UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO JOSÉ MARTINEZ ROBLES FILHO ORGANIZAÇÃO E STATUS DA ÁREA DE SUPRIMENTOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS RIO DE JANEIRO 2012 i JOSÉ MARTINEZ ROBLES FILHO ORGANIZAÇÃO E STATUS DA ÁREA DE SUPRIMENTOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientador: Rebecca Arkader Rio de Janeiro 2012 ii FICHA CATALOGRÁFICA ROBLES, José Martinez Filho. ORGANIZAÇÃO E STATUS DA ÁREA DE SUPRIMENTOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS. 96 f: il. Dissertação (Mestrado em Administração) – UFRJ – Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, 2012. Orientador: Rebecca Arkader 1. Organização da área de Compras. 2. Status interno. 3. Fatores organizacionais e de capital humano. 4. Administração – Dissertações. I. Arkader, Rebecca. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. iii JOSÉ MARTINEZ ROBLES FILHO ORGANIZAÇÃO E STATUS DA ÁREA DE SUPRIMENTOS EM EMPRESAS BRASILEIRAS Dissertação de Mestrado apresentada ao Instituto COPPEAD de Administração, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em Administração. Aprovada por: ____________________________________________ Rebecca Arkader, D.Sc. – COPPEAD/UFRJ (Orientador) ____________________________________________ Otávio Figueiredo, D.Sc. - COPPEAD/UFRJ ____________________________________________ Ricardo Miyashita, D.Sc. - UERJ Rio de Janeiro Setembro de 2012 iv AGRADECIMENTOS Agradeço à minha mãe e meu irmão por toda ajuda e apoio não só durante a dissertação, mas ao longo de todo o mestrado. Agradeço à minha namorada, Ana Letícia, pela compreensão e companheirismo nos momentos de dedicação total à dissertação. Agradeço à minha orientadora, Rebecca, que me guiou muito bem em todos os momentos e me ajudou sempre que foi preciso. Agradeço ao Professor Otávio por toda a disponibilidade e auxílio, principalmente, nas questões estatísticas. Agradeço aos meus amigos da Turma 2010 do mestrado por todos os bons momentos compartilhados. Agradeço aos funcionários da Coppead pela assistência ao longo desses dois anos. v RESUMO ROBLES, José Martinez Filho. Organização e Status da Área de Suprimentos em Empresas Brasileiras. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração, COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. Desde o início da década de 1970, fenômenos como o acirramento da competição a nível mundial, a terceirização, o relacionamento mais próximo com os fornecedores e a ênfase em redução de custos e aumento de qualidade têm elevado a importância da área de Compras e Fornecimento nas empresas, a qual vem conquistando relevância estratégica e cada vez mais é vista como uma possível fonte de vantagens competitivas. Apesar de diversos estudos internacionais mostrarem essa evolução e de haver indícios de que esse movimento, desde o final da década de 1990, também esteja ocorrendo no Brasil, pouco se estudou sobre o assunto neste país. Assim, o presente estudo teve como objetivos (i) descrever como está organizada a área de Compras em empresas brasileiras; (ii) comparar os resultados com aqueles encontrados internacionalmente; (iii) entender se houve alguma evolução na última década no Brasil; (iv) tentar inferir se fatores organizacionais e de capital humano estão relacionados com o status atribuído internamente à área. Para tal, com base na literatura sobre o tema, foi conduzido um survey entre as 386 empresas citadas na edição “1000 Melhores e Maiores” da Revista Exame de 2011 que concordaram em receber o questionário da pesquisa. Com uma amostra final de 61 respondentes, foi feita, primeiramente, uma análise descritiva, cujos resultados mostraram certa evolução na organização de Compras no Brasil frente à última década, além de grande similaridade com o cenário recente na América do Norte. Em segundo lugar, através do método da regressão linear múltipla, identificou-se que os fatores “gastos/receitas da empresa”, “número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO” e “idade do CPO” impactam o status interno da área de Compras. vi Palavras-chave: organização da área de Compras; status interno; fatores organizacionais e de capital humano. ABSTRACT ROBLES, José Martinez Filho. Organização e Status da Área de Suprimentos em Empresas Brasileiras. Rio de Janeiro, 2012. Dissertação (Mestrado em Administração) – Instituto de Pós Graduação e Pesquisa em Administração, COPPEAD, Universidade Federal do Rio de Janeiro, 2012. Since the early 1970’s, phenomena such as fierce global competition, outsourcing, closer relationships with suppliers and an emphasis on cost reduction and quality enhancement have increased the importance of the Purchasing and Supply Management function. Indeed, this function has gained in strategic importance and is increasingly seen as a potential source of competitive advantage. Even though several international studies show such progress, and despite some evidence that since the late 1990’s this has also been occurring in Brazil, little has been studied about the subject in this country. Thus, the present study aimed to (i) describe how Purchasing and Supply Management is organized in Brazilian companies, (ii) compare the results with those found internationally, (iii) understand if any improvements have occurred over the last decade in Brazil; (iv) attempt to infer whether human capital and organizational resources are related to the internal status of the area. To this end and drawing on the literature on the subject, a survey was conducted with 386 companies listed in the 2011 especial edition of the Brazilian magazine Exame – “1000 Best and Largest” (“1000 Melhores e Maiores” in Portuguese) that agreed to receive the questionnaire. The final sample consisted of 61 companies. First, the study offers a descriptive analysis based on the responses to the questionnaire, revealing that to a certain degree there has been an improvement in Purchasing and Supply organizations in Brazilian companies compared to the last decade, and a great similarity to what has been reported recently in North American studies on the subject. Secondly, multiple linear vii regression analyses were conducted, revealing that the variables "purchases as a percent of sales", "number of reporting levels between the CEO and the CPO" and "CPO age" have a significant impact on the internal status of the Purchasing and Supply area. Keywords: Purchasing and Supply organizational structure; internal status; organizational and human capital resources viii LISTA DE FIGURAS Figura 1: Tipificação das mudanças na estrutura organizacional de Compras das 49 empresas pesquisadas por Johnson e Leenders (2006) que modificaram sua estrutura entre 2003 e 1995......................................................................................................................... 20 Figura 2: Tipificação das mudanças estudadas por Johnson e Leenders (2001) ................. 21 Figura 3: Origem, background e experiência do “primeiro CPO” .......................................... 27 Figura 4: Origem, background e experiência dos 41 CPO´s contratados ............................. 29 Figura 5: Análises dos resíduos da regressão ......................................................................66 LISTA DE QUADROS Quadro 1: Ilustração da operacionalização das variáveis .....................................................48 LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Anos de experiência do CPO na área de Compras da atual empresa ................. 39 Gráfico 2: Receita das empresas respondentes em 2010 (US$ milhões)............................. 53 Gráfico 3: Distribuição da Idade dos CPO´s......................................................................... 54 ix LISTA DE TABELAS Tabela 1: Resposta à pergunta: "Compras tem o mesmo reconhecimento que as outras áreas consideradas "top"?" .................................................................................................... 8 Tabela 2: Resposta à pergunta: "Em uma escala de 1 a 5, como você caracterizaria o status e o reconhecimento de Compras em relação às outras áreas?" ............................................ 8 Tabela 3: Percepção de outras áreas sobre a importância estratégica de Compras em uma escala de 1 a 5 ...................................................................................................................... 9 Tabela 4: Evolução entre 1980 e 1988 da participação de Compras em atividades de outras áreas ................................................................................................................................... 10 Tabela 5: Natureza da relação de controle que Compras tem sobre as áreas funcionais estudadas (percentual de empresas) ................................................................................... 10 Tabela 6: Atividades analisadas por Pearson (1999) ........................................................... 11 Tabela 7: Evolução entre 1993 e 1997 do grau de responsabilidade de Compras em 18 atividades pesquisadas........................................................................................................ 13 Tabela 8: Mudanças nas responsabilidades da área de Compras ....................................... 14 Tabela 9: Evolução das responsabilidades de Compras entre 1987 e 2003 distinguindo os setores industrial e de serviços ............................................................................................ 15 Tabela 10: Acesso de Compras às informações geradas por outras áreas e participação de Compras em decisões tomadas por outras áreas (escala de 1 a 6) ..................................... 16 Tabela 11: Evolução da estrutura da área de compras entre 1987 e 2003 nos setores industrial e de serviços ........................................................................................................ 19 Tabela 12: Mudanças na estrutura organizacional de Compras entre 2003 e 1995 nas 116 empresas que responderam ao questionário da pesquisa de Johnson e Leenders (2006) em ambos os períodos .............................................................................................................. 19 Tabela 13: Evolução entre 1987 e 2003 da linha de subordinação do CPO......................... 22 Tabela 14: Evolução entre 1987 e 2003 do título/cargo do CPO .......................................... 23 Tabela 15: Evolução entre 1987 e 2003 do número de anos do CPO com o atual empregador ......................................................................................................................... 24 Tabela 16: Evolução entre 1987 e 2003 do número de anos do CPO no cargo ................... 25 x Tabela 17: Evolução entre 1987 e 2003 dos anos de experiência do CPO nas diversas funções organizacionais ...................................................................................................... 25 Tabela 18: Evolução entre 1987 e 2003 do percentual de CPO´s com experiência em Compras e/ou outras áreas.................................................................................................. 26 Tabela 19: Tempo médio no cargo do “primeiro CPO” segmentado pelo background profissional .......................................................................................................................... 28 Tabela 20: Tempo médio no cargo do “primeiro CPO” segmentado pela experiência profissional .......................................................................................................................... 28 Tabela 21: Linha de subordinação do “primeiro CPO” ......................................................... 28 Tabela 22: Tempo médio no cargo do CPO contratado segmentado pelo background profissional .......................................................................................................................... 30 Tabela 23: Tempo médio no cargo do CPO contratado segmentado pela experiência profissional .......................................................................................................................... 30 Tabela 24: Segmentação das 43 mudanças de posição na linha de subordinação do CPO contratado............................................................................................................................ 31 Tabela 25: Direção das 43 mudanças de posição na linha de subordinação do CPO contratado............................................................................................................................ 31 Tabela 26:Resultados encontrados por Odgen et al. (2002) quanto à significância da correlação das variáveis estudadas com a remuneração do CPO ....................................... 33 Tabela 27: Resultados encontrados por Zsidisin et al. (2003) quanto à significância da correlação das variáveis estudadas com a remuneração do CPO ....................................... 34 Tabela 28: Comparação entre os perfis médios do CPO observados nos dois estudos....... 34 Tabela 29: Grau de responsabilidade de Compras em 43 atividades pesquisadas.............. 36 Tabela 30: Grau de participação de Compras em equipes multifuncionais .......................... 38 Tabela 31: Formação educacional do principal executivo de Compras ................................ 38 Tabela 32: Variáveis que Odgen et al. (2002) utilizaram para testar a correlação com a remuneração do CPO .......................................................................................................... 42 Tabela 33: Variáveis que Zsidisin et al. (2003) utilizaram para testar a correlação com a remuneração do CPO .......................................................................................................... 43 Tabela 34: Distribuição das empresas segundo a pessoa a quem o CPO se reporta .......... 55 Tabela 35: Distribuição das empresas segundo o título conferido ao CPO .......................... 56 xi Tabela 36: Distribuição das empresas segundo o tempo (em anos) em que o CPO está no cargo ................................................................................................................................... 56 Tabela 37: Distribuição das empresas segundo os anos em que o CPO está na empresa .. 57 Tabela 38: Tempo (em anos) da experiência do CPO nas diversas áreas ........................... 58 Tabela 39: Distribuição das empresas segundo a qualificação acadêmica do CPO ............ 58 Tabela 40: Distribuição das empresas segundo a estrutura organizacional da área de Compras .............................................................................................................................. 59 Tabela 41: Comparação com Pearson et al. (1996) da média e distribuição das respostas sobre o status de Compras relativo às outras áreas da alta gerência da empresa............... 60 Tabela 42: Média e distribuição das respostas sobre o status de Compras relativo a cada uma das seguintes áreas da alta gerência da empresa ....................................................... 61 Tabela 43: Comparação com Pearson et al. (1996) das médias das respostas sobre o status de Compras relativo a cada uma das seguintes áreas da alta gerência da empresa ........... 61 Tabela 44: Comparação com Johnson e Leenders (2004) do percentual de empresas segundo a responsabilidade da área de Compras pela aquisição de determinados itens .... 63 Tabela 45: Comparação com Johnson e Leenders (2004) do percentual de empresas segundo a responsabilidade da área de Compras por determinadas atividades da cadeia de suprimentos ......................................................................................................................... 64 Tabela 46: Comparação com Johnson e Leenders (2004) da média simples das respostas em escala Likert de cinco pontos quanto ao grau de envolvimento de Compras em determinadas atividades estratégicas corporativas .............................................................. 65 Tabela 47: Regressão - Resumo estatístico do modelo ....................................................... 67 Tabela 48: Regressão - Coeficientes das variáveis e suas respectivas significâncias ......... 67 Tabela 49: Regressão - Resumo estatístico do modelo ....................................................... 69 Tabela 50: Regressão - Coeficientes das variáveis e suas respectivas significâncias ......... 70 xii SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO.................................................................................................................... 1 1.1 OBJETIVOS ................................................................................................................. 1 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO......................................................................................... 1 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ..................................................................................... 4 2 REVISÃO DE LITERATURA ............................................................................................... 5 2.1 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO DE COMPRAS ....................................................... 5 2.2 O PAPEL/RESPONSABILIDADES DA ÁREA DE COMPRAS ...................................... 6 2.2.1 O papel da área de Compras ................................................................................. 6 2.2.2 As responsabilidades da área de Compras ............................................................ 9 2.3 ESTRUTURA INTERNA DA ÁREA DE COMPRAS .................................................... 16 2.4 O PERFIL, A POSIÇÃO HIERÁRQUICA E A REMUNERAÇÂO DO PRINCIPAL EXECUTIVO DE COMPRAS ............................................................................................ 21 2.4.1 O perfil e a posição hierárquica do principal executivo de Compras..................... 22 2.4.2 A remuneração do principal executivo de Compras ............................................. 31 2.5 ESTUDOS SOBRE O TEMA FEITOS NO BRASIL .................................................... 35 3. METODOLOGIA .............................................................................................................. 40 3.1 PERGUNTAS E HIPÓTESES .................................................................................... 40 3.2 TIPO DE PESQUISA .................................................................................................. 40 3.3 OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS ................................................................ 41 3.4 UNIVERSO E AMOSTRA........................................................................................... 48 3.5 COLETA DE DADOS ................................................................................................. 49 3.6 QUESTIONÁRIO ........................................................................................................ 50 3.7 TRATAMENTO DOS DADOS .................................................................................... 50 3.7.1 Regressão linear múltipla ..................................................................................... 50 3.8 LIMITAÇÕES DA PESQUISA..................................................................................... 52 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS....................................................... 53 4.1 ANÁLISE DESCRITIVA .............................................................................................. 53 4.1.1 Sobre o principal executivo de compras (CPO) .................................................. 54 4.1.1.1 Idade e gênero ..................................................................................................... 54 4.1.1.2 Titulação e linha de subordinação ........................................................................ 55 4.1.1.3 Experiência profissional ........................................................................................ 56 4.1.1.4 Qualificação acadêmica ....................................................................................... 58 4.1.2 Estrutura organizacional da área de compras .................................................... 59 4.1.3 Percepção de status da área de compras ........................................................... 59 xiii 4.1.4 Atividades e responsabilidades da área de compras ......................................... 62 4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS TESTES DE HIPÓTESES ................................ 65 5. RESUMO E CONCLUSÕES ............................................................................................ 71 5.1 RESUMO DO ESTUDO ............................................................................................. 71 5.2 CONCLUSÕES .......................................................................................................... 74 5.3 CONTRIBUIÇÕES DA PESQUISA................................. Erro! Indicador não definido. 5.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS ........................................................... 77 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................................................................. 79 xiv 1 INTRODUÇÃO 1.1 OBJETIVOS A área de Compras vem, desde o início da década de 1970, ganhando relevância dentro das empresas (Monkza et al., 1998). O papel limitado e operacional atribuído a Compras anteriormente está, desde então, mudando em direção a um caráter mais estratégico (Ellram e Carr, 1994). Esse ganho de status/influência tem se refletido em mudanças na organização da área, que podem ser observadas através da análise de, principalmente, três vetores: as responsabilidades conferidas à área; a sua estrutura (centralizada-híbridadescentralizada) e o perfil e a posição hierárquica do seu principal executivo (Johnson e Leenders, 2006). À luz desses três vetores, este trabalho busca investigar esse fenômeno no Brasil. Para tal, primeiramente, será analisada a configuração atual da área de Compras nas empresas brasileiras; a seguir, será feita uma avaliação da evolução dessa configuração a partir da comparação dos resultados com aqueles encontrados pela pesquisa feita por Soares (2003); por fim, serão identificados fatores de ordem organizacional e de capital humano que estejam relacionados com o status/influência da área de Compras. 1.2 RELEVÂNCIA DO ESTUDO Ao longo do tempo, a área de Compras nas empresas passou por ciclos em que era considerada crucial, como durante as duas grandes guerras e os choques do petróleo, e ciclos de irrelevância, como, por exemplo, os vinte anos que se sucederam ao final da Segunda Guerra Mundial (Monkza et al., 1998). Nesse período, Compras era vista como custo e tinha um papel limitado, estando restrita a funções básicas e administrativas (Ellram e Carr, 1994). Entretanto, desde o início da década de 1970, guerras relevantes, como a do Vietnam, e os choques do petróleo tiveram como consequência a falta de produtos e embargos, criando uma necessidade de eficiência na compra e controle de materiais, aumentando, por conseguinte, a importância da área de Compras (Monkza et al., 1998). Posteriormente, acontecimentos como (i) a globalização e a 1 evolução sem precedentes da tecnologia da informação, levando a uma diminuição significativa dos ciclos de vida dos produtos (Mendez e Pearson, 1994); (ii) o acirramento intenso da competição (Pearson e Gritzmacher, 1990); (iii) a terceirização, a ênfase em redução de custos e aumento de qualidade (Pearson, 1999) e (iv) o sucesso de práticas gerenciais como o just-in-time e o relacionamento mais próximo com os fornecedores (Landeros e Monczka, 1989; Cavinato, 1991) alteraram significativamente a relevância da área de Compras dentro das empresas. A partir daí, minimizar estoques, desenvolver parcerias e gerenciar toda a cadeia de suprimentos tornou-se fundamental, de modo que a área de Compras passou a ter mais responsabilidades, atribuições, importância estratégica (Chen et al., 2004) e a ser uma fonte de vantagens competitivas sustentáveis (Mol, 2003). No Brasil, segundo artigo da revista Tecnologística1, há evidências de que essas alterações vêm ocorrendo desde o final da década de 1990, acompanhando o desenvolvimento do conceito de Supply Chain Management nas empresas brasileiras. O foco em redução de custo também tem voltado os olhos das empresas para a área de Compras, dada a sua ampliada capacidade de contribuição. A título de exemplo, considerando uma empresa que tenha 5% de margem líquida e custos de aquisição iguais a 40% da receita2, uma redução de 10% nos custos aumentaria o lucro em 80%3. Segundo reportagem da Gazeta Mercantil em 20034, algumas empresas brasileiras, principalmente as multinacionais, estavam começando a compreender o papel estratégico de Compras, preocupando-se com a capacitação dos profissionais, inserindo a área em uma posição de mais destaque no organograma e promovendo hierarquicamente o principal executivo da área. Outra reportagem de imprensa especializada5 exemplifica tal fato: a Alcoa passou por uma reestruturação da área de Compras, buscando a contratação de profissionais tão capacitados quanto os de Vendas ou Marketing. O objetivo era a redução de 10% 1 Braga, A.; Evolução Estratégica do Processo de Compras ou Suprimentos de Bens e Serviços nas Empresas, Revista Tecnologística, edição de agosto de 2006, número 129. 2 Em pesquisa feita em 2007 pelo Centro de Estudos em Logística (CEL) com 105 indústrias brasileiras, os custos de aquisição representavam 44% da receita. 3 Suponha uma empresa com receita igual a 100. Dessa forma, o lucro seria 5 e o custo de aquisição 40. Uma redução de 10% neste (4 unidades) implicaria, ceteris paribus, em um aumento no lucro de 5 para 9, ou seja, um incremento de 80%. 4 Gazeta Mercantil de 29 de dezembro de 2003, Caderno A, página 3, “A valorização da área de Compras”. 5 Gazeta Mercantil de 12 de agosto de 1999, Caderno Empresas&Carreiras, página C-8, “Executivo de Compras chega ao primeiro escalão”. 2 nos custos de produção e foi alcançado. Evento parecido ocorreu na CSN, que remodelou toda a área visando uma redução de 5%-10% nos custos. Para tal, criou uma diretoria para Compras e contratou profissionais com pós-graduação. Já a Light foi ao mercado buscar um profissional de ponta para assumir a superintendência de Compras, com o intuito de reduzir custos de aquisição. Estudo um pouco mais recente, feito em 2007 pelo Centro de Estudos em Logística (CEL)6 com 105 empresas industriais brasileiras, mostra a melhora no nível hierárquico do principal executivo de Compras, que, em 46% das empresas, tinha cargo de diretor. No entanto, apesar da percepção e de alguma exemplificação de que a área de Compras está sofrendo fortes mudanças no Brasil, poucas pesquisas científicas foram feitas para se obter uma compreensão mais rigorosa desse fenômeno. Mesmo em trabalhos acadêmicos, a análise do papel/responsabilidades da área, de sua estrutura e do perfil e posição hierárquica do principal executivo de Compras foi feita apenas por Soares (2003), e carece de comparação longitudinal. Dessa forma, além da contribuição para a ainda embrionária literatura brasileira sobre o tema, a análise mais aprofundada dessas mudanças pelas quais a área de Compras está passando no Brasil também é de grande relevância para os gestores das empresas, que terão uma fonte de dados e de análises que permitirá comparações – internacionais, inclusive - com companhias similares e avaliações mais aprofundadas sobre a organização de Compras em suas empresas, facilitando assim a execução de alterações na área na direção de melhores práticas de mercado. Outra questão de grande relevância é a identificação de fatores organizacionais e de capital humano que estariam correlacionados com o status/influência da área de Compras nas empresas. Por exemplo: no setor de serviços é dada mais importância a Compras do que na indústria? Quanto maior a razão gastos/receitas, mais relevante é a referida área? Ter um CPO7 mais velho e/ou mais qualificado academicamente tem efeito similar? Johnson et al. (2006), de forma descritiva e avaliando apenas o fator “setor”, identificaram diferenças entre os 6 Dados retirados do artigo “Panorama da Gestão de Compras e Suprimentos nas Empresas Industriais Brasileiras”, escrito por Braga e Hijjar em 10/08/2008 e divulgado pelo site do ILOS (Instituto de Logística e Supply Chain). 7 CPO, sigla proveniente da expressão em inglês Chief Procurement Officer, é o título usualmente conferido ao principal executivo da área de Compras nas empresas. 3 setores de serviços e industrial no que tange a responsabilidades, estrutura e perfil do CPO. Já Ogden et al. (2002) mapeou diversas características organizacionais e de capital humano que influenciam o salário do principal executivo de Compras. No entanto, nenhum estudo relacionou tais variáveis (organizacionais e de capital humano) com o status/influência da área de Compras. Assim sendo, a investigação dessa questão pode trazer significante contribuição para o conhecimento científico na área. Além disso, o tópico também é relevante para profissionais da área de Compras e para executivos do alto escalão das empresas brasileiras, que poderão obter elementos para avaliar e desenvolver a organização da área de Compras de suas empresas. 1.3 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO Este estudo está estruturado da seguinte maneira: a esta introdução se segue uma revisão de literatura, onde são abordados os conceitos e as questões já estudadas relacionadas ao tema. Posteriormente, é exposto o método utilizado na pesquisa e as razões pelas quais este foi escolhido. Em seguida, os resultados da pesquisa e sua análise são apresentados. Finalmente, são colocadas a conclusão, as limitações e as sugestões para estudos futuros. 4 2 REVISÃO DE LITERATURA 2.1 MUDANÇAS NA ORGANIZAÇÃO DE COMPRAS Apesar de difícil definição, a organização de uma empresa pode ser entendida como as relações de quem se reporta a quem e quem é responsável por quê (Scheuing, 1989). Já Slack e Lewis (2009) a entendem como a forma pela qual são divididas as responsabilidades/papéis entre grupos distintos e a maneira pela qual é definida a coordenação do relacionamento – formal e informal - entre os grupos. Consequentemente, por analogia, mudanças na organização de Compras seriam as alterações que ocorrem nas responsabilidades/papéis de Compras e na coordenação do relacionamento da referida área. Scheuing (1989) identificou uma tendência de existência de poucas mudanças na organização de Compras ao longo do tempo. Na maioria das vezes, o que ocorria eram adaptações pontuais em momentos de crescimento ou encolhimento. Johnson e Leenders (2001) observaram, porém, que a organização da área de Compras passa por transformações em intervalos mais frequentes. Os autores mostraram que, em Compras, seria válida a teoria da contingência, segundo a qual a organização da empresa, para maximizar o desempenho, deveria sofrer ajustes para se adaptar a mudanças de estratégia corporativa ou alterações no cenário competitivo externo. Assim, apontaram que tais fatores levam Compras, muitas vezes, a modificar sua organização para se adequar à empresa como um todo. As mudanças que estão ocorrendo na área de Compras advindas de acontecimentos como a globalização, a evolução da tecnologia da informação, a diminuição dos ciclos de vida dos produtos (Mendez e Pearson, 1994), o aumento da competição (Pearson e Gritzmacher, 1990) e a terceirização (Pearson, 1999) são identificadas pela literatura a partir de três vertentes: alterações nas responsabilidades de Compras, transformações na estrutura organizacional da área e modificações funcionais e no perfil do seu principal executivo (Johnson e Leenders, 2006). 5 Dessa forma, seguindo a abordagem utilizada pela literatura, a revisão dos estudos sobre as mudanças/evolução da organização de Compras nas empresas será aqui apresentada segmentada em quatro pilares: (i) O papel/responsabilidades da área de Compras; (ii) como Compras está estruturada; (iii) o perfil e a posição hierárquica do principal profissional da referida área e (iv) estudos sobre o tema feitos no Brasil. 2.2 O PAPEL/RESPONSABILIDADES DA ÁREA DE COMPRAS A medida que uma área vai adquirindo um papel mais estratégico, suas responsabilidades vão aumentando também. Dessa forma, papéis e responsabilidades estão bastante interligados. No entanto, apesar de esses dois tópicos aparecerem de forma integrada em alguns estudos acadêmicos, em muitos outros são tratados separadamente e, por isso, com o intuito de facilitar a compreensão, será criado um subitem para cada um deles. 2.2.1 O papel da área de Compras Moncza et al. (1998) observaram que, após uma fase de “apagão” entre 1945 e 1965, em que tinha um papel operacional e estava restrita a funções básicas e administrativas, a área de Compras vem, desde então, ganhando importância dentro das empresas, sendo um participante com papel estratégico relevante (Chen et al., 2004) e fonte de vantagens competitivas (Pearson e Gritzmacher, 1990; Cavinato, 1991) sustentáveis (Mol, 2003). Na mesma linha, Mendez e Pearson (1994), após entrevistas com profissionais de Compras de grandes empresas americanas, colocaram que as novas necessidades de mercado – qualidade, custo e rapidez – aumentaram a importância do papel de Compras nas empresas. Os autores sugerem que, desde o início do desenvolvimento do produto, a participação da área em equipes multifuncionais com efetivo poder de decisão sobre essas três necessidades-chave é fundamental para que as empresas sobrevivam nesse cenário competitivo. 6 Esses novos desafios têm estimulado as organizações a mudarem sua estrutura de Compras, modificando o papel/responsabilidade atribuído à referida área (Leenders e Johnson, 2002). Até o final da década de 1960, seu papel era basicamente obter bens e serviços em resposta às necessidades internas. Atualmente, os objetivos de uma área de Compras de classe mundial estão bem mais amplos, incluindo (Moncza et al., 1998, p. 22-25): • O papel tradicional de dar suporte a requerimentos operacionais, que significa prover um fluxo ininterrupto de bens e serviços de alta qualidade exigidos pelos clientes internos. • A necessidade básica de administrar seus processos internos de maneira eficaz e eficiente. E papéis mais estratégicos: • Selecionar, desenvolver e manter fontes de suprimento, que significa administrar uma base de fornecedores capaz de prover vantagens para a empresa, seja em custo, qualidade, tecnologia, entrega ou desenvolvimento de novos produtos. • Desenvolver um forte relacionamento com outras áreas da empresa que são “clientes” de Compras, como, por exemplo, Manufatura, Marketing e Financeira. • Dar suporte aos e contribuir com os objetivos da organização. Com o reconhecimento da influência no desempenho global e do papel estratégico que Compras exerce, contribuir de forma alinhada com as metas centrais é fundamental. • Desenvolver estratégias de compras integradas com o objetivo central da companhia, que deem apoio e estejam alinhadas às estratégias organizacionais. Isso inclui monitorar tendências no mercado de suprimentos e entender como isso afetaria os objetivos da empresa e identificar materiais e serviços críticos para o sucesso da estratégia corporativa. Conforme se pôde observar, há uma tendência de mudança no papel exercido por Compras, tendo a área conquistado uma maior participação em 7 atividades decisórias em equipes com outras áreas. No entanto, tal crescimento gera, de fato, um aumento do status e do reconhecimento do papel estratégico de Compras pelas outras áreas? Pearson et al. (1996), em um estudo com 210 empresas da indústria eletrônica e membros NAPM (atual ISM)8, mostraram que sim. Entretanto, os autores também verificaram que Compras ainda era vista pelos profissionais da área apenas como moderadamente estratégica. Além disso, os outros resultados da pesquisa mostraram que não era consenso que Compras fosse vista pela alta cúpula com o mesmo status que as outras áreas e que os profissionais de Compras ainda se consideravam menos reconhecidos do que os de Marketing, P&D e Engenharia. As tabelas 1, 2 e 3 mostram em detalhes os resultados encontrados por Pearson et al. (1996): Tabela 1: Média e distribuição das respostas referente ao status de Compras em relação às outras áreas (de modo geral) da alta gerência da empresa Resposta à pergunta: "Compras tem o mesmo reconhecimento que as outras áreas consideradas "top" (Escala de 1 a 5, conforme explicitado abaixo)?" Média 2,96 Discorda Discorda Nem discorda Concorda Concorda fortemente (1) (2) nem concorda (3) (4) fortemente (5) 10,2% 33,5% 17,5% 28,6% 10,2% Fonte: Adaptada de Pearson et al. (1996, p. 32) Tabela 2: Média das respostas sobre o status de Compras relativo a cada uma das seguintes áreas da alta gerência da empresa Resposta à pergunta: "Em uma escala de 1 a 5, como você caracterizaria o status e o reconhecimento de Compras em relação às outras áreas?" Área Média Administração de Materiais 3,2 Produção/Operação Contabilidade/Finanças Engenharia Marketing Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Média 2,8 2,8 2,3 2,3 2,3 2,6 8 National Association of Purchasing Management. Em 2001, trocou seu nome para Institute of Supply Management (ISM). 8 Fonte: Adaptada de Pearson et al. (1996, p. 32) Tabela 3: Percepção comparativa da importância estratégica de Compras em relação às seguintes áreas (escala de 1 a 5, em que o maior significa que Compras é vista como muito mais estratégica do que a área em questão) Área Média Administração de Materiais 4,1 Produção/Operação Administração Geral Contabilidade/Finanças Engenharia Marketing Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Média 3,5 3,4 3,3 3,0 2,8 2,7 3,4 Fonte: Adaptada de Pearson et al. (1996, p. 33) 2.2.2 As responsabilidades da área de Compras Com foco descritivo, Fearon (1988), através de um survey com 297 grandes empresas americanas do setor industrial, observou o grau de participação de Compras em diversas atividades de outras áreas, além de uma análise de sua evolução entre 1980 e 1988. Os resultados mostraram que houve aumento significativo das responsabilidades, com ampliação da participação em atividades tanto de áreas em que já havia um relacionamento prévio, quanto daquelas cuja interação não existia até então. A Tabela 4 mostra mais detalhadamente essa evolução, com destaque para o crescimento acima de 40% na participação nas atividades de planejamento estratégico e previsões econômicas, indicando, segundo o autor, um aumento de reconhecimento e de posição hierárquica dentro da empresa. 9 Tabela 4: Evolução entre 1980 e 1988 da participação de Compras em atividades de outras áreas Percentual das empresas cuja atividade Percentual das empresas em que Compras passou a ter mais foi atribuída à Compras responsabilidade sobre a atividade entre 1980 e 1988 (%) 9 6 7 3 4 13 12 4 1 entre 1980 e 1988 (%) 43 41 37 31 26 23 15 13 9 Atividade Planejamento Estratégico Previsão de Indicadores Econômicos Compra de Equipamentos Desenvolvimento de Produto Avaliação de Novos Produtos Transporte Planejamento e Execução Planejamento de Fluxo de Caixa Planejamento de Marketing Fonte: Adaptada de Fearon (1988, p. 8) Em estudo feito por Pearson et al. (1996) [vide item 4.2.1], os autores analisaram o grau de responsabilidade que Compras tinha sobre algumas áreas funcionais. Os resultados foram positivos, mostrando que, nas 11 funções analisadas, 64% dos respondentes indicaram alguma forma de subordinação, integração, trabalho em equipe ou tomada em conjunto de importantes decisões. A Tabela 5 apresenta os resultados. Tabela 5: Natureza da relação de controle que Compras tem sobre as áreas funcionais estudadas (percentual de empresas) Área funcional Trasporte Inbound Transporte Outbound Análise financeira de projetos de Compras Design de produtos Armazenagem Controle de Estoques Eliminação de sucata Recebimentos Inspeção Engenharia de empacotamento Administração de Materiais Média Nenhuma relação Está subordinada à mesma área que Compras está Subordinação parcial Subordinação Está de alguma forma total relacionada à Compras (%) (%) (%) (%) (%) 26,2 40,0 22,9 31,0 21,0 17,6 30,0 11,4 73,9 60,0 21,0 16,7 25,2 37,1 79,0 68,1 30,0 22,4 15,8 27,6 50,5 70,0 24,7 36,0 17,1 40,5 37,6 24,3 36,2 24,3 10,0 39,5 27,3 13,3 14,3 16,7 19,5 11,9 11,4 13,3 15,2 16,3 1,4 15,2 23,3 40,5 24,3 13,8 6,7 20,5 20,4 31,8 70,0 77,6 84,3 72,4 49,5 30,0 75,2 64,0 Fonte: Adaptada de Pearson et al. (1996, p. 34) 10 Anos mais tarde, Pearson (1999) procurou compreender a evolução das responsabilidades adquiridas por Compras em estudo longitudinal com a base de empresas membros do ISM pertencentes ao setor eletrônico. O autor observou tal evolução entre os anos de 1993 e 1997 em relação a 18 atividades decisóriaschave, com o objetivo de captar o quão importante a referida área era para as empresas e se houve alguma alteração durante o período analisado. A pesquisa também perguntava o que os respondentes esperavam para o ano 2000, tentando capturar assim o otimismo dos profissionais da área e a evolução dos mesmos perante o estudo anterior de 1993, em que haviam sido questionadas as expectativas para 1995. As 18 atividades foram divididas em três categorias, conforme ilustrado na Tabela 6. Tabela 6: Atividades analisadas por Pearson (1999) Papéis estratégicos e de planejamento Papéis de coleta de dados externos e de interface com o fornecedor Papéis de análise interna 1. Colher informações de mercado 2. Prever preços 3. Atuar no planejamento de longo prazo de Compras 4. Determinar as políticas de Compras 5. Analisar o valor dos ítens adquiridos 6. Negociar preços e contratos 7. Escolher fornecedores 8. Solucionar problemas em conjunto com o fornecedor 9. Colher informações junto aos fornecedores 10. Informar mudanças de especificações aos fornecedores 11. Aprimorar a razão produtividade/custo 12. Desenvolver estratégias de fornecimento 13. Rever os requisitos de materiais 14. Desenvolver especificações 15. Tomar decisões de fazer ou comprar 16. Padronizar materiais 17. Determinar os níveis de estoque 18. Determinar os requisitos de qualidade Fonte: Adaptada de Pearson (1999, p. 70) No questionário enviado aos profissionais foi usada uma escala Likert de cinco pontos, em que o valor mais baixo significava “nenhuma responsabilidade” de Compras, 4 significava “total responsabilidade” e 5, “responsabilidade em equipe”. 11 Apesar de uma grande variância nos dados encontrados, de forma geral, os resultados relativos mostraram, dentre as 18 atividades pesquisadas, um decréscimo de “responsabilidade em equipe” e um aumento de “total responsabilidade”. Segundo o autor, isso poderia ser explicado por uma curva de aprendizado por parte da área de Compras durante esse período, conhecendo melhor o que devia ser colocado sob seu comando e o que seria mais eficiente via trabalho em equipe. Além disso, também houve uma redução de “nenhuma responsabilidade” em todas as três categorias, indicando um maior reconhecimento do valor e do potencial estratégico de Compras. A Tabela 7 mostra de forma detalhada a evolução de cada uma das 18 atividades. 12 Tabela 7: Evolução entre 1993 e 1997 do grau de responsabilidade de Compras em 18 atividades pesquisadas Atividade Grau de responsabilidade (% das empresas) Nenhuma Alguma Rotina Total Equipe N/A (1) Rever os requisitos de materiais - 1993 1,9 17,6 25,2 30,5 22,9 1,9 1997 4,4 16,2 30,9 26,5 20,6 1,5 131,6 22,4 20,6 -8,0 7,6 7,4 -2,6 6,2 2,9 -53,2 15,7 7,4 -52,9 16,7 10,3 -38,3 -41,1 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,5 0,0 -100,0 3,8 2,9 -23,7 1,0 0,0 -100,0 11,9 2,9 -75,6 -37,4 2,4 1,5 -37,5 7,1 8,8 23,9 1,4 1,5 7,1 5,7 4,4 -22,8 -37,4 -8,0 40,0 39,7 -0,7 19,0 11,8 -37,9 25,2 20,6 -18,3 20,5 30,9 50,7 25,2 36,8 46,0 5,4 0,5 0,0 -100,0 7,1 1,5 -78,9 2,9 2,9 0,0 4,3 1,5 -65,1 7,6 5,9 -22,4 18,6 17,6 -5,4 8,6 4,4 -48,8 22,4 26,5 18,3 -37,8 14,8 4,4 -70,3 14,8 5,9 -60,1 7,1 4,4 -38,0 19,5 5,9 -69,7 -37,8 22,6 14,8 22,1 49,3 22,9 32,4 41,5 25,2 32,4 28,6 20,5 17,6 -14,1 26,7 19,1 -28,5 16,6 14,8 11,8 -20,3 24,8 32,4 30,6 15,7 17,6 12,1 35,7 32,4 -9,2 21,0 26,5 26,2 33,8 32,4 -4,1 26,7 33,8 26,6 33,3 30,9 -7,2 6,8 21,0 38,2 81,9 10,0 20,6 106,0 12,9 8,8 -31,8 25,7 35,3 37,4 6,8 -13,1 3,8 5,9 55,3 17,1 16,2 -5,3 14,3 23,5 64,3 26,2 22,6 -13,7 5,2 7,4 42,3 21,6 74,8 72,1 -3,6 33,8 26,5 -21,6 42,4 42,6 0,5 42,4 45,6 7,5 52,9 48,5 -8,3 17,6 23,5 33,5 42,4 42,6 0,5 19,5 26,5 35,9 4,8 51,9 50,0 -3,7 52,4 51,5 -1,7 68,6 72,1 5,1 20,0 20,6 3,0 4,8 -10,0 17,1 10,3 -39,8 30,0 29,4 -2,0 26,2 16,2 -38,2 14,8 20,6 39,2 24,3 23,5 -3,3 -9,0 8,6 14,7 70,9 32,9 36,8 11,9 37,6 35,3 -6,1 16,2 19,1 17,9 16,2 17,6 8,6 23,8 20,6 -13,4 20,0 16,2 -19,0 11,4 10,3 -9,6 6,3 7,1 4,4 -38,0 13,8 10,3 -25,4 8,6 10,3 19,8 27,1 30,9 14,0 6,3 % de mudança (2) Desenvolver especificações - 1993 1997 % de mudança (3) Tomar decisões de fazer ou comprar - 1993 1997 % de mudança (4) Padronizar materiais - 1993 1997 % de mudança (5) Determinar os níveis de estoque - 1993 1997 % de mudança (6) Determinar os requisitos de qualidade - 1993 1997 % de mudança % de mudança médio # 1-6 (7) Negociar preços e contratos - 1993 1997 % de mudança (8) Escolher fornecedores - 1993 1997 % de mudança (9) Solucionar problemas em conjunto com o fornecedor - 1993 1997 % de mudança (10) Colher informações junto aos fornecedores - 1993 1997 % de mudança (11) Informar mudanças de especificações aos fornecedores - 1993 1997 % de mudança (12) Aprimorar a razão produtividade/custo - 1993 1997 % de mudança (13) Desenvolver estratégias de fornecimento - 1993 1997 % de mudança (14) Colher informações de mercado - 1993 1997 % de mudança % de mudança médio # 7-14 (15) Prever preços - 1993 1997 % de mudança (16) Atuar no planejamento de longo prazo de Compras - 1993 1997 % de mudança (17) Determinar as políticas de Compras - 1993 1997 % de mudança (18) Analisar o valor dos ítens adquiridos - 1993 1997 % de mudança % de mudança médio # 15-18 1,9 1,5 3,3 2,9 2,9 4,4 2,4 1,5 1,9 2,9 1,4 1,5 1,4 2,9 1,4 1,5 1,4 1,5 1,9 1,5 2,4 2,9 1,4 2,9 1,4 2,9 2,9 1,5 1,9 2,9 1,4 2,9 1,9 2,9 Fonte: Adaptada de Pearson (1999, p. 71) 13 Já Leenders e Johnson (2002) fizeram um estudo de casos com dez grandes empresas, com o intuito de verificar como as responsabilidades e atribuições da área de Compras tinham evoluído nessas companhias. Os autores observaram que não era mais incomum que a área de Compras estivesse envolvida em temas estratégicos como fusões e aquisições, planejamento tecnológico e, assim como igualmente relatado por Mendez e Pearson (1994), desenvolvimento de novos produtos. Outro aspecto ressaltado no trabalho foi a constatação do aumento de atividades sob o controle da área de Compras entre 1995 e 2000, com adição de 158 responsabilidades e eliminação de apenas 44. Para uma melhor compreensão dos resultados, as atividades foram divididas em 4 categorias principais: “O que é adquirido”, que são as responsabilidades sobre o que é adquirido; “Atividades de Supply Chain”, que são as atividades sobre as quais a área de Compras tem responsabilidade; “Papéis”, que se refere ao papel exercido por – grau de envolvimento de - Compras nas atividades sob sua responsabilidade; “Atividades Corporativas”, que representa o envolvimento de Compras em atividades e iniciativas corporativas. A Tabela 8 mostra com mais detalhes os números encontrados. O destaque se dá nas categorias de “O que é adquirido” e “Atividades de Supply Chain”, que, juntas, registraram 116 adições e 42 eliminações de responsabilidades. Segundo os autores, a explicação para tais mudanças mais recorrentemente escutada nas entrevistas era o alinhamento estratégico entre Compras e a empresa como um todo, o que mostrava o reconhecimento estratégico da área. Tabela 8: Mudanças nas responsabilidades da área de Compras Categoria Adições Eliminações O que é adquirido 65 22 Atividades de Supply Chain 51 20 Papéis 11 1 Atividades Corporativas 31 1 Total 158 44 Total 87 71 12 32 202 Fonte: Leenders e Johnson (2002, p. 8) Em estudo com objetivos similares, Johnson et al. (2006) analisaram essa evolução em mais de 280 empresas dos Estados Unidos e Canadá em um período 14 de 16 anos, com pesquisas feitas pela CAPS9 em 1987, 1995 e 2003. É válido ressaltar que a pesquisa diferenciou empresas industriais e de serviços, o que permitiu avaliar não só a evolução das responsabilidades da Área de Compras, como também observar diferenças relevantes entre tais setores da economia. A Tabela 9 apresenta os resultados encontrados para cada atividade e, como se pode observar, houve ganho evidente e sucessivo de status e influência da Área de Compras ao longo desse período em todas as atividades, exceto “Substituição e eliminação de ativo sucateado”, que se manteve quase inalterada. Outra conclusão interessante são os maiores níveis de responsabilidades atribuídos à área de Compras no setor de serviços, o que, segundo os autores, pode ser explicado pelo fato de, na indústria, ao contrário de uma empresa de serviços, essas atividades serem responsabilidade também de muitas outras áreas, como Operações, Manufatura, Logística, Administração de materiais e Marketing. Tabela 9: Evolução das responsabilidades de Compras entre 1987 e 2003 distinguindo os setores industrial e de serviços 2003 Indústria Serviço (%) (%) Trasporte Inbound 52,1 62,8 Substituição e eliminação 50,3 64,6 de ativo sucateado Logística/Armazenagem 45,0 59,3 Controle de Estoque 40,9 52,2 Transporte Outbound 35,1 55,7 Recebimentos 28,1 44,2 Qualidade e inspeção 24,0 31,0 Responsabilidade Média (%) 56,3 56,0 50,7 45,4 43,3 34,5 26,8 1995 Indústria Serviço (%) (%) 48,3 58,6 64,7 54,3 39,5 39,1 35,7 31,9 21,4 45,7 50,0 48,6 45,7 38,6 Média 1987 Indústria Serviço Média 50,2 62,6 38,5 56,9 54,3 57,1 40,4 56,9 40,3 41,0 38,4 34,4 25,2 31,3 35,5 29,4 23,3 15,3 51,4 51,4 45,7 45,7 22,9 34,3 37,4 31,3 25,9 16,2 Fonte: Adaptada de Johnson et al. (2006, p. 38) A participação de Compras em outras áreas da empresa também pode ser entendida, de forma mais fraca, como a frequência do contato entre as mesmas. Pearson et al. (1996), em um estudo com 210 empresas da indústria eletrônica e membros do ISM, constataram que há uma relação positiva entre o acesso de Compras às informações de outras áreas e sua participação no processo decisório. No entanto, o acesso às informações de outras áreas tem uma magnitude sempre menor do que a participação no processo decisório. A Tabela 10 mostra que, apesar de o acesso médio às informações de outras áreas ser de 4,3 em uma escala de 1 a 9 CAPS - Center for Advanced Purchasing Studies. 15 6, a participação na tomada de decisão é mais baixa (3,8). Marketing, P&D e Design de Processos foram as áreas com os menores índices de relacionamento. Tabela 10: Acesso de Compras às informações geradas por outras áreas e participação de Compras em decisões tomadas por outras áreas (escala de 1 a 6) Área Acesso médio Participação média Administração de Materiais Produção/Operação Engenharia Contabilidade/Finanças Design de produtos Marketing Design de processos Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) Média 5,4 4,8 4,3 4,2 4,0 3,9 3,9 3,7 4,3 5,1 4,4 3,7 3,7 3,6 3,2 3,5 3,4 3,8 Fonte: Adaptada de Pearson et al. (1996, p. 33) 2.3 ESTRUTURA INTERNA DA ÁREA DE COMPRAS Conforme já visto, as mudanças na organização da área de Compras não se restringem apenas às modificações nas responsabilidades conferidas à área, ocorrendo também na forma como Compras está estruturada na empresa. No entanto, embora exista uma vasta literatura sobre mudanças estruturais corporativas, pouco se tem escrito sobre alterações em nível funcional, como na área de Compras (Johnson e Leenders, 2006). Dessa forma, os estudos têm buscado identificar se a área de Compras está estruturada de forma centralizada, descentralizada ou híbrida e os motivos pelos quais as empresas fizeram suas opções. Apesar de não existir uma escolha padrão ótima (Johnson e Leenders, 2006), as vantagens de cada alternativa já estão bem registradas na literatura. Por exemplo, em nível corporativo, os pontos positivos da centralização se dão na redução de custos e ganhos de escala (Dröge e Germain, 1989; Rheem, 1997); aceleração da curva de aprendizado dos funcionários envolvidos (Dröge e Germain, 1989) e padronização de produtos e processos (Pfohl e Zöllner, 1987). No que se refere especificamente à estrutura organizacional de Compras, os benefícios são uma maior consolidação dos pedidos, o que pode trazer redução dos custos; 16 desenvolvimento de um aprendizado especializado para negociar as compras e melhor coordenação de políticas de compras e de uso de sistemas (Leenders e Johnson, 2000). Já a descentralização traz benefícios como maior autonomia, controle e poder de decisão dados às unidades de negócio no que tange às atividades sobre as quais elas têm responsabilidade (Johnson e Leenders, 2006). Em relação especificamente à estrutura organizacional de Compras, a descentralização tende a melhorar o nível de serviço oferecido e pode reduzir custos, uma vez que é dado poder a quem, de fato, se relaciona com os fornecedores, possibilitando a formação de parcerias mais próximas entre Compras e os fornecedores e uma melhor administração dos custos envolvidos (Leenders e Johnson, 2000). Argumentos de cunho mais estratégico também foram apresentados na literatura. Ackoff (1994) defende que a estrutura descentralizada é mais natural nas organizações, enquanto que Trent (2004) coloca que a tendência é de uma maior centralização. Johnson et al. (2002), referindo-se somente à área de Compras, segue a mesma linha, concluindo que um certo grau de centralização é necessário para dar apoio às decisões de cunho estratégico de Compras. Por fim, Johnson e Leenders (2001) acreditam que o modelo ótimo a ser adotado pela área de Compras varia ao longo do tempo e deve ser escolhido como o mais eficiente a partir de uma estrutura corporativa pré-definida, ou seja, o melhor possível dada as circunstâncias de mercado, a estrutura e a estratégia atuais da empresa, e não simplesmente aquilo que for o ótimo especificamente para a área de Compras. Isto posto, fica clara a polaridade entre os benefícios auferidos com o uso de uma estrutura centralizada ou descentralizada, ou seja, as vantagens de uma são as desvantagens da outra. Sendo assim, um formato híbrido pode ser utilizado com o intuito de combinar as características principais de cada uma (Leenders e Johnson, 2000). No entanto, apesar de ser o modelo mais utilizado na área de Compras de grandes empresas americanas (Johnson et al., 2006), suas diversas formas possíveis de construção ainda não foram totalmente compreendidas pela literatura (Johnson e Leenders, 2006). 17 Contudo, centralizada-híbrida-descentralizada não é a única classificação possível para a estrutura utilizada por uma empresa. Cavinato (1991), através da análise de visitas e de entrevistas com profissionais da área de Compras de 144 empresas do setor industrial, criou uma taxonomia para as estruturas observadas em sua pesquisa, segmentando-as em sete possíveis modelos: centralizado, descentralizado, “coordenador centralizado” (centralized coordinator), “conceito de planejador de área” (area planner concept), “conceito de gerente de Compras” (supply manager concept), “equipes de commodity” (commodity teams) e “abordagem de pipeline de logística” (logistics pipeline approach). Com base nestes possíveis formatos, muitos estudos buscaram identificar diversas características relacionadas à estrutura da área de Compras, tais como: que modelo as empresas adotavam, se havia acontecido alguma alteração relevante de um período para outro, que motivos levavam a mudanças e quem tinha papel relevante na implementação das modificações. Em seu estudo (vide ítem 4.1), Johnson et al. (2006) pesquisaram o modelo de estrutura adotado pela área de Compras e sua evolução entre 1987 e 2003. É válido ressaltar que a pesquisa diferenciou empresas industriais e de serviços, o que permitiu avaliar também as diferenças relevantes entre tais setores da economia. A Tabela 11 apresenta os resultados, que mostram um crescimento consistente da utilização do modelo híbrido na indústria, enquanto que, no setor de serviços, apesar de um aumento observado entre 1995 e 1987, nos oito anos seguintes esta se manteve estável. Outra constatação relevante é a de que, embora o modelo híbrido seja o mais empregado nas empresas (67%), em serviços a taxa é menor do que na indústria (63% ante 70%). A contrapartida se dá na estrutura centralizada, que, apesar da queda nos últimos 16 anos, é encontrada no setor de serviços em uma proporção maior (25% ante 22%). Os autores comentam que uma possível causa para tal fato é o tamanho das empresas de serviço analisadas, que são menores. 18 Tabela 11: Evolução da estrutura da área de compras entre 1987 e 2003 nos setores industrial e de serviços Estrutura Organizacional Centralizada Híbrida Centralizada Híbrida Híbrida Descentralizada Descentralizada 2003 Indústria Serviço (%) (%) 21,6 31,0 43,9 36,3 9,9 9,7 15,8 16,8 8,8 6,2 1995 Indústria Serviço (%) (%) 20,3 32,4 Média (%) 25,4 40,9 9,9 16,2 7,8 Média 1987 Indústria Serviço Média 22,9 26,3 41,2 28,0 65,0 64,7 64,9 59,5 55,9 59,1 14,8 2,9 12,3 14,1 2,9 12,8 Fonte: Johnson et al. (2006, p. 37) Com a mesma base de dados, Johnson e Leenders (2006) analisaram as mudanças de estrutura ocorridas nas 51 empresas que responderam aos três questionários (1987, 1995, 2003) e nas 116 que participaram em 1995 e 2003. O intuito era comparar as mesmas empresas, evitando o erro da análise de dados agregados diferentes ao longo do tempo. Os resultados referentes às 116 companhias mostram que 42% alteraram a estrutura da área de compras entre 1995 e 2003. O mais interessante é a verificação de mudanças em todas as direções, em que 24 empresas adotaram estruturas mais centralizadas e 25 caminharam para o lado oposto. Outra observação relevante é a de que, apesar de a híbrida ser a mais comum, 30% das companhias com essa estrutura fizeram mudanças, sendo 14 para uma mais centralizada e oito para uma menos. Já em relação à descentralizada, que é a menos comum, 10 (91%) alteraram sua estrutura. A Tabela 12 e a Figura 1 apresentam os principais resultados. Tabela 12: Mudanças na estrutura organizacional de Compras entre 2003 e 1995 nas 116 empresas que responderam ao questionário da pesquisa de Johnson e Leenders (2006) em ambos os períodos Estrutura Organizacional 1995 2003 Centralizada Híbrida Centralizada 14 16 Híbrida 14 52 Descentralizada 2 8 Total 30 76 o Descentralizada Total N de mudanças 1 31 17 8 74 22 1 11 10 10 116 49 % 55 30 91 42 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2006, p. 336) 19 Centralizada 14 16 Híbrida 2 1 8 8 Descentralizada No total de ocorrências: 24 empresas (49%) No total de ocorrências: 25 empresas (51%) Figura 1: Tipificação das mudanças na estrutura organizacional de Compras das 49 empresas pesquisadas por Johnson e Leenders (2006) que modificaram sua estrutura entre 2003 e 1995 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2006, p. 336) Já em relação à análise das 51 empresas que responderam aos três questionários, os resultados mostram que apenas 19 (37%) mantiveram sua estrutura entre 1987 e 2003. Dessa forma, os autores concluem que, embora a análise agregada dos dados mostre uma certa estabilidade, o exame empresa a empresa expõe uma mudança relativamente frequente na estrutura da área de Compras. Entretanto, por que ocorrem tantas modificações na estrutura da área de Compras? Johnson e Leenders (2001) buscaram responder a essa pergunta através de um estudo de caso com 10 grandes empresas dos Estados Unidos e da Europa. Ao todo, 15 mudanças de estrutura foram estudadas. A Figura 2 mostra quais as alterações ocorridas. 20 Centralizada 3 2 Híbrida 2 1 2 5 Descentralizada No total de ocorrências: 9 No total de ocorrências: 6 Figura 2: Tipificação das mudanças estudadas por Johnson e Leenders (2001) Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2001, p. 7) A análise das entrevistas confirmou que as mudanças ocorridas na área de Compras eram devidas a modificações na estrutura corporativa, e a principal causa para tal era a tentativa por parte da empresa de cortar custos, com o intuito de sobreviver às pressões competitivas e ao surgimento de novas tecnologias. Além disso, os autores colocam dois exemplos - Airtouch e Chevron - para ilustrar que o downsizing não necessariamente está relacionado com centralização, podendo acontecer em qualquer direção. A primeira, Airtouch, havia mudado seu foco de crescimento para controle de custos. Para tal, promoveu uma centralização em toda a organização, o que incluiu a área de Compras, com a expectativa de economizar US$ 200 milhões. Já a Chevron, insatisfeita com seus resultados operacionais, iniciou um processo de descentralização na companhia como um todo para diminuir o número de funcionários. A área de Compras também foi afetada, e havia uma previsão de redução de 100 empregados. 2.4 O PERFIL, A POSIÇÃO HIERÁRQUICA E A REMUNERAÇÂO DO PRINCIPAL EXECUTIVO DE COMPRAS O principal executivo de Compras - também chamado de CPO – é o responsável por assegurar que a referida área contribua de forma efetiva para os 21 objetivos e estratégias corporativos (Johnson e Leenders, 2009), além de ser uma pessoa chave na determinação do sucesso ou fracasso tanto de Compras quanto da área de Supply Chain como um todo (Ogden et al., 2002), podendo ser uma fonte de vantagem competitiva para a empresa (Zsidisin et al., 2003). Sendo assim, outra forma de a literatura abordar a importância da área de Compras dentro das empresas é através da análise de diversas características do CPO, como, por exemplo, a quem se reporta, título/cargo e histórico profissional e acadêmico. Johnson et al. (2006) observam que uma evolução na linha de subordinação, título atribuído e/ou histórico profissional/acadêmico do executivo indica um crescimento da influência e do status da Área de Compras como um todo dentro das corporações. Outra variável que, do mesmo modo, pode sugerir o grau de reconhecimento que Compras recebe nas empresas é a remuneração do principal executivo da área (Ogden et al., 2002). Sendo assim, para melhor compreensão, esse tópico será dividido em perfil e posição hierárquica e remuneração do CPO. 2.4.1 O perfil e a posição hierárquica do principal executivo de Compras Em seu estudo (vide ítem 4.1), Johnson et al. (2006) pesquisaram a linha de subordinação, o título conferido e o histórico profissional/acadêmico do CPO. A pesquisa diferenciou empresas industriais e de serviços, o que permitiu avaliar não só a evolução dessas características do CPO, como também observar diferenças relevantes entre tais setores da economia. A Tabela 13 apresenta os resultados encontrados para “a quem o CPO se reporta”. Tabela 13: Evolução entre 1987 e 2003 da linha de subordinação do CPO Linha de subordinação do CPO V.P. Sênior CFO V.P. Executivo Presidente/CEO COO V.P. de Administração V.P. de Manufatura/ Produção/Operação Outros V.P. Corporativo V.P. de Logística V.P. de Engenharia 2003 Indústria Serviço Média 1995 Indústria Serviço Média 1987 Indústria Serviço Média (%) 15,8 14,0 15,8 17,5 9,4 5,3 (%) 18,6 19,5 14,2 9,7 4,4 10,6 (%) 16,9 16,2 15,1 14,4 7,4 7,4 (%) 14,9 10,2 14,0 17,0 8,9 (%) 31,9 14,5 20,3 11,6 7,3 (%) 18,8 11,2 15,5 15,8 8,6 (%) 2,3 6,6 18,4 15,6 13,3 (%) 0,0 11,4 20,0 20,0 17,1 (%) 2,1 7,2 18,6 16,2 13,8 9,4 2,7 6,7 18,7 5,8 15,8 25,4 17,1 24,4 5,3 4,7 2,3 0,6 8,9 8,0 0,9 2,7 6,7 6,0 1,8 1,4 6,8 0,4 8,1 0,9 2,9 1,5 4,4 0,0 5,9 0,7 7,2 0,7 7,8 9,4 1,2 8,6 2,9 2,9 7,9 8,6 1,4 Fonte: Adaptada de Johnson et al. (2006 p. 37) 22 Analisando-se detalhadamente, pode-se observar uma tendência similar nos setores de manufatura e de serviços, e os achados mais relevantes são: (i) os aumentos observados em cargos de grande importância como “vice-presidente sênior” (de 2,1% em 1987, para 16,9% em 2003), “CFO”10 (de 7,2% para 16,0%) e as novas categorias de “COO”11 (7,4% em 2003) e “vice-presidente corporativo” (6,0% em 2003) e (ii) os declínios em “vice-presidente de administração” (de 13,7% em 1987, para 7,4% em 2003), “vice-presidente de manufatura/operação” (de 24,4% para 6,7%) e “vice-presidente de materiais/logística” (de 8,6% para 1,8% em 2003). De modo geral, houve ganho sucessivo no percentual que respondeu estar subordinado a um dos cinco executivos mais importantes (presidente, COO, vicepresidente executivo, vice presidente sênior ou CFO), de 44,0%, em 1987, para 61,1%, em 1995, e 72,5%, em 2003. No entanto, apesar da semelhança entre tais valores no que tange aos setores de manufatura e serviços, neste o CPO está significativamente menos subordinado ao “presidente” e “COO” (17,5% vs 9,7% e 9,4% vs 4,4%, respectivamente), sendo compensado por um percentual maior de subordinação a “vice-presidente sênior” e “CFO” (15,8% vs 18,6% e 14,0% vs 19,5%, respectivamente). Já os resultados da análise do título/cargo atribuído ao CPO também mostram uma evolução significativa na sua linha de subordinação. A Tabela 14 apresenta os números detalhados. Tabela 14: Evolução entre 1987 e 2003 do título/cargo do CPO Título do CPO Vice Presidente Diretor Gerente Geral Gerente Outros 2003 Indústria Serviço (%) 62,0 28,1 0,6 4,7 4,7 (%) 57,5 20,4 1,8 9,7 10,6 Média (%) 60,2 25,0 1,1 6,7 7,0 1995 Indústria Serviço (%) 37,4 37,0 4,2 21,0 0,4 (%) 44,3 32,9 0,0 21,4 1,4 Média (%) 39,0 36,0 3,2 21,1 0,7 1987 Indústria Serviço (%) 34,7 45,7 19,5 0,7 (%) 38,2 35,3 20,3 0,0 Média (%) 35,4 44,1 19,9 0,7 Fonte: Adaptada de Johnson et al. (2006, p. 39) 10 CFO, sigla proveniente da expressão em inglês Chief Financial Officer, é o título usualmente conferido ao principal executivo da área de Finanças nas empresas. 11 COO, sigla proveniente da expressão em inglês Chief Operating Officer, é o título usualmente conferido ao principal executivo da área de Operações nas empresas. 23 Como se pode observar, houve aumento considerável do percentual de CPO´s com titulação de vice-presidente (de 35,3%, em 1987, para 60,2%, em 2003). A contrapartida ficou, basicamente, com os decréscimos de Diretor (de 44,1% para 25,0%) e Gerente (de 19,9% para 6,7%). Essa tendência ocorre tanto no setor de manufatura quanto no de serviços. Por fim, Johnson et al. (2006) analisaram o histórico profissional dos CPO´s. As variáveis consideradas foram o número de anos com o atual empregador, o número de anos no cargo e a experiência do CPO nas diversas funções organizacionais (em número de anos). Em relação ao primeiro quesito, os resultados encontrados pelos autores revelam uma grande semelhança entre os setores de manufatura e de serviços. Entre 1995 e 2003, ambos apresentam uma queda de aproximadamente quatro anos na média de tempo em que o CPO trabalha com o atual empregador, sendo esta causada por uma participação relevante (um terço) de profissionais contratados de outra companhia, por um decréscimo no percentual daqueles com mais de 15 anos na empresa e por um crescimento dos que estão no cargo apenas há no máximo cinco anos. Esse movimento gerou um perfil interessante: bimodal, com alta concentração de CPO´s tanto “novatos” na empresa quanto “muito antigos”. A Tabela 15 apresenta os números detalhados. Tabela 15: Evolução entre 1987 e 2003 do número de anos do CPO com o atual empregador Anos com o empregador atual 1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos Mais de 15 anos Média (anos) 2003 Indústria Serviço (%) 34,5 14,9 10,1 40,5 14,1 (%) 33,6 15,0 9,4 42,1 13,9 Média (%) 34,2 14,9 9,8 41,1 14,0 1995 Indústria Serviço (%) 12,4 15,0 14,1 58,6 18,5 (%) 18,6 12,9 11,4 57,1 17,8 Média (%) 13,8 14,5 13,5 58,2 18,3 1987 Indústria Serviço (%) 12,2 17,6 13,4 56,9 18,5 (%) 14,3 28,6 14,3 42,9 15,9 Média (%) 12,5 18,9 13,5 55,2 18,2 Fonte: Adaptada de Johnson et al. (2006, p. 39) Já no que se refere à experiência como CPO, os resultados encontrados pelos autores mostram que, no setor de serviços, os CPO´s têm, em média, menos experiência na posição (3,53 anos contra 4,36 no setor de manufatura). No entanto, uma tendência de queda nesse fator é evidente em ambos, por conta de um 24 relevante crescimento da participação de CPO´s com menos de cinco anos no cargo. Segundo os autores, a contratação de profissionais externos tem contribuído para a mudança observada. A Tabela 16 apresenta os números de forma detalhada. Tabela 16: Evolução entre 1987 e 2003 do número de anos do CPO no cargo Anos no atual cargo 2003 Indústria Serviço 1-5 anos 6-10 anos 11-15 anos Mais de 15 anos Média (anos) (%) 77,2 17,0 4,1 1,8 4,4 Média (%) 83,6 11,8 3,6 0,9 3,5 (%) 79,7 15,0 3,9 1,4 4,0 1995 Indústria Serviço (%) 61,4 23,6 7,7 7,3 6,0 (%) 59,4 23,2 17,4 0,0 5,7 Média (%) 60,9 23,5 10,0 5,6 5,9 1987 Indústria Serviço (%) 59,8 22,2 11,1 6,9 6,1 Média (%) 57,1 25,7 11,4 5,7 7,8 (%) 59,5 22,6 11,2 6,8 6,1 Fonte: Adaptada de Johnson et al. (2006, p. 40) Finalmente, no que tange à experiência do CPO nas diversas funções organizacionais, os números encontrados mostram uma grande semelhança entre os setores de manufatura e de serviços. Em ambos há uma tendência de: queda na média do número de anos de experiência total (de 27,9 para 24,7 anos); diminuição da experiência em Compras e crescimento em outras áreas, como, principalmente, Finanças e Administração de Sistemas de Informação. Dessa forma, em 2003, apenas 51% da experiência profissional do CPO se deu na Área de Compras, ante 61% em 1987. A Tabela 17 apresenta os números de forma detalhada. Tabela 17: Evolução entre 1987 e 2003 dos anos de experiência do CPO nas diversas funções organizacionais 2003 Indústria Serviço Área Compras Operação/Produção Finanças Administração de Sistemas de Informação Outros Engenharia Marketing Contabilidade Transporte/Logística/ Distribuição Total Média 1995 Indústria Serviço Média 1987 Indústria Serviço Média (anos) 13,4 4,4 1,9 (anos) 11,7 4,1 3,5 (anos) 12,7 4,3 2,6 (anos) 16,3 4,4 0,7 (anos) 16,3 4,7 0,7 (anos) 16,3 4,6 0,7 (anos) 17,4 4,0 0,8 (anos) 16,8 4,6 0,3 (anos) 17,1 4,2 0,8 1,0 1,8 1,3 1,0 0,8 1,0 0,6 0,0 0,5 0,7 0,8 1,2 0,7 1,3 1,1 0,3 0,7 0,9 0,9 0,9 0,7 0,2 0,9 0,9 0,9 3,2 0,6 0,6 0,8 0,5 0,9 0,8 0,9 0,7 1,3 1,6 0,7 0,2 1,8 1,1 0,2 0,7 1,3 1,6 0,7 0,6 0,5 0,5 0,3 0,4 0,3 1,1 0,9 1,0 24,6 24,9 24,8 25,7 28,1 26,0 28,3 25,9 27,9 Fonte: Adaptada de Johnson et al. (2006, p. 40) Com o mesmo objetivo, também foi perguntado se o CPO tinha experiência em Compras e/ou outras áreas. O resultado mais interessante é o forte crescimento 25 de CPO´s que só têm experiência em outras áreas, em detrimento daqueles que somente apresentam experiência em Compras. Esse fenômeno é mais evidente no setor de serviços, onde 8,0% dos principais executivos de Compras entrevistados nunca trabalharam na área. A Tabela 18 apresenta os números de forma detalhada. Tabela 18: Evolução entre 1987 e 2003 do percentual de CPO´s com experiência em Compras e/ou outras áreas 2003 Indústria Serviço Área (s) Compras e outras Somente Compras Outras somente (%) 75,4 20,5 4,1 (%) 65,5 26,6 8,0 Média (%) 71,5 22,9 5,6 1995 Indústria Serviço (%) 69,3 29,0 1,7 (%) 74,3 24,3 1,4 Média (%) 70,5 27,9 1,6 1987 Indústria Serviço (%) 72,0 27,2 0,8 (%) 55,9 41,2 2,9 Média (%) 70,2 28,8 1,0 Fonte: Adaptada de Johnson et al. (2006, p. 41) Já Johnson e Leenders (2008) tinham objetivos um pouco diferentes: investigar o que leva uma empresa a contratar seu primeiro CPO e, em segundo lugar, a quem se subordinaria e qual o seu perfil. Sobre as duas últimas questões, que são comparáveis com os resultados de Johnson et al. (2006) e estão dentro do escopo desta revisão de literatura, os autores identificaram algumas características relevantes sobre a origem, os antecedentes e a experiência desses CPO´s, a partir de um estudo de caso com 26 grandes empresas americanas e europeias. Primeiramente, os autores definem “primeiro CPO” como aquele que assumiu um cargo que ninguém ocupava há pelo menos 12 meses. Posteriormente, apresentam as 26 companhias participantes e ressaltam a presença de “empresas gigantes” na lista, como a Deere&Company e o ING Group. A partir daí, foram apresentados os dados da origem, dos antecedentes profissionais e da experiência do recém-contratado, conforme se mostra na Figura 3. 26 Primeiro CPO Veio de dentro da empresa 58% Origem Background Experiência Proveniente da área de Compras 38% C 12% M 27% Veio de fora da empresa 42% Proveniente de outra área 19% O 15% M 4% Era CPO anteriormente 12% C 8% M 4% Não era CPO anteriormente 31% C 23% M 8% Experiência: C = Somente Compras; M = Mista (Compras e Outras); O = Outras áreas somente Figura 3: Origem, background e experiência do “primeiro CPO” Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2008, p. 48) Sobre a Figura 3, é importante ressaltar que 58% dos “primeiros CPO” vieram de dentro da empresa, sendo que, destes, um terço não veio da Área de Compras. Segundo os autores, o argumento mais citado nas entrevistas foi a necessidade de achar alguém com credibilidade dentro da companhia e com vasta experiência de alta gerência. Outros dois pontos relevantes merecem destaque: 15% não tinham experiência prévia na Área, enquanto que 43% teriam passagens profissionais tanto em Compras quanto em outras Áreas – ante 5,6% e 71,5%, respectivamente, relatados por Johnson et al. (2006); e, daqueles contratados de fora da companhia, a maioria não era CPO na empresa anterior. Para os autores, a falta de orçamento para pagamentos de altos salários foi a principal explicação para o fato. Já em relação ao tempo médio que ficam no cargo, a média observada foi de 4,1 anos, bem próxima daquela encontrada por Johnson et al. (2006). Outra constatação relevante é o fato de “primeiros CPO´s” com experiência mista ficarem por um período maior no cargo. As Tabelas 19 e 20 resumem os resultados. 27 Tabela 19: Tempo médio no cargo do “primeiro CPO” segmentado pelo background profissional Background Proveniente da área Proveniente de outra Era CPO em de Compras da empresa área da empresa Tempo médio no cargo (anos) 4,7 Era de outra empresa outra empresa e não era CPO 3,5 4,0 4,0 Total 4,1 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2008, p. 46) Tabela 20: Tempo médio no cargo do “primeiro CPO” segmentado pela experiência profissional Experiência Somente Compras Tempo médio no cargo (anos) 3,5 Outras áreas somente 3,3 Mista Total 5,5 4,1 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2008, p. 46) Por fim, no que tange à linha de subordinação, cabe colocar que 60% dos CPO´s estavam subordinados a um dos cinco executivos mais importantes (presidente, COO, vice-presidente executivo, vice-presidente sênior e CFO), sendo que 23% se reportavam diretamente ao presidente. Para os autores, a alta concentração na subordinação aos CEO´s sugere a necessidade do cuidado e da atenção destes nos estágios iniciais da função. A Tabela 21 resume os principais resultados. Tabela 21: Linha de subordinação do “primeiro CPO” Linha de subordinação do CPO Presidente/CEO V.P. de Serviços Compartilhados V.P. Sênior COO CFO V.P. de Administração Outros V.P. Executivo V.P. de Manufatura/Operação V.P. de Logística Total Total % 6 5 4 2 2 2 2 1 1 1 26 23,1 19,2 15,4 7,7 7,7 7,7 7,7 3,8 3,8 3,8 100,0 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2008, p. 46) 28 Um ano depois, Johnson e Leenders (2009) complementaram o trabalho anterior, investigando agora o que leva uma empresa a trocar seu CPO, qual o perfil do novo profissional e se esse evento gerou mudanças na linha de subordinação original. Com isso, os autores identificaram algumas características relevantes sobre a origem, o background e a experiência desses CPO´s, a partir de um estudo de casos com 30 grandes empresas americanas e europeias. O trabalho analisou a troca de 41 CPO´s e a mudança em 43 linhas de subordinação nessas companhias. Sobre o primeiro tópico, as observações mais importantes são que 73% vieram de dentro da empresa, sendo que, destes, pouco menos da metade não vieram da Área de Compras – números superiores aos encontrados por Johnson e Leenders (2008); 27% não tinham experiência prévia na área, enquanto que 32% tinham passagens profissionais tanto em Compras quanto em outras áreas; e, por fim, 43% das pessoas contratadas de dentro da empresa para o cargo não vieram da Área de Compras. Os autores observaram que as razões mais comuns apresentadas nas entrevistas são de que tais funcionários estavam sendo colocados como CPO como parte de um treinamento para futuros executivos de topo. A Figura 4 resume os resultados. Troca do CPO Veio de dentro da empresa 73% Origem Background Experiência Proveniente da área de Compras 41% C 22% M 20% Veio de fora da empresa 27% Proveniente de outra área 32% O 27% M 5% Era CPO anteriormente 15% C 10% M 5% Não era CPO anteriormente 12% C 10% M 2% Experiência: C = Somente Compras; M = Mista (Compras e Outras); O = Outras áreas somente Figura 4: Origem, antecedentes e experiência dos 41 CPO´s contratados Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2009, p. 56) Já em relação ao tempo de permanência no cargo, os CPO´s ficaram no cargo em média 3,2 anos, abaixo do encontrado por Johnson et al. (2006) e Johnson 29 e Leenders (2008), de 4,1 anos. Além disso, chama a atenção o fato de os contratados de fora da companhia, que já eram CPO anteriormente, ficarem consideravelmente mais tempo no cargo. As Tabelas 22 e 23 apresentam os resultados. Tabela 22: Tempo médio no cargo do CPO contratado segmentado pelos antecedentes profissionais Antecedentes Tempo médio Proveniente da área Proveniente de outra Era CPO em de Compras da empresa área da empresa 2,3 Era de outra empresa outra empresa e não era CPO 2,5 6,6 4,0 Total 3,2 no cargo (anos) Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2009, p. 57) Tabela 23: Tempo médio no cargo do CPO contratado segmentado pela experiência profissional Experiência Somente Compras Tempo médio no cargo (anos) 3,8 Outras áreas somente 3,0 Mista Total 2,5 3,2 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2009, p. 57) Finalmente, no que tange às 43 mudanças de linha de subordinação, os números mais relevantes são: 58% dos CPO´s se reportam a um dos cinco executivos mais importantes (presidente, COO, vice-presidente executivo, vicepresidente sênior e CFO) ante 57% antes da mudança, ao passo que apenas 7% estão subordinados ao presidente contra 21% anteriormente; em 10 casos (23%) houve ganho de posição na linha de subordinação, enquanto que em 12 casos (28%) houve perda. Para os autores, tais dados sugerem que os CEO´s estão delegando a responsabilidade da Área de Compras para sua primeira linha de subordinação e que, ao contrário do que outros estudos sugerem, não é claro que exista uma tendência de os CPO´s se reportarem a níveis hierárquicos cada vez mais altos. As Tabelas 24 e 25 resumem os principais resultados. 30 Tabela 24: Segmentação das 43 mudanças de posição na linha de subordinação do CPO contratado Linha de subordinação anterior Presidente/CEO COO V.P. Executivo CFO V.P. Sênior V.P. de Administração V.P. de Manufatura/Operação V.P. de Serviços Compartilhados V.P. de Engenharia Outros Total Nova linha de subordinação CEO COO V.P. Exec. 1 1 1 1 1 1 1 CFO V.P. Sênior V.P. de M./O. 1 1 V.P. de Eng. Outros Total 2 1 2 1 V.P. de S. C. 2 1 1 1 1 1 2 1 3 2 1 1 1 1 1 1 1 1 6 1 3 3 1 5 1 4 10 2 5 5 2 5 4 3 9 6 1 4 4 2 5 43 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2009, p. 59) Tabela 25: Direção das 43 mudanças de posição na linha de subordinação do CPO contratado Mudança na linha de subordinação do CPO Maior Menor Mesmo nível Total Total % 10 12 21 43 23,3 27,9 48,8 100,0 Fonte: Adaptada de Johnson e Leenders (2009, p. 59) 2.4.2 A remuneração do principal executivo de Compras Outra característica relacionada aos CPO´s que também recebeu atenção da literatura é a remuneração desses profissionais. Zsidisin et al. (2003) ressaltaram que compreender esse aspecto ajuda as empresas a atrair/reter seus talentos nessa posição e manter suas vantagens competitivas. Dessa forma, diversos estudos buscaram entender que fatores organizacionais e de capital humano influenciam os salários dos CPO´s, fazendo pesquisas, principalmente, na base de dados do ISM. Em relação aos fatores organizacionais, os primeiros trabalhos sobre o tema indicaram que tamanho da empresa (Fitzgerald, 1998); compras sobre receitas (Morgan, 1997; Fitzgerald, 1998) e tipo de itens comprados (Leenders e Fearon, 1997) eram positivamente correlacionados com a remuneração dos profissionais da área de Compras. Já em relação às variáveis de capital humano, idade (Morgan, 1997); gênero (Morgan, 1997; Fitzgerald, 1998); nível de educação (Morgan, 1997) e 31 certificação C.P.M.12 (Morgan, 1997; Fitzgerald, 1998) influenciavam a remuneração dos profissionais da área. Sobre este último aspecto, Ciancarelli (1999) concluiu que tal certificação era um ativo de grande valor para quem pretende ser CPO, enquanto Lumpkin e Tudor (1991) relacionaram o C.P.M. com maiores satisfação e desempenho no trabalho. Com objetivos semelhantes aos estudos apresentados, mas utilizando uma base de dados diferente (as empresas da Fortune 50013), Ogden et al. (2002) aplicaram duas técnicas estatísticas – odds ratio e regressão logística – para testar as variáveis já conhecidas e introduzir novas, como número de empregados se reportando ao CPO; níveis de subordinação entre o CEO e o CPO e número de anos de experiência tanto na Área quanto fora dela. No que tange aos fatores organizacionais, os resultados mostraram que (i) receita, (ii) compras sobre receitas, (iii) o número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO; (iv) número de subordinados e (v) setor de atuação influenciaram a remuneração do principal executivo de Compras. Em relação ao último item, por exemplo, , o CPO tem mais chances de ganhar acima da média no setor industrial do que no setor de Serviços. Segundo o autor, isso pode ser explicado pelo fato de, em Serviços, os CPO´s serem mais novos, estarem mais “distantes” do CEO e terem um orçamento sobre vendas totais menor do que no setor industrial. Já no que se refere a variáveis de capital humano, experiência em outras áreas (diferente de Compras) e idade influenciaram significativamente a remuneração, enquanto que (i) gênero; (ii) número de anos trabalhando em Compras; (iii) ter o certificado C.P.M. e (iv) o nível de educação não se mostraram significativos. Sendo assim, os autores concluíram que fatores organizacionais são mais relevantes do que os de capital humano na determinação da remuneração dos CPO´s, provavelmente devido ao fato de as companhias basearem o salário do atual CPO na remuneração de seus predecessores e por conta da grande influência que o desempenho no trabalho exerce no bônus. A Tabela 26 resume os principais resultados encontrados. 12 13 C.P.M. - Certified Purchasing Manager As 500 maiores empresas dos Estados Unidos segundo a Revista Fortune. 32 Tabela 26: Resultados encontrados por Odgen et al. (2002) quanto à significância da correlação das variáveis estudadas com a remuneração do CPO Hipótese H1 Variável Indústria H2 H3 Receita Gastos/Receita H4 H5 H6A H6B H7 H8 H9 H10 N de funcionários reportando ao CPO Níveis de subordinação entre o CPO e o CEO Anos de experiência em Compras Anos de experiência em outras áreas Idade Gênero Educação C.P.M. o Relação esperada Diferente Conclusão Não rejeitada Positiva Positiva Não rejeitada Não rejeitada Positiva Negativa Positiva Positiva Positiva Diferente Positiva Positiva Não rejeitada Não rejeitada Rejeitada Não rejeitada Não rejeitada Rejeitada Rejeitada Rejeitada Fonte: Adaptada de Odgen et al. (2002 p. 38) Com objetivos similares, Zsidisin et al. (2003) também usaram como base as empresas da Fortune 500 e, utilizando uma regressão linear múltipla, deduziram uma fórmula que relaciona algumas variáveis estudadas com o salário do CPO. Os resultados mostraram que (i) receita, (ii) compras sobre receitas, (iii) o número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO e (iv) a idade influenciam significativamente os salários, enquanto que (i) número de subordinados, (ii) número de anos trabalhando na Área de Compras, (iii) ter o certificado C.P.M. e (iv) o nível de educação não se mostraram significativos. Sendo assim, assim como Ogden et al. (2002), os autores concluíram que fatores organizacionais são mais relevantes do que os de capital humano na determinação da remuneração dos CPO´s. A Tabela 27 mostra as variáveis analisadas e se elas impactam a remuneração do CPO de forma significativa ou não. 33 Tabela 27: Resultados encontrados por Zsidisin et al. (2003) quanto à significância da correlação das variáveis estudadas com a remuneração do CPO Variável Receita Relação esperada Positiva Conclusão Não rejeitada Positiva Não rejeitada N de funcionários reportando ao CPO Positiva Rejeitada Níveis de subordinação entre o CPO e o CEO Anos de experiência em Compras Idade Tem ao menos mestrado ou não C.P.M. Negativa Positiva Positiva Positiva Positiva Não rejeitada Rejeitada Não rejeitada Rejeitada Rejeitada Gastos/Receita o Fonte: Adaptada de Zsidisin et al. (2003, p. 487) Em outro estudo14 sobre a remuneração dos CPO´s das empresas da Fortune 500, Hendrick e Ni (2007), usando dados mais recentes que os dois trabalhos apresentados anteriormente, tinham três objetivos principais: atualizar o modelo de Zsidisin et al. (2003) de previsão de salários para os referidos profissionais; avaliar a evolução dos dados coletados de remuneração em relação aos números encontrados por Hendrick e Ogden (2002)15 e Hendrick e Ogden (2000)16; identificar o perfil dos CPO´s, comparando-o com o observado em outro estudo da CAPS, de Buchko (1997)17. Sobre o perfil, a Tabela 28 apresenta alguns dados. Tabela 28: Comparação entre os perfis médios do CPO observados nos dois estudos Variável Idade Buchko (1997) 50,2 Anos na atual posição de CPO Informação sobre o predecessor Idade em que se tornou CPO Grau de educação Recrutado de Hendrick e Ni (2007) 49,4 5,2 2,9 Sem predecessor (37%) Sem predecessor (30%) Aposentou-se (26%) Realocado (15%) Promovido (7%) 45,1 Mais de 50% com Mestrado ou MBA Dentro da empresa (62%) Fora da empresa (38%) Aposentou-se (27%) Saiu da empresa (16%) Promovido (5%) 46,5 Graduação (60,2%) Mestrado (37,5%) Dentro da empresa (55%) Fora da empresa (45%) Fonte: Adaptada de Hendrick e Ni (2007, p. 12) 14 Chief Purchasing Officer´s Mobility, Compensation Benchmarks and Demographics: A Study of Fortune 500 firms, CAPS Research 2007. 15 Chief Purchasing Officer´s Compensation Benchmarks and Demographics: A 2001 Study of Fortune 500 firms, CAPS Research 2002. 16 Chief Purchasing Officer´s Compensation Benchmarks and Demographics: A 1999 Study of Fortune 500 firms, CAPS Research 2000. 17 The Making of the CPO:The Mobility Patterns of Chief Purchasing Officers, CAPS Research 1997. 34 Outras características sobre um típico CPO observadas por Hendrick e Ni (2007) são que tem 19 anos de experiência em Compras, mas está há menos de seis anos na atual companhia e apenas três como CPO; apresenta título de MBA; tem poucas chances de ser promovido para um cargo superior ao atual e as mulheres nessa posição ganham mais. Já em relação ao comparativo com Buchko (1997), pode-se destacar que o tempo médio no cargo caiu substancialmente, para aproximadamente três anos, que a posição continua sendo nova em muitas empresas e que houve ampliação da contratação de CPO´s de fora da empresa (55% ante 38% em 1997). Já no que tange ao estudo sobre o salário dos CPO´s, os autores colocam que, comparando com os resultados dos estudos supracitados da CAPS de 2000 e 2002, a remuneração do principal executivo de Compras cresceu continuamente em termos reais, o que sugeriria o crescimento da importância da área. Além disso, em relação ao outro tópico abordado no trabalho - o modelo de previsão de salários - os autores observaram cinco variáveis estatisticamente significantes: receita anual; setor da empresa - em Manufatura, o CPO ganha mais do que no setor de Tecnologia, que, por sua vez, recebe um salário maior do que em Serviços; níveis de subordinação entre o CEO e o CPO; tempo que está trabalhando na companhia e gênero. Pode-se constatar muitas semelhanças com os resultados encontrados por Zsidisin et al. (2003), mas uma diferença se destaca: o gênero – as CPO´s do sexo feminino ganham significativamente mais. 2.5 ESTUDOS SOBRE O TEMA FEITOS NO BRASIL No Brasil, somente um estudo buscou caracterizar a Área de Compras de forma similar aos estudos internacionais apresentados nesta revisão de literatura. Embora careça de comparação intertemporal, a pesquisa feita por Soares (2003) com 82 companhias brasileiras identificou: (i) as atividades e responsabilidades da referida Área, (ii) sua organização e (iii) o perfil de seu executivo principal. Sobre o primeiro tópico, o autor concluiu que, dentre 43 atividades identificadas, Compras possui responsabilidade total ou em equipe em 31 delas (72,1%). Nas atividades de “análise interna” e “relacionadas aos fornecedores”, o 35 resultado foi em linha com o observado internacionalmente, com ampla participação da referida área. No entanto, no que tange a “atividades estratégicas e de planejamento”, Compras ainda tinha papel limitado, não participando de oito das 14 atividades pesquisadas. Apesar disso, a constatação de significativa participação em equipe no “planejamento estratégico corporativo” foi positiva para a área. A Tabela 29 apresenta de forma mais detalhada os resultados encontrados por Soares (2003). Tabela 29: Grau de responsabilidade de Compras em 43 atividades pesquisadas GRUPO ATIVIDADES DE ANÁLISE INTERNA ATIVIDADE Aquisição de produtos destinados à produção Medidas de desempenho de Compras Estabelecimento de sistemas de informação conectados em tempo real com fornecedores Gerenciamento e controle dos níveis de inventário Gerenciamento de materiais Transportes (recebimento) Padronização de materiais Decisões de fazer ou comprar Revisão dos requisitos de materiais Terceirização Gerenciamento de planta Expedição Controle da produção Planejamento da produção Distribuição Contas a pagar Recebimento (produtos acabados) Negociação de preços e contratos com Para a atividade em questão, os respondentes indicaram que Compras possuía, principalmente, pouca ou responsabilidade responsabilidade nenhuma total sobre a em equipe sobre responsabilidade atividade a atividade X X X X X X X X X X X X X X X X X 36 Recebimento (produtos acabados) Negociação de preços e contratos com fornecedores Coleta de informações dos fornecedores Interação com o pessoal de vendas dos fornecedores Gerenciamento da base de fornecedores Elaboração da base de fornecedores Comunicação de mudanças de especificações ATIVIDADES para os fornecedores RELACIONADAS Desenvolvimento de relações próximas e de AOS colaboração com fornecedores FORNECEDORES Desenvolvimento de tecnologias e produtos em conjunto com fornecedores Melhoria no fator produtividade/custo Seleção de fornecedores Avaliação de fornecedores Solução de problemas em conjunto com o fornecedor Elaboração e implementação de medidas de desempenho dos fornecedores Determinação das políticas de Compras Planejamento estratégico de Compras Previsão de preço dos produtos comprados Planejamento de longo prazo de Compras ATIVIDADES Planejamento estratégico corporativo ESTRATÉGICAS Relações com o Governo E DE Planejamento de marketing PLANEJAMENTO Planejamento internacional da empresa Planejamento ambiental Planejamento tecnológico Alianças/aquisições/fusões Planejamento de investimento Planejamento de fluxo de caixa X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X X Fonte: Adaptada de Soares (2003, p. 105) Já em relação à organização de Compras, dois aspectos foram estudados. O primeiro dizia respeito a como Compras estava estruturada, em que a forma centralizada foi a mais encontrada, com 54%, seguida pela híbrida, com 38%. O resultado indicou a existência de uma preferência brasileira por evitar duplicidades, otimizar a coordenação de esforços e obter ganhos de escala, em detrimento de uma maior velocidade de resposta à demanda. O segundo aspecto abordado foi a participação da Área de Compras em equipes. Os resultados mostraram que, em 94% das empresas, Compras participava de equipes multifuncionais e, em 86%, de equipes multifuncionais incluindo fornecedores. Para o autor, isso se devia ao foco da empresa em atingir objetivos como redução de custo, certificação de fornecedores e redução de estoques. Adicionalmente, essa constatação mostrou o reconhecimento da relevância de Compras na busca por tais metas. A Tabela 30 apresenta de forma mais detalhada os resultados encontrados por Soares (2003). 37 Tabela 30: Grau de participação de Compras em equipes multifuncionais Compras participa da equipe em questão? Sim (%) Equipes multifuncionais (áreas internas da empresa) 94 Equipes multifuncionais envolvendo o fornecedor 83 Equipes de produtos Conselhos de Compras Equipes multifuncionaisenvolvendo o cliente Consórcio de Compras Equipes multifuncionais envolvendo fornecedores e clientes Conselhos de fornecedores 78 54 44 40 31 24 Fonte: Adaptada de Soares (2003, p. 76) Por fim, o autor avaliou o perfil do principal executivo de Compras. No que diz respeito ao gênero e idade, os resultados mostraram dados similares aos encontrados internacionalmente, com predominância do sexo masculino (90%) e média de idade em torno de 50 anos, sendo 73% acima de 40 anos. No entanto, em relação à formação acadêmica, apenas 28% dos respondentes tinham curso superior completo e somente 7% haviam cursado mestrado, o que é bastante inferior ao observado em pesquisas sobre empresas americanas à época - 61% e 30%, respectivamente (Johnson et al., 1998). A Tabela 31 explicita tais resultados. Tabela 31: Formação educacional do principal executivo de Compras Formação educacional Total % 2 grau incompleto ou inferior 0 0,0 Superior incompleto 1 1,2 Superior completo Especialização incompleta Especialização completa Mestrado incompleto Mestrado completo Doutorado incompleto Doutorado completo Total 23 7 43 2 6 0 0 82 28,0 8,5 52,4 2,4 7,3 0,0 0,0 100,0 o Fonte: Adaptada de Soares (2003, p.60) 38 Já no que se refere aos antecedentes profissionais, 46% dos CPO´s pesquisados tinham mais de 15 anos de experiência em Compras, enquanto que, na sua atual empresa, 58% tinham mais de cinco anos na Área (vide Gráfico 1). Porém, 25% dos referidos executivos foram contratados sem nunca ter trabalhado em Compras anteriormente, ao passo que apenas 4% não possuíam experiência em outra área. Segundo o autor, esse resultado era uma indicação de que muitas empresas valorizavam profissionais com experiências diversas e sem os “vícios da Área”. Outro ponto pesquisado foi se o CPO havia sido absorvido dos quadros da empresa ou se havia sido contratado externamente. Similarmente aos dados de pesquisas nos Estados Unidos à época, no Brasil, 69% dos CPO´s haviam sido selecionados internamente. Gráfico 1: Anos de experiência do CPO na área de Compras da atual empresa 1% 3% 13% Menos de 6 meses De 6 a 12 meses De 1 a 2 anos 58% 25% De 2 a 5 anos Mais de 5 anos Fonte: Adaptada de Soares (2003, p. 62) Entretanto, quando se observam variáveis hierárquicas, os números mostraram resultados inferiores aos americanos. A titulação de 68% dos CPO´s brasileiros era “Gerente de Compras” e a subordinação à Diretoria era a resposta mais frequente, com 60%, seguida do CEO, com 22%. 39 3. METODOLOGIA Neste capítulo será apresentada a metodologia empregada no estudo, o que engloba o tipo de pesquisa utilizado; as perguntas a serem respondidas e as hipóteses que serão testadas; o universo populacional considerado e a composição da amostra e as limitações deste trabalho. 3.1 TIPO DE PESQUISA A escolha do método de pesquisa depende, basicamente, de três fatores (Yin, 1994): (i) do tipo de pesquisa; (ii) do controle sobre o comportamento do fenômeno estudado e (iii) da perspectiva temporal do trabalho - passado ou presente. Dado isso, o autor sugere então uma segmentação dos possíveis métodos a serem empregados: estudo de caso, survey, experimentos, histórico e análise de arquivos. Além disso, estes podem ser subdivididos quanto ao seu propósito: descritivo, exploratório e explicativo. Segundo Gil (1991), a pesquisa descritiva visa descrever características de determinada população/fenômeno ou constituir relações entre variáveis. Este tipo de pesquisa é usado quando o objetivo do trabalho é obter informações sobre determinada população, ou seja, contagens, proporções ou frequências de determinado evento/característica de uma população (Roesch, 1999). Já o propósito exploratório se dá quando um assunto - ou sua abordagem ainda não foi explorado em uma população específica (Yin, 1994). Para o autor, o estudo com caráter exploratório não pretende responder a perguntas prévias, mas descobrir questões que mereçam aprofundamento e discussão entre acadêmicos e outros possíveis interessados. Sendo assim, pode-se dizer que este estudo tem caráter descritivo e exploratório. Descritivo, porque uma de suas pretensões é descrever como está estruturada a área de Compras das empresas brasileiras atualmente e o que mudou em relação ao passado recente. Além disso, também é exploratório, porque seu outro objetivo é investigar que fatores/recursos da empresa estão relacionados com o status percebido da área de Compras no Brasil. Para tal, optou-se pelo método de survey. Essa foi a alternativa escolhida por permitir que um largo espectro de empresas seja avaliado de forma mais simples e 40 objetiva do que, por exemplo, no método de estudos de caso. Adicionalmente, a utilização de questionário on-line reduz significativamente o custo da pesquisa. 3.2 PERGUNTAS E HIPÓTESES Três questões-chave guiam esse trabalho: 1. Como a área de Compras está configurada atualmente nas empresas brasileiras? 2. O que mudou em relação ao passado recente? 3. Que fatores/recursos das empresas brasileiras estão relacionados com o grau de importância atribuída à área? Johnson e Leenders (2006) colocaram que a literatura sobre as alterações na configuração de Compras está segmentada em três vertentes: as responsabilidades exercidas por Compras; as transformações ocorridas na estrutura organizacional da área; modificações funcionais e no perfil do seu principal executivo. Adicionalmente, Soares (2003) caracterizou a área de Compras em empresas brasileiras tomando como base os três pilares apontados acima. Dessa forma, as questões-chave 1 e 2 foram, então, segmentadas em três partes: • Quais as principais responsabilidades desempenhadas por Compras e o que mudou entre 2003 e 2011? • Como a área está estruturada e o que mudou entre 2003 e 2011? • Qual o perfil e a posição hierárquica do principal executivo de Compras e o que mudou entre 2003 e 2011? Como essas perguntas representam cada um desses três pilares, as respostas a elas trarão uma melhor compreensão da configuração de Compras nas empresas brasileiras e da sua evolução recente. Além disso, também será possível avaliar o progresso recente do status da área, já que, segundo Pearson et al. (1996), uma maior atribuição de responsabilidades implica maior status. Já sobre a terceira questão-chave - que fatores/recursos da empresa estão relacionados com o status percebido da área de Compras - a revisão da literatura nos mostra que os recursos de uma empresa podem ser segmentados em três 41 categorias: (i) capital físico, que inclui equipamentos, instalações e tecnologia utilizada; (ii) capital humano, que consiste na experiência dos funcionários, capacidade cognitiva, treinamento e relacionamento e (iii) capital organizacional, que pode ser entendido como as relações de subordinação e forma de relacionamento formal e informal entre os funcionários (Barney, 1991). Zsidisin et al. (2003) usaram esse ferramental na busca por fatores/recursos da empresa que possivelmente estivessem relacionados com a remuneração do CPO. Os autores consideraram que fatores de capital organizacional e humano influenciariam a remuneração do CPO e testaram nove deles em seu estudo. Ogden et al. (2002), com objetivos similares, utilizaram quase as mesmas variáveis. As Tabelas 32 e 33 apresentam os fatores testados nas pesquisas de Ogden et al. (2002) e Zsidisin et al. (2003), respectivamente. Tabela 32: Variáveis que Odgen et al. (2002) utilizaram para testar a correlação com a remuneração do CPO Hipótese H1 Variável Indústria H2 H3 Receita Gastos/Receita H4 H5 H6A H6B H7 H8 H9 H10 N de funcionários reportando ao CPO Níveis de subordinação entre o CPO e o CEO Anos de experiência em Compras Anos de experiência em outras áreas Idade Gênero Educação C.P.M. o Relação esperada Diferente Conclusão Não rejeitada Positiva Positiva Não rejeitada Não rejeitada Positiva Negativa Positiva Positiva Positiva Diferente Positiva Positiva Não rejeitada Não rejeitada Rejeitada Não rejeitada Não rejeitada Rejeitada Rejeitada Rejeitada Fonte: Adaptada de Odgen et al. (2002, p. 38) 42 Tabela 33: Variáveis que Zsidisin et al. (2003) utilizaram para testar a correlação com a remuneração do CPO Variável Receita Relação esperada Positiva Conclusão Não rejeitada Positiva Não rejeitada N de funcionários reportando ao CPO Positiva Rejeitada Níveis de subordinação entre o CPO e o CEO Anos de experiência em Compras Idade Tem ao menos mestrado ou não C.P.M. Negativa Positiva Positiva Positiva Positiva Não rejeitada Rejeitada Não rejeitada Rejeitada Rejeitada Gastos/Receita o Fonte: Adaptada de Zsidisin et al. (2003, p.487) 4. Portanto, a terceira e última questão-chave - que fatores/recursos das empresas brasileiras estão relacionados com o grau de importância atribuída à área - após a revisão de literatura desmembrou-se em nove hipóteses: Sobre os fatores organizacionais: H1. Há uma relação positiva entre a receita anual e o status da área de Compras na empresa. Fitzgerald (1998) mostrou que há relação positiva entre o tamanho da empresa e a remuneração dos funcionários da área de Compras. Já Odgen et al. (2002) e Zsidisin et al. (2003) foram mais específicos e concluíram que o mesmo é válido para a remuneração dada ao CPO. Dessa forma, espera-se que quanto maior a empresa – utilizando como medida a receita anual – maior o status da área de Compras. H2. Há uma relação positiva entre a razão gastos/receita e o status da área de Compras na empresa. Fitzgerald (1998) e Morgan (1997) mostraram que há relação positiva entre os gastos (em dólares) das empresas com produtos/serviços e a remuneração dos funcionários da área de Compras. Como os gastos crescem como percentual da receita (Zsidisin et al., 2003), Odgen et al. (2002) e Zsidisin et al. (2003) concluíram que o fator gasto/receita está positivamente relacionado 43 com a remuneração dada ao CPO. Dessa forma, espera-se que quanto maior a relação gasto/receita – ambos analisados em termos anuais – maior o status da área de Compras. H3. Há uma relação entre o setor no qual a empresa atua e o status da área de Compras. Leenders e Fearon (1997) colocaram que a remuneração paga ao CPO pode diferir de um setor para o outro devido às diferenças entre o tipo de item comprado. Já Odgen et al. (2002) mostraram que é, de fato, significante a diferença entre as remunerações pagas aos CPO´s nos distintos setores da economia (serviços, manufatura e indústria de alta tecnologia). Dessa forma, espera-se que em setores diferentes da economia brasileira, o status de Compras seja significativamente diferente. H4. Há uma relação negativa entre o número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO e o status da área de Compras na empresa. Odgen et al. (2002) e Zsidisin et al. (2003) mostraram que há uma relação negativa entre o número de níveis de subordinação entre o CPO e o CEO e a remuneração dada ao CPO. Dessa forma, espera-se que quanto menos níveis de subordinação existir entre o CPO e o CEO maior o status da área de Compras. Sobre os fatores de capital humano: H5. Há uma relação positiva entre a idade do CPO e o status da área de Compras na empresa. A idade de um profissional pode ser considerada uma medida de experiência pessoal e profissional (Zsidisin et al., 2003). Morgan (1997) mostrou que há relação positiva entre a idade e a remuneração dos funcionários da área de Compras. Odgen et al. (2002) e Zsidisin et al. (2003), avaliando somente o principal funcionário de Compras, concluíram que o mesmo é válido para a remuneração dada ao CPO. Dessa forma, espera-se que quanto maior a idade do CPO maior o status da área de Compras. 44 H6. Há uma relação entre o gênero do CPO e o status da área de Compras na empresa. Fitzgerald (1998) e Morgan (1997) indicaram a existência de uma diferença significante a favor dos homens no quesito remuneração dos funcionários da área de Compras. No entanto, Odgen et al. (2002) concluíram que não havia diferença significativa no que se referia à remuneração dada ao CPO. Já Hendrick e Ni (2007), ao caracterizarem o perfil do principal executivo de Compras, observaram que CPO´s do sexo feminino ganham mais, em média. Ainda assim, no Brasil, espera-se que, em empresas que tenham CPO do sexo masculino, o status da área de Compras seja maior. H7. Há uma relação positiva entre a formação acadêmica do CPO e o status da área de Compras na empresa. Morgan (1997) mostrou que os funcionários da área de Compras com mestrado ganham mais do que aqueles que concluíram somente o bacharelado. Odgen et al. (2002) e Zsidisin et al. (2003), avaliando somente o principal funcionário de Compras, não encontraram relação estatisticamente significante. No entanto, no Brasil, a dinâmica pode ser diferente e espera-se que quanto maior a qualificação acadêmica do CPO, maior o status da área de Compras. H8. Há uma relação positiva entre certificações obtidas pelo CPO e o status da área de Compras na empresa. Fitzgerald (1998) e Morgan (1997) mostraram que, de forma geral, funcionários da área de Compras com C.P.M. têm salários maiores do que aqueles sem o certificado. No entanto, Odgen et al. (2002) e Zsidisin et al. (2003) concluíram que não havia diferença significativa no que se referia à remuneração dada ao CPO. Ainda assim, no Brasil, espera-se que, em empresas cujo CPO tenha o certificado C.P.M., o status da área de Compras seja maior. 45 H9. Há uma relação positiva entre o número de anos de experiência do CPO em Compras ou em outras áreas e o status da área de Compras na empresa. Zsidisin et al. (2003) não encontrou relação significativa entre o número de anos de experiência em Compras e a remuneração dada ao CPO, o mesmo encontrado por Odgen et al. (2002). Porém, estes encontraram relação significativa entre o número de anos de experiência em outras áreas e a remuneração do CPO. Portanto, no Brasil, espera-se que, em empresas cujo CPO tenha mais experiência em Compras ou em outras áreas, o status da área de Compras seja maior. 3.3 OPERACIONALIZAÇÃO DAS VARIÁVEIS Todas as variáveis que serão utilizadas neste estudo – perfil e posição hierárquica do CPO; responsabilidades e estrutura; elementos de cunho organizacional (receita, gastos, setor de atuação) são amplamente usadas em trabalhos acadêmicos. No entanto, ainda não está consolidada na literatura uma forma de medir a variável “status da área de Compras”. Pearson et al. (1996), em um estudo sobre a percepção do status e reconhecimento da área de Compras nas empresas, utilizaram como medida a resposta à seguinte pergunta: Como você caracterizaria o status e o reconhecimento de Compras em relação à área “X”? A lista de áreas incluía Administração de Materiais, Produção/Operação, Contabilidade/Finanças, Engenharia, Marketing e Pesquisa e Desenvolvimento. A resposta em relação a cada área estava limitada por uma Escala Likert de cinco pontos, em que 1 significava que Compras tinha um status muito inferior à área “X”, enquanto que 5 refletia o oposto. Por fim, uma média simples foi feita para servir como proxy. Dessa forma, neste estudo, para medir o status da área de Compras, será utilizada a mesma pergunta (e estrutura) feita por Pearson (1996). Para facilitar o entendimento, o quadro a seguir traz um resumo das questões levantadas nesse estudo, os objetivos pretendidos, quais variáveis foram utilizadas, como elas foram mapeadas e, finalmente, em qual estudo tais variáveis foram baseadas. 46 47 Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Johnson e Leenders, 2004, p.113 Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Hendrick e Ni, 2007, p. 87 Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Johnson e Leenders, 2004, p.113 Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Hendrick e Ni, 2007, p. 88 Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Johnson e Leenders, 2004, p.113 Q24, Q25 Q7 Q24, Q25 Q8 Gênero do CPO e Status/Influência da área de Compras Q24, Q25 Q18 Escolaridade do CPO e Status/Influência da área de Compras Q24, Q25 Q19 Certificações obtidas pelo CPO e Status/Influência da área de Compras Q24, Q25 Anos de experiência do CPO em Compras e Status/Influência da área de ComprasQ14 Anos de experiência do CPO em outras áreas e Status/Influência da área de Q24, Q25 Compras Idade do CPO e Status/Influência da área de Compras Número de níveis de subordinação entre o CPO e o CEO e Status/Influência da área de Compras Setor de atuação da empresa e Status/Influência da área de Compras Razão Gastos/Receita e Status/Influência da área de Compras Receita Anual e Status/Influência da área de Compras Experiência profissional Johnson e Leenders, 2004, p.112 Johnson e Leenders, 2004, p.112 Johnson e Leenders, 2004, p.112 Johnson e Leenders, 2004, p.113 Hendrick e Ni, 2007, p. 87 Johnson e Leenders, 2004, p.113 Johnson e Leenders, 2004, p.113 Hendrick e Ni, 2007, p. 85 Revista Exame 2011 - 1000 Maiores Empresas Brasileiras Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Johnson e Leenders, 2004, p. 112 Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Revista Exame 2011 - 1000 Maiores Empresas Brasileiras Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Hendrick e Ni, 2007, p. 86 Q9 Q10 Q11 Q7 Q8 Q18 Q13, Q14, Q15 Q16, Q17 Dado coletado na Revista Exame Q24, Q25 Q6 Q24, Q25 Dado coletado na Revista Exame Q24, Q25 Q12 Cargo A quem reporta Tempo da linha da subordinação Idade Gênero Escolaridade Pearson, Ellram e Carter, 1996, ps. 32 e 33 Johnson e Leenders, 2004, p.116 Q20 5 possibilidades variando entre centralizada e descentralizada Autores Johnson e Leenders, 2004, p.114 Johnson e Leenders, 2004, p.115 Johnson e Leenders, 2004, p.119 Perguntas Q21 Q22 Q23 Variáveis analisadas 25 atividades relacionadas à compra de produtos e serviços 24 atividades da área de Supply Chain 19 atividades corporativas principais Quadro 1: Ilustração da operacionalização das variáveis 3.4 UNIVERSO E AMOSTRA O universo do estudo engloba as 1246 maiores empresas em 2010 listadas pela revista Exame Melhores e Maiores, na edição de 2011. A partir desse número, iniciou-se o processo de obtenção de telefones e/ou e-mails dessas empresas, com os objetivos de estabelecer um primeiro contato e de pedir indicação de profissionais 48 Variáveis analisadas 25 atividades relacionad 24 atividades da área de 19 atividades corporativ Descrever a configuração atual e a evolução do perfil e da posição hierárquica do CPO em empresas brasileiras e comparar com os resultados obtidos nos EUA Anos de experiência do Anos de experiência do Compras Certificações obtidas pel Escolaridade do CPO e Gênero do CPO e Statu Idade do CPO e Status/I Número de níveis de su área de Compras Setor de atuação da em Razão Gastos/Receita e Receita Anual e Status/I Experiência profissional Cargo A quem reporta Tempo da linha da subo Idade Gênero Escolaridade Descrever a configuração atual e a evolução da estrutura da área de Compras em empresas brasileiras e comparar com 5 possibilidades variand os resultados obtidos nos EUA H1. Há uma relação positiva entre a receita anual e o status/influência da área de Compras na empresa H2. Há uma relação positiva entre a razão gastos/receita e o status/influência da área de Compras na empresa H3. Há uma relação entre o setor no qual a empresa atua e o status/influência da área de Compras H4. Há uma relação negativa entre o número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO e o status/influência da área de Compras na empresa H5. Há uma relação positiva entre a idade do CPO e o status/influência da área Verificar a existência de uma relação entre fatores de capital humano/organizacionais e o status da área de Compras de Compras na empresa dentro da empresa. H6. Há uma relação entre o gênero do CPO e o status/influência da área de Compras na empresa H7. Há uma relação positiva entre a educação do CPO e o status/influência da área de Compras na empresa H8. Há uma relação positiva entre certificações obtidas pelo CPO e o status/influência da área de Compras na empresa H9. Há uma relação positiva entre o número de anos de experiência do CPO em Compras ou em outras áreas e o status/influência da área de Compras na empresa Qual o perfil e a posição hierárquica do principal executivo de Compras? Como a área de Compras está estruturada? Objetivo Descrever a configuração atual e a evolução das Quais as principais responsabilidades desempenhadas pela área de Compras? responsabilidades da área de Compras em empresas brasileiras e comparar com os resultados obtidos nos EUA Questão / Hipótese aptos a responder a pesquisa. Primeiramente, em muitas empresas, não foi possível encontrar o contato apto. Além disso, constatou-se que algumas companhias tinham políticas restritivas quanto à divulgação de informação e/ou desinteresse em participar, fazendo com o que o número de empresas remanescentes após o primeiro contato tenha se reduzido para 386. Dessas 386 companhias, 61 responderam de forma completa o questionário, representando uma taxa de resposta de 15,8%. Além disso, dois questionários foram respondidos de forma incompleta, mas com mais de 60% preenchidos, o que, apesar de impossibilitar sua utilização nos testes de regressão, foi suficiente para serem utilizados na análise na parte descritiva. 3.5 COLETA DE DADOS Para coletar os dados necessários à realização deste trabalho, foi elaborado um questionário hospedado no sítio eletrônico Qualtrics (qualtrics.com), que será melhor comentado na subseção seguinte. Este questionário foi enviado via e-mail personalizado para cada destinatário. No corpo da mensagem constavam o nome do destinatário e um texto convidando-o a participar da pesquisa em nome do Instituto Coppead de Administração. Para alcançar de forma direta os executivos da área de compras das 386 empresas selecionadas, foi realizado um contato telefônico direto aos interessados comunicando-os do e-mail que seria enviado com o link para responder à pesquisa. Duas semanas depois do envio do e-mail foi realizada uma nova rodada de ligações diretas para empresas com o reenvio dos e-mails, de forma a relembrá-los do preenchimento do questionário. A coleta dos dados ocorreu durante seis meses, entre fevereiro e agosto de 2012. Após a segunda rodada de ligações e envio de e-mails, aproximadamente 69 empresas contatadas haviam respondido ao questionário, sendo que, das respostas, seis não foram consideradas para análise por estarem inconsistentes e duas por estarem incompletas. Portanto, a taxa de resposta obtida para análise foi de 15,8% do total de questionários enviados. 49 3.6 QUESTIONÁRIO O questionário foi baseado em surveys apresentados na literatura internacional, principalmente naquele elaborado por Johnson e Leenders (2004). A partir daí, fez-se uma adaptação para o mercado brasileiro e, em seguida, efetuouse um pré-teste com profissionais da área de Compras, que opinaram e sugeriram mudanças que permitiram um maior refinamento do questionário. Com isso, este ficou organizado em cinco seções, que têm como objetivos: (i) identificar a empresa; (ii) entender o perfil do principal executivo de Compras e como ele está inserido na organização; (iii) caracterizar a estrutura organizacional da área de Compras; (iv) aferir a percepção de status da referida área; (v) identificar as principais atividades e responsabilidades da área de Compras (Anexo1). O questionário é apresentado integralmente no Anexo 1. 3.7 TRATAMENTO DOS DADOS Os dados coletados no questionário foram importados para o sofware Excel, onde foram organizados. As 61 respostas completas e duas incompletas (com pelo menos 60% concluídos) foram a amostra utilizada para a análise descritiva, feita no próprio Excel, uma vez que só foi necessário o cálculo de médias, modas, distribuição de frequência, mínimo, máximo e geração de gráficos simples. Já para a parte de teste de hipóteses, a amostra usada consistiu apenas das 61 respostas completas. Os dados foram exportados do Excel para o SPSS versão 21, onde foi feita a análise quantitativa para testar as hipóteses. Para tal, o método utilizado foi a regressão linear múltipla e testes inerentes ao modelo, que serão melhor explicados a seguir, foram feitos para mostrar o grau de consistência dos resultados obtidos. 3.7.1 Regressão linear múltipla A regressão linear múltipla é utilizada para avaliar se há relação linear entre uma variável dependente e outras variáveis independentes (Hair et al., 2010). Segundo os autores, também é possível estabelecer a significância dessa relação e 50 inferir sobre o quanto as variáveis independentes explicam a variação da dependente. Sendo assim, como as nove hipóteses desse estudo se referem à existência ou não de relação entre o status da área de Compras e características das empresas e do CPO, esse método foi utilizado para testá-las. Desse modo, o status da área de compras nas empresas foi a variável dependente, enquanto que (i) receita; (ii) percentual de gastos sobre receita; (iii) setor; (iv) níveis de subordinação entre o CEO e o CPO; (v) idade do CPO; (vi) gênero do CPO; (vii) escolaridade do CPO; (viii) anos de experiência do CPO em Compras; (ix) anos de experiência do CPO em outras áreas foram as variáveis independentes. Em um primeiro passo, a regressão foi rodada no SPSS incluindo todas as variáveis juntas. Para garantir o poder estatístico do teste, foi preciso avaliar se o tamanho da amostra era suficiente. Segundo Hair et al. (2010), a proporção ideal é entre 15 e 20 observações para cada variável independente. No entanto, os mesmos autores colocam que uma proporção de, ao menos, cinco para um é suficiente para dar à amostra o poder de generalização necessário para testar as hipóteses da pesquisa. Neste estudo, a proporção entre observações e variáveis independentes foi de 6,8 (61/9), ou seja, superou o mínimo sugerido pela literatura. Uma vez atendido o número mínimo de observações, o passo seguinte foi testar se a amostra atende às premissas inerentes ao método. São elas: linearidade e homocedasticidade, independência e normalidade do erro (Hair et al., 2010). Para verificação da presença ou não de tais anomalias, foram utilizados os testes de normalidade e análise de resíduos, recomendados por Hair et al. (2010). A figura 5 mostra que tais premissas foram atendidas. Além dos pontos citados anteriormente, outro fator que pode prejudicar a análise da regressão linear múltipla é a presença de multicolinearidade, ou seja, uma correlação significante entre as variáveis independentes (Hair et al., 2010). O autor comenta que, quando ela ocorre, a estimativa dos coeficientes da regressão perde confiabilidade, dificultando a avaliação do poder explicativo de cada uma das variáveis independentes relativo ao das demais. Dessa forma, foi utilizado o teste de 51 multicolinearidade do SPSS para verificar a presença ou não de tal anomalia. A figura 5 explicita que a amostra não é prejudicada por tal anomalia. 3.8 LIMITAÇÕES DA PESQUISA Em toda pesquisa há limitações e é importante reconhecê-las (Vergara, 2005). Sendo assim, a seguir estão enumeradas as principais limitações deste estudo. Em primeiro lugar, o tamanho pequeno da amostra. Diante do universo de milhares de empresas presentes no Brasil, por questões práticas, foi feito um primeiro recorte, sendo apenas consideradas as 1246 maiores empresas brasileiras elencadas pela revista Exame Melhores e Maiores, edição de 2011. Seguindo-se a isso, por dificuldades técnicas de se obter os contatos aptos a responder o questionário, apenas 386 empresas o receberam, e nem todas responderam, o que prejudica a generalização dos resultados. Em segundo lugar, a subjetividade das respostas. As informações requeridas no questionário dependem da interpretação do respondente. Dessa forma, pode existir parcialidade nas respostas e, consequentemente, estas podem não representar a realidade da empresa. Para reduzir tal dificuldade, pré-testes e revisões do questionário foram feitos com o intuito de obter maior clareza e simplicidade e todos os esforços foram feitos para buscar a pessoa mais apta a responder a pesquisa, para explicar em detalhes o questionário para todos que o receberam e para esclarecer possíveis dúvidas. Por fim, especificamente sobre a medida do status da área de Compras, foi perguntado somente a um profissional da área de Compras sobre sua percepção de status da área em relação a outras áreas. Por mais imparcial que seja a resposta, há uma tendência natural a responder que a sua área tenha um status maior do que o verdadeiro, o que pode ter inflado os resultados. 52 4. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Uma vez vistas a revisão de literatura e a metodologia, a seção que se segue apresenta e analisa os principais dados coletados no presente estudo. Como caracterização inicial, o gráfico a seguir ilustra a dispersão da receita das empresas respondentes. Observa-se que a maioria está situada na faixa entre US$ 500 milhões e US$ 5 bilhões, com destaque para aquelas com faturamento entre US$ 1 bilhão e US$ 5 bilhões, que representam 38% do total. Gráfico 2: Receita das empresas respondentes em 2010 (US$ milhões) 24 No de observações 21 11 6 1 Abaixo de 100 Entre 100 e 500 Entre 500 e 1000 Entre 1.000 e 5.000 Mais do que 5.000 Buscando uma melhor organização, esta seção está subdividida em uma primeira parte descritiva e outra em que os resultados dos testes de hipóteses serão analisados. 4.1 ANÁLISE DESCRITIVA Esta seção tem por objetivo apresentar e analisar os dados coletados, comparando os resultados com aqueles observados em outros estudos nacionais e internacionais. Está segmentado da mesma forma em que o foi o questionário, ou seja, em primeiro lugar, o perfil do principal executivo de Compras e como ele está inserido na organização; em seguida, a estrutura organizacional da área de 53 Compras; posteriormente, a percepção de status da referida área; por fim as principais atividades e responsabilidades da área de Compras. 4.1.1 Sobre o principal executivo de compras (CPO) A análise do perfil e da posição hierárquica do CPO é uma das maneiras de se abordar a importância da área de Compras nas empresas, uma vez que ele é o responsável por garantir que a referida área contribua de forma eficiente com os objetivos corporativos (Johnson e Leenders, 2009) e também pode ser uma fonte de vantagens competitivas para a empresa (Zsidisin et al., 2003). Neste estudo, a caracterização do CPO analisou os seguintes fatores: (i) idade e gênero; (ii) título (cargo) e linha de subordinação (a quem se reporta, há quantos anos essa linha existe e quantos níveis existem entre o CPO e o presidente); (iii) experiência profissional; (iv) formação acadêmica e certificações. 4.1.1.1 Idade e gênero A idade média dos CPO´s foi de 47 anos, um pouco abaixo da encontrada nos EUA - 49 anos (Hendrick e Ni, 2007). Porém, observa-se um aumento de senioridade no Brasil quando se compara com os dados de 2003, uma vez que 49% têm mais do que 50 anos, enquanto que, há nove anos, essa proporção era de 31% (Soares, 2003). Gráfico 3: Distribuição da Idade dos CPO´s % de respostas 46% 29% 22% 3% 0% Abaixo de 30 Entre 30 e 40 Entre 40 e 50 Entre 50 e 60 Mais do que 60 54 Em relação ao gênero, a predominância masculina é clara, sendo 92% dos CPO´s homens, o que é bastante similar aos números norte-americanos (Hendrick e Ni, 2007 – 87%; Johnson et al., 2006 – 91%) e ao encontrado por Soares (2003) 90%. 4.1.1.2 Titulação e linha de subordinação Como se pode observar na tabela a seguir, 57% dos CPO´s se reportam para um dos cinco executivos mais importantes (presidente, COO, vice-presidente executivo, vice-presidente sênior ou CFO) e, na média, essa linha de subordinação existe há 12 anos, indicando poucas mudanças nesse quesito na última década. Esse nível de 57% no Brasil foi similar ao observado nos EUA e Canadá no início da década de 1990 e abaixo dos 72,5% observados em 2006 naqueles países (Johnson et al, 2006). Tabela 34: Distribuição das empresas segundo a pessoa a quem o CPO se reporta Presidente Vice-Presidente COO ou CFO Diretor Industrial ou de Engenharia Superintendente/Gerente Geral Outros Total % 30% 17% 10% 10% 6% 27% 100% # 19 11 6 6 4 17 63 Já em relação ao título conferido ao CPO, observou-se que, assim como nos EUA (Hendrick e Ni, 2007), não há uma homogeneidade na nomenclatura. Os mais comuns foram Diretor de Suprimentos e Gerente de Suprimentos (13%, cada). Simplificando para as segmentações mais amplas (Vice-Presidente, Diretor, Gerente, Coordenador), apenas 41% têm o título de vice-presidente ou diretor, o que é inferior aos 85% observados na América do Norte por Johnson et al. (2006). Porém, esse número é maior do que os 24% observado por Soares (2003), o que indica certa evolução no Brasil nos últimos nove anos. O cargo de gerente/gerente geral continua sendo maioria, porém com 49% do total contra 68% em 2003. 55 Tabela 35: Distribuição das empresas segundo o título conferido ao CPO % 3% 38% 3% 49% 3% 3% 100% Vice-Presidente Diretor Superintendente Gerente/Gerente Geral Coordenador Outros Total # 2 24 2 31 2 2 63 4.1.1.3 Experiência profissional As variáveis consideradas foram o número de anos com o atual empregador, o número de anos no cargo e a experiência do CPO nas diversas funções organizacionais (em anos). No primeiro quesito, os números mostram uma alta participação - 76% - de CPO´s que estão há menos de cinco anos no cargo. Esse número está acima dos 65% encontrados em 2003 no Brasil (Soares, 2003) e é similar aos 80% da América do Norte (Johnson et al,. 2006), o que mostra uma alta rotatividade no cargo tanto no caso brasileiro quanto no americano. Tabela 36: Distribuição das empresas segundo o tempo (em anos) em que o CPO está no cargo 0 - 5 anos 6 - 10 anos 11 - 15 anos Mais de 15 anos Total % 76% 11% 5% 8% 100% # 48 7 3 5 63 Já no que tange aos anos de experiência na empresa, a característica bimodal observada na América do Norte (Johnson et al., 2006) também aparece no Brasil. Trinta e oito porcento dos CPO´s estão há menos de cinco anos na empresa e 30% estão há mais de 15. A explicação para o alto percentual de CPO´s há menos de cinco anos na empresa pode ser a mesma sugerida por Johnson et al. (2006) 56 para o caso norte-americano: o aumento da contratação de CPO’s provenientes de outras empresas. Tabela 37: Distribuição das empresas segundo os anos em que o CPO está na empresa 0 - 5 anos 6 - 10 anos 11 - 15 anos Mais de 15 anos Total % 38% 17% 14% 30% 100% # 24 11 9 19 63 Por fim, a experiência do CPO nas diversas funções organizacionais está dividida em duas partes: experiência na área de Compras e em outras áreas. No que se refere ao primeiro, a pesquisa mostrou que a experiência média é de 15,6 anos, acima dos 12,7 anos na América do Norte (Johnson et al., 2006). É válido ressaltar que o mesmo autor coloca que, nos EUA e Canadá, a tendência é de queda na experiência média do CPO na área de Compras, fato que, se também ocorrer no Brasil, pode levar os números para níveis mais próximos aos norte-americanos. Já em relação às outras áreas, a média é similar à americana: 12,8 anos contra 12,0 (Johnson et al., 2006). A tabela a seguir mostra em detalhes os resultados encontrados. Como se pode observar, Operações/Produção, assim como observado por Johnson et al., 2006 no caso norte-americano, é a área ex-Compras em que os CPO´s têm mais experiência: 4,4 anos. 57 Tabela 38: Tempo (em anos) da experiência do CPO nas diversas áreas Área Compras/Suprimentos Operações/Produção Engenharia Marketing Finanças TI Transporte/Distribuição/Logística Contabilidade Outras Experiência (em anos) 15,6 4,4 1,1 1,2 1,5 0,6 2,9 0,5 0,7 4.1.1.4 Qualificação acadêmica A qualificação acadêmica do CPO está dividida em duas partes: formação acadêmica e certificações relacionadas à área de Compras. Quanto ao primeiro aspecto, quase a totalidade tem, ao menos, ensino superior completo, sendo a metade com pós-graduação e 13% com mestrado. Esse nível de experiência acadêmica é bem similar ao encontrado por Soares (2003) 100% com curso superior completo, 53% com especialização completa e 7% com mestrado - e por Hendrick e Ni (2007) - 99% com curso superior completo, 38% com master (mestrado ou pós-graduação) e 1% com doutorado. Tabela 39: Distribuição das empresas segundo a qualificação acadêmica do CPO Superior Incompleto Superior Completo Pós Graduação Mestrado Doutorado Total % 2% 34% 50% 13% 2% 100% # 1 21 31 8 1 62 No entanto, quanto ao segundo ponto, ainda estamos abaixo do observado nos EUA. Apenas 18% dos CPO´s pesquisados têm alguma certificação, contra 50% nos EUA (Hendrick e Ni, 2007). Como exemplo, ao se comparar o C.P.M. - título 58 mais comum entre os CPO´s nos Estados Unidos – observa-se 22% contra 7% no Brasil. 4.1.2 Estrutura organizacional da área de compras Outra fonte de mudança na área de Compras é a sua estrutura. De modo geral, os estudos já feitos sobre o tema buscam identificar menos questões funcionais e mais se a estrutura da área de Compras é centralizada, descentralizada ou híbrida (Johnson e Leenders, 2006). Os resultados da pesquisa mostraram que 56% têm estrutura centralizada, 37% híbrida e 7% descentralizada (considerou-se híbrida como a soma de “Centralizada Híbrida”, “Híbrida” e “Descentralizada Híbrida”). Isso mostra que a tendência se mantém no Brasil em relação a 2003, quando se tinha 54%, 38% e 8% respectivamente (Soares, 2003). O mesmo não acontece nos EUA e Canadá, onde a estrutura híbrida é a mais comum - 67% (Johnson et al., 2006). No entanto, o ponto em comum com o referido estudo se dá na baixa utilização de uma estrutura descentralizada - 8% nos EUA e Canadá. Tabela 40: Distribuição das empresas segundo a estrutura organizacional da área de Compras Centralizada Centralizada Híbrida Híbrida Descentralizada Híbrida Descentralizada Total % 56% 23% 11% 3% 7% 100% # 34 14 7 2 4 61 4.1.3 Percepção de status da área de compras Nessa seção, serão analisados os resultados sobre a percepção de status da área de Compras. Os dados foram coletados a partir das respostas de duas perguntas baseadas no questionário elaborado por Pearson et al. (1996). Na primeira, 65% dos respondentes “concordaram” ou “concordaram fortemente” que a 59 área de Compras tem um status maior ou igual ao das outras áreas da alta gerência da empresa, enquanto que 25% “nem concordaram e nem discordaram” e apenas 10% “discordaram” ou “discordaram fortemente”. Infelizmente, a referência internacional para esses números é antiga (Pearson et al., 1996), o que dificulta a comparação. Neste, os resultados para membros do NAPM (atual ISM) em 1996 mostraram números piores para a área de Compras, em que 39% “concordam” ou “concordam fortemente” e 44% “discordam” ou “discordam fortemente”. Tabela 41: Comparação com Pearson et al. (1996) da média e distribuição das respostas sobre o status de Compras relativo às outras áreas da alta gerência da empresa Já a segunda pergunta comparou a percepção de status da área de Compras com o de outras áreas da empresa. De modo geral, os resultados mostraram um equilíbrio com as outras áreas. Conforme apresentado na tabela a seguir, apenas Gerenciamento de Materiais é percebida como tendo um status mais baixo (média de 3,6 com 92% indicando que Compras tem status maior ou igual), ao passo que, em relação às outras áreas, nenhuma foi caracterizada com tendo um status claramente superior ou inferior ao de Compras. Desse modo, de forma geral, os números indicam um status semelhante entre Compras e outras áreas da empresa. 60 Tabela 42: Média e distribuição das respostas sobre o status de Compras relativo a cada uma das seguintes áreas da alta gerência da empresa Resposta à pergunta: "Em relação às áreas seguintes, você caracterizaria o status de Compras/Suprimentos como sendo..." Média Muito menor (1) Menor Igual ou muito Maior Muito maior (2) parecido (3) (4) (5) Engenharia 2,8 5% 36% 41% 15% 3% Produção/Operações 2,8 5% 29% 51% 12% 3% Financeira 3,0 2% 19% 64% 12% 3% P&D 3,0 5% 22% 49% 19% 5% Controladoria Marketing Gerenciamento de Materiais Média 3,1 3,1 3,6 3,0 3% 3% 2% 4% 17% 24% 5% 22% 53% 42% 37% 48% 22% 22% 41% 20% 5% 8% 15% 6% Por fim, conforme se pode notar na tabela 43, de forma agregada, os números são superiores aos encontrados por Pearson et al. (1996), com destaque para as diferenças observadas nas áreas de Engenharia, P&D e Marketing. Porém, a distância temporal entre os estudos impede maiores conclusões sobre comparações entre as empresas no Brasil e aquelas membros do NAPM (atual ISM). Tabela 43: Comparação com Pearson et al. (1996) das médias das respostas sobre o status de Compras relativo a cada uma das seguintes áreas da alta gerência da empresa Resposta à pergunta: "Em relação às áreas seguintes, você caracterizaria o status de Compras/Suprimentos como sendo..." Média # Pearson et al., 1996 Engenharia 2,8 2,3 Produção/Operações 2,8 2,8 Financeira 3,0 2,8 P&D 3,0 2,3 Controladoria 3,1 2,8 Marketing 3,1 2,3 Gerenciamento de Materiais 3,6 3,2 Média 3,0 2,6 61 4.1.4 Atividades e responsabilidades da área de compras Segundo Johnson e Leenders (2004), o número de atividades de suprimentos que está sob direção do CPO provê um indicativo de poder de Compras e, por isso, vem sendo utilizado como medida de evolução da área. Além disso, os autores colocam a importância de se ter também um olhar sobre as atividades não diretamente ligadas a suprimentos, mais especificamente, uma visão sobre a participação de Compras em atividades corporativas estratégicas, uma vez que ela provê um indicativo da integração da área com o resto da empresa e uma medida do papel da área em iniciativas estratégicas. Portanto, tendo como base o referido estudo, o presente trabalho mapeou 21 atividades e questionou os respondentes se estas estavam ou não sob responsabilidade da área de Compras. Já para outras 13 atividades de cunho mais estratégico, foi perguntado qual o grau de envolvimento da área de Compras, apresentando uma escala Likert de 1 a 5 como opções de resposta, em que 1 significava “nenhum grau de envolvimento” e 5, “extensivo grau de envolvimento”. Com isso, pretendeu-se não só mapear a atuação da área no Brasil como também comparar com os dados encontrados nos EUA e Canadá por Johnson e Leenders (2004). Primeiramente, em relação às 21 atividades, estas foram divididas em “O que a área compra” (11 categorias) e “Por quais atividades da cadeia de suprimentos a área é responsável” (10 atividades). No que tange à primeira parte, nota-se na tabela 44 que há grande semelhança entre o Brasil e o observado na América do Norte por Johnson e Leenders (2004): “compra de peças e componentes”, “máquinas”, “matéria-prima” e “material de escritório” são as atividades que apresentam o maior percentual de empresas que as deixam a cargo da área de Compras. Por outro lado, assim como no caso norte-americano, “viagens”, “serviços de consultoria”, “serviços de administração de frota”, “serviços de TI” e “compra de software/sistemas” são as atividades que apresentam o menor percentual de empresas que as deixam a cargo da área de Compras. A explicação pode ser a terceirização desses serviços ou mesmo a atribuição dessas responsabilidades para outras áreas que tenham um conhecimento mais específico sobre o tema. 62 Tabela 44: Comparação com Johnson e Leenders (2004) - (JL, 2004) - do percentual de empresas segundo a responsabilidade da área de Compras pela aquisição de determinados itens Peças e componentes Máquinas Matéria-prima Materiais de escritório Serviços de manutenção das plantas Frete/Logística/Transporte Software/Sistemas Serviços de TI Serviços de administração da frota Serviços de consultoria Viagens % 93% 86% 81% 76% 75% 71% 63% 58% 56% 53% 41% JL, 2004 (%) 82% 99% 68% 90% 63% 68% 59% 55% 60% 59% 66% Já no que se refere às 10 atividades da cadeia de suprimentos pelas quais a área de Compras é responsável, nota-se na tabela 45 que a semelhança entre o Brasil e o observado na América do Norte por Johnson e Leenders (2004) se mantém, mas com algumas ressalvas. Por exemplo, as atividades de “transporte inbound” e “transporte outbound” são de responsabilidade da área de Compras em um percentual de empresas muito menor no Brasil do que na América do Norte, figurando como atividades da parte de baixo da tabela, o que não é observado por Johnson e Leenders (2004). O inverso ocorre com “controle de estoques” e “planejamento e controle de materiais”, que estão no alto da tabela no Brasil e na parte de baixo na América do Norte. No entanto, de modo geral, quando comparamos o Brasil com a América do Norte (pelo estudo de Johnson e Leenders, 2004), percebe-se similaridade nas atividades que estão no alto, no centro e embaixo na tabela. Além disso, salvo exceções, o percentual de empresas que deixam tais atividades da cadeia de suprimentos sob responsabilidade de Compras também é parecido com o observado na América do Norte. 63 Tabela 45: Comparação com Johnson e Leenders (2004) - (JL, 2004) - do percentual de empresas segundo a responsabilidade da área de Compras por determinadas atividades da cadeia de suprimentos Pesquisas de compras e materiais Controle de estoques Planejamento e controle de materiais Descarte de sucata/excesso de estoque Logística/Armazenamento Recebimento Transporte Inbound Qualidade/Inspeção de produtos e serviços comprados Transporte outbound Planejamento/Controle da produção % 83% 53% 49% 46% 44% 42% 36% 34% 20% 15% JL, 2004 63% 45% 39% 56% 51% 35% 56% 27% 43% 12% Por fim, sobre a participação de Compras em atividades corporativas estratégicas, observa-se na tabela a seguir que, assim como nos EUA e Canadá (Johnson e Leenders, 2004), o papel corporativo de Compras está bastante focado em controle de custo. Um exemplo claro são os temas relacionados à terceirização – assunto em que, a princípio, Compras pode dar contribuição relevante (Johnson e Leender, 2004) – que, apesar de ser a segunda atividade de maior envolvimento de Compras, apresenta números que indicam envolvimento pouco acima de “moderado”. De modo geral, nota-se grande semelhança com o observado na América do Norte, com disparidades mais visíveis apenas em “Planejamento financeiro de fluxo de caixa”, em que no Brasil foi aferido um maior grau de envolvimento, e “Iniciativas de comércio eletrônico”, com vantagem, em contrapartida, para as empresas nos EUA e Canadá. Por fim, os números mostram que, assim como na América do Norte, ainda há bastante oportunidade para um aumento da integração de Compras com o resto da empresa e uma ampliação do papel da área em iniciativas estratégicas. 64 Tabela 46: Comparação com Johnson e Leenders (2004) - (JL, 2004) - da média simples das respostas em escala Likert de cinco pontos quanto ao grau de envolvimento de Compras em determinadas atividades estratégicas corporativas Iniciativas corporativas de redução de custo Terceirização Planejamento estratégico corporativo Planejamento financeiro de fluxo de caixa Planejamento de investimento em capital fixo Desenvolvimento de novos produtos Iniciativas corporativas de comércio eletrônico Planejamento de novas instalações Gestão de risco Planejamento de sistemas de informação Planejamento de tecnologia Planejamento ambiental Fusões/Aquisições/Alianças corporativas # 4,1 3,5 3,3 3,1 3,1 3,1 2,9 2,9 2,8 2,6 2,4 2,4 2,2 JL, 2004 4,2 3,3 2,9 2,3 2,9 2,7 3,4 2,1 2,8 2,7 2,5 2,0 2,4 4.2 ANÁLISE DOS RESULTADOS DOS TESTES DE HIPÓTESES Além da parte descritiva, o outro objetivo deste estudo é testar se existe ou não impacto de variáveis organizacionais e de capital humano no status percebido da área de Compras. Para tal, foi utilizado o método da regressão linear múltipla, em que o status da área de Compras foi a variável dependente e (i) receita; (ii) gastos/receita; (iii) setor; (iv) número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO; (v) idade do CPO; (vi) gênero; (vii) o CPO ter ao menos pós-graduação; (viii) o CPO ter a certificação C.P.M.; (ix) anos de experiência em Compras; (x) anos de experiência em outras áreas foram as variáveis independentes. Antes de apresentar os resultados, é válido colocar que as variáveis “gênero” e “CPO ter a certificação C.P.M.” foram excluídas da regressão por não apresentarem dispersão suficiente. No caso de “gênero”, das 61 observações, em apenas cinco a CPO era do sexo feminino, enquanto que, para a variável “CPO ter a certificação C.P.M.”, em apenas quatro casos o CPO a tinha. Além disso, a observação 34 se caracterizou como um outlier e foi excluída da amostra. Já no que se refere aos testes de consistência, a variável dependente 65 segue uma distribuição aproximadamente normal e o erro apresenta comportamento aleatório. As figuras a seguir ilustram tais conclusões. Figura 5: Análises dos resíduos da regressão As tabelas a seguir mostram os principais resultados encontrados. O R2 foi de 0,38 e o R2 ajustado foi de 0,28. As variáveis significantes a 5% foram: (i) gastos/receitas; (ii) níveis de subordinação; (iii) idade do CPO. Ou seja, os resultados mostram que o poder explicativo das oito variáveis independentes utilizadas no modelo é relativamente baixo, explicando somente 38% da variação do 66 status da área de Compras. Além disso, dessas oito, apenas as três citadas acima exercem impacto sobre a variação do status da área de Compras. Tabela 47: Regressão - Resumo estatístico do modelo Modelo R 1 R quadrado ,617 a R quadrado ajustado ,380 Erro padrão da estimativa ,283 ,43148 a. Preditores: (Constante), Pos_Grad, GastosxRec, Anos_Exper_Compras, Nivel_Subords, Receita, Setor, Anos_Exper_Outras, Idade b. Variável dependente: Status Tabela 48: Regressão - Coeficientes das variáveis e suas respectivas significâncias Modelo Coeficientes não padronizados Coeficientes t Sig. padronizados B (Constante) 2,253 ,471 4,879E-006 ,000 ,699 Setor Nivel_Subords Beta 4,783 ,000 ,157 1,289 ,203 ,294 ,281 2,379 ,021 -,059 ,127 -,058 -,463 ,645 -,188 ,066 -,338 -2,835 ,007 ,019 ,009 ,283 2,178 ,034 Anos_Exper_Compras -,007 ,009 -,111 -,855 ,396 Anos_Exper_Outras -,004 ,006 -,082 -,655 ,515 ,019 ,122 ,018 ,157 ,876 Receita GastosxRec 1 Modelo padrão Idade Pos_Grad a. Variável dependente: Status Ou seja, das nove hipóteses originalmente levantadas, duas não puderam ser testadas, quatro não foram suportadas e três foram suportadas, como se segue: • H1. Há uma relação positiva entre a receita anual e o status da área de Compras na empresa. Não suportada 67 • H2. Há uma relação positiva entre a razão gastos/receita e o status da área de Compras na empresa. Suportada • H3. Há uma relação entre o setor no qual a empresa atua e o status da área de Compras. Não suportada • H4. Há uma relação negativa entre o número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO e o status da área de Compras na empresa. Não Não suportada • H5. Há uma relação positiva entre a idade do CPO e o status da área de Compras na empresa. Suportada • H6. Há uma relação entre o gênero do CPO e o status da área de Compras na empresa. Não pôde ser testada • H7. Há uma relação positiva entre a formação acadêmica do CPO e o status da área de Compras na empresa. Não suportada • H8. Há uma relação positiva entre certificações obtidas pelo CPO e o status da área de Compras na empresa. Não pôde ser testada • H9. Há uma relação positiva entre o número de anos de experiência do CPO em Compras ou em outras áreas e o status da área de Compras na empresa. Não suportada 68 Zsidisin et al. (2003) encontraram resultados parecidos, em que (i) receita, (ii) compras/receita, (iii) níveis de subordinação entre o CEO e o CPO e (iv) idade do CPO explicavam de forma significativa a variação no salário do CPO. Ou seja, parece que as variáveis que impactam o salário do CPO são basicamente as mesmas que impactam o status da área de Compras. A exceção se deu em “receita” e uma explicação provável é que empresas maiores pagam salários superiores e isso não necessariamente significa que o status de quem está recebendo – ou da área pela qual ele é responsável – é maior. O outro ponto que cabe comparação é o R2. No modelo de Zsidisin et al. (2003) o valor foi de 48%, ou seja, as variáveis por eles usadas explicaram quase metade da variação do salário do CPO. Essa diferença de 10% quando comparada ao presente estudo pode ser explicada pelo fato de o mercado dos EUA ser mais maduro, com práticas mais difundidas do que no Brasil. Além disso, a variável dependente utilizada por Zsidisin et al. (2003) - salário do CPO – é uma medida mais exata e não está suscetível à percepção do respondente, ao contrário da medida de status utilizada no presente estudo. Uma vez que, ao se inserir no modelo todas as variáveis, verificou-se que apenas três – “gastos/receita”, “número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO” e “idade” – foram significativas, optou-se por refazer a regressão apenas com as três variáveis. Os resultados estão resumidos na tabela a seguir: Tabela 49: Regressão - Resumo estatístico do modelo Modelo 1 R ,583 R quadrado a ,340 R quadrado Erro padrão da ajustado estimativa ,305 ,42488 a. Preditores: (Constante), Idade, GastosxRec, Nivel_Subords b. Variável dependente: Status 69 Tabela 50: Regressão - Coeficientes das variáveis e suas respectivas significâncias Modelo Coeficientes não padronizados Coeficientes t Sig. padronizados B Modelo padrão (Constante) 2,037 ,404 GastosxRec ,697 ,272 -,177 ,019 Beta 5,044 ,000 ,280 2,566 ,013 ,064 -,318 -2,772 ,008 ,008 ,294 2,581 ,012 1 Nivel_Subords Idade a. Variável dependente: Status Em comparação com a primeira regressão, observa-se que as variáveis continuam significativas a 5%. Além disso, como já era de se esperar, o R2 caiu. Porém, o R2 ajustado subiu para 31%. 70 5. RESUMO E CONCLUSÕES Nesta seção serão apresentados, em primeiro lugar, o resumo do presente estudo e as conclusões. Em seguida, também serão destacadas as contribuições à teoria e à prática, bem como as sugestões para trabalhos futuros. 5.1 RESUMO DO ESTUDO Diversos estudos fora do Brasil, principalmente nos EUA e Canadá, vêm mostrando que, desde 1970, a área de Compras tem aumentado sua relevância dentro das empresas (Monkza et al., 1998), evoluindo de um papel mais operacional para um mais estratégico (Ellram e Carr, 1994). Os trabalhos acadêmicos mostram essa evolução a partir de três vertentes de análise: o perfil e a posição hierárquica do seu principal executivo; sua estrutura organizacional (centralizada, híbrida ou descentralizada) e as responsabilidades conferidas à área (Johnson e Leenders, 2006). Entretanto, apesar de haver a impressão de que nas últimas décadas esteja ocorrendo fenômeno similar no Brasil, pouco se tem estudado sobre o assunto neste país. Apenas Soares (2003) procurou descrever cada uma das três vertentes inerentes ao assunto, mas carecia de comparação longitudinal. Buscando preencher esse espaço, o presente estudo, à luz das três vertentes, teve como objetivos: (i) descrever como está organizada a área de Compras em empresas brasileiras; (ii) comparar os resultados com aqueles encontrados internacionalmente; (iii) comparar com Soares (2003) para mostrar a evolução na última década no Brasil e (iv) tentar inferir se fatores organizacionais e de capital humano estavam relacionados com o status atribuído à área. Para tal, a pesquisa foi dividida em duas partes. A primeira engloba os três primeiros objetivos e a segunda, o último. Sobre a primeira parte, a literatura é extensa e foram usadas as mesmas métricas presentes nos estudos internacionais. Porém, no que tange ao último fim, o método utilizado se baseou em dois trabalhos científicos diferentes – Pearson et al. (1996) e Zsidisin et al. (2003). Este último elencou fatores organizacionais e de capital humano e os relacionou com o salário do CPO, enquanto que Pearson et al. (1996) mediram status através de um survey, em que foi perguntado aos CPO´s qual era o status de Compras em relação a cada 71 uma das outras área da alta gerência na empresa. A partir daí, a média simples das respostas - baseadas em uma escala Likert de cinco pontos – foi utilizada como a medida de status da área de Compras na empresa. Sendo assim, a presente pesquisa utilizou nove fatores organizacionais e de capital humano elencados por Zsidisin et al (2003) - receita; gastos sobre receita; setor; níveis de subordinação entre o CEO e o CPO; idade do CPO; gênero do CPO; escolaridade do CPO; certificações obtidas pelo CPO; anos de experiência do CPO em Compras e em outras áreas - e buscou relacioná-los não com o salário do CPO, mas sim com a medida de status elaborada por Pearson et al. (1996), uma vez que é provável que haja uma forte relação entre status da área de Compras e o salário do CPO. Para tal, foram levantadas nove hipóteses sobre a existência de relação entre o status da área de Compras e cada um dos fatores organizacionais ou de capital humano elencados. Sendo assim, os resultados da primeira parte tiveram cunho descritivo e, atendendo aos três primeiros objetivos à luz das três vertentes, descreveu como está organizada a área de Compras em empresas brasileiras, comparando os resultados com aqueles encontrados internacionalmente e com Soares (2003), para mostrar a evolução na última década no Brasil. Os resultados, de modo geral, mostraram semelhança nas três vertentes com aqueles observados em estudos feitos na América do Norte e também indicam certa evolução no Brasil em relação ao encontrado por Soares (2003). Sobre a primeira vertente, o perfil e posição hierárquica do CPO em empresas brasileiras, idade, gênero, experiência profissional e acadêmica são bem similares aos das empresas norte-americanas, com evolução percebida na idade (mais senioridade) em relação a Soares (2003). No entanto, em três características do CPO, números inferiores aos norte-americanos foram observados: suas certificações, sua titulação, sua linha de subordinação. Nesta última, houve pouca evolução na última década, e apenas 57% dos CPO´s se reportam para um dos cinco executivos mais importantes (presidente, COO, vice-presidente executivo, vice-presidente sênior ou CFO), número similar ao dos EUA e Canadá em 1995 e abaixo dos 72,5% observados em 2003 naqueles países (Johnson et al, 2006). Sobre a titulação, apesar da evolução na última década dos CPO´s com título de 72 Vice-presidente ou Diretor – 41% contra 24% em Soares (2003) – estamos muito abaixo dos 85% observados na América do Norte por Johnson et al. (2006). Por fim, em relação às certificações, apenas 18% dos CPO´s pesquisados têm alguma certificação, contra 50% nos EUA (Hendrick e Ni, 2007). Em relação à segunda vertente - estrutura organizacional da área de Compras - os números mostraram que pouco mudou no Brasil na última década ao se comparar com Soares (2003), com predominância da estrutura centralizada (56%), seguida pela híbrida (37%) e com a descentralizada sendo utilizada em poucas empresas brasileiras (7%). O mesmo não acontece na América do Norte, onde a estrutura híbrida é a mais usada [67%] (Johnson et al., 2006). Contudo, o ponto em comum com o referido estudo se dá na baixa utilização da descentralizada (8%). Já no que tange à terceira vertente - responsabilidades conferidas à área - de modo geral, a similaridade com o observado nos EUA e Canadá (Johnson et al., 2004) permanece tanto nas atividades estratégicas quanto nas mais operacionais. Nessa última, das 21 atividades pesquisadas, apenas em 4 houve disparidade relevante: “transporte inbound” e “transporte outbound”, mais frequente em empresas norte-americanas, e “controle de estoques” e “planejamento e controle de materiais”, mais comum em empresas brasileiras. Para as atividades estratégicas, uma curiosidade proeminente foi que, tanto no Brasil quanto nos EUA e Canadá, o papel corporativo estratégico de Compras está bastante focado em controle de custo. No que se refere às disparidades, das 13 atividades pesquisadas, foi aferido um maior grau de envolvimento no Brasil em “Planejamento financeiro de fluxo de caixa”, enquanto que em “Iniciativas de comércio eletrônico”, em contrapartida, há vantagem para as empresas nos EUA e Canadá. Encerrando a parte descritiva, o status da área de Compras também foi medido. Os resultados foram: 65% dos respondentes “concordam” ou “concordam fortemente” que Compras tenha um status superior ao de outras áreas enquanto que apenas 10% “discordam” ou “discordam fortemente”. No entanto, em outra pergunta em que o status deveria ser comparado com cada uma das outras áreas da alta gerência da empresa, foi respondido que, na média, Compras tem o status igual ou parecido ao de outras áreas, o que inclui Financeiro e Marketing, que, normalmente, 73 são reconhecidas como áreas de grande status. Os números colocam a área de Compras com status pelo menos igual ao das outras áreas. No entanto, essa medida está fora das três vertentes colocadas por Johnson e Leenders (2006) e também não foi mensurada por Soares (2003). Pearson et al. (1996) são a única base de comparação e o presente estudo mostrou números melhores. Porém, o estudo de Pearson et al. (1996) é muito antigo e, muito provavelmente, não reflete mais a realidade nos EUA. Uma vez encerrados os resultados da parte descritiva, a segunda e última parte da pesquisa - os testes das hipóteses sobre a relação do status da área de Compras com os fatores organizacionais e de capital humano – apresentaram os seguintes resultados: das nove hipóteses elaboradas, quatro não foram suportadas, duas não puderam ser testadas e apenas três foram suportadas. Mais detalhadamente, “gastos sobre receita”, “níveis de subordinação entre o CEO e o CPO” e “idade do CPO” são fatores que exercem impacto sobre a variação do status da área de Compras. Já “gênero do CPO” e “certificações obtidas pelo CPO” não puderam ser testadas por falta de dispersão necessária dos dados coletados, devido ao baixo número de observações de CPO´s do sexo feminino e de CPO´s com a certificação C.P.M. Por fim, “receita”, “setor”, “escolaridade do CPO” e “anos de experiência do CPO em Compras e em outras áreas” não foram suportados como fatores que impactam o status da área de Compras. Comparando-se com Zsidisin et al. (2003), percebe-se que os mesmos fatores, com exceção da “receita”, se mostraram significativos, indicando que, de modo geral, há grande similaridade entre os fatores que influenciam o salário do CPO e o status da área de Compras. 5.2 CONCLUSÕES O estudo da organização e do status da área de Compras em empresas brasileiras apresentou resultados interessantes e trouxe contribuições relevantes. Primeiramente, quanto aos resultados, os números mostraram, por exemplo, muitas semelhanças entre os diversos aspectos da organização da área com o observado em pesquisas na América do Norte em 2004 e 2007, principalmente no que se refere às responsabilidades operacionais e estratégicas, além de 74 características do CPO como idade, gênero, experiência profissional e acadêmica. No entanto, ainda estamos atrás no que tange ao título conferido ao CPO, sua linha de subordinação e suas certificações. Em relação aos dois primeiros pontos esses resultados indicam uma maior valorização hierárquica do CPO em empresas norteamericanas e, apesar de as companhias brasileiras terem evoluído nesse aspecto desde 2003, ainda estamos distantes. Já no que se refere às certificações, uma provável explicação é o fato de, no Brasil, comparado com a América do Norte, haver possivelmente não só uma menor percepção por parte do CPO da necessidade de tê-las como também uma menor valorização por parte da empresa dos profissionais que as têm. Já sobre a outra vertente de comparação – a estrutura organizacional da área – praticamente não houve mudanças em relação a 2003, com predomínio da estrutura centralizada, seguida da híbrida e, em poucos casos, descentralizada. O mesmo não acontece na América do Norte, onde, apesar de também haver menos casos de estrutura descentralizada, a estrutura híbrida é a mais comum. Isso pode se dar possivelmente pelo fato de as empresas norte americanas serem maiores, o que, a princípio, torna a centralização pura mais difícil de implementar. Em relação ao status, a não existência de uma base de comparação prejudicou a análise dos resultados. O único resultado comparável foi apresentado por Pearson et al. (1996), descaracterizando quaisquer tentativas de conclusões confrontáveis. Contudo, os resultados foram positivos ao mostrar que a percepção de Compras é que a área tem status igual ou parecido às outras áreas da alta gerência, o que inclui Financeiro e Marketing, que, normalmente, são reconhecidas como áreas de grande status. Dessa forma, apesar do possível viés do respondente - que trabalha na área de Compras - em dizer que a sua área tem um status maior do que o verdadeiro, as conclusões foram positivas. Por fim, os resultados dos testes de hipóteses mostraram que apenas “gastos sobre receita”, “níveis de subordinação entre o CEO e o CPO” e “idade do CPO” exercem impacto sobre a variação do status da área de Compras. No entanto, “receita”, “setor”, “escolaridade do CPO” e “anos de experiência do CPO em Compras e em outras áreas” não foram suportados como fatores que impactam o status da área de Compras. Isso indica que, por exemplo, contratar um CPO com 75 mais anos de experiência em Compras, por si só, não aumentaria o status da área. Porém, tal efeito seria percebido ao se diminuir o número de níveis de subordinação entre o CEO e o CPO. Zsidisin et al. (2003), nos EUA, comparou tais fatores com o salário do CPO e os mesmos fatores, com exceção da “receita”, se mostraram significativos. Isso indica que, de modo geral, há grande similaridade entre os fatores que influenciam o salário do CPO e o status da área de Compras. Por fim, quanto às contribuições da pesquisa, o presente estudo contribui tanto para a teoria quanto para a prática da organização da área de Compras em empresas brasileiras. No que se refere às contribuições acadêmicas, este estudo mapeou a organização da área de Compras nas empresas, comparando-a com os resultados internacionais e com os números encontrados por Soares (2003) no Brasil, o que permitiu não só avaliar a evolução brasileira ao longo desses anos, como também ponderar como estamos no Brasil em relação a outros países. Esse mapa traz grande contribuição para o conhecimento, pois pouco se tem estudado sobre o tema no Brasil, apesar das evidências de que a área de Compras em empresas brasileiras vem passando por mudanças ao longo das últimas décadas. Outra contribuição à teoria se deu na aferição do status da área de Compras em empresas brasileiras. Até então, isso não havia sido medido no Brasil, apesar de também haver indícios de que o status da área de Compras tem crescido nas últimas décadas. Dessa forma, a criação de uma métrica para tal traz para a academia um padrão para mensurar sua evolução daqui para frente. Além disso, foram medidos fatores organizacionais e de capital humano que impactam o status da área de Compras, o que também ainda não havia sido testado. Finalmente, os resultados encontrados servirão também como base comparativa para os futuros estudos sobre mudanças na organização de Compras no Brasil e seu status. Já no que se refere às contribuições gerenciais, este estudo traz um framework para o entendimento do papel, das responsabilidades, da estrutura e do status de Compras em empresas brasileiras, além da sua evolução na última década e um comparativo com o observado internacionalmente. Isso permitirá aos membros da alta gerência das empresas entender como as companhias nacionais e internacionais estão organizando e posicionando a área de Compras e quais são as 76 tendências mundiais de evolução da organização da área. Com isso, estarão munidos de informação suficiente para avaliar se a forma como Compras está organizada na sua empresa está alinhada com as tendências nacionais e internacionais. Não menos importante, as conclusões da pesquisa sobre os fatores organizacionais e de capital humano que impactam o status da área de Compras poderão ajudar os altos executivos a decidirem o que mudar na organização da empresa ou nos seu capital humano quando tiverem interesse em alterar o status da referida área em suas empresas. 5.4 SUGESTÕES PARA PESQUISAS FUTURAS A primeira sugestão é a repetição da pesquisa em intervalos de tempo definidos, o que permitirá analisar a evolução da área de Compras no Brasil de forma padronizada, assim como é feito na América do Norte pela CAPS. Não só isso, seria interessante alinhar temporalmente com a pesquisa da CAPS, para que possamos comparar ano “X” com ano “X”, melhorando a qualidade das comparações. Outra sugestão relevante é buscar uma forma melhor de medir o status da área de Compras. Neste estudo, era perguntado a uma pessoa que trabalha em Compras qual o status da área em relação às outras. Por mais imparcial que seja a resposta, há uma tendência natural a responder que a sua área tenha um status maior do que o verdadeiro, o que infla os resultados. Portanto, encontrar uma maneira mais adequada de medir o status melhoraria a confiabilidade dos resultados. Talvez, uma boa maneira fosse fazer a mesma pergunta para funcionários de outras áreas, embora isso implique complexidade no desenho e execução da pesquisa. Finalmente, na mesma linha da proposta anterior, tem-se a procura por uma métrica mais precisa do percentual dos gastos/receitas das empresas. Neste estudo era perguntado ao respondente o valor, e observou-se sua dificuldade em saber os números exatos, uma vez que diversos gastos são terceirizados, outros são provenientes de contratos de longo prazo em que não é possível se saber o gasto exato no ano. Isso pode ter prejudicado a qualidade dos resultados. Talvez, olhar 77 nos demonstrativos de resultado e fluxos de caixa divulgados os valores de receita, custo do produto vendido e investimento em imobilizado possa ser uma métrica mais precisa. 78 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ACKOFF, R.L., 1994. The Democratic Corporation: A Radical Prescription for Recreating Corporate America and Rediscovering Success. Oxford University Press, New York, NY. CAVINATO, J. L. Evolving procurement organizations: logistics implications, Journal of Business Logistics, vol.13, n. 1, 1991. CHEN, I. J., PAULRAJ, A., LADO, A. A. Strategic purchasing, supply management, and firm performance. Journal of Purchasing & Supply Management, 22, 505-523, 2004. CIANCARELLI, A., Certifications Advance Purchasing Careers, Purchasing, (126:1), 1999, pp. 114-115. DRÖGE, C.L., GERMAIN, R., 1989. The impact of the centralized structuring of logistics activities on span of control, formalization and performance. Journal of the Academy of Marketing Sciences 17 (1), 83–89. 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José Robles Departamento de Operações, Tecnologia e Logística Instituto COPPEAD de Administração Item opcional - Nome da empresa Item opcional - Caso deseje receber um sumário executivo com os resultados desta pesquisa, escreva seu e-mail no campo a seguir: 83 Item opcional - Qual o seu cargo? Presidente (1) Diretor (2) Superintendente (3) Gerente Geral (4) Gerente (5) Coordenador (6) Supervisor (7) Analista (8) Outro: (9) ____________________ Qual o nome do departamento para o qual você trabalha diretamente? Aproximadamente, qual foi o gasto total com compras de produtos e serviços em 2011 (ou último ano fiscal) como percentual da receita? Qual a idade do principal executivo de Compras/Suprimentos? Qual o gênero do principal executivo de Compras/Suprimentos? Masculino (1) Feminino (2) Qual é o cargo do principal executivo de Compras/Suprimentos na empresa? Vice-Presidente de (1) ____________________ Diretor de (2) ____________________ Superintendente de (3) ____________________ Gerente Geral de (4) ____________________ Gerente de (5) ____________________ Coordenador de (6) ____________________ Outro: (7) ____________________ 84 A quem o principal executivo de Compras/Suprimentos se reporta? Presidente (1) Vice-Presidente de (2) ____________________ Diretor de (3) ____________________ Outro: (4) ____________________ Há quantos anos existe essa linha de subordinação? Quantos níveis de subordinação existem entre o principal executivo de Compras/Suprimentos e o presidente? (Ex: Se o principal executivo de Compras/Suprimentos se reporta diretamente ao presidente, significa que há 0 níveis de subordinação) 0 (1) 1 (2) 2 (3) 3 (4) Mais de 3 (5) Há quantos anos o principal executivo de Compras/Suprimentos ... ... está na presente posição? (1) ... é funcionário da empresa? (2) 85 Quantos anos de experiência o principal executivo de Compras/Suprimentos tem nas seguintes áreas (incluindo tanto o emprego atual quanto os anteriores)? Mais de 25 25 (26) 24 (25) 23 (24) 22 (23) 21 (22) 20 (21) 19 (20) 18 (19) 17 (18) 16 (17) 15 (16) 14 (15) 13 (14) 12 (13) 11 (12) 10 (11) 9 (10) 8 (9) 7 (8) 6 (7) 5 (6) 4 (5) 3 (4) 2 (3) 1 (2) 0 (1) Compras/Suprimentos (1) Operações/Produção (2) Engenharia (3) Marketing (4) Finanças (5) TI (6) Distribuição /Logística 86 Contabilidade (8) Outras (9) Marque uma das opçõesO atual principal executivo de Compras/Suprimentos foi ... ... escolhido de dentro da empresa (1) ... contratado de outra empresa (2) Answer If Marque uma das opçõesO atual principal executivo de Compr... ... escolhido de dentro da empresa Is Selected Marque uma das opçõesO cargo anterior do principal executivo de Compras/Suprimentos era ... ... na área de Compras/Suprimentos (1) ... em outra área que não a de Compras/Suprimentos (2) Answer If Marque uma das opçõesO atual principal executivo de Compr... ... contratado de outra empresa Is Selected Marque uma das opçõesO principal executivo de Compras/Suprimentos contratado ... ... era o principal executivo de Compras/Suprimentos da empresa em que trabalhava anteriormente. (1) ... não era o principal executivo de Compras/Suprimentos da empresa em que trabalhava anteriormente. (2) 87 Qual a formação acadêmica do principal executivo de Compras/Suprimentos? Ensino Médio Completo (1) Ensino Superior incompleto (2) Ensino Superior completo em (3) ____________________ Pós Graduação em (4) ____________________ Mestrado em (5) ____________________ Doutorado em (6) ____________________ O principal executivo de Compras/Suprimentos possui alguma dessas certificações? (Marque todas que se apliquem) C.P.M. (1) CPIM (2) CPA (3) A.P.P. (4) CFPIM (5) PE (6) Outra(s) (7) ____________________ Como a área de Compras/Suprimentos está organizada na empresa? Todo ou quase todo o valor das compras da empresa está sob responsabilidade de uma área central de Compras/Suprimentos (1) Mais de 50% do valor das compras da empresa está sob responsabilidade de uma área central de Compras/Suprimentos (2) Aproximadamente 50% do valor das compras da empresa está sob responsabilidade de uma área central de Compras/Suprimentos (3) Menos de 50% do valor das compras da empresa está sob responsabilidade de uma área central de Compras/Suprimentos (4) Todo ou quase todo o valor das compras da empresa está sob responsabilidade delegada a divisões/plantas (5) 88 A área de Compras/Suprimentos tem um status maior ou igual ao das outras áreas da alta gerência da empresa. Discordo fortemente (1) Discordo (2) Nem concordo nem discordo (3) Concordo (4) Concordo fortemente (5) Em relação às áreas seguintes, você caracterizaria o status de Compras/Suprimentos como sendo... Muito menor (1) Menor (2) Igual ou muito parecido (3) Maior (4) Muito maior (5) Gerenciamento de materiais (1) Produção/Operações (2) Financeira (3) Controladoria (4) Engenharia (5) Marketing (6) Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) (7) 89 Compra de produtos e serviços Quais das seguintes categorias de compras está atualmente sob responsabilidade da área de Compras/Surimentos? (marque todas que se apliquem) (1) Matéria-prima (1) Peças e componentes (3) Materiais de escritório (6) Máquinas (7) Software/Sistemas (9) Serviços de consultoria (13) Serviços de administração da frota (15) Frete/Logística/Transporte (16) Serviços de TI (17) Serviços de manutenção das plantas (18) Viagens (23) Outros: (26) Atividades na Cadeia de Suprimento Quais das seguintes atividades está atualmente sob responsabilidade da área de Compras/Suprimentos? (marque todas que se apliquem) (1) Transporte Inbound (4) Controle de estoques (6) Logística/Armazenamento (9) Planejamento e controle de materiais (10) Pesquisas de compras e materiais (11) Transporte outbound (12) Qualidade/Inspeção de produtos e serviços comprados (16) Recebimento (18) Descarte de sucata/excesso de estoque (19) Planejamento/Controle da produção (22) Outros: (26) 90 Na sua empresa, o grau de envolvimento da área de Compras/Suprimentos nas seguintes atividades corporativas é... Nenhum (1) Muito pouco (2) Moderado (3) Bastante (4) Extensivo (5) Planejamento de investimento em capital fixo (1) Iniciativas corporativas de comércio eletrônico (2) Planejamento estratégico corporativo (3) Iniciativas corporativas de redução de custo (4) Fusões/Aquisições/Alianças corporativas (5) Planejamento ambiental (6) Planejamento financeiro de fluxo de caixa (7) Planejamento de sistemas de informação (10) Planejamento de novas instalações (13) Desenvolvimento de novos produtos (14) Terceirização (15) Gestão de risco (17) Planejamento de tecnologia (19) 91