XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 Dificuldades para a adoção de RFID nas operações de uma cadeia de suprimentos Neli R. da Silveira Almeida Prado (UNIP – Ribeirão Preto) [email protected] Néocles Alves Pereira (UFSCAR) [email protected] Paulo Rogério Politano (UFSCAR) [email protected] Resumo O desenvolvimento de aplicações que utilizem a tecnologia de identificação por radiofreqüência (RFID), associada a um código eletrônico de produto (EPC), promete proporcionar ganhos operacionais às empresas. A integração destas aplicações ao longo de uma cadeia de suprimentos, proporciona ganhos globais. Entretanto a adoção desta tecnologia em larga escala, esbarra em dificuldades associadas à falta de padrões que cubram todos os aspectos da tecnologia de RFID, padrões estes, que estão sendo estudados e estabelecidos por centros de pesquisas e órgãos regulamentadores, além de dificuldades tecnológicos que devem ser tratadas pelos fabricantes da tecnologia de RFID. Este artigo faz uma breve apresentação dos componentes de um sistema de RFID, apresenta potenciais ganhos operacionais proporcionados pelos sistemas de RFID/EPC na cadeia de suprimentos e discorre a respeito de importantes dificuldades na adoção desta tecnologia. Palavras-chave: Identificação por radiofreqüência; RFID; EPC; Cadeia de suprimentos. 1. Introdução A tecnologia de identificação por radiofreqüência (RFID – Radio Frequency Identification) tem despertado interesse em grandes fabricantes de itens de consumo e grandes varejistas, devido ao potencial que apresenta para simplificar e tornar mais eficiente a identificação automática de produtos. O uso de etiquetas em produtos e ativos permite que cada item, caixa ou palete seja rastreado, possibilitando o monitoramento em tempo real dos níveis de estoque nas gôndolas e nos armazéns, com informações automaticamente sendo atualizadas a partir de dados obtidos nos pontos de venda ou pontos de entrada e saída de produtos. De acordo com Scherer et al. (2005), o tempo gasto com a operação de identificação da carga num centro de distribuição é anulado, pois a simples passagem do palete pela doca ou por empilhadeiras equipadas com os leitores, atualiza automaticamente os dados de estoque, além de facilitar a localização dos produtos. Weis (2003) acrescenta que uma simples etiqueta permite a identificação de pacotes sem a necessidade de checar o conteúdo de cada um. Essa habilidade de determinar rapidamente o conteúdo de um pacote diminui custos e tempo de transporte. A despeito dos potenciais ganhos proporcionados pela tecnologia de RFID/EPC em uma cadeia de suprimentos, existem dificuldades que ainda precisam ser superadas, para que adoção da tecnologia de RFID em larga escala efetivamente se torne real. Este artigo tem como objetivo inicial apresentar os componentes principais dos sistemas de RFID, e então, discorrer a respeito de algumas importantes dificuldades ainda existentes na adoção desta tecnologia. Na seção 2 deste artigo são apresentados os componentes principais de uma aplicação de RFID. Na seção 3, é apresentado o EPC e os padrões já estabelecidos para a identificação automática de produtos. A seção 4 apresenta o conceito de cadeia de suprimentos e ganhos operacionais buscados. A seção 5 apresenta as dificuldades ainda existentes no desenvolvimento e adoção de aplicações de RFID. A última seção apresenta as ENEGEP 2006 ABEPRO 1 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 conclusões. 2. Componentes dos sistemas de RFID Nos diversos sistemas que usam RFID há uma configuração básica, com adoção de três componentes principais, que são: etiquetas, leitores e um conjunto de software. Esta configuração pode sofrer variações decorrentes do tipo de etiqueta utilizada e os dados armazenados nas mesmas (WEIS, 2003). As características de cada um destes componentes são apresentadas nas seções a seguir. 2.1. A etiqueta A etiqueta eletrônica é composta pela antena e um circuito integrado (CI) com memória, essencialmente um microchip, responsável pelo armazenamento e processamento de dados. As etiquetas podem ter memória somente para leitura (ready only – RO), ou podem permitir a leitura e gravação (read-write – RW). As configurações da memória podem variar de 16 bits a várias centenas de Kbits de armazenamento e são definidas pelas exigências das aplicações. Quando uma etiqueta é interrogada por um leitor, os dados de sua memória são recuperados e transmitidos. Para que o microchip da etiqueta execute qualquer tipo de processamento, mesmo que seja apenas responder ao leitor, é necessária uma fonte de energia que alimente seus circuitos. Weis (2003) usa a fonte de energia como chave para classificação das etiquetas eletrônicas em três tipos: (1) ativas, que têm fonte de energia própria e apresentam habilidade para iniciar suas comunicações; (2) semi-passivas, que também contém fonte de energia própria, mas apenas respondem as mensagens que chegam; (3) passivas, que se alimentam a partir do campo magnético criado pelo leitor e também apenas respondem as mensagens que chegam. Considerando combinações das diferentes características apresentadas pelas etiquetas como o tipo de memória, a fonte de energia e capacidade de processamento, o AutoID labs, classifica as etiqueta em uma hierarquia com cinco classes. Etiquetas das Classes 0 e 1, permitem apenas a leitura de seus dados. Etiquetas da Classe II apresentam funcionalidades adicionais. Etiquetas da Classe III possuem fonte de energia própria e suportam leituras a grandes distâncias. Etiquetas da Classe IV apresentam autonomia para iniciar suas comunicações. E as etiquetas da Classe V apresentam todas as funcionalidades das classes anteriores. Além de apresentarem funcionalidades diversas, as etiquetas eletrônicas são encontradas também em formatos e tamanhos variados como cartões, pastilhas, argolas, e podem ser fabricadas a partir de diferentes materiais como plástico, vidro, epóxi etc. Outro importante aspecto a ser considerado na escolha do tipo de etiqueta para uma aplicação de RFID, é a vida útil das etiquetas. As etiquetas ativas têm vida útil limitada de no máximo 10 anos e as passivas têm, teoricamente, uma vida útil ilimitada. 2.2. O leitor A função do leitor é obter informações das etiquetas que estão associadas a objetos físicos e, fazer a interface com bancos de dados ou outras aplicações que usam as informações obtidas. A maioria dos leitores possui capacidades como armazenamento interno e processamento. Segundo Weis (2003), processamentos, tais como cálculo de criptografia, também podem ser suportados pelos leitores. Os leitores podem ser dispositivos de mão ou fixos e, podem também ser incorporados a dispositivos móveis como celulares ou PDAs (Personal Digital Assistant). Os leitores devem estar estrategicamente localizados para interrogar as etiquetas quando seus ENEGEP 2006 ABEPRO 2 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 dados forem necessários. Os sinais radiofreqüência continuamente emitidos pelo leitor, chamados sinais de interrogação, formam uma zona de interrogação na qual as etiquetas podem ser lidas, sem necessariamente haver um campo de visão livre. Sarma et al. (2002), ressaltam que o alcance da zona de interrogação é estabelecido em função das características dos leitores e etiquetas e, também da faixa de freqüência adotada. Um dos aspectos mais importantes da conexão entre uma etiqueta e um leitor é a freqüência em que a etiqueta opera. Há várias faixas de freqüência disponíveis para o desenvolvimento de sistemas RFID e, estes podem operar em diferentes faixas de freqüência. A escolha da freqüência em que o sistema irá operar afetará a distância de leitura, interferência de outros sistemas de rádio, velocidade de transmissão de dados, e o tamanho da antena a ser usada (ACCENTURE, 2001), além do tipo de etiqueta a ser adotada. Quanto menor a faixa de freqüência, mais lenta é a taxa de transferência. A baixa freqüência é usada para uma distância curta de leitura e, geralmente, para leitura de etiquetas passivas. As freqüências mais altas servem para a leitura em média e longa distância e em alta velocidade, suportadas pelas etiquetas ativas. 2.3. Conjunto de software Os softwares que compõem a estrutura de um sistema de RFID são executados na etiqueta, no leitor e em computadores centrais. Bhuptani e Moradpour (2005) apresentam algumas funções que os softwares em aplicações de RFID devem desempenhar, entre estas estão: Interação básica entre o leitor e a etiqueta; Leitura e gravação de dados na etiqueta; Função anti-colisão, usada para minimizar o risco de muitas etiquetas respondendo às solicitações do leitor ao mesmo tempo; Detecção e correção de erros de transmissão; Garantir a segurança, com recursos de criptografia, autorização e autenticação; Interface entre os componentes de RFID e outras aplicações espalhadas pela empresa.. 3. O EPC (Eletronic Product Code) O EPC é um número que permite identificar de forma exclusiva um item. Inicialmente foram propostos EPCs de 64, 96 e 128 bits. O EPC 96-bit, talvez o mais usado, é composto por um cabeçalho e três conjuntos de dados. O cabeçalho, para o qual estão alocados 8 bits, identifica a versão do EPC. A segunda parte, com 28 bits, identifica o administrador do EPC, o qual é o fabricante do produto ao qual o EPC está associado. A terceira parte, com 24 bits, é chamada de classe do objeto, a qual se refere ao exato tipo de produto ou categoria deste. A quarta parte, com 36 bits, é o número serial, o qual é o identificador único de um item específico (EPCGLOBAL, 2005). O EPC 128-bit, usa o EPC 96-bit mais outros 32 bits para executar correções de erro e um comando para matar a etiqueta. O comando para anular (ou matar) a etiqueta, de acordo com Morgenroth (2003), reduz a preocupação sobre privacidade. O EPC pode ser usado em etiquetas com diferentes tipos e configuração de memória. Uma nomenclatura específica ajuda a identificar em que tipo de etiqueta o EPC está sendo usado em uma determinada aplicação de RFID. “EPC Classe 0” é a denominação adotada para o uso do EPC em etiquetas com memória somente para leitura. O “EPC Classe 1” é a denominação para o uso em etiquetas onde é possível gravar os dados uma vez e ler várias, é o tipo, mais comumente, usado na cadeia de suprimentos. E o “EPC Classe 2” é o uso do EPC em etiquetas que além de permitir várias leituras são regraváveis. O “EPC Classe 1 Gen 2” é uma nova especificação para etiquetas que apresentam melhorias sobre a geração de etiquetas anteriores. Estas melhorias estão relacionadas ao protocolo de comunicação, ao uso de algoritmos anti-colisão, a formatação dos dados, além do maior espaço de memória. O “EPC Gen 2” estabelece requisitos para atender a regulamentações em relação às bandas UHF alocadas para o RFID, que são diferentes para cada região. ENEGEP 2006 ABEPRO 3 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 4. Cadeia de suprimentos Cadeia de suprimentos pode ser vista como a integração de processos de negócio de várias empresas ou unidades de uma empresa, denominados elos da cadeia, desde quem fornece material inicialmente até o cliente final. Gestão da Cadeia de Suprimentos é definida como uma coordenação estratégica sistêmica das funções de negócios dentro de um elo e através dos elos dentro de uma cadeia de suprimentos. Com isto, a Gestão da Cadeia de Suprimentos alinha todas as atividades de produção de forma sincronizada, reduzindo custos, minimizando ciclos e maximizando o valor percebido pelo usuário final (GASPARETTO, 2003). Nesta perspectiva, existem diversas operações, nas quais o uso de RFID pode trazer melhores resultados. Chappell et al (2002) apresentam algumas melhorias operacionais proporcionadas pelo uso de RFID na cadeia de suprimentos: a) o aumento nas vendas devido a maior disponibilidade de produtos e redução do nível de rupturas; b) o aumento na margem por melhorias nas condições para negociação; c) o aumento na eficiência da força de trabalho; d) a redução dos custos de armazenamento, movimentação e transporte; d) a redução das perdas de inventário; e) a redução nos níveis de estoque; f) a redução nos custos de manutenção de estoques; g) a redução nos custos de recall e assistência técnica mais eficiente; h) o aumento da produtividade e utilização de ativos e; i) o aumento da produtividade na utilização das instalações. 5. Dificuldades para a adoção de RFID Apesar das promissoras aplicações de RFID/EPC na cadeia de suprimentos, muitas dificuldades impedem a adoção desta tecnologia em larga escala. As maiores dificuldades estão relacionadas à tecnologia em si, a padrões, a custos e a integração. 5.1. Dificuldades tecnológicas As dificuldades tecnológicas a serem superadas estão relacionadas à recepção de dados pela antena e a colisão causada pela transmissão simultânea de informação por diversas etiquetas. Seguem abaixo as principais dificuldades tecnológicas. a) Interferências nos sinais As ondas de rádio que permitem a comunicação entre os leitores e as etiquetas podem ser refletidas em diferentes materiais aos quais as etiquetas estão aderidas, como líquidos e metais. De acordo com Wu et al. (2005), há uma degradação na potência do sinal e interferência na qualidade da recepção da antena da etiqueta de produtos com alto percentual de água, como sucos e refrigerantes e, produtos enlatados. Chappell et al (2002), acrescentam que os sinais eletromagnéticos de altas freqüências também sofrem atenuações quando as etiquetas são encobertas com gelo ou água. Devido às interferências que alguns tipos de materiais ou determinadas condições ambientais podem causar nas ondas de rádio, técnicas especiais de construção devem ser desenvolvidas, para uso de etiquetas eletrônicas em produtos metálicos, enlatados, produtos com alta concentração de líquidos e, ainda para aqueles que precisem ler seus dados lidos através de uma de gelo. Nestes casos específicos, o custo da etiqueta aumentaria significativamente devido a complexidade de construção. b) A posição da antena afeta a recepção do sinal A capacidade de leitura também pode ser afetada pelas posição e orientação da antena da ENEGEP 2006 ABEPRO 4 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 etiqueta e da antena do leitor. Se a antena da etiqueta estiver perpendicular à antena do leitor, a primeira não poderá receber os sinais da segunda. Somando-se a isso, se houverem obstáculos entre duas antenas, o sinal de rádio será atenuado e então o alcance de leitura poderá ser reduzido (CHAPPELL et al 2002). c) A colisão causada por transmissões simultâneas Quando múltiplas etiquetas respondem simultaneamente ao sinal do leitor, os sinais de comunicação das etiquetas podem interferir uns nos outros. Esta interferência é chamada de colisão e, tipicamente resulta em uma falha de comunicação. Para que um leitor se comunique então com múltiplas etiquetas, algumas protocolos de anti-colisão devem ser empregados. De acordo com Sarma et al. (2002), um outro tipo de interferência que é causada pelos próprios leitores. Este tipo de problema pode ser comum em aplicações onde o número de leitores de RFID no mesmo local é grande. Os leitores podem simultaneamente tentar obter dados das mesmas etiquetas e, como as etiquetas são incapazes de discriminar entre dois leitores se comunicando com elas simultaneamente, respondem a apenas uma solicitação ou mesmo, os sinais emitidos pelos vários leitores interferem uns nos outros. 5.2. Dificuldades relacionadas à segurança dos dados Os sistemas de RFID apresentam algumas falhas ou riscos relacionados à segurança dos dados, que são comuns às tecnologias de transmissão de dados sem fio. O uso de um conjunto de mecanismos de segurança que inclui protocolos e criptografia, é a solução adota nos sistemas de comunicação. Entretanto, a maioria das primitivas de segurança disponíveis, tem custo alto para ser implementada em um microchip de RFID. Os principais riscos de segurança apresentados pelos sistemas de RFID, segundo Ranasingle et al. (2005), estão relacionados a aspectos como a confiabilidade no conteúdo da mensagem, a integridade do conteúdo da mensagem, a autenticidade de remetentes e receptores. 5.3. Dificuldades relacionadas aos padrões O desenvolvimento de padrões internacionais para os sistemas de RFID garantiria a interoperabilidade entre etiquetas e leitores de diferentes fabricantes. Devido à intereporabilidade e a capacidade de troca entre os sistemas, como afirmam Wu et al. (2005), a demanda por componentes e equipamentos de RFID poderia crescer, o que levaria a uma redução dos custos dos mesmos Além do que, o uso de padrões internacionalmente aceitos, facilitaria a difusão da RFID no mundo. a) Falta de um padrão unificado Duas entidades internacionais têm desenvolvido padrões sobre vários aspectos da tecnologia, o EPCGlobal e a ISO. Um padrão unificado e interoperável globalmente, é ideal para o alcance de todos os benefícios das aplicações de RFID/EPC. Entretanto segundo Wu et al. (2005), ambos os padrões, da EPCGlobal e da ISO, ainda não evoluíram e não são completamente compatíveis entre si. b) A faixa de freqüência a ser adotada A faixa de freqüência a ser utilizada nos sistemas de RFID é uma questão muito discutida, devido as diferentes regulamentações existentes em diversos países. As faixas de freqüências são estabelecidas por órgãos governamentais que controlam o espectro eletromagnético em uma região, para cada faixa, as regulamentações especificam a potência máxima da radiação e ENEGEP 2006 ABEPRO 5 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 a largura da banda. Há um grande interesse de uso da faixa de freqüência UHF de 915 MHz, em aplicações de RFID em uma cadeia de suprimentos, devido ao seu alcance e velocidade de leitura. Mas assim como para outras faixas de freqüência, as regulamentações com relação as UHF alocadas para o RFID, são diferentes em cada país, o que dificulta a sua adoção aplicações na cadeia de suprimentos global, onde freqüentemente, produtos etiquetados com o RFID/EPC deverão atravessar fronteiras. Segundo Chappell et al. (2002), isto deverá ser tratado por duas alternativas possíveis. A primeira é o uso de leitores que operem com multi-freqüência. A segunda é estabelecer uma freqüência comum de operação para os sistemas de RFID. Esta segunda alternativa, entretanto, não lida com o fato de que nem todas as freqüências trabalhem bem em todos os tipos de aplicações. Como apresentado anteriormente, algumas materiais podem interferir nos sinais de rádio. Em sinais de radiofreqüência acima de 700 MHz, as ondas são absorvidas por material orgânico, como iogurte, leite e sucos. As ondas de UHF também são refletidas em líquidos e metais. Uma alternativa seria o uso da freqüência de 13.56 MHz, que é liberada no mundo todo, mas também não é uma alternativa ideal, pois essa freqüência além de oferecer uma distância de leitura menor, apresenta limitações em materiais metálicos. 5.4. As dificuldades relativas aos custos O custo é um fator restritivo para implantações de soluções baseadas em RFID. Além do custo das etiquetas, há o custo de infra-estrutura tecnológica e customizações. a) Custos das etiquetas O custo das etiquetas ainda representa um fator inibidor para a adoção de RFID/EPC em grande escala. Grande parte do custo da etiqueta está no chip, cuja matéria-prima, o silício, é cara. Segundo a ECR Brasil (2004) a indústria de semicondutores tem trabalhado em alternativas tecnológicas que substituam, ou pelo menos, diminuam o uso do material. O preço final das etiquetas considera ainda uma série de outras variáveis, como o volume de pedido, o tipo de etiqueta e a forma de encapsulamento. Atualmente o preço de etiquetas passivas varia entre quinze centavos de dólar ($0.15) e um dólar e dez centavos ($1.10), dependendo do volume de etiquetas produzidas – adquiridas – e a complexidade de suas funções. Segundo Sarma et al. (2002), para alcançar significativa penetração do seu uso em itens de consumo, as etiquetas necessitam custar bem abaixo de dez centavos de dólar ($ 0,10), e preferencialmente abaixo de cinco centavos de dólar ($0,05). Ainda tem-se que considerar que o uso de etiquetas passivas, que são as mais baratas, nem sempre é possível, uma vez que alguns tipos de produtos, como já apresentado, interferem no sinal de radiofreqüência. Nesse caso, é necessária a adoção de outras classes de etiquetas, o que elevaria o custo final da aplicação. b) Custos da infra-estrutura necessária Uma complexa infra-estrutura tecnológica é necessária para coletar, inclui-se aí o custo dos leitores que é determinado por características como conexão sem fio com outros sistemas, capacidade de processamento e armazenamento; o custo dos sistemas de interface que permitirão a distribuição dos dados através da empresa e; o custo da estrutura de hardware necessária para o processamento e armazenamento do vasto volume de dados que podem ser obtidos em centenas ou milhares de etiqueta simultaneamente. ENEGEP 2006 ABEPRO 6 XXVI ENEGEP - Fortaleza, CE, Brasil, 9 a 11 de Outubro de 2006 c) Custos de customização Um sistema de RFID deve ser customizado para um ambiente de trabalho específico e de acordo com os propósitos da aplicação (WU et al., 2005). Considerando a falta de um padrão em relação a faixa de freqüência adotada pelos sistemas de RFID, existe a necessidade de customização para que as etiquetas e leitores operem em um espectro de banda licenciado pelas regulamentações do país. O projeto da antena deve considerar de antemão os tipos de materiais aos quais as etiquetas serão aderidas, devido às possíveis interferências na recepção de sinal. As customizações também são necessárias para a instalação de múltiplos leitores em lugares adequados, considerando a questão da orientação das antenas das etiquetas e dos leitores e, o ambiente de operação. A missão do cliente e expectativas de performance também levará a customizações especificas na aplicação de RFID. Segundo Wu et al (2005), o sucesso da operação de um sistema de RFID deve implicar em considerável projeto de sistema, customização e custos de configuração. 6. Conclusões Os benefícios proporcionados pela adoção de RFID em uma cadeia de suprimentos, só serão alcançados a partir da atualização e integração, tanto dos processos de logística quanto dos sistemas de gestão das empresas, além da padronização dos dados dos produtos em todas as empresas envolvidas. A rastreabilidade dos produtos é um dos benefícios proporcionados pelo uso de sistemas de RFID na cadeia de suprimentos, mas para garantí-la é necessário que cada operação realizada, envolvendo o produto a qualquer momento, em qualquer elo da cadeia de suprimentos, seja registrada (SAKAGUCHI, 2006). Para isto então, é necessário que todos os dados dos produtos das empresas envolvidas sejam padronizados e haja uma integração onde os elos da cadeia de suprimentos adaptem os componentes de aplicação de RFID simultaneamente para garantir os ganhos proporcionados pela integração da cadeia. Entretanto, Yang & Javenpaa (2005) chamam a atenção para o fato de que ações coletivas são complicadas devido às atitudes divergentes e percepções diferentes que as companhias têm sobre a tecnologia, assim como divergências existentes entre as próprias companhias. Como foi visto, o desenvolvimento de aplicações RFID e a integração destas, com as aplicações já existentes nas empresas, ao longo da cadeia de suprimentos, encontra fortes dificuldades. Desenvolvedores reconhecem a necessidade de projetar sistemas integrados que sejam remotamente configurados, gerenciados e seguros. Entretanto, a busca de padrões que poderiam contribuir para suportar estas interações complexas entre diferentes sistemas estão apenas surgindo. As dificuldades na adoção dos sistemas de RFID existem, mas não são insuperáveis, afirma Wu et al. (2005). Assim como a maioria das tecnologias emergentes, é uma simples questão de tempo para que as promessas da tecnologia de RFID se tornem reais. Referências ACCENTURE. 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