1.2 BORRACHA NATURAL A borracha natural é definida como um polímero de alto peso molecular, constituído de unidades de isopreno, predominantemente na configuração cis, com um grau de polimerização na ordem de 5000 e ampla faixa de distribuição de peso molecular. Apresenta desde sua extração, uma estrutura prédeterminada que pode levar a obtenção de elastômeros com excelentes propriedades físicas, tais como: permeabilidade a gases, resistência a chama e a óleos, resistência a abrasão, boa adesão entre outras. Essas propriedades acabam não sendo suficientes para determinadas aplicações, sendo necessário então a incorporação de cargas como negro de fumo, silicatos, carbonatos entre outros. A incorporação de cargas no polímero é empobrecida, sendo então necessário realizar tratamento na carga ou no substrato para a compatibilização das partes. H3C H C C H2C CH2 n Figura 1 – Estrutura do poli-cis-isopreno 1.3 TRATAMENTO POR DESCARGA CORONA O tratamento por descarga corona é provavelmente o tratamento superficial mais empregado industrialmente e possui várias vantagens como: simplicidade, rapidez, baixa produção de resíduos e condições de operação a pressão e temperatura ambientes. [1] Um sistema bastante utilizado para produzir corona é o sistema ponta-plano. Este sistema é composto por uma ponta corona, uma placa plana, uma fonte de tensão e medidores de corrente corona e de carga. [2] Ponta Polímero Plano Tensão AC Figura 2 - Esquema do dispositivo de descarga corona: ponta-plano e fonte de tensão A descarga é gerada a partir de uma diferença de potencial elétrica aplicada entre a ponta e o plano. Ao redor da extremidade da ponta, a qual apresenta uma região de elevado campo elétrico, a descarga corona aparece como uma luminescência de cor azul clara e os elétrons gerados interagem com as moléculas gasosas originando espécies CONGRESO CONAMET/SAM 2004 ativas tais como íons, radicais e moléculas excitadas. Estas espécies são depositadas na superfície do material, podendo causar modificações nas suas propriedades de superfície. [3] A placa plana geralmente é coberta com um material isolante para prevenir a formação de arco entre os eletrodos. Os parâmetros que influenciam as propriedades superficiais do polímero tratado são: potência empregada, distância ponta-plano, umidade relativa e temperatura. [2] Numa descarga elétrica ocorrem diferentes processos de produção e perda de partículas que constituem o meio ionizado. Estes processos acontecem pela interação entre os diferentes tipos de partículas. [4] - Espalhamento - Transferência de Energia Cinética Proc essos Colisão Elástica Transferência de Energia Cinética Colisão Inelástica Troca de Energia Potencial - Excitação - Dissociação - Ionização - Troca de carga - Recombinação - Captura Figura 3 – Esquema dos principais processos colisionais formados numa descarga elétrica 2. EXPERIMENTAL 2.1 PLANEJAMENTO EXPERIMENTAL Para um melhor desenvolvimento do experimento foi realizado um planejamento experimental fatorial 22 incluindo pontos axiais (-α e +α) e ponto central. Este tipo de planejamento foi utilizado para estimar os pontos ótimos de utilização da descarga corona em relação à diminuição do ângulo de contato da superfície da borracha natural. Os ensaios foram realizados em diferentes intervalos, sendo representativos para os resultados obtidos. Tabela I – Codificação e intervalos utilizados nos ensaios: Codificação -α -1 0 +1 +α Tempo (s) 5 29 53 76 100 Altura (mm) 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 2.2 MÉTODO DE PREPARAÇÃO DAS AMOSTRAS DE BORRACHA NATURAL A matéria prima utilizada para o estudo foi do tipo SMR L – Standard Malaysian rubber, importado da Malásia pela Del Química e cedida pela empresa Rhodia do Brasil Ltda., o material foi processado por um moinho aberto de rolos funcionando numa temperatura de 70ºC com rotação de 19 rpm no rolo frontal e 23 rpm no rolo traseiro, este procedimento foi realizado com a finalidade de obter-se laminas de espessura elevada (aproximadamente 50 mm) e também para eliminar tensões do material. Os filmes de 50 mm foram então colocados num molde de compressão por 3 minutos numa temperatura de 100ºC e pressão de 5 toneladas, para a obtenção de filmes de espessura de 1 mm. O filme de borracha foi cortado em amostras de forma arredondada de aproximadamente 3 cm diâmetro. 2.3 TRATAMENTO POR DESCARGA CORONA NAS AMOSTRAS A amostra de borracha natural com espessura de 1 mm e diâmetro de aproximadamente 30 mm, foi colocada no equipamento de descarga corona, onde, através do planejamento experimental, foram realizadas as descargas em diferentes configurações de distância da ponta/amostra e de tempo de tratamento, sendo a tensão elétrica aplicada fixa de 5 kV. A temperatura da sala foi de 21ºC, umidade relativa de 60% e pressão atmosférica ambiente. 2.4 MEDIDAS CONTATO DE ÂNGULO DE O método direto mais utilizado para medidas de ângulo de contato consta da medida do perfil da gota de líquido ou de uma bolha depositada sobre uma superfície sólida. Estes se referem ao método da gota séssil. No método da gota séssil, uma gota de um líquido devidamente purificado é depositada sobre a superfície de um sólido por meio de uma micro seringa. A gota é observada com uma lente de baixo aumento, e o ângulo de contato é medido através de um goniômetro. Este tipo de medida é chamado de estático. O valor do ângulo de contato de uma gota de líquido depende da energia de superfície da amostra e da tensão superficial do líquido. Se a gota se esparramar por toda superfície do material seu ângulo de contato será de aproximadamente zero, mas se o espalhamento for parcial o ângulo de contato variará de 0 a 180 graus. O líquido selecionado determina o grau de molhabilidade e de interação com a superfície do substrato. Este líquido deve reunir as seguintes propriedades: baixa volatilidade, baixa viscosidade, ser estável e não atacar ou reagir com a superfície do substrato, diz-se que um líquido molha um substrato quando o ângulo de contato formado entre o líquido e o sólido é menor que 90°. [5, 6] O líquido mais adequado para o estudo, levando em consideração a molhabilidade e a não polaridade da superfície do substrato, foi a água. CONGRESO CONAMET/SAM 2004 Sendo assim utilizada para avaliar a mudança de propriedade da superfície da borracha natural após a descarga corona. Os tipos de interações que podem ocorrer entre o líquido e a superfície sólida podem ser de caráter químico ou de forças intermoleculares. As energias envolvidas são associadas entre duas moléculas e tem amplitudes diferentes. [7] Tabela II – Tipos de interações e suas respectivas forças: Tipo de Força EL (Kcal/mol) Iônicas 140 – 150 Química Intermoleculares Covalentes 15 – 70 Metálica 27 – 83 Hidrogênio ≤ 12 Dispersão ≤ 10 Dipolo-dipolo ≤ 05 Dipolo-dipolo induzido ≤ 0,5 Tabela IV - dados mostrados na forma de valores obtidos nos ensaios: Tempo (s) Altura (mm) Ângulo de Contato (θ) 29 2 49 76 2 30 29 4 83 76 4 81 53 1 53 53 5 81 5 3 77 100 3 62 53 3 55 53 3 54 O tratamento corona na superfície da borracha natural se mostra efetivo, diminuindo o ângulo de contato e por conseqüência aumentando a sua molhabilidade. As medidas de ângulo de contato foram realizadas num goniômetro marca Tantec modelo CAMmicro, numa sala com temperatura de 21ºC e umidade de 60%. 3 RESULTADOS E DISCUSSÕES Através da tabela III que apresenta a codificação para os dados do planejamento experimental, temse a distribuição para a realização do experimento: Tabela III – Codificação utilizada, obtida através do planejamento experimental: Tempo Altura -1 -1 +1 -1 -1 +1 +1 +1 0 -α 0 +α 0 -α 0 +α 0 0 0 0 Figura 4 – Gráfico mostrando o ângulo de contato obtido em relação ao tempo e altura da ponta/amostra empregado no tratamento Na análise de superfície de resposta o ponto ótimo para a diminuição do ângulo de contato e conseqüente aumento da molhabilidade da superfície do polímero ocorre nos seguintes pontos altura ≈1mm e tempo de ≈ 80 s. 4 CONCLUSÃO O tratamento corona na superfície da borracha natural se mostra efetivo, diminuindo o ângulo de contato e por conseqüência aumentando a sua molhabilidade. Visando economia para utilização em processos industriais, os pontos de maior interesse são os que reduzem o ângulo de contato em menor tempo, já que a altura não acrescenta custo a operação. AGRADECIMENTOS: Ao CNPq pelo auxílio financeiro e a empresa Rhodia do Brasil Ltda pelo fornecimento das amostras CONGRESO CONAMET/SAM 2004 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS [1]. RICARD, A. The Production of Active Plasma Species for Surface Treatments. J. Physics D: Applied Physics, v. 30, 2261-2269, 1997 [2]. CHAN, C. M. Polymer Surface Modification and Characterization. Munich, Hanser/Gardner Publications Inc, 1994, 285 p. [3]. SCHÜTZE, A.; JEONG, J.Y.; BABAYAN, S.E.; PARK, J.; SELWYN, G.S.; HICKS R.F. The Atmospheric-Pressure Plasma Jet: A Review and Comparison to Other Plasma Sources. IEEE Transactions on Plasma Science, v.26, n.6, p.16851693, 1998 .P., n.228, 1988 [4]. MASSI, M., “Formação e Caracterização de Plasma Duplo com Geração do Plasma Fonte por Acoplamento Indutivo de RF”, 1994. Dissertação de Mestrado [5]. MARTINEZ, J.M.M., "Adhesión y Unións Adhesivas”, Universidad de Alicante, Laboratorio de Adhesión y Adhesivos, Alicante, España, 1998 [6]. RABOCAI, T., “Interface Líquido-Sólido”, Físico-Química de Superfícies – PRDCT – Washington, D.C., p.47-52, 1979 [7]. GRANIER, A.; BOISSE-LAPORTE, C.; PIRET, S.; PASQUIERS, S.; BLOYET, E.; LEPRINCE, P.; MAREC, J., “Traitement de Surface du Polypropylene par Plasma Microonde Argon/Oxygen”, Rapport L