COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Comparação entre as taxas de oxidação de metano em quatro diferentes materiais Juliana Lundgren Rose Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: [email protected] Cláudio Fernando Mahler Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: [email protected] Ronaldo Luis dos Santos Izzo Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil, E-mail: [email protected] RESUMO: Emissões gasosas de aterros de resíduos são uma das maiores fontes antrópicas de metano, um dos principais gases de efeito estufa. Neste estudo, quatro diferentes materiais: composto de resíduo sólido urbano (RSU), solo (argila), e duas misturas, em diferentes proporções, destes dois materiais citados foram estudados em laboratório para avaliar a sua adequação e compatibilidade ambiental como meio oxidante de metano (CH4) em biofiltros, com a finalidade de se mitigar as emissões de gases de efeito de estufa em aterros de resíduos. Quatro biofiltros de 60 cm de altura foram construídos em tubos de PVC com diâmetro interno de 9,9 centímetros. Cada filtro continha 2,3 l de material oxidante, no início do experimento. O gás que percolou o sistema foi uma mistura de CH4 e ar. Essa mistura foi introduzida por baixo dos biofiltros e o fluxo de gás para cada biofiltro foi ajustado para 150 ml.min-1. Cem dias após o início do experimento, o biofiltro que continha como material oxidante o solo mostrou uma taxa de oxidação de CH4 de 447 g.m-3.dia-1, correspondendo a uma eficiência de remoção de 20%. As duas misturas de composto de RSU e do solo apresentaram taxas de oxidação entre 456-584 g.m-3.dia-1, correspondendo à uma eficiência de remoção entre 20% e 26%. O biofiltro que continha o composto de RSU apresentou taxa de oxidação de 990 g.m-3.dia-1, correspondendo à uma eficiência de 44%. Desta forma, verificou-se que os quatro materiais tem capacidade oxidativa elevada e poderão ser utilizados como material de cobertura de aterro de resíduo quando a finalidade de sua utilização for a de oxidação de CH4. PALAVRAS-CHAVE: Oxidação de Metano, Biofiltro, Composto de Resíduo Sólido Urbano, Cobertura de Aterro de Resíduos Sólidos. 1 INTRODUÇÃO processos de remoção dos GEE, porque aumentam as concentrações atmosféricas destes podendo originar problemas ambientais. O CH4 é o principal hidrocarboneto presente na atmosfera e um dos principais gases de efeito estufa. Sua concentração atmosférica aumentou significativamente nos últimos anos, principalmente após a Revolução industrial. No entanto, a taxa de aumento da concentração atmosférica de CH4 tem decaído desde os anos 1990, uma vez que a emissão total de CH4 tanto de origem antrópica quanto natural tem se mantido constante desde então. O CH4 tem diversas origens tanto naturais O efeito estufa é um processo natural que aquece a superfície do planeta devido à presença na atmosfera de gases que absorvem e emitem radiação infravermelha. Os principais gases efeito estufa (GEE) na atmosfera terrestre são o vapor de água, dióxido de carbono (CO2), metano (CH4), óxido nitroso (N2O) e ozônio (O3) sendo que o CO2 e o CH4 suscitam mais preocupação. Alguns GEE tem origem natural enquanto outros antrópica. Entretanto, o efeito estufa só é considerado perigoso quando as emissões superam os 1 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. quanto antrópica. Das atividades antrópicas que geram CH4, pode-se citar produção de combustível fóssil, manejo de animais, cultura de arroz, queima de biomassa, disposição de resíduos, etc. Como fontes naturais de CH4, pode-se citar os charcos, brejos, oceanos, áreas de várzea entre outras. Aterros de resíduos são uma fonte importante de GEE. A quantidade de CH4 gerado por um aterro depende da quantidade e da umidade dos resíduos ali presentes, associado ao tipo de manejo do aterro. Uma vez que o metano gerado pelo aterro é de origem antropogênica, é teoricamente possível controlá-lo. Uma quantidade significativa dessas emissões pode ser reduzida pela aplicação de tecnologias já disponíveis e economicamente viáveis, como a captura do CH4 que poderá ser vendida ou ser utilizada para substituir insumos energéticos. O CH4 restante pode ser oxidado nas camadas de cobertura. A utilização da oxidação biológica do CH4 nas camadas de cobertura é uma opção que vem sendo estudada por um grande número de pesquisadores em todo o mundo (Boeckx et al., 1996; De Visscher et al., 1999; Berger et al., 2005; Albanna et al., 2007). A oxidação do metano no solo de cobertura de aterros tem sido reportada como eficiente na redução da emissão do CH4 para a atmosfera, uma vez que o solo de cobertura de aterros possui uma gama de microorganismos que são capazes de oxidar o CH4, como por exemplo, as bactérias metanotróficas (Whalen et al., 1990 ; Hanson and Hanson 1996). Estas bactérias, por possuírem uma enzima denominada monooxigenase, consomem o CH4 e o oxidam à CO2 e água, liberando energia. As taxas oxidativas de CH4 variam uma vez que estas estão interligadas a diferentes fatores ambientais, como temperatura e umidade. Sendo assim, espera-se observar variações nestas taxas de aterro para aterro e dentro de um mesmo aterro, uma vez que as concentrações de CH4 e as características do solo de cobertura variam em função destes fatores. Normalmente solos com caracteristicas argilosas tem sua utilização recomendada como cobertura. Entretanto, vários outros materiais podem ser utilizados como alternativa para este propósito em aterros. Exemplos de materiais alternativos seriam cinzas e poeiras do forno de cimenteiras, resíduos automobilísticos, resíduos de construção e demolição, material de poda, sedimentos contaminados, lamas, pneus triturados, composto de RSU ou de tratamento mecânico e biológico (TMB). O uso desses materiais alternativos, pode apresentar vantagens como por exemplo no que se refere a economia de material de empréstimo. Este artigo relata os resultados dos experimentos realizados em laboratório para investigar a capacidade de oxidação do CH4 de quatro materiais: um solo argiloso, um composto orgânico de RSU e duas misturas deste material com o solo. A determinação da capacidade de oxidação de CH4 destes materiais poderá auxiliar a determinar a sua potencial utilidade como camada oxidativa em aterros de resíduos para redução das emissões de CH4. 2 MATERIAIS E MÉTODOS 2.1 Materiais O composto oriundo da compostagem de RSU foi obtido na usina do Caju, da COMLURB (Companhia Metropolitana De Limpeza Urbana) no município do Rio de Janeiro. Na tabela 1 são apresentadas algumas características do composto orgânico produzido na usina do Caju. Tabela 1 – Análise química do composto da Usina do Caju (% em base seca) (COMLURB, 2010). Parâmetros Valores 7,59 pH -3 Peso Específico (kg.m ) 411,25 Teor de Umidade (%) 27,46 Matéria Orgânica Total (%) 47,97 Resíduo Mineral Total (%) 52,04 Relação C/N 22/1 Inertes (%) 12,22 O solo utilizado neste experimento foi coletado na camada de cobertura de um aterro controlado na cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Este solo foi classificado como sendo uma argila silto-arenosa. 2 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Para a obtenção das misturas, o solo e o composto foram misturados em uma proporção de 1:1 (p/p) e 3:1 (p/p - solo composto) para produzir dois novos materiais: mistura 1:1 (M11) e mistura 3:1 (M31). Algumas características geotécnicas do solo de das duas misturas podem ser verificadas na tabela 2 Tabela 2 – Características geotécnicas do solo e das misturas. Material Parâmetros Solo M31 M11 1,391 1,208 1,57 ρ (g.cm-3) WBS (%) 19,6 22,7 27,5 2,724 2,548 2,332 Gs k (m/s) 5,78 x 10-9 1,52 x 10-10 3,41 x 10-10 LL 63,0 LP 24,8 IP 38,2 Figura 1. Desenho esquemático dos biofiltros 2.2 Biofiltro Os biofiltros foram preenchidos com o material a ser analisado até uma altura de 30 cm e alimentados em sua base com uma mistura de ar umidificado e metano, nas proporções desejadas. O ar umidificado foi separado em uma pré-coluna de umidificação. A concentração de metano na entrada (parte inferior) de cada biofiltro foi mantida em 5ml.min-1 perfazendo um fluxo total da mistura de gases de 150ml.min-1, fluxo este controlado por rotâmetros. Isto é equivalente a um tempo de retenção de gás de ~ 1,3 horas (ou ~ 78 min) em cada biofiltro. A densidade inicial de cada material oxidante é apresentada na tabela 3. A medição da concentração de CH4 na saída de cada biofiltro (parte superior) e o conhecimento do fluxo de gás que entrava no sistema, permitiu o cálculo do fluxo de CH4 através de cada material. Oxidação do metano em biofiltro experimental foi investigada em quatro cilindros de PVC (60 cm de altura, 9,9 cm de diâmetro interno e 0,67 cm de espessura), sendo um biofiltro para cada um dos quatro materiais que será analisado (figura 1). Uma camada de 10 cm de brita “0” foi adicionada ao fundo de cada biofiltro, com o objetivo de criar uma camada de distribuição CH4, acima da qual foi acrescentado um geotêxtil para reter o material oxidante (solo, composto ou as misturas) e, por conseqüência, evitar o entupimento ao fluxo de gás da camada inferior. Tabela 3. Densidade do material dentro de cada biofiltro Densidade Material g.cm-3 Solo 1,13 M31 1,03 M11 0,95 Composto 0,74 As concentrações de CH4, dióxido de carbono (CO2) e oxigênio (O2) na mistura gasosa que entrava nos biofiltros e a que era 3 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. coletada no topo de cada biofiltro foram analisadas 3 vezes por semana. A concentração destes 3 gases foram determinadas por um gás cromatógrafo (micro-CG 3000A - Agilent) utilizando-se as colunas Plot U e a Peneira Molecular (MolSieve 5A) e o TCD como detector. O gás de arraste utilizado foi o He. Na tabela 4 são apresentadas as condições operacionais do cromatógrafo. então ao processo experimental de investigação da capacidade oxidativa dos quatro materiais. Este momento foi considerado como sendo o dia “0”. Para a determinação da capacidade oxidativa dos biofiltros, a taxa de oxidação de metano [g.m-3.dia-1] e a eficiência (%) foram utilizadas como parâmetros para análise. Como definição destes dois parâmetros, teríamos: taxa de oxidação como sendo a concentração de metano degradada multiplicada pelo fluxo de gás e dividida pelo volume do biofiltro (equação 1). E a eficiência como sendo a concentração de degradação de metano dividida pela concentração inicial de matano (equação 2). E= ([CH 4 ]e − [CH 4 ]s )xF V [CH 4 ]e − [CH 4 ]s [CH 4 ]e RESULTADOS E DISCUSSÃO 3.1 Taxa de Oxidação do Metano Na figura 2, observa-se a variação das taxas acumuladas de oxidação do CH4 em função do tempo para cada tipo de material. Uma das observações a cerca deste gráfico diz respeito à fase de adaptação, já que o tempo de duração desta fase esta relacionado com a viabilidade de utilização de determinado material como meio oxidante. Defini-se como fase de adaptação como sendo o tempo necessário para que a oxidação do CH4, numa determinada condição, atinja uma fase estacionária. Quanto mais rápida esta fase, mais adaptado estará o material àquelas condições. Segundo Humer-Huber (2004), o tempo de adaptação é bastante curto, variando entre 6 a 10 dias. Entretanto, esta fase estacionária, às vezes, não é observada, embora não se possa dizer que o material não seja útil como meio oxidante para as condições impostas. Condições estáveis podem ser ruins em determinados casos, principalmente no diz respeito a fauna microbiana. Para o caso dos materiais estudados, a duração da fase de adaptação do solo e do composto testado é comparável com os dados encontrados na literatura, mas para as misturas M31 e M11, este tempo foi bem superior. Embora se observe uma fase de adaptação, nenhum dos quatro materiais estudados apresentou uma fase estacionária. Entretanto, as taxas médias de oxidação obtidas foram comparativamente maiores do que esta mesma taxa para outros compostos RSU e de solo verificados na literatura (De Visscher et al., 1999; Hilger et al., 2000; Streese e Stegmann, 2003 ; Huber-Humer, 2004; Kettunen et al. 2006; Powelson et al., 2006). Estas taxas médias de oxidação são elevadas provavelmente porque o CH4 e o ar (O2) foram fornecidos misturados na base dos biofiltros, ao contrário do que é observado na camada de Tabela 4. Condições operacionais do cromatógrafo gasoso para as análises da composição dos gases. (coluna A = peneira molecular, coluna B = Plot U) Pontos de ajuste do GC 3000 Coluna A Coluna B Temp. do injetor (0C) 60 65 Temp. da coluna (0C) 66 75 Pressão da coluna (psi) 30,00 15,00 Pressão de pós-corrida (psi) 30,00 25,00 TO = 3 (1) (2) Onde [CH4]x é a concentração de CH4 na entrada do biofiltro (e) ou na saída (s) em g.m-3 no tempo = x dias; F é o fluxo de gás que entra nos biofiltros (m3. dia-1) e V é o volume do biofiltro (m-3). Foram coletadas amostras 1 amostra de gás de cada biofiltro e do gás que entrava no sistema a cada 3 dias durante um período de 100 dias. Com a finalidade de se saturar os biofiltros e dar início ao processo oxidativo, durante 3 dias o gás que entrou no sistema foi apenas o CH4, num fluxo de 5ml.min-1. Após este período, foi adicionado ao fluxo de CH4, um fluxo de 145ml.min-1 de ar dando início 4 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. cobertura de aterros na qual o CH4 atravessa esta camada no sentido aterro-atmosfera, e o O2 penetra nesta mesma camada no sentido atmosfera-aterro, fazendo com que as taxas absolutas de oxidação de CH4 deste tipo de ensaio sejam mais altas comparadas às de outros estudos nos quais a mistura ar-CH4 é introduzida no biofiltro pela parte superior. Isto sugere que as taxas de oxidação do CH4 observadas estão intimamente correlacionadas ao procedimento de ensaio utilizado. Figura 3. Taxa de oxidação de metano média em função da quantidade de composto na amostra 3.2 Eficiência dos Biofiltros A diminuição na concentração de CH4 e o aumento da concentração de CO2 indicam claramente a existência de atividade biológica em curso, com graus variados de eficiência. Nos ensaios realizados, nunca foi observado 100% de degradação (oxidação) do CH4, provavelmente por causa da grande variação nas taxas de oxidação. Entretanto, a verificação da redução nas concentrações de CH4 confirma que houve reação biológica. A máxima eficiência da oxidação do CH4 observada foi na faixa de 93% a 97% para o composto e as duas misturas. Para o solo, essa eficiência foi de 67%. Assim, a adição de composto no solo do aterro aumentou a eficiência de oxidação CH4. No entanto, a eficiência média de oxidação do CH4 dos quatro meios oxidantes analisados foi bastante baixa (tabela 5 e figura 4). Albanna et al., (2007), utilizando solo de cobertura de aterro, relataram valores de eficiência de oxidação de CH4 na faixa de 29% a 38%, que são semelhantes às aqui observadas. Figura 2. Taxa de oxidação do metano. Material do biofiltro: A – solo; B – M31; C – M11; D – composto Observa-se também pela análise da figura 2 que o tempo de início de atividade oxidativa é bastante variado. O solo e o composto iniciam o processo oxidativo bem no início dos ensaios, enquanto que para o caso das misturas M11 e M31, a oxidação do CH4 foi observada somente cerca de 20 dias após o início do processo experimental. Este fato pode ser justificado pela modificação do microambiente que dá suporte ao crescimento das bactérias metanotróficas. As bactérias presentes tanto no solo quanto no composto estavam adaptadas a uma determinada condição, ao se misturar o solo ao composto, pode ter havido variação nas concentrações dos micronutrientes, por exemplo, e estas bactérias tiveram que se readaptar a esta nova condição. No entanto, a adição de composto ao solo é benéfica, já que foi observado um aumento significativo da taxa de oxidação do solo após a adição de composto (Figura 3). Tabela 5. Eficiência dos quarto biofiltros analisados (N = número de leituras, D.P = desvio padrão) Eficiência Solo M31 M11 Composto Mínima 3.66 0.44 2.28 5.48 Média 19.74 20.12 25.78 43.72 Máxima 67.56 97.59 93.04 97.57 D.P. 14.92 18.53 16.57 25.30 N 25 26 28 29 5 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Pela análise da figura 5, observa-se que as densidades de todos os meios oxidativos compactados dentro dos seus respectivos biofiltros são inferiores às observadas na literatura. Desta forma, a baixa eficiência observada nos ensaios também poderia ser explicada pelo baixo tempo de retenção de CH4 dentro dos biofiltros, levando-se em consideração que a umidade dos meios oxidativos estava dentro da escala de ocorrência de oxidação microbiológica. O tempo de retenção deve ser suficiente para garantir que o CH4, que tem uma baixa solubilidade em água, seja dissolvido na água, uma vez os microrganismos só poderão utilizá-lo metabolicamente se o CH4 estiver dissolvido. Para confirmar esta idéia, foram analisados os tempos de retenção observados em alguns trabalhos obtidos na literatura, comparando-os aos valores dos tempos de retenção calculados para os meios oxidantes testados nos ensaios deste trabalho. O tempo de retenção (TR) pode ser escrito segundo a seguinte equação: Figura 4. Eficiência dos biofiltros em função da quantidade de composto na amostra. Diferentemente do observado neste trabalho, Huber-Humer (2004) e Berger et al. (2005), trabalhando com composto de RSU, obtiveram a degradação total de metano (100% de eficiência). Uma explicação para a baixa eficiência aqui observada é provavelmente a densidade do material compactado dentro dos biofiltros. A densidade está relacionada, entre outros aspectos, com o volume de poros, o que garante um aporte satisfatório de oxigênio e CH4 para as bactérias metanotróficas. Materiais com maior densidade, provavelmente, apresentam mais dificuldade em deixar passar o gás devido ao volume de poros ser reduzido, não permitindo a boa difusão de ar através do biofiltro. Na figura 5 observam-se as densidades de cada material estudado em relação às densidades utilizadas em estudos de oxidação presentes na literatura em relação à eficiência dos biofiltros. TR = V T (3) Onde V é o volume do biofiltro (m-3) e F é o fluxo através do biofiltro (m3.dia-1). Na figura 6 é observada a relação entre a eficiência do biofiltro e o tempo de retenção em alguns trabalhos analisados na literatura e os dados observados em nosso estudo. Figura 6. Eficiência dos biofiltros em função dos tempos de retenção do meio oxidante. Figura 5. Eficiência dos biofiltros em função da densidade de compactação do meio oxidante. 6 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. entre 455,73-583,98 g.m-3.dia-1, correspondendo a uma eficiência de remoção entre 20,12% 25,78%. A mistura de 1:1 (M11) apresentou melhor capacidade de oxidação de CH4 do que a mistura 3:1 (M31), indicando que a quantidade de composto na amostra tem uma forte influência sobre a capacidade de oxidação de CH4. As maiores taxas de oxidação de CH4 foram observadas no biofiltro que continha como material oxidante o composto de RSU. Em média, a taxa de oxidação deste biofiltro foi de 990,44 g.m-3.dia-1, o que correspondeu uma eficiência média de 43,72%. A maior taxa de oxidação observada foi de 2010,17 g.m-3.dia-1, correspondendo à uma eficiência de 97,57%. Esta máxima oxidação foi observada no biofiltro que possuía como material oxidante somente o composto de RSU. Com base nos resultados acima, o uso do composto de RSU como material oxidante em camadas de cobertura de aterros de RSU é uma boa opção, uma vez que foi o material que apresentou os melhores resultados, tendo a vantagem de ser um material que tem em sua constituição o próprio resíduo. Entretanto, devido à baixa densidade do composto orgânico, necessitar-se-á de um grande volume deste material para se cobrir, adequadamente, uma área do aterro. Desta forma, embora o composto seja mais eficiente na oxidação do metano, sugere-se a utilização de uma das misturas em virtude dos custos operacionais. Pela análise da Figura 6, há fortes indícios de que os tempos de retenção de todos os materiais testados foram suficientes para assegurar um tempo mínimo de retenção da mistura CH4 – ar dentro dos biofiltros para a observação da oxidação. Este fato respalda-se em dados de biofiltros com menores tempos de retenção e que, mesmo assim, conseguem desenvolver alta eficiência. Segundo Bogner et al., (2005), Abichou et al., (2006) e Stern et al., (2006), maiores espessura e capacidade de retenção de umidade de um biofiltro resultam em tempos de retenção de CH4 maiores. Este aumento na retenção de CH4 pelo biofiltro permite uma maior taxa de oxidação e provável aumento na eficiência dos biofiltros. No entanto, um aumento no fluxo de entrada faz com que haja uma diminuição no tempo de retenção e, consequente redução das taxas oxidativas e redução na eficiência. HuberHumer & Lechner (1999) argumentaram que o volume de poros, o teor de água, e o arranjo dos poros têm um impacto decisivo sobre o tempo de retenção de gás nos biofiltros, o que, consequentemente, também influenciará na taxa de oxidação do CH4 e na eficiência dos biofiltros. Para uma conclusão mais definitiva sobre a baixa eficiência do biofiltros aqui analisados, mais testes deverão ser realizados. 4 CONCLUSÕES Tanto as emissões gasosas fugitivas em aterros sanitários de pequeno ou grande porte, quanto as emissões gasosas de pequenos ou antigos aterros que não possuem sistemas de coleta de gás podem ser minimizadas pela atuação das bactérias metanotróficas nas camadas de cobertura. Os resultados deste estudo mostraram claramente o potencial da utilização de material alternativo para biodegradar o CH4. Cem dias após o início do experimento, o biofiltro contendo o solo como material oxidativo mostrou uma taxa de oxidação do CH4 média de 447,21 g.m-3.dia-1, correspondendo a uma eficiência de remoção de 19,74%. As duas misturas de RSU e solo apresentaram taxas de oxidação do CH4 média AGRADECIMENTOS Agradecemos ao CNPq, à CAPES, à FAPERJ pelo apoio financeiro, e à COMLURB em especial nas pessoas de Natalia P. Caninas e Ricardo Sena pelas informações e liberação do composto junto à Usina do Caju. REFERÊNCIAS Abichou, T., Chanton, J., Powelson, D., Fleiger, J., Escoriaza, S., Lei Y. e Stern J. (2006). Methane flux and oxidation at two types of intermediate landfill covers. Waste Management 26(11), 1305–1312. Albanna, M., Fernandes, N. e Warith, M. (2007). 7 COBRAMSEG 2010: ENGENHARIA GEOTÉCNICA PARA O DESENVOLVIMENTO, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE. © 2010 ABMS. Methane oxidation in landfill cover soil; the combined effects of moisture content, nutrient addition, and cover thickness. Journal of Environmental Engineering Science 6(2), 191-200. Berger, J., Fornés, L.V., Ott, C., Jager, J., Wawra, B. e Zanke, U. (2005). Methane oxidation in a landfill cover with capillary barrier. Waste Management 25(4), 369-373. Boeckx, P., Van Cleemput, O. e Villaralvo, I. (1996). Methane emission from a landfill and the methane oxidizing capacity of its covering soil. 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