XII JORNADA DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO – JEPEX 2013 – UFRPE: Recife, 09 a 13 de dezembro.
O USO DO QR CODE NAS PRÁTICAS DE
PRODUÇÃO DAS EMPRESAS
Laura Maria Abdon Fernandes1, Angela Cristina Rocha de Souza2, Maria Iraê de Souza Corrêa3
Introdução
A partir da década de 1990, a internet, os aparelhos eletrônicos portáteis e novos canais de comunicação, surgiram e
passaram simultaneamente pelos processos de aperfeiçoamento e de disseminação de forma a modificar
permanentemente a interação dos indivíduos para com a tecnologia. Nesse sentido, Kotler (2009) aponta a tecnologia e
a globalização como as principais forças motoras da economia global contemporânea; sendo ambas entrelaçadas pela
digitalização, elemento que permite compactar grandes volumes de informação em pequenas unidades de dados.
Nesse âmbito, as organizações procuram adotar novas posturas e estratégias mercadológicas que contribuam para a
manutenção de sua competitividade no mercado. Entre essas estratégias, encontra-se o uso de mídias locativas,
dispositivos de rede atrelados ao ambiente (Mídia Locativa, 2012), que despontam como elementos que possibilitam a
interação entre a realidade física e a virtual. São ferramentas geolocalizadoras que permitem, através de dispositivos
diversos, reorganizar e reimaginar o espaço urbano (Santaella, 2008).
As mídias locativas oferecem uma grande variedade de usos, desde serviços de monitoramento do movimento até a
utilização de etiquetas móveis interativas (conhecidas como mobile tags). Estas são capazes de codificar grande
quantidade de informação em dados, podendo ser empregadas em diversas situações como, por exemplo, anexadas a
produtos ou mesmo em campanhas publicitárias. Estão em uso hoje 12 tipos de mobile tags, destas foi escolhido o QR
Code (Quick Response Code), conforme Fig.1, como objeto de estudo desta pesquisa, uma vez que este é iconicamente
o mais presente e lembrado exemplo de mobile tag atualmente no mercado (Gabriel, 2010).
Criado na década de 1990, o QR Code foi utilizado inicialmente nos processos internos das empresas (estocagem e
linha de produção, por exemplo). No entanto, seus diferenciais técnicos e de usabilidade logo foram notados e passaram
a ser explorados em outros usos. Entre estes diferenciais estão: sua capacidade de decodificação e armazenamento
superior (até 7.089 caracteres numéricos e cerca de 1.817 caracteres em linguagem mista);a resistência a danos em sua
superfície; sua facilidade de implantação; e sua acessibilidade no que toca a leitura de suas informações, qualquer
aparelho do tipo smartphone ou que possua câmera fotográfica e acesso à internet pode ser utilizado na leitura do
código (Gabriel, 2010).
Cabe salientar que em países como Estados Unidos e Japão o QR Code é amplamente utilizado, porém no Brasil seu
uso ainda é pouco difundido e essa ferramenta figura de maneira tímida no mercado nacional (Fiaschi apud Assespro,
2011). Sendo assim, o presente estudo tem como principal objetivo compreender como as empresas vêm utilizando o
QR Code em suas práticas de produção. Tal objetivo se desdobra em dois objetivos específicos que são: mapear
empresas que vêm utilizando o QR Code nas suas práticas de produção; e analisar como o QR Code vem sendo utilizado
pelas empresas em suas práticas de produção.
Material e Métodos
Esta é uma pesquisa exploratória descritiva. Ela foi realizada em dois momentos específicos. Primeiramente foi feito
o mapeamento das empresas que vêm utilizando o QR Code. Para isso, foi utilizada a coleta de dados por conveniência
– sem comprometimento probabilístico (Guimarães, 2008) em fontes variadas. Constituíram essas fontes,
principalmente, material da internet e imprensa escrita.
Existindo uma grande quantidade de fontes potenciais, foram elencadas três publicações periódicas com a finalidade
de refinar e otimizar a coleta de dados. Estas publicações foram escolhidas de acordo com fatores como sua tiragem, seu
público alvo e também seu conteúdo. São elas: (1) a revista Veja, acompanhada entre os meses de setembro de 2012 e
janeiro de 2013; (2) a revista Info, que teve os exemplares do ano de 2012 observados; e a revista Select que foi
estudada a partir da primeira até a sua oitava edição.
A técnica de observação sistemática (Marconi & Lakatos, 2010) foi empregada no processo de apreciação. Assim,
foram levantadas as seguintes informações: empresa que estava usando o QR Code, sua área de atuação, como se deu
esta utilização e também a mídia onde o código foi divulgado. Em cada observação foi realizada a leitura do código para
verificar seu correto funcionamento e aplicação. Para qualificar os resultados, os usos dos QR Codes encontrados no
levantamento foram classificados nas categorias: (a) publicidade e propaganda; (b) expansão de conteúdos; e (c) em
1
Aluna do curso de Bacharelado em Administração e bolsista de iniciação científica (PIBIC/CNPq/UFRPE), Universidade Federal Rural de
Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois Irmãos, Recife/PE – CEP: 52171-900. E-mail: [email protected].
2
Professora Adjunto do Departamento de Administração, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois
Irmãos, Recife/PE – CEP: 52171-900. E-mail: [email protected].
3
Professora Assistente do Departamento de Administração, Universidade Federal Rural de Pernambuco. Rua Dom Manoel de Medeiros, s/n, Dois
Irmãos, Recife/PE – CEP: 52171-900. E-mail: [email protected].
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novas funcionalidades.
No segundo momento do desenvolvimento da pesquisa, com o objetivo de elucidar a atuação das empresas e a forma
como o QR Code vem sendo empregado no mercado, foram realizadas entrevistas semiestruturadas. Das empresas
contatadas apenas uma respondeu à solicitação de entrevista: a Mobiclub, empresa pernambucana especializada em
desenvolvimento de aplicativos. Também foi realizada uma entrevista com o Professor Fernando Fontanella, que leciona
no curso de publicidade e propaganda da Universidade Católica de Pernambuco. Para cada entrevistado foi elaborado
um protocolo com questões específicas. As entrevistas realizadas foram gravadas e posteriormente transcritas para
análise das informações.
Resultados e Discussão
Foram observados 178 eventos de emprego do QR Code (conforme Tabela 1), classificados nas categorias de
publicidade e propaganda, expansão do conteúdo e novas funcionalidades. Ainda foram notados casos onde a leitura e a
classificação dos códigos não foram possíveis, que somaram 5,62% dos casos. Pontos relevantes encontrados durante a
observação dos dados apontam que o total de 178 eventos está distribuído entre 62 duas empresas, sendo estas 50%
brasileiras e 50% internacionais e multinacionais, presentes em 16 setores/áreas de atuação. Ocorreram 10 eventos em
que não houve tanto a identificação dos códigos (não existiam informações que explicassem a funcionalidade dos
códigos) quanto a leitura dos mesmos. Em outras 41 ocasiões, foi possível identificar a intenção da utilização dos
códigos, mas a leitura não foi realizada com sucesso.
Nos 106 casos observados na categoria publicidade e propaganda notou-se a predominância de anúncios de
empresas do setor automobilístico (23 casos) e do financeiro (18 aparições). Também pode ser destacada a presença de
empresas da indústria digital e do setor de eletrodomésticos e eletrônicos (ambas com 14 utilizações). Nessa categoria, o
QR Code é empregado principalmente com a função de direcionar o usuário para sites institucionais, páginas em redes
sociais e vídeos promocionais, sendo comum a preocupação dos anunciantes em associar a identidade das marcas com
conceitos relacionados à tecnologia e inovação. Com isso os códigos eram utilizados como símbolo de modernidade,
mas raramente sendo tratados como elementos principais dos anúncios ou mesmo como elementos realmente necessários
à funcionalidade eficaz das campanhas. Observou-se também que as campanhas mostraram-se repetitivas, sendo
recorrentes informes idênticos em várias edições consecutivas de uma mesma publicação, e também frustrantes, uma vez
que a recompensa do usuário pela sua interatividade é irrelevante ou inexistente. Sobre esse aspecto, Gonçalves (2012)
enfatiza a necessidade das empresas criarem estratégias que além de despertar a curiosidade, proporcionem satisfação ao
usuário, o que dificilmente ocorre nos anúncios publicados atualmente.
Na categoria de expansão do conteúdo, houve hegemonia das empresas do setor de livros e periódicos com 52 dos
56 casos registrados. Nas demais áreas de atuação das empresas sua participação é quase inexistente, figurando com
apenas 7,14% da utilização distribuídos entre as áreas da indústria digital, do setor financeiro e órgãos públicos.
Surpreende essa baixa utilização, uma vez que as possibilidades oferecidas pelas mobile tags são saudadas como
instrumento chave no campo da realidade aumentada (Gabriel, 2010). Nessa categoria, o QR Code surge de forma mais
funcional do que quando é empregado na pura publicidade. Os códigos são utilizados para acrescentar informações a
matérias jornalísticas e produtos, por exemplo.
Quando pensados em termos de novas funcionalidades, os QR Codes ganham outros significados e perspectivas.
Foram encontrados seis casos de utilização de QR Codes nesta categoria e em todos eles é notória a preocupação em
oferecer soluções práticas para as empresas e para o usuário. Destes seis casos, dois estão presentes no setor de indústria
digital e envolvem o desenvolvimento de aplicativos que visam à fidelização dos clientes às marcas e estabelecimentos
associados a estas ferramentas. Outros dois casos são de iniciativa de empresas do setor de varejo e buscam facilitar o
processo de obtenção de informação e de conclusão do processo de compra dos produtos ofertados. Nos demais casos,
estão empresas do setor de eletrodomésticos e do setor financeiro, ambas buscando aperfeiçoar seus serviços e melhor
atender às necessidades e demandas dos clientes. Em todos os casos o QR Code agrega valor à oferta das empresas,
quando associam seu uso à facilidade de acesso, praticidade na realização de tarefas ou bônus em resposta à interação.
A análise das entrevistas nos permite afirmar que a vantagem presente no QR Code é, acima de tudo, sua ótima
capacidade de armazenamento de dados aliada à sua praticidade de uso. Em outras palavras, comparando com as demais
tecnologias que oferecem capacidade de armazenamento igual ou maior que a do QR Code, esta mobile tag se mostra
mais viável por ser baseada em uma tecnologia simples e relativamente barata.
Também contam a favor do QR Code o cenário social e econômico propício para a proliferação de ações com esta
ferramenta. Neste contexto estão os eventos internacionais de grande visibilidade que são um estímulo para as empresas
investirem em novas estratégias na concorrência por maiores fatias de mercado. Tais eventos também devem promover
melhorias nas redes de telecomunicações, o que facilitará o uso do código pelos consumidores. Há ainda a esperada
popularização dos smartphones graças ao aumento do poder econômico da classe C e ao barateamento da tecnologia.
Por outro lado, observa-se também a disposição das empresas em buscar incorporar ferramentas de inovação em suas
práticas produtivas.
É importante levar em consideração ainda que, em ambas as entrevistas, foi levantado o problema de que não é
vantajoso ou até mesmo saudável do ponto de vista mercadológico que as empresas utilizem o QR Code sem a
preocupação de ter algum valor agregado à ele. O que também afirma Gonçalves (2012).
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Pode-se concluir com essa pesquisa que o QR Code tem se destacado no uso pelas empresas brasileiras em relação
aos outros códigos bidimensionais por estar se tornando um padrão e também por apresentar um conjunto de qualidades
que o diferencia. Entre essas qualidades podemos apontar: a sua capacidade de armazenagem, o que permite uma maior
gama de possibilidades de aplicação (GABRIEL, 2010); o fato de ser uma tecnologia que exige poucos aparatos
específicos, o que lhe confere um baixo custo de implantação; e até mesmo sua flexibilidade de uso, o que permite
utilizá-lo em diversas funcionalidades – de cartões de visita a passagens aéreas – (Yabe, 2011).
Finalmente, salienta-se que para a expansão do uso do QR Code é necessário lidar com algumas dificuldades
referentes à própria assimilação da utilização do código. Primeiro, levanta-se a necessidade de um período de adaptação
e ajustes da tecnologia à cultura social em que ela será inserida, ou seja, existe um intervalo entre o início da utilização
da tecnologia e a sua aceitação pelo público (Yabe, 2011), e é este intervalo que vivenciamos hoje. Somado a isto,
observou-se que as empresas ainda não descobriram todo o potencial do uso do QR Code, principalmente no que tange
ao seu uso em outras funcionalidades. Considera-se que as empresas ainda estão encontrando formas de adaptar os
códigos às suas estratégias, ou até mesmo desenvolver novas estratégias que incluam a utilização de novas tecnologias.
Como Yabe (2011) comenta, quanto mais vinculado a ações do dia-a-dia, mas rápida e fácil será a aceitação do QR
Code por parte do usuário. Nesse sentido, parece haver uma necessidade maior das empresas em estimular o
consumidor, principalmente utilizando o QR Code como um elemento de sua estratégia mercadológica que vá além da
busca pela imagem associada à inovação tecnológica e que agregue valor à oferta desenvolvida pela empresa para o
mercado.
É necessário esclarecer que o uso da amostragem por conveniência neste trabalho impõe uma limitação aos
resultados encontrados nesta pesquisa que não podem, por essa razão, ser generalizados para toda população de
empresas.
Agradecimentos
Os autores gostariam de agradecer ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) por
seu apoio na realização dessa pesquisa.
Referências
Assespro. Tecnologia QR Code ganha visibilidade no mercado brasileiro. v. 48, n. 6, 2011. http://assesprosp.org.br/imprensa/boletins/2011-06-edicao-48-tecnologia-qrcode-ganha-visibilidade-no-mercado-brasileiro/. 20 Nov.
2012.
Gabriel, M. Marketing digital: conceitos, plataformas e estratégias. São Paulo: Novatec Editora, 2010. 424p.
Gonçalves, N. Conteúdo útil é essencial à melhor experiência com QR-Code. In: Tecnologia. Disponível em:
http://tecnologia.terra.com.br/conteudo-util-e-essencial-a-melhor-experiencia-com-qrcode,4a0833558596b310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html. 20 Fev. 2013.
Guimarães, P. R. B. Métodos quantitativos estatísticos. Curitiba:
http://people.ufpr.br/~prbg/public_html/ce003/LIVRO1.pdf. 04 Mar. 2013.
IESDE
Brasil
S.A.,
2008.
Kotler, P. Marketing para o século XXI: como criar, conquistar e dominar mercados. Tradução Carlos Szlak; revisão
técnica Cristina Vaz de Carvalho. São Paulo: Ediouro, 2009. 320p.
Marconi, M. A; Lakatos, E, M. Fundamentos de metodologia científica. 7ªed. São Paulo: Atlas, 2010. 320p.
Mídia Locativa, 2012. http://pt.wikipedia.org/wiki/M%C3%ADdia_locativa. 13 mar. 2013.
Santaella, L. Mídias locativas. Porto Alegre, RS: Revista FAMECOS nº35, p.95-101, 2008.
Yabe, M. QR Code no Brasil: popularização do que já foi tendência. IDGNow: Plural – textos de articulistas
convidados, publicado em 25 de setembro de 2011. http://idgnow.uol.com.br/blog/plural/2011/09/25/qr-code-no-brasilpopularizacao-do-que-ja-foi-tendencia/. 30 Nov. 2012.
Tabela 1. Aplicações do QR Code pelas empresas
Figura 1. Imagem de QR Code que dá acesso ao site da XIII
JEPEX.
Fonte: elaborado pelas autoras
Uso
Publicidade e Propaganda
Expansão do Conteúdo
Novas Funcionalidades
Não Identificado
Total
Nº
106
56
06
10
178
Fonte: elaborado pelas autoras
%
59,55
31,46
3,37
5,62
100
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Trabalho