TRABALHO EM EQUIPE: DIFICULDADES E DESAFIOS NA ATENÇÃO À SAÚDE DA FAMÍLIA. Michele Raddatz1 José Luis Guedes dos Santos2 Estela Regina Garlet3 Introdução: O trabalho em saúde é realizado por profissionais de diversas áreas de conhecimento, os quais por meio dos seus saberes específicos buscam atender às necessidades de saúde do ser humano, seja de forma individual ou coletiva (PIRES, 2000). Por essa característica, o trabalho em saúde é considerado um trabalho coletivo. Nesse meandro, no processo de produção em saúde, o trabalho em equipe configura-se como a relação recíproca entre as intervenções técnicas em saúde a partir da interação entre os trabalhadores das diferentes áreas profissionais da saúde e torna-se imprescindível quando se fala em atenção à saúde da família (PEDUZZI, 1998; 2001). Cabe ressaltar que a família como foco de atenção é uma das diretrizes preconizadas pelo Ministério da Saúde, sendo um dos pilares da Estratégia Saúde da Família, o qual foi organizado, justamente, com a proposta de promover a transposição do modelo hospitalocêntrico e curativista de atenção à saúde por um modelo sanitarista, pautado no trabalho em equipe multiprofissional e integrado. Objetivo: Analisar as dificuldades e os desafios relacionados ao trabalho em equipe na atenção à saúde da família por meio de uma revisão de literatura, visando a gerar reflexões com relação a sua importância no processo de efetivação do SUS. Metodologia: Estudo baseado em uma revisão de literatura acerca da temática trabalho em equipe na atenção à saúde da família. As fontes de consulta foram artigos científicos, dissertações e teses relacionadas à temática, os quais foram localizados a partir da pesquisa em bancos de dados virtuais (SciELO e MEDLINE) e consulta às bibliotecas da Escola de Enfermagem da Universidade Federal do Rio Grande do Sul e da Universidade Federal de Santa Maria. Após a leitura 1 Autora/Relatora. Acadêmica do 5º semestre do Curso de Enfermagem da Universidade Federal de Santa Maria- UFSM. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisas em Enfermagem e Saúde. Bolsista FAPERGS 2007. E-mail: [email protected]. End.: Av. Roraima s/nº, Casa do Estudante Universitário II (CEU II), AP.: 4511, Campus da Universidade Federal de Santa Maria, Bairro Camobi, Santa Maria. CEP: 97105-970. Tel.: (55) 99611778. 2 Enfermeiro. Mestrando em Enfermagem pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Membro do Grupo de Estudos em Saúde Coletiva (GESC). 3 Enfermeira. Mestranda em Enfermagem pela UFRGS. Membro do GESC. dos materiais localizados, eles foram analisados por meio do registro e anotações das informações mais relevantes dos mesmos buscando identificar as dificuldades e os desafios relacionados ao trabalho em equipe na atenção à saúde da família descritos pelos seus autores. Ressalta-se, no que tange às questões éticas, que os preceitos de autoria formam respeitados e as obras utilizadas tiveram seus autores citados e referenciados. Resultados e comentários: Vários são os autores que têm envidado esforços à análise e discussão das dificuldades e dos desafios relacionados ao trabalho em equipe na atenção à saúde da família. Pode-se afirmar, que está expresso, de forma consensual, na literatura que há dificuldades com relação à integração e ao trabalho em equipe no trabalho em saúde. Entre elas destaca-se a influência da prática hegemônica centrada no modelo biomédico que leva à fragmentação do processo de trabalho em saúde, responsável pela falta de integração entre os profissionais e a diferente valorização das categorias profissionais (ALMEIDA; MISHIMA, 2001; SCHERER, 2006). Em um estudo desenvolvido com enfermeiras da rede de atenção básica no município de Porto Alegre – RS, sobre o trabalho em equipe no Programa da Saúde da Família, foram apontadas como principais dificuldades para a efetivação do trabalho em equipe a falta de qualificação dos agentes comunitários de saúde, a alta rotatividade de pessoal, as deficiências na estrutura física e material das unidades básicas de saúde (COLOMÉ; LIMA, 2006). Dessa feita, uma maior inter-relação entre os trabalhadores no estabelecimento de condutas e práticas de cuidado é um desafio que deve ser superado no contexto das práticas em saúde para não “[...] se repetir o modelo de atenção desumanizado, fragmentado, centrado na recuperação biológica individual e com rígida divisão do trabalho e desigual valoração social dos diversos trabalhos” (ALMEIDA; MISHIMA, 2001, p.151). Franco; Merhy (1999, p. 8) acrescentam que “[...] apesar do esforço de reestruturação das práticas sanitárias a partir de uma proposta que privilegia o trabalho em equipe, também no PSF é possível observar a existência de uma tensão entre fragmentação e integração do processo de trabalho, havendo assim o risco de os profissionais se isolarem em seus ‘núcleos de competências’”. No entanto, sabe-se que conforme que “o núcleo de competência de cada profissional, isoladamente, não dá conta da complexidade do atendimento das necessidades de saúde, portanto é necessária a flexibilidade nos limites das competências para proporcionar uma ação integral” (ALMEIDA; MISHIMA, 2001, p. 152). Segundo Peduzzi (1998), para uma atuação integrada é preciso que haja a construção de sujeitos, resultado da articulação de ações e interações entre os agentes perpassados pela ética e pelo respeito nas relações dentro e fora da equipe, bem como o aprimoramento do processo de comunicação, uma vez que ele é fundamental para o estabelecimento de ações multiprofissionais e de cooperação, as quais se configuram como uma necessidade vital para o desenvolvimento de competências para lidar com a complexidade dos problemas e do trabalho em saúde, que envolve diferentes profissões, disciplinas e paradigmas (SCHERER, 2006). Frente a isso, outro desafio importante a ser superado é com relação à formação dos profissionais de saúde. Nesse sentido, sugere-se o desenvolvimento de um processo de formação e capacitação permanente de todos os profissionais envolvidos na atenção à saúde da família, como foco na integralidade das ações de cuidado (ALMEIDA; MISHIMA, 2001; ARAÚJO; ROCHA, 2007). Conclusão: Pelo exposto, a integração entre a equipe multiprofissional na atuação à Saúde da Família configura-se como um desafio, apesar de se saber que o trabalho dos distintos agentes, que compõe as equipes multiprofissionais, são complementares e interdependentes, o que não vem ferir a autonomia do trabalhador. Segundo Almeida; Mishima (2001), “[...] articular estes distintos aspectos não é um empreendimento rápido e de um único grupo profissional; requer esforço contínuo para que em todos os aspectos possíveis possamos construir a idéia de equipe integração”, também, conforme as autoras é preciso integrar conhecimentos que se encontram disponíveis em vários espaços como no trabalho, na formação, nos espaços em que o conhecimento e a cidadania são produzidos e construídos. Portanto, o trabalho fragmentado, resultado da falta de integração das equipes multiprofissionais, além da diferente valoração dos atores, configuram uma barreira para a busca da construção do trabalho em equipe e, para que esta venha a ocorrer, acredita-se então, como frisa Boff (1999), que é necessário“[...] (re) construir, nos espaços de formação e de capacitação contínua, uma nova visão sobre a integração no trabalho de equipe para que possamos pensar no cuidado à saúde como mais que ‘um ato uma atitude’”. Atitude essa fundamental diante da complexidade dos problemas de saúde que se apresentam nos serviços de saúde, principalmente quando se fala em atenção à saúde da família. Palavras-chave: Saúde da família. Relações interprofissionais. Equipe de assistência ao paciente: organização & administração. Área Temática: Organização e gestão do trabalho.